Capítulo Único
Acordei mais cedo do que estava acostumado. O barulho do vento frio do lado de fora batia na janela, fazendo ela se movimentar.
ainda dormia. Tinha o semblante tranquilo, como se não carregasse nenhum fardo, como se fosse uma pessoa pura, algo que ela não era.
Eu e nos conhecemos na festa de seu irmão mais velho. é meu melhor amigo, somos membros fundadores de uma banda. Ela estava bêbada quando a vi pela primeira vez, flertando com todos os rapazes que estavam presentes naquele local, esquecendo totalmente seu namorado.
Sim, tem um namorado. E não, eu não sou ele.
vive de aparências com um rapaz. Ele a ama, mas ela apenas está com ele por causa dos pais. O rapaz é rico, capaz de dar uma vida boa para a garota e sua família, mas ela não se importava. não se importava com sentimentos, muito menos com os meus.
Segundo a garota, eu sou sua “válvula de escape”. Era para meu apartamento que ela vinha quando precisava de diversão ou de bebidas. Era para o meu apartamento que ela vinha toda vez que precisava matar seus desejos carnais. Eu era apenas seu brinquedinho sexual e, por mais que seja prazeroso, gostava dela o suficiente para não querer mais aquilo.
Eu sabia desde o início que não me amaria. Eu sabia onde estava me metendo quando ela apareceu, numa madrugada chuvosa, cheirando a cerveja, me implorando por uma noite. Já faz seis meses que estamos na mesma.
Estava me soltando dela quando ela vira seu corpo, puxando-me para mais perto ainda. Seu corpo, gélido, estava tão próximo do meu, quente, que poderia causar um choque térmico.
Não havia nada no nosso corpo. Nenhuma peça de roupa que pudesse impedir de mostrar meu peito descendo e subindo, descompensado, por culpa de meus batimentos cardíacos.
O sol estava quase nascendo, faltava pouco para que ela se levantasse, colocasse seu uniforme e caminhasse rumo a escola. Eu voltaria para minha vida medíocre, esperando pelo momento em que a encontraria novamente.
Mexi em seus cabelos, escuros e longos, olhando para seu rosto. Como ela conseguia ser tão bonita sem o mínimo de esforço?
- Já está acordado? – ela indaga. Sua voz rouca, deixando o arrepio percorrer todo o meu corpo.
- Acordei agora. – menti, tirando meus dedos de seus cabelos.
- Entendi... – ela começa, suspirando em seguida.
Seus olhos se abrem, e eu percebo como eu os adorava. O tom castanho claro brilhava em meio a sobrancelhas grossas.
Ela era tão apaixonante, uma pena de quem ia por esse caminho.
- Você está esquisito. – ela fala, passando seu indicador em meu peito, desenhando uma tatuagem que estava desbotando. – Tem certeza de que está bem?
- Estou. – falo, sorrindo de lado. – Eu só estou com sono.
- Eu vou tomar um banho. – ela diz, beijando minha bochecha e se levantando, caminhando até sua mochila largada no chão do quarto.
Enquanto ela se arrumava, eu pensava em como chegamos àquele ponto.
Eu não poderia simplesmente falar algo. Eu não poderia simplesmente desabafar, já que a única pessoa que eu tenho é o seu irmão mais velho. Como se chega no melhor amigo, falando que você está transando com sua irmã de apenas dezessete anos?
Ele iria me matar. Eu me mataria, se fosse o contrário.
- , eu posso usar sua escova de dentes? – indaga da porta do banheiro.
Sua camisa quase aberta, mostrando seu sutiã em um tom verde musgo, me fez suspirar profundamente, caminhando até ela.
- Você esqueceu? – indago, segurando seu rosto com as duas mãos, puxando-o para cima, para que ela pudesse me olhar.
- Ah, meus pais não sabem que eu estou aqui. – ela fala, sorrindo em seguida. – Você sabe, eles acham que eu estou com , e acha que estou na casa da minha amiga.
- Isso é louco. – sussurro, arrancando uma risada baixa da garota.
- E funciona. – ela fala, beijando meus lábios brevemente.
Logo ela entra no banheiro novamente, me deixando parado na porta.
Ela ficou ali por mais alguns minutos, antes que terminasse de colocar seu uniforme.
- Quando eu te vejo? – indago afinando a minha guitarra.
- Eu te envio uma mensagem. – fala, ajeitando seus tênis cor de rosa e colocando sua mochila no ombro. – Até?
Concordei, acenando com a cabeça, suspirando assim que ouvi a porta de entrada se fechar.
(...)
: Eu odeio álgebra.
: Está se divertindo?
: Queria que você estivesse aqui, me divertindo.
: Não disse como.
: Código vermelho, esqueceu?
: Ah, eu odeio quando essa época chega.
: Falta pouco.
: Ei, mais tarde vou fazer um convite. Espero que não recuse.
: Você sabe que eu não recuso nada vindo de você, né?
- É a tal garota? – indaga assim que senta ao meu lado.
Estávamos ensaiando a quase quatro horas. Tínhamos um show importante essa noite e precisávamos dar tudo certo para assinarmos um contrato que nos colocaria no mundo da música.
- É. – falo, rindo em seguida. – Cara, acho que estou...
- Apaixonado? Eu percebi. – fala, rindo em seguida. – E ela é sortuda por isso.
- Ah, não muito. – falo, dando de ombros em seguida. – Vamos dizer que o namorado dela é um cara de mais sorte.
- Uau, então é bem mais sério do que eu pensava. – meu amigo diz, me fazendo concordar. – Já sei! Que tal escrever uma música?
- Não sei se é o certo. – falo e ele nega, dando de ombros. – Eu posso arrumar algum problema.
- É algo que podemos viver. – fala, levantando em seguida. – Podemos voltar a ensaiar?
Concordei, caminhando com meu amigo para o palco.
- vem essa noite. – fala enquanto caminhamos para a lanchonete do outro lado da rua. – Vem com o namorado dela.
- Ele é legal? – indago, abrindo a porta e procurando por uma mesa.
- Sim. Ele é todo mauricinho, é porra louca. – ele comenta, me fazendo rir. – Mamãe diz que eles fazem o casal perfeito.
Aquilo atingiu uma ferida que abria cada dia mais. Doía saber que eu não poderia ser parte do “casal perfeito” com , por mais que eu tente.
Comemos em meio a brincadeiras e jogos com canudos, chamando a atenção de algumas pessoas que estavam por ali.
- Não parece que temos vinte e dois anos. – Adam fala enquanto me abraça.
Adam era o baterista, um grande amigo e o único que sabia sobre eu e , mesmo que não gostasse muito.
As horas se passaram e, quando vi, estávamos nos arrumando para o show. A cada minuto que passava, todo meu corpo estremecia, ansioso por aquele momento.
Estava verificando os equipamentos de som, quando a porta do bar se abre. aparece em meu campo de visão. Usava um vestido azul claro junto de uma jaqueta de couro preta. Ela estava incrivelmente linda.
Ao seu lado, segurava sua mão, entrelaçando seus dedos e caminhando pelo estabelecimento, mostrando ali, para todos, quem era seu namorado.
Bom, não era o nome dele que ela gemia, se quiserem saber.
- Você precisa parar com isso. – Adam fala em meu ouvido, me fazendo saltar de susto e quase derrubar o prato de sua bateria. – Não percebe como isso te faz mal?
- Eu vou acabar com isso algum dia. – falo, ouvindo meu amigo suspirar ao meu lado.
Caminhei para a área dos bastidores, tirando algumas fotos junto dos companheiros de banda, antes que pudessem nos apresentar oficialmente.
Depois que anunciaram nosso nome, subimos no palco em meio a aplausos e gritos. Agradeci com um sorriso de lado, antes que eu pudesse pegar a guitarra.
Enquanto eu e dividíamos os vocais, eu tentava não olhar na direção de e seu namorado, tentando não cair na tentação que eram seus olhos.
O show acabou e, novamente, tivemos aplausos e gritos, nos fazendo agradecer e pular para fora do palco.
Estava indo em direção ao bar, quando sinto meu celular vibrar no bolso da minha calça.
: Você estava tão gato naquele palco.
: Ah, me encontra no banheiro esquecido em três minutos.
Não respondi, olhando para a mesa, vendo que ela falava algo com , levantando-se e caminhando para longe do rapaz, que bebia uma cerveja.
Contei três minutos, caminhando por entre as pessoas até o banheiro esquecido, que ficava perto do palco.
Abro a porta, vendo sentada na pia de mármore branco. Ela sorriu ao me ver, e eu tranquei a porta, caminhando em sua direção.
- Você está tão gostoso com essa roupa. – ela fala, puxando a gola de minha jaqueta. – Eu estou louca para...
- , por favor. – sussurro, passando meu nariz por todo seu pescoço. – O está aí.
- E isso nunca foi empecilho. – ela resmunga, apertando seus dedos em meus ombros, gemendo em meu ouvido em seguida. – , eu preciso tanto disso.
- Você sabe que não tem como. – resmungo, ouvindo a garota bufar. – Outro dia?
- Tá. E, só para constar, odeio ser mulher. – ela fala, cruzando seus braços, me fazendo sorrir e beijar seus lábios.
- Ah, eu amo que você seja mulher. – murmuro, fazendo a garota rir e me beijar mais uma vez.
Saio do banheiro primeiro, caminhando até o bar, encontrando meus amigos sentados.
- ! – exclama, puxando a irmã pelo braço.
- Oi maninho! – ela exclama, sorrindo e abraçando o irmão mais velho. – Vocês foram muito bem hoje.
- Acha que conseguimos o contrato? – Adam indaga, fazendo a mais nova sorrir, assentindo. – Eu gosto da sua irmã.
- Ei, vocês querem ir para nossa mesa? – ela indaga, apontando para em seguida.
- Não nasci para segurar vela. – fala, nos fazendo rir. – Vamos?
Concordei, caminhando com os demais para a mesa do casal, onde estava sentado, mexendo em seu celular, e posando como o mauricinho que ele era.
Eu só queria que aquela tortura acabasse de uma vez.
(...)
- Você ama ? – indaga assim que abro a porta do meu apartamento.
Duas semanas se passaram desde o show. Aquela foi a última vez em que eu vi .
- Do que está falando? – indago assim que ele entra.
- Eu vi o seu olhar para ela. Eu vi a maneira como você ficou perto dela. – fala, sentando no sofá. – , por favor.
- , não. Não vai adiantar falar algo. – falo e ele nega com a cabeça. – Eu não queria, mas aconteceu. E você não sabe como eu me arrependo disso.
- ... – ele começa e eu suspiro, negando com a cabeça.
- Eu me arrependo de ter me apaixonado por ela, pois sei que nunca será correspondido. é uma garota incrível, e todos nós sabemos disso, mas ela não me ama. E nada nesse mundo vai mudar isso, assim como nada vai mudar meu sentimento. – falo, suspirando mais uma vez. – Eu não queria que você descobrisse assim.
- Eu sinto muito. – ele fala e eu dei de ombros.
Antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, a porta se abre, e eu vejo com sua roupa da escola.
Ela intercalou seu olhar, confusa e surpresa por ver seu irmão mais velho ali.
- O que faz aqui? – ela indaga.
- Estou de saída. Vocês precisam conversar. – ele fala, dando tapinhas nas minhas costas e se levantando, beijando a testa da mais nova e saindo em seguida.
Silêncio. A ideia de ficar em silêncio com era absurdamente assustadora, ainda mais com meus batimentos tão acelerados. Era capaz de minha vizinha ouvir.
- O que houve? – ela indaga, fechando a porta e caminhando em minha direção, sentando em minha perna. – É saudade?
- O quê? Não! – falo, fazendo a garota bufar, beijando meu pescoço. – ...
- O que foi, ? – ela indaga, olhando em meus olhos pela primeira vez.
- Eu amo você. – disparo, suspirando profundamente depois. – Eu amo você demais, e nada vai mudar isso.
- ... – ela começa, me fazendo rir.
- Eu sei, você vai dizer que não era pra ser assim, mas foi, e eu me arrependo. – falo, jogando a cabeça para trás. – Eu só não aguento mais ser nada para você.
- Eu não o amo. – ela fala, convicta daquilo, e eu concordei. – E como você me ama?
- Não sei. Eu sinceramente não sei. – falo e ela suspira, saindo de cima de mim, sentando ao meu lado no sofá. – Acho que acabou?!
- Eu não sou capaz de corresponder. – ela sussurra. – Eu sou horrível, . E você sabe.
- Não, você não é. – falo, segurando seu rosto com as minhas duas mãos.
- Eu fico traindo o meu namorado. Eu não o amo. – ela fala, bufando em seguida. – E a única pessoa que eu não queria magoar acabei magoando.
- Você não me magoou, eu sei que você não é capaz de fazer isso. – falo e ela sorri de lado.
- Como que a gente fica? – ela indaga após longos minutos de silêncio, apenas encarando o chão e o piso de madeira velha.
- Eu quero acabar com isso. – falo e ela me fita. – Eu quero seguir minha vida, e quero que você viva a sua. Iremos nos encontrar quando estivermos prontos para algo, o que não é o momento.
- , eu não...
- Você não se apaixona, mas pode se apaixonar, e estarei feliz, mesmo que não seja comigo. – falo, segurando sua mão em seguida. – Eu quero você feliz, seja comigo, com ou qualquer outro cara que mereça estar no seu coração.
- Você merece estar no meu coração. – ela fala, rindo em seguida.
- Mas não estou. – falo e ela suspira, beijando minha bochecha diversas vezes. – Espero que você fique bem.
- Eu vou ficar. – ela sussurra, me fazendo acariciar seu rosto.
Passei quase quinze minutos ali, em puro silêncio, aproveitando o meu último momento com . Não era constrangedor, não era triste, pelo contrário. Achei que doeria, mas estou sentindo uma felicidade momentânea.
parou na porta, olhando para mim com o mesmo olhar da menina atrevida que é.
- Quem vai me entreter com sexo? – ela indaga, me fazendo gargalhar. – O não sabe fazer metade das coisas que você faz, .
- É, eu sei, mas você vai arrumar outro. De preferência solteira. Corri muito risco durante esse tempo, não quero que outra pessoa passe por isso. – falo e ela ri, batendo em meu ombro. – Até breve?
- Até breve. – ela fala, me abraçando pela última vez, deixando seu perfume invadir minhas narinas. Aquele perfume forte que só ela tinha.
E lá estava eu, vendo a garota que eu sou extremamente apaixonado, viver sua vida.
Ela tem namorado, e, mesmo que não seja recíproco, eles estavam juntos, e aquilo era o bastante.
ainda dormia. Tinha o semblante tranquilo, como se não carregasse nenhum fardo, como se fosse uma pessoa pura, algo que ela não era.
Eu e nos conhecemos na festa de seu irmão mais velho. é meu melhor amigo, somos membros fundadores de uma banda. Ela estava bêbada quando a vi pela primeira vez, flertando com todos os rapazes que estavam presentes naquele local, esquecendo totalmente seu namorado.
Sim, tem um namorado. E não, eu não sou ele.
vive de aparências com um rapaz. Ele a ama, mas ela apenas está com ele por causa dos pais. O rapaz é rico, capaz de dar uma vida boa para a garota e sua família, mas ela não se importava. não se importava com sentimentos, muito menos com os meus.
Segundo a garota, eu sou sua “válvula de escape”. Era para meu apartamento que ela vinha quando precisava de diversão ou de bebidas. Era para o meu apartamento que ela vinha toda vez que precisava matar seus desejos carnais. Eu era apenas seu brinquedinho sexual e, por mais que seja prazeroso, gostava dela o suficiente para não querer mais aquilo.
Eu sabia desde o início que não me amaria. Eu sabia onde estava me metendo quando ela apareceu, numa madrugada chuvosa, cheirando a cerveja, me implorando por uma noite. Já faz seis meses que estamos na mesma.
Estava me soltando dela quando ela vira seu corpo, puxando-me para mais perto ainda. Seu corpo, gélido, estava tão próximo do meu, quente, que poderia causar um choque térmico.
Não havia nada no nosso corpo. Nenhuma peça de roupa que pudesse impedir de mostrar meu peito descendo e subindo, descompensado, por culpa de meus batimentos cardíacos.
O sol estava quase nascendo, faltava pouco para que ela se levantasse, colocasse seu uniforme e caminhasse rumo a escola. Eu voltaria para minha vida medíocre, esperando pelo momento em que a encontraria novamente.
Mexi em seus cabelos, escuros e longos, olhando para seu rosto. Como ela conseguia ser tão bonita sem o mínimo de esforço?
- Já está acordado? – ela indaga. Sua voz rouca, deixando o arrepio percorrer todo o meu corpo.
- Acordei agora. – menti, tirando meus dedos de seus cabelos.
- Entendi... – ela começa, suspirando em seguida.
Seus olhos se abrem, e eu percebo como eu os adorava. O tom castanho claro brilhava em meio a sobrancelhas grossas.
Ela era tão apaixonante, uma pena de quem ia por esse caminho.
- Você está esquisito. – ela fala, passando seu indicador em meu peito, desenhando uma tatuagem que estava desbotando. – Tem certeza de que está bem?
- Estou. – falo, sorrindo de lado. – Eu só estou com sono.
- Eu vou tomar um banho. – ela diz, beijando minha bochecha e se levantando, caminhando até sua mochila largada no chão do quarto.
Enquanto ela se arrumava, eu pensava em como chegamos àquele ponto.
Eu não poderia simplesmente falar algo. Eu não poderia simplesmente desabafar, já que a única pessoa que eu tenho é o seu irmão mais velho. Como se chega no melhor amigo, falando que você está transando com sua irmã de apenas dezessete anos?
Ele iria me matar. Eu me mataria, se fosse o contrário.
- , eu posso usar sua escova de dentes? – indaga da porta do banheiro.
Sua camisa quase aberta, mostrando seu sutiã em um tom verde musgo, me fez suspirar profundamente, caminhando até ela.
- Você esqueceu? – indago, segurando seu rosto com as duas mãos, puxando-o para cima, para que ela pudesse me olhar.
- Ah, meus pais não sabem que eu estou aqui. – ela fala, sorrindo em seguida. – Você sabe, eles acham que eu estou com , e acha que estou na casa da minha amiga.
- Isso é louco. – sussurro, arrancando uma risada baixa da garota.
- E funciona. – ela fala, beijando meus lábios brevemente.
Logo ela entra no banheiro novamente, me deixando parado na porta.
Ela ficou ali por mais alguns minutos, antes que terminasse de colocar seu uniforme.
- Quando eu te vejo? – indago afinando a minha guitarra.
- Eu te envio uma mensagem. – fala, ajeitando seus tênis cor de rosa e colocando sua mochila no ombro. – Até?
Concordei, acenando com a cabeça, suspirando assim que ouvi a porta de entrada se fechar.
: Eu odeio álgebra.
: Está se divertindo?
: Queria que você estivesse aqui, me divertindo.
: Não disse como.
: Código vermelho, esqueceu?
: Ah, eu odeio quando essa época chega.
: Falta pouco.
: Ei, mais tarde vou fazer um convite. Espero que não recuse.
: Você sabe que eu não recuso nada vindo de você, né?
- É a tal garota? – indaga assim que senta ao meu lado.
Estávamos ensaiando a quase quatro horas. Tínhamos um show importante essa noite e precisávamos dar tudo certo para assinarmos um contrato que nos colocaria no mundo da música.
- É. – falo, rindo em seguida. – Cara, acho que estou...
- Apaixonado? Eu percebi. – fala, rindo em seguida. – E ela é sortuda por isso.
- Ah, não muito. – falo, dando de ombros em seguida. – Vamos dizer que o namorado dela é um cara de mais sorte.
- Uau, então é bem mais sério do que eu pensava. – meu amigo diz, me fazendo concordar. – Já sei! Que tal escrever uma música?
- Não sei se é o certo. – falo e ele nega, dando de ombros. – Eu posso arrumar algum problema.
- É algo que podemos viver. – fala, levantando em seguida. – Podemos voltar a ensaiar?
Concordei, caminhando com meu amigo para o palco.
- vem essa noite. – fala enquanto caminhamos para a lanchonete do outro lado da rua. – Vem com o namorado dela.
- Ele é legal? – indago, abrindo a porta e procurando por uma mesa.
- Sim. Ele é todo mauricinho, é porra louca. – ele comenta, me fazendo rir. – Mamãe diz que eles fazem o casal perfeito.
Aquilo atingiu uma ferida que abria cada dia mais. Doía saber que eu não poderia ser parte do “casal perfeito” com , por mais que eu tente.
Comemos em meio a brincadeiras e jogos com canudos, chamando a atenção de algumas pessoas que estavam por ali.
- Não parece que temos vinte e dois anos. – Adam fala enquanto me abraça.
Adam era o baterista, um grande amigo e o único que sabia sobre eu e , mesmo que não gostasse muito.
As horas se passaram e, quando vi, estávamos nos arrumando para o show. A cada minuto que passava, todo meu corpo estremecia, ansioso por aquele momento.
Estava verificando os equipamentos de som, quando a porta do bar se abre. aparece em meu campo de visão. Usava um vestido azul claro junto de uma jaqueta de couro preta. Ela estava incrivelmente linda.
Ao seu lado, segurava sua mão, entrelaçando seus dedos e caminhando pelo estabelecimento, mostrando ali, para todos, quem era seu namorado.
Bom, não era o nome dele que ela gemia, se quiserem saber.
- Você precisa parar com isso. – Adam fala em meu ouvido, me fazendo saltar de susto e quase derrubar o prato de sua bateria. – Não percebe como isso te faz mal?
- Eu vou acabar com isso algum dia. – falo, ouvindo meu amigo suspirar ao meu lado.
Caminhei para a área dos bastidores, tirando algumas fotos junto dos companheiros de banda, antes que pudessem nos apresentar oficialmente.
Depois que anunciaram nosso nome, subimos no palco em meio a aplausos e gritos. Agradeci com um sorriso de lado, antes que eu pudesse pegar a guitarra.
Enquanto eu e dividíamos os vocais, eu tentava não olhar na direção de e seu namorado, tentando não cair na tentação que eram seus olhos.
O show acabou e, novamente, tivemos aplausos e gritos, nos fazendo agradecer e pular para fora do palco.
Estava indo em direção ao bar, quando sinto meu celular vibrar no bolso da minha calça.
: Ah, me encontra no banheiro esquecido em três minutos.
Não respondi, olhando para a mesa, vendo que ela falava algo com , levantando-se e caminhando para longe do rapaz, que bebia uma cerveja.
Contei três minutos, caminhando por entre as pessoas até o banheiro esquecido, que ficava perto do palco.
Abro a porta, vendo sentada na pia de mármore branco. Ela sorriu ao me ver, e eu tranquei a porta, caminhando em sua direção.
- Você está tão gostoso com essa roupa. – ela fala, puxando a gola de minha jaqueta. – Eu estou louca para...
- , por favor. – sussurro, passando meu nariz por todo seu pescoço. – O está aí.
- E isso nunca foi empecilho. – ela resmunga, apertando seus dedos em meus ombros, gemendo em meu ouvido em seguida. – , eu preciso tanto disso.
- Você sabe que não tem como. – resmungo, ouvindo a garota bufar. – Outro dia?
- Tá. E, só para constar, odeio ser mulher. – ela fala, cruzando seus braços, me fazendo sorrir e beijar seus lábios.
- Ah, eu amo que você seja mulher. – murmuro, fazendo a garota rir e me beijar mais uma vez.
Saio do banheiro primeiro, caminhando até o bar, encontrando meus amigos sentados.
- ! – exclama, puxando a irmã pelo braço.
- Oi maninho! – ela exclama, sorrindo e abraçando o irmão mais velho. – Vocês foram muito bem hoje.
- Acha que conseguimos o contrato? – Adam indaga, fazendo a mais nova sorrir, assentindo. – Eu gosto da sua irmã.
- Ei, vocês querem ir para nossa mesa? – ela indaga, apontando para em seguida.
- Não nasci para segurar vela. – fala, nos fazendo rir. – Vamos?
Concordei, caminhando com os demais para a mesa do casal, onde estava sentado, mexendo em seu celular, e posando como o mauricinho que ele era.
Eu só queria que aquela tortura acabasse de uma vez.
- Você ama ? – indaga assim que abro a porta do meu apartamento.
Duas semanas se passaram desde o show. Aquela foi a última vez em que eu vi .
- Do que está falando? – indago assim que ele entra.
- Eu vi o seu olhar para ela. Eu vi a maneira como você ficou perto dela. – fala, sentando no sofá. – , por favor.
- , não. Não vai adiantar falar algo. – falo e ele nega com a cabeça. – Eu não queria, mas aconteceu. E você não sabe como eu me arrependo disso.
- ... – ele começa e eu suspiro, negando com a cabeça.
- Eu me arrependo de ter me apaixonado por ela, pois sei que nunca será correspondido. é uma garota incrível, e todos nós sabemos disso, mas ela não me ama. E nada nesse mundo vai mudar isso, assim como nada vai mudar meu sentimento. – falo, suspirando mais uma vez. – Eu não queria que você descobrisse assim.
- Eu sinto muito. – ele fala e eu dei de ombros.
Antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, a porta se abre, e eu vejo com sua roupa da escola.
Ela intercalou seu olhar, confusa e surpresa por ver seu irmão mais velho ali.
- O que faz aqui? – ela indaga.
- Estou de saída. Vocês precisam conversar. – ele fala, dando tapinhas nas minhas costas e se levantando, beijando a testa da mais nova e saindo em seguida.
Silêncio. A ideia de ficar em silêncio com era absurdamente assustadora, ainda mais com meus batimentos tão acelerados. Era capaz de minha vizinha ouvir.
- O que houve? – ela indaga, fechando a porta e caminhando em minha direção, sentando em minha perna. – É saudade?
- O quê? Não! – falo, fazendo a garota bufar, beijando meu pescoço. – ...
- O que foi, ? – ela indaga, olhando em meus olhos pela primeira vez.
- Eu amo você. – disparo, suspirando profundamente depois. – Eu amo você demais, e nada vai mudar isso.
- ... – ela começa, me fazendo rir.
- Eu sei, você vai dizer que não era pra ser assim, mas foi, e eu me arrependo. – falo, jogando a cabeça para trás. – Eu só não aguento mais ser nada para você.
- Eu não o amo. – ela fala, convicta daquilo, e eu concordei. – E como você me ama?
- Não sei. Eu sinceramente não sei. – falo e ela suspira, saindo de cima de mim, sentando ao meu lado no sofá. – Acho que acabou?!
- Eu não sou capaz de corresponder. – ela sussurra. – Eu sou horrível, . E você sabe.
- Não, você não é. – falo, segurando seu rosto com as minhas duas mãos.
- Eu fico traindo o meu namorado. Eu não o amo. – ela fala, bufando em seguida. – E a única pessoa que eu não queria magoar acabei magoando.
- Você não me magoou, eu sei que você não é capaz de fazer isso. – falo e ela sorri de lado.
- Como que a gente fica? – ela indaga após longos minutos de silêncio, apenas encarando o chão e o piso de madeira velha.
- Eu quero acabar com isso. – falo e ela me fita. – Eu quero seguir minha vida, e quero que você viva a sua. Iremos nos encontrar quando estivermos prontos para algo, o que não é o momento.
- , eu não...
- Você não se apaixona, mas pode se apaixonar, e estarei feliz, mesmo que não seja comigo. – falo, segurando sua mão em seguida. – Eu quero você feliz, seja comigo, com ou qualquer outro cara que mereça estar no seu coração.
- Você merece estar no meu coração. – ela fala, rindo em seguida.
- Mas não estou. – falo e ela suspira, beijando minha bochecha diversas vezes. – Espero que você fique bem.
- Eu vou ficar. – ela sussurra, me fazendo acariciar seu rosto.
Passei quase quinze minutos ali, em puro silêncio, aproveitando o meu último momento com . Não era constrangedor, não era triste, pelo contrário. Achei que doeria, mas estou sentindo uma felicidade momentânea.
parou na porta, olhando para mim com o mesmo olhar da menina atrevida que é.
- Quem vai me entreter com sexo? – ela indaga, me fazendo gargalhar. – O não sabe fazer metade das coisas que você faz, .
- É, eu sei, mas você vai arrumar outro. De preferência solteira. Corri muito risco durante esse tempo, não quero que outra pessoa passe por isso. – falo e ela ri, batendo em meu ombro. – Até breve?
- Até breve. – ela fala, me abraçando pela última vez, deixando seu perfume invadir minhas narinas. Aquele perfume forte que só ela tinha.
E lá estava eu, vendo a garota que eu sou extremamente apaixonado, viver sua vida.
Ela tem namorado, e, mesmo que não seja recíproco, eles estavam juntos, e aquilo era o bastante.