05. 18

Última atualização: 30/11/2015

Capítulo 1

Estava sentado no sofá da sala de minha casa, assistindo ao meu programa preferido, que passava todas as quintas no HBO, quando minha mãe entrou batendo com força a porta e passando reto para a cozinha, sem ao menos dar boa noite, o que era estranho, mas quem liga? Certamente a única coisa para qual eu ligava naquele momento era para Charlie Sheen que havia acabado de aparecer no My Sexy Pistol — minha mãe fingia que era algum programa educativo para não ter que lidar com seu filho adolescente assistindo coisas que mães julgam ser “besteira”.
Ah, e lá estava Charlie Sheen, comentando sobre as drogas e as garotas que já eram uma parte de si. Acontece que Charlie Sheen é meu ídolo, pronto, falei. O cara é uma lenda, um mito. Faz o que quer, na hora que quer, não tem medo de se arriscar, vive a vida intensamente como se fosse seu último dia nela. Mas apesar de eu admirar o cara, me faltava coragem para seguir seu exemplo — tirando a parte das drogas, claro... Ou não. Quer dizer, não que eu queira ser o Charlie Sheen, longe disso, não estou a fim de arrumar problemas com a prisão, mas queria me arriscar mais, viver intensamente. A única pergunta era como.
— Pare de assistir essas besteiras e venha aqui na cozinha me ajudar, .
Fiz uma careta e desliguei a TV. Eu não estava com a menor vontade de ir até lá, mas amanhã provavelmente iria para a casa de ensaiar com a banda e não poderia ficar de castigo.
— O que aconteceu? Entrou toda estressada. — Perguntei assim que entrei na cozinha e logo abri a geladeira a procura de algo que matasse minha fome.
— Lembra da Janna ? — Forcei um pouco a memória e uma imagem foi surgindo em minha mente. — Você arrastava um caminhão pela filha dela, a .
Engoli em seco e olhei para mamãe com os olhos arregalados. era a menina mais bonita que eu já havia conhecido em toda a minha vida e, céus, eu havia perdido meu bv com ela, e tinha quase feito coisas com ela que só em meus maiores sonhos se realizaram de verdade. era a personificação de todas as deusas existentes. Tanto na beleza, quanto na inteligência e educação.
— Do jeito que está tenho certeza que se lembra. — Acordei do meu pequeno transe e vi o sorriso debochado que mamãe me dava.
— O que tem a Janna?
— Bom, eu estava no supermercado e então encontrei Janna por lá, e advinha o que ela me contou? está na cidade! E você sabe como todos nós adoramos a , então convidei a família para almoçar amanhã aqui em casa. — Ela suspirou e eu arregalei os olhos de novo. — Claro que eu não pensei direito no momento, se não teria planejado melhor, mas agora já convidei e nem sei o que fazer para o almoço!
.
Na minha casa.
Amanhã.
— Ah, acabei de lembrar que preciso terminar um trabalho, se a senhora me der licença...
Acabei saindo da cozinha, sem esperar mamãe responder, e subi as escadas correndo. Da última vez em que esteve em minha casa as coisas não acabaram muito bem. Nada bem, na verdade. Suspirei e me joguei em cima da cama. Amanhã seria um longo dia.

— Então quer dizer que está de volta? — deu um sorriso cheio de dentes assim que contei a novidade. Típico.
— E ela vai almoçar hoje lá em casa. — Falei enquanto tirava os livros que precisaria do meu armário.
— E você está de boa com isso? Totalmente relaxado? — Ele perguntou descrente e eu balancei a cabeça.
— É claro que não, mas estou tentando não surtar.
— É um pouco difícil considerando o que aconteceu no ano retrasado entre vocês.
— Eu sei, , e é por isso que vou agir normalmente como se não me lembrasse todas as noites de cada momento que passamos juntos e...
— Tá bom, cara, deixa de romance, já entendi que você gosta dela desde que nasceu.
Rolei os olhos e fui para minha classe sem esperar por . Caramba. era um assunto sério para mim, e não brincadeira. Olhei para o relógio em meu pulso e vi que faltavam duas horas para a aula acabar. Duas horas de álgebra. Duas horas que eu poderia gastar planejando como falar com . Ninguém iria sentir minha falta lá mesmo. Então ao invés de seguir para a esquerda e entrar na sala de aula, segui pela direita até o pátio deserto do colégio, onde consegui sair sem ser visto.
Depois de andar um pouco pela vizinhança, resolvi me sentar embaixo de uma árvore grande e sair do sol. Agora sim eu poderia pensar com clareza em e pensar no que diríamos um para o outro quando nos víssemos. Talvez ela levasse o namorado. Minha mãe disse alguns meses atrás que estava em um relacionamento conturbado com um tal de . E claro que eu, como bom detetive que sou, descobri tudo sobre o namoro dos dois. Mas isso é história para outra hora. Agora eu tinha que me concentrar em qual tipo de “Oi” eu daria para .
Um oi seco (oi.), um oi animado (e aí, , tudo bom?!) ou um oi estilo Charlie Sheen?
Definitivamente o oi do Charlie Sheen.

Cheguei em casa um pouco mais cedo que o normal, mas mamãe estava ocupada com o almoço e papai estava lendo alguma coisa que não me interessava, então nem ligaram quando eu passei direto para o meu quarto. Tirei o paletó azul escuro que aquela escola insistia em me fazer usar mesmo em dias quentes e joguei em cima da cama. Arregacei as mangas da camisa branca e me olhei no espelho. Eu estava muito mais bonito do que dois anos atrás, não era mais um moleque de 15 anos apaixonadinho e com hormônios a flor da pele. Agora eu tinha barba. Era um homem. Sorri para meu reflexo no espelho. Eu podia lidar com sim, e na maneira mais Charlie Sheen possível.
Alguns longos minutos se passaram e escutei a campainha tocar. Então era agora. Levantei da minha poltrona e passei um perfume. Joguei meu cabelo para o lado de forma bagunçada e displicente e pronto. Deus, eu parecia uma menina nervosa para o seu primeiro encontro com o crush.
Desci as escadas rapidamente e vi o senhor e a senhora cumprimentarem meus pais. Mas a filha deles, eu não via em lugar algum. Será que ela achou melhor não vir?
, como você está homem! — Janna se aproximou de mim e me deu um forte abraço, seguido de um aperto de mão por seu marido.
— E onde está ? — Perguntou meu pai. Sim, sim, finalmente, onde está ?
— Desculpem, tive que ficar procurando um brinco no carro. — Olhei para a porta de onde vinha a voz melodiosa a qual pertencia a e a vi.
Ela usava uma blusa toda laranja, com mangas que cobriam até metade de suas mãos, mas que deixavam os ombros descobertos, um short preto, curto e rasgado, e tênis nos pés. O cabelo continuava grande e solto. E ela continuava a mesma. A mesma garota de dois anos atrás. E para completar, ela deu o pequeno sorriso sem mostrar os dentes que sempre deu. Me controlei para não soltar um suspiro apaixonado ali mesmo e acabar com todos os meus planos para agir como Charlie Sheen.
Meus pais estavam falando com ela, porém eu não conseguia escutar o que eles falavam, e ela sorria enquanto respondia animada para eles sobre alguma coisa que perguntaram. Senti minha garganta secar e de repente precisei muito de um copo d’água. Isso me fez acordar do transe e correr para beber a água. Deixando todos sem entender nada na sala. Droga, não era para isso acontecer. Era para estar com rugas, afinal, ela tem 20 anos. E usando as roupas que nossas mães usam. Não shorts curtos que me deixam louco.
Voltei para a sala segurando um copo de água na mão e encontrei todos sentados no sofá, conversando. me olhou com seus olhos inexpressivos, que eu nunca sabia o que queriam dizer, e olhou para o copo em minhas mãos.
— Vou beber um pouco de água com o , já volto. — Ela sorriu para eles e foi para a cozinha em minha frente, e eu a segui.

— E aí, como você está? — Perguntou assim que ficamos a sós.
— Estou bem, o último ano pode ser desgastante, mas estou conseguindo lidar com ele. — respondi e ela se encostou na bancada.
— Desgastante? — arqueou uma sobrancelha. — Poupe-me, , o que você faz além de estudar e assistir àquele programa às quintas?
Suspirei irritado.
— Faço muitas coisas, , você não me vê faz anos e eu cresci, pelo visto você ainda se acha mais madura que eu só por ser alguns anos mais velha.
— Eu sou mais madura, .
— Então quer dizer que ir para festas e se embebedar semanalmente é maturidade? — Cruzei os braços contra meu peito. — Porque se for isso então parabéns, você é realmente muito madura.
— Escuta aqui, pirralho... — Ela começou, mas resolvi a cortar.
— Não preciso escutar nada vindo de você, , não dou a mínima para o que você pensa que eu sou ou não. Você não me conhece.
Ela estava prestes a responder quando nossas mães entraram na cozinha, e logo ela tratou de sorrir e eu de sair dali. já era difícil antes, agora parecia mais ainda.

Havia subido para o meu quarto logo depois que o almoço acabou, alegando que tinha trabalho para fazer, e já estava há alguns minutos jogado em minha cama quando a porta abriu e entrou sem avisar. Sentei com um pulo e ela se sentou na poltrona.
— Desculpa por ter sido uma megera com você mais cedo. — Ela suspirou e apoiou a cabeça em sua mão. — Minha vida tem estado uma loucura e tenho descontado minhas frustrações em pessoas que não tem nada a ver. — Ela rolou os olhos e isso me fez dar um meio sorriso.
A verdade era que eu tinha me arrependido de ter sido tão grosso com ela. Talvez ser o Charlie Sheen não fosse tão legal assim...
— Na verdade, você é quem tem que me desculpar, eu fui bem grosso com você. — Seus olhos cintilaram um brilho estranho e sombrio por um segundo e ela deu de ombros.
— Acho que estou acostumada.
— E como vai seu namorado? Mamãe falou que você estava namorando. — Perguntei interessado e logo lembrei das fotos que havia achado deles dois.
O nome do cara era e, segundo amigos do casal, os dois tinham uma relação conturbada por causa de muitas brigas verbais e muitas vezes físicas. Afinal, fazia faculdade de música e vivia rodeado de garotas, enquanto fazia moda e vivia em desfiles conhecendo pessoas e homens diferentes. Ciúmes. Era por isso que eles brigavam tanto. Mas quando se tem ciúme é porque realmente gosta da pessoa, então ela devia gostar muito desse tal de .
— Na verdade, eu e terminamos. — Levantei as sobrancelhas e controlei meu sorriso. — Mas não quero falar sobre ele, me conte como está o .
— Ah, ele continua o mesmo de sempre. Apesar de que agora ele tem 19 anos e não faz faculdade, e que a mãe dele esteja pirando com a ideia de o sustentar pelo resto da vida, ele continua o mesmo.
— Eu jurava que o veria ainda na faculdade, claro que apenas se a tia o forçasse, mas mesmo assim... — Ela parou por um momento. — Ele não tem planos para o futuro?
— Ele tem, sim. — Eu sorri animado. — Eu e ele temos uma banda.
— O quê? Sério?
— Sério!
— Maneiro, e quem tá na banda? — Ela perguntou animada e eu fiz uma careta.
— Bom, até agora só eu e o , mas é questão de tempo até achar alguém. Além do mais, estamos pensando em nos mudar para Nova Iorque assim que eu terminar o colegial.
— Isso é genial, ! Sabe, tenho um amigo que faz faculdade de direito, mas que o sonho é entrar em uma banda, o , eu poderia apresentar ele para vocês, caso se mudem para lá mesmo.
— Eu acho que isso é uma ótima ideia!
Sorrimos um para o outro animados até que escutamos a voz de minha mãe nos chamando para descer.
— Ei, quantos anos você tem mesmo? — Ela perguntou, se levantando.
— Vamos voltar a esse assunto de novo? — Perguntei rolando os olhos divertidamente. Eu não queria dizer que tinha 17 e arruinar nossos planos.
— Fala logo.
17... Não.
— Tenho 18. — Menti descaradamente e ainda sorri para ela.
— Você não é tão mais novo que eu afinal, tenho 20 anos.
— O que vai fazer hoje à noite? — Perguntei enquanto descíamos as escadas devagar.
— Acho que vou no Dead Night Club, e você?
— Sério? Eu estava pensando em ir com o na DNC. — Outra mentira.
— Ótimo, nos vemos lá.
Sorrimos de novo.
Uma mentirinha não iria influenciar em nada.
E eu faria 18 daqui a dois meses.
Só adiantei esses dois meses.
Mas minha mãe uma vez me disse uma frase que acabei de lembrar.
Mentira tem perna curta.
Droga!

— Você tá é maluco, a não é burra, óbvio que ela não caiu nessa história de que você vai no Dead Night Club. — disse, balançando a cabeça.
Estava na casa do há algumas horas e estávamos discutindo a possibilidade de eu conseguir entrar no DNC. Mas segundo ele, isso era impossível.
— Bom, eu disse que ia com você então...
— Piorou cara, me conhece e sabe que não sou de frequentar boates com o estilo dessa. — Franzi a testa, confuso.
— E qual diabos é o estilo da DNC?
— Você é um ET? A DNC é uma boate gótica. As pessoas lá só faltam fingir que são vampiros. — Ele rolou os olhos. — só falou que iria lá para te testar, e você caiu como um pato.
— Droga, , agora não adianta chorar sobre o leite derramado. Temos que ir até essa festa, e temos que sair dessa cidade e ir para Nova Iorque assim que eu sair do colégio.
— Então você concorda comigo que temos que ir para Nova Iorque?
— Concordo, e disse que conhece um amigo que também toca. Essa é a nossa chance.
— Você vai usar a para conseguirmos montar finalmente a nossa banda?
— Não. Eu irei juntar o útil ao agradável.
Isso definitivamente era algo que Charlie Sheen diria.

...


E lá estava eu, vestido com uma calça jeans preta, uma blusa preta e com lápis de olho preto nos olhos na fila de uma boate que eu não podia entrar. estava ao meu lado sorrindo para todos e até já havia feito amizade com algumas pessoas que estavam atrás de nós. Para quem não queria nem vir, ele estava animado até demais.
— Ei, cara, será que ela vem mesmo? — Perguntei, aflito, virando para que agora tinha um sorriso ainda maior no rosto.
— Ela já tá aqui. — Ele estendeu a latinha de cerveja para cima em uma forma de cumprimentar , que estava vindo em nossa direção.
! — Eles se abraçaram e eu rolei os olhos. Precisava ser um abraço tão forte?
— E aí, garota, senti sua falta.
— Estava comentando hoje com o que achei que veria você em Nova Iorque assim que terminasse o colégio também.
— Vamos assim que ele terminar! — Os dois riram e ela finalmente se virou para mim. E ela estava linda.
— Esse lápis de olho te deixou bem sexy, podia adotar esse estilo na sua banda. — Pisquei nervoso e dei um sorriso para ela.
— Você está linda, como sempre. — Ela levantou uma sobrancelha em desafio.
— Bom, então vamos entrar?
— Mas ainda tem várias pessoas na nossa frente...
— Querido, eu sou , tenho passe livre em qualquer lugar. Só precisamos mostrar as identidades e pronto. — Ela deu de ombros e se afastou um pouco para falar com uma amiga.
— Puta que pariu e agora? — Perguntei desesperado.
Eu iria mostrar minha identidade de 17 anos, seria barrado e passaria vergonha na frente de todo mundo, e vergonha ainda maior na frente dela. Droga, por que diabos eu tinha que gostar de uma garota mais velha? Puxei uma garrafa da mão de um cara que estava conversando com antes e virei de uma vez, pensando que desceria como água, mas acabei sentindo uma queimação por toda a minha garganta, que me fez engasgar, chamando a atenção de , que me lançou um olhar divertido.
— Cara, inventa alguma coisa rápido, não consigo pensar em nada.
— Mas...
— E aí? Vamos entrar ou não? — surgiu de repente e sorriu para nós dois.
— Ah, sabe o que é? Estamos esperando algumas pessoas ainda... — Dei um meio sorriso nervoso e vi fazendo uma cara de desesperado, escondido.
— Quem? — Ela franziu a testa, provavelmente lembrando que não tenho amigos.
— Uns amigos. — Respondi com mais firmeza. — Depois a gente se encontra lá dentro.
— Ah, sei, amigos. — Deu uma risada e me lançou um sorriso debochado, indo em direção à entrada da boate.
— Você só tá se queimando. Quer saber? Acabei de lembrar que tem um cara me devendo um favor, e você vai entrar nessa boate ainda hoje. — bateu em meu ombro.
Olhei o relógio. Era meia noite.
— A noite tá só começando, .

Acabou que minha noite havia terminado de um jeito pior do que quando tinha começado. E isso graças ao idiota que eu chamo de amigo. Suspirei irritado ao me lembrar da noite anterior. Nada havia dado certo, e agora eu nunca mais teria chance com e nem iria para Nova Iorque por vergonha. Levantei do sofá de e passei a mão pelo cabelo numa tentativa de o deixar normal, mas acabei ligando o foda-se e apenas saí do quarto e da casa de sem fazer barulho.
Olhei meu estado no vidro do carro do pai do e, bom, quem me visse diria que a noite foi boa. Cabelo despenteado, camisa arregaçada e amarrotada, olheiras que ficavam ainda mais evidenciadas por causa do lápis de olho... Fiz uma careta para meu reflexo e comecei a andar pela rua pacata e fazer meu caminho para casa.
— Droga! — Gritei a plenos pulmões no silêncio da rua.
Eu e pegamos um ônibus em um ponto um pouco afastado da DNC para encontrar o tal cara que estava devendo o favor a ele. Mas não sabia direito o endereço do homem, então apenas pegamos um ônibus que nos levaria para uma área barra pesada. Então chegamos lá e enquanto andávamos pelas ruas procurando o homem do favor, eu via aquelas pessoas fumando maconha sentadas nas calçadas e apenas almejava por um cigarro daqueles, afinal, a noite até ali não havia rendido nada, e o que custava puxar um? Acabou que um carinha me ofereceu e eu aceitei, daí o aceitou também e ao invés de procurarmos o cara ficamos fumando um baseado em uma boca de fumo. Se minha mãe tivesse me visto naquele estado...
Então quando já estávamos sob o efeito da maconha, resolvemos voltar a nossa busca. E não foi nada fácil. Mas pelo menos encontramos o cara, que aliás de chamava Ralph, e eu não sabia como diabos ele iria me ajudar a entrar em uma boate que ficava a quilômetros de distância dali. Acontece que eu subestimei a capacidade de de fazer merda, então quando ele disse que ia me arranjar uma identidade falsa, eu acabei aceitando pelo calor do momento. E era assim que eu iria entrar na boate.
Se tivéssemos lembrado de trazer uma foto 3x4, pensado em um nome falso, e tivéssemos ao menos dinheiro para voltar para a boate. Pois é, o gênio havia gasto todo o dinheiro em bebida na fila. Então tivemos que passar quase duas horas de tempo para bater uma foto que prestasse com cara de sóbrio, e pensar em um maldito nome falso. E demoramos mais duas horas ou até mais para andar até a boate, onde eu descobri, por meio de uma garota, que já havia ido embora.
Resumindo, aquela noite havia sido uma completa perda de tempo.
Avistei minha casa, e junto da minha casa, avistei também , que estava sentada nos degraus da entrada. Apressei o passo e tentei novamente arrumar o cabelo — sem sucesso. O que será que ela estava fazendo ali? Era para me ver? Uma chama se acendeu dentro do meu peito fazendo eu me sentir um gay. E dei um sorriso para a mesma assim que me vi de frente para ela.
— Ei... — Ela sorriu. — Seus pais estavam preocupados, me ligaram e disseram que você não era de sumir, queriam saber se eu estava com você e poderíamos estar, se você não tivesse me deixado te esperando do lado de dentro. — A voz dela era pura frustração, o que me deixou um pouco triste, mas ao mesmo tempo mais feliz do que já estava. Então ela se importava.
— Queria me desculpar por isso, é que acabou que a galera resolveu ir para outro lugar. — Sorri culpado para ela e me sentei ao seu lado. — Podíamos sair de novo hoje à noite, é sábado.
— Escuta, , você sabe que somos só amigos né? Não quero que confunda as coisas. — Ela cruzou os braços e olhou para algum ponto fixo com o olhar perdido.
— Amigos? Você realmente acredita que somos só amigos? — Perguntei, balançando a cabeça. — Amigos não fazem o que fizemos dois anos atrás.
— O que fizemos afinal, ? Foi apenas uma coisa passageira.
— Não acredito nem por um minuto nisso, eu sei que você também sente alguma coisa por mim.
...
— Eu te pego às 11. — Ela deu um sorriso pequeno e se levantou.
— Eu vou voltar para a faculdade, voltar para o trabalho, voltar para Nova Iorque, você sabe disso.
— Eu não ligo. — Me levantei e fiquei de frente para ela.
— E se eu ligasse? — Perguntou.
— Podemos pelo menos fingir que não e curtir o momento.
Aproximei nossos rostos e senti o choque que percorreu meu corpo quando nossos narizes se encostaram. E eu estava prestes a sentir o céu ao tocar seu lábios quando a senti se afastar. Suspirei enquanto a observava se virar e ir andando pela rua sem nem olhar para trás. Ou estava ficando maluco, ou estava começando a ficar a fim de mim também.

Buzinei assim que cheguei na frente da casa dos pais de e estava prestes a descer do carro para falar com seus pais quando vi a porta do carro se abrindo e ela entrando rapidamente. Olhei confuso para ela.
— Dirige logo, antes que eu me arrependa. — Avisou com sua grosseria de sempre e tratei logo de acelerar.
— Você tá... — Parei para pensar, mas como eu poderia dizer todos os elogios que eu tinha em mente? Eram tantos.
— Bonita? — Ela arriscou.
— Ah, linda. — Sorri para ela, que me olhou com uma cara divertida.
— Onde estamos indo?
— Pensei que você diria para onde iremos. — Dei de ombros e escutei sua risada.
— Então dobre a esquerda e siga direto, que iremos encontrar um pote de ouro no final desse arco-íris.
O pote de ouro era uma boate tão louca quanto a da noite passada e eu via gente de todo o tipo na fila. Sorri sozinho pensando no quanto minha vida estava diferente depois de apenas dois dias desde que havia chegado. Eu, , estava em minha primeira ida a uma boate. Uma onda de segurança passou por meu corpo e no impulso segurei a mão de , e ela não tirou, até chegar a hora de mostrar as identidades.
— E aí, , quem é vivo sempre aparece. — O segurança falou e ela riu. — Identidade por favor.
Mostrei minha identidade falsa para o segurança que confirmou com a cabeça e me deixou entrar, um suspiro aliviado não foi controlado e me olhou de forma estranha. Mas eu não ligava. Eu estava em uma boate. Uma boate cheia de gente que não dá a mínima para nada. Uma boate cheia de Charlies Sheens. E eu estava com a minha garota.
— Vamos pegar uma bebida? — Ela me puxou até o bar. — O que vai querer?
— Que tal tudo? — Respondi, sorrindo convencido.
— Aposto que não consegue nem beber a mais fraca daqui. — Ela deu um sorriso divertido.
— Pois eu aposto que consigo beber a maioria dessas aí, sem reclamar.
— Apostado.
A escutei pedindo alguma bebida para o barman e notei o sorriso e o brilho em seus olhos. Era óbvio que ela gostava de mim. Isso estava mais claro do que nunca. E eu gostava dela. Mas ela voltaria para Nova Iorque e eu só iria para lá depois de acabar o colegial. Virei quatro shots de tequila de uma vez e a vi sorrir e tomar cinco. Por que eu tinha que terminar o colegial mesmo? Eu poderia muito bem ir com para Nova Iorque assim que fosse. Abandonar o colégio, seguir nosso sonho e seguir minha garota. Então esses eram os meus planos depois de beber cada tipo diferente de bebida daquele bar.

Eu já havia perdido a conta de quantas bebidas eu já havia tomado e achava que nem conseguia me levantar da cadeira do bar, quando se levantou. Estava tocando alguma música agitada que eu não conseguia me lembrar a letra e então ela começou a dançar na minha frente. E apesar de estar quase caindo devido ao teor alcoólico, conseguia ser sexy. Ela mexia os quadris de uma forma ritmada perfeita e então coloquei os pés no chão e me apoiei na bancada do bar para não cair.
Me juntei a e começamos a dançar de uma forma que seria considerada louca por muitas pessoas, mas que para mim e para ela ela era a dança perfeita. Para falar a verdade, tudo estava perfeito e eu achei que não pudesse ficar melhor, até que senti os lábios dela encostando nos meus em um beijo urgente e desesperado. Aquele beijo tinha todo o nosso desejo reprimido. Toda a nossa paixão. E era o melhor beijo de toda a minha vida.
— Vamos sair daqui. — Ela disse e, cambaleando, fomos em direção à saída. — Eu tenho uma tatuagem.
— Onde?
— Você vai ver quando eu estiver sem roupa.
Eu não podia mais esperar nem um segundo e resolvi que aconteceria ali mesmo, no estacionamento, dentro do carro. E ela não discordou. Na verdade, correspondeu muito mais entusiasmada ao entender minha ideia.
E quando eu finalmente estava ali, dentro dela e dentro de seu coração, eu entendi, por mais que tentássemos, jamais conseguiríamos esquecer um ao outro. Éramos para sempre. E eu nunca deixaria que aquilo acabasse.

Acordei com batidas no vidro do carro e pensei que fosse um policial, mas era o . Abri a porta sem fazer barulho para não acordar e saí do carro. Coloquei minha blusa que faltava e me sentei do lado de no chão do estacionamento.
— Então rolou? — Ele perguntou e eu balancei a cabeça, sorrindo feito um idiota. — Eu sempre soube que vocês iriam se resolver.
— Cara, eu estava pensando em largar o colégio e irmos logo para Nova Iorque, em busca do nosso sonho.
— Ir para Nova Iorque por causa da banda ou por causa da ?
— As duas? — Rimos. — Eu tô apaixonado por ela. E odeio ficar mentindo que tenho 18 anos quando na verdade tenho 17 e, o que foi? — estava olhando para algo atrás de mim, então virei e a vi me olhando com raiva.
— 17 anos? Então quer dizer que foi tudo mentira? — perguntou com uma cara desgostosa.
, espera, eu ia te falar a verdade. — Me levantei rapidamente.
— Já chega, . — Segurei seu braço, mas ela o desvencilhou. — Eu disse já chega.
Ela se virou e seguiu seu caminho exatamente como no dia anterior, sem nem olhar para trás e sem nem se despedir. Passei a mão pelo meu cabelo e gritei o nome dela e para que ela parasse, mas apenas continuou andando e eu fiquei para trás. Igualzinho como há dois anos.
— Você não pode deixar a história se repetir meu amigo. — A voz de soou em meus ouvidos e recebi alguns tapinhas no ombro. — Vai pra casa, são 3 da madrugada.
Sem falar nada, entrei no carro novamente e segui pelas ruas desertas e escuras até minha casa, onde pude finalmente me jogar em minha cama e apenas dormir com vontade de nunca mais acordar.

Levou alguns minutos para que eu lembrasse o que havia acontecido noite passada e quando lembrei senti meu coração apertar. Eu havia a perdido para sempre, disso eu tinha certeza. não me perdoaria. Nunca. Levantei da cama e fui em direção ao meu armário. Havia uma pasta no fundo dele, escondida embaixo das roupas. Uma pasta com fotos de .
Sempre gostei de bater fotos dela, sempre, e aquela pasta era repleta delas. Fotos que eu tirava quando ela deixava e quando ela não sabia. Eram tantas fotos que eu poderia fazer um mural com todas. Mas faria melhor em Nova Iorque.
Peguei uma mala grande e meti todas as roupas que eu usava dentro, junto de sapatos e algumas outras coisas úteis, mandei mensagem para avisando que iríamos sair da nossa cidadezinha naquele mesmo dia e ele mandou mensagem concordando e dizendo que suas coisas já estavam arrumadas.
Desci as escadas de casa com minha mala e meus pais me olharam assustados.
— O que é isso, ? — Mamãe perguntou, nervosa.
— Minha mala, minha guitarra e meu violão. — Respondi. — Estou indo para Nova Iorque atrás do meu sonho e eu quero o apoio de vocês.
, você tem todo o nosso apoio. — Meu pai disse. — Mas você tem certeza de que quer largar os estudos?
— Eu não tenho futuro neles, pai.
— Ah, meu filho! — Mamãe começou a chorar. — Vá atrás do seu sonho, e não se preocupe com dinheiro.
— Eu amo vocês.

E agora eu estava no trem com , em direção a Nova Iorque. Em direção à minha nova vida e ao meu sonho.
E apesar de eu ter perdido , posso agora dizer que não me arrependo de nada do que fiz. Acho que finalmente entendi que devemos viver nossos dias como se eles fossem os últimos, pois não sabemos o que irá acontecer.
E quem sabe eu encontro por aí, pelas ruas de Nova Iorque, e dessa vez dê certo?
Quem liga? Certamente não eu.


Fim.



Nota da autora: Oii, gente. E aí, gostaram da minha história? Queria dizer que fiz em menos de um dia e que foi uma correria imensa para que eu conseguisse chegar até esse final. Fiz a narrativa do ponto de vista do nosso querido, bobo e meio idiota principal, e espero que vocês tenham curtido, porque é a primeira vez que escrevo em primeira pessoa e no começo tive um pouco de dúvida, mas acho que peguei o jeito. Eu sei que a principal não aparece muito, mas a história gira toda em torno dela, o que eu achei bem legal e espero que vocês tenham curtido também. Queria agradecer à minha amiga Lavi Mitiko, que me ajudou muito com tudo nessa história, e dizer para lerem a fic dela nesse ficstape, que se chama 15. Voodoo Doll. E é isso, meninas, obrigada por terem lido! Se quiserem, comentem para deixar euzinha feliz!! Beijos!!

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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