Última atualização: 21/09/2018

1. Love

Paris, outono de 1927

Eu havia saído tarde do meu estágio naquele dia, ainda estava vivendo meu sonho que trabalhar diretamente para a incrível CC. Não era fácil agradar uma mulher tão perfeccionista e elegante como ela, mas também não era difícil, afinal estar no meio de todo o universo da moda, no centro de Paris, compensava cada um dos meus esforços. Era um milagre meus pais terem permitido isso, em meio a toda modernidade proporcionada pela revolução industrial. Porém, minha família ainda vivia os pensamentos antiquados, da tradicional família londrina.

Mas eu estava em Paris, a cidade mais libertadora do mundo.

— Finalmente a miss estagiária apareceu. — comentou Arya assim que entrei na Coffee House.
— A Chanel finalmente te deu um dia de folga. — brincou Sam ao limpar seu óculos na borda de sua camisa.
— Ah sim, depois de dias confinada naquele ateliê, pensei que jamais sairia. — comentei indo me sentar ao lado de Meredith — Sinto que não tenho mais músculos em meu corpo, todos estão paralisados.
— Você tem trabalhado muito ultimamente. — Arya me olhou com olhar de piedade — Seu rosto é cansado.
— Eu estou cem por cento cansada. — ri baixo desviando meu olhar para Sam — Por acaso vocês tem notícias do ? Ele ainda está em Paris?
— Hum… Ainda interessada nele? — Meredith sorriu com malícia para mim.
— Não. — tentei nega inutilmente, meus amigos já sabiam que eu estava gostando daquele bobo — Ele não faz meu estilo, não gosto de homens libertinos…
— Realmente, a fama de o precede. — Arya deu uma gargalhada escandalosa como sempre, seus traços delicados de uma típica francesa sempre atraiam atenção das pessoas em volta, um dos pontos que tornava meu grupo de amigos um dos mais mencionados entre a elite parisiense.
— Só estou curiosa, soube que está perto a competição dele. — expliquei já sentindo o olhar repreendedor de Simon.
— Pelo que eu soube, ele está passando os dias treinando para o torneio classificatório para as olimpíadas do ano que vem. — explicou Sam se espreguiçando.
— Vocês acham que ele vai conseguir? — perguntou Meredith — Ano passado ele quase conseguiu se classificar para o campeonato mundial.
— Eu aposto que sim. — disse tranquilamente — é um excelente nadador.
— Isso eu tenho que concordar. — disse Arya, ao ajeitar a franja que lhe caía sobre o rosto — nada tão bem quanto arranca suspiro das garotas.

Logo o olhar de todos veio sobre mim.

— Ah gente, já disse que não estou interessada. — protestei novamente — E mesmo se tivesse, minha família jamais permitiria isso, lembre-se que já estou comprometida.
— Ah, sim… O garoto que te salvou quando criança. — Simon que já estava emburrado, soou ainda mais amargurado.

Desde que cheguei a Paris há três anos e conheci sua irmã Arya, me juntei rapidamente ao grupo sem menores esforço, não demorou muito até que ele se declarou para mim no primeiro carnaval que participei na cidade. Porém, eu já estava mais do que focada em meu sonho que estagiar para Chanel, algo que havia conseguido após muito esforço em convencer meus pais que poderia me comportar em outro país. Isso até conhecer e seu jeito encantador de me olhar nos olhos.

Enfim, encontrá-los naquela cafeteria todas às noites após o trabalho, havia se tornado uma rotina saudável para minha mente. Era como uma injeção de ânimo para o dia seguinte cheio de mais correria e desafios. A Coffee House era a melhor de toda Paris, pertencia a família de Meredith, e já havia aberto muitas filiais por toda europa.

podemos ir na frente?! — perguntou Simon ao se levantar da mesa — Quero falar algo com você.
— Claro. — me levantei ao tomar o gole final do cappuccino italiano que havia pedido e ajeitando minha bolsa no ombro, o segui em direção a saída.

Caminhamos pela calçada por alguns minutos em silêncio, Simon parecia escolher as palavras minuciosamente para falar comigo.

— Não precisa pensar tanto. — ri baixo, brincando com ele.
— Desculpe, é que, não quero te magoar com minhas palavras. — explicou ele.
— Por que me magoaria? — o olhei confusa.
— Sabe que não gosto do … — ele manteve seu olhar para frente — E sabe por que… Mas ainda assim você se move para ele.
— Por que é tão difícil acreditar que não estou interessada nele?! — questionei.
— Porque sempre que nega, seus olhos dizem que está mentindo. — ele me olhou, via a frustração em seu rosto — Ele não é o homem certo para você.
— E quem seria? Você?
— E por que não? — ele parou e me olhou mais seriamente — Não me vê como uma opção?
— Bem, sempre te vi como um amigo Simon. — engoli seco, não acreditava que estávamos falando sobre isso novamente — Confesso que é um homem muito interessante, mas sabe que não estou em Paris para isso… Já foi quando impossível convencer meus pais a me deixarem vir, preciso aproveitar para segundo que estou aqui… Romances não estão nos meus planos.
— Por causa do seu casamento arranjado? — ele manteve seu olhar fixo em minhas expressões.
— Talvez. — voltei meu corpo para frente — Por isso preciso aproveitar bem meu tempo aqui, ao que tudo indica, no próximo ano conhecerei meu noivo, então… Jamais poderia viver uma aventura amorosa em Paris.

Sim, eu já tinha um casamento com data marcada me esperando em Londres. Me sentia um pouco chateada por isso, mas estava vivendo a melhor fase da minha vida e não queria me preocupar com esses detalhes agora. Paris era a cidade dos sonhos, e eu estava tendo o mais lindo, passar quase quatro anos trabalhando para Chanel era o melhor de todos. Ao final, eu teria a oportunidade de ser uma grande estilista assim como minha mentora.

Simon me acompanhou até a casa dos meus tios, onde eu estava sendo hospedada. Assim que cheguei, tia Judy veio me receber, ela já estava mais do que acostumada com meus horários de chegada serem bem tarde. Porém, se preocupava se eu conseguiria acordar no dia seguinte.

— Boa noite querida! — disse ela ao me abraçar com carinho — Que bom que chegou em segurança.
— Boa noite tia. — retribui o abraço — Novidades? O tio François melhorou?
— Sim, felizmente. — ela deu um suspiro aliviado — O dr. Dimitri esteve aqui, os medicamentos estão fazendo efeito e logo poderemos ir para a casa de campo, para continuar o tratamento lá.
— Mas se forem, eu poderei ficar aqui? — perguntei um tanto aflita.
— Claro que sim, já enviei uma carta a seus pais dizendo que ficará sobre os cuidados da Isla, nossa governanta, ela será sua tutora até retornar para Londres. — explicou titia.
— QUe bom, fico mais aliviada por isso, pensei que tivesse…
— Oh não. — me interrompeu ela — Jamais eu deixaria você abrir mão de seu sonho, sabe que te apoiei muito quando pediu seus pais para estudar moda em Paris e ser aprendiz da madame Chanel.
— Mais uma vez obrigada tia, sempre estarei grata por isso.
— E como tem ido seus esboços? Estou curiosa para saber o que anda desenhando tanto.
— Vou amar te mostrar, mas só quando terminar tudo.

Tia Judy era mesmo a melhor tia do mundo, nem acreditava que era irmã do meu pai. Ambos não tinham nada em comum, minha tia tinha uma visão livre do mundo, não é a toa que se casou com o tio François, ficando totalmente contra a família dela. Curiosamente somente meu pai foi à favor, mas por interesses, pois tinha negócios com a família do tio François.  

— Ahh.. — disse ao me espreguiçar assim que troquei de roupa, colocando minha camisola de seda que havia ganhado da tia Judy — Que cansaço.

Caminhei em direção a minha escrivaninha, então retirei o bilhete que havia me enviado mais cedo no ateliê e fiquei olhando. Por um lado eu me sentia um pouco mal por mentir para meus amigos, principalmente para Simon que tinha aquele seu instinto protetor, porém, por mais que quisesse o contrário, eu só conseguia vê-lo como um irmão.

— Por que me apaixonei por você, seu nadador malicioso. — sussurrei dando um sorriso bobo, estava mesmo apaixonada por aquele libertino — Park .

Suspirei fraco, e li novamente suas palavras.

“Estou com saudades, ansiando o dia em que poderei gritar para o mundo que você é minha bela dama. Passarei estes dias somente com seu rosto em meus pensamentos, espere por mim, pois cada medalha que ganhar, será dedicada a minha inspiração: Você.

Com amor…
                                      Seu Prince”

Eu sorri ao ler, além de sedutor era muito romântico, lembro-me do dia em que o conheci, uma semana após chegar na cidade francesa, não conhecia nada da cidade e acabei me perdendo entre as estações do metropolitano de Paris. Até aquele dia não acreditava em amor à primeira vista, mas quando nos olhamos eu senti algo diferente acontecer dentro de mim. As borboletas no estômago que tia Judy sempre mencionava, sobre o que uma pessoa sentia quando se apaixonava, apareceram de surpresa.

Estava chovendo e eu tinha descido na estação errada, se aproximou de mim como um gentleman e me abrigou em seu guarda-chuva. Fiquei um tanto envergonhada no início, estar tão próxima a um homem assim, mas aos poucos o sentimento de segurança e conforto tomou conta de mim.

Jamais vou me esquecer disso.

- x -

— Annyeonghaseyo. — disse ele, ao sussurrar de repente no meu ouvido.
? — o olhei surpresa — O que faz aqui? No meu trabalho?
— Estava com saudades, vim te ver. — ele sorriu e logo mostrou o bouquet de azaleias brancas que havia levado para mim.
— Também estava com saudade. — peguei o bouquet das suas mãos e sorri, então procurei com o olhar um vaso de flores que estivesse vazio — Mas como conseguiu entrar? Minha chefe é um tanto repreensiva com visitas indesejadas.
— Madame Chanel é uma mulher de muitos amigos, ou seja, é amiga da minha madrinha, o que me faz se próximo dela.
— Sério? — por essa eu não esperava.
— Muito sério, mas não é sobre isso que vim fala.
— É sobre o que?
— Nosso jantar de hoje. — ele sorriu — Acaso não se esqueceu, não é?
— Oh não… — sim.
— Vou acreditar. — ele riu e caminhou até o sofá da sala onde eu trabalhava e se sentou.
— Vai ficar aí?! Me vigiando?!
— Ficarei aqui te observando. — ele fixou ainda mais seu olhar em mim — Após semanas sem te ver, preso naquele centro de treinamento, preciso de um tempo motivador em minha vida.
— Só por isso eu deixarei. — ri ao colocar as flores no vaso que estava escondido atrás de alguns tecidos.

Passar aquela tarde na companhia dele foi desafiador para mim, seus olhares me deixavam tímida e sem foco nenhum no que estava fazendo. Logo à noite seguimos para o restaurante de um amigo dele, um dos lugares mais badalados da cidade, onde a elite se reunia todas as noites para saborear, os mais diversos e bem elaborados pratos do Gusteau's.

Após o jantar, ele me levou até a frente da casa dos meus tios. Naquele momento, meu coração começou a se apertar de uma forma inexplicável.

— Você esteve muito silenciosa hoje. — comentou ele — Aconteceu alguma coisa que não tenha me contato?
— Sim. — assenti desviando o olhar para minha bolsa e abrindo — Recebi uma carta dos meus pais há doi dias, mas não tive coragem de ler.
— Vejo que está preocupada com isso. — ele elevou sua mão até minha face e acariciou de leve — Sabe que pode se apoiar em mim.
— Eu sei, mas estou com medo. — abaixei a cabeça e retirei a carta de dentro da bolsa — Estou com medo do que pode estar escrito aqui.
— Esta carta não vai nos afastar, se é disso que tem medo. — ele me puxou para perto e me abraçou forte, me fazendo aninhar em seus braços.
— Você promete?! — sussurrei sentindo algumas lágrimas se formarem no canto dos meus olhos — Promete que não vamos nos separar?
— Prometo. — sua voz soou com segurança — Eu vou enfrentar seus pais, vou enfrentar este homem que se acha seu noivo, enfrentarei toda sociedade para ficarmos juntos.
— Vai mesmo?! — o olhei esperançosa.
— Sim. — ele sorriu para mim — E se eles não aceitarem, fugiremos juntos. Você fugiria comigo?
— Sim. — disse de imediato — Eu te amo, .

Ele foi aproximando seu rosto do meu e me beijou com suavidade, o forte pulsar do meu coração deu lugar as borboletas, que sempre surgiam em meu estômago quando ele me beijava. Senti meu corpo leve, me sentia forte e imbatível em seus braços, ao contrário do que todos diziam de ruim sobre ele, era totalmente sincero com seus sentimentos para comigo.

Permanecemos com nossas faces próximas por algum tempo, um sentindo a respiração do outro, então pegou a carta de minhas mãos, abriu cautelosamente e começou a ler.

“Bonjour, querida filha...

Estamos com saudades, sabemos que sua rotina tem sido apertada e estressante, afinal ser estagiária de uma forte mulher como Coco Chanel é um tanto desafiador, nos orgulhamos por conseguir ser sair bem nesta etapa de sua vida. Confesso que seu pai ainda está inquieto sobre morar sozinha em Paris, mesmo que sendo na casa de sua tia Judy, o mundo é perigoso longe de casa.
Nossa menininha deve estar com saudades de casa, por isso estamos lhe escrevendo, temos uma notícia para você, sabe que desde que você nasceu sempre nos preocupamos com seu futuro. Já está chegando a grande data do seu noivado, sei que está chateada por ele ter sido prometido a sua irmã no passado, mas pensei positivamente quanto a isso. Saiba que será muito feliz em seu casamento, ele é um homem de boa família e...

Estamos esperando ansiosos pela sua volta…
Com amor mamãe e papai.”

Quando ele terminou de ler, a insegurança que me sufocava todas as vezes que me lembrava deste casamento arranjado, retornou. me olhou de forma enigmática, sua expressão facial estava estática e fria, como se quisesse matar alguém. Mesmo que ele não admitisse, esse assunto sempre o deixava com raiva.

“Eu senti que mesmo que o mundo tenha parado,
Apenas os momentos bons apareceram rapidamente,
Quando cheguei ao limite achei que aquilo não poderia estar acontecendo comigo,
E então apenas orei.”
- Love Again / Kyuhyun



2. One

Eu ainda não tinha conseguido absorver tudo que estava naquela carta, imaginar que teria que me casar com uma pessoa que havia visto ainda criança, era como se cortassem meu coração ao meio. guardou a carta em seu bolso e respirou fundo, estava mesmo tentando se acalmar.

— Eu não quero me casar. — sussurrei tentando colocar meus pensamentos em ordem — A menos que o noivo seja você.
— Não se preocupe, vamos dar um jeito nisso. — seu olhar estava estranho, como seu ele estivesse frustrado e ao mesmo tempo esperançoso.
— Voltarei para Londres no início do inverno, se for comigo, posso te apresentar aos meus pais. — disse esperançosa.
— Sim, vou pedir o apoio dos meus pais, o desejo deles sempre foi me vez feliz apesar de não seguir muito a vontade deles. — ele sorriu para mim e segurou em minha mão — Isso não irá nos separar, se nada der certo, poderemos fugir para o Brasil, tenho alguns amigos lá.

Assenti com a face, não tinha medo sobre isso, o que temia mesmo era ficar longe dele. sorriu e deu um beijo demorado em minha testa.

— Não vou deixar que nada nos separe. — a voz de era doce e suave — Eu prometo.

Ficamos mais alguns minutos abraçados, até que nos despedimos e eu entrei. Tia Judy estava na sala me esperando de braços cruzados, pela sua expressão estava mais do que chateada comigo.

— Boa noite tia.
— Então este é o rapaz?! — disse ela — Por isso estava me pedindo para te ajudar a se livrar do casamento arranjado?
— Tia, eu posso explicar... — iniciei sendo interrompida pelo seu dedo indicador.
— Quem é ele?
— Park . — respondi — Nos conhecemos na estação de metrô, ele é um nadador profissional, já ganhou muitos campeonatos e vai participar das olimpíadas do ano que vem, estudou em Oxford, é de uma família tradicional coreana…
— Querida, você já está prometida, não deveria ter entrado em um romance passageiro. — disse ela.
— Não é um romance passageiro tia Judy, a senhora mais do que todo mundo deveria me entender. — fiquei chateada com suas palavras — Afinal, também enfrentou a nossa família por um amor.

Ela desviou o olhar para o chão, parecia estar refletindo sobre o que disse.

— Você não imagina o quanto isso me custou, o quanto ainda me custa. — ela suspirou fraco — Seu pai é o único que ainda fala comigo, mas ambas sabemos que é por interesse… Você acha mesmo que teria dado certo se François não tivesse um alto padrão de vida? Ele sendo da elite parisiense já foi complicado ficarmos juntos, imagine você.
— Estamos em 1927 tia, o mundo está mudando, a guerra mudou o pensamento das pessoas.
— Seus pais não são as pessoas. — questionou ela — Pensei neste rapaz a quem está prometida, pensei em como ele vai se sentir ao ser rejeitado.
— Ele nem mesmo era para mim, sabemos muito bem que inicialmente ele se casaria com Freya, se ela não tivesse desonrado o nome da família.
— Por isso mesmo, você fará o mesmo?!
— Não quero me casar sem amor.
— Você nem deu uma chance a ele. — retrucou — Sem nem conhecer já está julgando que ficará sozinha.
— A senhora está sendo muito egoísta. — me senti sozinha e desamparada.

Me afastei e subi correndo as escadas até meu quarto. Tia Judy era minha única esperança de ter um pouco de apoio, mas pelo visto até ela estava contra mim. Me veio uma enorme vontade de fugir dali e me aconchegar nos braços de , sabia que nem mesmo os meus amigos seriam a favor do nosso romance, por isso escondia de todos.

Passei a noite chorando. Ao amanhecer, me arrumei e fui direto para o ateliê, não queria ver tia Judy e nem dar espaço para que falasse sobre a noite passada. Os dias que correram foram bastante frios para o final do outono, talvez porque meu coração estava gelado com a possibilidade de ficar longe da pessoa que eu amava.

Minha última semana em Paris passou rápido, naquela tarde de sexta estava terminando de colorir meus croquis para apresentá-los a Chanel, foi quando recebi uma caixa de bombons com um bilhete. Sabia que era dele.

“My princess,

Como é difícil estar longe de você, mas tive que voltar para Londres antes, não fique aflita ou se preocupe, falarei com meus pais, não a deixarei estar ao lado de outro no altar. Eu serei seu e você será minha, meu coração baterá somente para você. Nos vemos em King’s Cross...

Saranghae 4ever
Sempre seu, Prince”

Eu suspirei rindo da parte final. Seu senso de humor em colocar a estação londrina na carta havia me transportado para o dia em que nos conhecemos, logo senti meu coração se aquecer novamente. Mesmo sabendo que iria enfrentar muita coisa a partir de agora, o amor dele me dava forças. Arya e Meredith me visitaram à noite, seria uma festa do pijama de despedidas, antes delas chegarem, pedi a tia Judy para não comentar sobre com elas.

— Foi uma boa ideia fazermos essa festa do pijama. — disse Arya ao pular na cama — Você passou a semana tristinha.
— Não é fácil saber que vou chegar em casa quase indo para o altar. — expliquei com desânimo.
— Vejo que ainda não está conformada com a ideia. — comentou Meredith sentada na poltrona ao lado da escrivaninha.
— Como irei me conformar?! Terei que me casar com este homem para honrar o nome da família, desonrado por Freya. — cruzei os braços inconformada — Minha é causadora de tudo isso, ela quem deveria se casar.
— Freya foi deserdada. — relembrou Meredith — Até hoje me lembro de você lendo a carta dos seus pais sobre esse assunto.
— O que me deixou aliviada foi não ter que voltar para casa por isso. — respirei fundo — Se as travessuras de Freya tivessem matado meus sonhos de trabalhar para Chanel, juro que tinha matado ela.
— Como ela está agora? — perguntou Arya curiosa.
— Não sei. — dei de ombros — Certamente não deve estar bem, pelo menos a última vez que soube, ela havia sido abandonada pelo homem que a iludiu.
— Isso não é um sinal? — Meredith me olhou preocupada.
— Sinal de que?
— Que o certo a se fazer é se casar com quem seus pais escolheram.
— Não acredito que esteja falando isso. — a olhei indignada.
— Sim. — continuou ela — Imagina se você se ilude por alguém, por exemplo, pelo , e ele te abandona na rua, como sua irmã foi abandonada. Não seria melhor se casar com alguém que seus pais aprovam.
— Casar sem amor é como não viver. — retruquei — E não entendo por que vocês condenam tanto o .
— Você sabe porquê. — Arya interviu — Sabe que ele iludiu minha irmã mais velha, sabe porque Simon odeia ele.
— Quando uma mulher é rejeitada por inventar qualquer desculpa. — a olhei séria.
— Falando assim, parece mesmo que está gostando dele. — Arya cruzou os braços — Acaso têm se encontrado com o ?!
— Por que quer saber? — cruzei os braços também.
— Não acredito nisso. — ela se levantou da cama — Você se jogou nos braços daquele libertino enganador.
— Ele não é enganador. — retruquei.
— estou decepcionada com você. — ela pegou sua pequena mala e se dirigiu até a porta.
— Aonde vai?!
— Embora. — ela me virou — Vem comigo Meredith?!
— Ah não, parem vocês duas. — Meredith protestou — É a última noite da em Paris, é a noite das garotas, vamos deixar as opiniões sobre Jund e lado e voltem a ser as amigas que eu admiro tanto.

Arya deixou a mala no não e bufou um pouco.

— Desculpe Arya, mas não posso mandar em meu coração. — expliquei arrependida de ter escondido de minhas amigas — Estou apaixonada.
— E ele?! — Arya me olhou.
— Corresponde na mesma intensidade. — respondi cautelosamente — Ele vai pediu aos pais para ajudá-lo a convencer meus pais.
— Hum… — Arya cruzou os braços novamente — Ainda não gosto dele, pelo que fez com minha irmã, mas não posso mandar no seu coração, que tem um péssimo gosto.
— Arya. — Meredith a repreendeu.
— O que eu disse?! — ela desviou o olhar para a janela.

Nós rimos e conversamos mais um pouco. Mesmo que elas fossem contra, eu me sentia mais leve por ter contado sobre meu romance com .

- x -

— Que saudade minha princesinha. — disse meu pai, assim que desci do carro, ele deixou transparecer um sorriso de canto.
— Filha querida! — minha mãe veio ao meu encontro e me abraçou forte — Nossa como você está linda, mesmo trabalhando muito, Paris te fez mais reluzente.
— Ela está é mais magra. — disse papai já pegando minhas malas.
— Claro foram quase quatro anos longe de casa. — reclamou minha mãe ainda abraçado a mim.
— Eu estou bem mamãe. — respirei fundo me afastando dela — Me alimentei direito na casa da tia Judy, e trabalhei muito papai, por isso estou mais magra.
— Vamos entrar, você tem muito a nos contar sobre a lady Chanel. — disse mamãe empolgada.

Eu estava mesmo com um pouco de saudades de casa, estar de volta em Londres me trouxe algumas lembranças de quando era criança, principalmente de quando Freya fazia suas travessuras e colocava a culpa em mim. Eu odiava quando ela fazia isso.

— Você vai amar a  nova decoração do seu quarto. — disse mamãe com seus olhos brilhando — Contratei um dos melhores arquitetos de Londres para reformular tudo.
— Tenho certeza que sim. — eu virei minha face para as grandes janelas que acompanhavam a escada — A senhora sempre teve bom gosto para decoração.

Minha mãe sempre foi apreciadora do neoclássico, a arquitetura de nossa casa seguia esta linha de sofisticação, combinada ao conforto. Ela me levou em um tour pelos cômodos da casa, mostrando os espaços modificados pela reforma que tinham feito há alguns meses, enquanto isso meu pai se encarregaria das minhas malas. Após ela me apresentar meu novo quarto, minha mãe voltou para cozinha, onde coordenaria o jantar.

Eu coloquei minha bolsa na poltrona ao lado da porta e caminhei até a cama, me sentei e suspirei fraco, estava tentando reunir forças para falar sobre aos meus pais, usaria o jantar especial em meu favor. Eu joguei meu corpo sobre a cama e fechei meus olhos, meus pensamentos estavam uma bagunça.

Logo após um banho quente, escolhi sabiamente o que vestiria, então, ao sentar em frente a penteadeira, olhei para minha bolsa. Logo lembrei das palavras de na última carta que havia escrito para mim, foi como uma injeção de ânimo. Me levantei imediatamente e desci as escadas, mamãe já estava pondo a mesa do jantar, com a ajuda de Carmen, nossa mais antiga criada.

— O cheiro está bom. — eu elogiei.
— Como é bom ouvir isso. — ela sorriu ao me olhar — Fiquei com medo de não estar a altura das deliciosas comidas de Paris. — ela brincou.
— Deixa de bobeira mãe. — eu ri — Não há nada melhor que comida de mãe, nem mesmo o Gusteau’s chegaria perto.

Eu comi bem aquela noite, mamãe tinha preparado spaguetti ao molho branco com cogumelos, uma receita tradicional de sua família italiana. Ao final do jantar, após ela servir a sobremesa...

— Reserve um de seus melhores vestidos, amanhã jantaremos com a família do seu noivo. — anunciou papai.
— Era sobre isso que eu queria falar depois do jantar. — eu me pronunciei.
— Alguma dúvida querida? — minha mãe me olhou gentilmente.
— Dúvida não, mas certeza. — respondi — Como podem insistir em um casamento arranjado para mim?
— Já falamos sobre isso. — respondeu papai — Somos seus pais e achamos que isso é o melhor para seu futuro.
— Eu não quero me casar. — disse tentando arrancar de dentro de mim a coragem que até então eu não tinha — Não sem amor.
— Amor se constrói com o tempo querida. — interviu minha mãe — Como pode saber que não vai amar seu noivo?
— Eu… — respirei fundo tomando coragem.
— O que andou fazendo em Paris? — meu pai engrossou a voz se levantando da mesa — Acaso está querendo se perder como Freya?
— Não é isso pai… — segurei as lágrimas que me formavam no canto dos olhos — Só disse que não quero me casar sem amor...
— Se acalmem vocês dois. — mamãe tentou nos apaziguar, mas acho que não daria muito certo.
— É a minha vida, não posso me casar com uma pessoa que vi uma ou duas vezes, pior que era prometida a minha irmã… Eu não nasci para consertar os erros da Freya.
— Você o conhece queria, só não se lembrar. — interviu mamãe.
— Quem é o estranho que está te iludindo? — perguntou ele.
— Nenhum estranho está me iludindo… O senhor nem o conhece.
— Não tem discurção. — a voz do meu pai ficou ainda mais grossa e fria — Já perdi uma filha, não vou perder a outra.
— Eu não sou a Freya, o senhor não pode me forçar a um casamento que inicialmente não era para mim… — joguei minhas frustrações para fora — Eu não vou me perder como ela, só porque não quero me casar com o pretendente que arrumou.
— Nós só queremos te proteger filha. — disse minha mãe temendo o pior.
— Não fale mais de Freya, ela já deixou de ser minha filha a muito tempo. — ele me olhou furioso, nunca tinha o visto — Este casamento será realizado, quer você queira ou não.

Me levantei bruscamente e saí correndo, minhas lágrimas já encharcando meu rosto, quando cheguei no quarto bati a porta com força e me sentei na cama chorando um pouco mais.

— minha mãe bateu na porta — Posso entrar?
— Pode. — eu disse num sussurro, minha voz estava presa, como se eu estivesse engasgada.
— Minha querida, sei pai e eu... — mamãe entrou e se sentou ao meu lado.
— Desde que a Freya nos deixou, o papai vive planejando minha vida como se fosse a dela, é assim desde criança, eu sempre me vi na obrigação de consertar os erros dela. — parei e respirei fundo tentando controlar minhas lágrimas — Desta vez eu não vou concordar...
— Entendo querida, que sinta essa pressão toda, mas saiba que nos preocupamos demais com você. — ela me olhou com serenidade — Já perdemos a sua irmã, não queremos perder você também.
— E como fica minha opinião? É do meu futuro que estamos falando. — limpei as lágrimas — Não posso me casar assim, eu amo outra pessoa.
— Eu sei querida, mas também não seria justo com o filho dos nossos amigos. — ela sorriu — Sabe, ele espera te rever a muito tempo... Posso te pedir uma coisa?
— Sim.
— Vamos ao jantar, e lá você mesmo tire suas conclusões sobre seu noivo.
— Eu nem me lembro dele.
— Tenho certeza que irá se lembrar. — minha mãe me abraçou — Faça isso por mim querida.
— Tudo bem mãe.

Ela se afastou de mim e se levantou:

— Saiba que sempre estarei aqui para te ouvir. — ela sorriu e saiu do quarto.

Eu respirei fundo, pelo menos eles sabiam minha opinião sobre isso.
No dia seguinte, à noite, papai já estava estacionando o carro na frente da casa da família Park, eu saí do carro em silêncio, pois não estava conversando com meu pai. Ao entrarmos na casa, sua decoração era um tanto moderna apesar de sua estrutura ser bem tradicional. A senhora Park nos recebeu na porta com um largo sorriso, eu cumprimentei com um leve sorriso e voltei a ficar séria. O senhor Park apareceu do corredor que dava para o escritório dele com uma garrafa de vinho, estava acompanhado de um rapaz.

Eu senti um frio passar pelo meu corpo, estava com medo e receio.

— Que bom que chegaram! — o senhor Park se curvou em cumprimento — Estávamos ansiosos pelo seu retorno, até mesmo já escolhi o vindo desta noite.
— Boa noite , provavelmente não deve se lembrar de mim, já que era muito nova. — disse o rapaz dando um sorriso leve.
— Não me lembro mesmo. — eu fiz uma breve reverência — Me desculpe.
— Sem problemas querida, afinal faz muitos anos. — a senhora Park, mantinha um sorriso no rosto — é nosso filho mais velho.

Eu olhei novamente o rapaz, notando seu corte de cabelo meio estranho e bagunçado, ele tinha um sorriso bonito e um olhar profundo.

— Me desculpe de novo, por não me lembrar.
— Sem problemas — sua voz era tranquila e calma, porém grossa — Com o tempo se lembrará.
— Ah! — exclamou o senhor Park — Que bom que você apareceu, este é nosso maknae.

Eu olhei para escada, outro rapaz estava descendo, no início não vi direito seu rosto, mas quando ele levantou sua face, meu corpo gelou.

venha conhecer a noiva do seu irmão. — disse senhor Park empolgado.

O pouco de sorriso que eu mantinha forçado em meu rosto logo se desfez, senti meu coração parar por alguns instantes, minha expressão facial congelada, não sabia o que pensar, ou pior, o que fazer.

— Me desculpe, mas não ficarei para o jantar.
— Algum problema filho? — perguntou o senhor Park — Agora terá treinos noturnos também?
— Não, apenas outros compromissos.

manteve seu olhar em mim, e eu nele. Ainda estava paralisada, perdida naquela cena, temia que alguém percebesse minha reação estranha.

— Boa noite a todos. — se curvou cordialmente e saiu.

Eu continuei olhando para a porta, não conseguia retornar meus sentidos, não conseguia absorver o que tinha acontecido, eu só queria poder sair de lá e correr atrás dele, explicar que eu estava ali para acabar com o noivado arranjado.

“Está tudo bem que não possa te amar
Está tudo bem mesmo que não possa chegar até você
Amor solitário, sim, eu te amo
Mesmo de longe
Eu posso vê-lo.”
- Touch Love / Master's Sun OST (Yoon Mirae)

havia me convidado para caminhar pelo jardim, enquanto sua mãe terminava o jantar, ao sairmos eu avistei de longe entrando em seu carro, eu fiquei olhando, não conseguia disfarçar.

. — estava me chamando, parado ao meu lado me olhando.
— Me desculpe. — eu desviei meu olhar para ele — Me distrai.
— Sem problema. — ele sorriu com tranquilidade — É tudo novo para você, sei como é tentar se adaptar.

Eu sorri rapidamente, evitava olhar para ele, não queria que percebesse meu choque, permaneci a maior parte do tempo calada, as vezes ele falava alguma coisa, mas logo deixava o silêncio nos acompanhar. era gentil e educado, eu podia sentir um certo esforço da parte dele para me deixar confortável.

Após o jantar, enquanto nossos pais tomavam um café e conversavam na sala de estar, me convidou para conhecer uma parte especial da casa. Ele me levou até o que deveria ser o terraço, quando cheguei fiquei surpresa, havia uma estufa onde ele tinha montado um orquidário.

— Nossa. — eu fiquei sem palavras quando entrei na estufa.
— Imaginei que iria gostar de conhecer. — ele disse parando ao meu lado.
— É lindo. — eu me aproximei de uma bancada de orquídeas amarelas e fiquei admirando.
— Quando éramos crianças você disse que gostava.

Eu o olhei, tentei não demonstrar reação:

— A única pessoa que me lembro ter falado isso foi... — eu me lembrei do dia do no estábulo da casa da vovó ao sul de Derbyshire.

Eu era uma criança quando entrei no velho celeiro, que estava em reformas, acompanhada de Freya. Após uma brincadeira sem graça de minha irmã, o mesmo começou a pegar fogo, ao tentar sair, eu tropecei e caí batendo a cabeça, o resultado foi a perda da minha consciência. Quando acordei já estava do lado de fora nos braços de , seu rosto sujo e sua roupa cheirando a fumaça, seu olhar aliviado por me ver bem.

— Agora se lembra melhor de mim.

Eu senti minhas pernas ficarem bambas e me apoiei na bancada.

— Está tudo bem? — ele segurou em meu braço de leve e me olhou meio preocupado.
— Sim. — eu o olhei novamente — Você é o garoto que me salvou no incêndio do celeiro.
— Eu disse que se lembraria. — ele sorriu, agora sim eu me lembrava daquele sorriso gentil que tinha me acalmado no pior dia da minha vida.
— Eu não me lembro de muita coisa daquele dia.
— Deve ser pelo trauma, você quase morreu, bateu a cabeça. acompanhada de Freya explicou ele — Foram muitas coisas.
— Curioso você se lembrar das orquídeas.
— Na verdade, desde aquele dia eu comecei a gostar, nunca me esqueci do seu rosto assustado. — ele me olhou com carinho.
Neste momento, eu me senti uma covarde, minha coragem para pedir que ele desistisse de mim e desse casamento havia descido pelo ralo. Me senti sendo jogada numa vala cheia de remorso e insegurança. Como aquilo estava acontecendo? Porque tinha que ser justo a pessoa que me salvou da morte, o garoto com quem sonhei parte da minha infância e sempre desejei rever. Porque tinha que ser o ?!

Minutos depois meus pais me chamaram, nós voltamos para casa.
Ao chegar eu fui direto para o quarto, tranquei a porta e me sentei na poltrona me encolhendo. Pela primeira vez eu não sabia o que fazer, me sentia uma inútil covarde. era irmão mais novo de , era o anjo que havia salvado minha vida e me acalmado no momento de medo e dor. Agora eu descobri que possivelmente ele era apaixonado por mim desde aquele dia. Nossos pais eram amigos e meu pai já havia decidido que não mudaria sua decisão. Minha mente estava fervendo, inteiramente desorientada, neste momento eu só queria fechar os olhos e fingir que nada estava acontecendo.

Foi quando uma pedrinha bateu na janela do meu quarto, olhei assustada e me aproximei, do lado de fora, ele estava parado com seu carro frente minha casa, certamente queria conversar comigo. Neste momento eu não sabia se meu coração parava ou acelerava de vez. Esperei meus pais irem dormir e saí, quando cheguei na rua fui em direção ao seu carro.

— Bonjour. — eu o olhei, ele estava sério.
— Bonjour. — ele permaneceu olhando para frente, eu pude perceber seus olhos inchados e vermelhos, como se ele tivesse chorado todo aquele tempo.
— Você não ficou surpreso ao me ver.
— Não. — ele concordou.
— Já sabia que era eu? Que era seu irmão?
— Desconfiava. — ele suspirou fraco — Mas no fundo pedia a Deus que não fosse você.

já havia me falado que seu irmão se casaria, há um tempo atrás, mas eu nunca dei importância.

— Como está? — eu perguntei.
— Não sei como reagir. Desde pequeno eu ouço falando de você, sem saber que era você.
— Eu fiquei surpresa quando ele me disse que não tinha se esquecido das orquídeas, só você sabia além… — eu parei por um instante senti meus olhos se encherem de água — O que vamos fazer?
— Eu não quero magoar meu irmão e não quero te perder — ele me olhou com os olhos cheios de lágrimas.
— Eu te amo. — eu o abracei apertado — Sempre vou te amar.

Eu não sabia o que iria acontecer aqui para frente, só queria que aquele momento congelasse para sempre. Nós ficamos abraçados por um tempo, eu me aninhei nos braços dele…

“Mesmo se um vento soprar através do seu coração um dia,
Segure firme em mim e não solte meu amor,
Segure em mim com seu sorriso.”
- You are the one / Super Junior



3. Fool

Antes dele ir embora, combinamos de nos encontrar no Museu de Londres, tínhamos que resolver o que faríamos com relação ao noivado arranjado. Ao amanhecer, assim que me levantei, fui até a cozinha, mamãe já preparava o café da manhã.

— Então era ele? — perguntou ela.
— O papai... — eu a olhei imaginando o pior.
— Não se preocupe, seu pai não viu nada. — ela sorriu para mim e colocou a jarra de suco na mesa — Mas deveria ter cuidado.
— Obrigada mãe. — eu a olhei — Sim, era ele.
— Imaginei. — ela me olhou tranquilamente — Já pensou no que vai fazer? Pense que há uma terceira pessoa envolvida, é um bom homem.
— Eu não pretendo magoar ele. — eu me sentei na cadeira — Vou decidir isso hoje à tarde.
— Vocês vão se encontrar?
— Quem vai se encontrar? — perguntou meu pai ao entrar.
— Perdi o apetite. — eu me levantei e passei por ele indo em direção as escadas.
. — ele gritou meu nome, eu ignorei e continuei subindo.
— Deixe ela. — eu ouvi minha mãe dizer.

Cheguei no meu quarto resolvi tirar as roupas da mala, até o momento não havia tido nenhum ânimo para isso. Ainda tinha esperanças de voltar a Paris e fingir que a noite passada nunca tinha existido. Quando terminei já estava na hora do almoço, desci e fui para cozinha, meu pai já estava na empresa, ele e o senhor Park eram sócios em uma companhia. Minha mãe havia saído, mas tinha deixado um lanche pronto para mim no forno. Eu comi rapidamente, peguei minha bolsa e saí, entrei em um táxi que estava estacionado próximo à minha casa e segui em direção ao Museu.

— Bom dia! — ele se aproximou de mim dando um breve sorriso.
— Boa tarde. — eu o olhei, ele estava lindo como sempre — Vamos continuar aqui, ou pretende me levar para outro lugar.
— Vamos para outro lugar. — ele segurou firme em minha mão.

Andamos um pouco pelo centro até que ele me levou ao metrô, todo nosso passeio me fazia lembrar o dia que nos conhecemos, isso estava me deixando insegura. Então nós paramos em uma estação, saímos do metrô e fomos até um parque perto, havia uma estradinha, caminhamos mais um pouco até chegarmos num lago. Ele parou de repente e me abraçou forte, eu pude sentir seu coração acelerado.

, você está me assustando.
— Eu te amo. — ele sussurrou.
— Eu sei. — segurei as lágrimas que estavam se formando no canto dos meus olhos — Por que estas palavras agora?
— Meu irmão sabe.
— Como? — eu o olhei confusa.
— Não precisa ser um gênio para decifrar sua reação de ontem. — ele se afastou e mim — Eu já havia contado a ele sobre você, minha princess.
— E agora?
— Não quero que pense que estou desistindo de você.
, não…
— Não quero fazer isso, não quero que sofra tendo que escolher.
— Minha única escolha é você, sempre vai ser.
— Diz isso agora, mas vai conseguir conviver com seu pai triste por não ter feito o que ele te pediu? Nossas famílias são amigas desde que meu irmão te salvou. — ele olhou para o lado — Comparado ao que ele fez por você, ao que ele representa para meus pais, quem sou eu, mesmo sendo filho, seu pai nunca vai me ter como a melhor opção para você.
, você é a melhor opção para mim. — eu senti a primeira lágrima cair — Você é o guarda-chuva que me cobre da tempestade.
— Eu sempre serei, até o fim, meu coração vai ser seu. — ele acariciou meu rosto — Não quero que isso caia sobre você.

Ele me beijou com doçura, eu me agarrei na camisa dele, não queria soltá-lo, não queria que ele me deixasse, eu senti que um vazio estava se formando dentro de mim.

— Já está decidido. — disse ele se afastando de mim — Eu vou voltar para Paris, passarei o inverno lá, até que os jogos de verão comecem.
… — eu tentei falar, mas senti que minha voz estava sumindo.

“Eu me apaixonei por você,
Estou lutando por sua causa,
Meus movimentos se tornam lentos,
E eu estou começando a sufocar,
Eu sou um nadador tolo.”
- Swimming Fool / Seventeen

Eu não queria acreditar que ele estava mesmo me deixando, suas palavras eram frias e sérias, estava mesmo desistindo de nós. Meu mundo caiu naquele momento, assim como ele, eu não queria magoar , nem meus pais. Aos poucos comecei a entender sua decisão, ele sabia que eu sempre iria escolher ele, tendo ou não a aprovação do meu pai.

Eu não sabia qual a relação que tinha com sua família, mas se ele abriu mão do nosso amor, era por que seus pais não o tinham com bons olhos como . Eu não me importava com isso, não me importava se meu pai aprovaria ou não, eu queria ficar com ele. Mas só de pensar nas palavras de , ele estava fazendo isso para que eu não sofresse, para que eu não enfrentasse meu pai e que não tivesse uma briga pior em sua família, era uma prova de amor que ele estava me dando. Mas não era essa prova que eu queria.

Não consegui confrontá-lo, permaneci em silêncio com um grito preso na garganta, não conseguia parar de chorar, só queria volta no tempo, voltar para quando estávamos em Paris juntos, sem preocupações. Ele me levou de volta, não consegui olhar em sua cara, ainda não acreditava em suas palavras, ele estacionou poucos metros da minha casa, eu saí do carro tentando respirar. veio até mim e me abraçou forte.

— Espero que possa me perdoar um dia. — ele sussurrou de leve — Não quero que isso caia sobre você, então não faça nenhuma besteira. — ele me deu um beijo de leve em minha testa e entrou novamente em seu carro.

A cada instante que o carro se afastava dali, meu coração doía mais. Corri para minha casa em lágrimas, ao passar pela sala, vi que minha mãe estava com visitas, olhei de relance e constatei que era e a senhora Park. Subi as escadas correndo e entrei no meu quarto me trancando, me sentei no chão ao lado da cama e me debrucei sobre ela, chorei mais um pouco, e parecia mesmo que minhas lágrimas não iriam acabar nunca.

Após alguns minutos, minha mãe bateu na porta em perguntando o que estava acontecendo, eu gritei que queria ficar sozinha, ela disse que voltaria mais tarde para falar comigo. Eu queria mesmo ficar só, queria poder deixar de existir, não sabia o que faria com toda aquela dor que estava sentindo. O que eu faria com o meu amor pelo ? Comecei a pensar em suas últimas palavras: “Não quero que isso caia sobre você, então não faça nenhuma besteira.”

Com certeza ele imaginou que eu iria contar tudo para todos, uma maneira de trazê-lo de volta. Ah, , por que você é assim? Sempre pensando na felicidade dos outros em primeiro, eu não estava magoada com ele, mas com raiva por sua decisão. As horas se passaram, até que minha mãe voltou a bater na porta.

, está aí ainda? — disse ela da porta.
— Sim. — eu limpei minhas lágrimas e me levantei, caminhei até a porta e abri.
— Querida. — minha mãe me olhou sem entender — O que houve com você, seu olhos estão vermelhos?
— Quero morrer. — me afastei da porta voltando a chorar.
— Não querida. — entrou fechando a porta e colocou a bandeja que estava em suas mãos na mesinha ao lado da porta, ela se virou para mim e me abraçou — O que aconteceu com minha princesinha?
— Ela está se sentindo a pessoa mais infeliz do mundo. — eu chorei mais me aninhando nos braços dela.
— Não diga isso querida. — ela acariciou meus cabelos — O que aconteceu?

Permaneci em silêncio, não queria falar sobre o assunto com ela. Limpei um pouco das minhas lágrimas e tomei o chá que ela havia preparado para mim e deixado em meu quarto, coloquei a xícara vazia no chão e me deitei, mesmo que tentasse, não conseguia controlar minhas lágrimas. Passei a noite chorando, segurando um broche que ele tinha me dado de presente no natal passado, este era um de nossos momentos juntos que eu mais reprisava em minha mente, mesmo sabendo que fez fazia chorar ainda mais.

Ao amanhecer, minha mãe levou meu café da manhã, não consegui comer nada, mesmo com ela me incentivando. Estava me sentindo anestesiada, passei mais dois dias como se estivesse em coma, não comia, não me movia, não saia do quarto. Para mim minha vida tinha literalmente acabado, mas minha mãe insistia em tentar me animar.

Sábado de manhã ela inventou que iríamos almoçar na casa da família Park, legal, ela me colocar justa em um ambiente em que poderia estar. Não era culpa dela, afinal ela não sabia que a pessoa que eu amava era ele. Antes de sairmos de casa, coloquei meus óculos escuros para esconder meus olhos que estavam inchados de tantas lágrimas.

Quando chegamos, fomos recebidas pela senhora Park, ela estava tão animada e alegre, vestida com um casaco azul marinho de veludo, uma bela opção de moda para o inverno londrino. Entramos e nos sentamos na sala, ela achou estranho eu estar de óculos escuros, mas preferiu não questionar. Logo duas pessoas desceram as escadas, eram e ele, eu prendi minha respiração no susto e o olhei, engoli seco e olhei para o lado, estava tentando segurar as lágrimas que começaram a se acumular no canto dos meus olhos.

— Senhora Park. — eu disse.
— Oh, querida, pode me chamar de ajumma ou Yejin se preferir. — ela sorriu levemente.
— Onde fica o banheiro? — perguntei tentando não olhar para eles.
— Venham vou te mostrar. — ela me pegou pela mão e me guiou até o banheiro.

Eu entrei e me tranquei, retirei meus óculos e sentei na tampa da privada já deixando as lágrimas caírem. Demorei alguns minutos para me controlar, lavei meu rosto e coloquei meus óculos de volta, respirei fundo e voltei para sala.

— Me desculpem a demora. — disse num tom baixo, forçando minha voz não falhar.
— Ah, não se preocupe querida. — disse Yejin.
— Você está bem? — perguntou ao se aproximar de mim, e me me olhou gentilmente.
— Sim. — respondi rapidamente, olhei toda a sala e não estava mais lá.
— Ah, que pena que seu filho não pode fica. — disse minha mãe tentando descontrair o ambiente puxando um novo assunto, ela era mestre em desviar a atenção das pessoas para ela, quando eu precisava.
— Sim. — Yejin desviou sua atenção para ela — tem estado muito ocupado com os treinos para as olimpíadas, ele tem trabalhado duro para orgulhar nossa família.

Elas começaram a conversar sobre muitos assunto, até que Yejin a arrastou para cozinha para terminar de preparar o almoço. Eu permaneci com minha atenção voltada para o chão, e ao meu lado me olhando em silêncio, ele se aproximou um pouco mais e segurou em minha mão suavemente.

Senti a primeira lágrima cair novamente, ele me puxou para mais perto e me abraçou. Fiquei sem reação a primeiro momento, mas aquele abraço me fez me lembrar do dia em que ele me salvou, o mesmo sentimento de segurança e conforto, como quando criança. Não aguentei segurar as lágrimas, e chorei em seus braços.

— Me sinto mal em te ver assim. — ele respirou fundo e aproximando um pouco mais sussurrou em meu ouvido — A partir de hoje, se quiser não iremos mais ser noivos.

“Suas últimas lágrimas estão rasgando fora todo o meu coração...
Todo o meu coração.
Rasgando, afastando.”
- Romantic / SHINee

Escolhas: Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências.” - by: Pâms



The End!



Nota da autora:
Mais um ficstape... Sigo sobrevivendo ao meu tempo curto, enquanto escrevo nas horas vagas kkkkk... rindo de nervoso! Espero que tenham gostado desse ligeiro drama, não sou de dramas, mas essa música pediu isso. Até a próxima fic! Bjinhos...
By: Pâms!!!!
Jesus bless you!!!




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*as outras fics vocês encontram na minha página da autora!!


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