04. Void

Fanfic finalizada

Prólogo

Segurando a mão de seu filho inconsciente na UTI de um hospital particular, Mandy percebeu que as coisas estavam mais graves do que ela gostaria de admitir.
já não era mais um menino que precisava de cuidados e proteção a todo instante. Ele era um homem feito. Ao menos deveria ser, mas desde o fatídico acidente parecia que seu filho havia voltado a ser um adolescente inconsequente. Medidas severas deveriam ser tomadas e ela tinha plena convicção disso.
Esperava que seu filho acordasse do coma a qualquer instante, mesmo sabendo que as chances eram baixas, Mandy jamais desistiria de .
O fato dele ter sido salvo da overdose a tempo de evitar algo fatal, fazia com que sua fé aumentasse cada vez mais. Conseguiram socorrer a tempo de evitar a morte, não conseguiram? Talvez fosse um sinal de que ele fosse viver algo incrível ainda.
Mandy se prendia nesse pensamento com toda sua força. Apesar de ser uma mulher guerreira, não aguentaria perder um filho. Não de novo.
Quando sentiu sua mão ser apertada quase que automaticamente lágrimas escaparam de seus olhos e a mulher soube que precisava fazer a ligação.
sobreviveu uma overdose, mas ela não arriscaria mais. Querendo ou não, seu filho iria passar pela reabilitação, superar seus traumas, largar a bebida e as drogas.


I

A ideia de começar a frequentar um grupo de apoio foi rapidamente descartada por , mas é claro que como ele não estava em condições de opinar em algo ali, teve que ir pra primeira reunião.
A associação dos narcóticos anônimos se encontrava duas vezes por semana no sótão de uma igreja no centro da cidade. Quatro coisas que odiava: associações, narcóticos, anonimato e religião.
O homem respirou fundo antes de finalmente entrar no local da primeira reunião. No auge de seus 25 anos, já havia passado por mais coisas que grande parte da sua geração, e mesmo assim a fama de filhinho de papai, rico e mimado sempre o seguia.
já estava acostumado a receber olhares por onde ia, seja de cobiça, luxúria ou até mesmo inveja. Isso só fazia com que seu ego tivesse o direito de inflar um pouquinho, fazendo com que automaticamente o rapaz andasse por ai com uma pose de dono do mundo, mesmo que pode dentro o mundo dele tivesse desmoronado.
Na reunião foi diferente. Apesar de odiar todo aquele clima, jamais se sentiria superior em um ambiente daquele. Todos ali enfrentavam seus próprios demônios e o rapaz tinha noção disso. Ele não era melhor que ninguém. Na verdade, em sua cabeça ele era o pior.
Continuou parado na porta do sótão da igreja pensando se realmente valeria a pena investir em sua recuperação.
- Você já tá aqui – uma voz feminina chamou sua atenção – não custa nada entrar e participar – virou para encarar a mulher que deu de ombros – Pior que tá não fica.
- Aprendi que as coisas sempre podem piorar – murmurou antes de estender a mão na direção da moça – me chamo , prazer.
- – ela sorriu simpática – Ou , se preferir.
Eles se analisaram por alguns instantes, mas não chegaram a nenhum resultado muito conclusivo. não gostava de sair por ai formulando uma opinião antes de fato conhecer a pessoa, porém a breve apresentação de deixou a mulher curiosa.
O rapaz até tentou dar um sorriso sem graça quando constatou que ambos se encaravam por tempo demais, porém o máximo que conseguiu foi abrir e fechar a boca. tentou não rir da situação de e por isso achou melhor se juntar a roda de narcóticos anônimos de uma vez.
se concentrou em ouvir atentamente o que cada pessoa dizia. Testemunhos, conselhos e confidências. Pela primeira vez em muito tempo ele não se sentiu completamente sozinho.
- Então – a voz de chamou sua atenção já do lado de fora da igreja – O que achou?
- Não foi tão ruim quanto imaginei – deu de ombros – na verdade me fez até bem.
- Fico feliz por você - a mulher sorriu sincera – Tem uma pizzaria ótima aqui perto – ela disse com quem não quer nada – porém mesmo a menor pizza é muito grande pra uma pessoa só.
- Não seja por isso – sorriu de lado aceitando o convite indireto.
Em meio a risos e conversas de teor leve, nenhum dos dois conseguiu perceber a rapidez com que o tempo passava, então chegar em frente a porta da pequena casa em que morava e ter que se despedir pareceu ser ruim demais para ambos. Por isso em uma tática de prolongar o tempo com a moça e de quebra arrumar uma diversão pra noite, tomou a iniciativa de juntar sua boca com a da mulher. Que problema teria afinal?
Apesar de não estar acostumada a se envolver com pessoas que mal conhece, permitiu que o beijo aprofundasse e quando o fez viu que não era o suficiente.
Quando finalizaram o beijo em um demorado selar de lábios, sorriu e apontou com a cabeça em direção a casa. Sem esperar um convite propriamente dito, a seguiu sem que suas mãos deixassem o corpo da mulher um instante se quer.
ofegou sentindo o homem espalhando beijos por todo seu pescoço enquanto abria a blusa de . Lhe faltou ar ao encarar o físico definido do homem a sua frente.
A noite seria longa e divertida, disso nenhum dos dois tinha dúvidas.

II

Meses já haviam se passado desde o primeiro e único encontro de e e por mais que tivesse adorado a noite que passou com a mulher, não se deu o trabalho de pensar nisso mais do que alguns dias. por outro lado passou mais tempo do que o indicado pensando no homem, mas graças o ritmo intenso no trabalho, a mulher acabou descartando a importância do assunto. Ela era adulta e adultos fazem sexo casual, ela não precisava esquentar a cabeça com isso certo?
Depois de perceber que a situação do filho era mais grave do que esperava, Mandy se viu na obrigação de contratar profissionais que pudessem ajudar seu filho a se estabelecer novamente. Nos primeiros dias até pareceu uma tarefa fácil largar os vícios, mas quando os primeiros sintomas de abstinência apareceram, experimentou o inferno na terra., e ele já havia tido muitos infernos particulares em sua vida.
Anne era a enfermeira responsável por acompanhar diariamente, verificando de perto o progresso que o homem andava tendo. Os primeiros dias não foram simples, não trocava nenhuma palavra com a mulher nem com ninguém, além de sentir dores por todo seu corpo, parecia que todo o seu organismo clamava por um pouco de droga ou até mesmo o calor que uma bebida alcoólica poderia proporcionar, mas com o tempo, dialogo e alguns exercícios, Anne conseguiu a confiança do rapaz e dava seu máximo pra ajudá-lo a se recuperar. O grande problema foi quando a enfermeira precisou mudar de cidade para cuidar da filha que enfrentava uma gravidez de risco. Todo o processo de confiança teria que acontecer novamente e isso frustrava .
Respirou fundo antes de ir abrir a porta para a nova enfermeira e quase caiu duro quando o fez.
- ? - questionou mesmo tendo a certeza de que realmente era ela –o que faz aqui?
- ? - a mulher estava tão confusa quanto ele – Deve ter alguma coisa errada – sacudiu a cabeça - eu sou a enfermeira que vai substituir Anne, mas quem me contratou foi a Sra.Mandy, não você.
- Claro – revirou os olhos – Como eu sempre digo: Tudo sempre pode piorar.
- Fico feliz em te ver também, disse com ironia – Bom, a Mandy mora com você?
- Você ainda não entendeu? - a lerdeza dela realmente o surpreendeu – Mandy é a minha mãe, ela te contratou pra substituir Anne, que no caso era a enfermeira que ME auxiliava.
permaneceu quieta o encarando surpresa.
- O que eu não entendi, – cruzou os braços - É como uma viciada pretende me ajudar.
- Eu não sou viciada – revirou os olhos – eu só frequento a reunião as vezes pra ajudar e auxiliar lá caso alguém precise – deu de ombros – Olha , eu realmente espero que isso não seja um problema pra você.
- A gente já ter transado?
- Bem – ela ficou um pouco constrangida pelo modo direto como ele falou daquilo – sim. Será que eu posso entrar agora?
finalmente percebeu que ainda não tinha dado passagem a moça, e liberou um espaço na porta para que ela passasse.
- Sente-se – ele apontou pro sofá - Você realmente vai querer lidar com isso?
- Isso?
- Um paciente que é usuário e já transou com você.
- Eu preciso desse emprego, – suspirou fundo - não to em condições de escolher trabalho e sua mãe está pagando muito bem pelos meus serviços.
- Okay – deu de ombros - só espero que saiba que aquele acontecimento vai ficar pra trás.
- Tudo bem – forçou um sorriso e fingiu que aquilo não a incomodava - é melhor assim.
- Nosso relacionamento será estritamente profissional.
- 100%

III

Acordei sentindo como se um trator tivesse passado em cima de mim. Como era possível a falta de droga me causar tantos problemas?
Antes mesmo de chegar na cozinha, pude ouvir o som alto da gargalhada que dava. Não eram nem 10 horas da manhã e a menina já estava bem humorada, como isso é possível?
Fiz uma careta quando percebi que a risada dela estava quase me fazendo rir junto, porém caí em mim e não deixei isso acontecer.
- Bom dia – murmurei sem vontade entrando na cozinha - não sabia que viria aqui hoje, mãe.
- Foi de última hora – ela sorriu em minha direção - queria matar a saudade do meu filho e conversar um pouco com a também.
- Você era uma gracinha quando criança, ! - fechou o álbum de fotos que estava em suas mãos e me encarou sorrindo – Animado pra hoje?
Percebi o sorriso de vacilar ao ver minha falta de empolgação. A verdade é que eu não estava preparado para o que ela queria fazer hoje.
- Sabe, – comecei a pensa em alguma desculpa - Acordei com algumas dores hoje - não era uma mentira – talvez seja melhor marcar pra outro dia.
Tanto minha mãe quanto me encararam meio decepcionadas.
- Você já está há semanas sem sair de casa, ! - minha mãe disse um pouco brava – de hoje não passa, querendo ou não.
- A senhora sabe que já sou adulto, certo? - perguntei fazendo graça, mas vi que não funcionou já que ela ainda me encarava séria - que tal amanhã?
- Hoje, , e fim de conversa! Já era pra você ter feito isso antes e sabe muito bem disso. Inventou tudo quanto é desculpa, até culpou a coitada da , agora você não pode mais dizer que ainda tá pegando confiança dela. Já passou o tempo disso.
revezava o olhar entre eu e a minha mãe tentando acompanhar o diálogo.
- Depois que você comer, disse simplesmente – bom, vou me arrumar.
Segui a mulher com o olhar e a vi ir para o quarto de hóspedes que era o seu nos últimos tempos.
Fazia parte do processo de reabilitação me afastar de locais influenciadores, mas com isso eu acabei me afastando de qualquer ambiente em si, até mesmo as reuniões eu parei de frequentar, e agora depois de tanto tempo, elas queriam me obrigar a sair de casa outra vez.
- Amanhã eu passo aqui pra ouvir como foi, certo? - minha mãe me deu um beijo – se cuida, filho.
Dei um sorriso fraco e a acompanhei até a porta.
Por mais que eu estivesse com fome, meu estomago doía ao ponto de me impedir de ingerir qualquer coisa, então não tinha pra onde fugir.
Quando me considerei com uma aparência aceitável para sair em público, bati na porta do quarto de a chamando.
- Antes de irmos – ela botou só a cabeça pra fora da porta – eu quero te dar um presente.
A encarei surpreso. A última coisa que eu esperava ou merecia dela era um presente.
- Tcharam!- disse animada saindo do quarto com um violão em suas mãos - Um passarinho me contou que você ama tocar e cantar, então quando voltarmos pra casa você poderá tocar e cantar a vontade, mas claro que só depois da nossa volta no parque.
A surpresa foi tanta que eu nem consegui responder, apenas fiquei encarando a mulher que esperava impaciente alguma reação minha. Por falta de palavras que pudessem demonstrar toda a gratidão que eu sentia, optei por simplesmente abraçá-la. Quando meus braços envolveram pude senti-la ficar tensa antes de devolver o abraço. Ficamos alguns instantes naquela posição que parecia tão atrativa.
- Vamos logo então pra eu poder tocar.
sorriu pra mim e finalmente fomos ao parque.
Meus olhos varriam todo o ambiente um pouco assustado. Era estranho ficar tanto tempo excluso da sociedade e depois aparecer em um local razoavelmente cheio. Me senti tenso desde o momento que coloquei os pés fora do apartamento. Aquilo era uma péssima ideia e eu já sabia.
Senti me observando como uma espécie de analise, e provavelmente era o que fazia mesmo.
- Não precisa ficar tenso, – ela segurou em minhas mãos - você não tá sozinho.
Assenti com a cabeça e tentei me acalmar. Nada sairia do controle, nada daria errado.
A ida até o parque era pra realizar algumas atividades físicas ao ar livre e assim que entramos no enorme parque, eu pude sentir a vontade de correr no lugar como eu fazia antigamente.
- O que você acha de fazermos uma corrida hoje?- sugeri pra .
- Fico feliz que esteja mais animado! Tudo bem, corrida então, mas só 3km por causa da sua atual resistência física.
- A minha? - ergui uma sobrancelha e a encarei tentando prender o riso – tudo bem, 3 km, madame.
Fomos em direção a pista de corrida, e no começo eu tentei me manter em um ritmo não muito pesado pra que pudesse me acompanhar.
- Eu odeio isso! - reclamou ofegante tentando me alcançar - deveríamos ter mantido aqueles exercícios leves que fazíamos em casa.
- Problemas com a resistência, docinho?
- Não enche, – disse irritada, o que realmente era algo difícil de se ver – Podemos por favor voltar pra casa?
- Como quiser, madame.
Fizemos o percurso de volta um pouco mais lentamente e eu tive que ir ouvindo o caminho todo sobre como estava sentido que iria morrer só por causa daquela corridinha, a garota foi fazendo drama até chegarmos em meu apartamento.
- Eu vou tomar um banho e depois ir pra sala tocar – dei de ombros tentando diminuir a importância do convite – se quiser ir comigo....
- Tá me chamando pra tomar banho contigo, ? - sorriu de lado me encarando com as sobrancelhas erguidas.
- Apesar de você torcer muito por isso, não – revirei os olhos porém acabei rindo.
- Eu vou adorar te ver tocar, .
Sorri vendo a mulher ir pro quarto dela.
tinha algo diferente. Um brilho especial que parecia fazer todos a sua volta sorrirem e acharem a vida menos dolorosa, a mulher sempre conseguia um jeito de ser positiva até nas piores circunstâncias (isso até me irritava as vezes).
Não era fácil ser um viciado. Acordar todo dia pensando como teria sido melhor já ter morrido. Sentir um vazio inexplicável que me tirava a vontade de qualquer coisa. Eu não vivia, só sobrevivia, e tudo isso pela minha mãe. Jamais faria ela perder um filho novamente.
Eu apenas prolongava minha existência, me obrigando a sobreviver semana por semana, mas de certa forma mudava isso, ela fazia com que eu tivesse vontade de viver e me permitir sentir de novo.
Depois do meu banho peguei o violão e bati na porta do quarto dela.
- Você está pronta?

IV

Desde o dia em que tocou a primeira vez pra mim, criamos essa rotina de toda noite sentarmos no tapete da sala pra que eu pudesse ouvi-lo cantar, vez ou outra eu até escolhia as músicas.
Essa noite seria diferente. Depois de meses sem consumir álcool ou droga, teria sua tentação. Era menos complicado se manter sóbrio e limpo quando não tinha nada em casa, mas hoje iriamos para um restaurante onde seria servido todo tipo de bebida, tudo que precisava fazer era ser forte e não beber.
Querendo ou não, eu me preocupava com mais do que o normal, e se hoje ele acabasse tentando beber, minha frustração não seria apenas profissional.
Respirei fundo e encarei meu reflexo no espelho. Eu estava pronta, esperava que também estivesse.
- Vamos? - me chamou batendo na porta.
- Claro – sorri fraco em sua direção.
conseguia ser lindo mesmo quando estava em seus piores dias, então a visão dele todo arrumado com roupas sociais era de tirar o fôlego.
Chegamos ao restaurante em que seria a comemoração de aniversário da Mandy e o local estava cheio de convidados. Senti a mão de segurar firme minha cintura me guindo pra mesa reservada pra família.
- Não sei se é uma boa ideia eu sentar ai...
- Para de bobagem, – ele pegou em minha mão com delicadeza - você sabe que seu lugar é ali comigo.
Tentei não fantasiar com aquelas palavras e nem ficar esperançosa demais. Eu sabia que a intensidade que víamos as coisas era bem diferente, eu não via apenas como paciente, eu queria mais, principalmente quando me permitia lembrar da única noite que tivemos juntos. Ela foi o suficiente pra me deixar viciada em .
A ansiedade corroía minha alma, eu me mantinha atenta pro caso de acabar caindo em tentação e ele logo percebeu como eu estava alerta pra qualquer coisa, o que acabou o irritando um pouquinho.
- Se você não confia em mim, não sei como pretende concluir seu trabalho – disse mal humorado – muito obrigada pelo voto de confiança, .
- Não me venha com essas ironias, – revirei os olhos - você sabe que eu só estou preocupada, nada demais.
fechou a cara e não dirigiu a palavra pra mim nem pra ninguém o jantar inteiro. Vez ou outra eu o via encarar a taça de vinho com desejo, e minha preocupação só dobrou quando depois do parabéns todos receberam uma taça de champanhe para o brinde especial que Mandy faria.
- Obrigada a todos que vieram comemorar comigo o dia de hoje – Mandy sorriu - vocês sabem como é importante pra mim a união....
Não consegui me concentrar em nenhuma palavra do brinde que a mãe de propunha. Tudo o que eu conseguia fazer era encarar que observava estático seu copo com bebida.
- Um brinde! - Mandy finalizou seu discurso e pude ver que ela também olhava preocupada na direção de .
Antes que ele se quer tivesse tempo de pensar, esbarrei propositalmente em seu braço e acabei derrubando sua taça no chão.
- Desculpa, – dei um sorriso amarelo – você sabe como eu sou atrapalhada as vezes.
me encarou sério e decepcionado.
- Incrível como você não conseguiu confiar em mim um instante se quer, .
- , – gritei o chamando quando vi que ele se afastava – Espera – fui atrás dele que já se encontrava fora do restaurante.
- O QUE VOCÊ QUER? - aumentou o tom de voz demonstrando toda sua frustração - Que droga, ! Você já conseguiu o que queria não é? Eu não bebi – me encarou frio – Ta certo que não foi por opção, já que nem deu tempo de eu pensar.
- Desculpa, ! E-e-eu estava com medo, me desculpa – senti meus olhos se encherem de lágrima, porém não deixei que elas caíssem - Eu fiz isso pro seu bem, tenta me entender.
- Meu bem? - riu nervoso – sabe o que você fazer pro meu bem? ME DEIXAR EM PAZ!
- , – tentei soar calma - nós estamos na rua, podemos por favor ir pra casa conversar?
- A última coisa que eu quero agora é ter que conversar com você, falava baixo e de maneira cruelmente fria - Você não faz nem ideia da frustração que eu tô sentindo.
Fiquei quieta em silêncio e apenas o acompanhei quando ele entrou dentro de um táxi. O caminho até o prédio foi sem nenhum dos dois falar nada, e isso só piorou quando entramos no apartamento e se trancou no quarto.
Tomei um banho e tentei esfriar minha cabeça antes de ir tentar falar com ele novamente.
Ouvi o som do seu violão vindo da direção da varando e fui até lá.
“I need you to see through the void
(Preciso que você veja através do vazio)
I wonder how I got by this week
(Eu me pergunto como cheguei nesta semana)
I only touched you once
(Apenas te toquei uma vez)
Lately I cant’t find a beat
(Ultimamente não consigo encontrar uma batida)
I used to feel the rush
(Eu costumava sentir a emoção)”

As palavras que cantava me fizeram perceber que era uma canção autoral e como eu nunca tinha visto uma composição sua, me permiti ficar encostada no batente da porta da varanda o ouvindo cantar.
“Started with a little bit
( Comecei com um pouco)
Now I don’t know how to quit
( Agoa eu não sei como parar)
Fechei os olhos entendo que a música era sobre sua vida.
Always feel inadaquate
(Sempre me senti indequado)”

Abri os olhos quando ele interrompeu a canção parando de cantar abruptamente e o encarei de volta com a mesma intensidade eu ele me olhava.
- Desculpa, eu não queria te atrapalhar- apontei o violão - Gostei d música, até a parte que ouvi claro – desviou o olhar e eu percebi que ele ainda não estava disposto a falar comigo – A gente pode por favor conversar?
- O que você quer, hein, ? - suspirou cansado.
- Não fica bravo comigo, eu só queria seu bem.
- Você nem sabe se eu ia beber ou não - ele fechou os olhos e pressionou sus têmporas tentando se acalmar - você não confiou em mim e agiu com infantilidade, fim, não tem o que conversar.
- Eu estava com medo! O que você queria que eu fizesse? Ficasse quieta sem tentar te ajudar?
- Você quer conversar não é? - ele se levantou irritado – pois bem.
- Do que você tá falando, ? - questionei o seguindo.
- Essa parte do álbum minha mãe provavelmente não te mostrou – ele me entregou o livro e sentou de frente pra mim em uma poltrona – olha – abri o álbum e encontrei uma foto dos pais de acompanhados de dois menininhos e um eu reconheci sendo o – esse é o meu irmão Will continuei foleando enquanto ele falava – ele era meu melhor amigo – agora eles já estavam mais velhos nas fotos - nós começamos a fazer faculdade juntos, você sabe, arquitetura pra dar continuidade aos negócios da família - olhei uma foto de abraçado com um menino muito parecido com ele – Will nasceu um ano depois de mim, então éramos bem próximos já que a diferença de idade era curta. Um dia estávamos indo pra uma festa da empresa do meu pai, e um carro veio em nossa direção em alta velocidade. Eu não consegui desviar a tempo.
- ... eu...
- Deixa eu terminar, – ele deu um sorriso triste – quando eu acordei no hospital um mês depois do acidente, fiquei sabendo que Will não resistiu.
- Eu sinto muito, – me aproximei segurando em sua mão - de verdade.
- Não pude nem me despedir – ele suspirou parecendo que estava prestes a chorar – quando eu acordei ele já havia sido enterrado. Tenho certeza que ele não iria querer que eu fizesse isso, mas quando me dei conta já era tarde demais. Comecei bebendo mais do que o normal, mas com o tempo foi passando o efeito e eu me sentia vazio de novo.
- Aí foi pras drogas. - murmurei imaginando o desfecho da sua história.
- É - ele apertou minha mão - até que você sabe... eu tive uma overdose e a minha mãe se apavorou, ela não ia aguentar perder outro filho. Por mais que eu quisesse muito morrer, não aumentaria o sofrimento da minha mãe, então eu concordei em começar a fazer reabilitação. - ele ficou um tempo quieto antes de prosseguir – a questão é que tudo isso foi tentando preencher o vazio que a morte do meu irmão e a culpa que senti deixaram. Quando você apareceu com esse seu jeito exagerado e feliz eu tive esperança de que talvez esse vazio fosse embora um dia. Você me fez ter fé, acreditar. Mas na primeira tentação você desistiu antes de mim, .
- Desculpa – o abracei forte – eu não desisti, só estava assustada.
- Isso me fez questionar se realmente vale a pena tentar de novo, tentar me livrar do vazio.
- Claro que vale, - sorri pra ele – e eu vou sempre te ajudar, te apoiar. Não sairei do seu lado de jeito nenhum.
- É seu trabalho – ele falou meio amargo – eu sei disso.
- Você é muito mais que um trabalho, . Você já devia ter percebido isso.
Ele aproximou seu rosto do meu e fez um carinho em minha bochecha.
- Você me faz querer lutar e tentar – ele beijou meu pescoço e eu suspirei - você faz valer a pena – senti seu sorriso em minha pele - Você não me disse o que achou da música.
Me afastei um pouco atordoada com a repentina mudança de assunto.
- É que eu estava pensando em mudar a letra...
- Como assim? - questionei ainda confusa com seu comportamento.
- Quando eu escrevi – ele beijou minha bochecha – a gente só tinha ficado uma vez – beijou o canto da minha boca – acho que a gente devia mudar isso.
- Você não tem jeito, – juntei nossos lábios em um beijo quente – e eu amo isso.


Fim!



Nota da autora: Pra ser sincera eu amo essa música e desde o começo tinha pensado em algo 100% diferente pra ela, porem para a minha infelicidade, o meu objetivo não foi fluindo e acabou sindo isso. Eu ficaria bem feliz se você compartilhasse sua opinião comigo aqui nos comentários. XOXO

Outras Fanfics:
14. Facedown (The 1975) - RESTRITA 14. Rooting For My Baby (Bangerz) -RESTRITA 17.Undo (The 1975) - LIVRE

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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