04. No More Dream

Última atualização: 10/12/2018

Capítulo Único


1...2...3, afunda
1...2...3, afunda
1...2...3, afunda
Jogar pedrinhas no lago e vê-las quicarem três vezes para, então, afundarem já estava se tornando algo muito chato. Na verdade, a questão era quando que algo na minha vida não era chato?
Senti meu celular vibrar em meu bolso. Pensei se não seria uma boa ideia também o jogar na água. Quantas vezes ele quicaria antes de afundar e se calar? Quantas vezes eu quicaria antes de me afogar também, caso eu continuasse calado?
Ri com esse pensamento. Ultimamente tenho pensado em coisas que sempre evitei de pensar. Refletir pode ser algo muito bom para uns, mas para outros, como eu, refletir só mostra a miséria em que você está vivendo e que não sabe como sair. Um eterno ciclo onde não posso ser eu mesmo. Um eterno ciclo de acordar, arrumar-me e fazer coisas que eu não quero, mas tenho porque sou obrigado a isso. Um eterno ciclo em que eu sou apenas um fantoche da sociedade, sonhando sonhos que não são meus, seguindo por um caminho que foi planejado por meus pais.
Estudar, estudar e estudar. Ser alguém na vida.
Mas o que é ser alguém na vida?
Droga, Yoongi, sem pensar!
Meu celular vibra novamente. Eu não preciso olhar para saber que será minha mãe ou meu pai do outro lado da linha. Não preciso atender para saber que gritarão comigo de novo.
Ah, foda-se.
Sem pensar duas vezes, jogo o celular na água.
Ele não quica.
Dou as costas e me afasto dali. Não sei para onde eu ando, mas vou acabar em algum lugar. Rio de deboche, esse parece ser o destino da minha vida.
– Hyung! – Escuto uma voz familiar gritar.
Não estava com saco de virar e falar com o garoto, mas também não poderia ignorá-lo. Parei e esperei ele me alcançar.
– Yoongi hyung. – Ele disse, já do meu lado.
– Oi, Jungkook. – Falei, sem muito entusiasmo.
Ele me analisou por alguns segundos com aqueles grandes olhos pueris.
– Está tudo bem com você, Hyung? – perguntou, preocupado.
– Claro. – respondi, dando de ombros. – Por que não estaria? – Recomecei a andar sabendo que ele me seguiria. – A vida é uma merda, mas ainda estou vivo, não é? Então devo ser grato por estar vivo e ter uma vida de merda.
– Hyung...
– Obrigado, Grande Ser Criador da Vida, ao qual eu nunca pedi, diga-se de passagem. – Falei, fazendo uma cena quase teatral. Abri meus braços e olhei para o céu, encarando as nuvens e gritando para o nada do universo. – Ei, Grande Ser! Por que me colocou na vida só para ser vazio, hein? Está rindo de mim?! – Eu ri, admito que a risada soou louca até para mim. – Por que eu existo se não posso viver? – sussurrei, voltando o meu olhar para o chão e retornando os meus passos.
Sabia que Jungkook me encarava chocado pelo meu súbito show e, exatamente por isso, demorou um pouco para recobrar a consciência e me seguir.
– Hyung, você bebeu? – perguntou, preocupado, acompanhando meus passos acelerados.
– Eu joguei meu celular no lago, você acha que eu estou sóbrio? – Ri com ironia.
Mas a verdade era que eu estava sóbrio. Em total e plena lucidez do que eu fazia e falava, não tinha passado nenhuma gota de álcool pela minha boca até aquele momento. Eu estava apenas cansado, não apenas cansado no sentido de querer dormir, mas cansado de tudo. Cansado da minha existência. Cansado de existir. Eu estava exausto, mas seria muito mais fácil entender se eu falasse que estava bêbado, por isso foi o que eu fiz.
– Hyung, você tem que parar de beber.
Eu adorava aquele garoto, mas ele realmente conseguia me encher de vez em quando.
Dei de ombros.
– Onde estão os outros? – perguntei, mudando de assunto.
– No lugar de sempre. – Ele deu de ombros.
– E por que você não está lá?
De canto de olho percebi ele ficar um pouco mais acanhado. Jungkook era engraçadinho, na verdade, para mim ele era um bebê. Kookie era 4 anos mais novo do que eu, mas desde que eu o conheci, criei um laço profundo com esse moleque. Talvez eu tivesse um espírito de cuidar, e ele, de ser cuidado. Talvez apenas fossemos parecidos um com o outro. Ou talvez apenas tenhamos nos dado bem. Que seja, o importante era que ele era como um irmão mais novo.
– Porque você não estava lá. – ele me respondeu baixinho.
Não consegui evitar sorrir com a fofura dele, mas a sua ligação profunda comigo me preocupava. Ele era um bom menino, mas eu não. Eu já havia percebido a maneira que ele me admira, me segue e me copia de vez em quando. Ser um exemplo me deixava feliz, mas também aumentava o peso em minha consciência. Eu não podia fazer esse garoto se perder como eu me perdi e como os outros se perderam.
Era interessante pensar que éramos seis rapazes quebrados, em cacos e cheios de feridas, mas moveríamos o mundo para que nenhuma fissura aparecesse no nosso dongsaeng e para que não abríssemos feridas nele com nossas partes afiadas.
– Eu não sou um bom exemplo para você. – avisei, suspirando.
Ele deu de ombros, ainda um pouco envergonhado.
– Eu não me importo. – Respondeu. – Eu gosto de você, hyung.
Revirei os olhos e o empurrei de leve com os ombros.
– Eu também gosto de você, pirralho.
Ele abriu seu típico sorriso infantil. Sorri com essa visão, mas logo fiquei sério.
Por quanto tempo ele continuaria com esse sorriso? Quando ele começaria a chorar escondido como todos nós fazemos? Quando ele começaria a se colocar em situações extremas só para sentir adrenalina e perceber que ainda está vivo? Quanto tempo demoraria até que nosso veneno o contaminasse e o destruísse, assim como nós estávamos destruídos?
Eu amava todos, mas Jungkook era particularmente especial para mim, talvez porque ele me lembrava do jovem que eu já fui. Eu podia ver toda a esperança na vida em seus olhos, toda a esperança que um dia eu tive, mas que perdi completamente. Ele representava o meu passado, ao mesmo tempo que instigava em mim o desejo de o poupar de ter o meu futuro.
– Eu quero isso um dia. – Ele disse, tirando-me de meus devaneios.
Olhei para onde ele apontava e ergui a sobrancelha.
– Uma grande casa, um grande carro e, talvez, grandes anéis. – disse, com ironia na voz. – É isso que você quer? – perguntei.
– Não é isso que dizem que devemos querer?
Aquela resposta me pegou desprevenido. Fiquei alguns minutos em silêncio, antes de recobrar a fala.
– Qual o seu grande sonho, Jungkook?
Ele pareceu pensar, mas deu de ombros.
– Não sei, não pensei ainda sobre isso. – Então riu, com deboche. – Nem sei o que quero fazer depois da escola, eu apenas continuo indo, pois devo ir.
No fim das contas, eu não poderia protegê-lo de tudo. Ele possuía suas próprias dores, restava a mim apenas torcer para que não fossem tão profundas quanto as minhas.
– Qual o seu, Hyung? – perguntou.
– Meu o quê?
– Seu grande sonho.
– Eu vivo bem sem grandes sonhos, assim ninguém me enche o saco.
– Isso é viver?
– Pelo menos isso não é morrer.
Ele riu, mas pude perceber alguma coisa diferente naquela risada.
– Você me julga por não ter grandes sonhos, mas também não tem um.
O que estava acontecendo com aquele moleque?!
– Melhor ficar calado. – avisei.
Ele pareceu querer me responder, mas pensou e desistiu. Pelo menos tinha um pouco de lucidez naquele cérebro. Continuamos a andar em silêncio e seguimos o caminho já muito conhecido por nós. Em poucos segundos, estávamos pisando sobre pedras em direção a um vagão de trem abandonado.
Aquele era o nosso lugar secreto mesmo antes de Jin se juntar a nós. Para falar a verdade, aquele era o local do Namjoon bem antes de ser a nossa “base secreta”. Ele descobriu o vagão abandonado e aberto quando ainda era criança e costumava ir para lá quase sempre. De acordo com ele, era o único lugar que ficava confortável sozinho e isso o ajudava a esvaziar a mente, além de que lá ele podia fumar sem ninguém o incomodar.
Eu conheci Namjoon logo depois e nos tornamos amigos. Fomos os dois primeiros garotos perdidos. Dizem que pessoas parecidas se atraem e criam laços, por isso no começo eu fiquei muito confuso quando Hoseok se juntou a nós dois. No entanto, não demorou para que eu entendesse que o sorriso dele era falso e que existia uma batalha sendo travada todos os dias dentro dele. Hoseok trouxe o Jimin junto, já que eles eram basicamente irmãos.
Jimin é um garoto fofo, tímido e, principalmente, mimado. O moleque foi criado quase em uma redoma de vidro, então não é necessário dizer o quanto a mãe dele nos odeia. Ele possivelmente é o único que tem pais que se importam, mas talvez se importar demais seja tão ruim quanto o contrário.
Depois veio Taehyung. Foi a partir dele que as relações de nosso grupo ficaram mais profundas, pois até então éramos só garotos rebeldes que se juntavam e fugiam da realidade juntos, mas a partir dele aprendemos que deveríamos ser o suporte uns dos outros. Encontrar Taehyung com hematomas por todos o corpo, chorando em um canto ou até mesmo recebendo pedidos de socorro de madruga se tornaram coisas comuns e fizeram com que, pela primeira vez, deixássemos um pouco as nossas dores de lado e nos preocupássemos com outra pessoa.
Então Jungkook apareceu... ou ele me encontrou, para ser mais exato. Eu estava tocando piano em uma sala fechada do colégio quando, ao sentir uma presença, vi-o me observando da porta. Ele fugiu, mas apareceu todos os outros dias, até que o chamei para entrar e o ensinei alguns acordes. Ele começou a me seguir depois daquele dia e todos os outros caras o adoraram como um irmãozinho mais novo.
Por último veio Jin, nosso Hyung. Naquela época já éramos conhecidos por todo o colégio como os garotos rebeldes que ninguém em sã consciência deveria se aproximar. Os marginais. Os problemáticos. Os que seriam ninguém. Jin hyung foi avisado para não se aproximar, caso contrário se macularia também, mas ele não ouviu as recomendações. A escuridão dele reconheceu a escuridão dentro de nós.
Foi assim que nos tornamos sete, e quando nos tornamos sete, tornamo-nos mais fortes. Não existimos quando sozinhos, não somos completos sem os outros, não somos ninguém sem uns aos outros. Passamos a ser dependentes, principalmente porque sabemos que somos o que nos sustenta. São seis colunas que fazem com que um se mantenha em pé. A força é o conjunto, não a unidade. Se alguém sair, tudo rui.
Nós iremos ruir e todos sabem disso. Nós estamos pertos do fim e todos podem sentir. Nossos segundos são consumidos pelo tempo e nossa paz tem prazo de validade, mas ninguém fala sobre. Posso sentir as pequenas rachaduras surgirem, da mesma forma que eu sentia as minhas costas doloridas pelas pancadas.
Sem pensar, Yoongi.
– Vamos, Hyung! – Jungkook diz, com a mão estendida na minha direção para me ajudar a entrar no vagão, eu sequer tinha percebido que ele já tinha subido.
Aceito a mão estendida e subo, somo saudados por gritos e copos estendidos. Cumprimento todos e me sento no sofá velho que conseguimos há muito tempo. Jungkook parece um coelhinho hiperativo e fica pulando ao redor dos seus hyungs, que já voltavam a fazer o que faziam antes. Hoseok ensinava alguns passos de dança para Jimin no centro da sala; Taehyung, que tinha um corte sendo cicatrizado na sobrancelha, mostrava algumas tintas sprays para Namjoon – possivelmente eles sairiam para pichar mais tarde; Jin estava do meu lado, apenas observando aquela bagunçada paz.
– Como você está, Yoongi? – Ele me perguntou, sem ainda me olhar.
Dei de ombros.
– O de sempre. – respondi. – E você?
Ele continuou em silêncio por tanto tempo que pensei que não iria responder.
– Ando pensando muito ultimamente. – respondeu.
– Em quê? – perguntei. – Na Soo Ah?
Ele negou.
– Como eu posso me dar ao luxo de me apaixonar se sou uma bomba relógio? Seria egoísmo amar. – respondeu. – O mesmo se aplica a vocês.
– O que você quer dizer com isso? – Encarei-o.
Ele se virou para mim e olhou em meus olhos. Tinha algo ali diferente, existia uma tristeza maior do que o normal.
– Você tem algum sonho, Yoongi?
Franzi minha testa em confusão.
– Por que todos estão falando sobre sonhos hoje? – disse, meio irritado.
Jin deu uma risadinha.
– Talvez porque sonhos são importantes. – respondeu como um velho sábio. – São eles que te fazem continuar a viver.
Revirei os olhos.
– Tá, mas o que isso tem a ver com o que você estava dizendo antes?
Seu olhar ficou triste novamente.
– Olhe para nós. – falou, simples, virando-se para observar os outros meninos. – Somos garotos com feridas sem esperanças, como será o nosso futuro? Não seremos eternamente jovens.
– Hyung, eu não quero pensar no depois. – Eu tentei falar com a voz firme, mas ela falhou.
– Não poderemos fugir para sempre. – Ele riu sem entusiasmo. – Na verdade, ontem foi o nosso último dia na escola, então não podermos mais fugir.
Na verdade, eu tinha sido expulso, mas talvez lembrá-lo disso não fosse apropriado para aquele momento.
– Hyung...
– Yoongi, deixe-me continuar, sim?
Assenti.
– Obrigado. – Disse e ficou em silêncio. – Quer saber? Deixe isso para lá?
Observei-o, com o semblante preocupado, voltar a concentrar-se nos meninos e parecer se perder em pensamentos novamente.
No último ano uma menina, a Soo Ah, se mudou para a nossa escola e Jin se interessou por ela, infelizmente, Jimin e Jungkook também. Ela acabou ficando um tempo com o Jin, mas não durou muito. Ele não disse para ninguém o porquê do término, a não ser para mim em uma noite bêbado. Ele nos escolheu ao invés dela, nós éramos mais importantes do que ela jamais seria. Ele pode ter sido o último a juntar-se, mas ele é quem nos tornou uma família.
No entanto, eu sabia que não era apenas por causa disso. Eu entendi o que ele quis dizer sobre ser egoísmo amar. Amor, para rapazes como a gente, não poderia passar de uma miragem, enquanto nossas feridas ainda estivessem abertas. Deixar qualquer um se aproximar seria machucar alguém deliberadamente – e isso não se aplica apenas a meninas, mas a nós mesmos.
Joguei a cabeça para trás e a apoiei no sofá, de olhos fechados. Tinha sido expulso da escola no dia anterior ao proteger Jungkook de ser espancado por um professor louco, mas ele apenas tinha se metido nesse problema por minha causa, em primeiro lugar. Meus pais não paravam, desde ontem, de me atazanar com isso, eu não aguentava mais, por isso acabei saindo de casa bem antes que qualquer um acordasse e fiquei zanzando pela rua.
Meus sonhos foram mortos e enterrados há muito tempo. Possivelmente levaria uma vida medíocre como um adulto medíocre. Talvez eu devesse escutar a minha mãe e conseguir um emprego público para ter uma vida estável...
Ri. Preferia morrer a ter uma vida mais vazia do que a que tenho agora.
– Jin hyung. – Escuto a voz do Jimin chamar. – Podemos ir para o mar?
No mesmo instante, todos as outras vozes se juntaram ao coro. Sorri com aquela bagunça sonora e levantei a cabeça, abrindo os olhos e encontrando os garotos problemáticos parecendo meninos inocentes.
– Está tarde, garotos. – Eu respondi pelo Hyung.
– Que tal irmos amanhã e passarmos o dia inteiro? – Ofereceu.
Eles sorriram como crianças na manhã de natal e fizeram mais barulho. Conversamos por horas até dar a hora de ir embora. Eu caminhava pelas ruas com um sorriso e muito mais leve do que estava mais cedo. Eles me davam mais energia e um pouco mais de vida.
Fiquei parado durante um tempo na porta fechada da minha casa, torcia para encontrar ninguém em casa, não queria ter meu humor estragado por broncas e gritos. Suspirei de alívio quando passei pela porta e só escutei o silêncio. Conferi que não havia nenhum sapato ali perto da porta, sinal de que a casa estava vazia.
Segui para o meu quarto, mas quando passei pelo espelho, algo me chamou a atenção. Observei o meu reflexo e percebi que não conseguia mais ver a criança que um dia tinha sido. Para onde foi o garoto que tinha tantos sonhos? Onde ele se escondeu? Ele ainda existia?
Suspirei, desistindo.
Ouvi um barulho e me voltei em sua direção, apenas para ver Holly fazendo bagunça. Ri e fui em direção ao cachorro, com a intenção de pegá-lo, mas quando me aproximei percebei do que ele estava perto.
O piano.
Fazia muito tempo que eu não o tocava, mas algo dentro de mim pediu para fazê-lo. Na verdade, não pediu, exigiu, gritou, mandou que eu me sentasse ali e tocasse as teclas brancas e negras. Não consegui resistir ao forte desejo e assim fiz. Quando meus dedos acariciaram as teclas, eu senti algo novamente dentro de mim. Um fogo que eu havia esquecido que existia. Deixei-me viajar pela melodia que não conhecia, mas que produzia.
Era a minha música.
Era a minha criação.
Era o meu grande sonho.
Era o grande sonho de um garoto que pensou não ser mais capaz de sonhar.

Estávamos na picape do Jin a caminho do mar – cinco de nós dentro do carro e dois na caçamba. Toda a Coreia possivelmente seria capaz de ouvir o barulho que vinha daquele carro, nós não éramos nem um pouco silenciosos.
Estávamos felizes e animados. Eu estava feliz e animado, mesmo que estivesse de olhos fechados, apenas sentindo o vento em meu rosto. Eu sorria como era possível apenas quando estava com eles, mas meu sorriso sumiu quando pude ouvir o som das ondas sob as conversas altas e lembrei do que estava prestes a fazer.
Abri a porta do carro e desci. Olhei em volta, a praia estava vazia.
– Te peguei, Hyung! – Tae gritou ao empurrar meu ombro.
Olhei-o com um olhar assassino, então olhei para os outros que me observavam tensos, esperando a minha reação.
– Corram. – falei em tom de aviso.
Antes que uma borboleta fosse capaz de bater as asas, todos estávamos correndo em meio as gargalhadas. Não demorou para que caíssemos exaustos no chão e demorou bem menos para que Jungkook jogasse areia na cara do Jimin, iniciando uma guerra.
– Ya! – Jin gritou depois de ter recebido areia no rosto e corrido atrás do Tae. – Eu estou velho para essas coisas!
Eu os observava sorrindo. Queria guardar cada momento em minha cabeça, cada travessura, cada sorriso e gargalhada, cada hábito e mania, cada pequena coisa que os fazia eles. Queria tudo eternamente em minha mente, ao mesmo tempo que queria ser capaz de esquecê-los.
Em um momento de pausa e calma, Jungkook deitou em meu colo. Acariciei seu cabelo enquanto via o que os outros faziam. Taehyung e Namjoon estavam deitados um perto do outro, de olhos fechados; Jimin ria de algo que Hoseok contava; e Jin tinha a câmera em mãos, tirando fotos nossas. Ele parecia também querer guardar cada segundo.
– Hyung. – ouvi a voz baixa do Kookie.
– Sim?
– Obrigado. – seus olhos ainda estavam fechados.
– Pelo que, Kookie?
Ele ficou em silêncio por um tempo, mas depois disse em um suspiro:
– Por ser a primeira pessoa a se importar comigo.
Meu coração afundou em meu peito. Desviei o olhar de seu rosto e encontrei a lente de Jin apontada para mim. Ele tirou a foto e abaixou a câmera, olhando em meus olhos, um entendimento pareceu ocorrer entre nós dois, assim como um acordo. Senti meus olhos lacrimejarem e pude ver que os dele também. Desviei o olhar e passei uma mão pelos meus olhos.
– Não diga isso, Kookie. – Disse, voltando a minha atenção para o garoto que continuava de olhos fechados em meu colo.
– Mas é a verdade. – ele continuou. – Obrigado também por cuidar de mim.
Eu não via as coisas do mesmo jeito. Aproximar-se tanto de mim só poderia significar dor. Ele poderia estar bem agora, mas em algum momento eu iria o ferir e esse momento estava próximo. Seria melhor um pequeno corte agora, que logo se cicatriza, do que um profundo demais para ser curado.
– Eu queria ser capaz de tomar toda a sua dor para mim, Hyung. – ele continuou – Assim, eu sofreria em seu lugar e você seria feliz.
Suspirei, mas não pude evitar sorrir em como aquilo era um pensamento doce.
– Meu peso é muito grande para você carregar, garoto. – Eu disse. – E ele é meu. – completei. – Isso vale para todos aqui. Todos nós temos os nossos demônios que nos atormentam até quando estamos acordados, nós ajudamos uns aos outros e trazemos momentos de sol, mas não podemos tomar demônios que não são nossos. – Ele abriu os olhos e me observava atentamente. – Não sinta a nossa dor, pois ela não é a sua.
– Mas Hyung...
– Ya! – interrompi-o. – Por que você está falando essas coisas sem sentindo, hm? – Sorri, mudando de assunto. – Estamos aqui para nos divertir.
Ele assentiu, embora ainda meio contrariado.
– Pessoal! – ouvi Namjoon gritar. – Já é quase o pôr do sol.
Jin quis que tirássemos uma foto todos juntos antes de irmos observar o sol. Ele posicionou a sua câmera em um ponto, correndo para se juntar a nós logo em seguida. Uma foto de sete garotos sorridentes – felizmente tristes ou tristemente felizes. Sete meninos perdidos. Sete jovens sem sonhos e sem um amanhã. Sete amigos que eram tudo uns para os outros de frente para o mar. Fotografia nada mais é do que a capacidade de construir uma eternidade em um momento fúlgido.
Sentamo-nos juntos, brincando e rindo, para observar o espetáculo do entardecer, mas assim que o sol começou a se põr, ficamos em um silêncio ensurdecedor. Meus olhos se encheram de lágrimas e meu coração doía. Aquela era última vez que estaríamos todos juntos, embora os mais novos não soubessem disso, mas eu e Jin sabíamos.
Aquele era um adeus.
Eles não seriam mais parte de minha vida, apenas lembranças do que eu vivi. A saudade já me consumia, embora eu ainda tivesse meus braços ao redor de Jimin. Eu não podia continuar na terra do nunca. Eu não poderia continuar amando-os e ferindo-os. Eu não podia continuar a ser um garoto sem sonhos e sem futuro, pois tinha descoberto uma luz dentro de mim que pedia para ser ligada, mas que não seria se eu continuasse ali.
Eu precisava encontrar o que estava perdido dentro de mim e teria que fazer sozinho.
– Para sempre jovens! – Hoseok gritou e todos gritamos juntos.
Mas não éramos uma fotografia para seremos perfeitos eternamente.
“Desculpem-me”
Implorei em silêncio quando as estrelas apareceram no seu. Aquela tarde na praia tinha sido o final de nosso capítulo, uma doce lembrança amarga que permanecerá conosco. Alguns me odiariam a partir de amanhã.
“Perdoe-me”
Sussurrei para um Kookie adormecido em meu colo no caminho de volta para casa.
“Adeus”
Disse após pegar as minhas coisas e sair de casa naquela noite.
Eu viveria a minha vida. A minha própria vida, nem que fosse por um dia.

2 anos depois.
– Hyung? – Ouvi uma voz familiar chamar. Uma voz que eu não ouvia há muito tempo.


Fim.



Nota da autora: Sem nota.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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