Prólogo
O arquivo que lerá a seguir é confidencial e só deve ser informado aos membros da organização secreta Iniciativa. Este é um alerta geral de busca por um agente desertor e uma hacker fugitiva do Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
Relatório da missão:
Nos dias 20 de dezembro de 2016 a 4 de fevereiro de 2017, o Agente , à época um membro da agência Iniciativa, infiltrou-se com sucesso na WITSEC, o programa de proteção a testemunhas do estado da Califórnia. Tal missão foi sancionada pelos superiores de nossa organização.
Nos dias 10 e 22 de Janeiro de 2017 houve tentativas de silenciar a testemunha, . Tais atentos contra sua vida foram satisfatoriamente frustrados pelo Agente , encarregado de sua segurança. A Senhorita foi bem sucedida em incriminar o grupo de ativistas autointitulados de Defensores Rubros, do qual anteriormente ela mesma fazia parte. Porém, o criminoso de codinome James Blackwell, também envolvido nos calamitosos eventos ocorridos na cidade de Sacramento e condenado na ação judicial, não pôde ser encontrado para o encarceramento. Com o fracasso da missão, o paradeiro do Agente ainda não foi determinado, e a Senhorita , escondida durante o processo sob a identidade de Emmanuelle , não pôde ser assegurada. O Agente foi considerado, e para sempre será, oficialmente banido da Iniciativa. Qualquer tentativa de contato deve ser reportada imediatamente para o alto escalão, e deve ser detido com urgência.
Relatório da missão:
Nos dias 20 de dezembro de 2016 a 4 de fevereiro de 2017, o Agente , à época um membro da agência Iniciativa, infiltrou-se com sucesso na WITSEC, o programa de proteção a testemunhas do estado da Califórnia. Tal missão foi sancionada pelos superiores de nossa organização.
Nos dias 10 e 22 de Janeiro de 2017 houve tentativas de silenciar a testemunha, . Tais atentos contra sua vida foram satisfatoriamente frustrados pelo Agente , encarregado de sua segurança. A Senhorita foi bem sucedida em incriminar o grupo de ativistas autointitulados de Defensores Rubros, do qual anteriormente ela mesma fazia parte. Porém, o criminoso de codinome James Blackwell, também envolvido nos calamitosos eventos ocorridos na cidade de Sacramento e condenado na ação judicial, não pôde ser encontrado para o encarceramento. Com o fracasso da missão, o paradeiro do Agente ainda não foi determinado, e a Senhorita , escondida durante o processo sob a identidade de Emmanuelle , não pôde ser assegurada. O Agente foi considerado, e para sempre será, oficialmente banido da Iniciativa. Qualquer tentativa de contato deve ser reportada imediatamente para o alto escalão, e deve ser detido com urgência.
Parte Um
“I hate the beach
But I stand in California with my toes in the sand”
22 de Dezembro de 2016 / Carmel Highlands, Califórnia
— E você, Agente ? Como veio parar nessa merda de lugar? – perguntou , sem desviar o olhar do mar a sua frente.
Observei sua face pacífica voltada para o horizonte e comecei a perceber que estava muito menos ignorante quanto ao processo a que estava submetida do que eu pensava. Não devia estar tão surpreso, considerando que suas atividades como Hacker desencadearam os eventos que a levariam a ter que entrar no Programa de Proteção à Testemunha. Como era um ativo crucial para a investigação, não iriam designar sua proteção para um policial qualquer do Departamento de Justiça, ou D.O.J., como prefiria chamá-lo.
Neste departamento há três níveis de licença: Confidencial, Secreto e Top Secret. Claro que esse caso ia muito além dessa classificação administrativa e disponível ao conhecimento do público geral.
Não. O Caso Blackwell despertou o interesse de uma agência muito mais especializada e fora dos olhos do público. Nós, que trabalhamos para ela, a chamamos de Iniciativa. Nem mesmo o vice-presidente tinha conhecimento de sua existência. Nos reportávamos diretamente ao Presidente dos Estados Unidos.
É por esse motivo que não deve ser tão difícil entender que esse encargo era uma punição para mim. Não fazia parte, originalmente, de meu trabalho estar encarregado de um serviço comum como o Programa WITSEC. Mas que diabos seria WITSEC? Só mais um apelido dado pelos engravatados à organização que fazia todo o planejamento de defesa das testemunhas de casos contra pessoas barra pesada.
Odeio as malditas organizações com siglas. Você pode identificar várias como FBI, NSA, CIA ou a própria NASA. Essas não são as verdadeiras protetoras da nação. Com a evolução do cybercrime, das armas biológicas e da maior arma de todas, a informação, foi necessário que houvesse uma divisão secreta capaz de especializar-se em crimes que as agências de siglas, muito presas a questões de jurisdição, terrorismo e delitos à moda antiga não eram capazes de lidar. Foi aí que nasceu a Iniciativa e algumas outras organizações que nem mesmo eu conhecia o nome.
sabia que ela era importante e o governo devia estar desesperado. Se não, nunca teriam lhe oferecido imunidade transacional. Isso significava que não importavam os detalhes surgidos no caso, novas evidências, nunca poderiam condená-la por crimes passados. Basicamente se o U.S. Marshal, um agente da justiça, ligado a seu caso tinha um nível de licença alto o suficiente para conhecer os detalhes do que estava envolvida, isso queria dizer que ele costumava ter um cargo muito maior do que um membro da massa do Departamento de Justiça. Ela só não sabia de qual organização eu era, mas seu nariz farejava que certamente não era um policial comum.
- Estamos... – Limpei a garganta. – Estamos aqui por você. Para mantê-la segura. Melhor eu concentrar-me na missão.
Sim. Eu estava sendo punido e forçado a ficar de babá para o WITSEC, por ordens da Iniciativa. Sim, eu sei que é confuso. Exatamente por esse motivo que odeio siglas. E a Califórnia. Também odeio a Califórnia. A cidade tinha seu próprio programa de proteção, porém, de menor extensão que o federal e não poderiam correr o risco de que Blackwell escapasse da condenação mais uma vez. Afinal, ele era nada menos do que o terceiro na lista de mais procurados. Mas ele cometera um grande erro ao associar-se ao grupo de ativistas a que era uma integrante. O homem se tornara conhecido, a polícia conseguiu sua descrição a partir de um retrato falado e finalmente tinham um nome. Eu sabia que era alguém conhecido do alto escalão, mas ainda não conseguira arrancar um nome completo de minha superior, só o codinome que usava: James Blackwell.
- Você é bem calado, não é? – Perguntou mirando-me com o canto do olho. Sua voz despertou a irritação que eu nutria contra ela, mesmo sem conhecê-la. Aquele caso era pessoal demais para mim.
- Por que vocês associaram-se ao Blackwell? Nenhum juiz teria condenado vocês se não houvessem se misturado a ele. O trabalho dele é pesado, mesmo para um criminoso, aquele homem faz parte da escória da terra. Passaram de meros ativistas a assassinos, todos vocês. – Repliquei sentindo a amargura dominar meu tom de voz.
Não se tratava mais de um mero caso contra um grupo de ativistas. fazia parte deles, mas agora já não podia mais ser chamada por esse nome. Agora possuía uma nova identidade e o cabelo ruivo fora pintado de castanho escuro. Ofereceram-lhe o que todo criminoso buscando sair da ilegalidade quer: Imunidade total. Uma troca de favores: se a mulher testemunhasse contra seu antigo grupo e Blackwell, ela poderia obter uma ficha limpa e a tão sonhada liberdade.
- Você nos vê como se fôssemos um grupo extremamente organizado que quer sair matando todo mundo.
- E não são? O que diabos foi o massacre em Sacramento então?
- Eu... – Começou ela virando-se completamente para mim, com os olhos brilhando em uma expressão de raiva e, sobretudo, mágoa. –Eu não fazia ideia, está bem?
- Milhões de pessoas morriam naquela fábrica enquanto você o que? O que era tão importante que não prestou atenção no que seus próprios amigos estavam fazendo? Chamavam-se de Defensores Rubros não é? Guiando o mundo para alcançar a paz. Muito bem, conseguiram manchar as ruas de Sacramento de vermelho.
- Chega! - Exclamou levantando-se em um só impulso. – Vo... Você não sabe de nada. Não fique aí me julgando enquanto você, Agente , provavelmente já fez coisas muito piores. Antes de falar de mim devia se olhar no espelho. – Completou afastando-se em direção à casa, que ainda teríamos que compartilhar por quarenta e cinco dias até o fim do julgamento. Depois, com a maior ameaça atrás das grades, a guarda permanente de seria passada para qualquer outro agente que não eu.
- Só mais quarenta e cinco dias... - Murmurei enquanto deitava-me na toalha, olhando para o céu nublado. Pensei no que eu veria se me olhasse no espelho como ela sugeriu. Meus olhos castanhos claros com as íris a cada dia mais sem vida, estariam diante de um homem quebrado por dentro. Um homem que não tem certeza se já salvou mais vidas do que tirou. , ou agora - seu novo nome - estava certa sobre uma coisa. Eu era um hipócrita.
As nuvens representavam meu total conflito de sentimentos sobre esse caso. O governo me escolhera para a missão justamente por minha relação com um dos acusados. Eu tinha um interesse em especial de ver o canalha do James Blackwell jogado atrás das grades. Senti gotas quentes escorrendo por meu rosto e por um momento, resolvi fingir que elas eram compostas somente do chuvisco insistente, que provavelmente me deixaria enclausurado com pelos próximos dias. E haja paciência, mas assim que provei tais gotas em meus lábios, soube que estava fazendo algo que há muito tempo não me permitia: chorando.
*U.S. Marshal- uma espécie de agente da justiça
13 de Agosto de 2016 / Sede do D.O.J., Washington D.C.
- De jeito nenhum. – Falei cruzando os braços.
- ...
- Olha para mim e ouve bem por que não vou falar duas vezes: Eu não vou ser babá!
Meu chefe, ao menos oficialmente- uma fachada para que ninguém soubesse no que realmente trabalho- levantou-se com o rosto vermelho apoiando as mãos na mesa e aproximando seu rosto do meu.
- Você vai fazer o que é mandado. Isso foi um pedido direto do Procurador Geral.
O som de meu celular apitando foi a única coisa que me deteve de socar o rosto daquela marionete do governo. Ignorei-o buscando o aparelho em meu bolso e observando a tela. “SALT”, era o que dizia a notificação do WhatsApp. A mensagem serviu para lembrar-me que não era com aquele homem que eu deveria estar discutindo, mas com minha verdadeira chefe. Ela que realmente segurava as cartas. Saí da sala, marchando direto para o ponto de encontro, combinado.
Washington estava com um trânsito calmo àquela hora da tarde. Estacionei em meu apartamento e coloquei minhas roupas de corrida. Se eu iria deslocar-me até o Parque Montrose, poderia muito bem aproveitar para fazer um exercício até lá.
Chegando, retirei meus fones de ouvido, passando a corrida para um ritmo de trote e depois para uma caminhada tranquila. Limpei o suor de minha testa e coloquei meus óculos escuros, sentando no banco mais remoto do parque. A meu lado, uma mulher morena lia um livro distraidamente. Para qualquer um que olhasse, um homem estaria recuperando-se da corrida conversando de amenidades, com uma ávida leitora a seu lado.
Desconhecidos?
Talvez não.
- . – Falou a morena piscando em reconhecimento.
- Parker. – Repliquei com um meio sorriso.
Ela mal desviou o olhar de seu livro enquanto falava.
- O erro em Cracóvia deixou sua continuidade na agência por um fio. Eu tive de lutar para manter você, mas tudo tem um preço.
- Esse trabalho não...
- Blackwell. É contra Blackwell que iremos mover a ação judicial.
- A testemunha sabe o nível de confidencialidade da missão? Sabe o quanto está em perigo, não importa que tenha entrado no WITSEC?
- Ela não tem escolha .
- E nem eu, não é?
- Veja isso como um gesto de boa-fé. Para mostrar aos superiores da Iniciativa que você está dentro e que sabe obedecer a porra de uma ordem. Você sabe fazer isso, não é?
- Quando começa? – Resmunguei ainda duvidoso.
- Tem algum compromisso? - Brincou ela, mas sem um pingo de humor em sua voz. -Vai ter que viajar para a Califórnia ainda hoje. Os detalhes você receberá pelo sistema da interweb. –Continuou.
Ah, a interweb. Só mais um código para dizer que a Iniciativa me enviaria uma espécie de email. Lógico que estaria encriptado e eu teria de usar minha chave de acesso para obtê-lo na Dark Web.
Sabe o que dizem, a população comum só tem contato com quatro por cento da internet, a parte da superfície. Mas assim como um iceberg, há partes mais profundas encobertas pela água, o que chamamos de Deep Web e uma parte mais obscura ainda, a Dark Web.
- Califórnia? Está brincando? Eles têm seu próprio programa de proteção e é uma merda comparado ao federal.
- É por isso que é você que vai estar encarregado da testemunha. Não podemos confiar no programa estadual deles e o governo não quer arcar com a confusão jurídica que seria tentar mudar para o que abrange a maior parte do país.
- Se eu fizer isso, meu rosto será estampado em todos os jornais.
- É por isso que não terá mais a mesma função na Iniciativa após esse trabalho. Não será mais um espião, mas sim liderará internamente as equipes em campo e será encarregado do recrutamento de potenciais agentes.
- Emmy, eu não sou um idiota! Estou sendo afastado do trabalho de campo? Não. Se me querem nisso, vocês terão de aceitar minhas condições.
- E quais são? – Ela perguntou torcendo o rosto em uma careta divertida.
- Quero planejar as operações em campo, mas não ficarei para trás vendo a ação se desenrolando ou meus recrutas em perigo através de uma tela em uma sala cheia de gente da equipe tática e nerds da computação.
- Mais alguma coisa? – Perguntou finalmente fechando o livro e depositando no banco a seu lado.
- Sim. A iniciativa vai somente supervisionar as operações, não vão passar por cima de minhas decisões. – Rangi os dentes pontuando bem a última parte. -Eu poderei recrutar quem eu quiser e depois dessa missão nunca mais pagarei por Cracóvia. Não aceitarei mais essa chantagem ou estou fora.
- Pensei que pudesse querer isso. Por esse motivo mandei-os irem à merda com a oferta de jerico que fizeram. Eu disse que retornaria a eles assim que soubesse o que você realmente iria querer em troca.
- Foi bom vê-la Emily. – Disse pondo meus fones de volta, sorrindo com sua perspicácia e recomeçando minha corrida em volta do lago.
- Digo o mesmo .
*DOJ- Departamento de Justiça americano.
But I stand in California with my toes in the sand”
22 de Dezembro de 2016 / Carmel Highlands, Califórnia
— E você, Agente ? Como veio parar nessa merda de lugar? – perguntou , sem desviar o olhar do mar a sua frente.
Observei sua face pacífica voltada para o horizonte e comecei a perceber que estava muito menos ignorante quanto ao processo a que estava submetida do que eu pensava. Não devia estar tão surpreso, considerando que suas atividades como Hacker desencadearam os eventos que a levariam a ter que entrar no Programa de Proteção à Testemunha. Como era um ativo crucial para a investigação, não iriam designar sua proteção para um policial qualquer do Departamento de Justiça, ou D.O.J., como prefiria chamá-lo.
Neste departamento há três níveis de licença: Confidencial, Secreto e Top Secret. Claro que esse caso ia muito além dessa classificação administrativa e disponível ao conhecimento do público geral.
Não. O Caso Blackwell despertou o interesse de uma agência muito mais especializada e fora dos olhos do público. Nós, que trabalhamos para ela, a chamamos de Iniciativa. Nem mesmo o vice-presidente tinha conhecimento de sua existência. Nos reportávamos diretamente ao Presidente dos Estados Unidos.
É por esse motivo que não deve ser tão difícil entender que esse encargo era uma punição para mim. Não fazia parte, originalmente, de meu trabalho estar encarregado de um serviço comum como o Programa WITSEC. Mas que diabos seria WITSEC? Só mais um apelido dado pelos engravatados à organização que fazia todo o planejamento de defesa das testemunhas de casos contra pessoas barra pesada.
Odeio as malditas organizações com siglas. Você pode identificar várias como FBI, NSA, CIA ou a própria NASA. Essas não são as verdadeiras protetoras da nação. Com a evolução do cybercrime, das armas biológicas e da maior arma de todas, a informação, foi necessário que houvesse uma divisão secreta capaz de especializar-se em crimes que as agências de siglas, muito presas a questões de jurisdição, terrorismo e delitos à moda antiga não eram capazes de lidar. Foi aí que nasceu a Iniciativa e algumas outras organizações que nem mesmo eu conhecia o nome.
sabia que ela era importante e o governo devia estar desesperado. Se não, nunca teriam lhe oferecido imunidade transacional. Isso significava que não importavam os detalhes surgidos no caso, novas evidências, nunca poderiam condená-la por crimes passados. Basicamente se o U.S. Marshal, um agente da justiça, ligado a seu caso tinha um nível de licença alto o suficiente para conhecer os detalhes do que estava envolvida, isso queria dizer que ele costumava ter um cargo muito maior do que um membro da massa do Departamento de Justiça. Ela só não sabia de qual organização eu era, mas seu nariz farejava que certamente não era um policial comum.
- Estamos... – Limpei a garganta. – Estamos aqui por você. Para mantê-la segura. Melhor eu concentrar-me na missão.
Sim. Eu estava sendo punido e forçado a ficar de babá para o WITSEC, por ordens da Iniciativa. Sim, eu sei que é confuso. Exatamente por esse motivo que odeio siglas. E a Califórnia. Também odeio a Califórnia. A cidade tinha seu próprio programa de proteção, porém, de menor extensão que o federal e não poderiam correr o risco de que Blackwell escapasse da condenação mais uma vez. Afinal, ele era nada menos do que o terceiro na lista de mais procurados. Mas ele cometera um grande erro ao associar-se ao grupo de ativistas a que era uma integrante. O homem se tornara conhecido, a polícia conseguiu sua descrição a partir de um retrato falado e finalmente tinham um nome. Eu sabia que era alguém conhecido do alto escalão, mas ainda não conseguira arrancar um nome completo de minha superior, só o codinome que usava: James Blackwell.
- Você é bem calado, não é? – Perguntou mirando-me com o canto do olho. Sua voz despertou a irritação que eu nutria contra ela, mesmo sem conhecê-la. Aquele caso era pessoal demais para mim.
- Por que vocês associaram-se ao Blackwell? Nenhum juiz teria condenado vocês se não houvessem se misturado a ele. O trabalho dele é pesado, mesmo para um criminoso, aquele homem faz parte da escória da terra. Passaram de meros ativistas a assassinos, todos vocês. – Repliquei sentindo a amargura dominar meu tom de voz.
Não se tratava mais de um mero caso contra um grupo de ativistas. fazia parte deles, mas agora já não podia mais ser chamada por esse nome. Agora possuía uma nova identidade e o cabelo ruivo fora pintado de castanho escuro. Ofereceram-lhe o que todo criminoso buscando sair da ilegalidade quer: Imunidade total. Uma troca de favores: se a mulher testemunhasse contra seu antigo grupo e Blackwell, ela poderia obter uma ficha limpa e a tão sonhada liberdade.
- Você nos vê como se fôssemos um grupo extremamente organizado que quer sair matando todo mundo.
- E não são? O que diabos foi o massacre em Sacramento então?
- Eu... – Começou ela virando-se completamente para mim, com os olhos brilhando em uma expressão de raiva e, sobretudo, mágoa. –Eu não fazia ideia, está bem?
- Milhões de pessoas morriam naquela fábrica enquanto você o que? O que era tão importante que não prestou atenção no que seus próprios amigos estavam fazendo? Chamavam-se de Defensores Rubros não é? Guiando o mundo para alcançar a paz. Muito bem, conseguiram manchar as ruas de Sacramento de vermelho.
- Chega! - Exclamou levantando-se em um só impulso. – Vo... Você não sabe de nada. Não fique aí me julgando enquanto você, Agente , provavelmente já fez coisas muito piores. Antes de falar de mim devia se olhar no espelho. – Completou afastando-se em direção à casa, que ainda teríamos que compartilhar por quarenta e cinco dias até o fim do julgamento. Depois, com a maior ameaça atrás das grades, a guarda permanente de seria passada para qualquer outro agente que não eu.
- Só mais quarenta e cinco dias... - Murmurei enquanto deitava-me na toalha, olhando para o céu nublado. Pensei no que eu veria se me olhasse no espelho como ela sugeriu. Meus olhos castanhos claros com as íris a cada dia mais sem vida, estariam diante de um homem quebrado por dentro. Um homem que não tem certeza se já salvou mais vidas do que tirou. , ou agora - seu novo nome - estava certa sobre uma coisa. Eu era um hipócrita.
As nuvens representavam meu total conflito de sentimentos sobre esse caso. O governo me escolhera para a missão justamente por minha relação com um dos acusados. Eu tinha um interesse em especial de ver o canalha do James Blackwell jogado atrás das grades. Senti gotas quentes escorrendo por meu rosto e por um momento, resolvi fingir que elas eram compostas somente do chuvisco insistente, que provavelmente me deixaria enclausurado com pelos próximos dias. E haja paciência, mas assim que provei tais gotas em meus lábios, soube que estava fazendo algo que há muito tempo não me permitia: chorando.
*U.S. Marshal- uma espécie de agente da justiça
13 de Agosto de 2016 / Sede do D.O.J., Washington D.C.
- De jeito nenhum. – Falei cruzando os braços.
- ...
- Olha para mim e ouve bem por que não vou falar duas vezes: Eu não vou ser babá!
Meu chefe, ao menos oficialmente- uma fachada para que ninguém soubesse no que realmente trabalho- levantou-se com o rosto vermelho apoiando as mãos na mesa e aproximando seu rosto do meu.
- Você vai fazer o que é mandado. Isso foi um pedido direto do Procurador Geral.
O som de meu celular apitando foi a única coisa que me deteve de socar o rosto daquela marionete do governo. Ignorei-o buscando o aparelho em meu bolso e observando a tela. “SALT”, era o que dizia a notificação do WhatsApp. A mensagem serviu para lembrar-me que não era com aquele homem que eu deveria estar discutindo, mas com minha verdadeira chefe. Ela que realmente segurava as cartas. Saí da sala, marchando direto para o ponto de encontro, combinado.
Washington estava com um trânsito calmo àquela hora da tarde. Estacionei em meu apartamento e coloquei minhas roupas de corrida. Se eu iria deslocar-me até o Parque Montrose, poderia muito bem aproveitar para fazer um exercício até lá.
Chegando, retirei meus fones de ouvido, passando a corrida para um ritmo de trote e depois para uma caminhada tranquila. Limpei o suor de minha testa e coloquei meus óculos escuros, sentando no banco mais remoto do parque. A meu lado, uma mulher morena lia um livro distraidamente. Para qualquer um que olhasse, um homem estaria recuperando-se da corrida conversando de amenidades, com uma ávida leitora a seu lado.
Desconhecidos?
Talvez não.
- . – Falou a morena piscando em reconhecimento.
- Parker. – Repliquei com um meio sorriso.
Ela mal desviou o olhar de seu livro enquanto falava.
- O erro em Cracóvia deixou sua continuidade na agência por um fio. Eu tive de lutar para manter você, mas tudo tem um preço.
- Esse trabalho não...
- Blackwell. É contra Blackwell que iremos mover a ação judicial.
- A testemunha sabe o nível de confidencialidade da missão? Sabe o quanto está em perigo, não importa que tenha entrado no WITSEC?
- Ela não tem escolha .
- E nem eu, não é?
- Veja isso como um gesto de boa-fé. Para mostrar aos superiores da Iniciativa que você está dentro e que sabe obedecer a porra de uma ordem. Você sabe fazer isso, não é?
- Quando começa? – Resmunguei ainda duvidoso.
- Tem algum compromisso? - Brincou ela, mas sem um pingo de humor em sua voz. -Vai ter que viajar para a Califórnia ainda hoje. Os detalhes você receberá pelo sistema da interweb. –Continuou.
Ah, a interweb. Só mais um código para dizer que a Iniciativa me enviaria uma espécie de email. Lógico que estaria encriptado e eu teria de usar minha chave de acesso para obtê-lo na Dark Web.
Sabe o que dizem, a população comum só tem contato com quatro por cento da internet, a parte da superfície. Mas assim como um iceberg, há partes mais profundas encobertas pela água, o que chamamos de Deep Web e uma parte mais obscura ainda, a Dark Web.
- Califórnia? Está brincando? Eles têm seu próprio programa de proteção e é uma merda comparado ao federal.
- É por isso que é você que vai estar encarregado da testemunha. Não podemos confiar no programa estadual deles e o governo não quer arcar com a confusão jurídica que seria tentar mudar para o que abrange a maior parte do país.
- Se eu fizer isso, meu rosto será estampado em todos os jornais.
- É por isso que não terá mais a mesma função na Iniciativa após esse trabalho. Não será mais um espião, mas sim liderará internamente as equipes em campo e será encarregado do recrutamento de potenciais agentes.
- Emmy, eu não sou um idiota! Estou sendo afastado do trabalho de campo? Não. Se me querem nisso, vocês terão de aceitar minhas condições.
- E quais são? – Ela perguntou torcendo o rosto em uma careta divertida.
- Quero planejar as operações em campo, mas não ficarei para trás vendo a ação se desenrolando ou meus recrutas em perigo através de uma tela em uma sala cheia de gente da equipe tática e nerds da computação.
- Mais alguma coisa? – Perguntou finalmente fechando o livro e depositando no banco a seu lado.
- Sim. A iniciativa vai somente supervisionar as operações, não vão passar por cima de minhas decisões. – Rangi os dentes pontuando bem a última parte. -Eu poderei recrutar quem eu quiser e depois dessa missão nunca mais pagarei por Cracóvia. Não aceitarei mais essa chantagem ou estou fora.
- Pensei que pudesse querer isso. Por esse motivo mandei-os irem à merda com a oferta de jerico que fizeram. Eu disse que retornaria a eles assim que soubesse o que você realmente iria querer em troca.
- Foi bom vê-la Emily. – Disse pondo meus fones de volta, sorrindo com sua perspicácia e recomeçando minha corrida em volta do lago.
- Digo o mesmo .
*DOJ- Departamento de Justiça americano.
Parte Dois
“I don't mind if there's not much to say
Sometimes the silence guides our minds
So move to a place so far away”
24 de Dezembro de 2016 / Carmel Highlands, Califórnia
O fogo crepitava na lareira com suas chamas lambendo e consumindo as toras de madeira. Eu as encontrara no gazebo anexo a casa. Um armazém preenchido com todo o tipo de coisa que eu pudesse imaginar precisar para manutenção da casa. Desde ferramentas a kits de primeiros socorros.
A residência não era tão grande, mas era um luxo perto dos lugares que já tive de suportar em minha “profissão”. Certa vez, eu e minha antiga parceira Catherine tivemos de dividir uma caverna nas montanhas, perto de Chu Lai no Vietnã. Naquelas semanas eu provavelmente descobrira mais da mulher do que eu deveria. Ultrapassara os limites do que qualquer pessoa gostaria de saber sobre outra.
Mas aqui não. A casa de praia em Carmel acomodava confortavelmente a mim e a , de forma que pudéssemos conviver o mínimo possível. Ela ficava muito confinada no segundo andar enquanto eu me concentrava no primeiro. Outros oficiais que eu nem me incomodara de aprender o nome, rondavam a cidade em busca de qualquer atividade suspeita e ficavam na residência vizinha a poucos quilômetros de distância.
Estar tão longe de não fora escolha minha. Eu até tentara chama-la para jantarmos juntos algumas vezes. Mas após nossa última conversa, há dois dias atrás, era como se um muro nos separasse. As palavras ditas e não ditas pareceram haver deixado uma mancha irreparável em nossa relação.
Ninguém gostava de ser chamado de assassino. Eu não conseguira me conter ao gritar com ela. Eu sabia que aceitar essa missão seria um erro, por minha relação pessoal com um dos acusados, mas não é como se houvessem me dado muita escolha nesse quesito. Muito menos como se eu fosse deixar desprotegida.
A mulher andava pela casa e mesmo fora dela, tão despreocupadamente, que eu me perguntava se tinha algum instinto de autopreservação. A única indicação disso eram os ajustes e upgrades que ela sempre estava fazendo no sistema de câmeras e monitoramento remoto que eu havia espalhado pela casa e arredores. Tudo isso era meramente uma precaução. Até o momento, o resto dos Defensores Rubros e J. Blackwell estavam confortavelmente acomodados em uma cela de prisão. Só seriam liberados no caso, improvável, de o juiz declará-los inocentes de todas as acusações. É claro que nada os impedia de usarem suas conexões fora do cárcere para intervir no processo. Quando digo intervir, leia-se calar , da forma mais permanente e dolorosa que se possa pensar.
Era para isso que existia o WITSEC, afinal. Essa organização podia, legalmente e com qualidade e agilidade impressionantes, produzir novos documentos. Estes que tornavam em .
Eu não precisava da ajuda do WITSEC nesse quesito, pois meu cargo já trazia seus próprios benefícios. tinha uma ficha limpa e era a identidade que eu assumira pelo maior tempo em minha vida.
A cada missão eu provisoriamente mudava de personalidade, mas gostava de pensar que algo em minha existência era permanente. Que no meio de todas as farsas e espionagens, eu tinha algo verdadeiro pelo que lutar e retornar.
A mudança de nome e de local não seria suficiente. Era aí que eu entrava. Tinha três linhas de proteção e ao menos cinco planos elaborados esperando ativação. O primeiro círculo protetor era composto pelos sensores e câmeras espalhados ao redor da casa. O segundo era a sala do pânico composta de concreto com uma identificação ocular que somente abriria para .
A terceira e última, não se tratava mais de defesa, mas sim de uma linha de ataque composta por meus músculos, meu pensamento tático e meus anos de treinamento. Foram décadas servindo e passando de agência em agência, até que encontrasse uma que se enquadrasse com minhas habilidades, que acabou por ser a Iniciativa.
Só o que faltava era conversar com sobre os planos de evacuação em que ela estaria envolvida. O problema era que desde nossa discussão ela erguera uma barreira palpável entre nós. Isso me trazia de volta ao motivo pelo qual eu estava deitado de qualquer jeito no sofá, com meu laptop e pager a meu lado, caso houvesse alguma emergência. Sem saber como melhorar o clima que havia se estabelecido.
- Agente . – Ouvi a mulher chamar com a voz áspera.
- , -Eu respondi com uma careta curiosa quanto a suas vestimentas de frio dentro do ambiente aquecido.
- Eu queria...
- Estava pensando...
Começamos ao mesmo tempo. Vendo o silêncio que se instaurara, fiz um gesto como que dizendo vá em frente.
- Bem... Amanhã será natal. – Explicou, esperando que eu mesmo entendesse onde ela queria chegar.
A questão é que eu era um homem programado para seguir ordens ou para perseguir caminhos lógicos. Porém adivinhar pensamentos não estava na minha gama de habilidades.
- Certo. – Arregalei os olhos, suplicando-lhe que completasse seu pensamento.
- Ficaremos trancados aqui o dia inteiro? – Soltou ela, exasperada, como se fosse óbvio.
- Sim! Provavelmente Blackwell tem assassinos procurando por você em todas as cidades próximas ao local do julgamento.
- Eu só... – Sua voz quebrou-se em emoção. – Não quero viver dessa forma pelo resto de minha vida. Não vai melhorar depois que eu testemunhar, ou vai?
- Olha... Não quero te assustar . Mas a sensação de que tem alguém atrás de você vai ficar aí para sempre. Melhorará um pouco quando eles forem condenados e você não tiver mais a obrigação de comparecer à corte. Assim, é mais possível que consiga se misturar à massa de cidadãos dos Estados Unidos e possa viver em paz. Mas os primeiros anos, em que todos conhecem sua face, serão os mais difíceis. Você não poderá ser avistada, e terá de levar a vida calmamente até o próximo escândalo ocorrer.
- Mas para sempre terei de olhar por cima de meu ombro porque um maluco está querendo se vingar de mim! Por eu ser a responsável pela justiça condená-lo!
Suspirei, optando por ser sincero, quando todos haviam omitido dela a real extensão do perigo que passava.
- Sim. – Repliquei, olhando em seus olhos, que tentavam esconder algo de quebrar o coração. Era mágoa, realização de que seu tempo de viver acabara. Tudo o que ela poderia fazer a partir de agora era sobreviver.
- Obrigada, . – Disse, sentando-se a meu lado no sofá, depositando o pager na mesinha de centro. – Você tem sido muito sincero comigo, mas é que eu... Não estou tendo os melhores dias de minha vida.
Olhei para arrependido por tê-la posto no centro de toda a minha frieza e frustração.
- Eu é que devo desculpas. Sabe, , sou muito bom em meu trabalho. Agora em interagir com outras pessoas... Se não estou fingindo ser alguém... Eu não sei como lidar com isso. – Completei, gesticulando o ar entre nós.
A mulher colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha e surpreendeu-me com um abraço. Rapidamente envolveu meus ombros tensos com seus braços. Manteve-se assim até que eu relaxasse e devolvesse o abraço.
-Vai ficar tudo bem. – Assegurei a ela, afastando-me e olhando no fundo de seus olhos, a uma pequena distância de sua face.
desviou os olhos, mas eu segurei gentilmente seu queixo buscando atrair seu olhar de volta.
-Olhe para mim, ! Comigo, você estará a salvo. Eu prometo.
Ela inspirou fundo, eliminando o espaço entre nossas bocas, centímetro a centímetro até que eu não me lembrasse mais de que precisava de oxigênio para continuar vivo. Ficamos com os lábios a centímetros um do outro até que , meu alvo, meu trabalho, minha missão, tomasse a atitude que selaria não só o seu, mas também o meu destino e futuro.
Um ato que pareceu tão simples e inofensivo como um selinho foi o bater de asas do efeito borboleta em nossas vidas. Na hora nós não sabíamos. Ah, a benção da ignorância...
Um mero encostar de lábios, seguido por uma troca de olhares.
Ela, confusa. Eu, apavorado.
Até que a tensão no ar se tornasse tão pesada, que a mulher arrumou uma desculpa para retirar-se para seu quarto.
Um clima tão massacrante que eclipsou meu foco na missão.
E basta só um minuto de desatenção. Só um minuto para que todo o esquema que eu montara, para manter minha promessa e mantê-la segura, fosse por água abaixo.
O que eu tive de aprender, da pior maneira, mas em circunstâncias parecidas, é que o inimigo nunca descansa. Ele nem pisca até conseguir o que deseja.
13 de Novembro de 2014/ Cracóvia, Polônia
- Sim. – Replicou uma voz ríspida do outro lado da linha.
- Quero pedir uma pizza do Jerry’s.
Assim como eu esperava, a chamada foi repassada para uma secretária eletrônica que em poucos minutos respondeu em uma voz metálica.
- Qual é seu pedido?
- Agente , código Alpha-Bravo 32.
- Esta é uma linha segura, a quem deseja contatar?
- Emily Parker, central de comando da Iniciativa. - Pedi, recostando a cabeça no orelhão, cansado.
- Aguarde...
- Agente , status da missão.
- O alvo está sendo transportado por um meio seguro enquanto falamos.
- ... – Disse suspirando. - Essa linha é só para emergências. Diz que tem a porra de uma emergência e não está ligando mais uma vez para fazer perguntas que não deve. Aposto que isso tudo é coisa da sua parceira.
- Ela sumiu, Emily. Capturaram a Cathy. – Exalei tentando manter minha voz estável.
Minha superior manteve silêncio por alguns segundos. E mesmo sabendo quais seriam suas próximas palavras, me deixei ter esperanças.
Esperança que minha chefe pensava sobre como trazer Cathy de volta sem comprometer a missão. Mas no fundo eu sabia que esse não era o caso, que minha parceira estava perdida para sempre. Sabia quais seriam minhas ordens.
- ... Ela sabia dos riscos. Vocês dois sabiam. Não quero que se envolva mais nesse caso.
- Não. – Sussurrei, balançando a cabeça em negação. – Não deixo nenhum soldado para trás.
- , me escute! O Clã Nowak foi pego de surpresa quando vocês invadiram a sede para recuperar a criança. Não pense que terá essa vantagem novamente. Uma missão de resgate seria suicídio!
- Tenho que tentar.
- AGENTE COLLINS! Não ouse! – Foi a última frase que ouvi antes de sair da cabine telefônica e me misturar entre os pedestres da Rua Cechowa.
Catherine Langford não poderia ser torturada, ou na melhor das opções, morrer, tudo por minha culpa. Eu não deixaria isso acontecer.
A missão era simples: Recuperar a filha do embaixador Russo, que havia sido raptada por um clã polonês bem debaixo de nosso nariz, em solo americano. O país não poderia aguentar o dano que isso traria às relações internacionais, principalmente no momento de fragilidade política que se encontravam.
Os Estados Unidos da América necessitavam de estabilidade. Algo que só seria alcançado se o escândalo fosse evitado e o assunto resolvido por debaixo dos panos. Eram necessários discrição, precisão e o mais alto grau de confidencialidade. A maioria dos americanos podiam não saber, mas precisavam urgentemente da Iniciativa.
Então nós agimos.
Na manhã após o ataque à base do Clã Nowak, nosso maior suspeito do sequestro, parecíamos ter vencido. O gostinho arrogante de mais um trabalho cumprido com sucesso parecia estar presente no café da manhã que eu tomava com Cathy.
Puséramos a criança em segurança e em um navio de volta para os EUA e voltamos para o hotel, satisfeitos.
- Quantas vezes eu ainda precisarei livrar sua bunda do perigo, ?!
- O que? – Falei com uma expressão incrédula enquanto entrávamos no elevador. –Será que eu e você estávamos na mesma missão?- Apertei o botão de nosso andar, enquanto continuava. - Porque até onde eu me recordo, foi essa bundinha aqui que matou metade dos Nowak!
- Só porque eu peguei os mais fortes! – Replicou, indignada.
- Ainda tem isso. Não entendo esse seu apetite pelos caras mais musculosos.
- Bem, você me acostumou mal, não foi ?! Se é para eu parar de ser atraída por músculos... –Replicou levantando os braços em rendição e saindo para o corredor do quarto andar.
Ela não conseguiu andar dois passos antes que eu a jogasse na parede e sibilasse em seu ouvido.
- E você por acaso quer que eu pare, Agente Langford? – Indaguei mordendo o lóbulo de sua orelha e trilhando beijos de seu pescoço até sua clavícula e o espaço entre seus seios.
- Vamos logo, . Para de me torturar nesse corredor. – Suspirou para mim com um meio sorriso.
- Querida, - Disse, puxando sua mão para o quarto. – Estou só começando.
Só de relembrar aquela tarde minha cabeça doía. Mas não como doeu após a pancada que recebi ao ouvir os gritos e a luta de Catherine quando era levada. Enfiaram uma agulha em meu pescoço, me apagando. Eu não consegui mover meu corpo, por um bom tempo depois, provavelmente havendo sido drogado.
Tive de assistir, impotente, enquanto levavam a única mulher que eu já havia amado em minha vida. A única que já conhecera minha verdadeira identidade e não saiu correndo como eu esperava.
Não. Catherine tinha esse dom de me surpreender. O que ela fez foi justamente o contrário. Ela pediu-me em casamento.
Eu pensava que ao saber de tudo sobre mim, de cada detalhe sórdido de meu passado, ela fugiria sem deixar rastros. A mulher era boa nisso. Mas não. Preferiu unir sua vida à minha.
Claro que não houve cerimônia. Nem alarde, ou convidados, já que ambos éramos órfãos e estávamos tecnicamente quebrando umas cinco regras de nossa agência secreta. Também tivemos de usar nomes falsos, mas o que valeu foi a emoção e a intenção do entrelace. A lua de mel foi a única coisa que realmente ocorreu de forma convencional. Pensando bem, acredito que fomos bem... Originais nesse quesito.
Minha parceira, minha esposa, minha confidente foi tirada de mim em um piscar de olhos. E eu não deixaria isso impune. Fui contra as ordens da Iniciativa e mais tarde tive que pagar o preço de tentar salvar o amor de minha vida.
Mas é claro que eu falhei. Ao sair daquela cabine telefônica eu sentia que poderia tudo, que conseguiria passar por cima de qualquer homem que se pusesse entre mim e minha esposa.
Porém, naquela batalha, quem venceu não fui eu, mas sim o mesmo homem que desejaria no futuro, a morte de Emmanuelle Atkins. O mesmo homem que matara minha mulher. Aquele que trouxera sangue às mãos dos, anteriormente, simples ativistas, Defensores Rubros.
Tudo isso foi obra da pessoa que eu mais odiava no mundo.
E seu codinome era James Blackwell.
Sometimes the silence guides our minds
So move to a place so far away”
24 de Dezembro de 2016 / Carmel Highlands, Califórnia
O fogo crepitava na lareira com suas chamas lambendo e consumindo as toras de madeira. Eu as encontrara no gazebo anexo a casa. Um armazém preenchido com todo o tipo de coisa que eu pudesse imaginar precisar para manutenção da casa. Desde ferramentas a kits de primeiros socorros.
A residência não era tão grande, mas era um luxo perto dos lugares que já tive de suportar em minha “profissão”. Certa vez, eu e minha antiga parceira Catherine tivemos de dividir uma caverna nas montanhas, perto de Chu Lai no Vietnã. Naquelas semanas eu provavelmente descobrira mais da mulher do que eu deveria. Ultrapassara os limites do que qualquer pessoa gostaria de saber sobre outra.
Mas aqui não. A casa de praia em Carmel acomodava confortavelmente a mim e a , de forma que pudéssemos conviver o mínimo possível. Ela ficava muito confinada no segundo andar enquanto eu me concentrava no primeiro. Outros oficiais que eu nem me incomodara de aprender o nome, rondavam a cidade em busca de qualquer atividade suspeita e ficavam na residência vizinha a poucos quilômetros de distância.
Estar tão longe de não fora escolha minha. Eu até tentara chama-la para jantarmos juntos algumas vezes. Mas após nossa última conversa, há dois dias atrás, era como se um muro nos separasse. As palavras ditas e não ditas pareceram haver deixado uma mancha irreparável em nossa relação.
Ninguém gostava de ser chamado de assassino. Eu não conseguira me conter ao gritar com ela. Eu sabia que aceitar essa missão seria um erro, por minha relação pessoal com um dos acusados, mas não é como se houvessem me dado muita escolha nesse quesito. Muito menos como se eu fosse deixar desprotegida.
A mulher andava pela casa e mesmo fora dela, tão despreocupadamente, que eu me perguntava se tinha algum instinto de autopreservação. A única indicação disso eram os ajustes e upgrades que ela sempre estava fazendo no sistema de câmeras e monitoramento remoto que eu havia espalhado pela casa e arredores. Tudo isso era meramente uma precaução. Até o momento, o resto dos Defensores Rubros e J. Blackwell estavam confortavelmente acomodados em uma cela de prisão. Só seriam liberados no caso, improvável, de o juiz declará-los inocentes de todas as acusações. É claro que nada os impedia de usarem suas conexões fora do cárcere para intervir no processo. Quando digo intervir, leia-se calar , da forma mais permanente e dolorosa que se possa pensar.
Era para isso que existia o WITSEC, afinal. Essa organização podia, legalmente e com qualidade e agilidade impressionantes, produzir novos documentos. Estes que tornavam em .
Eu não precisava da ajuda do WITSEC nesse quesito, pois meu cargo já trazia seus próprios benefícios. tinha uma ficha limpa e era a identidade que eu assumira pelo maior tempo em minha vida.
A cada missão eu provisoriamente mudava de personalidade, mas gostava de pensar que algo em minha existência era permanente. Que no meio de todas as farsas e espionagens, eu tinha algo verdadeiro pelo que lutar e retornar.
A mudança de nome e de local não seria suficiente. Era aí que eu entrava. Tinha três linhas de proteção e ao menos cinco planos elaborados esperando ativação. O primeiro círculo protetor era composto pelos sensores e câmeras espalhados ao redor da casa. O segundo era a sala do pânico composta de concreto com uma identificação ocular que somente abriria para .
A terceira e última, não se tratava mais de defesa, mas sim de uma linha de ataque composta por meus músculos, meu pensamento tático e meus anos de treinamento. Foram décadas servindo e passando de agência em agência, até que encontrasse uma que se enquadrasse com minhas habilidades, que acabou por ser a Iniciativa.
Só o que faltava era conversar com sobre os planos de evacuação em que ela estaria envolvida. O problema era que desde nossa discussão ela erguera uma barreira palpável entre nós. Isso me trazia de volta ao motivo pelo qual eu estava deitado de qualquer jeito no sofá, com meu laptop e pager a meu lado, caso houvesse alguma emergência. Sem saber como melhorar o clima que havia se estabelecido.
- Agente . – Ouvi a mulher chamar com a voz áspera.
- , -Eu respondi com uma careta curiosa quanto a suas vestimentas de frio dentro do ambiente aquecido.
- Eu queria...
- Estava pensando...
Começamos ao mesmo tempo. Vendo o silêncio que se instaurara, fiz um gesto como que dizendo vá em frente.
- Bem... Amanhã será natal. – Explicou, esperando que eu mesmo entendesse onde ela queria chegar.
A questão é que eu era um homem programado para seguir ordens ou para perseguir caminhos lógicos. Porém adivinhar pensamentos não estava na minha gama de habilidades.
- Certo. – Arregalei os olhos, suplicando-lhe que completasse seu pensamento.
- Ficaremos trancados aqui o dia inteiro? – Soltou ela, exasperada, como se fosse óbvio.
- Sim! Provavelmente Blackwell tem assassinos procurando por você em todas as cidades próximas ao local do julgamento.
- Eu só... – Sua voz quebrou-se em emoção. – Não quero viver dessa forma pelo resto de minha vida. Não vai melhorar depois que eu testemunhar, ou vai?
- Olha... Não quero te assustar . Mas a sensação de que tem alguém atrás de você vai ficar aí para sempre. Melhorará um pouco quando eles forem condenados e você não tiver mais a obrigação de comparecer à corte. Assim, é mais possível que consiga se misturar à massa de cidadãos dos Estados Unidos e possa viver em paz. Mas os primeiros anos, em que todos conhecem sua face, serão os mais difíceis. Você não poderá ser avistada, e terá de levar a vida calmamente até o próximo escândalo ocorrer.
- Mas para sempre terei de olhar por cima de meu ombro porque um maluco está querendo se vingar de mim! Por eu ser a responsável pela justiça condená-lo!
Suspirei, optando por ser sincero, quando todos haviam omitido dela a real extensão do perigo que passava.
- Sim. – Repliquei, olhando em seus olhos, que tentavam esconder algo de quebrar o coração. Era mágoa, realização de que seu tempo de viver acabara. Tudo o que ela poderia fazer a partir de agora era sobreviver.
- Obrigada, . – Disse, sentando-se a meu lado no sofá, depositando o pager na mesinha de centro. – Você tem sido muito sincero comigo, mas é que eu... Não estou tendo os melhores dias de minha vida.
Olhei para arrependido por tê-la posto no centro de toda a minha frieza e frustração.
- Eu é que devo desculpas. Sabe, , sou muito bom em meu trabalho. Agora em interagir com outras pessoas... Se não estou fingindo ser alguém... Eu não sei como lidar com isso. – Completei, gesticulando o ar entre nós.
A mulher colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha e surpreendeu-me com um abraço. Rapidamente envolveu meus ombros tensos com seus braços. Manteve-se assim até que eu relaxasse e devolvesse o abraço.
-Vai ficar tudo bem. – Assegurei a ela, afastando-me e olhando no fundo de seus olhos, a uma pequena distância de sua face.
desviou os olhos, mas eu segurei gentilmente seu queixo buscando atrair seu olhar de volta.
-Olhe para mim, ! Comigo, você estará a salvo. Eu prometo.
Ela inspirou fundo, eliminando o espaço entre nossas bocas, centímetro a centímetro até que eu não me lembrasse mais de que precisava de oxigênio para continuar vivo. Ficamos com os lábios a centímetros um do outro até que , meu alvo, meu trabalho, minha missão, tomasse a atitude que selaria não só o seu, mas também o meu destino e futuro.
Um ato que pareceu tão simples e inofensivo como um selinho foi o bater de asas do efeito borboleta em nossas vidas. Na hora nós não sabíamos. Ah, a benção da ignorância...
Um mero encostar de lábios, seguido por uma troca de olhares.
Ela, confusa. Eu, apavorado.
Até que a tensão no ar se tornasse tão pesada, que a mulher arrumou uma desculpa para retirar-se para seu quarto.
Um clima tão massacrante que eclipsou meu foco na missão.
E basta só um minuto de desatenção. Só um minuto para que todo o esquema que eu montara, para manter minha promessa e mantê-la segura, fosse por água abaixo.
O que eu tive de aprender, da pior maneira, mas em circunstâncias parecidas, é que o inimigo nunca descansa. Ele nem pisca até conseguir o que deseja.
13 de Novembro de 2014/ Cracóvia, Polônia
- Sim. – Replicou uma voz ríspida do outro lado da linha.
- Quero pedir uma pizza do Jerry’s.
Assim como eu esperava, a chamada foi repassada para uma secretária eletrônica que em poucos minutos respondeu em uma voz metálica.
- Qual é seu pedido?
- Agente , código Alpha-Bravo 32.
- Esta é uma linha segura, a quem deseja contatar?
- Emily Parker, central de comando da Iniciativa. - Pedi, recostando a cabeça no orelhão, cansado.
- Aguarde...
- Agente , status da missão.
- O alvo está sendo transportado por um meio seguro enquanto falamos.
- ... – Disse suspirando. - Essa linha é só para emergências. Diz que tem a porra de uma emergência e não está ligando mais uma vez para fazer perguntas que não deve. Aposto que isso tudo é coisa da sua parceira.
- Ela sumiu, Emily. Capturaram a Cathy. – Exalei tentando manter minha voz estável.
Minha superior manteve silêncio por alguns segundos. E mesmo sabendo quais seriam suas próximas palavras, me deixei ter esperanças.
Esperança que minha chefe pensava sobre como trazer Cathy de volta sem comprometer a missão. Mas no fundo eu sabia que esse não era o caso, que minha parceira estava perdida para sempre. Sabia quais seriam minhas ordens.
- ... Ela sabia dos riscos. Vocês dois sabiam. Não quero que se envolva mais nesse caso.
- Não. – Sussurrei, balançando a cabeça em negação. – Não deixo nenhum soldado para trás.
- , me escute! O Clã Nowak foi pego de surpresa quando vocês invadiram a sede para recuperar a criança. Não pense que terá essa vantagem novamente. Uma missão de resgate seria suicídio!
- Tenho que tentar.
- AGENTE COLLINS! Não ouse! – Foi a última frase que ouvi antes de sair da cabine telefônica e me misturar entre os pedestres da Rua Cechowa.
Catherine Langford não poderia ser torturada, ou na melhor das opções, morrer, tudo por minha culpa. Eu não deixaria isso acontecer.
A missão era simples: Recuperar a filha do embaixador Russo, que havia sido raptada por um clã polonês bem debaixo de nosso nariz, em solo americano. O país não poderia aguentar o dano que isso traria às relações internacionais, principalmente no momento de fragilidade política que se encontravam.
Os Estados Unidos da América necessitavam de estabilidade. Algo que só seria alcançado se o escândalo fosse evitado e o assunto resolvido por debaixo dos panos. Eram necessários discrição, precisão e o mais alto grau de confidencialidade. A maioria dos americanos podiam não saber, mas precisavam urgentemente da Iniciativa.
Então nós agimos.
Na manhã após o ataque à base do Clã Nowak, nosso maior suspeito do sequestro, parecíamos ter vencido. O gostinho arrogante de mais um trabalho cumprido com sucesso parecia estar presente no café da manhã que eu tomava com Cathy.
Puséramos a criança em segurança e em um navio de volta para os EUA e voltamos para o hotel, satisfeitos.
- Quantas vezes eu ainda precisarei livrar sua bunda do perigo, ?!
- O que? – Falei com uma expressão incrédula enquanto entrávamos no elevador. –Será que eu e você estávamos na mesma missão?- Apertei o botão de nosso andar, enquanto continuava. - Porque até onde eu me recordo, foi essa bundinha aqui que matou metade dos Nowak!
- Só porque eu peguei os mais fortes! – Replicou, indignada.
- Ainda tem isso. Não entendo esse seu apetite pelos caras mais musculosos.
- Bem, você me acostumou mal, não foi ?! Se é para eu parar de ser atraída por músculos... –Replicou levantando os braços em rendição e saindo para o corredor do quarto andar.
Ela não conseguiu andar dois passos antes que eu a jogasse na parede e sibilasse em seu ouvido.
- E você por acaso quer que eu pare, Agente Langford? – Indaguei mordendo o lóbulo de sua orelha e trilhando beijos de seu pescoço até sua clavícula e o espaço entre seus seios.
- Vamos logo, . Para de me torturar nesse corredor. – Suspirou para mim com um meio sorriso.
- Querida, - Disse, puxando sua mão para o quarto. – Estou só começando.
Só de relembrar aquela tarde minha cabeça doía. Mas não como doeu após a pancada que recebi ao ouvir os gritos e a luta de Catherine quando era levada. Enfiaram uma agulha em meu pescoço, me apagando. Eu não consegui mover meu corpo, por um bom tempo depois, provavelmente havendo sido drogado.
Tive de assistir, impotente, enquanto levavam a única mulher que eu já havia amado em minha vida. A única que já conhecera minha verdadeira identidade e não saiu correndo como eu esperava.
Não. Catherine tinha esse dom de me surpreender. O que ela fez foi justamente o contrário. Ela pediu-me em casamento.
Eu pensava que ao saber de tudo sobre mim, de cada detalhe sórdido de meu passado, ela fugiria sem deixar rastros. A mulher era boa nisso. Mas não. Preferiu unir sua vida à minha.
Claro que não houve cerimônia. Nem alarde, ou convidados, já que ambos éramos órfãos e estávamos tecnicamente quebrando umas cinco regras de nossa agência secreta. Também tivemos de usar nomes falsos, mas o que valeu foi a emoção e a intenção do entrelace. A lua de mel foi a única coisa que realmente ocorreu de forma convencional. Pensando bem, acredito que fomos bem... Originais nesse quesito.
Minha parceira, minha esposa, minha confidente foi tirada de mim em um piscar de olhos. E eu não deixaria isso impune. Fui contra as ordens da Iniciativa e mais tarde tive que pagar o preço de tentar salvar o amor de minha vida.
Mas é claro que eu falhei. Ao sair daquela cabine telefônica eu sentia que poderia tudo, que conseguiria passar por cima de qualquer homem que se pusesse entre mim e minha esposa.
Porém, naquela batalha, quem venceu não fui eu, mas sim o mesmo homem que desejaria no futuro, a morte de Emmanuelle Atkins. O mesmo homem que matara minha mulher. Aquele que trouxera sangue às mãos dos, anteriormente, simples ativistas, Defensores Rubros.
Tudo isso foi obra da pessoa que eu mais odiava no mundo.
E seu codinome era James Blackwell.
Parte Três
“Sometimes the silence guides our minds
So move to a place so far away
The goosebumps start to raise
The minute that my left hand meets your waist”
10 de Janeiro 2017 / Corte de Julgamentos, Califórnia
- Então, Senhorita , é verdade que você afirma ter feito parte do grupo de ativistas autointitulados a Defensa Rubra?
- Sim. –Respondeu , tomando um gole de água.
Eu observava da plateia no seu lado do Tribunal enquanto está respondia as mesmas perguntas, reformuladas de várias maneiras, para que seu testemunho pudesse ser usado sem sombra de dúvidas na incriminação de seus antigos companheiros.
- Preciso que liste os nomes dos envolvidos no massacre em sacramento.
- Todos da Defensa Rubra: Thomas Porter, Portia Richmond e Maxuel Hemming. Além do criminoso escondido sobre o codinome James Blackwell.
- Acredito que tenhamos uma petição do Diretor da Agência Central de Inteligência. – Falou o Juiz enquanto folheava o processo em sua mesa da sala de audiências.
- Sim Senhor, Meritíssimo, peço que o nome verdadeiro de James Blackwell seja mantido confidencial por questões de Segurança Nacional. – Pediu o Diretor adjunto da CIA.
- Concedido. – Acenou ele gesticulando para que a inquisição à , a testemunha chave do processo, tivesse continuidade.
- Senhorita gostaria de chamar sua atenção ao depoimento que obtivemos esta manhã de Thomas Porter. – Começou o advogado de defesa. – Faria a gentileza de ler o trecho iluminado?
limpou sua garganta e olhou para o papel. Seus olhos arregalaram-se desviando para mim por uns segundos e voltando ao advogado à sua frente.
- “Sacramento foi um plano arquitetado e executado completamente por . Sem ela e Blackwell nada teria ocorrido na gravidade que se deu.” – Leu a mulher corando violentamente. –Aquele maldito bastardo mentiroso! – Praguejou baixinho, mas eu não só podia ler seus lábios, como enxergar sua expressão de incredulidade.
- Ele afirma que a senhorita hackeou o sistema de câmeras e segurança da fábrica por tempo o suficiente para que Portia e Maxuel instalassem a bomba, correto?
- Sim, mas...
- A senhorita estava envolvida na explosão que matou centenas de trabalhadores em Sacramento?
- Eu...
- Estava ou não estava Senhorita ?! E deixe-me lembrá-la que está sob juramento.
- Estava. –Respondeu , cobrindo o rosto com as mãos, derrotada.
- Testemunha dispensada, Meritíssimo.
Ouviram-se murmúrios da multidão, obrigando o juiz a pedir ordem enquanto batia seu martelo.
Foi a vez do advogado da acusação inquirir a mulher.
- Senhorita . Ao hackear os sistemas da usina nuclear, a senhorita sabia para o que estava contribuindo?
- Não. Haviam me dito que o plano seria somente desligar os sistemas da usina, a deixando vulnerável, durante um dia.
- Mas em nenhum momento a senhorita soube da bomba?
- Não. Eu soube somente o que Thomas me contou. Ele era o único que estava comigo enquanto eu atacava os servidores da usina. Mas eu não tinha noção do motivo dele haver, anteriormente, contatado o Blackwell. Muito menos que Portia e Max estariam se aproveitando da brecha que eu criara no sistema, para plantar aquela maldita bomba. Foi ela a verdadeira responsável pelas mortes.
- É verdade que poderia ter tido muito mais mortes se a senhorita não houvesse percebido tudo no último segundo e religado o sistema de câmeras, alertando os seguranças?
- Sim. Quando soube o que estavam tramando, confrontei Thomas e ele me confessou o plano inteiro. Era tarde demais para desativar a bomba, mas ao menos alertei a polícia e deixei a Defensa Rubra para sempre.
- Uma última pergunta, por hoje. Se não estava envolvida nisso, como sabe que Blackwell foi o fornecedor da bomba?
- A bomba tinha uma peça que era a marca registrada de Blackwell, encontrada nos escombros, pela polícia. Eu a identifiquei colaborando com a investigação.
- Está dispensada, senhorita . – Falou o advogado, voltando a seu posto.
- Audiência encerrada por hoje. – Completou o juiz batendo seu martelo.
Levantei-me oferecendo o braço para , sendo seguido por dois agentes legítimos da WITSEC. Havia mais dois à nossa frente e um nos flancos. Todos vasculhando a multidão que atravessávamos por atividades suspeitas.
- Você está bem? –Perguntei, mirando sua expressão exausta.
- Sim. – Suspirou, apertando meu braço. – Poxa, estou muito bem. Claro que tem algumas pessoas tentando me matar e um agente muito gato que fica me seguindo pra cima e pra baixo pra se certificar que eu não tropece ou acabe torcendo meu pescoço acidentalmente. Mas fora isso estou simplesmente... Maravilhosa. –Terminou, com sarcasmo transbordando em seu tom.
- Sinto muito. – Respondi, lhe lançando um olhar simpático enquanto entrávamos no carro.
- Você já disse isso. Não é culpa sua. – Falou olhando para a janela do veículo enquanto eu dava partida.
- Agente gato, é? – Pisquei para a mulher.
- Eu me referia ao agente Coulson, não você. – Replicou ela, revirando os olhos.
- É por isso que você está corando, então? – Indaguei brincalhão.
se manteve em um silêncio envergonhado. Fingiu dormir durante o resto da viagem, sem saber que eu sabia dizer a diferença. Amava meu novo passatempo. Provocá-la era a única coisa que me trazia satisfação naquela missão.
Olhei para a placa da Rua Bacon, onde partiria caminhos com o comboio de veículos idênticos ao que eu dirigia. Cada um seguiria aleatoriamente para diversas cidades próximas, para o caso de estarmos sendo seguidos.
Dirigi em silêncio em direção à Carmel, olhando alguma vezes preocupado em direção ao retrovisor. Ainda havia um carro junto ao nosso que seguiria para a direita quando eu virasse a esquerda no final da Estrada Fields. Assim que estivéssemos oficialmente sós, entrávamos em uma zona maior de segurança. A chance de que quem nos seguisse soubesse qual direção tomar era muito pequena.
Quando estávamos quase na interseção- e eu já havia até ligado a seta- ouvi um alto estrondo que me fez levantar os olhos ao retrovisor novamente.
O que testemunhei fez com que girasse rapidamente o volante, fazendo os pneus cantarem e acordar, assustada, de sua falsa dormida.
- O que houve? – Perguntou, com os olhos enchendo de lágrimas ao ver o que eu vira.
O carro que estava atrás de nós, o que o Agente Coulson e a Agente Marin se encontravam, agora se reduzia a uma pilha de metal. Em nosso vidro traseiro havia respingos de sangue e algo que eu tinha quase certeza de se tratar de partículas de pele carbonizadas.
-Plantaram uma bomba no carro deles. Tivemos sorte de não terem instalado no carro correto.
Meu celular pré-pago soou, fazendo com que desse um pulo em seu banco. Ofereci a mão para ela e atendi, pisando fundo no acelerador para nos distanciarmos ao máximo do engavetamento e da confusão que se instalara.
- Agente falando.
- Agente, aqui é do comando, está tudo bem aí? O alvo foi atingido? Há algum ferido?
- Eu e estamos bem, mas... Pegaram Coulson e Marin. Explosivo, provavelmente não radioativo. Suspeito que seja obra de Blackwell.
- Tudo bem, agente. Retorne a seu posto e fique atento. Mais dois carros foram atingidos, um em cada região.
- É um aviso então... – Repliquei pensativo. – Quer dizer que estão perto.
- Suspeitamos que sim. Tenham cuidado.
- Teremos. – Respondi desligando o telefone ao ver que havíamos chegado a nosso destino.
Eu e ficamos olhando a praia deserta de dentro do carro. De onde eu o estacionara, podíamos ter uma visão quase perfeita da orla. Tirei a chave da ignição e soquei o volante, irritado. A mulher a meu lado observava o horizonte com uma expressão em choque, tremendo.
Deixei que ficasse mais alguns segundos absorvendo o que ocorrera e dei a volta no carro para carrega-la à residência. Normalmente a mulher me mataria por sugerir que eu a carregasse, mas tudo o que fez foi envolver os braços frouxamente em meu pescoço e esconder o rosto em meu peito.
Sentei-a junto a mim no sofá, fazendo carinho em seu cabelo.
- Estou aqui. Não se preocupe, estou aqui com você. – Afirmei repetidamente em uma tentativa de tranquiliza-la.
- Fique aqui, ok? – Falei, desvencilhando-me de seu corpo. – Vou preparar um chá para você e acender o fogo.
Senti sua mão segurar meu braço em uma agarra de ferro. A face dela aproximou-se da minha. Seus olhos vermelhos vasculhando os meus, em desespero.
- Não. Só não me deixe, por favor.
- Tudo bem. – Respondi, voltando a envolvê-la em um abraço reconfortante.
Não saberia dizer por quanto tempo ficamos dessa forma. Só nos abraçando no frio do recinto e olhando para o teto de madeira da cabana. Mas quando nos retiramos para nossos respectivos quartos, lá fora já estava escuro e a lua já se mostrava no auge de seu ciclo.
Deitei em minha cama, cansado. Amanhã seria um novo dia, com novos desafios e eu precisava retomar meu foco na proteção de . Meu pager vibrou, com um alerta de minha protegida.
Não parei nem para vestir uma blusa e adentrei seu quarto em um rompante com minha arma em punho. Certamente não esperava ver a mulher calmamente recostada em sua cama lendo um livro.
- ! Pelo amor de Deus, abaixe essa arma. Estou bem, está vendo? –Disse levantando-se em minha direção e pegando minha mão entre as suas.
- Esse alarme é pra emergências, . – Repliquei, abaixando a Glock.
- Desculpa, eu sei. Eu queria te pedir algo e sinceramente, estava com medo de ir até seu quarto. O dia de hoje foi muito complicado e...
- Sim, eu entendo...
- Não seria mais seguro se você dormisse aqui? Comigo? – Falou com uma voz rouca.
Arregalei meus olhos, sem saber bem como lhe responder.
- Er... Estrategicamente falando... Sim. Seria melhor. Isso se você não se importar de... Você sabe.
- Tudo bem. Eu não me importo. – Sorriu, puxando-me pela mão para a cama de casal.
Depositei minha arma na cabeceira da cama, a meu lado e deitei o mais afastado possível de . Ficamos em um silêncio esquisito por alguns segundos.
- ? – Chamou de seu lado.
- Sim. – Respondi, virando a cabeça em sua direção.
A mulher olhava pra cima, encolhida em seu lado.
- Você acha que seria menos esquisito se nós só... Rompêssemos esse espaço?
- Tudo bem, só não quero te deixar desconfortável.
Aproximamo-nos no centro da cama, até nossos braços se encostarem, de forma realmente reconfortante.
- Desculpe por pedir isso, juro que é só por hoje. – Ela falou, escondendo o rosto, em vergonha, com uma das mãos.
- Eu não me importo. Mesmo. Sempre que precisar. – Completei, segurando sua mão e conseguindo relaxar em um sonho, como eu não fazia há tempos.
30 de Julho de 2016 / Sacramento, Califórnia
’s P.O.V.
-É fácil assim, está vendo? Agora controlo toda a rede da fábrica. Se quiser dar um susto neles desligando a energia ou algo assim, é só eu clicar nesse botão. –Disse, gesticulando para o teclado de meu notebook.
- Como você faz isso, ? – Perguntou Thomas, genuinamente admirado.
- Ah, bem. – Soltei uma risadinha, tímida. – Não foi nada tão complicado. Só usei um cavalo de tróia para passar pelo firewall deles a partir de seu próprio hardware.
Thomas abriu uma expressão confusa, me fazendo corar ainda mais.
- Adoro quando você fala coisas que não entendo, querida. Isso é tão sexy!
-Basicamente eu mandei um email com um vírus inserido. Só basta um empregado da fábrica abri-lo para que eu tome controle de seus computadores internamente. Entende?
- Agora que peguei a referência do cavalo de tróia! – Exclamou triunfante, estalando os lábios, satisfeito.
- O que quer que eu faça agora? – Perguntei, curiosa quanto ao plano que haviam completamente me excluído da elaboração.
Portia me explicara que era melhor que eu não soubesse. Imaginei que tivesse algo relacionado a não aumentar muito minhas expectativas. Na última missão que eu mesma me encarregara de planejar e liderar, tudo fora por água abaixo e os advogados da empresa de mineração, corrupta, conseguiram estragar tudo.
Meses de preparação para botar abaixo a empresa suja foram jogados no lixo. Eu ainda me culpava muito pelo incidente. Thomas insistia que não fora minha culpa, mas eu não queria acreditar nisso.
Na verdade, não fora só nossa última missão que encalhara.
A Defensa Rubra já fora um grupo respeitado de ativistas que se impunham à indústria para manterem o meio ambiente, a justiça e o bem-estar geral a salvo. Porém, com os anos, as corporações foram fazendo uso de estrategemas mais complexos e secretos.
De alguma forma, nosso trabalho passou a ser o de desmascarar tais escândalos. O problema era que assim como as empresas haviam aprendido a tramar esquemas mais podres e elaborados, também aprenderam o valor de ter uma grande equipe de advogados à disposição.
Assim, quando me pediram pra ficar de fora desse plano, eu não reclamara. Por um lado eu via isso como uma punição pela minha falta de resultados. Afinal, eu já liderara o grupo por muito tempo, mas parecia que os anos dourados haviam chegado ao fim.
Por outro, eu tinha uma teoria de que Thomas queria me fazer uma surpresa. Nada melhor do que me trazer uma vitória como a queda da Nuclear Corporations e bem a tempo de meu aniversário.
- Baby, só desligue as câmeras de segurança e todos os sistemas de alarme. Preciso fazer uma ligação, já volto. – Começou, beijando minha testa com um sorriso enigmático. – Eu te amo, não se esqueça de que tudo isso é por você.
- Também te amo. – Respondi, com um biquinho.
Eu amava mitos gregos. Conhecia muitos deles, mas o meu preferido era o da Caixa de Pandora. Mesmo sabendo o desfecho dessa estória, que eu considerava uma verdadeira tragédia, não consegui me conter a “abrir a caixa misteriosa”. Bem, no meu caso isso significava ouvir a conversa de Thomas. Mas o ponto é que assim como Pandora, fui vencida pela droga da curiosidade.
Caminhei pelo corredor, seguindo a voz baixa de meu namorado e aproximei-me da porta do escritório de nosso pequeno quartel general do grupo, a.k.a. meu apartamento.
- Sim, ela já fez a baboseira nerd dela, estamos dentro!
- Pelo amor de deus, tenham cuidado. Não queremos ela detonando antes do tempo.
- Portia, só instala essa merda logo. E não, você não vai explodir, cacete!
Congelei com minha mão prestes a abrir a maçaneta.
Oh Deus, não pode ser!
Corri o mais silenciosamente possível em direção a meu quarto e fiz uma mochila, apressadamente. Peguei meu computador e fugi do apartamento antes que Thomas pudesse me impedir.
Finalmente as pequenas peças que eu havia desvendado durante os meses passados haviam se encaixado em minha mente. E a imagem do que estava acontecendo não era nada bonita.
O sussurro do nome Blackwell que eu ouvira Portia entoando enquanto conversava com Max, todo o nervosismo fora do comum que ambos haviam saído daqui para a missão. Tudo estava ligado e eu ia entregar cada detalhe para a polícia.
Do metrô eu abri a tela de meu computador e trabalhei para religar os sistemas de vigilância. Era o mínimo que poderia fazer por eles naquele momento. Meu celular tocou e quase não atendi ao ver que se tratava de Thomas. Mas lembre-se que eu era como Pandora. A curiosidade vencia sempre.
- Como você pôde?! – Exclamei, sem nem esperar que ele se pronunciasse.
- Nossas velhas maneiras não funcionam mais, ! Você viu, tentamos da forma boazinha, mas nesse país parece que só há um jeito de chamar atenção.
- Matando pessoas inocentes? – Sussurrei, com um tom de puro ódio e mágoa. – Não somos assassinos, me recuso a entrar nisso!
- Eu te amo! Não queria mais vê-la sofrendo a cada fracasso nosso! A Defensa foi uma criação sua e eu não aguentaria ver você sofrendo mais.
Agora sim sua última frase para mim antes que eu fugisse fizera sentido.
“Eu te amo, não se esqueça de que tudo isso é por você.”
Comecei a aceitar o fato de que meu namorado era doente e nunca entenderia o que era amor de verdade.
- Não me fale de amor. Você mentiu pra mim, Thomas! Já chega.
- Mas amor...
- Não! Quero que saiba que você, Thomas, você é o culpado por deturpar a coisa que eu mais amava no mundo. A Defensa Rubra já foi família, mas agora não passa de um bando de terroristas.
Terminei a ligação, não perdendo mais tempo antes de ligar o noticiário online. Imagens aterrorizantes apareceram imediatamente. Onde antes existia a Nuclear Corporations agora havia um enorme buraco.
Meus olhos encheram-se de lágrimas e ouvi um grito.
- NÃO! AMOR, NÃO! – Berrava uma mulher, acalentada por uma multidão de estranhos, ao receber uma ligação.
A empresa, por mais vil que fosse ao meio ambiente, era responsável por gerar muitos empregos aqui em Sacramento. Muitos deviam ter perdido família e amigos na explosão. E eu fazia parte disso... Pensei, destruída por dentro.
Saltei na estação da sede local do F.B.I. e me encaminhei até o lugar, agitado com todo o caos que havia se instalado na cidade.
Fui até a recepção, inspirando fundo e soltei com toda a energia que me restava:
- Meu nome é . Tenho informações sobre a explosão e sobre James Blackwell. Vou aguardar aqui enquanto você chama quem quer que seja o encarregado, ok?
E deixei o homem de olhos arregalados, discar apressadamente um número de telefone, berrando para a outra ponta da ligação enquanto eu calmamente me servia um copo d’água e buscava na Deep Web o que quer que tivesse de descobrir sobre o tal do Blackwell.
Se meus antigos amigos iriam cair por causa daquilo, aquele maldito criminoso, que forneceu a bomba em primeiro lugar, também iria.
So move to a place so far away
The goosebumps start to raise
The minute that my left hand meets your waist”
10 de Janeiro 2017 / Corte de Julgamentos, Califórnia
- Então, Senhorita , é verdade que você afirma ter feito parte do grupo de ativistas autointitulados a Defensa Rubra?
- Sim. –Respondeu , tomando um gole de água.
Eu observava da plateia no seu lado do Tribunal enquanto está respondia as mesmas perguntas, reformuladas de várias maneiras, para que seu testemunho pudesse ser usado sem sombra de dúvidas na incriminação de seus antigos companheiros.
- Preciso que liste os nomes dos envolvidos no massacre em sacramento.
- Todos da Defensa Rubra: Thomas Porter, Portia Richmond e Maxuel Hemming. Além do criminoso escondido sobre o codinome James Blackwell.
- Acredito que tenhamos uma petição do Diretor da Agência Central de Inteligência. – Falou o Juiz enquanto folheava o processo em sua mesa da sala de audiências.
- Sim Senhor, Meritíssimo, peço que o nome verdadeiro de James Blackwell seja mantido confidencial por questões de Segurança Nacional. – Pediu o Diretor adjunto da CIA.
- Concedido. – Acenou ele gesticulando para que a inquisição à , a testemunha chave do processo, tivesse continuidade.
- Senhorita gostaria de chamar sua atenção ao depoimento que obtivemos esta manhã de Thomas Porter. – Começou o advogado de defesa. – Faria a gentileza de ler o trecho iluminado?
limpou sua garganta e olhou para o papel. Seus olhos arregalaram-se desviando para mim por uns segundos e voltando ao advogado à sua frente.
- “Sacramento foi um plano arquitetado e executado completamente por . Sem ela e Blackwell nada teria ocorrido na gravidade que se deu.” – Leu a mulher corando violentamente. –Aquele maldito bastardo mentiroso! – Praguejou baixinho, mas eu não só podia ler seus lábios, como enxergar sua expressão de incredulidade.
- Ele afirma que a senhorita hackeou o sistema de câmeras e segurança da fábrica por tempo o suficiente para que Portia e Maxuel instalassem a bomba, correto?
- Sim, mas...
- A senhorita estava envolvida na explosão que matou centenas de trabalhadores em Sacramento?
- Eu...
- Estava ou não estava Senhorita ?! E deixe-me lembrá-la que está sob juramento.
- Estava. –Respondeu , cobrindo o rosto com as mãos, derrotada.
- Testemunha dispensada, Meritíssimo.
Ouviram-se murmúrios da multidão, obrigando o juiz a pedir ordem enquanto batia seu martelo.
Foi a vez do advogado da acusação inquirir a mulher.
- Senhorita . Ao hackear os sistemas da usina nuclear, a senhorita sabia para o que estava contribuindo?
- Não. Haviam me dito que o plano seria somente desligar os sistemas da usina, a deixando vulnerável, durante um dia.
- Mas em nenhum momento a senhorita soube da bomba?
- Não. Eu soube somente o que Thomas me contou. Ele era o único que estava comigo enquanto eu atacava os servidores da usina. Mas eu não tinha noção do motivo dele haver, anteriormente, contatado o Blackwell. Muito menos que Portia e Max estariam se aproveitando da brecha que eu criara no sistema, para plantar aquela maldita bomba. Foi ela a verdadeira responsável pelas mortes.
- É verdade que poderia ter tido muito mais mortes se a senhorita não houvesse percebido tudo no último segundo e religado o sistema de câmeras, alertando os seguranças?
- Sim. Quando soube o que estavam tramando, confrontei Thomas e ele me confessou o plano inteiro. Era tarde demais para desativar a bomba, mas ao menos alertei a polícia e deixei a Defensa Rubra para sempre.
- Uma última pergunta, por hoje. Se não estava envolvida nisso, como sabe que Blackwell foi o fornecedor da bomba?
- A bomba tinha uma peça que era a marca registrada de Blackwell, encontrada nos escombros, pela polícia. Eu a identifiquei colaborando com a investigação.
- Está dispensada, senhorita . – Falou o advogado, voltando a seu posto.
- Audiência encerrada por hoje. – Completou o juiz batendo seu martelo.
Levantei-me oferecendo o braço para , sendo seguido por dois agentes legítimos da WITSEC. Havia mais dois à nossa frente e um nos flancos. Todos vasculhando a multidão que atravessávamos por atividades suspeitas.
- Você está bem? –Perguntei, mirando sua expressão exausta.
- Sim. – Suspirou, apertando meu braço. – Poxa, estou muito bem. Claro que tem algumas pessoas tentando me matar e um agente muito gato que fica me seguindo pra cima e pra baixo pra se certificar que eu não tropece ou acabe torcendo meu pescoço acidentalmente. Mas fora isso estou simplesmente... Maravilhosa. –Terminou, com sarcasmo transbordando em seu tom.
- Sinto muito. – Respondi, lhe lançando um olhar simpático enquanto entrávamos no carro.
- Você já disse isso. Não é culpa sua. – Falou olhando para a janela do veículo enquanto eu dava partida.
- Agente gato, é? – Pisquei para a mulher.
- Eu me referia ao agente Coulson, não você. – Replicou ela, revirando os olhos.
- É por isso que você está corando, então? – Indaguei brincalhão.
se manteve em um silêncio envergonhado. Fingiu dormir durante o resto da viagem, sem saber que eu sabia dizer a diferença. Amava meu novo passatempo. Provocá-la era a única coisa que me trazia satisfação naquela missão.
Olhei para a placa da Rua Bacon, onde partiria caminhos com o comboio de veículos idênticos ao que eu dirigia. Cada um seguiria aleatoriamente para diversas cidades próximas, para o caso de estarmos sendo seguidos.
Dirigi em silêncio em direção à Carmel, olhando alguma vezes preocupado em direção ao retrovisor. Ainda havia um carro junto ao nosso que seguiria para a direita quando eu virasse a esquerda no final da Estrada Fields. Assim que estivéssemos oficialmente sós, entrávamos em uma zona maior de segurança. A chance de que quem nos seguisse soubesse qual direção tomar era muito pequena.
Quando estávamos quase na interseção- e eu já havia até ligado a seta- ouvi um alto estrondo que me fez levantar os olhos ao retrovisor novamente.
O que testemunhei fez com que girasse rapidamente o volante, fazendo os pneus cantarem e acordar, assustada, de sua falsa dormida.
- O que houve? – Perguntou, com os olhos enchendo de lágrimas ao ver o que eu vira.
O carro que estava atrás de nós, o que o Agente Coulson e a Agente Marin se encontravam, agora se reduzia a uma pilha de metal. Em nosso vidro traseiro havia respingos de sangue e algo que eu tinha quase certeza de se tratar de partículas de pele carbonizadas.
-Plantaram uma bomba no carro deles. Tivemos sorte de não terem instalado no carro correto.
Meu celular pré-pago soou, fazendo com que desse um pulo em seu banco. Ofereci a mão para ela e atendi, pisando fundo no acelerador para nos distanciarmos ao máximo do engavetamento e da confusão que se instalara.
- Agente falando.
- Agente, aqui é do comando, está tudo bem aí? O alvo foi atingido? Há algum ferido?
- Eu e estamos bem, mas... Pegaram Coulson e Marin. Explosivo, provavelmente não radioativo. Suspeito que seja obra de Blackwell.
- Tudo bem, agente. Retorne a seu posto e fique atento. Mais dois carros foram atingidos, um em cada região.
- É um aviso então... – Repliquei pensativo. – Quer dizer que estão perto.
- Suspeitamos que sim. Tenham cuidado.
- Teremos. – Respondi desligando o telefone ao ver que havíamos chegado a nosso destino.
Eu e ficamos olhando a praia deserta de dentro do carro. De onde eu o estacionara, podíamos ter uma visão quase perfeita da orla. Tirei a chave da ignição e soquei o volante, irritado. A mulher a meu lado observava o horizonte com uma expressão em choque, tremendo.
Deixei que ficasse mais alguns segundos absorvendo o que ocorrera e dei a volta no carro para carrega-la à residência. Normalmente a mulher me mataria por sugerir que eu a carregasse, mas tudo o que fez foi envolver os braços frouxamente em meu pescoço e esconder o rosto em meu peito.
Sentei-a junto a mim no sofá, fazendo carinho em seu cabelo.
- Estou aqui. Não se preocupe, estou aqui com você. – Afirmei repetidamente em uma tentativa de tranquiliza-la.
- Fique aqui, ok? – Falei, desvencilhando-me de seu corpo. – Vou preparar um chá para você e acender o fogo.
Senti sua mão segurar meu braço em uma agarra de ferro. A face dela aproximou-se da minha. Seus olhos vermelhos vasculhando os meus, em desespero.
- Não. Só não me deixe, por favor.
- Tudo bem. – Respondi, voltando a envolvê-la em um abraço reconfortante.
Não saberia dizer por quanto tempo ficamos dessa forma. Só nos abraçando no frio do recinto e olhando para o teto de madeira da cabana. Mas quando nos retiramos para nossos respectivos quartos, lá fora já estava escuro e a lua já se mostrava no auge de seu ciclo.
Deitei em minha cama, cansado. Amanhã seria um novo dia, com novos desafios e eu precisava retomar meu foco na proteção de . Meu pager vibrou, com um alerta de minha protegida.
Não parei nem para vestir uma blusa e adentrei seu quarto em um rompante com minha arma em punho. Certamente não esperava ver a mulher calmamente recostada em sua cama lendo um livro.
- ! Pelo amor de Deus, abaixe essa arma. Estou bem, está vendo? –Disse levantando-se em minha direção e pegando minha mão entre as suas.
- Esse alarme é pra emergências, . – Repliquei, abaixando a Glock.
- Desculpa, eu sei. Eu queria te pedir algo e sinceramente, estava com medo de ir até seu quarto. O dia de hoje foi muito complicado e...
- Sim, eu entendo...
- Não seria mais seguro se você dormisse aqui? Comigo? – Falou com uma voz rouca.
Arregalei meus olhos, sem saber bem como lhe responder.
- Er... Estrategicamente falando... Sim. Seria melhor. Isso se você não se importar de... Você sabe.
- Tudo bem. Eu não me importo. – Sorriu, puxando-me pela mão para a cama de casal.
Depositei minha arma na cabeceira da cama, a meu lado e deitei o mais afastado possível de . Ficamos em um silêncio esquisito por alguns segundos.
- ? – Chamou de seu lado.
- Sim. – Respondi, virando a cabeça em sua direção.
A mulher olhava pra cima, encolhida em seu lado.
- Você acha que seria menos esquisito se nós só... Rompêssemos esse espaço?
- Tudo bem, só não quero te deixar desconfortável.
Aproximamo-nos no centro da cama, até nossos braços se encostarem, de forma realmente reconfortante.
- Desculpe por pedir isso, juro que é só por hoje. – Ela falou, escondendo o rosto, em vergonha, com uma das mãos.
- Eu não me importo. Mesmo. Sempre que precisar. – Completei, segurando sua mão e conseguindo relaxar em um sonho, como eu não fazia há tempos.
30 de Julho de 2016 / Sacramento, Califórnia
’s P.O.V.
-É fácil assim, está vendo? Agora controlo toda a rede da fábrica. Se quiser dar um susto neles desligando a energia ou algo assim, é só eu clicar nesse botão. –Disse, gesticulando para o teclado de meu notebook.
- Como você faz isso, ? – Perguntou Thomas, genuinamente admirado.
- Ah, bem. – Soltei uma risadinha, tímida. – Não foi nada tão complicado. Só usei um cavalo de tróia para passar pelo firewall deles a partir de seu próprio hardware.
Thomas abriu uma expressão confusa, me fazendo corar ainda mais.
- Adoro quando você fala coisas que não entendo, querida. Isso é tão sexy!
-Basicamente eu mandei um email com um vírus inserido. Só basta um empregado da fábrica abri-lo para que eu tome controle de seus computadores internamente. Entende?
- Agora que peguei a referência do cavalo de tróia! – Exclamou triunfante, estalando os lábios, satisfeito.
- O que quer que eu faça agora? – Perguntei, curiosa quanto ao plano que haviam completamente me excluído da elaboração.
Portia me explicara que era melhor que eu não soubesse. Imaginei que tivesse algo relacionado a não aumentar muito minhas expectativas. Na última missão que eu mesma me encarregara de planejar e liderar, tudo fora por água abaixo e os advogados da empresa de mineração, corrupta, conseguiram estragar tudo.
Meses de preparação para botar abaixo a empresa suja foram jogados no lixo. Eu ainda me culpava muito pelo incidente. Thomas insistia que não fora minha culpa, mas eu não queria acreditar nisso.
Na verdade, não fora só nossa última missão que encalhara.
A Defensa Rubra já fora um grupo respeitado de ativistas que se impunham à indústria para manterem o meio ambiente, a justiça e o bem-estar geral a salvo. Porém, com os anos, as corporações foram fazendo uso de estrategemas mais complexos e secretos.
De alguma forma, nosso trabalho passou a ser o de desmascarar tais escândalos. O problema era que assim como as empresas haviam aprendido a tramar esquemas mais podres e elaborados, também aprenderam o valor de ter uma grande equipe de advogados à disposição.
Assim, quando me pediram pra ficar de fora desse plano, eu não reclamara. Por um lado eu via isso como uma punição pela minha falta de resultados. Afinal, eu já liderara o grupo por muito tempo, mas parecia que os anos dourados haviam chegado ao fim.
Por outro, eu tinha uma teoria de que Thomas queria me fazer uma surpresa. Nada melhor do que me trazer uma vitória como a queda da Nuclear Corporations e bem a tempo de meu aniversário.
- Baby, só desligue as câmeras de segurança e todos os sistemas de alarme. Preciso fazer uma ligação, já volto. – Começou, beijando minha testa com um sorriso enigmático. – Eu te amo, não se esqueça de que tudo isso é por você.
- Também te amo. – Respondi, com um biquinho.
Eu amava mitos gregos. Conhecia muitos deles, mas o meu preferido era o da Caixa de Pandora. Mesmo sabendo o desfecho dessa estória, que eu considerava uma verdadeira tragédia, não consegui me conter a “abrir a caixa misteriosa”. Bem, no meu caso isso significava ouvir a conversa de Thomas. Mas o ponto é que assim como Pandora, fui vencida pela droga da curiosidade.
Caminhei pelo corredor, seguindo a voz baixa de meu namorado e aproximei-me da porta do escritório de nosso pequeno quartel general do grupo, a.k.a. meu apartamento.
- Sim, ela já fez a baboseira nerd dela, estamos dentro!
- Pelo amor de deus, tenham cuidado. Não queremos ela detonando antes do tempo.
- Portia, só instala essa merda logo. E não, você não vai explodir, cacete!
Congelei com minha mão prestes a abrir a maçaneta.
Oh Deus, não pode ser!
Corri o mais silenciosamente possível em direção a meu quarto e fiz uma mochila, apressadamente. Peguei meu computador e fugi do apartamento antes que Thomas pudesse me impedir.
Finalmente as pequenas peças que eu havia desvendado durante os meses passados haviam se encaixado em minha mente. E a imagem do que estava acontecendo não era nada bonita.
O sussurro do nome Blackwell que eu ouvira Portia entoando enquanto conversava com Max, todo o nervosismo fora do comum que ambos haviam saído daqui para a missão. Tudo estava ligado e eu ia entregar cada detalhe para a polícia.
Do metrô eu abri a tela de meu computador e trabalhei para religar os sistemas de vigilância. Era o mínimo que poderia fazer por eles naquele momento. Meu celular tocou e quase não atendi ao ver que se tratava de Thomas. Mas lembre-se que eu era como Pandora. A curiosidade vencia sempre.
- Como você pôde?! – Exclamei, sem nem esperar que ele se pronunciasse.
- Nossas velhas maneiras não funcionam mais, ! Você viu, tentamos da forma boazinha, mas nesse país parece que só há um jeito de chamar atenção.
- Matando pessoas inocentes? – Sussurrei, com um tom de puro ódio e mágoa. – Não somos assassinos, me recuso a entrar nisso!
- Eu te amo! Não queria mais vê-la sofrendo a cada fracasso nosso! A Defensa foi uma criação sua e eu não aguentaria ver você sofrendo mais.
Agora sim sua última frase para mim antes que eu fugisse fizera sentido.
“Eu te amo, não se esqueça de que tudo isso é por você.”
Comecei a aceitar o fato de que meu namorado era doente e nunca entenderia o que era amor de verdade.
- Não me fale de amor. Você mentiu pra mim, Thomas! Já chega.
- Mas amor...
- Não! Quero que saiba que você, Thomas, você é o culpado por deturpar a coisa que eu mais amava no mundo. A Defensa Rubra já foi família, mas agora não passa de um bando de terroristas.
Terminei a ligação, não perdendo mais tempo antes de ligar o noticiário online. Imagens aterrorizantes apareceram imediatamente. Onde antes existia a Nuclear Corporations agora havia um enorme buraco.
Meus olhos encheram-se de lágrimas e ouvi um grito.
- NÃO! AMOR, NÃO! – Berrava uma mulher, acalentada por uma multidão de estranhos, ao receber uma ligação.
A empresa, por mais vil que fosse ao meio ambiente, era responsável por gerar muitos empregos aqui em Sacramento. Muitos deviam ter perdido família e amigos na explosão. E eu fazia parte disso... Pensei, destruída por dentro.
Saltei na estação da sede local do F.B.I. e me encaminhei até o lugar, agitado com todo o caos que havia se instalado na cidade.
Fui até a recepção, inspirando fundo e soltei com toda a energia que me restava:
- Meu nome é . Tenho informações sobre a explosão e sobre James Blackwell. Vou aguardar aqui enquanto você chama quem quer que seja o encarregado, ok?
E deixei o homem de olhos arregalados, discar apressadamente um número de telefone, berrando para a outra ponta da ligação enquanto eu calmamente me servia um copo d’água e buscava na Deep Web o que quer que tivesse de descobrir sobre o tal do Blackwell.
Se meus antigos amigos iriam cair por causa daquilo, aquele maldito criminoso, que forneceu a bomba em primeiro lugar, também iria.
Parte Quatro
“These hearts adore
Everyone the other beats hardest for
Inside this place is warm
Outside it starts to pour”
21 de Janeiro 2017 / Corte de Julgamentos, Califórnia
’s P.O.V.
Eu ouvia responder a perguntas durante horas, recostado na parede gelada do tribunal.
- Estudamos aquela usina durante meses, pensando em como chamar a atenção dos diretores para o problema do descarte indevido do lixo industrial. Mas quando se tratava do plano em si, fizeram segredo de mim o tempo inteiro. – Respondeu ela.
- Entendo, Senhorita . Então realmente não fazia ideia de nada relacionado a bomba.
- Não. Não até que fosse tarde demais.
- Qual foi o exato momento em que descobriu toda a farsa?
- Quando ouvi Thomas fazendo uma ligação. Acho que durante todos aqueles meses de planejamento eu coletara fragmentos de informação que só fizeram sentido após aquela última peça.
- Uma última questão por hoje, Doutor Dupont. – Solicitou o juiz acenando para o homem franzino conduzindo a inquisição de cada detalhe da operação.
- Obrigado, meritíssimo. , é verdade que a senhorita era namorada do Senhor Thomas?
- Sim. – Respondeu ela, olhando para mim, furtivamente.
Corei ao imaginar o motivo. Havíamos dormido juntos. Não no sentido divertido da palavra, mas mesmo assim. Acordar ao lado dela, expor uma parte tão vulnerável de mim a ela, fora algo capaz de mudar completamente a relação entre nós.
Agora estávamos muito... Íntimos. Caminhávamos por um terreno perigoso de pequenos toques e abraços constantes. O contato físico crescera tanto que ao dormir, ela nem ao menos tinha mais vergonha de aconchegar-se em meu peito. E é a pessoa mais tímida que eu conheço. Confesso que acho isso muito atraente. Não que eu deixasse transparecer. Esperava que não, pelo menos. Eu também não estava exatamente reclamando de dormir em sua cama. Ah, sim. Após a primeira noite, isso virara um hábito, ou talvez um vício mesmo.
Porque era viciante a sensação de tê-la em meus braços. Confiando completamente em mim para protege-la de qualquer ameaça física.
Na verdade, a mulher por completo era como uma droga para mim. Eu queria sempre mais. Mais de nossas discussões fracas sobre algo irrelevante, mais dela dando uma de esperta babulciando algo sobre firewalls, vermes e outros termos que eu só ouvira em filmes, e olha que eu era um espião.
Confesso que a despeito de meu trabalho, eu só sabia o básico quando se tratava de hackear. Eu era mimado pela Iniciativa. Meus trabalhos envolviam no máximo, espetar um pen-drive que fazia todo o trabalho por mim. Só precisava esperar a luzinha vermelha virar verde.
Quando eu explicara isso a ela rira de mim por horas. Não costumava gostar que rissem de mim, mas quando se tratava daquela mulher irritantemente linda e inteligente, não havia nada que eu não aceitasse com um sorriso no rosto.
- Meritíssimo, se me permite só mais um questionamento, na mesma linha da última pergunta...
- Concedido. –Replicou o juiz, revirando os olhos. –Só mais uma.
- , qual o motivo em sua opinião, como namorada de Thomas, o levou a envolver-se com o terrorismo?
- Eu acredito que Thomas tem alguma ideia deturpada de que fez tudo por mim. Que essa era a única forma de receber resultados. Que ao obtê-los para mim eu ficaria feliz novamente. Mas juro que nunca dei a entender que iria querer algo assim.
- Testemunha dispensada. – Falou a voz entediada do juiz, novamente batendo seu martelo.
Suspirei aproximando-me de .
- Pronta, companheira?
- Claro. – Respondeu sorridente, agarrando meu braço. –Escolte-me de volta à minha cela, Agente .
Franzi a testa com sua brincadeira deprimente. Desde o atentado ao veículo de extração do tribunal, eu não a deixara sair de casa nenhuma vez, a não ser que fosse para o julgamento. Talvez eu estivesse sendo rígido demais com a mulher.
- Temo que não poderei realizar seu pedido, madame. –Respondi, entrando no carro com uma careta pensativa.
- O que quer dizer? –Perguntou ela, ligando o rádio na estação de rock que me obrigava a ouvir.
- Aperte o cinto, baby! Vamos dar uma volta.
- Sangue de Jesus tem poder! – Exclamou entre gargalhadas alegres, fazendo o que pedi.
- Troca essa estação também, por favor! – Continuei, esperando que ela continuasse a atender a minhas solicitações.
- Não! – Replicou com um sorrisinho cruel.
- Mas, mass.... – Tentei argumentar, fazendo minha melhor cara de cachorro pidão.
- Nu-uh. – Disse, aumentando ainda mais o som, só para me irritar.
- Malvada!
- Enjoado! – Replicou, sorrindo para mim docemente. – Obrigada, ! Eu preciso dessa saída.
-Eu também. Se passar mais um segundo, sozinho contigo naquela casa maldita, acho que vou enlouquecer.
- Obrigada pela parte que me toca. – Fez uma careta, falsamente ofendida.
- De nada. Agora sossega e deixe-me concentrar no caminho, para a gente não acabar em outro estado, sem querer.
- Só dirige, . – Revirou os olhos.
Apesar da brincadeira, ela realmente fez silêncio, fora a música irritante que retumbava das caixas de som do veículo.
Trinta minutos depois, estacionei em uma praia próxima, mas não tanto, de nossa casa.
- É sério isso? Primeira vez que eu saio em... Nem sei quanto tempo e você me traz para comer cachorro quente em uma barraquinha no meio do nada?
- Quer ir pra casa, Emmanuelle? – Perguntei, aproveitando para relembrá-la de seu nome falso.
- Arg! Compra logo meu cachorro quente, . Estarei esperando bem aqui na mesa.
Ri de seu tom de voz emburrado e entrei na fila da barraquinha, que eu sabia ser muito conhecida na região. Desviava o olhar para de vez em quando. Vi-a digitando em seu celular descartável e senti meu próprio vibrar no bolso.
Não sou uma criança , pode se concentrar aí na fila. Tenho quase certeza que uma senhora furou na sua frente. Bjs, S.
Sorri para o celular, relaxando um pouco minha guarda. Ninguém sabia onde estávamos. Chame-me de paranoico, mas gosto de cobrir minhas bases.
Finalmente foi minha vez de fazer os pedidos e aguardei brevemente enquanto o chef, hábil, o preparava. Paguei e virei-me caminhando de volta para a área onde antes estava. Ao não encontrar sua figura sentada onde eu havia lhe deixado, larguei tudo no chão e comecei a correr em direção ao ultimo lugar que a tinha visto.
O toque de meu celular começou a deixar-me ainda mais nervoso.
- Agente .
- , é a Emma. Por favor, diga-me que o alvo está seguro, com você.
- Por quê?
- Só responda, agente!
- Por quê, Emily? –Perguntei mais enfaticamente, sentindo meu coração bater tão forte que quase pulava de meu peito.
-Acabei de receber a informação de que Blackwell não se encontra mais sob a custódia da polícia. Ele fugiu, Thomas! O FBI estava escondendo isso até agora. Provavelmente para não divulgar sua própria incompetência antes de ter certeza de que não poderiam acha-lo novamente.
Vasculhei cada canto da praia com meus olhos, desesperado.
- Emily eu...
Parei de falar assim que avistei a imagem de saindo do mar e correndo até mim pela areia.
- Preciso desligar. O alvo está seguro. – Terminei, sem esperar resposta.
- Onde estava? – Perguntei entredentes.
- Fui dar um mergulho só. Relaxa, .
- Você acha que isso é engraçado? – Perguntei, segurando-me para não berrar ali mesmo no meio da praia.
- É a minha vida. Se eu quiser arriscá-la para tomar um banho de mar, é isso que farei. A escolha é minha! –Replicou, caminhando a meu lado de volta ao carro.
Fiquei em silêncio, pegando a direção e ignorando suas explicações até chegarmos a casa.
-Eu sei que está me ouvindo, ! –Berrou, empurrando meu peito duramente quando entramos na mansão que ela insistia chamar de cárcere.
-Egoísta. –Finalmente me permiti sussurrar para ela.
- O que? –Perguntou cruzando os braços. –Do que me chamou?
- E-GO-ÍS-TA! Você acha que sua morte só vai afetar a si mesma? Esqueceu que o processo todo está baseado em seu testemunho? Que se acontecer algo a você, o maluco do seu ex-namorado, seus amiguinhos terroristas e o maldito do James Blackwell não serão condenados?
A mulher recuou ao absorver a dura verdade em minhas palavras.
-Quantas mais, ? Quantas pessoas ainda precisarão morrer antes deles serem impedidos?
-Você tem razão, eu...
- Não é só isso! – Cortei-a, sentindo a raiva tomar controle de mim por inteiro. –Você pode não ter mais família ou amigos, mas sua morte não passaria em branco. Não seria só mais um nome no obituário.
- Por quê? , eu não tenho ninguém! Quem sentiria minha falta?
Balancei a cabeça para ela em negação.
- Me fala quem!
- EU! Você me tem, . Desde o dia que chegou aqui discutindo comigo sobre a falta de proteção contra ataques ao sistema de segurança.
- ...
- Você acha que gosto disso? De me sentir atraído por quem eu devia proteger?
- , eu...
- Eu não posso, ! Não de novo. Envolver-me com alguém durante uma missão... Isso nunca dá certo e não vou sobreviver se algo acontecer a você por minha causa.
- ! CALA ESSA BOCA E ME BEIJA, CARAMBA!
Olhei para a mulher a minha frente como se ela fosse um enigma. E realmente era. Porém, felizmente, algum de nós ainda tinha conexões neurais. Esse alguém puxou a gola de minha jaqueta e colou os lábios nos meus intensamente.
Se um selinho com era de fazer chover, seu beijo era como o Armagedon se abatendo sobre meu corpo. Eu não sabia se beijava seu pescoço, sua boca ou clavícula. Peguei suas pernas envolvendo-as em minha cintura e caminhei até a mesa da sala. Mal conseguia me concentrar sentindo sua intimidade roçar no volume de minhas calças.
Suas mãos foram para meu cinto enquanto eu chupava seu pescoço. Parei para retirar sua camisa e sutiã, alucinado. Expus seus seios ao mesmo tempo em que ela abaixou minha cueca. Senti sua mão envolvendo, apertando, subindo e descendo ao redor de meu comprimento, deixando-me maluco. Apertei o bico de seus peitos com minhas mãos e desci retirando sua roupa de baixo.
Não queria mais nada entre nossos corpos nus. Abri novamente suas pernas e ela recostou-se em seus cotovelos para observar-me enquanto eu beijava o caminho de suas coxas até sua entrada inchada e lubrificada.
Lambi sua abertura apreciando o doce som de seu gemido de prazer. Comecei a chupar sua vulva dilatada e os arredores de seu clitóris recusando-me a aliviar seu desejo, ao menos por enquanto.
Estendi um dedo para que ela lubrificasse e senti a sucção em meu pau ereto, clamando por alívio. Assim que ela terminou de lamber meu dedo eu o enfiei em sua vagina, sorrindo, satisfeito com seu arfar. Incluí mais um dedo em minhas explorações ao perceber que o primeiro deslizara tão facilmente por sua buceta molhada.
Enquanto eu fazia movimentos crescentes de vai e vem, de garra e de tesoura, levantei meus olhos para admirar a vista de seu corpo arqueado com os seios entumecidos e sua cabeça jogada para trás dando gemidos diferentes a cada vez que eu aumentava a intensidade e velocidade.
Tirei meus dedos, ouvindo-a suspirar, e os provei, aproveitando para experimentar seu gosto paradisíaco. Ajudei-a a levantar e a carreguei até o sofá. O quarto teria de esperar. Eu precisava entrar em seu corpo imediatamente. Peguei uma camisinha no bolso de minha calça e sorri com seu olhar questionador.
- Eu não sabia que iríamos, mas um homem pode sonhar, não é? Eu me mataria se não estivesse precavido agora.
- Eu também. – Gargalhou, beijando minha boca e puxando meu cabelo com necessidade.
Ronronei quando ela me surpreendeu jogando-me sentado no sofá.
- Minha vez de deixá-lo implorando, . – Murmurou antes de descer em seus joelhos e envolver meu pênis em sua boca, malvada e deliciosa.
Seus movimentos de sucção ao descer e subir sobre meu comprimento me levaram ao precipício, levantando meu quadril. Buscando rendição, querendo ser preenchido por completo. Porém, ela segurou-lhe com agarras de ferro e sorriu diabolicamente, massageando minhas bolas.
- Comporte-se. – Falou, dando uma última lambida na ponta de meu membro antes mesmo que eu pudesse pensar em responder.
Subiu sobre mim e me montou, deslizando de uma vez até o talo de minha extensão. Encostei minha testa na sua e segurei suas nádegas ajudando-lhe a subir e descer, girar e enlouquecer a minha volta. Batalhei para manter meus olhos abertos e gravar sua expressão sensual tão próxima. Nossas respirações aumentaram de intensidade assim como sua cavalgada gostosa, nos levando ao ápice.
Ela teve seu clímax antes de mim, mas não por muito tempo. Eu agradeci aos céus por sua liberação e trabalhei para que conseguisse seu alívio por uma segunda vez. Puxei seu cabelo para trás e mordisquei seu lábio ainda movimentando-me rapidamente em baixo dela.
- Vem, bebê, mais uma vez pra mim, . – Soltei entre arfadas.
Sua resposta foi um longo gemido que logo misturou-se ao meu quando gozamos em nosso clímax. Senti meu pênis jorrando sêmen para dentro da camisinha e suspirei aliviado, deslizando para fora de seu corpo. Deitei-a do meu lado e fui limpar a sujeira no banheiro. Quando voltei, a mulher estava desacordada e aconchegada no sofá, como um pequeno anjo. Mas eu sabia que aquele anjo não era de Deus.
Peguei-a em meu colo sorrindo e carreguei-a para o quarto, beijando sua testa. Naquela noite, confirmei minha teoria de que a mulher era uma droga especificamente projetada para retirar qualquer autocontrole que eu pudesse ter.
A única coisa que consegui pensar antes de entrarmos em seu quarto- além de suas curvas e na promessa de provar novamente seu corpo mais tarde- fora que eu teria de apagar algumas gravações do sistema de câmeras. Não pegaria muito bem se eu devolvesse as fitas de segurança ao controle da missão com trechos bem reveladores de mim e do alvo... Conectando-nos a um nível mais pessoal, digamos assim.
7 de Julho de 2016 / Sacramento, Califórnia
James Blackwell’s P.O.V.
Olhei para meu relógio ao ouvir vozes se aproximando no corredor e percebi que os tais ativistas estavam chegando com vinte minutos de antecedência.
Novatos... Pensei, revirando os olhos.
- Rorik pode manda-los entrar. – Falei, recostando-me em minha poltrona de couro.
Meu capanga grunhiu em resposta e fez o que mandei.
O grupo penetrou o bunker, onde eu costumava fazer negócios. Estavam claramente assustados. Pra ser sincero, eu somente concordara com aquela reunião por pura curiosidade. Por que um grupo de indivíduos politicamente corretos iria dar uma guinada assim tão radical, que estavam interessados em se encontrar comigo?!
Eu tinha consciência de minha reputação entre os criminosos. E em grande parte ela havia sido merecida. Havia passado por coisas demais, causado muito caos em nossa nação para minha fama passar impune.
Logo que entraram em minha sala eu os escaneei com um olhar avaliador. Bastava saber em que ponto pressionar para descobrir o que queriam de mim e o que pensavam poder me oferecer em troca.
Pelo relatório que eu encomendara deles, estava faltando uma integrante, a namorada do irritadinho que discutia com Rorik enquanto passava pela revista. Observei o comportamento dos outros dois indivíduos e elaborei minha tática.
Ao terminarem de ser revistados, acenei com a mão para que se aproximassem.
- Falem. – Murmurei, levantando-me para servir um pouco de uísque para mim.
- Blackwell, temos algo que você deseja. Mas só podemos revelar o que é após recebermos nossa recompensa. – Falou o irritadinho. Pelo que eu lera aquele devia ser Thomas.
Arqueei uma sobrancelha, pouco impressionado, enquanto tomava um gole de minha bebida. Apoiei a cabeça em uma de minhas mãos, semi-debruçado na mesa de mogno e torci meus lábios em um meio sorriso.
Encarei-os em silêncio por tempo o bastante para deixá-los desconfortáveis. Dei um suspiro, tomei mais um gole e voltei a recostar-me no encosto do assento.
- Vocês são muito fofos, não são?!
- Nós sabemos de algo que voc...
- Não me interrompa! Olha, vocês me trouxeram um problema. Se a “Defensa Rubra” – citei fazendo aspas no ar- marcha até meu escritório me fazendo demandas, isso quer dizer que minha moral deve estar muito baixa. Isso não me deixa nada feliz. –Comecei, erguendo-me e dando a volta na mesa. –E quando não estou feliz, -Continuei, agarrando o pescoço do irritadinho. –Estou zangado.
Levantei Thomas pelo pescoço só com minha mão esquerda. O homem debateu suas pernas, desesperado por um apoio para seus pés, por ar, por misericórdia.
- E você não quer me ver zangado, quer?
Thomas tentou responder, mas não conseguia soltar mais que um balbucio sem sentido.
- O quê? Não estou entendendo. – Repliquei, fazendo uma expressão confusa.
- Ele está dizendo que não! Por favor, solta ele! – Exclamou a mulher a seu lado, sendo segurada por Max.
Portia, esse era seu nome. A julgar pelas lágrimas em seus olhos eu tinha um baita de um caso de triângulo amoroso a minha frente. É isso. Soltei o homem, deixando que recuperasse seu fôlego enquanto eu voltava ao meu lado da mesa.
- , não é? – Perguntei, recebendo um olhar irritado da mulher.
- Não! –Falou balançando a cabeça em negativa. - Meu nome é Portia. – Completou entredentes.
Contive um sorriso com a previsibilidade dos seres humanos.
- Então você não é a namorada dele? –Perguntei, me fazendo de desentendido.
Coloquei o dedo indicador em meu lábio como se estivesse pensando.
- Hmm, engraçado.
- O quê? –Perguntou ela. –A preciosa é pura demais pra vir aqui, ok?
- Portia! – Repreendeu Thomas.
- Não, Thomas! Se ela soubesse da bomba provavelmente iria pirar. A burra nem sabe o porque de termos pedido para ela invadir os arquivos da NSA. – Replicou, nervosamente.
BINGO!
- Então vocês tem informações sobre mim, fornecidas por cortesia da Agencia Nacional de Segurança e querem que eu forneça uma bomba para vocês darem um susto em alguma grande empresa, que está destruindo o meio ambiente ou usando trabalho escravo? – Disse eu cruzando os braços.
Um pouco de minha tatuagem foi descoberta quando a manga de meu terno subiu. Eu soube pelo ligeiro desviar de atenção do grupo para meu braço. Se soubessem a extensão de minhas tatuagens, ficariam surpresos. Eu entendia o que deviam estar pensando.
Quem é esse homem?! Um maluco, mas inteligente e perigoso criminoso que se veste elegantemente, mas por debaixo da finesse é coberto de tatuagens como de prisão.
Era esse tipo de questionamento que me fazia ser tão difícil de encontrar pela polícia. Só sabiam meu codinome e que eu era um homem caucasiano. Isso deixava quase um quarto dos americanos como suspeitos. Estatística essa calculada para se eu fosse americano, o que eles também não tinham certeza.
- Droga, Portia! – Exclamou Max apertando a ponte do nariz entre o polegar e o indicador.
- A NSA não sabe de nada sobre mim. – Repliquei, dando de ombros. –Parem de desperdiçar meu tempo. Rorik, Parish me façam o favor de escoltar nossos convidados até a saída.
- Sim, chefe. – Disseram em uníssono, não tardando a obedecer minhas ordens.
- Solta meu braço! - Berrou Thomas, sendo arrastado para a porta. - Espera, Blackwell! – Chamou, inutilmente.
Não me incomodei nem mesmo em virar para sua figura patética.
- Eles sabem! Sabem sobre a Nicolle. –Parei o copo a meio caminho de minha boca.
Não. Não podiam saber dela... Eu não iria suportar se a machucassem. Foi aí que eu soube. Não tinha escolha senão ajudar os malditos ativistas. Se eu arriscasse obter a informação sob tortura, arriscaria que dissessem qualquer coisa para se livrarem da dor.
Minha única alternativa era entregar-lhes o que desejavam: uma bomba. Eles provavelmente não a detonariam, de qualquer forma. No máximo dariam um grande susto a algum empresário qualquer. Estava decidido.
Eu nunca mais arriscaria a vida de Nicolle.
Everyone the other beats hardest for
Inside this place is warm
Outside it starts to pour”
21 de Janeiro 2017 / Corte de Julgamentos, Califórnia
’s P.O.V.
Eu ouvia responder a perguntas durante horas, recostado na parede gelada do tribunal.
- Estudamos aquela usina durante meses, pensando em como chamar a atenção dos diretores para o problema do descarte indevido do lixo industrial. Mas quando se tratava do plano em si, fizeram segredo de mim o tempo inteiro. – Respondeu ela.
- Entendo, Senhorita . Então realmente não fazia ideia de nada relacionado a bomba.
- Não. Não até que fosse tarde demais.
- Qual foi o exato momento em que descobriu toda a farsa?
- Quando ouvi Thomas fazendo uma ligação. Acho que durante todos aqueles meses de planejamento eu coletara fragmentos de informação que só fizeram sentido após aquela última peça.
- Uma última questão por hoje, Doutor Dupont. – Solicitou o juiz acenando para o homem franzino conduzindo a inquisição de cada detalhe da operação.
- Obrigado, meritíssimo. , é verdade que a senhorita era namorada do Senhor Thomas?
- Sim. – Respondeu ela, olhando para mim, furtivamente.
Corei ao imaginar o motivo. Havíamos dormido juntos. Não no sentido divertido da palavra, mas mesmo assim. Acordar ao lado dela, expor uma parte tão vulnerável de mim a ela, fora algo capaz de mudar completamente a relação entre nós.
Agora estávamos muito... Íntimos. Caminhávamos por um terreno perigoso de pequenos toques e abraços constantes. O contato físico crescera tanto que ao dormir, ela nem ao menos tinha mais vergonha de aconchegar-se em meu peito. E é a pessoa mais tímida que eu conheço. Confesso que acho isso muito atraente. Não que eu deixasse transparecer. Esperava que não, pelo menos. Eu também não estava exatamente reclamando de dormir em sua cama. Ah, sim. Após a primeira noite, isso virara um hábito, ou talvez um vício mesmo.
Porque era viciante a sensação de tê-la em meus braços. Confiando completamente em mim para protege-la de qualquer ameaça física.
Na verdade, a mulher por completo era como uma droga para mim. Eu queria sempre mais. Mais de nossas discussões fracas sobre algo irrelevante, mais dela dando uma de esperta babulciando algo sobre firewalls, vermes e outros termos que eu só ouvira em filmes, e olha que eu era um espião.
Confesso que a despeito de meu trabalho, eu só sabia o básico quando se tratava de hackear. Eu era mimado pela Iniciativa. Meus trabalhos envolviam no máximo, espetar um pen-drive que fazia todo o trabalho por mim. Só precisava esperar a luzinha vermelha virar verde.
Quando eu explicara isso a ela rira de mim por horas. Não costumava gostar que rissem de mim, mas quando se tratava daquela mulher irritantemente linda e inteligente, não havia nada que eu não aceitasse com um sorriso no rosto.
- Meritíssimo, se me permite só mais um questionamento, na mesma linha da última pergunta...
- Concedido. –Replicou o juiz, revirando os olhos. –Só mais uma.
- , qual o motivo em sua opinião, como namorada de Thomas, o levou a envolver-se com o terrorismo?
- Eu acredito que Thomas tem alguma ideia deturpada de que fez tudo por mim. Que essa era a única forma de receber resultados. Que ao obtê-los para mim eu ficaria feliz novamente. Mas juro que nunca dei a entender que iria querer algo assim.
- Testemunha dispensada. – Falou a voz entediada do juiz, novamente batendo seu martelo.
Suspirei aproximando-me de .
- Pronta, companheira?
- Claro. – Respondeu sorridente, agarrando meu braço. –Escolte-me de volta à minha cela, Agente .
Franzi a testa com sua brincadeira deprimente. Desde o atentado ao veículo de extração do tribunal, eu não a deixara sair de casa nenhuma vez, a não ser que fosse para o julgamento. Talvez eu estivesse sendo rígido demais com a mulher.
- Temo que não poderei realizar seu pedido, madame. –Respondi, entrando no carro com uma careta pensativa.
- O que quer dizer? –Perguntou ela, ligando o rádio na estação de rock que me obrigava a ouvir.
- Aperte o cinto, baby! Vamos dar uma volta.
- Sangue de Jesus tem poder! – Exclamou entre gargalhadas alegres, fazendo o que pedi.
- Troca essa estação também, por favor! – Continuei, esperando que ela continuasse a atender a minhas solicitações.
- Não! – Replicou com um sorrisinho cruel.
- Mas, mass.... – Tentei argumentar, fazendo minha melhor cara de cachorro pidão.
- Nu-uh. – Disse, aumentando ainda mais o som, só para me irritar.
- Malvada!
- Enjoado! – Replicou, sorrindo para mim docemente. – Obrigada, ! Eu preciso dessa saída.
-Eu também. Se passar mais um segundo, sozinho contigo naquela casa maldita, acho que vou enlouquecer.
- Obrigada pela parte que me toca. – Fez uma careta, falsamente ofendida.
- De nada. Agora sossega e deixe-me concentrar no caminho, para a gente não acabar em outro estado, sem querer.
- Só dirige, . – Revirou os olhos.
Apesar da brincadeira, ela realmente fez silêncio, fora a música irritante que retumbava das caixas de som do veículo.
Trinta minutos depois, estacionei em uma praia próxima, mas não tanto, de nossa casa.
- É sério isso? Primeira vez que eu saio em... Nem sei quanto tempo e você me traz para comer cachorro quente em uma barraquinha no meio do nada?
- Quer ir pra casa, Emmanuelle? – Perguntei, aproveitando para relembrá-la de seu nome falso.
- Arg! Compra logo meu cachorro quente, . Estarei esperando bem aqui na mesa.
Ri de seu tom de voz emburrado e entrei na fila da barraquinha, que eu sabia ser muito conhecida na região. Desviava o olhar para de vez em quando. Vi-a digitando em seu celular descartável e senti meu próprio vibrar no bolso.
Não sou uma criança , pode se concentrar aí na fila. Tenho quase certeza que uma senhora furou na sua frente. Bjs, S.
Sorri para o celular, relaxando um pouco minha guarda. Ninguém sabia onde estávamos. Chame-me de paranoico, mas gosto de cobrir minhas bases.
Finalmente foi minha vez de fazer os pedidos e aguardei brevemente enquanto o chef, hábil, o preparava. Paguei e virei-me caminhando de volta para a área onde antes estava. Ao não encontrar sua figura sentada onde eu havia lhe deixado, larguei tudo no chão e comecei a correr em direção ao ultimo lugar que a tinha visto.
O toque de meu celular começou a deixar-me ainda mais nervoso.
- Agente .
- , é a Emma. Por favor, diga-me que o alvo está seguro, com você.
- Por quê?
- Só responda, agente!
- Por quê, Emily? –Perguntei mais enfaticamente, sentindo meu coração bater tão forte que quase pulava de meu peito.
-Acabei de receber a informação de que Blackwell não se encontra mais sob a custódia da polícia. Ele fugiu, Thomas! O FBI estava escondendo isso até agora. Provavelmente para não divulgar sua própria incompetência antes de ter certeza de que não poderiam acha-lo novamente.
Vasculhei cada canto da praia com meus olhos, desesperado.
- Emily eu...
Parei de falar assim que avistei a imagem de saindo do mar e correndo até mim pela areia.
- Preciso desligar. O alvo está seguro. – Terminei, sem esperar resposta.
- Onde estava? – Perguntei entredentes.
- Fui dar um mergulho só. Relaxa, .
- Você acha que isso é engraçado? – Perguntei, segurando-me para não berrar ali mesmo no meio da praia.
- É a minha vida. Se eu quiser arriscá-la para tomar um banho de mar, é isso que farei. A escolha é minha! –Replicou, caminhando a meu lado de volta ao carro.
Fiquei em silêncio, pegando a direção e ignorando suas explicações até chegarmos a casa.
-Eu sei que está me ouvindo, ! –Berrou, empurrando meu peito duramente quando entramos na mansão que ela insistia chamar de cárcere.
-Egoísta. –Finalmente me permiti sussurrar para ela.
- O que? –Perguntou cruzando os braços. –Do que me chamou?
- E-GO-ÍS-TA! Você acha que sua morte só vai afetar a si mesma? Esqueceu que o processo todo está baseado em seu testemunho? Que se acontecer algo a você, o maluco do seu ex-namorado, seus amiguinhos terroristas e o maldito do James Blackwell não serão condenados?
A mulher recuou ao absorver a dura verdade em minhas palavras.
-Quantas mais, ? Quantas pessoas ainda precisarão morrer antes deles serem impedidos?
-Você tem razão, eu...
- Não é só isso! – Cortei-a, sentindo a raiva tomar controle de mim por inteiro. –Você pode não ter mais família ou amigos, mas sua morte não passaria em branco. Não seria só mais um nome no obituário.
- Por quê? , eu não tenho ninguém! Quem sentiria minha falta?
Balancei a cabeça para ela em negação.
- Me fala quem!
- EU! Você me tem, . Desde o dia que chegou aqui discutindo comigo sobre a falta de proteção contra ataques ao sistema de segurança.
- ...
- Você acha que gosto disso? De me sentir atraído por quem eu devia proteger?
- , eu...
- Eu não posso, ! Não de novo. Envolver-me com alguém durante uma missão... Isso nunca dá certo e não vou sobreviver se algo acontecer a você por minha causa.
- ! CALA ESSA BOCA E ME BEIJA, CARAMBA!
Olhei para a mulher a minha frente como se ela fosse um enigma. E realmente era. Porém, felizmente, algum de nós ainda tinha conexões neurais. Esse alguém puxou a gola de minha jaqueta e colou os lábios nos meus intensamente.
Se um selinho com era de fazer chover, seu beijo era como o Armagedon se abatendo sobre meu corpo. Eu não sabia se beijava seu pescoço, sua boca ou clavícula. Peguei suas pernas envolvendo-as em minha cintura e caminhei até a mesa da sala. Mal conseguia me concentrar sentindo sua intimidade roçar no volume de minhas calças.
Suas mãos foram para meu cinto enquanto eu chupava seu pescoço. Parei para retirar sua camisa e sutiã, alucinado. Expus seus seios ao mesmo tempo em que ela abaixou minha cueca. Senti sua mão envolvendo, apertando, subindo e descendo ao redor de meu comprimento, deixando-me maluco. Apertei o bico de seus peitos com minhas mãos e desci retirando sua roupa de baixo.
Não queria mais nada entre nossos corpos nus. Abri novamente suas pernas e ela recostou-se em seus cotovelos para observar-me enquanto eu beijava o caminho de suas coxas até sua entrada inchada e lubrificada.
Lambi sua abertura apreciando o doce som de seu gemido de prazer. Comecei a chupar sua vulva dilatada e os arredores de seu clitóris recusando-me a aliviar seu desejo, ao menos por enquanto.
Estendi um dedo para que ela lubrificasse e senti a sucção em meu pau ereto, clamando por alívio. Assim que ela terminou de lamber meu dedo eu o enfiei em sua vagina, sorrindo, satisfeito com seu arfar. Incluí mais um dedo em minhas explorações ao perceber que o primeiro deslizara tão facilmente por sua buceta molhada.
Enquanto eu fazia movimentos crescentes de vai e vem, de garra e de tesoura, levantei meus olhos para admirar a vista de seu corpo arqueado com os seios entumecidos e sua cabeça jogada para trás dando gemidos diferentes a cada vez que eu aumentava a intensidade e velocidade.
Tirei meus dedos, ouvindo-a suspirar, e os provei, aproveitando para experimentar seu gosto paradisíaco. Ajudei-a a levantar e a carreguei até o sofá. O quarto teria de esperar. Eu precisava entrar em seu corpo imediatamente. Peguei uma camisinha no bolso de minha calça e sorri com seu olhar questionador.
- Eu não sabia que iríamos, mas um homem pode sonhar, não é? Eu me mataria se não estivesse precavido agora.
- Eu também. – Gargalhou, beijando minha boca e puxando meu cabelo com necessidade.
Ronronei quando ela me surpreendeu jogando-me sentado no sofá.
- Minha vez de deixá-lo implorando, . – Murmurou antes de descer em seus joelhos e envolver meu pênis em sua boca, malvada e deliciosa.
Seus movimentos de sucção ao descer e subir sobre meu comprimento me levaram ao precipício, levantando meu quadril. Buscando rendição, querendo ser preenchido por completo. Porém, ela segurou-lhe com agarras de ferro e sorriu diabolicamente, massageando minhas bolas.
- Comporte-se. – Falou, dando uma última lambida na ponta de meu membro antes mesmo que eu pudesse pensar em responder.
Subiu sobre mim e me montou, deslizando de uma vez até o talo de minha extensão. Encostei minha testa na sua e segurei suas nádegas ajudando-lhe a subir e descer, girar e enlouquecer a minha volta. Batalhei para manter meus olhos abertos e gravar sua expressão sensual tão próxima. Nossas respirações aumentaram de intensidade assim como sua cavalgada gostosa, nos levando ao ápice.
Ela teve seu clímax antes de mim, mas não por muito tempo. Eu agradeci aos céus por sua liberação e trabalhei para que conseguisse seu alívio por uma segunda vez. Puxei seu cabelo para trás e mordisquei seu lábio ainda movimentando-me rapidamente em baixo dela.
- Vem, bebê, mais uma vez pra mim, . – Soltei entre arfadas.
Sua resposta foi um longo gemido que logo misturou-se ao meu quando gozamos em nosso clímax. Senti meu pênis jorrando sêmen para dentro da camisinha e suspirei aliviado, deslizando para fora de seu corpo. Deitei-a do meu lado e fui limpar a sujeira no banheiro. Quando voltei, a mulher estava desacordada e aconchegada no sofá, como um pequeno anjo. Mas eu sabia que aquele anjo não era de Deus.
Peguei-a em meu colo sorrindo e carreguei-a para o quarto, beijando sua testa. Naquela noite, confirmei minha teoria de que a mulher era uma droga especificamente projetada para retirar qualquer autocontrole que eu pudesse ter.
A única coisa que consegui pensar antes de entrarmos em seu quarto- além de suas curvas e na promessa de provar novamente seu corpo mais tarde- fora que eu teria de apagar algumas gravações do sistema de câmeras. Não pegaria muito bem se eu devolvesse as fitas de segurança ao controle da missão com trechos bem reveladores de mim e do alvo... Conectando-nos a um nível mais pessoal, digamos assim.
7 de Julho de 2016 / Sacramento, Califórnia
James Blackwell’s P.O.V.
Olhei para meu relógio ao ouvir vozes se aproximando no corredor e percebi que os tais ativistas estavam chegando com vinte minutos de antecedência.
Novatos... Pensei, revirando os olhos.
- Rorik pode manda-los entrar. – Falei, recostando-me em minha poltrona de couro.
Meu capanga grunhiu em resposta e fez o que mandei.
O grupo penetrou o bunker, onde eu costumava fazer negócios. Estavam claramente assustados. Pra ser sincero, eu somente concordara com aquela reunião por pura curiosidade. Por que um grupo de indivíduos politicamente corretos iria dar uma guinada assim tão radical, que estavam interessados em se encontrar comigo?!
Eu tinha consciência de minha reputação entre os criminosos. E em grande parte ela havia sido merecida. Havia passado por coisas demais, causado muito caos em nossa nação para minha fama passar impune.
Logo que entraram em minha sala eu os escaneei com um olhar avaliador. Bastava saber em que ponto pressionar para descobrir o que queriam de mim e o que pensavam poder me oferecer em troca.
Pelo relatório que eu encomendara deles, estava faltando uma integrante, a namorada do irritadinho que discutia com Rorik enquanto passava pela revista. Observei o comportamento dos outros dois indivíduos e elaborei minha tática.
Ao terminarem de ser revistados, acenei com a mão para que se aproximassem.
- Falem. – Murmurei, levantando-me para servir um pouco de uísque para mim.
- Blackwell, temos algo que você deseja. Mas só podemos revelar o que é após recebermos nossa recompensa. – Falou o irritadinho. Pelo que eu lera aquele devia ser Thomas.
Arqueei uma sobrancelha, pouco impressionado, enquanto tomava um gole de minha bebida. Apoiei a cabeça em uma de minhas mãos, semi-debruçado na mesa de mogno e torci meus lábios em um meio sorriso.
Encarei-os em silêncio por tempo o bastante para deixá-los desconfortáveis. Dei um suspiro, tomei mais um gole e voltei a recostar-me no encosto do assento.
- Vocês são muito fofos, não são?!
- Nós sabemos de algo que voc...
- Não me interrompa! Olha, vocês me trouxeram um problema. Se a “Defensa Rubra” – citei fazendo aspas no ar- marcha até meu escritório me fazendo demandas, isso quer dizer que minha moral deve estar muito baixa. Isso não me deixa nada feliz. –Comecei, erguendo-me e dando a volta na mesa. –E quando não estou feliz, -Continuei, agarrando o pescoço do irritadinho. –Estou zangado.
Levantei Thomas pelo pescoço só com minha mão esquerda. O homem debateu suas pernas, desesperado por um apoio para seus pés, por ar, por misericórdia.
- E você não quer me ver zangado, quer?
Thomas tentou responder, mas não conseguia soltar mais que um balbucio sem sentido.
- O quê? Não estou entendendo. – Repliquei, fazendo uma expressão confusa.
- Ele está dizendo que não! Por favor, solta ele! – Exclamou a mulher a seu lado, sendo segurada por Max.
Portia, esse era seu nome. A julgar pelas lágrimas em seus olhos eu tinha um baita de um caso de triângulo amoroso a minha frente. É isso. Soltei o homem, deixando que recuperasse seu fôlego enquanto eu voltava ao meu lado da mesa.
- , não é? – Perguntei, recebendo um olhar irritado da mulher.
- Não! –Falou balançando a cabeça em negativa. - Meu nome é Portia. – Completou entredentes.
Contive um sorriso com a previsibilidade dos seres humanos.
- Então você não é a namorada dele? –Perguntei, me fazendo de desentendido.
Coloquei o dedo indicador em meu lábio como se estivesse pensando.
- Hmm, engraçado.
- O quê? –Perguntou ela. –A preciosa é pura demais pra vir aqui, ok?
- Portia! – Repreendeu Thomas.
- Não, Thomas! Se ela soubesse da bomba provavelmente iria pirar. A burra nem sabe o porque de termos pedido para ela invadir os arquivos da NSA. – Replicou, nervosamente.
BINGO!
- Então vocês tem informações sobre mim, fornecidas por cortesia da Agencia Nacional de Segurança e querem que eu forneça uma bomba para vocês darem um susto em alguma grande empresa, que está destruindo o meio ambiente ou usando trabalho escravo? – Disse eu cruzando os braços.
Um pouco de minha tatuagem foi descoberta quando a manga de meu terno subiu. Eu soube pelo ligeiro desviar de atenção do grupo para meu braço. Se soubessem a extensão de minhas tatuagens, ficariam surpresos. Eu entendia o que deviam estar pensando.
Quem é esse homem?! Um maluco, mas inteligente e perigoso criminoso que se veste elegantemente, mas por debaixo da finesse é coberto de tatuagens como de prisão.
Era esse tipo de questionamento que me fazia ser tão difícil de encontrar pela polícia. Só sabiam meu codinome e que eu era um homem caucasiano. Isso deixava quase um quarto dos americanos como suspeitos. Estatística essa calculada para se eu fosse americano, o que eles também não tinham certeza.
- Droga, Portia! – Exclamou Max apertando a ponte do nariz entre o polegar e o indicador.
- A NSA não sabe de nada sobre mim. – Repliquei, dando de ombros. –Parem de desperdiçar meu tempo. Rorik, Parish me façam o favor de escoltar nossos convidados até a saída.
- Sim, chefe. – Disseram em uníssono, não tardando a obedecer minhas ordens.
- Solta meu braço! - Berrou Thomas, sendo arrastado para a porta. - Espera, Blackwell! – Chamou, inutilmente.
Não me incomodei nem mesmo em virar para sua figura patética.
- Eles sabem! Sabem sobre a Nicolle. –Parei o copo a meio caminho de minha boca.
Não. Não podiam saber dela... Eu não iria suportar se a machucassem. Foi aí que eu soube. Não tinha escolha senão ajudar os malditos ativistas. Se eu arriscasse obter a informação sob tortura, arriscaria que dissessem qualquer coisa para se livrarem da dor.
Minha única alternativa era entregar-lhes o que desejavam: uma bomba. Eles provavelmente não a detonariam, de qualquer forma. No máximo dariam um grande susto a algum empresário qualquer. Estava decidido.
Eu nunca mais arriscaria a vida de Nicolle.
Parte Cinco
“'Cause it's too cold, for you here and now
So let me hold both your hands in the holes of my sweater”
22 de Janeiro de 2017 / Carmel Highlands, Califórnia
Collin’s P.O.V.
Meus anos de treinamento e espionagem me ensinaram a não baixar a guarda. Nunca. Porém, não havia nenhuma instrução quanto a não me apaixonar pelo alvo. Quer dizer, claro que isso era uma espécie de regra implícita.
Porém, se não bastasse ela, também havia a primeira lição básica de qualquer espião. Essa era bem explícita: não se envolver demais com o objeto da missão.
Mas claramente quem quer que tenha criado essa norma não conheceu uma .
conseguia carregar o ar com sua presença. Quando estava com ela, você não tinha outro objeto de concentração. O foco estava só nela e ponto final. Se nossa situação fosse normal, tipo: eu não mentisse, matasse e resgatasse pessoas para pagar a conta de luz e ela não fosse uma hacker terrorista, seria até fofo que ela conseguisse ser meu centro de gravidade.
Eu podia imaginar-me levando a planilha errada para o trabalho, ou esquecendo-me de uma apresentação aos diretores só por que estava pensando nela. Podia até visualiza-la voltando após um dia cheio, julgando casos do Judiciário e jogando tudo para o alto somente para passarmos um tempo juntos.
Em nossa vida sem graça isso funcionaria muito bem. Mas quando meu trabalho se resumia a garantir sua segurança, esse não era o caso.
Por esse motivo, não foi nada divertido acordar com a mão enluvada de um homem apertando meu pescoço enquanto sua outra apontava uma arma para a figura de , ainda seminua e desacordada.
Merda! Pensei, fechando os olhos, enquanto pensava no sistema de segurança esquecido. Em nossa pressa acabamos passando a noite com ele desligado.
- Levante-se, bem devagar. – Sussurrou o homem.
Não tentei lutar contra ele ainda. Não era o momento, já que qualquer movimento podia leva-lo a completar sua missão atirando contra .
Essa parte que não fazia sentido, na verdade. Se o plano era assassiná-la por que já não o havia feito enquanto dormíamos?! A não ser que quem quer que fosse o mandante precisasse dela viva. Mesmo assim eu não poderia arriscar ainda.
Levantei com os braços no ar bloqueando a visão da mulher e quando meu corpo estava lhe dando uma boa cobertura, desferi meu ataque. Estendi minhas mãos em um movimento fluido de desarme, assim como havia sido treinado e executado muitas vezes antes.
O desconhecido mascarado tentou desferir-me um soco, ao qual eu desviei e empurrando-lhe para a parede ao lado da janela. A cabeça dele bateu fortemente com um baque. O homem segurou-se no pano da cortina, arrancando-a do rack. O estrondo acordou , que deu um grito quando acordou com a visão do homem desconhecido envolvendo meu pescoço com o pano, começando a me sufocar.
Caí de joelhos e acotovelei suas bolas com força, me certificando de que o bastardo nunca tivesse filhos. Isso se vivesse o bastante para ter essa oportunidade. Ele curvou-se, irritado e dolorido, vindo com tudo pra cima de mim, e me arremessando na cama. Consegui ficar por cima, com ambas as mãos em seu pescoço.
Na tentativa de se soltar, o homem socou minha face duramente, cortando-a.
- Porra! – Gritei, recuperando-me rapidamente e voltando a apertar sua garganta com uma de minhas mãos.
- ! – Berrou , já em pé e vestida, pegando a arma que estava no chão e jogando-a para mim.
Peguei-a no ar e desferi dois tiros no homem através do travesseiro.
Levantei-me desenrolando o tecido que ainda estava em meu pescoço e pus a arma por dentro de minha calça comprida. Puxei a mão de sem mais nenhuma palavra, já religado no modo sobrevivência. Ouvimos um estrondo no andar de baixo e ela fincou suas unhas em meu braço, assustada. Levei-a até o quarto do pânico e tranquei-nos ali dentro.
- Não temos muito tempo. – Afirmei buscando minha própria arma na prateleira do cubículo de metal e entregando-lhe a que eu carregava. –Você fica aqui e não abre pra ninguém. Ninguém mesmo, entendeu?
- O quê? Não. Você vai ficar aqui comigo! , tem assassinos ali fora! – Falou andando de um lado para o outro.
Parei puxando-a pelo braço para lhe dar um beijo breve.
- Eu sei. – Sorri, levantando a mão a sua face e dando um último selinho em sua testa. –Pra isso que fui contratado, querida. – Completei, carregando minha arma com o pente de balas.
- Só peço uma coisa, . Em hipótese alguma saia para me ajudar. Eu sei o que estou fazendo, entendeu?
- Ok. – Replicou revirando os olhos.
- Prometa.
- Tá, eu prometo. – Respondeu, com um biquinho.
Saí com a arma em punho andando em direção ao perigo. Porém dessa vez, o fiz com um sorriso no rosto, já que agora eu tinha algo pelo que lutar e para o que voltar.
Enquanto isso, no quarto do pânico...
’s P.O.V.
estava demorando muito. Eu não podia esperar ali sem fazer nada enquanto ele arriscava sua vida por mim.
- Dane-se! – Exclamei, encaminhando-me à porta do bunker.
Quando estava prestes a fazer o reconhecimento ocular para abrir a saída, vi um reflexo de luz no canto de meu olho. Aquilo era um...
Aproximei-me esperançosa e sim. Era um notebook prateado! Sorri ao desvendar uma forma de ajudar que não envolvesse quebrar minha promessa a ele. Eu sabia travar um tipo diferente de luta.
O virtual era meu campo de batalha. Estalei meus dedos, sentando à mesinha e começando a invadir os sistemas da casa. As primeiras a aparecerem, foram as imagens de segurança. A cozinha parecia vazia, os quartos também, fora o homem sangrando em minha cama, morto. Na sala de estar, porém, lutava de forma impressionante com dois homens, enquanto outro berrava segurando sua perna, a qual aparentemente levara um tiro.
Por mais que o Agente fosse muito bom, o número era uma complicadora. Quando desviava do golpe de um deles, acabava caído no golpe de outro e vice versa. Porém, a luta corpo a corpo era a menor de minhas preocupações. O maior problema seria quando armas fossem adicionadas à equação.
Começaram a chutar quando este foi derrubado no chão, indefeso. Foi assim que eu soube que ele estava perdendo. Ativei o sistema de áudio para ouvir o que os homens berravam e imediatamente meus olhos encheram-se de lágrimas de culpa.
- Onde está a vadia? –Chute. – Ela vai sofrer mais a cada segundo de silêncio! –Outro chute.
O outro agente preparou a arma e atirou no próprio capanga que ainda berrava ao fundo, choramingando sobre sua perna. Ele devia estar atrapalhando o showzinho. Pensei, com raiva.
- Ninguém gosta de bebês chorões. –Replicou, dando de ombros para a encarada que seu parceiro lhe deu.
- Vamos matá-la assim como o Blackwell fez com a Catherine. –Disse o homem com a arma, sorrindo e agachando-se ao lado de no chão.
A única resposta dele foi cuspir sangue pela camisa e pelo rosto do atirador. O parceiro ofereceu-lhe um lenço e o macho-alfa levantou-se limpando sua face.
Pensei em uma ideia, mas teria pouco tempo, então comecei a digitar rapidamente calculando e controlando os lasers de movimento da casa. Preparei-me para liga-los, rezando para que se mantivesse no chão e pressionei o enter ao mesmo tempo em que o homem falou:
- Você vai se arrepender disso, .
De onde estava assistindo, dentro do bunker eu entoei minha própria frase de efeito.
- Últimas palavras, velhote.
Não esperei para observar quando a pele dos homens foi toda cortada pelos lasers. Peguei a arma que me deixara, desliguei o sistema de segurança e destranquei o bunker, correndo até ele.
Ouvi um tiro e acelerei o passo, assustada. Mais dois tiros soaram e o silêncio reinou, enquanto eu corria para a sala de estar.
Havia um cheiro pungente de pele queimada e eu tive de esfregar meus olhos, que até lacrimejaram. Cheguei, observando , ainda caído no chão, protegido do ataque dos lasers.
Sorri ao ver os criminosos em duas poças de sangue e com uma arma em sua mão. Os mortos pareciam ter uma pele de craquelê, vazando substâncias corporais por todo o carpete.
sorriu de volta quando eu pairei acima dele. Sua face estava pálida e seus olhos vermelhos. Olhei para seu abdome e vi a ferida de bala que meus olhos haviam se recusado a processar anteriormente.
- Não, , não. – Falei, retirando minha blusa e pressionando em sua barriga. –Não feche os olhos, soldado! Isso é uma ordem. –Demandei, com lágrimas escorrendo por meu rosto. – Fica calmo, a emergência está vindo. Eu ativei o plano de contingência. Você vai ficar bem e vai voltar a tentar mandar em mim em pouco tempo, ok?
Em seus fragmentos finais de força o homem assentiu fracamente, tentando manter os olhos abertos. O socorro está chegando. O socorro está chegando. Estão chegando. Repeti nervosamente, tentando convencer mais a mim mesma, do que a pessoa baleada a meus pés.
12 de Novembro de 2014 / Cracóvia, Polônia
Catherine Langford’s P.O.V.
Despertei me espreguiçando, sentindo um braço contornando minha cintura.
- Bom dia, linda. –Falou com um sorriso fácil adornando sua face sonolenta, ainda de olhos fechados.
- Bom dia, . –Respondi, beijando sua testa e retirando sua mão de meu corpo. –Tenho que fazer uma ligação. Vai tomar banho logo, que já devíamos ter ido há horas atrás. A missão estando completa e tudo mais. –Babulciei, levantando e dando um último tapinha na bunda nua do homem.
- Não quer vir comigo? –Perguntou, esfregando os olhos e se esticando, fazendo com que meus olhos trilhassem um caminho até sua intimidade, mal coberta pelo lençol. Mirando corpo por inteiro.
- Arg! Deixa de ser tão gostoso e vai logo, assim você me desconcentra.
- Essa, -Começou, levantando-se sem o menor pudor a minha frente, com as duas mãos na cintura. –É a graça, querida.
Deu um beijo em minha face vermelha e andou até o banheiro. Saí do quarto rindo que nem uma boba enquanto ouvia os toques do número que eu acabara de discar.
- Sim? –Atendeu a voz conhecida.
- Estamos quase voltando.
- Status da missão?
- ...
Meu celular deu um baque caindo no chão do corredor, quando um grupo de cinco homens mascarados colocou um capuz em minha cabeça e levou-me embora.
---
- Qual é seu plano? - Repetiu a mulher que conduzia o interrogatório, com uma calma ácida.
Continuei calada, abrindo um sorriso doloroso para ela, devido a meu lábio cortado.
- Nada? – Perguntou, colocando a mão no ouvido como se tentasse me escutar. – Não? –Continuou, com um meio sorriso sarcástico. – Ok-ay.
Gesticulou para os dois homens que me seguravam e ambos colocaram novamente o pano úmido sobre minha face levantada ao teto, derramando água sobre ele. Comecei a engasgar, com minhas narinas e minha garganta buscando por ar. Mas tudo o que encontravam era água.
- Chega. – Ditou e cuspi o líquido, voltando a respirar normalmente. -Você vai colaborar. Melhor agora enquanto seu rostinho continua intacto e ainda tem todos os dentinhos e unhas, não?
- Vai se foder! – Repliquei, entregando-me para o que quer que ela tivesse planejado em seguida.
Meus olhos arregalaram-se quando vi o ferro de passar que foi ligado a meu lado no quartinho subterrâneo. Puta que pariu, isso não está acontecendo comigo.
Fechei os olhos esperando pela dor que estava por vir.
Mas tudo o que ouvi foram tiros sendo disparados e o baque do instrumento doméstico no chão. Abri-os esperando por , pelo FBI ou qualquer um menos quem realmente havia me salvado.
- James Blackwell? – Perguntei, confusa.
- Venha, seu namorado está te procurando e não temos muito tempo.
O homem levou-me para o térreo do edifício abandonado e enfiou duas pílulas em minha goela. Deixou-me sozinha, sem me lançar nem um último olhar. Tentei cuspi-las, mas não adiantou. Pensei que morreria sozinha, mas os braços de , envolvendo-me me deram toda a força e aceitação que eu precisava.
- Não Cathy, não assim. Não faz isso comigo, por favor.
- Black-well. – Sussurrei para ele, piscando e desviando meus olhos para o teto. Fui sentindo meu coração desacelerar até dar sua última batida.
- Ele vai pagar por isso. Vou me encarregar disso pessoalmente. – Disse o homem que eu tanto amava em meu leito de morte.
Como conseguia ter olhos tão cristalinos e brilhantes? Esse foi meu último pensamento antes de cair no vazio da inexistência.
So let me hold both your hands in the holes of my sweater”
22 de Janeiro de 2017 / Carmel Highlands, Califórnia
Collin’s P.O.V.
Meus anos de treinamento e espionagem me ensinaram a não baixar a guarda. Nunca. Porém, não havia nenhuma instrução quanto a não me apaixonar pelo alvo. Quer dizer, claro que isso era uma espécie de regra implícita.
Porém, se não bastasse ela, também havia a primeira lição básica de qualquer espião. Essa era bem explícita: não se envolver demais com o objeto da missão.
Mas claramente quem quer que tenha criado essa norma não conheceu uma .
conseguia carregar o ar com sua presença. Quando estava com ela, você não tinha outro objeto de concentração. O foco estava só nela e ponto final. Se nossa situação fosse normal, tipo: eu não mentisse, matasse e resgatasse pessoas para pagar a conta de luz e ela não fosse uma hacker terrorista, seria até fofo que ela conseguisse ser meu centro de gravidade.
Eu podia imaginar-me levando a planilha errada para o trabalho, ou esquecendo-me de uma apresentação aos diretores só por que estava pensando nela. Podia até visualiza-la voltando após um dia cheio, julgando casos do Judiciário e jogando tudo para o alto somente para passarmos um tempo juntos.
Em nossa vida sem graça isso funcionaria muito bem. Mas quando meu trabalho se resumia a garantir sua segurança, esse não era o caso.
Por esse motivo, não foi nada divertido acordar com a mão enluvada de um homem apertando meu pescoço enquanto sua outra apontava uma arma para a figura de , ainda seminua e desacordada.
Merda! Pensei, fechando os olhos, enquanto pensava no sistema de segurança esquecido. Em nossa pressa acabamos passando a noite com ele desligado.
- Levante-se, bem devagar. – Sussurrou o homem.
Não tentei lutar contra ele ainda. Não era o momento, já que qualquer movimento podia leva-lo a completar sua missão atirando contra .
Essa parte que não fazia sentido, na verdade. Se o plano era assassiná-la por que já não o havia feito enquanto dormíamos?! A não ser que quem quer que fosse o mandante precisasse dela viva. Mesmo assim eu não poderia arriscar ainda.
Levantei com os braços no ar bloqueando a visão da mulher e quando meu corpo estava lhe dando uma boa cobertura, desferi meu ataque. Estendi minhas mãos em um movimento fluido de desarme, assim como havia sido treinado e executado muitas vezes antes.
O desconhecido mascarado tentou desferir-me um soco, ao qual eu desviei e empurrando-lhe para a parede ao lado da janela. A cabeça dele bateu fortemente com um baque. O homem segurou-se no pano da cortina, arrancando-a do rack. O estrondo acordou , que deu um grito quando acordou com a visão do homem desconhecido envolvendo meu pescoço com o pano, começando a me sufocar.
Caí de joelhos e acotovelei suas bolas com força, me certificando de que o bastardo nunca tivesse filhos. Isso se vivesse o bastante para ter essa oportunidade. Ele curvou-se, irritado e dolorido, vindo com tudo pra cima de mim, e me arremessando na cama. Consegui ficar por cima, com ambas as mãos em seu pescoço.
Na tentativa de se soltar, o homem socou minha face duramente, cortando-a.
- Porra! – Gritei, recuperando-me rapidamente e voltando a apertar sua garganta com uma de minhas mãos.
- ! – Berrou , já em pé e vestida, pegando a arma que estava no chão e jogando-a para mim.
Peguei-a no ar e desferi dois tiros no homem através do travesseiro.
Levantei-me desenrolando o tecido que ainda estava em meu pescoço e pus a arma por dentro de minha calça comprida. Puxei a mão de sem mais nenhuma palavra, já religado no modo sobrevivência. Ouvimos um estrondo no andar de baixo e ela fincou suas unhas em meu braço, assustada. Levei-a até o quarto do pânico e tranquei-nos ali dentro.
- Não temos muito tempo. – Afirmei buscando minha própria arma na prateleira do cubículo de metal e entregando-lhe a que eu carregava. –Você fica aqui e não abre pra ninguém. Ninguém mesmo, entendeu?
- O quê? Não. Você vai ficar aqui comigo! , tem assassinos ali fora! – Falou andando de um lado para o outro.
Parei puxando-a pelo braço para lhe dar um beijo breve.
- Eu sei. – Sorri, levantando a mão a sua face e dando um último selinho em sua testa. –Pra isso que fui contratado, querida. – Completei, carregando minha arma com o pente de balas.
- Só peço uma coisa, . Em hipótese alguma saia para me ajudar. Eu sei o que estou fazendo, entendeu?
- Ok. – Replicou revirando os olhos.
- Prometa.
- Tá, eu prometo. – Respondeu, com um biquinho.
Saí com a arma em punho andando em direção ao perigo. Porém dessa vez, o fiz com um sorriso no rosto, já que agora eu tinha algo pelo que lutar e para o que voltar.
Enquanto isso, no quarto do pânico...
’s P.O.V.
estava demorando muito. Eu não podia esperar ali sem fazer nada enquanto ele arriscava sua vida por mim.
- Dane-se! – Exclamei, encaminhando-me à porta do bunker.
Quando estava prestes a fazer o reconhecimento ocular para abrir a saída, vi um reflexo de luz no canto de meu olho. Aquilo era um...
Aproximei-me esperançosa e sim. Era um notebook prateado! Sorri ao desvendar uma forma de ajudar que não envolvesse quebrar minha promessa a ele. Eu sabia travar um tipo diferente de luta.
O virtual era meu campo de batalha. Estalei meus dedos, sentando à mesinha e começando a invadir os sistemas da casa. As primeiras a aparecerem, foram as imagens de segurança. A cozinha parecia vazia, os quartos também, fora o homem sangrando em minha cama, morto. Na sala de estar, porém, lutava de forma impressionante com dois homens, enquanto outro berrava segurando sua perna, a qual aparentemente levara um tiro.
Por mais que o Agente fosse muito bom, o número era uma complicadora. Quando desviava do golpe de um deles, acabava caído no golpe de outro e vice versa. Porém, a luta corpo a corpo era a menor de minhas preocupações. O maior problema seria quando armas fossem adicionadas à equação.
Começaram a chutar quando este foi derrubado no chão, indefeso. Foi assim que eu soube que ele estava perdendo. Ativei o sistema de áudio para ouvir o que os homens berravam e imediatamente meus olhos encheram-se de lágrimas de culpa.
- Onde está a vadia? –Chute. – Ela vai sofrer mais a cada segundo de silêncio! –Outro chute.
O outro agente preparou a arma e atirou no próprio capanga que ainda berrava ao fundo, choramingando sobre sua perna. Ele devia estar atrapalhando o showzinho. Pensei, com raiva.
- Ninguém gosta de bebês chorões. –Replicou, dando de ombros para a encarada que seu parceiro lhe deu.
- Vamos matá-la assim como o Blackwell fez com a Catherine. –Disse o homem com a arma, sorrindo e agachando-se ao lado de no chão.
A única resposta dele foi cuspir sangue pela camisa e pelo rosto do atirador. O parceiro ofereceu-lhe um lenço e o macho-alfa levantou-se limpando sua face.
Pensei em uma ideia, mas teria pouco tempo, então comecei a digitar rapidamente calculando e controlando os lasers de movimento da casa. Preparei-me para liga-los, rezando para que se mantivesse no chão e pressionei o enter ao mesmo tempo em que o homem falou:
- Você vai se arrepender disso, .
De onde estava assistindo, dentro do bunker eu entoei minha própria frase de efeito.
- Últimas palavras, velhote.
Não esperei para observar quando a pele dos homens foi toda cortada pelos lasers. Peguei a arma que me deixara, desliguei o sistema de segurança e destranquei o bunker, correndo até ele.
Ouvi um tiro e acelerei o passo, assustada. Mais dois tiros soaram e o silêncio reinou, enquanto eu corria para a sala de estar.
Havia um cheiro pungente de pele queimada e eu tive de esfregar meus olhos, que até lacrimejaram. Cheguei, observando , ainda caído no chão, protegido do ataque dos lasers.
Sorri ao ver os criminosos em duas poças de sangue e com uma arma em sua mão. Os mortos pareciam ter uma pele de craquelê, vazando substâncias corporais por todo o carpete.
sorriu de volta quando eu pairei acima dele. Sua face estava pálida e seus olhos vermelhos. Olhei para seu abdome e vi a ferida de bala que meus olhos haviam se recusado a processar anteriormente.
- Não, , não. – Falei, retirando minha blusa e pressionando em sua barriga. –Não feche os olhos, soldado! Isso é uma ordem. –Demandei, com lágrimas escorrendo por meu rosto. – Fica calmo, a emergência está vindo. Eu ativei o plano de contingência. Você vai ficar bem e vai voltar a tentar mandar em mim em pouco tempo, ok?
Em seus fragmentos finais de força o homem assentiu fracamente, tentando manter os olhos abertos. O socorro está chegando. O socorro está chegando. Estão chegando. Repeti nervosamente, tentando convencer mais a mim mesma, do que a pessoa baleada a meus pés.
12 de Novembro de 2014 / Cracóvia, Polônia
Catherine Langford’s P.O.V.
Despertei me espreguiçando, sentindo um braço contornando minha cintura.
- Bom dia, linda. –Falou com um sorriso fácil adornando sua face sonolenta, ainda de olhos fechados.
- Bom dia, . –Respondi, beijando sua testa e retirando sua mão de meu corpo. –Tenho que fazer uma ligação. Vai tomar banho logo, que já devíamos ter ido há horas atrás. A missão estando completa e tudo mais. –Babulciei, levantando e dando um último tapinha na bunda nua do homem.
- Não quer vir comigo? –Perguntou, esfregando os olhos e se esticando, fazendo com que meus olhos trilhassem um caminho até sua intimidade, mal coberta pelo lençol. Mirando corpo por inteiro.
- Arg! Deixa de ser tão gostoso e vai logo, assim você me desconcentra.
- Essa, -Começou, levantando-se sem o menor pudor a minha frente, com as duas mãos na cintura. –É a graça, querida.
Deu um beijo em minha face vermelha e andou até o banheiro. Saí do quarto rindo que nem uma boba enquanto ouvia os toques do número que eu acabara de discar.
- Sim? –Atendeu a voz conhecida.
- Estamos quase voltando.
- Status da missão?
- ...
Meu celular deu um baque caindo no chão do corredor, quando um grupo de cinco homens mascarados colocou um capuz em minha cabeça e levou-me embora.
- Qual é seu plano? - Repetiu a mulher que conduzia o interrogatório, com uma calma ácida.
Continuei calada, abrindo um sorriso doloroso para ela, devido a meu lábio cortado.
- Nada? – Perguntou, colocando a mão no ouvido como se tentasse me escutar. – Não? –Continuou, com um meio sorriso sarcástico. – Ok-ay.
Gesticulou para os dois homens que me seguravam e ambos colocaram novamente o pano úmido sobre minha face levantada ao teto, derramando água sobre ele. Comecei a engasgar, com minhas narinas e minha garganta buscando por ar. Mas tudo o que encontravam era água.
- Chega. – Ditou e cuspi o líquido, voltando a respirar normalmente. -Você vai colaborar. Melhor agora enquanto seu rostinho continua intacto e ainda tem todos os dentinhos e unhas, não?
- Vai se foder! – Repliquei, entregando-me para o que quer que ela tivesse planejado em seguida.
Meus olhos arregalaram-se quando vi o ferro de passar que foi ligado a meu lado no quartinho subterrâneo. Puta que pariu, isso não está acontecendo comigo.
Fechei os olhos esperando pela dor que estava por vir.
Mas tudo o que ouvi foram tiros sendo disparados e o baque do instrumento doméstico no chão. Abri-os esperando por , pelo FBI ou qualquer um menos quem realmente havia me salvado.
- James Blackwell? – Perguntei, confusa.
- Venha, seu namorado está te procurando e não temos muito tempo.
O homem levou-me para o térreo do edifício abandonado e enfiou duas pílulas em minha goela. Deixou-me sozinha, sem me lançar nem um último olhar. Tentei cuspi-las, mas não adiantou. Pensei que morreria sozinha, mas os braços de , envolvendo-me me deram toda a força e aceitação que eu precisava.
- Não Cathy, não assim. Não faz isso comigo, por favor.
- Black-well. – Sussurrei para ele, piscando e desviando meus olhos para o teto. Fui sentindo meu coração desacelerar até dar sua última batida.
- Ele vai pagar por isso. Vou me encarregar disso pessoalmente. – Disse o homem que eu tanto amava em meu leito de morte.
Como conseguia ter olhos tão cristalinos e brilhantes? Esse foi meu último pensamento antes de cair no vazio da inexistência.
Parte Seis
“Use the sleeves of my sweater
Let's have an adventure
Head in the clouds but my gravity's centered”
3 de Fevereiro de 2017 / Medical Center, Califórnia
Collin’s P.O.V.
- O senhor só tem que assentir para que eu saiba que essa é sua amiga mesmo. -Falou o médico legista. –Como o senhor estava com ela na hora da morte, está ciente da causa mortis, um tiro na região abdominal, não está? – Completou piscando.
- Sim. É ela. É a . – Assenti, engolindo em seco e querendo sair dali o mais rápido possível.
Não aguentaria mais encarar aquele cadáver. A cena de sendo baleada enquanto saía da Corte de Julgamentos, sendo escoltada por mim, me deixara nervoso. Eu precisava logo fugir. Sair daquela maldita cidade que eu sempre odiei e recomeçar. Ou ao menos tentar.
Agora, já não fazia mais parte da iniciativa. Emily ligara pessoalmente para me explicar que eu não era mais um membro da organização e que se meu caminho se cruzasse com algum integrante da Iniciativa, eu seria instantaneamente eliminado.
“Você sabe demais. Muitos segredos, conspirações, planos de alta confidencialidade. Ouça-me , você deve fugir enquanto ainda há tempo! Não é só a Iniciativa que o quer morto e não demorará muito para que nossos inimigos descubram que você não possui mais nossa proteção.” Alertara minha antiga chefe. E era exatamente isso que eu faria.
Saí do hospital e dirigi o carro em direção ao lugar onde estava meu passe para um futuro: Carmel Highlands. Meu destino tinha curvas muito bonitas e estava mais precisamente, recostada em uma mureta enquanto comia um enorme cachorro quente da barraquinha mais conhecida da região.
Assim que me avistou, a mulher entrou no veículo e bateu a porta do carro sentando-se a meu lado. Não tardou a ligar o rádio em sua estação preferida.
- Ah, não , minha vez de escolher a música!
- Deixa de graça, , eu morri, ao menos aos olhos do resto do mundo. O mínimo que eu mereço é escolher a músi...
Interrompi seu tagarelar beijando sua boca intensamente, como se fosse a primeira e última vez. Minha língua explorou cada canto com dedicação e necessidade. Dei um último mordiscar em seu lábio e entreguei-lhe o mapa.
- Tudo bem, -Bati uma palma e depositei minhas mãos de volta no volante. –Vamos ver como são suas habilidades de navegadora.
- Por que não usamos um GPS? –Perguntou ela com uma careta ofendida, sempre preferindo a tecnologia.
– Eu sou antiquado. Vá se acostumando. -Repliquei com um sorriso largo. Dois poderiam jogar esse jogo da irritação.
- Ok. Pra onde vamos? –Perguntou abrindo o mapa gigante até seu colo.
- Desceremos até San Diego e depois fretaremos um jato até o Taiti. O que acha?
- Você é rico? –Perguntou ela com os olhos arregalados, impressionada.
- Digamos que tenho um dinheiro guardado. – Respondi com um sorriso torto.
2 De Fevereiro de 2017/ Oakland, Califórnia
’s P.O.V.
Fazia dez dias que havia sido baleado e ele ainda sim insistira em me acompanhar ao tribunal no dia seguinte. Seria o último testemunho que eu teria que fazer. Agora repousávamos no sofá do hotel, após o ataque em Carmel. Finalmente haviam descoberto nossa última localização na mansão dessa região.
- Queria que tivesse uma forma de ficarmos juntos após isso tudo.
- Você acha realmente que vou deixar você sozinha com esses bananas da polícia? –Indagou , como se eu estivesse sendo boba.
- Mas sempre terão missões da Iniciativa. – Exalei, ainda espantada com tudo o que ele havia me revelado de sua vida nos últimos dias. A morte de Cathy, o porquê de haverem lhe mandado para me proteger, sua ligação pessoal com Blackwell... Tudo se juntara em um bolo massacrante em minha mente, me dando a certeza de que havia um abismo gigante entre nós. Aquela confusão toda não permitiria que ficássemos unidos, não importando como nos sentíamos um pelo outro.
- Sim... – Respondeu pensativo. – Se houvesse uma forma de eu sair... Bem, sem ser em um saco do necrotério, quero dizer.
Uma lâmpada se acendeu em minha cabeça com sua frase, me fazendo quase derrubá-lo do sofá no processo.
- , você conhece alguém a que confiaria a sua vida?
- Bem, você. Eu te confiei meu coração. – Sorriu docemente.
- Não bobo, não é hora de ser fofo. Fala sério.
- Tenho um antigo contato de um oficial da marinha que serviu por uns anos comigo... Mas por que pergunta?
- Se eu morresse, você falharia sua missão e provavelmente te desligariam da agência, correto?
- Você quer que eu peça para um amigo atirar em você? Está maluca? – Perguntou enquanto eu pegava o jornal na mesinha de centro e vasculhava o obituário.
- Já ouviu falar de bala de festim? – Perguntei, mostrando-lhe o anúncio de uma jovem baleada recentemente.
O homem me encarou com uma face tão admirada com a engenhosidade de meu plano que soltei uma risadinha nervosa.
- Então será uma simples questão de...
- Encenar minha morte, molhar a mão do legista e fugir em direção ao pôr do sol. –Completei como se fosse o plano mais simples do mundo.
Let's have an adventure
Head in the clouds but my gravity's centered”
3 de Fevereiro de 2017 / Medical Center, Califórnia
Collin’s P.O.V.
- O senhor só tem que assentir para que eu saiba que essa é sua amiga mesmo. -Falou o médico legista. –Como o senhor estava com ela na hora da morte, está ciente da causa mortis, um tiro na região abdominal, não está? – Completou piscando.
- Sim. É ela. É a . – Assenti, engolindo em seco e querendo sair dali o mais rápido possível.
Não aguentaria mais encarar aquele cadáver. A cena de sendo baleada enquanto saía da Corte de Julgamentos, sendo escoltada por mim, me deixara nervoso. Eu precisava logo fugir. Sair daquela maldita cidade que eu sempre odiei e recomeçar. Ou ao menos tentar.
Agora, já não fazia mais parte da iniciativa. Emily ligara pessoalmente para me explicar que eu não era mais um membro da organização e que se meu caminho se cruzasse com algum integrante da Iniciativa, eu seria instantaneamente eliminado.
“Você sabe demais. Muitos segredos, conspirações, planos de alta confidencialidade. Ouça-me , você deve fugir enquanto ainda há tempo! Não é só a Iniciativa que o quer morto e não demorará muito para que nossos inimigos descubram que você não possui mais nossa proteção.” Alertara minha antiga chefe. E era exatamente isso que eu faria.
Saí do hospital e dirigi o carro em direção ao lugar onde estava meu passe para um futuro: Carmel Highlands. Meu destino tinha curvas muito bonitas e estava mais precisamente, recostada em uma mureta enquanto comia um enorme cachorro quente da barraquinha mais conhecida da região.
Assim que me avistou, a mulher entrou no veículo e bateu a porta do carro sentando-se a meu lado. Não tardou a ligar o rádio em sua estação preferida.
- Ah, não , minha vez de escolher a música!
- Deixa de graça, , eu morri, ao menos aos olhos do resto do mundo. O mínimo que eu mereço é escolher a músi...
Interrompi seu tagarelar beijando sua boca intensamente, como se fosse a primeira e última vez. Minha língua explorou cada canto com dedicação e necessidade. Dei um último mordiscar em seu lábio e entreguei-lhe o mapa.
- Tudo bem, -Bati uma palma e depositei minhas mãos de volta no volante. –Vamos ver como são suas habilidades de navegadora.
- Por que não usamos um GPS? –Perguntou ela com uma careta ofendida, sempre preferindo a tecnologia.
– Eu sou antiquado. Vá se acostumando. -Repliquei com um sorriso largo. Dois poderiam jogar esse jogo da irritação.
- Ok. Pra onde vamos? –Perguntou abrindo o mapa gigante até seu colo.
- Desceremos até San Diego e depois fretaremos um jato até o Taiti. O que acha?
- Você é rico? –Perguntou ela com os olhos arregalados, impressionada.
- Digamos que tenho um dinheiro guardado. – Respondi com um sorriso torto.
2 De Fevereiro de 2017/ Oakland, Califórnia
’s P.O.V.
Fazia dez dias que havia sido baleado e ele ainda sim insistira em me acompanhar ao tribunal no dia seguinte. Seria o último testemunho que eu teria que fazer. Agora repousávamos no sofá do hotel, após o ataque em Carmel. Finalmente haviam descoberto nossa última localização na mansão dessa região.
- Queria que tivesse uma forma de ficarmos juntos após isso tudo.
- Você acha realmente que vou deixar você sozinha com esses bananas da polícia? –Indagou , como se eu estivesse sendo boba.
- Mas sempre terão missões da Iniciativa. – Exalei, ainda espantada com tudo o que ele havia me revelado de sua vida nos últimos dias. A morte de Cathy, o porquê de haverem lhe mandado para me proteger, sua ligação pessoal com Blackwell... Tudo se juntara em um bolo massacrante em minha mente, me dando a certeza de que havia um abismo gigante entre nós. Aquela confusão toda não permitiria que ficássemos unidos, não importando como nos sentíamos um pelo outro.
- Sim... – Respondeu pensativo. – Se houvesse uma forma de eu sair... Bem, sem ser em um saco do necrotério, quero dizer.
Uma lâmpada se acendeu em minha cabeça com sua frase, me fazendo quase derrubá-lo do sofá no processo.
- , você conhece alguém a que confiaria a sua vida?
- Bem, você. Eu te confiei meu coração. – Sorriu docemente.
- Não bobo, não é hora de ser fofo. Fala sério.
- Tenho um antigo contato de um oficial da marinha que serviu por uns anos comigo... Mas por que pergunta?
- Se eu morresse, você falharia sua missão e provavelmente te desligariam da agência, correto?
- Você quer que eu peça para um amigo atirar em você? Está maluca? – Perguntou enquanto eu pegava o jornal na mesinha de centro e vasculhava o obituário.
- Já ouviu falar de bala de festim? – Perguntei, mostrando-lhe o anúncio de uma jovem baleada recentemente.
O homem me encarou com uma face tão admirada com a engenhosidade de meu plano que soltei uma risadinha nervosa.
- Então será uma simples questão de...
- Encenar minha morte, molhar a mão do legista e fugir em direção ao pôr do sol. –Completei como se fosse o plano mais simples do mundo.
Epílogo
23 De Abril de 2018/ Taiti, Polinésia Francesa
’s P.O.V.
- Je veux un autre, s’il vous plaît. – Pedi ao garçom enquanto dava uma última puxada em meu drink pelo canudo.
- Você fala bem francês. – Disse uma mulher, sentando-se ao meu lado na praia.
- Merci, Bastien. – Agradeci a ele, sentando-me direito na cadeira em que estava recostada, pegando sol. –Obrigada, quem é você?
- Sou Jane. – Falou a mulher esticando a mão para cumprimentar-me. –E você deve ser . –Continuou ela, como se saber meu nome verdadeiro não levantasse bandeiras vermelhas de perigo em minha mente.
- O que você quer comigo? – Perguntei, fechando a cara.
- Com você? Nada. Mas eu tenho uma mensagem para o . Foi um pouco difícil achar vocês, eu admito. Em pensar que estavam esse tempo todo debaixo de meu nariz!
- Mensagem de quem?
- James Blackwell. Eu e meu marido tivemos um grande trabalho para entrega-lo ao FBI. Não se preocupe, também fazemos parte do time dos mocinhos, não é assim que se diz?!- Explicou a mulher, se espreguiçando. –Eu queria muito ficar, mas meu tempo está se esgotando. Meu marido deve estar chegando com o seu.
- Diga logo, então. O que é tão importante que tiveram de nos caçar até aqui pra isso?
- Primeiro quero que saiba que estou contando isso a você e não a , porque duvido que ele fosse acreditar no que eu digo. Mas você será mais imparcial e acredito que o ame verdadeiramente, então não imagino ninguém melhor para lidar com essa informação.
- Sim, eu o amo, e levarei o que quer que seja a sério. –Murmurei às pressas, vendo se aproximar com sua prancha de surfe debaixo do braço, acompanhado de um homem.
- James Blackwell não matou Catherine Langford.
- Como você sabe disso? – Perguntei arregalando os olhos, mas tentando manter um meio sorriso para não desconfiar de nada ainda.
- O próprio Blackwell foi minha fonte.
- Ué, mas confiamos em criminosos agora? Como pode ter tanta certeza de que ele não está mentindo?
- Tenho certeza disso porque ninguém a matou de verdade.
- Como assim? – Perguntei, precisando confirmar o que eu já sabia ser sua resposta.
- Catherine ainda está viva.
’s P.O.V.
- Je veux un autre, s’il vous plaît. – Pedi ao garçom enquanto dava uma última puxada em meu drink pelo canudo.
- Você fala bem francês. – Disse uma mulher, sentando-se ao meu lado na praia.
- Merci, Bastien. – Agradeci a ele, sentando-me direito na cadeira em que estava recostada, pegando sol. –Obrigada, quem é você?
- Sou Jane. – Falou a mulher esticando a mão para cumprimentar-me. –E você deve ser . –Continuou ela, como se saber meu nome verdadeiro não levantasse bandeiras vermelhas de perigo em minha mente.
- O que você quer comigo? – Perguntei, fechando a cara.
- Com você? Nada. Mas eu tenho uma mensagem para o . Foi um pouco difícil achar vocês, eu admito. Em pensar que estavam esse tempo todo debaixo de meu nariz!
- Mensagem de quem?
- James Blackwell. Eu e meu marido tivemos um grande trabalho para entrega-lo ao FBI. Não se preocupe, também fazemos parte do time dos mocinhos, não é assim que se diz?!- Explicou a mulher, se espreguiçando. –Eu queria muito ficar, mas meu tempo está se esgotando. Meu marido deve estar chegando com o seu.
- Diga logo, então. O que é tão importante que tiveram de nos caçar até aqui pra isso?
- Primeiro quero que saiba que estou contando isso a você e não a , porque duvido que ele fosse acreditar no que eu digo. Mas você será mais imparcial e acredito que o ame verdadeiramente, então não imagino ninguém melhor para lidar com essa informação.
- Sim, eu o amo, e levarei o que quer que seja a sério. –Murmurei às pressas, vendo se aproximar com sua prancha de surfe debaixo do braço, acompanhado de um homem.
- James Blackwell não matou Catherine Langford.
- Como você sabe disso? – Perguntei arregalando os olhos, mas tentando manter um meio sorriso para não desconfiar de nada ainda.
- O próprio Blackwell foi minha fonte.
- Ué, mas confiamos em criminosos agora? Como pode ter tanta certeza de que ele não está mentindo?
- Tenho certeza disso porque ninguém a matou de verdade.
- Como assim? – Perguntei, precisando confirmar o que eu já sabia ser sua resposta.
- Catherine ainda está viva.
FIM
Nota da autora: Olá, pessoal! Bem-vindos ao universo da WITSEC! Essa fic provavelmente terá alguma continuação, seja por short ou longfic. Além disso, os ficstapes de Secrets da Pink e o de Criminal da Britney farão parte desse universo. Obrigada por terem lido, espero que tenham gostado <3! Por favor, não se esqueçam de deixar seu comentário ali embaixo, seja surtando, elogiando ou fazendo uma crítica construtiva. Amarei ler seus feedbacks e reações. No mais, quem quiser, será super bem-vindo no grupo do face!
Outras Fanfics da Gabi Heyes:
One More Dream (Outros/Em Andamento — Longfic)
Sixth Sense (Outros/Finalizada –Longfic)
You Give Love A Bad Name (Outros - Shortfic)
05. I’m not the only one (Ficstape)
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Outras Fanfics da Gabi Heyes:
One More Dream (Outros/Em Andamento — Longfic)
Sixth Sense (Outros/Finalizada –Longfic)
You Give Love A Bad Name (Outros - Shortfic)
05. I’m not the only one (Ficstape)