05. Acontece

Última atualização: 19/04/2022

Capítulo Único

Nota inicial: Apesar dessa história ser independente, ela conta a história de um casal. Nessa parte, com a música 05. Acontece, é a visão da protagonista em uma situação com o principal. Para ler um pouco do ponto de vista do protagonista, você pode ler 02. Não Te Amo, da autoria de Danyelle Valença.


— Eu gosto do dragão nas suas costas.
Os dedos dele passearam pela parte da minha pele onde a tatuagem tinha sido feita. Era um toque gelado e sem intensidade, o oposto de tudo o que eu sentia antes, quando era ele quem me tocava ali.
Passei a odiar a tatuagem com toda força que eu tinha. Ela era só mais uma lembrança viva e idiota do que eu tinha vivido e perdido, constantemente presente para me lembrar de uma época que não existia mais.
Não havia culpa em lado nenhum; no entanto, era inevitável não perceber detalhes insignificantes que podiam ter feito toda a diferença em como nós tínhamos levado as coisas.
— Obrigada — murmurei, na falta do que dizer.
Querendo me esquivar do toque incômodo, eu puxei o lençol fino ainda mais para cima, cobrindo o restante do meu corpo e me virei para o cara com quem eu passei a noite. Ele era legal e bonito, mas eu sabia que não passaria daquilo que tinha acontecido entre nós: uma noite de sexo casual que eu mais aproveitei para tirar alguém antigo da mente do que por diversão. Toda essa minha atitude era uma merda. Não dava para esquecer uma pessoa usando outra.
— Café da manhã? — ele me ofereceu.
Apoiando o meu rosto no braço, fingi pensar sobre sua proposta. Ele tinha uma cara terrível de sono, mas que nunca diminuía a sua beleza. Procurei pelo relógio, logo atrás dele, na cômoda do lado oposto ao meu.
Sete horas da manhã de um sábado. E já estava quente pra caralho ali.
— Eu preciso ir — constatei, sem me dar o trabalho de inventar uma desculpa.
Ontem à noite, as meninas tinham me arrastado para um evento íntimo de aniversário na casa de um primo de uma delas, mas as coisas saíram do controle. Eu não tinha ideia do destino que as duas levaram, assim como eu tinha certeza que elas não sabiam o meu.
— Tudo bem — ele concordou, sem mais insistências.
Tudo o que eu fiz nos próximos minutos seguintes foi me vestir e juntar as minhas coisas. Sem saber se eu o encontraria outra vez por aí, limitei-me a uma despedida rápida e saí do quarto dele, do apartamento que ele dividia com o amigo e dei o fora dali. Foi uma noite boa que me ajudou a esquecer o caos que minha vida e minha rotina estavam, mas a realidade parecia me atingir em cheio naquele momento.
Infeliz com o sol quente do inferno de Recife, percebi que ainda estava em Casa Caiada, um bairro de Olinda muito longe do meu, mas passei os olhos ao redor, indecisa sobre o que fazer. Parei em algum lugar com sombra e comecei a remexer na minha bolsa, descobrindo que eu estava apenas com vinte reais e umas pratinhas, que me permitiria pagar alguma coisa para o café da manhã, somente para que eu não ficasse de barriga vazia.
Suspirando, ajeitei a alça da bolsa em meu ombro e atravessei a rua, adentrando uma lanchonete pequena que vendia café da manhã e almoço comercial. Como não havia muita gente ali, por ser cedo demais em um sábado, fui atendida rapidamente. Optei por pegar um pão com mortadela feito em uma sanduicheira e um copo de café quente com leite. Sentando em uma mesa qualquer, mordi um pedaço do pão, sentindo minha barriga reclamar de fome. Quando meu celular tocou, interrompendo o meu desjejum, procurei o aparelho e atendi a ligação.
Malu! — Gabriela gritou assim que eu atendi, sem me dar a chance de dizer nada. — Onde você está, sua maluca?
No fundo, eu conseguia ouvir a voz de Amanda, mas ela estava rindo de algo que eu não entendi muito bem. Encostei o celular no meu ombro, segurando-o contra o meu ouvido, deixando minhas mãos livres para que eu comesse em paz.
— Em Olinda, ainda — respondi a minha amiga e colega de quarto. — Cadê vocês? Amanda gritou alguma coisa e Gabriela mandou-a calar a boca.
Em qual parte de Olinda, garota? — disparou e eu quase pude vê-la revirando os olhos. — Nós ainda estamos em Rio Doce.
Elas ainda estavam mais perto de mim do que eu estava de casa. Bebi um pouco do café e mastiguei mais o pão.
— Casa Caiada — respondi.
O som de ônibus e carros vinham tanto do meu lado, quanto do dela. Por ali, era normal ter muitas avenidas e quase nunca dava para fugir dos sons urbanos, mais um motivo por eu ter escolhido um bairro que não fosse essa barulheira toda.
Fique aí que vamos te buscar de Uber — ela disse. — Manda sua localização.
Feliz por economizar passagem, não hesitei em aceitar. Ela desligou e eu imediatamente mandei a minha localização, terminando de comer em menos de dez minutos. Como ainda estava muito calor lá fora, optei por esperar as meninas, sentada ali, na sombra, protegida do sol. Eu quase podia sentir o cheiro de mar, a praia do outro lado da avenida. Paguei o meu lanche e fiquei fuçando as redes sociais no meu celular, olhando as fotos recentes do feed do insta, congelando sem querer em uma foto.
Eram um grupo de amigos, cada um erguendo a sua garrafa de cerveja na mão, o nome de um bar chique atrás deles e todos sorriam para a selfie. Eu conhecia a maioria dos que estavam na foto, mas não estava preparada para encontrar no meio deles, sorrindo como se essa fosse a única coisa que soubesse fazer no mundo.
Minha mente me trouxe lembranças das quais eu não queria acessar; nós dois, dentro do carro, embolados um no outro, enquanto uma música tocava na rádio e ele acariciava a minha pele com a ponta dos dedos. O silêncio era confortável entre nós dois, principalmente quando, depois de um tempo, nós dois começamos a rir sem motivos. Só era bom estar ali, dividindo o mesmo espaço com ele.
Senti meus olhos lacrimejarem e saí do aplicativo, esfregando o meu rosto com as duas mãos, desejando um banho bem gelado e uma cama para dormir. Eu tinha que estudar, mas… duas horas de sono não mataria ninguém.
Quando meu celular apitou, indicando uma mensagem de Amanda, avisando que elas estavam na frente da lanchonete, saí do lugar e fui de encontro à elas, aliviada por não estar mais sozinha com meus próprios pensamentos e nem com a existência do dragão infeliz tatuado nas minhas costas.
nunca mais tocaria nela.

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— Babi, sério, eu não vou — reforcei mais uma vez, quase gemendo de lamentação por ela não querer me ouvir e continuar insistindo em me levar para um lugar que eu não estava muito animada para socializar. — Preciso estudar.
— Malu, pelo amor de Deus, é sábado! — ela replicou. — Você já entregou todos os trabalhos antes do prazo e nem é época de prova ainda. Anda, arruma um biquíni.
Olhei para Amanda, buscando apoio, mas ela apenas deu de ombros. Quando insisti, balançando a cabeça, apontando para Gabriela se olhando na frente do espelho, Amanda suspirou e deixou os ombros caírem, já devidamente pronta, com uma saia jeans, um biquíni roxo e o cabelo preso em um rabo de cavalo, ainda descalça.
— Ela está morgada¹ para isso, Babi — Amanda interviu. — Podemos ir só nós duas.
Babi não se abalou; ela apenas terminou de retocar o batom e se virou para nós duas, mas fixou os olhos em Amanda, um dedo apontando para mim.
— E deixar ela na maior bad por causa daquele cara? — argumentou, incapaz de mudar de ideia. — Não.
— Obrigada, Amanda — resmunguei, só para ela sentir que valeu a pena tentar. E daí que eu ficaria na maior bad mesmo? Eu tinha terminado um namoro de muito tempo com alguém que eu ainda gostava pra caralho e só conseguia superar enfiando minha cara nos estudos. Pelo menos isso dava algum resultado.
— Vamos, Malu, deixa de pantim² — ela insistiu, quase me enxotando com as mãos. — Vai ser divertido e você está precisando muito disso.
Revirei os olhos, mas me dei por vencida. Do que adiantaria discutir? Ela sempre conseguia o que queria e eu só estava adiando o inevitável, por isso, eu me levantei e fui para o banheiro, pegando a toalha pelo caminho, tentando tomar um banho rápido antes que ela começasse a gritar que estávamos atrasadas.
Eu não tinha ideia de para onde iríamos. A única informação que ela tinha me dado era limitada a três palavras: piscina e churrasco.
O que, confesso, deveria me animar. Eu amava churrasco e piscina seria uma boa naquele calor dos infernos, mas a animação tinha ido embora de mim há muito tempo. Ser estudante da Federal já não era exatamente um motivo pra viver feliz, ter problemas amorosos só piorava a coisa toda.
Lavei o meu cabelo com um pouco de shampoo e terminei o banho rapidamente, saindo do banheiro com o cabelo pingando água e a toalha enrolada no corpo. As meninas tinham botado uma playlist animada para tocar no spotify da TV e começaram a cantar alguma música da Anitta que eu não prestei atenção, me enfiando direto no meu quarto. Fui até o meu guarda roupa, pegando o único biquini que eu ainda não tinha usado, comprado meses atrás. Depois de vestir as duas peças, comecei a procurar alguma roupa para me cobrir, sendo invadida pela falta do cheiro dele nas minhas roupas. O perfume de estava sempre impregnado em mim, nas minhas roupas, mas agora só tinha o cheiro da lavanda de cereja que eu usava ali. Balançando a cabeça, mordi o meu lábio com força por ainda permanecer naquele estado de melancolia, sendo que já fazia algum tempo do fim do namoro.
Optei por um vestido azul leve e deixei o meu cabelo solto, para secar a água. Escovei os meus dentes, calcei os chinelos e passei um pouco do perfume. Peguei a minha toalha e fui para sala, estendendo a toalha no lado de fora da casa alugada, onde o sol era bem visível.
— Estou pronta — avisei, resolvendo não levar nenhuma bolsa. Apenas peguei os meus documentos, algumas notas de dinheiro que eu tinha sobrando e olhei para as meninas.
— Sua animação é tão contagiante! — Amanda exclamou, me abraçando com sua empolgação habitual.
Ela era a mais sociável de nós três. Estava sempre no meio das festas, da galera e em qualquer lugar que envolvesse multidão e funk.
— Vamos, eu mandei mensagem para Matheus e ele vai nos encontrar lá — ela avisou, me puxando pela mão.
Gabriela riu e desligou a TV, pegando a chave da casa. Decidimos pedir um Uber e dividir para as três. Amanda ficou responsável por chamar e esperamos apenas por três minutos até que um carro cinza aparecesse.
Depois disso, pouco mais de quarenta minutos depois, tínhamos chegado ao nosso destino. Quando saí do carro, percebi imediatamente que estávamos em Boa Viagem, quase perto do Shopping Recife, que ficava mais algumas ruas adentro.
— Quem é o anfitrião do churrasco? — questionei. — Oi, meninas! — ele cumprimentou, animado, nos dando espaço para passar. — Fiquem à vontade!
Amanda se juntou com Matheus e os dois conversaram alguma coisa rapidamente, antes dela se juntar a mim e Babi novamente. Havia pessoas que eu não conhecia, mas a maioria dos que estavam ali, eram da Federal. A piscina não estava tão cheia, mas as pessoas estavam sentadas ao redor, comendo e bebendo, jogando conversa fora entre si.
— Que saudades eu estava de uma piscina! — Amanda exclamou.
Eu soltei uma risada, balançando a cabeça da animação infantil dela, mas quando continuei passando meus olhos pelo lugar, conforme eu andava com elas, meu sorriso morreu.
Não havia somente o pessoal da federal ali. Também havia os universitários da Católica e, consequentemente, . Imediatamente, virei meu rosto para minhas duas, e únicas amigas naquele lugar.
— Merda — Babi murmurou, baixinho, ao perceber quem eu tinha visto.
Olhei-a com cara feia.
— Merda mesmo, Babi — tomei o cuidado de falar baixo. — Você me arrasta para cá com medo que eu fique pensando nele sozinha em casa e olha só! — exclamei, apontando um dedo para as duas, de costas para o meu ex. — Vocês sabiam?
As duas imediatamente tomaram uma postura defensiva.
— Claro que não, Malu! — Babi respondeu primeiro, defendendo-se e eu consegui enxergar a sua sinceridade.
Não fazia sentido mesmo ela insistir em me trazer para um lugar, se soubesse que ele também estava frequentando.
— O Carlos nos chamou — Amanda explicou e apressou-se em completar a frase quando percebeu meu olhar acusador. — Nós não sabíamos que ele ia chamar o , eu juro!
Cocei a minha bochecha, contendo um pouco da minha irritação.
— Amanda, os dois são amigos, porra! — esbravejei no menor tom de voz que eu consegui. — É claro que ele ia chamar!
Mais estressada do que eu estava quando cheguei, dei as costas para as duas bufando, sentindo a necessidade de me encher um pouco do álcool da cerveja. Tomei o outro caminho de propósito só para não esbarrar em , porque eu não sabia o que dizer.
Desde o nosso término, não tínhamos nos visto mais, mesmo tendo diversos amigos em comum. Mesmo tendo sido um término amigável. Não tinha raiva dele e ele não guardava nenhum ressentimento por mim. Ainda assim, era difícil saber o que dizer quando surgia uma oportunidade infeliz de estar cara a cara com ele de novo.
E como as meninas poderiam pensar que ele não estaria mesmo ali, como um convidado? Além de ser um dos amigos de Carlos, também morava em Boa Viagem, o que só era mais um requisito para ele ser um dos convidados da festa.
Definitivamente, eu devia ter ficado em casa estudando. Ou dormindo. A segunda opção era mais tentadora do que a primeira. Adentrei a cozinha e abri a geladeira, notando que estava cheia com os mais diversos tipos de cerveja e peguei a primeira que vi. A heineken estava gelada e serviu para matar a necessidade que eu sentia. O gosto continuava horrível, mas não me importei com aquilo naquele instante, com a cabeça cheia de coisa. A cozinha estava consideravelmente vazia. Matheus quem aparecia para carregar garrafas para o lado de fora, a pedido do pessoal, que eram preguiçosos demais para andar poucos passos até ali. No entanto, Matheus era a última pessoa do mundo a se importar em fazer um favor para alguém. Bebi mais um gole e continuei encostada contra a pia, perto demais da porta dos fundos, que levava ao jardim e à lavanderia.
Além de tudo, como a maioria ali, Carlos era rico para cacete também.
— Oi.
Quase me engasguei com o gole quando ouvi a voz conhecida. Virando o meu rosto, mal percebi que tinha derrubado bebida no meu vestido, hipnotizada demais com a imagem de ali, ao meu lado, um pouco distante, segurando uma cerveja ruim na mão esquerda. Ele tinha uma expressão suave, a aparência linda de sempre e o sorriso ladino que era o seu charme. Meu coração deu um salto e me obriguei a acalmá-lo, lembrando que ele tinha me cumprimentado.
— Oi — devolvi, passando as mãos pelo vestido, na tentativa inútil de limpar o que tinha sujado.
coçou a nuca, como fazia quando estava um pouquinho desconfortável com a situação ou não sabia como conduzir. Ele apontou para a geladeira, do meu outro lado, indicando que pegaria mais uma cerveja e eu assenti, concordando como uma lesa³. Ele passou por mim e foi inevitável não sentir o seu cheiro habitual de perfume caro, enquanto eu apenas usava um creme da Giovanna Baby, comprado na Americanas, cujo orçamento cabia melhor no meu bolso.
— E aí, como tá a tua vida? — me vi questionando, quase sem querer.
abriu a geladeira e pegou outra cerveja gelada, livrando-se da garrafa que ele estava antes. Ele olhou para mim com um olhar diferente do que eu costumava receber dele. Meu sorriso era pequeno, mas ainda assim, desenhava os meus lábios.
— Legal — ele respondeu.
Parecia estranho pensar que nos tornamos dois estranhos daquela maneira. Duas pessoas que inventavam palavras para manter uma conversa infinita pela noite inteira agora eram duas pessoas que mantinham um papo de palavras reduzidas. Não havia como nos sentir da mesma forma de antes.
O olhar dele era diferente e… ele parecia em paz. Não que eu achasse isso ruim, era só que, que droga, eu ainda lembrava da gente de outra maneira. Perdidos na beira do cais. Correndo de mãos dadas na praia vazia à noite, sentindo o mar gelado abaixo dos nossos pés.
Desejei beijá-lo, na intenção e esperança que o gosto pudesse lembrá-lo de nós. Mas não fiz isso. Eu nunca faria isso.
— Eu não sabia que você estaria aqui hoje — ele disse.
Umedecendo os meus lábios, mexi os meus ombros, mantendo os meus olhos neles, como se eu precisasse compreender que nós dois éramos pessoas diferentes agora. Ou sempre fomos e nunca enxergamos isso. Tínhamos sido fadados ao fim, de toda maneira? Sim, éramos de mundo diferentes. Ele era rico, enquanto eu precisava trabalhar duas vezes mais para me sustentar, além de conseguir conciliar a rotina com os estudos. Eu era de universidade pública e ele era da Católica, uma das faculdades mais caras do país. Seus pais eram cirurgiões e ele estava seguindo pelo mesmo caminho, enquanto eu tinha sido adotada e não mantinha contato com os meus pais. Mas, apesar de todas essas diferenças, nós tentamos fazer dar certo. Eu sei que tentamos, no entanto, o ciúme e a falta de comunicação também tinha atrapalhado todo relacionamento e resolvemos terminar como amigos antes que as coisas seguissem um rumo que não queríamos.
— É, as meninas me arrastaram — respondi.
assentiu, um sorriso melancólico surgindo nos lábios. Ele ergueu a sua garrafa, como se estivesse brindando comigo e, despedindo-se silenciosamente, saiu do mesmo jeito que entrou.
Era isso, então, o que o amor virava quando chegava ao fim?

---


Duas horas depois, eu quis dar o fora dali.
Procurei por Amanda e Babi em todo lugar, encontrando-as sentadas na beira da piscina, bebendo um coquetel de frutas com álcool. Acenei para as duas, um pouco desequilibrada depois de três garrafas de cervejas, sempre me lembrando que eu era fraca demais para aquilo tudo. Eu não estava bêbada, mas meu equilíbrio era facilmente comprometido.
— Me desculpa, Malu! — Amanda apressou-se em pedir.
Estalei os lábios, fazendo pouco caso com as mãos para o pedido de desculpas dela. Não me importava mais com aquela situação. No fim de tudo, tinha servido como um balde de água fria para que eu finalmente seguisse em frente, mesmo que ainda fosse difícil.
— Tudo bem, Amanda — confortei-a, observando as duas levantarem-se. — Podemos ir embora?
As duas trocaram um olhar, mas assentiram. Minha cabeça começava a latejar levemente e que bom que era sábado e amanhã era domingo, porque eu iria dormir até não conseguir mais manter os olhos fechados. Ou até quando o calor me deixasse dormir.
Fiquei no meio delas, retomando o mesmo caminho que fizemos, quando chegamos. Duas horas ali tinha esgotado toda a minha energia social, ainda mais depois de ser obrigada a escutar opiniões sobre o meu ex-relacionamento com o e ser ainda mais obrigada a ouvir que ele combinava mais com Lilian, uma colega do seu curso, de quem eu tinha levemente um ciúme. E que, para melhorar, tinha a mesma condição social que ele e com certeza era a nora que seus pais iriam adorar. Como aquela conversa toda estava destruindo a pouca auto estima que eu tinha, me retirei sem me despedir e sem me importar que eu seria mal educada.
Aquelas pessoas não eram minhas amigas e eu não estava pedindo opinião de ninguém sobre o que era melhor no meu relacionamento e na minha vida ou sobre com quem eu combinava ou não.
— Você falou com ele? — Amanda indagou, com cuidado, quando já estávamos do lado de fora da casa, esperando outro uber.
Que Deus tivesse piedade da minha conta bancária, porque eu tinha certeza que de Boa Viagem para Campo Grande, em dia de sábado, não iria sair barato. Encostei-me na parede, soltando um suspiro baixinho, me sentindo cansada demais para qualquer coisa. Tinha sido bom e ruim vê-lo.
A saudade que eu sentia parecia ter aumentado e eu não conseguia conceber a ideia de que duas pessoas poderiam seguir a vida daquela maneira, como se não tivessem compartilhado milhares de coisas íntimas juntos. Eu queria ter a paz que ele transbordava no próprio olhar.
— Sim — respondi e, antes que ela fizesse outra pergunta, fui mais rápida em responder novamente. — E foi uma merda.
As duas trocaram caretas uma com a outra. Eu não morava com Amanda, só com Gabriela, porque eu não conseguia pagar o aluguel sozinha com o dinheiro do estágio, mas em alguns fins de semana, ela dormia com a gente. E a presença delas era mais importante para mim agora do que nunca tinha sido.
— Ele está diferente — comentei, meio desabafando. — Eu não sei o que eu esperava, é só que… ainda dói quando eu lembro de tudo.
Amanda se aproximou de mim e acariciou o meu braço. Ela sempre precisava estar tocando as pessoas, sentindo-as, abraçando-as. Era fácil perceber que sua linguagem do amor era o toque.
— É normal se sentir assim, Malu — Babi disse, parando de encarar o aplicativo do uber. — Eu só odeio não poder fazer nada para que você se sinta melhor.
Limpei as poucas lágrimas que escorreram pelas minhas bochechas, prometendo que seriam as últimas derramadas por ele. Eu não tinha porque ficar me prendendo no fundo do poço quando ele parecia tão bem seguindo em frente. Eu podia desejar mil vezes que ele não me esquecesse, mas afinal, esse era um desejo só meu.
— Desculpa mesmo ter te trazido para cá — Babi continuou. — Eu realmente não sabia.
— Tudo bem, Babi — tranquilizei-a.
— O amor é uma merda na maior parte do tempo, amiga — Amanda disse, me abraçando de lado.
Gabriela aproveitou e se juntou no abraço também, quase derrubando nós três no chão, o que me arrancou uma risada sincera. O amor romântico podia mesmo ser uma merda na maior parte do tempo, mas o amor que regia a amizade era o que me mantinha firme.
As duas quebraram o abraço quando uma buzina de carro chamou nossa atenção. Gabriela verificou a placa do carro e confirmou que era o nosso uber, então andamos na direção dele.
— Mas, enfim, acontece — Amanda completou, segurando a minha mão e eu sorri fechado para ela, antes de entrar no carro.
É.
Acontece.

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morgada¹: alguém desanimada, sem ânimo.
pantim²: alguém que cria caso; frescura.
lesa³: boba


Fim.



Nota da autora: Eu fui no show desse homem e, nossa senhora, gente, quase não saí viva! Acontece é minha música preferida do álbum e fiquei muito feliz de ter conseguido pegar ela para colocar um pouquinho do que eu tinha imaginado. É uma música que carrega muito sentimentalismo, então eu espero que vocês tenham gostado, apesar de ter sido uma história curta. Não esqueçam de dar um pulo em 02. Não Te Amo, para prestigiar um pouco do nosso protagonista. Obrigada pela leitura e até a próxima! <3



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