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Capítulo Único

1989, Plymouth, Minnesota

pagou o taxista, não esperando sequer o troco, e logo atravessou a rua, com passos determinados. Parou, no entanto, por alguns segundos, respirando fundo, em frente à casa branca com janelas azuis, que certamente tinham recebido uma nova pintura recentemente, apesar de se manterem na cor antiga de que se lembrava tão bem. A construção não era nenhuma mansão e nela não vivia nenhuma família aristocrática, mas a garota sentia-se intimidada mesmo assim. Era a mesma casa, afinal, onde alguns dos melhores e também dos piores momentos de sua vida tinham acontecido. A mesma casa de onde havia fugido, anos antes, no meio da noite, com uma mochila nas costas, levando menos de meia dúzia de mudas de roupa, mas um peso nos ombros que era bem maior do que se a bolsa pudesse carregar todo o seu guarda-roupa de adolescente patricinha.
Pouco depois de ter, enfim, tomado coragem e tocado a campainha, abriu a porta, obviamente se espantando com sua presença ali, do lado de fora da casa dele, mais de nove anos depois de ela ter partido sem lhe dizer nada. Ele estava abatido, com olheiras e barba por fazer, e bem mais magro do que costumava ser, mas ela não estranhou. Sabia muito bem por que razão ele estava assim, tão acabado para os seus vinte e seis anos. Pela mesma razão, ela também tinha emagrecido dois quilos na última semana, antes de conseguir férias antecipadas de seu trabalho em Nova York, e uma hospedagem em Plymouth, e poder, finalmente, voltar à sua cidade natal.
“O que você tá fazendo aqui?” Ele indagou, ríspido.
“Será que eu posso entrar, pra gente conversar?” Ela pediu, em um fio de voz. Sua garganta ardia e uma lágrima escorreu por seu rosto, mas ela não contava que isso fosse despertar a compaixão dele, e até temia que ele pensasse que estava sendo um choro falso.
“E que razões eu teria pra te deixar entrar?” Ele questionou, novamente sem fazer questão de ser simpático.
“Eu preciso falar com você, . E vou ficar na sua porta até que você me escute. Você sabe o quanto eu posso ser teimosa.” Afirmou e ele apenas abriu a porta, sem forças para qualquer tipo de embate.
“Pode falar.” Disse, cruzando os braços, impaciente.
“Eu soube da Trish...”
“Como?”
“O que?”
“Como você soube?” Perguntou, irritado. “Você não tem nada a ver com isso! Por que e como você saberia?”
“A sua irmã me contou.”
“A Maureen?” Ele quase gritou. “Quem ela pensa que é? Ela não tinha esse direito!” As mãos dele estavam fechadas de um jeito que provavelmente estava sendo até doloroso, e quem não o conhecesse bem poderia dizer que ele seria mesmo capaz de usá-las para socar a irmã, se ela estivesse ali, naquele momento.
“A Trish é minha filha, ...” Tentou argumentar, mas só conseguiu aumentar a ira dele.
“A Triss é minha filha!” Dessa vez, ele não conteve o tom da própria voz. “Você perdeu qualquer direito sobre ela, quando saiu por essa porta há quase dez anos, pensando em você mesma, e a Maureen não tinha o direito de te contar nada!”
“Antes de julgar e condenar a sua irmã, você deveria saber que foi ela quem me impediu de vir aqui antes.” Observou. “Eu queria vir há uns seis anos, mais ou menos, e ela me disse que eu não deveria voltar, porque você e a Triss estavam melhor sem mim. Ela me disse que você nunca me perdoaria, e me convenceu a continuar bem longe, mas agora ela sabe que a situação mudou. Ela me disse que a Trish tá doente e...”
“Doente?” Ele riu, irônico. “A Trish corre risco de morte, ! De morte! Eu posso perder a minha filha... a única coisa que dá sentido à droga da minha vida! A filha que eu quis, desde que eu soube que ela tava crescendo dentro de você! A filha que eu criei quase sozinho todos esses anos!” Ele finalmente olhou bem para o rosto dela, e viu que a garota estava chorando, mas isso não o comoveu. “E por que você sequer se importa, se queria fazer um aborto, hum? Se depois queria dar o bebê pra adoção e, no final das contas, acabou tendo a Triss, mas foi embora logo que o médico disse que ela podia começar a tomar mamadeira, e me deixou sozinho com ela?”
“Eu tinha dezesseis anos, !” Ela lembrou o que, para ela, tinha fundamentado as inseguranças que a levaram a fazer tudo que fizera no passado. “Eu tinha medo dos meus pais e tinha razões pra isso, tanto que eles me expulsaram de casa, quando souberam que eu tava grávida, e eu tive que vir morar aqui, com a sua família. Eu não tinha jeito nenhum com a Triss e ela só parava de chorar quando você a pegava no colo! A cidade toda virou as costas pra mim...”
Eu não virei as costas pra você, e foi exatamente pra mim, que queria te dar o mundo que você virou as costas!” Foi a vez dele de não conseguir conter uma lágrima teimosa que rolou por sua face, então ele virou as costas, para escondê-la. Não era justo que ela o visse frágil daquela maneira. Não era certo que ele, passando já por um problema tão grande, ainda se deixasse afetar pelas lembranças do tempo em que chegara a pedi-la em casamento, mesmo sendo apenas um menino, simplesmente para que ela tivesse certeza do quanto ele a amava e de quanto estava realmente comprometido em ter uma família com ela. “Eu não preciso de você aqui, agora, no pior momento da minha vida, achando que tem algum direito de ter pena de si mesma.” Acrescentou.
“Eu não tenho pena nenhuma de mim, . Só o que tenho é culpa e muita saudade, mas eu não vou tentar te convencer.” Afirmou. “Eu não aqui pra isso, mas pra saber da Trish... pra ver a minha filha. O que ela tem exatamente?” Ousou perguntar. “Talvez eu possa ajudar de algum modo...”
“Uma doença autoimune no fígado. Ele praticamente já não funciona mais e só o que pode ajudá-la é um transplante.” Explicou. “Todos nós fizemos exames, só que ninguém da família é compatível e a fila do transplante...”
“Eu poderia ser compatível.” se animou, mas ele esboçou uma reação bem diferente.
“O quão irônico Deus seria, hein?” Ele deu um sorriso sarcástico.
“Eu posso ser uma porcaria de pessoa, na sua concepção, mas fui eu quem colocou a sua filha no mundo, ok? Eu não quero ser compatível pra me tornar nenhuma espécie de heroína, mas porque, mesmo você não acreditando, eu amo a Trish e também não quero perdê-la.” Assegurou. “Por favor, me deixa ir vê-la e fazer esses exames! Não por mim... por ela!” Pediu, e ele ficou calado por alguns segundos, massageando o próprio pescoço, dolorido de tanta tensão.
Okay, .” Respondeu, sério. “Você pode fazer esses exames, e eu mesmo vou rezar pra que você seja compatível, porque tudo que eu quero nesse mundo é a minha princesa salva. Mas você não vai ver a Triss. E, se você não for compatível, você vai embora, na mesma hora, e vai esquecer que teve uma filha, um dia.”
Ela balançou a cabeça, concordando. Esse era o preço que teria que pagar para ao menos tentar evitar o pior.

The more I think about it now
The less I know
All I know is that you drove us
Off the Road



conversou com os médicos que cuidavam de Triss, naquela mesma tarde, e foi submetida aos exames necessários para saber da compatibilidade entre ela e a filha, logo na manhã seguinte. Não pode vê-la, pois permaneceu irredutível quanto a isto, e não era hora de brigar com o rapaz, já tão destruído emocionalmente pela doença da menina.
Alguns dias depois, teve a confirmação daquilo que seu coração lhe dissera, no exato momento em que falara sobre a necessidade de um transplante de fígado: poderia dar uma parte de si à filha e, ao que tudo indicava, não só salvar a vida dela, como dar à garota saúde e a possibilidade de viver por muitos anos. Ela, Maureen e a Sra. comemoraram no saguão do hospital, trocando abraços, entre lágrimas, mas , logo que ouviu de um dos doutores as boas novas, saiu praticamente correndo para uma pequena capela que ficava próximo ao berçário, sem saber sequer expressar gratidão à pessoa por quem nutria tantos sentimentos intensos e extremamente contraditórios.
Ele agradeceu a Deus, com toda a sinceridade do coração de um pai amoroso, por ter-lhes enviado a ajuda de que sua pequena precisava. Não havia de fato nada que fosse mais importante no mundo do que a saúde de Trish! Contudo, ele era humano e não podia deixar de pensar que teria sido mais justo se ele, ou qualquer outra pessoa, pudesse ter feito a doação. Não podia deixar de sentir uma certa raiva por ter que engolir a presença de por mais alguns dias.
Era uma realidade nova, que ele precisava enfrentar, mas que o deixava tão confuso, que, quanto mais ele pensava, menos parecia ter qualquer resposta! Todas as convicções que formara sobre a pessoa que o deixara pareciam prestes a desmoronar, com se mostrando tão diferente, em suas lembranças tristes, daquela pessoa que, no tempo presente, parecia realmente se importar.
A única coisa da qual ele estava convicto era de que ela tinha causado um estrago enorme na relação entre os dois, fazendo as escolhas que fizera. E foi por isso que, ao voltar para a ala onde ficava o quarto de Trish, ele disse apenas “muito obrigado” à mãe de sua filha, antes de entrar no quarto da menina, sem dar qualquer sorriso e sem encarar ninguém. Não estava disposto a pensar nem mais um minuto, pois isso significava baixar a guarda e ele não queria voltar a se machucar.

“É uma questão de humanidade, meu filho. Você sempre foi um rapaz gentil, de bom coração.” Norma tentou ponderar, dias depois, quando teve alta do hospital, após uma cirurgia bem sucedida, e ainda se mantinha irredutível, sem permitir que ela falasse com a filha. “Ela salvou a Trish, passou por uma cirurgia séria pra isso, e tudo o que ela quer é ver a menina!”
“Ela falou alguma coisa?” Ele perguntou, contrariado.
“Não, mas só porque ela não ousa!” Observou a mulher. “Ela não quer bater de frente com você. Isso muito óbvio pra mim.”
“Eu só queria que ela fosse embora, mãe... tão de repente quanto ela apareceu!” Comentou, com ar cansado, sentando-se ao lado de Norma no sofá, que ficava ao lado da cama de hospital em que a filha dormia. “Pior do que isso: eu queria que tivesse sido outro milagre qualquer que tivesse salvado a Triss, pra eu poder continuar sentindo raiva da , e mais nada.”
“Mas não foi.” A mulher alisou as costas da mão do filho, observando a neta, que ainda ficaria alguns dias no hospital, pois sua recuperação não era tão simples quanto a da mãe. “E, por mais que você tenha as suas mágoas, eu não posso fingir que não acho muito errada essa sua maneira de agir.” Falou sério, apesar de não ter levantado o tom de voz, para não acordar a paciente.
podia ter muitos defeitos, mas ele sempre fora um bom filho e sabia que, se a mãe o estava repreendendo, provavelmente tinha razão. Ele tinha testemunhado o empenho de , o brilho nos olhos dela ao ver a menina pelo vidro da UTI, às vésperas de sua própria internação, o modo como ela se emocionara ao ter certeza de que poderia dar uma chance à filha. Ele ainda não achava que nada disso era suficiente para que ele permitisse que voltasse a fazer parte de sua vida, ou mesmo que passasse a fazer parte da de Trish, mas acabou por concluir que era suficiente para que ela tivesse o direito de conhecê-la.
“Ela sabe que você foi a doadora, e mais nada! O me pediu pra dizer a ela que você é uma amiga minha de infância, que mora em outra cidade, mas estava de férias aqui, fez o exame...” Maureen avisou, enquanto acompanhava até o quarto, mais ou menos duas horas depois.
Okay.” A outra respondeu, assentindo também com a cabeça.
“É que ela conhece todas as minhas amigas daqui, porque elas vivem lá em casa.” Tagarelou, parecendo bastante tensa.
“Tudo bem.” sorriu, simpática.
“Você nervosa?” Questionou a Srta. .
“Ainda mais do que você!” Riu. “Nós duas não queremos desagradar o seu irmão, e eu ainda tenho como agravante o fato de que vou conhecer a minha filha, né?”
“Claro! Que pergunta a minha!”
Entraram no quarto, onde apenas Norma fazia companhia a Trish, porque , preferindo não estar ali para presenciar o encontro, tinha aproveitado para ir à casa dos e tomar um banho. A menina estava acordada e a avó conversava com ela, sentada em uma cadeira a seu lado. Parecia já bastante fortalecida e se mostrou animada com a chegada da tia, para quem abriu um sorriso lindo, que teria feito reconhecê-la facilmente no meio de outras crianças, por ser igual ao do pai.
“Por que você chorando?” Perguntou a pequena, depois de receber, daquela que pensava ser só uma velha amiga de Maureen, um beijo demorado em cada bochecha. “Eu agora melhor, e o papai me disse que eu vou melhorar, cada vez mais, e voltar pra casa e tudo!”
“E o seu pai falou a verdade. Você logo, logo, vai pra casa. Eu não chorando porque triste. É só... emoção por conhecer a sobrinha de quem a Maureen me falou tanto.” Sorriu, secando as lágrimas que continuavam saindo de seus olhos.
“A gente nunca se encontrou antes? Eu acho que eu já vi você em algum lugar.” Comentou, examinando o rosto a sua frente com atenção.
“Isso não é possível, Triss. A não vem a Plymouth há anos!” Maureen respondeu, sem jeito e cheia de receio de que a menina fizesse um comentário parecido na frente de , o que certamente o faria pensar que ter aceito que a ex-namorada visse a filha tinha sido um grande erro.
“Você deve ter visto alguma foto de quando nós éramos mais novas.” A outra emendou, pensando que provavelmente ela devia ter visto mesmo alguma velha fotografia, já que crianças não tem memória da época em que eram apenas bebês. A única parte mentirosa da história era que não havia retratos dela com a tia da garota, mas exclusivamente com seu pai. Maureen só tinha conhecido a ex-“cunhada” quando ela fora morar na casa do , com uma barriga que já não conseguia esconder de ninguém.
A menina felizmente se convenceu e começou a fazer perguntas inofensivas. Quis saber onde ela morava, como Nova York era, o que ela fazia lá, se tinha um namorado. Norma e Maureen riram de sua curiosidade e até tentaram repreendê-la por fazer um tipo de interrogatório, mas estava feliz demais em conversar com a filha, e queria poder contar ainda mais sobre sua vida do que contou.
Infelizmente, o horário de visitas não era muito longo e ela logo teve que se despedir de Triss, mas, apesar de saber que não seria a favor de outras visitas, ela estava realmente feliz, como não se sentia há muito tempo, e tinha tomado uma importante decisão.


Let me remind you
This was what you wanted
(You ended it)
You were all I wanted
(But not like this)



Desde que chegara a Plymouth, estava hospedada na casa de Lola, uma colega de colégio latina que, por ter sentido na pele o preconceito das pessoas, em razão de sua origem, fora a única que não lhe deu as costas quando ela engravidou, e também a única com quem manteve contato, ao longo dos anos. A garota vivia apenas com sua velha avó, que tinha uma pensão bem modesta, e por isso batalhava muito para pagar as contas do imóvel. Não foi nenhuma surpresa que ela não só tivesse aceito, como comemorado, quando a amiga perguntou se ela estava interessada em alugar o porão.
Quem, obviamente, não gostou, nem um pouco, quando ficou sabendo da mudança, foi . E ele gostou menos ainda do fato de Maureen ter comentado sobre a novidade na frente de Trish que, assim como ele, tinha se apaixonado por à primeira vista, e não parou de insistir para que a tia levasse a amiga ao hospital novamente.
“Pai, a veio!” Foi a primeira coisa que ela comentou, quando ele chegou ao hospital, depois de seu primeiro dia de volta ao trabalho.
Tinha decidido, muito à contra gosto, deixar a garota visitar a filha, justamente por ter percebido que sua princesinha havia ficado triste ao saber do fim de sua licença. Maureen e Norma também precisavam trabalhar, para sustentar a casa e para ajudá-lo a quitar as dívidas que contraíra em razão do tratamento de Trish, então só restara à pequena a companhia da Sra. Montgomery, que, apesar de ser de total confiança, era uma mulher de poucas palavras, que não fazia sucesso algum com crianças.
“Olha o que ela trouxe pra mim!” Continuou Trish, animada, mostrando-lhe três livros infantis, sem supor que seu silêncio não era resultado de cansaço, e sim de falta de interesse no tema. “Ela leu comigo a tarde toda! Ela é tão legal, pai!”
“Uns caras do trabalho também mandaram umas coisas.” Ele entregou a ela uma sacola com três pacotes, tentando mudar de assunto e esperando que ela se interessasse pelos outros presentes e parasse de supervalorizar os da mãe. Porém, ficou ainda mais frustrado, quando ela voltou a tagarelar sobre os livros, jogando de volta na sacola o ursinho de pelúcia, a boneca e a tiara, que achou fofinhos e só.
“Você conhece ela, pai?” Indagou Triss, depois de outra das visitas da mãe, que acabaram se tornando ainda mais constantes quando a garotinha finalmente voltou para casa.
“Quem?” Ele perguntou, fingindo estar distraído e olhando em direção à TV.
“A !”
“N-não. Eu não conheço. Eu e sua tia estudamos em colégios diferentes.” Disse, usando uma verdade para justificar uma mentira, já que ele e Maureen não tinham mesmo frequentado a escola juntos, mas ele e , sim.
“Você tem que conhecer! Ela é a pessoa mais legal que eu conheço... depois de você, claro!” Riu.
“Mais que a tia Maureen? Mais do que a sua ?” Questionou, escondendo a irritação.
“Eu amo a tia Maureen e a vovó, pai, mas... Não conta pra elas, mas a tem mais paciência pra brincar, pra inventar histórias, pra fazer trança no meu cabelo. Ela é inteligente! Ela até me ensinando umas coisas que não deu tempo deu aprender na escola, pra quando eu voltar não ficar muito perdida.” Explicou. “E ela é linda, pai.”
“É?” Ele perguntou, desconfortável, massageando a própria nuca.
“Você devia arrumar uma namorada que nem ela! Ou... podia ser ela mesmo. Ela me disse que não tem namorado, sabia?”
“Eu não procurando uma namorada, Triss.”
“Eu vou pedir pra ela ficar aqui até mais tarde, da próxima vez, pra vocês se conhecerem. Tenho certeza que você muda de ideia!” Decidiu, e ele não protestou, pois não tinha o que alegar para sequer querer conhecer uma pessoa que era tão carinhosa com sua filha. Contou com o bom senso de em dar uma desculpa para evitar esse encontro.
E ela teve o bom senso. Podia intuir que um encontro com ela não era algo que quisesse e, se tinha uma coisa que ela não precisava arriscar fazer era desagradar o pai de sua filha. Estava feliz em poder conviver com a pequena, em vê-la melhorando um pouco a cada dia, em vê-la aprendendo coisas novas, e em ajudar de alguma forma, mesmo que não parecesse estar nem um pouco próximo o dia em que poderia revelar ser sua mãe.
Evitou encontrá-lo, várias vezes, sempre dizendo à filha que tinha um compromisso qualquer. Até o dia em que não teve escolha, porque a Sra. Montegomery era a única pessoa na casa com as duas, quando recebeu um telefonema e saiu correndo, informada de que o filho mais novo estava no hospital, depois de sofrer um acidente de automóvel. Souberam, posteriormente, que o rapaz estava bem, mas teve que ficar na casa dos , até que alguém chegasse, e a primeira pessoa a voltar do trabalho, naquela noite, acabou sendo .
Trish estava em êxtase, quando “apresentou” os dois. Falava sem parar, contando tudo o que sabia sobre para o pai, e todas as coisas que julgava legais sobre o pai para . Uma ex-namorada dele que tinha ciúmes da menina foi tópico da conversa, bem como o emprego dele como subgerente de banco e o bico como treinador de um pequeno time de futebol americano do bairro. A amiga com quem tinha dividido, por alguns meses, um pequeno apartamento em Nova York, que era design de interiores, também ficou na berlinda, e Triss aproveitou para mostrar ao pai tudo o que tinha aprendido com sobre arquitetura e decoração.
Foi impossível dissuadi-la da ideia de que precisava ficar para o jantar e provar a comida da Sra. , e nenhum dos adultos conseguiu convencê-la a ir dormir, até que ela começasse gradativamente a falar menos e fosse flagrada cochilando no sofá.
e ficaram a sós, quando Norma resolveu acompanhar a neta e se certificar de que ela escovaria os dentes, antes de se deitar, e Maureen forçou um bocejo, dando adeus e desaparecendo pelo corredor também.
“A noite foi divertida.” Foi ela quem se manifestou, quebrando o silêncio primeiro.
“É... até que foi.” Ele concordou, fingindo indiferença.
“Você podia deixar que eu me aproximasse mais.” Sugeriu, deixando a poltrona em que estava sentada e ocupando o lugar ao lado dele no sofá.
“Mais?” Ele riu. “Você vê a Triss toda hora.”
“Eu não me refiro a Triss, . Não é só dela que eu queria ficar perto.” Afirmou, pegando o rapaz de surpresa.
Ele estava desarmado e se deixou levar pelo momento, fechando os olhos quando ela tocou seu rosto, retribuindo quando sentiu os lábios dela nos seus, a língua quente invadindo sua boca. Foi como se tivesse perdido os sentidos por alguns momentos e só retomado a consciência ao abrir os olhos, vendo o rosto dela perto demais do seu.
“O que você fazendo, ?” Perguntou, se afastando bruscamente.
“Te beijando, pra tentar fazer você se lembrar do quanto era bom... do quanto era ma-ra-vi-lho-so!
“Eu não preciso de nenhum lembrete sobre como a gente tinha química, . Não preciso ser lembrado do quanto eu amava e queria você.” Riu, constrangido. “Você era tudo que eu queria, mas eu não quero mais. Não desse jeito, depois de você ter ido embora, corrido atrás do que você achava que seria uma vida melhor, e visto que as coisas não são tão fáceis como você pensa!”
“As coisas, certamente, não são fáceis, nem aqui, nem em Nova York, mas eu não voltei por estar mal por lá. Na verdade, eu tava bem melhor, em termos gerais, do que eu agora.” Comentou. “Eu comecei uma espécie de estágio na empresa do marido da minha tia, logo que cheguei lá, e, trabalhando todos esses anos na firma, eu tinha conseguido uma vaga como assistente de uma das arquitetas. Ele também pagou os meus estudos, pra eu terminar o ensino médio, e, antes de vir pra cá, eu tava começando o terceiro semestre da faculdade de arquitetura.”
“Então, você só veio por causa da Triss?” Indagou e ela assentiu. “Mas você disse que ia voltar há alguns anos, se a Maureen não tivesse te convencido do contrário. Ou era fazer só uma visita que você queria fazer?”
“Não era uma visita. Eu ia voltar! Mas não era porque as coisas estavam dando errado pra mim... era porque eu sentia saudades. E é claro que não eram saudades dessa cidade horrorosa, da família que me enxotou feito um cão sarnento, dos vizinhos que viravam a cara pra mim, quando eu ia ao mercado, ou das falsas amigas da escola, que não falavam mais comigo, porque não podiam se misturar.” Falou, mostrando ter seus próprios fantasmas. “Era da Triss e de você que eu sentia falta! Porque eu amo a minha filha e só deixei ela com você por ter certeza de que você saberia cuidar dela bem melhor do que eu! Porque eu amo muito você e sempre vou amar.”
...”
“Por favor, não me afasta, !” Implorou, com lágrimas nos olhos, segurando a mão dele.
“Eu preciso te lembrar que foi você quem quis assim, ? Que foi você quem se afastou?” Lamentou, se desvencilhando dela. “Você foi embora, quando tudo que você tinha que fazer era ficar! Nem esse amor de que você falando, nem o fato de a gente ter tido uma filha, fizeram você ficar... e agora é tarde demais.”
O silêncio, então, voltou a reinar. secou o rosto com as costas de uma das mãos, levantou do sofá e pegou a bolsa, que estava na mesa de centro. Caminhou em direção à saída, sendo acompanhada pelo dono da casa que, educado como sempre, levantou-se para abrir a porta, desejando boa noite à garota.
Pela firmeza com que falara, concluíra que provavelmente tinha conseguido destruir, com suas atitudes impensadas, todo o amor que ele sentira por ela, um dia. Não havia por que insistir e chateá-lo ainda mais, quando ele estava sendo realmente legal e deixando que ela passasse tanto tempo com Trish. Ela, afinal, não conseguiria mais do que uma visita semanal, pelos meios formais, pois seria considerada, pela maioria esmagadora dos juízes, uma mãe negligente, enquanto era um pai exemplar.
Ele ficou aliviado que tivesse tomado a iniciativa de ir embora, mas seu alívio só durou até o momento em que ele fechou a porta e se virou na direção do corredor, vendo Trish encostada à parede. Ela o encarou com um olhar acusador, antes de correr para o quarto da avó, no final do corredor, e trancar a porta, e ele soube imediatamente que seus problemas ainda estavam apenas começando.

Here you are now, calling me up
But I don’t know what to say
I’ve been picking up the pieces
Of the mess you made


já tinha telefonado várias vezes para o trabalho e para a casa de , mas ele não atendeu nenhuma das ligações. Não sabia o que dizer a ela sobre o fato de Trish não querer vê-la, quando ele mesmo tinha demorado quase uma semana para conseguir que a filha o escutasse, e mais uma completa para fazer com que ela o perdoasse por mentir. tinha feito um estrago na vida dele, anos antes, ao ir embora, e bagunçado tudo de novo, ao aparecer e achar que poderiam recomeçar. Agora, era ele quem tinha que juntar os pedaços, colocar tudo no lugar, fazer a filha confiar nele de novo e, no meio desse processo, ajudar , para que ela também tivesse a chance de se explicar, não era algo que ele quisesse fazer.
Quem acabou advogando a causa de foram Norma e Maureen. Elas tinham sofrido junto com , ao perceberem que a mãe de Trish tinha ido embora e deixado a menina com ele, mas também tinham presenciado todo o sofrimento da própria , no passado, e não achavam justo que ela tivesse pena perpétua por seus erros, não podendo ver a filha nunca mais. A própria Trish, além disso, precisava de uma mãe, e nem a tia, nem a avó, seriam capazes de ocupar o lugar da mulher que a tinha colocado no mundo.
“Você gosta da tia Maureen, não gosta, Triss?” Indagou a Srta. , sentando-se no chão do quarto da sobrinha, que montava um quebra-cabeças.
“É claro que eu gosto, tia. Que pergunta!” Revirou os olhos, afetada.
“Então, você não deveria deixar de gostar da sua mãe pelo que ela fez... já que eu teria feito igualzinho, se estivesse no lugar dela.”
“Eu não quero falar sobre ela, tia. E isso é uma bobagem, tá?” A menina cruzou os braços na frente do corpo. “Você só tá falando isso pra me convencer.”
“A sua tia não pode mesmo afirmar se teria feito igual, já que ela não passou pela mesma coisa.” A avó se juntou às duas, encaixando uma das peças que ainda estava solta na parte já montada do jogo.”Mas qualquer pessoa também não pode afirmar que não teria feito igual, sem ter passado pela experiência, e é por isso que a gente não acha certo você ficar com raiva da e nem escutar o que ela tem a dizer.”
“Nada que ela diga vai me fazer achar certo ela ter me deixado, pequenininha.”
“O que o seu pai fez, dizendo que a sua mãe tinha morrido e não querendo que você conhecesse ela nem por fotografia, também não foi certo, mas a gente não brigou com ele, e até mentiu junto, por achar que era melhor pra você não saber a verdade.” A avó argumentou. “E você aceitou conversar com ele, acreditou que ele estava arrependido, e perdoou, porque sabe que às vezes a gente comete erros, tentando acertar.”
“Mas ela não tentou acertar!”
“Sim, ela tentou, Triss. Ela deixou você com as pessoas que ela achou que cuidariam melhor de você.” A tia afirmou.
“Ela podia ter ficado aqui e cuidado de mim, junto com vocês!”
“Sim, ela podia, mas a situação dela era bem difícil. Ela tinha só quinze anos, quando ficou grávida, e praticamente todo mundo virou as costas pra ela, inclusive os pais, que a fizeram sair de casa com a roupa do corpo.” Norma continuou suas ponderações.
“Ela usou roupas minhas por mais de uma semana, porque nem sair pra comprar coisas novas ela queria!” Maureen lembrou.
“Ela só chorava, dormia e comia. E, mesmo assim, comia só pra você não ficar fraca.”
“O meu pai também tinha dezesseis, quando eu nasci, e não fugiu!” Trish mostrou, mais uma vez, não estar com vontade de fazer qualquer esforço entender a mãe, sem saber que a avó e a tia eram ainda mais teimosas que ela, e não desistiriam sem, pelo menos, dizer tudo o que ela precisava saber.
“O seu pai tinha a idade da sua mãe, mas ele tinha a mim e ao seu avô.” Observou, referindo-se ao marido, que tinha falecido havia mais ou menos dois anos. “Nós puxamos a orelha dele, mas depois demos todo o apoio de que ele precisava! E seu pai é homem, Trish. Ele não foi julgado por ter transado antes do casamento, como a sua mãe, porque era isso mesmo que se esperava dele. Ele não foi pressionado pelas fofocas dos colegas, até largar a escola, como aconteceu com ela.”
“Na verdade, ele fez várias viagens, pra participar de todos os jogos da temporada de futebol americano, enquanto a sua mãe sofria, praticamente trancada em casa, com enjoos e um cansaço constante. Ele ganhou o prêmio de jogador do ano, enquanto ela ganhava apelidos horríveis. Ele foi escolhido o rei do baile naquele ano e dançou com uma magricela que os pseudo amigos ficavam empurrando pra ele. A vida dele continuou praticamente normal!” Maureen falou, irritada com o peso que o mundo machista tinha jogado sobre os ombros de , e que, no final, ela não tinha conseguido suportar.
“Mas o mais importante foi que a sua mãe voltou, arrependida de ter ido embora, e querendo ficar perto de você, cuidar de você.” Norma continuou, mais serena que a filha. “Ela provou que ama muito você, te dando a vida de novo, e não pedindo absolutamente nada em troca. Nem falar com você ela ia, até eu me intrometer onde não tinha sido chamada.” Riu.
Trish sorriu com a brincadeira da avó, mas seu olhar continuava triste. Ela baixou os olhos, voltando sua atenção plenamente para o quebra-cabeças outra vez, e falou baixo, como se tivesse medo de ser ouvida e depois se arrepender de ter dito qualquer coisa.
“A minha mãe pode vir ao meu aniversário, sábado, se ela quiser.”

“Você pode pegar aquela verde ali?” Trish pediu a , apontando para o alto, na direção de uma caixa de papelão, que estava sobre o armário onde guardava as roupas dele. Era estranho para estar no quarto do rapaz, depois de tantos anos, mas, tendo sido chamada para ir até lá pela filha, e não tendo ouvido o dono do quarto apresentar nenhuma oposição, soube que havia algo importante esperando por ela no cômodo.
“É claro!” A mulher mais velha ficou na ponta dos pés e puxou com cuidado o objeto indicado, para entregá-lo à filha, que sentou-se na ponta da cama do pai, colocando o mesmo sobre o colo.
“Senta aqui.” A baixinha pediu, batendo no lugar a seu lado, e ela atendeu prontamente, vendo a caixa se abrir e, de dentro dela, sair um álbum de fotos que ela conhecia bem. “O meu pai me mostrou esse álbum, essa semana, depois que eu disse que a vovó e a tia Maureen tinham me convencido a ver você de novo, e eu tinha falado pra elas te chamarem pro meu bolinho. Ele foi me mostrando as fotos e me contando as histórias de vocês dois, e eu disse que queria mostrar pra você... e saber o que você lembrava delas.” Sugeriu.
“Seria ótimo, Triss!” Sorriu, olhando para a primeira página e apontando uma das imagens. “Essa aqui, por exemplo, eu me lembro que foi tirada em uma viagem. Meus pais nunca me deixavam ficar sozinha com seu pai, mas não se importaram que a gente fosse pra montanha juntos, porque nós fomos com os pais de uma menina da minha sala que eles achavam uma santa.”
“E essa?”
“Seu pai tinha ganhado o campeonato de 78, e, na véspera da final, eu tinha prometido que sairia com ele, se eles ganhassem o jogo.” Sorriu, perdida nas próprias lembranças. “Ele me levou pra jantar num restaurante chique, e tinha um cara lá, tirando fotos pra vender. O fez questão de pagar por essa foto, dizendo que a gente um dia se casaria e gostaria de ter uma lembrança do nosso primeiro encontro.”
“Ele me disse que eu já tinha visto essas fotos, alguns anos atrás, por um descuido dele.” Comentou a pequena. “Acho que foi por isso que eu te achei familiar, quando você foi lá no hospital.”
“É verdade.” Concordou. “Nessa aqui, você já tava dentro da minha barriga.”
“O meu pai comentou.” Respondeu, desconfortável. Ainda não estava acostumada com a nova realidade, mesmo que já não estivesse mais com raiva. “?”
“Hum?”
“Eu ainda acho estranho ter uma mãe. Me desculpa.”
tudo bem, filha.”
“Mas eu gostava muito de você, antes, e talvez eu possa voltar a gostar.” Deu de ombros. “Você pode voltar a me visitar, se quiser.”
“Eu adoraria!” Assegurou. “E a gente pode ver essas fotos com calma, falando de uma por uma, junto com outras que eu trouxe de Nova York e quero te mostrar. Hoje, eu já roubei você demais dos seus convidados, hum?”

As visitas recomeçaram, primeiro bem espaçadas, tímidas, e depois mais frequentes, como costumavam ser. Trish voltou a gostar de estar perto de , mas só relaxou a ponto de gargalhar pra valer com uma das brincadeiras da mãe, algumas semanas depois do aniversário, só deu um abraço nela meses depois e só a chamou de mãe pela primeira vez quando as duas já estavam às voltas com os preparativos da festa de onze anos da menina.
Seria no novo apartamento de , que tinha recebido uma promoção para gerente do banco e aproveitado para, finalmente, ter o seu próprio lar com a filha, que, por sua vez, estava bem de saúde e já não precisava dos muitos cuidados diários que tinham justificado a longa permanência dele na casa da mãe.
O ex-casal também estava convivendo bastante, já que os encontros de mãe e filha passaram a ser à noite e nos finais de semana, quando arrumou um emprego na secretaria de uma escola primária. Trish observou o jeito como eles se olhavam, percebeu que eles completavam as frases um do outro sem notar, viu a mãe ficar triste quando soube que tinha um encontro marcado com uma colega de trabalho e aliviada ao saber que ele não tinha chamado a moça para sair uma segunda vez, ouviu o pai chamar algumas vezes por , depois de pegar no sono no sofá.
A menina já tinha escolhido alguns presentes, como um vestido para usar na festa, um tênis que combinava perfeitamente com o uniforme da escola e um patins. No entanto, nada seria tão especial quanto ver os pais felizes como ela mesma estava, e a garota tinha certeza de que isso só seria possível se eles voltassem a ser um casal.
“Você precisa me ajudar, tia!” Falou, durante uma visita à casa da avó, decidida a recorrer a um plano mirabolante.
“Com que?” Maureen questionou, tomando um gole do suco que tinha preparado para as duas.
“Eu tenho que juntar meus pais, mas eu já tentei largar os dois juntos, várias vezes, e não deu em nada!”
“Meu amor! O lance ali é muito complicado!” Torceu o nariz.
“Mas eu tenho certeza que, se eles forem juntos a um lugar romântico e especial pra eles, vai dar certo!”
“E como a gente faria os dois se encontrarem num lugar romântico?” Perguntou, cética.
“Fazendo um acreditar que foi convidado pelo outro!” Respondeu, sentindo-se a menina mais esperta do mundo, mas acabou decepcionada quando a tia começou a apontar os furos da armadilha.
Trish queria deixar um bilhete para cada um, mas e conheciam as letras um do outro e, mesmo que não se lembrassem, certamente ele reconheceria a da irmã. Norma tinha uma máquina de escrever, mas bilhetes sem assinatura levantariam suspeitas.
“Não custa tentar!” A menina insistiu. “Você, por acaso, tem alguma ideia melhor?” Inquiriu, com as mãos na cintura, petulante.
A tia normalmente chamaria sua atenção pelo comportamento, mas achou bonito ver o empenho da baixinha em lutar para fazer dela e de seus pais uma família de verdade. Só podia esperar que eles também reconhecessem o esforço dela, aparecessem no restaurante ao qual tinham ido em seu primeiro encontro, na adolescência, e que o Universo fizesse alguma mágica.

People like you always want back
The love they pushed aside
People like me are gone forever
When you say goodbye



O fato de Trish ter tentado enganar os dois e não ter conseguido foi o primeiro assunto da noite e arrancou dos dois algumas gargalhadas. O mais engraçado, na opinião de ambos, era pensar que Maureen tivesse achado que o plano daria certo! Uma menina de dez anos não visualiza certos detalhes, mas uma garota de vinte e um ter achado que nenhum dos dois desconfiaria de bilhetes batidos à máquina e sem assinatura parecia mais uma piada que qualquer outra coisa.
“Na verdade, eu acho que ela sabia, sim, que a gente ia perceber.” comentou, tomando um gole do vinho branco que tinham pedido ao chegar ao restaurante. “Só que ela também sabia que a gente viria, pra não chatear a Triss.”
“Você tem razão.” concordou, bebendo um pouco de sua taça também. “Na verdade, provavelmente, se eu tivesse achado que era mesmo você quem estava me convidando, e não percebido que isso era coisa da Trish, eu não teria vindo. E a Maureen deve ter imaginado isso.”
“Eu adoro como você não faz questão nenhuma de esconder que quer ficar tão longe de mim quanto de uma praga!” Ela retorquiu, irônica.
“Me desculpa, . Minha intenção não foi fazer você pensar isso. Eu acho que a gente tem conseguido conviver numa boa... e eu quero muito que a gente consiga, pela Trish. Eu só... o que eu quis dizer foi que não vejo sentido em termos um encontro romântico. A gente já teve a nossa chance.”
“Você já escolheu?” Perguntou sobre a comida, mudando de assunto, para tentar acabar com a tensão que se instalara. Ela não tinha ido apenas para não magoar a filha, mas sabia que tinha que ser sutil se quisesse fazer algum avanço com ele, naquela noite. Dizer com todas as letras que via sentido, sim, em ter um encontro romântico com o homem que amava não seria, por certo, uma boa estratégia.
O modo como ela conduziu as coisas, falando bastante da filha e de assuntos sem grande importância, e depois passando a falar de si mesma e a perguntar sobre a vida dele nos últimos anos, quando ele já estava relaxado pelo vinho, foi realmente uma aposta melhor. No meio do jantar, os dois já estavam rindo e brincando um com o outro, como quando eram adolescentes. Os sorrisos dele pra ela foram se tornando maliciosos e ele não se lembrou de ficar na defensiva quando ela sugeriu uma esticadinha em um bar próximo à antiga escola dos dois, que eles sempre tinham comentado que queriam conhecer, mas, na época, não podiam frequentar, em razão da idade.
“Sabia que o Paul ficava lá na frente do bar, quase todo sábado à noite, na esperança de pegar alguma garota mais velha?” lembrou do velho amigo, que gostava de ter uma certa fama, mas, no fundo, só tinha ficado mesmo com três garotas durante todo o ensino médio, e ainda namorava uma delas.
“Claro que eu sabia! Uma vez nós nos encontramos aqui na porta.”
“Certamente, você tinha vindo atrás daquele idiota.” Ele se mostrou enciumado, ao se referir a Bart, um garoto mais velho que vivia naquele bar, junto com alguns amigos. tinha uma paixonite por ele, antes de namorar , e ficava tentando encontrá-lo nos lugares, como se fosse por acaso, mesmo ele jamais tendo dirigido sequer a palavra a ela.
“Se alguém visse você falando, hoje em dia, que não vê sentido em ter um encontro romântico comigo, com tanta convicção quanto você falou lá no restaurante, não poderia nem imaginar tudo que você fez pra sair comigo, há alguns anos atrás, ?” Ela disse, dando um sorriso sapeca e mordendo o lábio inferior.
“Eu era absolutamente louco por você.” Concordou. “Mas eu era um irresponsável também, que só pensou no quanto te queria e engravidou você. E, por mais que eu ame a Triss e que olhar pra ela, todos os dias, me faça ter certeza de que eu não queria que isso fosse diferente, a verdade é que eu te perdi por causa da minha irresponsabilidade! Se você não tivesse ficado grávida...”
, não!” Ela tocou os lábios dele com o polegar, indicando que não queria que ele continuasse. “Eu tive medo e fui egoísta. Eu fui embora por isso! Eu mudaria a parte em que eu fui embora, mas só isso. Eu não mudaria nada do resto, mesmo se eu pudesse.”
“Eu ainda sou louco por você, .” Falou, de supetão. “Eu não queria ter um encontro com você, porque ficar perto de você me deixa confuso! Porque eu ainda sou louco por você, mas eu não posso mais ser irresponsável e me deixar levar por esse sentimento. Porque eu tenho só vinte e seis anos, mas eu sou um chefe de família, e não posso ser como os outros caras de vinte e seis. Porque eu tenho que pensar na minha filha, antes de pensar em mim mesmo e...”
Ele disse tudo isso, enfático, mas também nervoso, e o seu corpo traía suas palavras, se aproximando do dela, na medida em que discursava, tentando convencer não somente a ele, mas a si mesmo. De fato, estar tão perto, sozinho com ela, visitando memórias, tornava difícil ser racional. E talvez ele até tivesse se afastado, ao perceber o quão perto chegara dela, se não tivesse tomado a iniciativa e colado seus lábios aos dele, em um beijo sôfrego.
achava que pessoas como ele não deveriam perdoar pessoas como , capazes de dar as costas ao amor e depois querê-lo de volta, mas isto era só o que a parte orgulhosa dele dizia. Esta parte super cerebral estava em luta contra a força de algo que habitava seu coração e, naquela noite, a batalha estava perdida.

(Stay) Hey, all you had to do was
Stay, had me in the palm of your hand
Then why'd you have to go
And lock me out, when I let you in

(Stay) Hey, now you see you want it
Back, now that it's just too late
Well, it could've been easy
All you had to do was stay


e ficaram um tempo trocando beijos e carinhos no bar, como se fossem dois adolescentes de novo. Não houve qualquer conversa sobre o que aconteceria ou deixaria de acontecer depois, e muito menos juras de amor da parte de nenhum dos dois, e eles apenas se entregaram aos sentimentos reprimidos por tanto tempo. Quando sugeriu que ele a levasse para o apartamento em que morava com a filha, ele não quis pensar sobre se fazer aquilo era ou não a coisa certa. Ele tinha agido do jeito certo por tempo demais, inclusive enquanto todos os seus amigos se permitiam fazer as burradas comuns à maioria dos jovens, e já estava cansado de se cobrar tanta atitude madura, quando não tinha chegado nem aos vinte e cinco!
Eles adentraram o imóvel tentando não fazer barulho, para não acordar Trish e Maureen, que tinha ficado com a menina. Não conseguiram, contudo, ir até o quarto separados, e tiveram que tomar muito cuidado para não acabar largando nenhuma peça de roupa pelo caminho, mesmo que, ao entrarem no cômodo, já tivessem se livrado dos casacos e sapatos, que ficaram jogados perto da porta do mesmo. Tudo foi muito rápido, na ânsia em que estavam ambos para compensar uma longa espera de quase dez anos. Ainda assim, não faltou intensidade e nem a certeza de que o que estavam fazendo não era somente sexo, porque, quando se tratava deles, nunca seria apenas isso.
dormiu pesado naquela noite. Dormiu bem como não dormia havia meses! Acordou, no entanto, sem ninguém na cama junto com ele, e foi imediata a desagradável sensação de déjà vu. Não demorou muito tempo para que ele escutasse barulho na cozinha, fosse até lá e encontrasse , vestida com a camisa que ele usara na noite anterior e fazendo panquecas que tinham um cheiro delicioso, mas a sensação de que ele estava fadado a ser deixado por ela o seguiu e não queria ir embora.
Mesmo o sorriso dela, a voz animada, o modo como ela mexia nas coisas, sentindo-se em casa, não afastavam o pensamento sombrio de que aquilo não podia durar. não conseguia vê-la senão como aquela garota que anos antes ele não encontrara em nenhum canto da casa, que não voltara algumas horas depois, e nem mesmo dias ou meses. Ele era capaz de perdoar e entender as razões dela, era grato por ela ter dado vida à Trish duas vezes, e não podia negar que amava. Contudo, ele não sabia como confiar nela e acreditar em um futuro no qual viveriam como família.
“Depois que a gente tomar café, é melhor você ir.” Comentou, de repente, interrompendo algo que ela dizia, sem ter prestado atenção alguma por vários minutos. Era domingo e ele sabia que, se nada dissesse, ela ficaria o dia todo. Tinha plena consciência de que ela provavelmente achava que eles estavam (re)começando um relacionamento e queria deixar claro que não era o caso.
“Ir?” Ela indagou, com o semblante entregando todo o seu desapontamento. “Mas eu pensei que...”
“...a gente tinha se entendido, eu sei.” Ele terminou a frase por ela. “E eu também pensei que talvez a gente pudesse. Ontem à noite, em vários momentos, eu pensei que sim, porque eu queria muito que a gente pudesse. Queria mesmo, só que, agora, olhando pra você, aqui, na cozinha, fazendo o café da manhã...” Ele esfregou o rosto com as duas mãos e bufou, parecendo exausto, apesar do melhor período de descanso em eras! “Eu e a Trish não podemos nos acostumar com você aqui, pra depois você ir embora, . Dar uma chance pra você ficar é dar também uma chance pra você deixar a gente, mais uma vez! Eu não quero passar por aquilo de novo e, acima de tudo, eu não quero que a Triss passe pelo que eu passei.”
“Eu amo vocês, . Eu vim pra cá, deixei meu emprego, meus amigos, eu doei literalmente um pedaço de mim, porque a Trish é a coisa mais importante do
mundo pra mim! O que mais eu preciso fazer pra te convencer de que eu amo vocês dois?
“Eu não sei, .” Foi sincero. “Eu só sei que eu não consigo não achar que eu e a Trish ficamos melhor sendo um a família do outro e ponto final.”
“Ok.” Ela respondeu, terminando de passar geleia em uma das panquecas, em silêncio. Respirou fundo, para não esboçar nenhuma reação às palavras dele, por mais duras que tivessem sido. “Eu vou trocar de roupa e vou embora agora, então, ... e você nem precisa dizer pra Triss que eu dormi aqui. Eu prefiro que ela não nos veja nesse clima ruim, depois de tudo que ela fez pra gente se entender.”
Nada mais foi dito, antes que ela deixasse a cozinha e, depois, o apartamento. Trish comeu panquecas, achando que elas tinham sido um mimo de uma vizinha, e que a mãe não tinha dormido lá, mas que o encontro entre os pais tinha sido um sucesso. Quando ela perguntou, ele não negou, afinal o encontro em si tinha sido mesmo. Ele não estava indo contra aquilo que lhe ensinava e contando nenhuma mentira!

People like you always want back
The love they gave away
And people like me wanna believe you
When you say you've changed


Stay...


Trish não desconfiara de nada pela manhã, mas quando perguntou por na hora do jantar e o pai respondeu que ela não os visitaria naquela noite, algo disse à garota que o plano que ela e sua tia Maureen tinham arquitetado não havia dado certo, afinal.
“Vocês não se entenderam, né?” Perguntou cabisbaixa, apenas movimentando a comida dentro do prato. Tinha perdido completamente a fome!
“Não, filha. Eu sei que você queria muito, mas eu e a sua mãe... a nossa história acabou há muito tempo.”
“Mas ela veio pra cá ontem! Vocês foram pro seu quarto, que eu vi!” Disse, cruzando os braços em frente ao peito. “Vocês até se beijaram!”
“Isso não é assunto pra criança, Triss.” Repreendeu, mesmo não estando surpreso que ela tivesse espiado os dois no corredor, da porta do quarto dela, já que queria e tinha esperanças de vê-los juntos, e eles não tinham sido propriamente discretos.
“É assunto pra mim, sim, pai. Ela é minha mãe, eu sei que vocês se amam e eu não entendo por que eu consegui perdoar e você não consegue!”
Trish não deixou o pai fugir do assunto e parecia uma adulta dando conselhos a ele. Provavelmente porque, durante grande parte da conversa, repetiu as coisas que sua tia e sua avó tinham-lhe dito, quando era ela mesma quem não queria aceitar a mãe por perto. Talvez a questão não fosse perdoar, mas assumir riscos, e entender que riscos existem sempre, em qualquer relação, e não eram maiores nesse caso do que em qualquer outro, porque não era mais aquela pessoa que tinha escolhido fugir de tudo.
“Ela foi embora porque tinha medo e ela não tem mais medo! É só você quem com medo agora.” Observou corretamente Trish, mesmo tendo apenas dez anos de idade. Foi assim que ela convenceu o pai a sair com ela, deixando a louça do jantar ainda sobre a mesa, e ir buscar a mãe para comer uma sobremesa com eles em algum lugar. Depois, o plano era levá-la até o apartamento, para colocarem juntos a filha na cama, e então tentar reverter o estrago que provavelmente tinha feito, na hora do café.
O problema é que na casa de Lola eles encontraram apenas a avó da garota de origem latina, que falava pouquíssimo inglês e conseguiu dizer apenas que tinha ido para o aeroporto, a fim de pegar um voo, cujo horário ela não soube informar, com destino a Manhattan. saiu da casa de lá chateado consigo mesmo, por não ter dado uma chance a naquela manhã, mas também decepcionado e irritado, pois ela nada lutara por ele e pela filha, partindo, mais uma vez, logo que ele criara o primeiro obstáculo a um entendimento entre os dois. Pensou em simplesmente ir embora para casa, mas Trish insistiu que eles fossem até o aeroporto.
“Você mandou ela embora, pai! O que você queria?” Perguntou a menina, contrariada, quando o pai confessou a ela o que estava pensando sobre a ida tão imediata de para Nova York. “Você mesmo me disse que falou pra ela que as nossas vidas seriam melhores sem ela aqui, e ela deve ter se convencido.” Completou e ele apenas assentiu, porque, pelo que dissera antes de deixar o apartamento dele, era bem provável que a pequena estivesse certa em suas especulações.
Não havia muito trânsito que pudesse impedi-los de ir aonde Trish queria, então pouco tempo depois eles já estavam no saguão do aeroporto, não demorando a ver perto de um terminal de auto check in, apenas com uma bolsa no ombro e o bilhete aéreo na mão.
“Mãe!” A menina chamou, correndo na direção dela, que se virou, reconhecendo a voz da filha.
“Meu amor!” A mulher mais velha mostrou toda a sua surpresa, mas não hesitou em agachar-se, abrindo os braços para aquela que parecia uma miniatura sua. “Como você soube que eu estaria aqui?” Perguntou, ainda abraçada a ela.
“Eu pedi pro papai ir comigo na casa da tia Lola e a vovó dela falou.” Esclareceu.
“À casa da tia Lola, Triss.” O pai corrigiu, enquanto a mãe não tinha sequer prestado atenção ao erro, preocupada com o que poderia tê-los levado à casa de sua amiga.
“A-aconteceu alguma coisa?” Indagou, olhando bem a filha, que negou, balançando a cabeça. “Graças a Deus!” Disse, colocando a mão no peito. “Se é assim, eu... com certeza não esperava, mas que bom que você veio se despedir! Eu já estava mesmo com saudades antecipadas.” Riu, apertando uma das bochechas de Trish. “Obrigada por trazê-la, .” Disse, levantando-se, mas sem encarar o rapaz.
“Ela não veio se despedir.” Ele disse, sério. “A gente veio pedir pra você ficar, .”
“Pra eu fi-...” Começou a questionar, confusa. “Eu não to indo embora! Eu só to indo buscar algumas coisas e providenciar o envio de outras pra cá, porque eu recebi um telefonema da Brittany, dizendo que arrumou mais uma pessoa pra dividir aquele ovo de apartamento com ela! A garota quer se mudar, o quanto antes, e as coisas que eu não tinha conseguido trazer ainda estão atrapalhando.” Explicou. “Eu falei sério quando disse que não ia mais sair de perto da minha filha, .”
“Eu te disse, pai, que ela não tem mais medo!” Falou, toda sorridente, a baixinha, colocando as mãos na cintura, e fazendo os dois adultos rirem do seu jeito.
‘Eu... contei a ela sobre a nossa conversa, hoje de manhã.” Ele sentiu necessidade de explicar, mesmo causando com isso um certo constrangimento, que levou ao silêncio, por alguns segundos, até que ela resolvesse que, se a filha estava sabendo de tudo, não precisava deixar de falar o que estava sentindo.
“Você pode não querer me dar outra chance, ... pode não me querer na sua vida e, se for assim, eu vou ter que aceitar.” Respirou fundo, encontrando a força que um dia lhe faltara, mas que, finalmente, ela havia encontrado dentro de si. “Só que isso vai ser uma escolha sua, porque eu não vou a lugar nenhum. Dessa vez eu vou ficar, do jeitinho que eu tinha que ter feito antes.” Completou, determinada.
“Eu tava com medo, .” Ele disse, se aproximando dela. “Tava com medo porque eu quero você na minha vida, só que... eu só quero se for pra sempre!” Afirmou, colocando um dos joelhos no chão e segurando a mão esquerda dela, que arregalou os olhos, em choque, enquanto Trish pulava e gritava, como se estivesse em uma torcida, chamando ainda mais a atenção de quem passava e via a cena envolvendo o casal. “Eu não tenho uma aliança para te dar ainda, mas eu quero saber, agora mesmo, se você, dessa vez, vai aceitar se casar comigo, .”
“Eu acho que você precisa se preparar melhor, quando quiser protagonizar uma cena épica de comédia romântica, impedindo a mocinha de ir embora e fazendo um pedido de casamento, no meio de um aeroporto lotado, .” Ela riu, mais de nervoso do que da própria brincadeira. “Mas se até aquela personagem da Reese Witherspoon rejeitou o carinha que fechou a Tiffany, só para ela escolher um anel de noivado, e ficou com o outro cara, porque ele, sim, era o amor da vida dela, é claro que não vai ser a falta de uma aliança boba que vai me impedir de dizer que eu vou ser a mulher mais feliz do mundo me casando com você!” Disse, se jogando nos braços dele e quase o fazendo cair, enquanto alguns passantes se juntavam em volta dos dois, e batiam palmas.
perdeu o dinheiro da passagem de avião que tinha comprado para aquela noite, mas ganhou a companhia do noivo e da filha, em sua visita à Big Apple, dois dias depois.
E, mais do que isso, ganhou da vida uma nova chance de saber como podia ser gratificante ficar.


FIM



Nota da autora: Muito obrigada por ler!! Se tiver gostado, comente, ok? Ter retorno dos leitores significa muito pra mim!! De coração!!



Outras Fanfics:
De ficstapes:

03. The guy who turned her down (Memory Lane)
03. Earned it (50 shades of Grey)
05. All You Had To Do Was Stay (1989)
05. Up all night (Up all night)
06. All I have to give (Backstreet boys)
07. Night changes (Four)
07. In your pocket (V)
09. Fire Starter (Demi)
10. Better than revenge (Speak now)
11. This Moment (Prism)
12. I want to write you a song (Made In The A.M.)
14. Blue (Beyoncé)
15. Starlight (Red)
15. Do it (For You)

Outras shorts:

A bruxa tá solta, Insane Mardi Gras e Easter Game (em continuidade)
Corações em pedaços
Fly me to the moon e Moonlight Serenade (continuação)
Nem tudo é relativo
Provocadora gratidão
Season of love

Longas (e médias capituladas):

A Chave Para O Coração e Momentos chave de nossas vidas (continuação)
Dos Tons Pastel Ao Vermelho
Herança De Grego
No teu corpo
Quando nossos corpos falam
Segura, peão
Um (nada) santo remédio e O que não tem remédio (continuação)



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