Finalizada em: 29/04/2018

Prólogo

Wherever you go, I’m not far away

Doze anos antes


, seu protótipo de ser humano, onde você se meteu?
andou pelo corredor da casa empurrando cada porta, olhando por baixo de cada móvel e tocando cada cortina esperando encontrá-lo.
— É sério, não estou gostando dessa brincadeira! — Ela gritou quando chegou ao pé da escada. Olhou para a porta do sótão e tremeu de medo só de se imaginar entrando sozinha lá. Odiava aquele cômodo na casa do melhor amigo, às vezes acreditava que os pais de gostavam de se sentir americanizados demais e só mantinham o sótão para efeitos dramáticos. Quem, em plena Coréia do Sul, iria se importar em ter um sótão digno de um cenário de filme de terror? — Você tem cinco segundos para aparecer e…
foi interrompida por um grito e um barulho que parecia a aproximação do fim do mundo. Primeiramente sua cabeça rodou no sentido contrário, avoada com a origem do grito e, depois disso, seu corpo desabou no chão pelo impacto do choque, mas ela nem ao menos detectou de onde veio — apenas caiu e bateu a lateral do seu quadril no móvel do corredor de . Ao ter levado as mãos para a área da cabeça, constatando que não havia machucado em nenhuma parte, ela abriu os olhos após a dor ter se concentrado na parte baixa do corpo.
Foi aí que contemplou os olhos assustados e agoniados de . Jogado em cima de seu corpo, o garoto havia petrificado feito múmia quando notou que não respondia aos seus gestos motores e permanecia de olhos fechados, choramingando e murmurando algo que ele considerava um infinito de palavrões desmesuráveis.
— Eu juro que foi sem querer! — Ele não tardou em dizer, tentando puxar a melhor amiga para cima e prestar uma boa olhada geral. Ela aceitou a mão erguida do garoto, mesmo que quisesse esbofeteá-lo até que seus olhos arredondados rodassem nas órbitas, mas não tinha outra escolha a não ser aceitar a ajuda.
— No quê você estava pensando, por céus, ?! — apoiou o peso do corpo na parede e olhou para o chão, encontrando a bagunça nos tapetes e o skate do garoto emaranhado em seus pés. riu de nervosismo, chutando o objeto para longe de , e segurou em sua cintura, fazendo com que ela criasse forças nos quadris e seguisse até o quarto. — Existe uma razão para as mães proibirem os filhos de andarem com skate dentro de casa, seu pivete, e é justamente essa!
— É assim que você pretende tratar o seu Oppa? — fingiu estar ofendido por um momento, só que ele não esperava que simplesmente não se importasse com os pronomes de tratamento ou as formalidades. Naquele momento era realmente um pivete aos olhos da garota, embora ele fosse dois anos mais velho e quase um estudante do ensino médio.
— Só cala a boca, por favor! — Ela bufou frustrada e desabou no colchão do amigo. Ele continuava envergonhado e preocupado, mais pelo susto dado na garota do que pelo sermão que levaria da mãe, porém quando abriu um sorriso preguiçoso e desatou na gargalhada, se encontrou aliviado, relaxou os ombros e se permitiu a sentar de frente a ela, na cadeirinha de rodinhas, e puxar as pernas da garota até que ela ficasse erguida de frente para ele e não fugindo de seu contato visual. — Você é ridículo! Um idiota!
— E você me ama do mesmo jeito, então entende por que eu não me importo? — sorriu convencido e deu um beijo estraladamente alto na bochecha de , adorando a forma que as bochechas dela se incendiaram.
— É melhor passar a se importar porque a partir de agora estou infinitamente zangada com você! — forjou uma manha adorável, revivendo os seus dias de prática na escola, quando suas amigas lhe diziam que, se quisesse ter qualquer garoto na sua palma da mão, precisaria aprender a interpretar uma verdadeira atriz profissional em aegyos. Em sua cabeça aquilo soava ridículo. nunca fizera o tipo que gostava de ser meiga, fofa e a cópia de uma boneca, mas sabia que aquele era mais um jeito prático e rápido de tirar o que quisesse de . — Quero ver o que pretende fazer para me recompensar pela mancha roxa que ganhei de presente. — Ela murchou os lábios e cruzou os braços, ignorando os olhares provocativos de .
— Eu tenho uma ideia. — se afastou da amiga e abriu a porta da sua escrivaninha, tampando parcialmente a visão de . — Tampe os olhos, não vale espiar. — olhou torto para o amigo, começando a suspeitar do que viria a seguir. — Confia em mim pelo menos dessa vez?
— É melhor você não fazer com que eu me arrependa. — fechou os olhos e remexeu os pés, impaciente, ouvindo aguçadamente os movimentos de .
O garoto sorriu agitado, esfregando as palmas das mãos pelo rosto e mordendo os lábios até começasse a suar frio pela dor e pela violência depositada nas mãos para puxar os fios de cabelo. Ele havia planejado durante a semana toda surpreender a amiga daquela maneira, mas não sabia se seria uma boa ideia. poderia ficar brava, não?! Poderia não gostar da surpresa, até mesmo não querer mais ser a sua amiga. Por céus, ela poderia até odiá-lo!
sabia das conseqüências, mas só conseguia pensar nas chances de aquilo dar muito certo e ser o estopim para que ele finalmente abrisse o seu coração para a garota. Nas dadas circunstâncias, era quase que óbvio o que ele sentia pela melhor amiga, então ela poderia prever isso acontecendo eventualmente, não é?
Ele não fazia ideia. Não tinha noção alguma do tempo, do espaço e das sensações emergindo pelo seu apertado quarto, mas só queria se arriscar.
— Vamos brincar de “prove e revele”, tudo bem? — remexeu a cabeça repetidas vezes na euforia e sorriu largo ao ter imagino os deliciosos doces que traria escondido. O garoto sorriu em resposta, esticando as mangas do moletom e se endireitando para ficar sentado próximo à ela. A respiração de roçou em seu rosto e ele se arrepiou, como sempre fizera, sentindo-se estúpido por se sentir assim antes mesmo da brincadeira ter começado. Reprimiu um suspiro e criou força nas cordas vocais. — Eu irei colocar algo na sua boca e você precisa revelar o nome.
— Isso é fácil, eu já proverei de tudo na vida! — deu pulinhos alegres na cama e abanou a cabeça, ainda mais na expectativa. — Vamos, comece!
abriu a embalagem do primeiro doce.
— Abra a boca e dê uma mordida. — pediu, estendendo o doce até a boca da garota. Ela mordeu com vontade, passando a experimentar o alimento e, antes mesmo de mastigar por completo, riu divertida.
— Dorayaki! Essa foi de graça, ! — Ele gargalhou. — Você sabe que é o meu preferido.
— É apenas para esquentar o jogo, . — Ele mordeu o resto do doce que sobrou em suas mãos e puxou o outro da embalagem.
— Vai, pode morder. — esticou o rosto para alcançar ainda mais o segundo doce e sentiu o paladar conhecido da textura de pão e feijão vermelho.
— Hwangnam Ppang. Esse está muito gostoso. — Ele sorriu encabulado.
— Você é boa nisso.
— Eu te disse que sou uma máquina de digestão, querido. — sorriu mais largo e arqueou as sobrancelhas, tocando no terceiro doce e sentindo a sua textura.
— Mais uma vez… Abra o bocão!
mordeu quase que instantaneamente o doce. Rolou a língua pelos lábios e riu mais alto, achando que estava realmente fraco na capacidade de induzi-la à erro.
— Hotteok. É só isso que você tem para disputa, ? — O garoto exaltou os ânimos e pousou a embalagem do doce logo ao lado, em pleno silêncio, preparando-se para o ápice da brincadeira.
cruzou os braços, aguardando a cereja do bolo, já que estava apenas brincando de bater massa. Relaxou os músculos e suspirou aliviada, começando a adorar as brincadeiras de . Alimentá-la bem era uma das qualidades do amigo que ela mais prezava.
— Aish, eu deveria ter trazido mais… Agora só sobrou um. — comentou desanimado e sorriu ainda mais largo.
O garoto aproximou-se o suficiente para ver alguns farelos de açúcar nos lábios da amiga. Ele quase deslizou os dedos para limpá-los, mas um sentimento de prazer e alegria chicoteou o seu ventre e ele manteve o objetivo em mente.
— Vamos lá, , vejamos se você consegue revelar o gosto desse.
ia sorrir, mas foi mais rápido. Os lábios de se abriram ao passo que, os de , se fechavam. O rosto de se aproximava pronto para uma última mordida, enquanto que, os de , aproximavam-se prontos para uma descoberta.
Os lábios se encontraram. A princípio hesitou com a sensação, sentindo a sua espinha estremecer e suas mãos amolecerem perante o ar. cessou a distância final, deixando que a amiga reconhecesse finalmente o que aquilo era.
A boca de contra a sua. Os doces, sutis e macios lábios de beijando os seus, repletos de açúcar e farinha.
O suspiro de descrença e surpresa desprendeu-se das cordas de e ela fechou os lábios, num perfeito gesto automático de consentimento, e desmanchou as suas barreiras para aquele momento.
se afastou mais para deixar poder respirar e situar suas emoções do que por vontade própria. Queria continuar lhe beijando, sentindo o paladar dos lábios confortáveis e elétricos pulsando em contato com os seus. Queria beijá-la infinitas vezes.
Ele prendeu as mãos nos joelhos e encarou com suplicia, apesar da garota continuar com os olhos fechados e um semblante que pouco lhe revelava algo. Quando ele pegou coragem para pôr fim no silêncio mortal, suspirou só mais uma vez, ainda acreditando estar em um conto de fadas.
— Qual foi o gosto desse, ?
prendeu a respiração e reprimiu todo início de desespero que lhe tomava. As suas pernas fraquejavam só de pensar que ele poderia vir a ter de correr, pelando de vergonha, caso a garota o recusasse. Até que ela abrisse os olhos, não se sentia mais seguro e confiante. Passou a interpretar o seu ato corajoso como a pior afronta que poderia ter direcionado à amiga, mas ao vê-la dilatar um sorriso iluminado e farto de graça, jurou que era daquela forma que o Paraíso deveria aparentar. Ainda de olhos fechados, e sentindo a vibrante carga que memorizou em seus lábios, também se arriscou.
— De amor, .


Capítulo Único


Whatever you do, I’m here to stay


— Eu tenho uma emergência.
reconheceu de imediato o tom abafado e rouco do outro lado da linha, embora houvesse acabado de despertar. Ele endireitou as costas na altura da cabeceira da cama e puxou o cobertor para baixo, lembrando-se do por que não deveria dormir sem camisa no começo das noites de inverno, e coçou o olho rapidamente, retomando a consciência brevemente. lançou as pernas para fora da cama e num lapso de nervosismo começou a vasculhar pelas roupas mais acessíveis no momento.
— Onde você está? O que aconteceu? — despejou as palavras num misto de ansiedade e medo, voltando a apressar os passos em direção à saída do apartamento e buscar por um par de sapatos.
Um suspiro exasperado acompanhado de um riso frouxo fez com que ele brecasse o ritmo e franzisse a testa, começando a não entender o que diabos poderia estar acontecendo. passou os olhos pelo espelho frontal da sala de estar e constatou que aquele não era o melhor visual para alguém que planejava sair no meio da madrugada rumo à um lugar incerto, mas o pijama flanelado das tartarugas ninjas foi a primeira coisa que ele encontrou.
— Desculpe, , acho que me esqueci de que é madrugada e não deveria lhe indagar desta forma. — respondeu envergonhada. repousou a mão livre no topo da cabeça e suspirou fundo, mais aliviado e calmo, sentindo vontade de sentar em qualquer estofado depois daquele susto que fez até com que as suas pernas vacilassem.
— Que tipo de emergência é essa que te faz me ligar às duas horas e trinta e oito minutos da manhã? — encostou a cabeça no topo do sofá e olhou de soslaio para o relógio posto na parede direita. Ele estendeu os pés até encontrarem a mesinha central do ambiente e remexeu as pantufas para que elas se desprendessem. suspirou baixo do outro lado da linha, ficando momentaneamente calada, talvez repondo os pensamentos em ordem como costumava fazer quando as madrugadas eram turbulentas demais para o seu coração agitado. a conhecia bem, sabia que haveria dias em que não seria capaz de se comunicar com clareza, enquanto que, em contrapartida, nos outros ela estaria fazendo a narrativa mais pura e singular de todo o universo. Nos anos de convivência, foi capaz de decifrá-la em cada uma de suas fases.
— Me desculpe. — Ela finalmente se pronunciou, reunindo toda a força de sua garganta para verbalizar as típicas palavras que constantemente ouvia saírem de sua boca. — Não sei o que me deu, não sei por que te liguei no meio da noite, estou envergonhada e arrependida, de verdade… — sorriu encabulado pela forma que usava para explicar os seus momentos de lucidez. não se importava, de fato, se havia ligado no meio da madrugada. Se ele fosse ser franco, aquelas ligações eram, na verdade, as suas preferidas. — Eu só queria ouvir a sua voz.
desabou a cabeça no conforto de sua mão, deixando que um suspiro fracassado voasse pela sua cozinha. Estava sentada no escuro desde que terminara de ler um livro de clichê romântico dos anos 90 e não entendeu o porquê, subitamente, tinha ficado tão nostálgica e sentindo a urgente necessidade de ouvir a voz de . Algo de dentro dela aflorava com a mera menção do nome do amigo e ela acreditou que era só porque sentia muita saudade das noites viradas e regadas à álcool, pizzas e filmes adolescentes. O que antes era tão comum e habitual tornou-se uma enorme sombra nebulosa no seu passado e tudo o que ela queria, mais do que nunca, era voltar no tempo e se sentir novamente a mesma adolescente que era ao lado de .
— Pizza de marguerita com borda de catupiry? — soou divertido do outro lado da linha e pôs os dedos contra os olhos, sentindo-se infinitamente sortuda por ter alguém como em sua vida. O garoto, como ela sempre o veria, era o seu pequeno milagre.
— E dois pretzels de chocolate. Cobertura dupla. — Ela deu sequência ao plano.
levantou do sofá em um supetão e sorriu largo, correndo para pegar a carteira e decolar em direção ao seu carro. O poste da rua iluminou a sua visão geral e não conseguia visualizar nada além da lua no fim do céu parecendo ter despertado juntamente a ele. A locomoção seria difícil, levando em conta o frio tórrido que se aproximara, trazendo consigo a desmesurável quantidade de neve, mas não se importou. Ele chegou a se perguntar se houve algum momento em que chegou a se importar.
— Por você eu até paquero a tiazinha do restaurante só para ganhar de graça uma cobertura tripla. — ligou o motor do carro e o som do automóvel acordando foi quase semelhante ao tinido que ecoou de dentro de seu coração quando leu o nome da melhor amiga na tela do celular.
usa o seu charme para tirar proveito da boa fé das pessoas e não choca ninguém. — zombou, levantando-se da cadeira da cozinha e correndo para revirar o seu armário atrás de algum conjunto de roupa que não fosse tão ridículo quanto o seu pijama ironicamente também das tartarugas ninjas. Quando olhou para o lado de fora da janela e viu a lua se esconder por trás da enorme árvore que alcançava a frontal no segundo andar, não precisou vê-la por completo para saber que até o ponto reluzente no céu estaria sorrindo igual à ela.
— Me acuse do que quiser, contanto que você assuma que eu sou charmoso, para mim está ótimo. — gargalhou ao ouvir o bufo irritado da melhor amiga.
ajeitou o cabelo de frente para o espelho e sorriu checando se estava com a arcada dentária apresentável, só para garantir.
— Eu te dou meia hora, . Depois disso, não há pizza de marguerita que te faça entrar na minha casa. — apoiou o celular no ombro e começou a revirar com o controle por algum seriado que queria ver nos últimos meses, mas que estava adiando. Aquela parecia ser uma boa hora de se reconectar com a realidade paralela que a Netflix lhe proporcionava.
— Chego em vinte, meu dengo. — se preparava para desligar a ligação. — Além de charmoso, eu sou um ótimo piloto. Acha que esses braços só servem para levantar peso?
reprimiu os lábios até que sentisse os extremos de sua boca arderem. Ela mordiscou as pontas e deu alguns pulinhos de excitação ao ter encontrado o que pretendia no menu principal. Tombou a cabeça no sofá e respirou fundo, gostando da sensação que sentia naquele segundo. Olhou rapidamente para a tela do celular e sorriu sacana.
— Vinte e nove minutos, . Tic-toc, o tempo está correndo contra você.


✳✳✳

chacoalhava as pernas incansavelmente com uma brusca vontade de tirar o controle da mão de e voltar a assistir a sua série. No momento em que sentou no sofá e anunciou que queria assistir — pela milionésima vez — a maratona de Velozes e Furiosos que passava na sessão da madrugada, só sentiu o desgosto rondar o seu ventre e suspirou derrotada, sabendo que uma pizza com marguerita e borda de catupiry nunca vêm de graça.
— Nós já assistimos a esse filme milhões de vezes! — Ela reforçou o mesmo argumento, vendo dar de ombros e encher ainda mais a sua bochecha com massa de pizza. — É sério, , você não se cansa de ver o Toretto dando essas manobras toda maldita vez que está fugindo do meu amado Dwayne Johnson? — O amigo rolou os olhos e indicou com a sua fisionomia que não estava a fim de entrar no assunto “como sou apaixonada por Dwayne Johnson e como ele poderia me usar como escudo humano, mas ainda sim eu seria apaixonada por ele” que carregava na ponta da língua.
— Eles acabam a sequência sendo bros for life, por que então você tem tanto ranço pelo Toretto? E por que você chama o Vin Diesel pelo nome do personagem dele e não chama o Dwayne Johnson pelo nome de Luke, o personagem que ele interpreta? — murchou os lábios e reuniu os braços de encontro aos seus peitos, pressionando-os por baixo destes, e se negando a continuar mirando os olhos na tela da televisão. achou o gesto adorável, mesmo sabendo que em seguida viria um comentário que lhe faria desistir de assistir o filme e se render aos suplícios da mulher.
— Porque o Dwayne Johnson é Dwayne Johnson a todo o momento. — empurrou pelo ombro. — Ele é uma entidade! O Diesel é só o Diesel. — entortou o nariz e se divertiu com o desgosto da amiga. Para fazer a média e deixá-la um pouco mais feliz, ele tirou do filme e passou o controle para ela, vendo um sorriso infantil e iluminado se emoldurar no rosto da mulher.
— Belo ponto. — Ele brincou. elevou os ombros e sorriu satisfeita, correndo os olhos pela lista do Netflix e buscando o que antes assistia.
— Contra fatos não há argumentos, meu coração. — sorriu vacilante ao ouvir aquelas palavras saírem dos lábios de . Seu coração realmente acelerou como se estivesse em festa e por um segundo ele acreditou que estava prestes a ter um infarto. Apenas assim, com a menção de duas simplórias palavras.
A verdade é que sempre fora apaixonado por . Se retomasse seus pensamentos de volta à época que a conheceu, conseguiria ilustrar perfeitamente o que sentiu quando pôs os olhos na mulher — foi amor à primeira vista e essas palavras soam de alguma maneira atraentes porque foram justamente elas as primeiras que ele ouviu dizer enquanto conversava com uma amiga. A memória da garota contando como acreditava em paixões à primeira vista e como torcia para que um dia acontecesse em sua vida era praticamente uma viagem no tempo. sorriu no silêncio da sala, roçando o seu braço no topo do sofá e amando o contato dos cabelos de se pressionando contra a sua pele. Com uma inclinação sorrateira, vislumbrou o brilho nos olhos da amiga, parecendo duas grandes jabuticabas na cor de avelãs, sobrevoando o céu que se mesclava atrás de sua pupila. Ele pensava que chegava a ser ridículo como gostava de compará-la a um quadro, uma pintura pintada à mão pelo artista mais consagrado de toda a existência da humanidade, um pedaço de esplendor que não poderia ser medida. Os olhos que brilhavam mais do que as estrelas no céu escuro, os lábios vermelhos que eram mais bonitos que rosas, ele achava que estava declarando o óbvio e precisa de palavras melhores para definir a beleza daquela mulher.
— Por que você está me olhando desse jeito? — fez voltar para a atmosfera. Ele balançou a cabeça, sorrindo envergonhado, e se enrolou no cobertor, tentando controlar os seus batimentos cardíacos que tendiam a se descompassar cada vez que os cílios leves e longos da mulher piscavam em expectativa para ele. titubeou dizer a verdade que se enroscava na ponta de sua língua, mas por fim decidiu que não era o momento certo.
Talvez nunca vá existir um, ele acrescentou no pensamento, sorrindo derrotado e desmotivado.
— Nada demais. — Ele mentiu. — Estava só memorizando o seu rosto. Eu sinto saudade dele às vezes. — O tempo todo, ele quis dizer. sorriu abobalhada, escondendo a cara com os dedos compridos, e gargalhando por ter sido pega desprevenida. era o verdadeiro sinônimo de instabilidade: quando ela achava que ele soltaria um comentário sério, profundo e filosófico, ele lhe lançava uma piada de fundamental ou uma indagação pouco inimaginável.
— Você se torna cada vez mais galanteador. — brincou, vendo o rosto do amigo se acender. — E eu aposto que isso está lhe rendendo bons momentos. — não pretendia oferecer nada mais do que um sorriso enigmático para a melhor amiga, embora suas reações físicas indicassem que ela tinha tocado em um assunto perigoso. Ela notou, no entanto, que o amigo não ostentava mais a sua carranca egocêntrica, estava apenas neutro e um tanto inquieto. arqueou a sobrancelha e lhe cutucou com o dedo indicador na área próxima ao umbigo dele, o ponto frágil de . — Está me escondendo algo, garanhão?
riu nervoso, lembrando-se do por que detestava falar de ex-namoradas e porque elas sempre terminavam com ele pelo mesmo motivo: todas concluíam que ele estava apaixonado pela melhor amiga.
E em nenhuma das vezes ele era capaz de trazer argumentos que fizesse as mulheres se convencerem do contrário.
se interessou pela súbita mudança de humor do amigo e se endireitou no amontoado de almofadas para olhá-lo com mais cuidado. Apoiou a cabeça por baixo de seu braço e sentiu a mão de repousar próxima à sua nuca, os dedos brincando de apertarem seus fios de cabelo e o choque eletrizante que aquele contato criava no seu couro cabeludo.
A mulher não se lembrava da última vez que viu com alguém. As namoradas dele sempre foram passageiras e, quando uma calhava de ser duradoura, era um relacionamento fadado ao fracasso, repleto de brigas e desacordos. não se intrometia nas decisões do amigo, de longe era a pessoa mais sensata que ele poderia recorrer para ajudá-lo a solucionar problemas de relacionamentos, mas sentia que havia se distanciado dela nesse assunto. Forçando a memória, se recordou de que fazia oito meses que não via desfilando com alguém ao lado. Não era só por causa da vida de celebridade, já que em um momento do auge da carreira ele simplesmente passou a não se importar com normas de conduta e viveu da forma que considerou melhor para o seu presente, mas algo pairava no ar. Ela captou a mensagem, mas não soube compreendê-la.
Sabendo que poderia sentir-se ofendido com alguma insinuação, sorriu manhosa para o amigo e acariciou a maçã de seu rosto, deslizando os dedos pelo rosto dele e gostando até da forma que a textura da barba recém-feita de era, sem sombra de dúvidas, infinitamente mais prazerosa e confortável que qualquer e todo rosto masculino que ela já tocara.
— O que foi? Você não me apresenta mais para as suas namoradas porque têm medo que elas fiquem com ciúme? — congelou no assento, duro feito uma muralha de iceberg. Seu sorriso balbuciou pelo rosto e ele não sabia dizer se era por ter tocado diretamente no núcleo do problema ou se era porque a sua mão era cruelmente sagaz nos movimentos carinhosos. — Pensando bem, você faz certo em não me colocar no mesmo recinto que elas. É meio nítido que eu sou o amor da sua vida, não acha? Ficaria óbvio demais. — gargalhou, jogando os braços pela cabeça do melhor amigo para abraçá-lo, e esfregou a ponta do nariz pela extensão do pescoço de , cheirando o odor de sabonete e perfume que ele exalava. fechou os olhos, apreciando a tortura momentânea, e se lamentou pela vida ser traiçoeira demais com ele. O que ele daria para que quisesse senti-lo daquela forma, mas com outra entonação?
Apoiada no corpo de , os olhos de se fechavam lentamente por causa da sonolência e pelo efeito que o cheiro do amigo lhe fazia relaxar instantaneamente. abriu espaço entre o corpo de ambos e conseguiu o ângulo perfeito para entrelaçar o seu braço na cintura da melhor amiga e fechar a mão por cima do pijama dela. Ele a deslizou para cima, e para baixo, aquecendo a pele da mulher e respirando na medida em que a respiração de pinicava em seu pescoço.
Era por momentos como aquele que levantaria no meio da madrugada, entraria no carro, seguiria até a pizzaria, pediria pelo seu combo preferido, voltaria a dirigir rumo ao apartamento daquela mulher e deixaria que ela fizesse o que bem entendesse com o resto da sua noite — era por que se rendia. Durante todos os seus dias, suas noites, suas fases e seus anos, era e seria, para sempre, quem quer que queira que ele seja. Ele percebeu que não havia escapatória; o amor chegou tão de repente em seu coração que ele não pôde ao menos reprimi-lo. Numa tarde de outono, observou caminhar para longe dele, carregando o buquê de flores que ele acabara de entregá-la, e pulando em alegria porque o amigo havia se lembrado de que era o dia internacional das flores e ela era profundamente apaixonada por rosas vermelhas. Quando ele notou que sua alma pleiteava para que ele fizesse pequenos atos como aquele, por ela, foi o momento em que a sua ficha caiu.
é verdadeiramente, loucamente e profundamente apaixonado por . Sempre foi, sempre seria.
Foi cômico, e lamentável, como ele chegou à esse veredito. No passar dos dias, achou que era só uma atração passageira, nada mais do que uma frustração sexual de adolescente. Como é que ele poderia não se sentir atraído pela garota mais bonita do colégio — aos olhos dele?
Não havia uma argumentação que fizesse pensar o contrário. O resto do semestre passou assim, com o seu pensamento apenas direcionado para o amiguinho de baixo, refutando que ele só sentia aquelas coisas porque estava na transição de moleque para adolescente e, dessa forma, o esperado era que ele começasse a se animar daquela maneira.
O garoto, que anos mais tarde se tornou um homem, desacreditou quando o seu amigo de infância, , lhe disse com as diretas palavras o que ele temia ouvir:
Se você escutasse isso de alguém que lhe conhece mais seriamente, iria ouvir? franziu a testa e sorriu magnético para o amigo, negando com a cabeça a descrença aparente do mais novo. — Você está apaixonado por ela, , e não precisa de muito para reparar. Pergunte para a sua mãe, então, se não acredita em mim. Aposto que até ela já sabe!
chacoalhou a cabeça em desaprovação com a memória, quase parecendo estar querendo voltar para o momento só para negar com mais fervor e confiança o fato ao amigo. não mais tocava no assunto, nos dias atuais, mas ainda deixava subentendido de que continuava defendendo a minha tese. era apaixonado por e não teria um dia em que deixaria de ser, sabia disso. A mãe de sabia disso, todas as ex-namoradas dele também e, no final, até mesmo sabia.
Todos sabiam, menos .
Ele inclinou a cabeça em direção ao rosto da mulher e pousou a sua testa na dela, acompanhando o ritmo dos movimentos sonolentos da amiga e sorriu embriagado pela vibração do amor. Pelo resto de sua vida ele poderia senti-la tão próxima dele, exatamente como estavam, quase se conectando em um só corpo, uma só frequência.
Não importa o quanto ele envolva em sua cabeça coisas que não são condizem com a verdade, ele sabia que estava tudo tão branco como os seus olhos, tão transparente como a água e tão oficial quanto uma sentença.
talvez nunca viesse a compreender tudo o que sentiu durante a amizade deles, mas ele estava convicto de que, de alguma forma, ela poderia descobrir, talvez algum dia, talvez quando ele criasse coragem de abrir o seu coração para expor a coisa mais bela que ele foi capaz de dar vida.
Os olhos da mulher se abriram ao passo em que a respiração de batia em seus cílios. respirou fundo, apertando as suas mãos em torno do corpo de , e quis aproximá-lo mais ainda, se é que poderia ser possível. Seu corpo era atraído e condicionado para o dele como um ímã, todas as suas moléculas se agitavam em aprovação quando ela se mostrava vulnerável perante a ele.
A princípio precisava ser honesta consigo mesma. No fundo, bem naquela parte oculta e temporariamente inacessível, a mulher assentiu ao o que se tornou sua verdade menos previsível.
Todas aquelas turbulências de sentimentos que haviam estacionado no breu do cômodo mais escuro de seu coração agora se locomoviam à milhão em retorno ao pólo da sua combustão; o epicentro do seu coração, o casulo do sentimento que era desconhecido, instigante e curioso, mas tão dela que não tinha como não reconhecê-lo. O problema da mulher, como ela sempre reconhecera, é que sabia bem como entender o que andava se passando dentro de si e, por tanto saber, foi mais fácil traçar um ponto de fuga daquele que era o seu ponto de partida.
nutria sentimentos não definidos e não debatidos por . O seu ponto de partida começou daí, bem quando ela preferiu sentar no recaimer de seu quarto, no começo de uma manhã do passado, um pouco antes de seu horário escolar, no momento em que tentava aquietar o seu coração por ter se lembrado de que precisaria de coragem para encarar depois de ter lhe beijado por causa do estúpido jogo de adivinhação que constantemente brincavam. A sua boca ainda formigava pelo contato físico e ela esfregou as pontas dos dedos pelo contorno dos lábios, rindo sozinha e não sendo capaz de retardar a avalanche de emoções que lhe atingiram só por pensar que tinha gosto de pasta de dente e açúcar. Foi um único beijo simples, suas bocas só se encontraram em um abraço gentil, nada que fosse digno de uma cena hollywoodiana, mas aquilo foi o suficiente para fazer ir até a Lua, hastear uma bandeira escrita “Team !” e voltar. Ele era o seu melhor amigo desde que ela conseguia se recordar e aquilo parecia muito errado, mas também muito certo. Quem mais poderia beijá-la pela primeira vez senão o único garoto que lhe enxergava como ela era e lhe aceitava com toda a sua bagagem, os seus hábitos estranhos e as manias insuportáveis? Ela estava feliz por ter sido ele.
Quando notou que estava desejando que continuasse sendo ele quem beijasse os seus lábios, desacelerou os passos e marchou no sentido contrário. Ela se lembra perfeitamente de ver acenando para ela, ainda com o sorriso tímido e os lábios retraídos, praticamente demonstrando que ele também ainda sentia aquele beijo pinicando em sua boca, e da sensação que foi perceber que não estavam destinados para ser o tipo de melhores amigos que viravam amantes, namorados ou qualquer coisa do tipo. Em algum momento ela iria falhar com e colocar a amizade dos dois em risco.
era tudo de precioso em sua vida, não poderia arriscar perdê-lo.
Foi com esse pensamento falho e desmotivador que seguiu se afastando de até ele reparar que ela não iria mais beijá-lo entre uma brincadeira inocente, no intervalo do projeto de ciências ou na volta da sorveteria. Não era para eles se beijarem, simplesmente.
quis soltar um suspiro agoniado ao ter sido pega de surpresa por aquelas memórias. O conforto dos braços de ainda era o seu preferido em todo o mundo e ela se odiou por ter começado a pensar em como seria se tivessem continuado se beijando naquele ano do ensino médio. Estariam assim, abraçados, embaralhados, juntinhos, presos em um mundo só deles? ainda lhe olharia com os olhos do homem que aceitava bem o seu coração? teria aberto mão de seus sonhos porque acreditava que estava há muito tempo longe dela e precisavam pôr um final naquela distância miserável? se tornaria uma versão cansada, desgastada e diferente se eles tivessem caído na rotina de um relacionamento? É por eles parecerem dar tão certo, enquanto tinham tudo para não dar, que ainda sentia que estava nutrindo algum tipo de sentimento mirabolante pelo amigo. Existia dezenas de variáveis que sustentavam a sua filosofia de vida: você não deve, jamais, mistura amor com amizade.
não queria misturar o amor que sentia por com o amor que também sentia por .
Eram dois tipos de amores, isso ela aceitou depois de anos de reluta. Cada qual com o seu peso e influência, mas ainda sim amores que, se postos em uma balança, se tornariam tão reveladores como imaginava.
A verdade, nua e crua, era que cada um daqueles dois elementos se completavam. Foram eles que originaram aquela relação, aquela possibilidade de estar emaranhada nos braços de no meio daquela madrugada, eram eles que fariam com que continuasse dirigindo no meio da madrugada só para lhe fazer companhia nos dias de TPM e tristeza monótona.
Era o amor.
levantou os olhos à altura do rosto de , agora encontrando as pupilas do melhor amigo bem dilatadas e receptivas. Ela sorriu rente à camiseta do pijama de e achou que ele iria manifestar interesse em falar. Ao vê-lo abrir um sorriso e olhá-la mais profundamente, não esperou que ele formalizasse seus pensamentos.
— Você não me respondeu. — Ela o provocou. — Por que não me apresentou mais nenhuma namorada?
afastou os cabelos que tentavam grudar nos lábios umedecidos da mulher e os admirou por um tempo mais longo do que percebeu.
— É porque não valia à pena lhe mostrar que meus relacionamentos estão fadados ao fim desde o começo. — murmurou, quase inaudível, as palavras que ouvia com freqüência de seus amigos. — Nenhum deles era supostos para durar.
— Deve haver uma razão para você ter se convencido disso. — Ela se remexeu no colo do amigo, apoiando as mãos por baixo dos joelhos e dando consentimento para que ele abrisse suas pernas e deitasse o peso do seu corpo por cima de seu peito. se acomodou naquele ninho, caloroso e afetuoso, e deixou que as verdades fossem ditas às claras.
— O meu coração está ocupado e ele não parece interessado em renunciar à proprietária. — deixou a sugestão no ar, atraindo as piscadelas de . Ele não conteve o risinho quando a dúvida se tornou evidente na feição da mulher, e estimulou que ela buscasse por mais respostas. — Ela é difícil de superar.
— Desde quando ela existe aí dentro? — apontou com o queixo para o peito de , indicando o seu coração, e pareceu desconfortável com o que ele alegou. brincou com as pontas do cabelo dela, disperso do que realmente acontecia, tardando para captar o sentido daquela birra mesclada. — Quando foi que você foi domado por uma donzela e não me contou?
Uma pontada de dor atingiu o peito de , ela prontamente iria fingir que não, mas o nó em sua garganta foi pontiagudo e ardente demais para ela forjar uma falsa certeza. Que ela não colocava fé nos relacionamentos de era uma verdade absoluta, mas que ele pudesse vir a ser apaixonar de verdade por alguém, depois de tantos encontros e desencontros na vida, isso ela não esperava.
— E se… — arqueou a sobrancelha e provocou a mulher um pouco mais. — Ela sempre tenha existido aqui dentro, mas você nunca percebeu? — Ele sorriu. — Vamos lá, adivinhe.
afastou-se o suficiente para sustentar o contato visual e tentou buscar no fundo da mente algum indício que pudesse ter lhe dado nos últimos meses. Ela ficou inquieta com a articulação dos pensamentos, não sabendo se deveria engolir o papo ou tentar mudar de assunto. Queria descobrir mais, mas tinha medo do que poderia vir a seguir.
Droga, ela pensou. Deveria ter previsto isso, é claro que aconteceria cedo ou tarde! Como não?
— Eu a conheço? — levou os olhos até o teto e preencheu a expressão com um teor de dúvida, mas não tardou em remexer a cabeça em afirmação e titubear um sorriso infantil. assentiu, partindo da premissa que de todas as mulheres que dividiam o mesmo círculo social que eles eram basicamente parentes, amigas de infância, amigas que fizeram durante os mochilões pelo mundo e as colegas de trabalho de , as que ele lhe apresentou durante as visitas que ela fazia aos bastidores das turnês. lembrou-se de Ayla, a mulher que ele conheceu através dela, em um restaurante tailandês, no dia em que chegava com a ultíssima notícia de que tinha terminado seu namoro com Harry, o estrangeiro empregado do mesmo hospital em que ela trabalha e que veio só para azucrinar a paciência de . Foi a última mulher que conheceu por intermédio de , há cerca de um ano e cinco meses, não parecendo que teve potencial para ser a nova conquistadora de seu coração.
— Ela é chef de cozinha? — arriscou com o tom de voz oscilando. quis rir, mas se poupou de estragar o teatro. Ele negou, esperando que ela trouxesse mais uma sugestão. — Ela é garçonete? — Ele negou novamente. — Ela é caixa de um restaurante?
— Ela não é do ramo alimentício, se é isso que você quer saber. — Ele reforçou vendo os olhos de rolar e seu peito murchar de frustração. Ela abraçou as pernas e apoiou o queixo nos joelhos. — Tudo bem, eu vou te dar uma dica. Vou contar qual é a profissão dela. — abriu os olhos rapidamente, sentindo seu peito quase rasgar.
esperou que atingisse o auge da expectativa e, por fim, abriu a boca.
— Ela é médica.
Os olhos dos dois passearam em conjunto pelo rosto de cada um e endureceu no lugar.
A mulher era médica! Aquilo não poderia estar acontecendo.
Deveria ser alguém do seu trabalho já que, por infortúnio da vida, também é médica.
— Ela trabalha no Gangnam Severance Hospital? — fez uma pausa dramática e atacou uma almofada em sua cabeça, irritada. — Seu canalha! Justo uma colega do meu trabalho? — não respondeu nada, apenas lhe lançou mais um olhar enigmático. ficou ainda mais cabisbaixa. — Ela é loira, morena ou ruiva?
— Depende. Há épocas em que ela faz luzes no cabelo e há épocas em que ela o deixa escuro. — parecia um expert em tintura de cabelo e só quis apenas socá-lo. Aquela informação não era de nada útil. — Mas agora ela está com o cabelo no tom natural.
revirou na sua mente sobre todas as mudanças físicas das colegas. Por trabalhar em um hospital e viver na correria típica, ela não era de se atentar aos detalhes dos outros, embora mudanças no cabelo fossem visíveis e rápidas de se notar, até mesmo para alguém avoada como . Estava tão acostumada aos rabos de cavalos e as toucas brancas na cabeça dos colegas que se detestou por ser do ramo da saúde e precisar usar uniformes que lhe custasse para extrair informações tão importantes.
— Droga, , você não está colaborando! — Ela bateu as mãos na almofada sob as suas pernas dobradas e encolhidas. — Eu fico a semana inteira sem ver o topo da cabeça das pessoas que trabalham comigo, como é que você espera que eu saiba quem pintou o cabelo quando estou no meio de uma cirurgia?
gargalhou alto.
— Vocês não fazem pausas durante o expediente? Sei lá, não deitam em uma sala e ficam reclamando de quanto sangue espirrou no uniforme e como prefeririam que os gênios da tecnologia criassem um acessório que retesse as sujeiras dos pacientes? — olhou para ele como se estivesse diante de um maníaco e, só com aquele mero gesto, entendeu o que ela pensava. Ele voltou a rir.
— Er, não. — Ela rebateu em um claro tom de obviedade. — Ficamos ocupados com coisas mais rotineiras, sabe, tipo salvar vidas. — Ela apontou a única coisa que fazia durante o horário de trabalho e deu de ombros, não se afetando em nada. — É sério, diga quem é. Não estou mais com paciência para esse jogo ridículo.
encolheu-se abraçando o próprio corpo, fungando o nariz na calça do pijama e concentrando os seus olhos nos pés de , inquietos e elétricos, assim como os seus batimentos cardíacos. Ela respirou fundo e quis acreditar que o descompasso em seu coração era só porque estava emocionalmente instável. A prova viva daquele fato era a circunstância em que se encontrava: às três horas e meia da madrugada, sentada no sofá de sua sala, espalhando almofadas pelo chão para que ficasse mais confortável no ponto extremo do sofá, massageando os seus pés. O amigo, por ter a agenda ocupadíssima e estar quase grande parte de seus dias indisponível para encontrá-la, ali estava, finalmente, agindo como se a rotina de ambos não tivesse se tornado um peso na amizade e lhes afastado.
— Você já foi mais meiga, . — afagou as mãos pelo cabelo dela e tombou a cabeça para repousá-la no ombro da mulher. — Era tão bom quando você era mais amorosa comigo. A medicina congelou o seu coração? — A mão dele desceu para o pescoço dela e foi amortecendo a queda até que alcançou as suas costas. afastou-se rapidamente do apoio, deixando que a mão de se encaixasse mais furtivamente na cavidade da sua curva. Ele sorriu, mais por saber que aquela reação dela tinha sido automática, e não planejada, e apoiou os lábios na orelha da mulher, lançando breves cargas de ar, o suficiente para arrepiá-la. — Vamos lá, baby, eu sei que você consegue adivinhar.
implorou para que alguma divindade pudesse acudi-la. A mão de transmitia uma avalanche de sensações e ela não sabia como lidar com aquela minúscula distância. A ponta da sua orelha ainda pinicava, eletrizava, gelava e tremia só com o mero toque dos lábios aveludados de , quem dirá os efeitos que a sua mão, firme, carinhosa e perspicaz poderia causar no decorrer daqueles minutos.
— Como eu vou adivinhar quem é? Existem várias médicas por lá. — trouxe de volta a sua voz para o ambiente e sorriu abobalhado pela sutil mudança de humor no timbre da mulher, aguardando o perfeito momento para vê-la fraquejar e soltar algum xingamento. — Fala sério… Você… Aish! Por que, ?
O homem olhou confuso para ela, enrugando as linhas de expressão na testa e entortando o nariz pela clara desaprovação que a melhor amiga lhe oferecera. era lerdo, disso até ele mesmo tinha ciência, mas não estava entendendo a repentina indecisão no humor de … Ela estava feliz por ter supostamente “se apaixonado” por uma colega de trabalho dela ou estava chateada por causa desse mesmo motivo?!
, eu não estou te entendendo. — apertou os olhos em dúvida e coçou o queixo, buscando um ponto de partida naquela situação toda. Como iria trabalhar com as palavras quando a mulher estava visivelmente instável e ele não tinha ideia de como provocá-la sem acabar sem uma cicatriz no rosto? — O que você está pensando, exatamente, sobre isso?
cruzou os braços e suspirou fundo, fechando os olhos e suspirando de novo, até que os sons que escapuliam de sua boca se tornassem pequenos choramingos. Ela escorregou os dedos pelos cabelos e deu uma trombada forte da palma de sua mão na testa, murmurando algo que reconheceu ser uma bronca, e olhou finalmente para ele, cabalística como o esperado.
— Estou feliz por você. — De algum lugar tirou um sorriso polido e educado, com pouco contentamento, ao passo que seus olhos tentavam expressar um pouco de alegria, em contrapartida da emoção de seu corpo. parecia estar pronto para incorporar um meme internético por causa de sua expressão de profunda confusão, mas passou a mão pelos braços do amigo e sorriu mais largo agora. — Só fui pega desprevenida. Achei que você iria me contar sobre isso logo quando começou a acontecer… — Ela não gostou da forma que precisou verbalizar aquela frase. Era ridículo, aos seus olhos, ter de dizer o que ela não sabia nem ao menos que um dia viria a não gostar de falar. As palavras cortaram em sua língua e ela as pronunciou rápido demais, em um aglomerado de tons confusos e embolados, o suficiente para perceber que ela não queria refutar aquele tópico.
Depois disso, o coração de pareceu dar uma pirueta mortal em seu peito e dançar tango. Sua ansiedade pulsou ainda mais improrrogável e ele queria afundar os pensamentos da mulher naquele assunto até que ela entendesse o que ele queria que ela entendesse. Até ela finalmente o enxergar como nunca o fez.
— Eu posso te explicar o motivo quando você descobrir de quem estou falando. — Ele ajeitou a jaqueta no corpo e sorriu mais encorajador, empurrando a mulher pelos ombros e lhe oferecendo um joinha. — Está esquentando! Vai, . Pensa: quem poderia ser a sortuda?
Ela percebeu que a melhor forma para lidar com tudo aquilo seria acelerar o jogo, parabenizar , mandá-lo para a sua casa e poder dedicar as seguintes horas do dia encolhida no sofá, querendo chorar ou só se xingar por ter perdido tanto tempo para descobrir esses sentimentos pelo melhor amigo.
inclinou-se para a direção oposta e pousou o copo de refrigerante na mesinha, voltando a encarar depois que conseguiu colher uma quantidade ideal de ar. Ele a aguardava com determinação nos olhos, um sorriso infantil e divertimento que chegava a sufocá-la.
— Ela já cuidou de você? — sentiu a primeira alfinetada lhe atingir. Ela estava se aproximando demais e aquela sensação era ainda mais empolgante.
— Sim. Várias vezes. — arreganhou uma careta incompreensível e não conseguiu processar a imagem de alguma médica do hospital que pudesse ter cuidado “várias vezes” de . Não ao menos se lembrava de tê-lo visto no lugar tantas vezes, quem dirá em decorrência de fins médicos. Seus lábios abriram prontos para a próxima pergunta, mas aí um vagão contendo uma resposta controvérsia lhe barrou e ela fechou a carranca, continuando a seguir pelo caminho da descoberta.
A única pessoa que chegou a cuidar de , no hospital, fora ela.
A mulher olhou mais atentamente para o melhor amigo, passando a mão pelas pernas e recordando da vez em que o homem foi para a sala de emergência após ter rompido o ligamento do joelho, durante uma apresentação televisionada para o mundo inteiro, na vez em que ele precisou de um atendimento de urgência quando sua gastrite estava aguçada, após ter passado os dias de tour apenas comendo comidas apimentadas, e na vez em que precisou de um curativo porque simplesmente apostou com um dos integrantes do grupo que conseguiria segurar um vaso de flores que seria arremessado a cinco andares. É claro que o vaso escorregou de seus dedos e o vidro explodiu no chão, pulando diretamente nas mãos de e ocasionando em um belo ferimento.
Aquelas vezes foram as únicas passagens de pelo local.
Incomodada com a dúvida, preferiu arriscar retirar mais um detalhe do que ignorar a sua intuição. Ele não perceberia, não é? Não teria mal algum apenas ter certeza de que ele não estava falando dela. Seria vergonhoso, na verdade, perguntá-lo diretamente do que apenas palpitar mentalmente.
— Ela era residente em alguma das vezes em que você passou por lá?
quis cuspir o refrigerante que tomava de tão nervoso que ficou de repente. Ele precisou firmar a mão no copo, e tomar o líquido por completo, para depois limpar a garganta e responder um “sim” sonoro demais. estava quase chegando na resposta, rápida que nem um foguete, e não sabia que ficaria tão apavorado só de imaginá-la adivinhando. Havia sido ele quem começou aquele jogo, então tinha que arrumar um jeito de não estragar tudo.
ia tampar a boca com a mão, mas controlou o movimento quando seu cérebro concluiu que ela tinha a vaga chance de ser essa mulher.
Por céus, as suas chances eram gritantes! Se antes pareciam promissórias, agora eram praticamente vencedoras.
A mulher se lembrou de que era residente na época em que tratou do ligamento rompido de , inclusive foi o motivo pela qual o seu supervisor a considerou um prodígio e lhe concedeu a oportunidade de participar de uma das cirurgias mais importantes do hospital, logo na manhã seguinte. , inclusive, saiu do trabalho com o celular pendurado no ouvido, gritando ao primeiro segundo em que ouviu a voz de , despejando agradecimentos por ele ter se machucado e lhe ajudado a conseguir uma oportunidade única.
Os dois se encararam e não sabiam dizer o que o outro pensava, mas era nítido que o ambiente sutilmente esquentou e uma vergonha pairava no ar. A de , por causa da cena que causou quando saiu mancando para jantar com ela naquela noite, e a de por notar que em breve ela encontraria a resposta.
— Vocês já jantaram juntos depois do fim de algum plantão dela? — apenas assentiu com a cabeça. Ele não estava mais nem nas devidas formas para sibilar um simplório “sim”, não quando os olhos de águia de inflaram e ela ostentou um sinal de “loading” em cima de sua cabeça. Ela estava quase lá…
remexeu-se no sofá e olhou para o chão, procurando as exatas palavras que usaria quando tocasse no ponto sagrado. “Alguma coisa está mudando entre nós?” foi a primeira coisa que ele cogitou que poderia dizer caso não parecesse tão assustada ou com o semblante de quem sentiria nojo só de descobrir a revelação do amigo.

“Estou te dizendo… Eu fico bonito ao seu lado.”
“Vai, pode confessar, não é algo tão revelador assim, não é?”
“Você achou que eu seria capaz de não me apaixonar depois daquele beijo?”
“É… Aconteceu!”


Todas as frases montadas não soavam nada cativantes, quem diria conquistadoras. expeliu um suspiro inaudível e esperou que falasse mais alguma coisa. No momento, ele saberia o que dizer. Ele tinha certeza.
Em contrapartida, a mulher estava atônita. Sua garganta secou e seus olhos estagnaram na visão do homem, apertado no lado oposto do sofá, enrolado no cobertor e lhe encarando com receio. estava, assim, abobalhada e chocada, no mesmo grau, a ponto de perder a noção do tempo físico e apenas gastar os segundos encarando .
, ela já tirou férias só para viajar pela Europa com você?
A frase flutuou no ar. A gravidade se reduziu a zero e a única coisa sólida no ambiente eram os olhares, vagando de encontro um ao outro, conectando o peso daquela pergunta. , um pouco ofegante, remoeu as palavras no fundo do seu estômago, almejando que o possível “não” que ela ouvisse não lhe causasse um rubor vergonhoso no rosto. Ela tinha, realmente, chegado naquela hipótese tola.
Ela estava escancaradamente esboçando a sua insinuação.
sabia que sim. Oh, se ele sabia.
Suas pernas pararam de se movimentar e não tinha mais a noção do espaço. Ali, cerca de cinco palmos de distância, era como se estivesse tocando no seu íntimo.
Ela havia chegado naquele ponto, então. Finalmente, depois de tantos anos, lá estavam os dois.
Diante do grande momento.
— Sim. — nunca amou tanto dizer uma palavra como naquela circunstância. Ele acreditou que tinha até mesmo cantarolado aquele som.
Foi lindo o que sentiu. De princípio, seu tímpano não processou a palavra de e ela achou estar delirando, mas quando olhou fixamente para os lábios do homem e viu a palavra se derramando pelos lábios dele, o arrepio na espinha subiu até que a sua cabeça entrasse em pane e ela só pensasse em uma única coisa: Sim.
Ah… Aquele momento. tinha certeza que se fosse capaz congelaria aquela imagem como um porta-retrato mental, só para ele assisti-la incontáveis vezes, em todas as que ele se sentisse prestes a declinar no precipício do amor e precisasse de um empurrãozinho.
O seu coração travou uma luta entre manter-se na realidade ou imergir no mundo fantasioso que o olhar chamuscante e endeusado de lhe tomava. Não podia ser possível, em sua mente, de que aquela mulher conseguia se tornar ainda mais bela, por céus! De onde provinha tamanha graça e capacidade de domá-lo?! Seria um pacto, uma maldição, o seu próprio carma de vidas passadas personificado em uma beldade humana que tinha tudo para ser de mentira?
chegou a acreditar que o seu cérebro estivesse passando por uma daquelas ocasiões pré-morte que tanto ouvira ser cogitado durante suas aulas na faculdade. A diferença era que, enquanto aquela situação deveria iniciar no final da vida de alguém, a de parecia estar lhe fazer nascer naquele momento.
Todas as lembranças da vida que compartilharam juntos vieram à tona como flashbacks de verão: nostálgicos, carregados de beleza, envolvimento, saudade, alegria e, sobretudo, paixão.
A portinha do sótão de seu coração abriu-se e a sensação foi de liberdade. Tudo o que reprimia por instantaneamente ganhou vida e se expandiu até que sentisse as paredes de seu coração sofrerem o impacto do terremoto.
era isso: o terremoto em suas terras firmes, nas suas placas tectônicas, em suas águas calmas. era tudo de inusitado e eufórico em sua vida, era a corda bamba que atrelava ao descobrimento do inesperado e do excitante.
era amor. O seu amor.
… — começou a verbalizar o nome dele, mas percebeu logo em seguida que não sabia o que dizer. assentiu em acordo com o que quer que fosse e sorriu. Sem ao menos levantar uma mão, ela o colocou de joelhos e o fez gentilmente superar o orgulho, mandando o resquício do que sobrara para bem, bem longe.
descobriu que seria agora ou nunca. Ali, naquele exato momento, estava a sua oportunidade de abrir todo o jogo de toda a sua existência nos últimos doze anos. As cartadas estavam postas na mesa e era quem decidiria se ele iria ter a vitória da vida dele ou levaria o fora do século.
O que mais eu poderia dizer? esboçou um sorriso tímido e revelador. — Essa não é uma declaração clara, mas ter me descoberto apaixonado por você também não foi claro. — Ele sentia as palavras se desatrelarem de sua língua com velocidade acelerada e não pensou em se poupar. Precisava libertar todo aquele peso de seu coração. — Sinceramente, foi bem surpreendente. Eu pensei que isso fosse até um pouco imoral, ainda mais por você ter dividido a mesma cama que eu incontáveis vezes… — Ele mordeu os lábios, divertindo-se. — Só que, quando vi, eu estava completamente domado pelos seus encantos, . Meu coração não conseguiu se proteger com forças e só quis se jogar nesse abismo que você é, em tudo o que eu pude conhecer desde o primeiro dia em que te recebi na minha vida. Olhando para trás, não existiu um momento sequer em que não tenha sido você. Acho que é você antes mesmo de ter sido e será você até não ter mais motivos para ser. Houve muitos momentos em que eu achei que não poderia ser você, não enquanto o seu coração parecia nunca ser capaz de alcançar o meu. Por muito tempo me peguei pensando por que você não me ama? É por que sou seu melhor amigo? Por que não sou bom o suficiente? Eu só conseguia pensar nisso; por que, por que, por quê? Senti como se estivesse caminhando sobre brasas, queimando no fogo do Inferno, só em pensar na hipótese de nunca existir um nós além deste que construímos até agora. — Ele inspirou fundo. — Seu amor é como o meu combustível. Toda vez que eu penso em desistir, a sua imagem surge como um vagão de consciência em minha mente e eu me apego na minúscula fração de segundos em que estou preso em seus braços, tendo o seu amor para mim, sendo o seu amor.
estava crente que não haveria mais mundo após aquele discurso. Seu peito rompeu o rajar de certeza que ela não tinha conhecimento da existência. Todos os seus temores e incertezas se tornaram meros fragmentos, divagando pelo ambiente, partindo para bem longe, cada vez mais distante.
— Você é o meu amor. — exteriorizou o seu segredo mais profundo. — Aqui, nesse mundo, no nosso mundo, você sempre foi o meu amor. O meu único amor.
apoiou a testa na de , puxando a mulher para mais perto de si, até que seus corações se encontrassem e batessem em sincronismo. A esfera desabou sob o corpo dos dois e os envolveram com tudo aquilo que era oculto entre as palavras não ditas, as incertezas não esclarecidas e os medos não vencidos.
respirou o mesmo ar de , respirou o amor de . Ele acreditou que estava próximo de ter um delírio, de tamanha emoção, e abraçou-a ainda mais firme, temendo que ela pudesse fugir de seus braços.
afagou as mãos pelos cabelos de e se ergueu para abraçá-lo por completo. Com os joelhos pressionados no sofá, prendeu os braços por e não quis soltá-lo momento algum, nem quando as árvores começaram a bater na janela devido o vento e anunciaram que uma tempestade estava chegando. Em comparação com a tempestade que lhe inundava naquele momento, estava absorta no mundo particular que havia construído com .
— Então… — murmurou entre os cabelos de , alcançando o seu ouvido. — O que você acha sobre eu e você?
desprendeu um riso emocionado e fungou as lágrimas que desceram incontroláveis pelos seus olhos. deslizou os dedos para secá-las e contemplou a beleza emanada pelo amor de sua vida.
— Eu acho que somos amor, . — respondeu. — Eu e você somos nós.

✳✳✳

Três anos depois

— Eu te falei que você estava apaixonado por ela.
desatou uma gargalhada alta e espalhafatosa. acompanhou a euforia do amigo e lhe deu rápidos petelecos na nuca, empurrando a cabeça do mais novo para baixo e sacudindo os ombros do noivo.
, desde que se entendia por gente, sabia que aquele momento iria se concretizar, ele só estava esperando a ocasião ideal, que veio a acontecer cinco anos atrás quando surgiu em seu apartamento, na tarde de uma segunda-feira, gritando feito um louco depravado que havia se declarado para e, bem, ela se declarou de volta. Os dois rodopiaram pelo ar, chorou alguns litros de lágrimas, fungou diversas vezes no cobertor do amigo, desabafou como aquele deveria ser o grandíssimo momento de sua vida e passou a ser o melhor namorado que já viu um homem ser para uma mulher. cuidava de , prestava toda a sua atenção, amparava a mulher quando esta precisava, fazia surpresas, lhe ouvia, lhe respeitava, colocava seu comprometimento à frente e lhe estimulava a continuar sonhando. Quase nada mudou entre eles, é claro. e continuavam sendo os melhores amigos que todos conheciam, a diferença estava que, agora, o amor deles tinha se tornado o mais sólido e real possível.
sentia orgulho de ver chegar ao ápice de sua vida. Pouquíssimo tempo mais novo que ele, estava pronto para trilhar um caminho em sua vida que lhe renderia experiências únicas. Estava se casando, com o amor da sua vida, oficializando aquela união, se preparando para constituírem uma família e representarem o verdadeiro significado de “felizes para sempre”.
— Você pode se gabar na hora que cheguei o seu discurso de padrinho. — respondeu, secando as lágrimas resultantes do riso, e se olhou no espelho mais uma vez antes de pisar os pés na igreja. A sua família estava do outro lado do recinto, conversando animadamente com os convidados e o padre, acenando em resposta para as piscadelas dele. O seu coração se encheu de felicidade em ver todas aquelas pessoas, que tanto lhe significavam, presentes para celebrar o dia mais especial de sua vida.
— Tenha certeza que eu não irei economizar nas palavras, amigão. — guiou o amigo pelos ombros e os dois entraram no lugar da cerimônia, prestando respeito e agradecimento a todos que chegavam.
se remexeu dentro da própria vestimenta e suspirou um pouco baixo, só apenas para libertar a ansiedade e poder aguentar os próximos minutos sem ter um ataque de nervosismo. Ele olhou para cima, onde ficava a imagem de Jesus talhada na parede, e sorriu genuinamente, agradecendo-o por tê-lo deixado chegar até ali.
Estava acontecendo, então. Ele, finalmente, estava realizando o seu sonho. Em poucos minutos, ele poderia chamar a mulher da sua vida de “minha esposa”.
Minha esposa.
Esposa.
riu para si mesmo quando se recordou de quantas vezes pronunciou essa palavra para se acostumar com o novo status.
A mãe de surgiu de algum lugar e apoiou-se no ombro de , lhe dando um abraço por trás bem rápido só para fazê-lo acordar do transe e olhá-la em espanto. Ela riu baixinho, despertando humor no genro, e deu um beijo demorado em sua bochecha.
— Obrigada por ter feito minha filha subir em um altar. Só seria com você de qualquer maneira, então que bom que finalmente irá acontecer! — A mulher alfinetou o homem divertindo-se com o nervosismo que ele ostentava. Só de mencionar a filha, os olhos de se dilataram e saltaram da órbita, realçando o quão profundamente apaixonado ele era por sua filha. Seu coração ficou satisfeito e aliviado pela vida ter posto um homem tão magnífico e puro no caminho do seu tesouro, sua garotinha. Confiaria o futuro dela nas mãos do homem certo, disso ela tinha certeza, e não tinha uma maneira de exteriorizar essa sua realização além de sacudir as mãos do genro e sorrir, cada vez mais largo, tentando lhe transmitir suporte. — Você se sairá bem, querido!
— Estou nervoso demais! — Ele quase berrou. Os dois riram. — Olhe só minhas mãos, não param de tremer!
— Quando segurar a sua mão, você verá que tudo fará sentido. — A mulher piscou para o genro e balançou os cabelos, começando a ficar incomodada com a quantidade de presilhas que prenderam no arranjo de seu cabelo. achou adorável a forma que a mulher se assemelhava com , a mesma manha e a irritação que demonstravam pelas através de um biquinho emburrado e um rolar de olhos furioso era uma das infinitas coisas que as relacionava. Ali, viu que tanto ele, quanto o pai de , eram os grandes homens de sorte daquele recinto.
Os convidados já estavam em seus devidos lugares e o padre subiu no palanque, cumprimentando com um sorriso e aperto de mãos respeitoso, lhe advertindo de alguns preparativos antes da grande hora. ouviu tudo com completa atenção e suspirou fundo mais uma vez quando o homem pediu para ele aguardar só mais dois minutos até descer do carro.
Ela estava ali. A primeira parte, a qual considerou perigosamente aterrorizante, era de saber que não desistiu no meio do caminho e veio para a cerimônia.
A segunda era saber se ele iria conseguir se conter até o momento em que o padre faria a tão esperada pergunta. Se dependesse dele, poderia sair correndo por aquele corredor gritando a sua resposta, embaixo de uma chuva de arroz, e dançando até as suas pernas doerem.
A canção de recepção da noiva começou a tocar e custou alguns segundos para repor seus pensamentos e entender que estava acontecendo. Seu coração pareceu estar preso na garganta e sua visão se embaçou por um momento, de tamanho que estava sendo suportar o seu nervosismo.
E aí a porta da igreja abriu.
A primeira coisa que ele apreciou foi o pai de , impecavelmente arrumado para a ocasião, lançando-lhe um sorriso sagaz e provocativo, vendo tremer em seus ossos. O mais velho riu rapidamente e, depois disso, finalmente pôde expor a sua jóia mais preciosa.
.
Quando teve completa visão da mulher de seus sonhos, parecia que o mundo se resumiria àquilo. Seus olhos não conseguiam se prender em um único detalhe; ela estava atônito com aquela miragem.
Lá estava ela, a sua musa, desfilando até o seu encontro com um vestido que só poderia ter realmente sido feito a dedo unicamente para ela.
dedicou tanto tempo apenas a contemplando naquele traje, tão bela, tão radiante e absurdamente tão esplêndida, que os seus olhos não conseguiriam captar de primeiro ato quando os lábios de puxaram um sorriso digno de ser memorizado para todo o sempre.
notou que estava chorando. Ele riu, e choramingou ainda mais, ao vê-la pronta para aceitá-lo como o seu esposo. Ele desabou em lágrimas ao passo que lutava para manter-se concentrada em não correr e atravessar aqueles poucos passos em direção aos passos do seu amor.
— Ela é toda sua. — O pai de deu a autorização para o genro. sorriu em meio ao rio que se formava em seus olhos e limpou rapidamente as lágrimas, agradecendo formalmente ao sogro e se endireitando para um cumprimento formal.
— Finalmente, senhor. — Ele brincou. Os dois sorriram emocionados e fungou, quase socando o futuro marido no peito, só por estar fazendo brincadeiras que lhe dava vontade de desatar um riso e lhe xingá-lo.
O pai de foi de encontro à esposa e deixou que apenas os dois se situassem no altar.
, esquecendo-se totalmente da boa postura que lhe ensinaram para esse momento, lançou os seus braços pelo pescoço do melhor amigo e lhe abraçou forte, conectando seus corações por um breve momento. A orquestra de aplausos foi linda de se ouvir, mas a música mais sonora e bela foi de seus choros se misturando e se encontrando.
Ela retirou a luva da mão ao qual seguraria a mão de e inspirou fundo, sorrindo lisonjeada para o padre, que lhe elogiava antes de dar prosseguimento ao ato.
entrelaçou os dedos de sua preciosidade entre os seus e entendeu o que a sua sogra quis dizer quando a mão de encontrasse a sua. De forma imediata, as mãos de ganharam firmeza e ele não se sentia mais trêmulo ou nervoso.
Os dois trocaram um último olhar antes de ouvirem o padre iniciar o discurso e, no destrinchar da cerimônia, suas emoções se aguçaram cada vez mais.
, você aceita como sua legítima esposa, prometendo ser fiel, amá-la e respeitá-la, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias das suas vidas, até que a morte os separe?
Como um sino sagrado soando de dentro de seu peito, se recordou da noite em que se declarou para e pensou que nunca haveria um momento em que venceria a alegria que sentiu ao ter pronunciado um simplório “sim” bem quando ela se aproximava de adivinhar que era ela quem ele amava.
Ele quase gargalhou pela situação.
Aquele momento, enfim, acabara de chegar.
A única palavrinha que lhe separava do seu sonho estava prestes a escorregar de seus lábios.
A mão de se remexeu por dentro da de e ele sorriu um pouco mais amplamente, se é que poderia ser possível alguém alcançar o Céu com tamanha alegria, e mirou os olhos na mulher ao seu lado.
— Sim. — Ele consentiu com a graça de sua alma. mordeu a beirada do lábio, deixando uma lágrima solitária se desprender. — Infinitamente sim, com toda a certeza do mundo, agora e sempre, eu aceito a honra de tê-la como a minha esposa.


Fim.



Nota da autora: Olha eu aqui novamente com o famoso AEYO, MY SOFT BABIES! WHAT’S UP?
Não satisfeita em participar uma vez só no ficstape, lá vem eu ~ficstapeando~ DUAS vezes hehehehe.
Ai gente, francamente, não dá! Quando vi a oportunidade, puft, já me joguei sem medir conseqüências. Se deu tudo certo e não estraguei esses hinos? Quem vai me dizer é quem ler kakakaka.
Só quis chorar durante a fic inteira porque esse pp é o amorzinho do meu kokoro e quero dar toda a galáxia pra ele :( what a man, migas! como eu não iria me derreter por esse bobão apaixonado, né mesmo? Logo eu, a criatura do coração de manteiga! af, af, te amo @ pp, você quer o mundo? eu te dou ele inteirinho, love! ♡
Depois de muita luta, consegui meter um casamento em uma fic. É ISSO, PEOPLE, EU VENCI! Tô aqui tacando arroz em cima deles, rodopiando ao som do hino, rebolando muito a raba esperando o bem-casado e torcendo para que eles sejam felizes para sempre! Tem que a mamãe, u know? kkkdkjfdkjf
Ai, bicho, se eu me prolongar ainda mais vou escrever uma bíblia, porque that’s me, a descontrolada dos teclados que só sabe tagarelar e não se controla! Depois dessa enrolação que não agregou em nada, preciso agradecer o FFOBS, querido tesourinho, por me abrir mais um espaço! Tudibom pra nós always ♡
Antes de finalizar, cá está um fato inusitado: essa é a primeira ficstape que eu consegui >não< bater na trave do limite de folhas. CAN I GET AN AMEN? Chorei? CHOREI. Me senti numa realidade paralela na qual acabo a fic com folga, sem ultrapassar limite de folhas ou poder desenvolver o plot tranquilamente? SIM. Estou evoluindo, finally!
Brincadeiras à parte, espero ter honrado o tempo gasto de quem chegou até aqui e, especialmente, trazido uma leitura prazerosa! Muitíssimo obrigada pela chance dada e torço para não ter te decepcionado. Se cuida, nos encontramos na próxima música, no próximo ficstape e na próxima fic!
*Leeteuk’s voice*: This “fic” is dedicated to the world’s biggest fanclub: The E.L.F; my girls, my angels! ♡



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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