Capítulo Único
Harry Styles abriu a porta da varanda do quarto e debruçou-se sobre a sacada de vidro respirando profundamente o ar salgado de Los Angeles, cansado de se sentir incapaz de escrever uma composição graças ao bloqueio criativo.
Fazia pouco mais de cinco anos que, entre idas e vindas, L.A tinha se tornado seu abrigo e, naquele tempo, tinha aprendido a gostar do sol e do mar, tinha aprendido a desfrutar de Fish and Fries e a ouvir pop psicodélico. Há algum tempo já não era mais o garoto simples vindo do vilarejo campestre de Holmes Chapel e até mesmo seu sotaque britânico era mesclado de novas gírias e vícios de linguagem local. Los Angeles tinha aberto tantas portas, tinha o modificado tanto por dentro, sido seu porto nos momentos mais intensos - tanto felizes quanto tristes - e, no entanto, respirando profundamente aquela brisa salgada e contemplando o céu limpo e estrelado de uma noite quente demais para ser considerada de inverno, Harry não soube dizer se amava ou odiava a cidade.
Os sentimentos que ela lhe causava eram tão conflitantes…
Suas divagações foram interrompidas por uma notificação no celular e quase sorriu ao receber a ligação de .
- E então? - Harry perguntou com um sorriso preguiçoso se alastrando por seu rosto, desejando ser capaz de ver o sentimento nos olhos da mulher.
- “I’d walk through fire for you, just let me adore you…” - leu uma frase e Harry mordeu o lábio inferior com ar de riso. - “You don’t have to say you love me, you don’t have to say nothing, you don’t have to say you’re mine…”
- A minha linguagem do amor é a servidão, eu sei. - Harry brincou e fechou os olhos ao ouvir a gostosa gargalhada de do outro lado da linha.
- É linda, Harry. Eu me sinto lisonjeada que seja sobre mim. - disse e havia sinceridade em seu timbre, mesmo tão distante.
- Estamos pensando em fazer dessa música o lead single do álbum, então talvez você devesse se sentir muito lisonjeada. - Harry brincou.
- Devo me preparar para me tornar uma pessoa pública? Devo me preparar para receber mais hates do seu público ou sem chances de alguém ligar isso até mim? - perguntou, mas pelo tom de voz amistoso Harry soube que ela estava brincando.
- Sempre tem chance de alguém acertar, mas não é como se eu fosse confirmar que boa parte do meu álbum é sobre você… - Harry deu de ombros mesmo que ela não pudesse ver e, só então deu-se conta de algo - Bom, na verdade todas as músicas que foram escritas até agora basicamente foram sobre você.
Alexa riu novamente e aquele riso trouxe diversas memórias.
Se apaixonar por foi como viver um sonho de verão. Iluminados pelo sol de Santa Mônica, tendo o polêmico bar Barabash como o point central e testemunha. O perfume frutado com notas de morango tinha sido seu cheiro favorito por todas as noites que se perdia nas curvas dela e todas as manhãs que acordava viciado em algo a mais que ela nunca poderia dar. Se apaixonar por foi como viver uma aventura digna dos filmes com recordações em fotos polaroid para guardar pelo resto da vida. A pele bronzeada, dourada pelo sol, os olhos amendoados, a boca vermelha e aquele riso contagiante. Assim como nos sonhos, foi intenso, fugaz e avassalador. E ela, com todos seus mistérios e nuances, assim como num sonho, não teve problema em acordá-lo para a realidade de que eles jamais poderiam passar disso.
Era até interessante pensar em retrospecto porque fazia consideravelmente pouco tempo que tinha se curado de sua obsessão por a ponto de conseguir conversar com ela sem sentir vontade de morrer imerso em seu próprio drama.
- Tem tanto tempo assim que você não escreve nada? Não é possível que o momento atual não te dê nenhuma inspiração.
Harry sorriu minimamente, não o suficiente para atingir seus olhos que estavam tristes. Conforme o assunto ia sutilmente se tornando mais próximo daquilo que não queria falar, seu coração progressivamente ia demonstrando quão rápido podia acelerar.
- Estou com bloqueio criativo.
suspirou.
- Por que eu não acredito nisso?
- É sério, não consigo escrever nada há algum tempo… - Harry confessou odiando seu corpo por ser imaturo o suficiente para começar a demonstrar reações físicas ao assunto. De repente, seu estômago já estava queimando.
- Seu bloqueio criativo por acaso tem um metro e setenta e cinco, cabelos loiros, bochechas redondas, perfume cítrico, uma elegância invejável e uma voz que fala se aarrraasstando de frrrancé? - debochou e Harry sentiu seu peito arder por instantaneamente materializar a pessoa que ela descrevia - Por acaso, seu bloqueio criativo atende pelo nome de ?
Foi a vez de Harry Styles suspirar, mas o ar pareceu ficar preso em seus pulmões graças a angústia.
- Por favor, eu não quero falar sobre isso, . - O rapaz soprou com sua voz angelical ressoando em uma doce súplica.
- Vocês não têm se falado ultimamente, não é?
- Não… Ela não quer conversa comigo. - Harry respondeu amargurado, relembrando a última conversa com a mulher em questão - Dentre diversas outras coisas, disse que não me reconhece mais.
- Duas pessoas geniosas e orgulhosas juntas só podia dar nisso.
- Mas e você, hein? Falando comigo sobre … Isso é tão estranho - Harry quase sorriu da risada de , tão logo sendo invadido por uma vontade de abraçá-la.
- Só porque nós temos uma ex em comum isso seria estranho?
- Ela não é minha ex.
- Sim, porque vocês nem se deram essa oportunidade. Ela gosta de você, você gosta dela, eu ainda não entendo qual o motivo dessa guerra fria.
- Tanta coisa aconteceu, . - Harry passou a mão livre sobre o cabelo, sentindo uma brisa leve esfriar seu rosto.
- Pense por esse lado, eu sei a angústia que você está passando porque sei bem como aquela pessoa consegue ser encantadora a ponto de te fazer sentir dessa forma.
Harry riu fraco.
- Nunca sei de quem sentir ciúmes nessas horas. - Ele respondeu e fechou os olhos risonho ao ouvir a gargalhada de . Como sentia saudade dela.
- Harry, Harry… Certamente não é de mim que você deve ter ciúmes, sou a última pessoa para isso. Eu já desisti de vocês dois… Não... Na verdade, não é comigo que você tem que se preocupar.
As entranhas de Harry se pronunciaram no instante que terminou sua sentença, se revirando loucamente fazendo com que quase sentisse vontade de vomitar de tanto nervoso.
- Por favor, eu não quero saber… - Harry pediu.
- Saiu uma nota dizendo que ele vai pedir ela em casamento.
E então, Harry parou de respirar. Que Chloe estava namorando o engomadinho e perfeito Gaston Bury artista plástico, ele já imaginava. Mas casar? Em tão pouco tempo? Isso era demais para aceitar, parecia demais para sequer acreditar.
- … É claro que pode ser falso, já que é da imprensa que estamos falando… Harry, Harry você tá me ouvindo?
ainda falava, mas Harry já não prestava mais atenção. Desde que se conhecia por gente ou pelo menos que se recordava das memórias a ponto de não duvidar delas, sua vida sempre esteve interligada com a vida de Chloe, desde crianças. E parecia que algo lá no fundo de sua mente mesmo sendo silenciada pelo subconsciente, algo já sabia que um dia eles poderiam acabar juntos… E talvez por essa certeza ser segura nos confins do seu coração, tinha acreditado que toda aquela situação entre eles uma hora ou outra iria se normalizar… Mas casamento já era demais.
Depois de tudo que eles tinham dito e feito um pelo outro, como ela podia?
- Harry?
- Estou aqui, … Desculpe, eu só quero… Acho que preciso ficar chapado hoje para lidar com essa informação seja ela verdadeira ou falsa. - Harry respondeu com a voz rouca.
suspirou.
- De todas as coisas que eu apresentei para você, Harry, a droga não era aquela que eu gostaria que fosse mais presente em sua vida, sabe? - sorriu, embora falasse sério - Você perdeu um pouco o fio do que é diversão e o que é responsabilidade… E principalmente, perdeu o fio do que é momentaneamente afogar as mágoas e depender disso para ser sua muleta… Não queria estar te vendo assim.
- , eu realmente não quero falar sobre a Chloe.
- Tudo bem… Você vai ficar bem?
- Vou, eventualmente vou sim.
Aquela foi uma das poucas vezes que Harry notou desconcertada por alguma coisa. Ela parecia pressentir que algo de ruim viria daquilo.
- Vou deixar você quieto… Se cuide, tá ok?
- Pode deixar… Se cuide também, . Arrase por aí. - Harry desejou sinceramente embora estivesse catatônico demais para esboçar grandes emoções.
- Irei… E ah, Harry?
- Que?
- Obrigada pelas músicas. Foi sincero da minha parte também.
Harry sorriu fino quando desligou o telefone com , mas seu coração ainda estava tomado pela angústia. Se alguém tivesse lhe dito, um ano atrás, quando tudo aquilo começou que seria aquele o destino final, não teria acreditado. Ainda há um ano estava namorando com Camile Rowe, fazendo turnê pelo mundo com seu primeiro disco e contido demais até mesmo para ficar bêbado. Se lhe dissessem que terminaria seu relacionamento com Camile, mas que não haveria uma só música dedicada a ela em seu novo álbum, não acreditaria.
E acreditaria muito menos que seu ano seria regrado de festas que mal teria recordações, já que estaria drogado quase 100% do tempo. Não acreditaria se dissessem que teria experimentado de tudo um pouco e muito menos que seu novo álbum seria um misto do seu envolvimento amoroso com não só uma, como duas mulheres que também se relacionaram entre si. Não acreditaria e teria gargalhado da cara de quem te dissesse que uma dessas mulheres seria , irmã do seu melhor amigo, sua única relação declarada de ódio desde a infância… Realmente, quanta coisa tinha mudado em apenas um ano e Harry jamais poderia prever e sequer acreditar.
Dando as costas para a noite estrelada, Harry saiu da varanda fechando a porta atrás de si, arrastando-se até a cama onde encontraria tudo o que precisava para afogar-se na tristeza que estava sentindo.
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Tudo sobre o MET Gala: Saiba detalhes do badalado evento de moda que terá Harry Styles como anfitrião.
Um dos mais importantes eventos de moda, o MET Gala há anos reúne celebridades e nomes da alta costura em uma noite temática com os looks mais icônicos da estação. Com o conceito de fuga ao tradicional e amor pelo exagero, a edição desse ano terá como anfitrião o novo queridinho da moda Harry Styles, que desde que saiu da boyband inglesa One Direction, vem consolidando um estilo próprio que consiste em quebrar os conceitos de masculinidade apostando em looks extravagantes e chamativos. O conceito que surgiu desde sua parceria com a empresária e estilista deve durar nessa nova era do cantor que se prepara para lançar o segundo álbum. Muito próximo de Alessandro Michele, Styles também já participou de campanhas para Gucci e agora nos deixa na dúvida: quem vai assinar o look icônico do cantor no MET Gala, ou Gucci?
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É oficial! Harry Styles fecha parceria milionária e se torna exclusivo da Gucci
As outras grifes que chorem, mas Harry Styles agora é da Gucci e passa a integrar todas as campanhas da marca em um contrato de exclusividade que especula-se que tenha custado uma fortuna que jamais teremos. O cantor já tinha demonstrado interesse pela casa italiana e sido garoto propaganda de algumas campanhas, além de ter vestido peças nos shows da sua última turnê Live On Tour, mas agora parece que Styles só poderá usar roupas assinadas pela Gucci: o tipo de problema que a gente queria ter! Com isso, o mistério do look MET Gala foi solucionado e sabemos que Alessandro Michele levou a melhor, quem não deve estar muito feliz com isso é a empresária e socialite que faturou milhões em 2018 na parceria com Harry, e que além disso é amiga de infância do cantor e já até foi especulada como possível affair, mas ambos negaram. Amigos, amigos, mas negócios a parte! Mas será? Climão! Tudo o que queremos é ver qual look será escolhido por Styles, mas já podemos afirmar que será um hino!
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“Ex - One Direction, Harry Styles reaparece depois de meses sumido e causa espanto
Desaparecido da mídia desde o final da turnê Live On Tour em julho do ano passado, Harry Styles chamou atenção ao ser flagrado saindo de uma boate luxuosa em Miami. Apesar do ambiente descontraído, a expressão do ex integrante da boyband mais famosa do mundo não estava das melhores, como logo foi notado por suas fãs que já criaram diversas teorias sobre o humor do astro no Twitter. É que Harry assustou as fãs ao aparecer com cabelos bagunçados, olheiras, barba por fazer e a ausência do sorrisinho sempre educado. Parece que a festa não foi muito boa, né? Solteiro até que se prove o contrário desde o término com a modelo Camile Rowe, Harry evitou holofotes sob a justificativa de estar focado na produção de um novo álbum. A julgar pelo estado de espírito dele, é certo afirmar que podemos esperar muitas músicas tristes nessa nova era.”
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Enquanto as manchetes se acumulavam nos jornais voltando a noticiar desenfreadamente o seu nome, Harry Styles mantinha-se alheio aos folhetins e entocava-se no conforto de sua casa de uma maneira que contrastava diretamente com o que se esperava dele: de cabelos desgrenhados, barba pinicando, com remelas nos olhos, uma crosta de saliva grudada na boca suja e usando um pijama velho e maltrapilho assinado por ninguém em especial. Suas fãs que amavam encher a boca para dizer que o conheciam muito bem certamente teriam uma síncope ao ver aquela cena “o Harry que eu conheço deve usar roupas finas até para dormir, ele respira moda”, mas a verdade é que ele estava pouco se importando com a moda… Naquele momento, pelo menos.
Deitado na cama, Harry encarava o teto sem realmente prestar muita atenção no gesso e no lustre que refletia a luz do sol que adentrava timidamente pelas cortinas semi abertas. Uma brisa leve da janela esvoaçava seus cabelos bagunçados, mas Harry não se incomodou em retirá-los do rosto. Estava apático, sentia-se cansado demais até mesmo para levantar e tomar um banho mesmo sabendo que estava há horas mais do que precisando de um.
- É isso, Harry Styles, você PRECISA reagir - A porta do quarto foi aberta sem cerimônias e Harry resmungou assustado quando Jeffrey Azoff adentrou o cômodo com impaciência.
- Me deixe em paz… - Harry respondeu com a voz engrolada.
- Não, não vou deixar em paz, sabe por que? Porque esse quarto FEDE! - Jeff respondeu energicamente abrindo as cortinas com força fazendo com que Harry fechasse os olhos em uma careta com o excesso de claridade. - VOCÊ FEDE!
- Foda-se - Harry resmungou tapando o rosto com a mão.
- Resto de comida em cima da cama - Jeff ia dizendo enquanto retirava uma embalagem com nachos da cama do cantor, colocando direto em um saco de lixo que trazia nas mãos - Garrafa de vinho… E… É sério isso, Harry, de novo? - Jeff apontou para um estojo de metal que estava aberto com resquícios de um pó branco por cima.
Harry não respondeu e Jeff nem tampouco precisava de uma resposta para saber que ele tinha se drogado novamente. Simplesmente recolheu o estojo de metal e o colocou direto na sacola do lixo. Depois de ter recolhido toda a sujeira de cima da cama sem o menor sinal de movimentação por parte de Harry, Jeff deixou a sacola de lixo fechada no chão e foi em direção ao banheiro sem dizer nada. Harry até gostou do silêncio, achou que poderia arriscar um cochilo, mas seu momento foi interrompido quando começou a engasgar com uma quantidade exorbitante de água gelada que era atirada em seu rosto.
- Eu disse… CHEGA! - Jeff gritou ao esvaziar a água do balde na cabeça de Harry - Levanta, AGORA!
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- Satisfeito agora? - Harry ergueu as duas mãos anunciando sua presença do topo, descendo lentamente as escadas sendo observado por Jeff que tinha o celular nas mãos. Com os cabelos molhados, a barba devidamente feita e os dentes escovados, Harry se sentou em uma das poltronas em frente a Jeff, mas nem toda colônia da Gucci do mundo era capaz de camuflar o cheiro de álcool e cigarro que ainda estavam incrustados na alma dele.
- Parcialmente. Coma isso - Jeffrey disse estendendo uma bandeja que estava em cima da mesa de centro e Harry sentou-se no chão beliscando um pedaço minúsculo de uma torrada.
- Estou sem fome.
- Problema seu, você vai comer - Jeffrey respondeu taxativo.
- Sabe, quando eu te contratei, era para ser meu agente musical e não meu padrasto. Dessa forma vão acreditar que o chefe é você e não eu… - Harry comentou num tom amistoso, mas Jeff não sorriu.
- Você está achando que isso aqui é uma brincadeira, é isso? Eu tô com cara de quem tá achando engraçado?
- Jeez, Jeff, calma, pega leve, nem amanheceu direito…
- São três e quarenta da tarde, Harry. Pegar leve? Você teve um porre ontem, você usou de novo…
- Cara foi só um pouco, eu só queria relaxar, eu ando estressado e você sabe disso…
- Quantas desculpas mais você vai dar até perceber que tem um problema real acontecendo Harry?
- Jeffrey, sério, como eu disse, você é meu agente…
- Acorde, Harry Styles! Eu sou a única pessoa que não saiu do seu lado ainda! Onde estão Claire, Sarah, Mitch? Seus amigos de infância já não vêm mais te visitar, Robert, Pierre e …
- Não fale esse nome perto de mim! - Harry se apressou em dizer como se tivesse sido eletrocutado, o coração reagindo imediatamente ao ouvir o nome dela.
Jeffrey respirou fundo e pela primeira vez naquele dia olhou para Harry sem traços de dureza, apenas o encarou com olhos afetuosos e preocupados que somente um amigo verdadeiro poderia ter e foi justamente esse olhar que mais incomodou Harry, que se sentiu um verdadeiro fracasso por estar visivelmente desapontando alguém que amava. Estava virando costume desapontar as pessoas.
- Até quando você vai levar a vida dessa forma? Já tem meses nisso… Você não está bem e isso é visível, mas ao invés de se afundar ainda mais, por que não tenta dar a volta por cima? Focar na produção do seu álbum?
- Estou sem inspiração, Jeffrey. Desde que eu e terminamos não escrevo mais nada.
- Perfeito, aproveite o momento para canalizar suas emoções para a escrita, tenho certeza que ai dentro tem alguma coisa muito forte precisando ir para fora.
- Não tem nada aqui… - Harry mentiu.
- Então por que eu não posso falar o nome de ?
- Eu já disse que eu não quero saber…
- Chloe!
- Pare, Jeffrey!
- Chloe, Chloe, Chloe, CHLOE!
- PARA DROGA QUE INFERNO! - Harry levantou em um rompante fazendo com que a bandeja cheia do café da manhã caísse no chão sujando tudo. Jeffrey permaneceu impassível.
- Você precisa limpar a bagunça que fez, ninguém pode fazer isso por você.
- Como se eu nunca tivesse limpado um chão antes - Harry bufou largando-se na poltrona novamente, olhando com desgosto para o porcelanato preenchido por farelo de torradas e suco.
- Eu estou falando da sujeira aí dentro de você.
Harry se sentiu angustiado pela forma como Jeffrey soltou sua última sentença e imaginou que era exatamente esse o efeito que o amigo esperava obter. Recolhendo o celular e uma mochila, o agente levantou-se do sofá já rumando para a porta de saída sem esperar que Harry o conduzisse por educação.
- Preciso ir, tenho que ajeitar as coisas com a equipe do Marketing, espero que você tenha um bom dia.
Restou apenas o silêncio de sua mansão vazia quando Jeffrey saiu e Harry passou incontáveis minutos pregado no chão sem encontrar motivação o suficiente para começar a limpar a bagunça que tinha feito… No chão e na sua própria vida. Evitava pensar em como tinha se deixado chegar até aquele ponto porque certamente entraria em um looping de autoflagelação sem fim e não tinha muita certeza do que encontraria e nem se teria forças para lidar com tudo que deixou acumular.
Para muitas pessoas, ele era um rapaz educado, gentil, bondoso e com coração generoso. Nunca tinha sido flagrado em episódios comprometedores e nunca teve sua índole vinculada com assuntos polêmicos como a maioria das celebridades da sua idade. Parte disso dava-se pelo fato de ter tido sua vida perfeitamente e milimetricamente gerenciada pela equipe da Modest, responsável por sua carreira nos tempos da finada One Direction, na época de boyband tinha medo de ser o causador de discórdia ou de prejudicar a banda se fosse noticiado fazendo alguma coisa considerada errada como… Usar drogas.
Depois de ter vivido uma vida tão exposta com todos os seus passos flagrados por segundo, Harry aderiu uma áurea de mistério em sua carreira solo. Fazia poucas aparições públicas e somente quando o necessário, concedia poucas entrevistas, selecionava muito bem as campanhas que iria dar a cara e manteve o quanto possível sua vida pessoal e seus relacionamentos fora do radar da mídia. Tinha se acostumado a não entrar em redes sociais e a não procurar pelo que diziam a respeito dele, precisou fazer dessa forma para evitar as inúmeras crises de ansiedade e os sintomas de depressão que começaram a aparecer todas as vezes que se importava demais em ser aceito.
Ser aceito. Ser amado. Era isso o que Harry queria, conseguir agradar a todos, suprir todas as expectativas, não ser o alvo de críticas e nem o responsável por decepcionar a imagem que tinham dele. Sabia que isso não era muito saudável e tinha como o sonho de vida não dar a mínima para a opinião alheia… E talvez por isso tenha acumulado tanta coisa dentro de si explodindo mesmo que internamente cedendo as pressões… E embora a mídia não visse isso, embora suas fãs não fizessem ideia do que realmente estava acontecendo, Harry Styles estava afundando em suas próprias expectativas e arrastando todos a sua volta.
A vítima da vez era .
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“@cherryisreal: Se esse tweet tiver cinco mil likes eu faço uma thread mostrando de uma vez todas as evidências que provam que Cherry é real”
Depois de limpar todo o chão gastando mais tempo do que o necessário na atividade, Harry fez aquilo que só fazia quando estava no ápice do tédio: checou as redes sociais, a começar pelo Twitter. Um em particular lhe chamou atenção já que tinha sido mencionado nele centenas de vezes naquela manhã. Estava acostumado a ver conteúdo de shippers seus com diversos outros artistas, afinal, tinha vivido um verdadeiro inferno com as Larry Shippers que insistiam em dizer que sua relação com Louis Tomlinson, parceiro de banda, tinha sido um romance tórrido e escondido. Estava acostumado, mas não significava dizer que não mexia com seu coração, ainda mais com tudo sendo tão recente se tratando dela.
O tweet de Cherryisreal tinha mais de 30 mil likes e uma continuidade cheia de detalhes que teoricamente provavam seu argumento. Movido pelo bichinho da curiosidade e pelo pouco ou nenhum apreço que tinha a própria sanidade, Harry fez a linha masoquista e clicou nos detalhes para ler mais.
@cherryisreal: Primeiramente, vamos a contextualização para quem não está familiarizada com o ship: é uma estilista e empresária francesa, fundadora e diretora executiva da , grife que ela mesma desenvolveu desde que tinha 14 anos e costurava as próprias roupas. Lenda.
Anexo no twitter estava um vídeo editado de Chloe com vários cortes dela elaborando os desenhos das peças, fazendo prova dos tecidos, cortando, costurando e modelando. Harry sorriu fino ao perceber como sempre admirou o quão concentrada ela era no seu trabalho, desde cedo sabendo exatamente o que queria ser.
@cherryisreal: Chloe e Harry se conhecem desde crianças, Chloe se mudou com a família para Holmes Chapel quando tinha apenas sete anos e é a irmã mais nova de Pierre, que nós já conhecemos muito bem e é melhor amigo de infância do Harry.
Harry raspou com o tênis no cimento quando tentou chutar a bola mais uma vez. Não era muito bom em futebol, mas queria valorizar o presente que tinha ganhado no seu aniversário de nove anos. Seria mais interessante se tivesse amigos para brincar, mas todos eles estavam ocupados demais com outras coisas para ensiná-lo a ser bom numa brincadeira que ele claramente não dava conta.
Sua diversão consistia em chutar e ir buscar a bola completamente sozinho e assim o fez por aproximadamente trinta minutos, até encher o saco e sentar na calçada com as mãos nos joelhos. Não queria deixar a mãe triste sabendo que não tinha muitos amigos e nem também queria brincar com os amigos mais velhos de Gemma, portanto, apenas ficou sentado na calçada esperando o tempo passar até ser aceitável voltar para casa.
Acordou dos seus devaneios quando um carro freou na garagem da casa em frente a sua, uma que estava sem habitantes há mais de um ano. Com curiosidade, Harry ergueu o rosto e viu uma família sair do carro cheia de caixas, conversando alto.
- Eu quero o quarto maior! - Uma menininha de cabelos castanhos saiu em disparada, esganiçada.
- Não! O quarto maior é meu! Você é pequena - Um menino, mais ou menos da idade de Harry, gritou em resposta.
- O maior quarto não é de nenhum dos dois, é do papai e da mamãe - O pai das crianças falou risonho, cessando a discussão.
Harry observou a cena com curiosidade e interesse, já animando-se com a perspectiva de ter novos vizinhos na rua e com crianças para brincar com ele. Quando os pais entraram na casa para desencaixotar, o casal de irmãos começou a brincar no jardim, tudo que o irmão mais velho fazia, a menor imitava com verdadeiro fascínio. Ansioso por ser notado, Harry levantou-se como quem não queria nada e voltou a chutar a bola, seu objetivo era chutar na casa ao lado e “sem querer” ter que ir buscar para apresentar-se aos possíveis novos amiguinhos.
Trocou alguns olhares amistosos com o menino chamado Pierre, que parecia igualmente curioso e interessado em se apresentar e participar da brincadeira, mas sem dizer nada, voltou a chutar despretencioso… Até que um chute em particular foi forte demais.
- AI! AI!
A menininha chamada caiu no chão com a bolada na cabeça e Harry arregalou os olhos, ficando vermelho feito um pimentão.
- Me desculpe! Me desculpe!
- MAMÃE!!!!
- Ei, a minha irmã! - Pierre resmungou e Harry desesperou-se no pedido de desculpas.
- Não foi minha intenção, de verdade, me desculpe, posso te ajudar?
- NÃO! - A menina abriu a boca e desatou-se a chorar em voz alta, deixando Harry triste.
- O que foi? O que houve? - A mãe apareceu na porta de casa preocupada.
- ELE TENTOU ME MATAR! - gritou dramática.
- Foi sem querer, meu nome é Harry, Harry Styles, moro na casa da frente, eu estava só brincando, sem querer chutei a bola e bateu nela e…
- Calma, tudo bem, querido. - A mulher consolou o garoto que parecia a beira do choro. - , ele não fez por mal, tudo bem? Vamos para dentro…
Quando entrou aos prantos com a mãe, Pierre mordeu os cantos da boca, ciscando o chão meio timidamente.
- Me desculpe por sua irmã, eu não tive intenção… - Harry começou novamente.
- Tudo bem - Pierre respondeu, estendendo a mão - Pierre, prazer.
- Harry! - Harry aceitou o cumprimento, aliviado - Vocês tem sotaques estranhos, de onde são? -Perguntou curioso.
- Da França.
- Uau, que legal, eu nunca saí da Inglaterra. - Exclamou com assombro e Pierre riu.
Preocupado que o assunto acabasse e ele voltasse a ser o Menino Que Deu Uma Bolada Em , Harry ofereceu a bola para Pierre:
- Quer brincar?
Parecendo ter sido transportado diretamente para o passado, Harry recordou com nostalgia de como conheceu Pierre e e de como a menina tinha o odiado desde o primeiro dia que pôs os olhos sob ele. Não apenas pela bolada, mas também porque Harry e Pierre tinham se tornado praticamente inseparáveis desde aquele dia e, como uma boa garota ciumenta, se sentiu deixada de lado pelo irmão, criando uma antipatia completamente gratuita por Harry, que até tentava se aproximar, mas sem sucesso. Com o passar dos anos, divertiu-se em provocar a irritação de , ele mesmo passando a achá-la uma menina irritante, mimada e insuportável.
Eram poucas as pessoas que conseguiam tirar Harry Styles do sério, mas era a primeira delas.
O tweet tinha uma foto super antiga de Harry junto com Pierre e Chloe no aniversário de quinze anos do cantor, da época que ele ainda tocava na White Eskimo. Com os cabelos cheios e ondulados, Harry tinha um sorriso enorme no rosto enquanto Chloe fazia uma careta desgostosa, bem característica de alguma palhaçada que Harry provavelmente tinha feito para irritá-la. Aquela foto tinha sido postada por Anne Styles há algum tempo e desde então o fandom começou a especular da relação com Chloe, já que apesar de se conhecerem há séculos, não foram sempre muito amigos… Na verdade, meio que se odiavam e já tinham superado isso… Ou talvez estivessem voltando aquela fase, Harry pensou com tristeza.
Aquela foto trouxe as memórias de forma vívida para aquela época, que embora já fizesse tantos anos, de certa forma ainda parecia que tinha sido o dia anterior…
- Pierre! Que bom que você veio, você já está atrasado, achei que não viesse mais - Harry sorriu abrindo a porta dando passagem para que o melhor amigo adentrasse a casa que já estava preenchida com risadas e zoações.
Assim que Pierre entrou, Harry percebeu a figura hesitante e desconfortável que se escondia atrás do amigo e sorriu mordendo o lábio inferior quando revirou os olhos.
- Por que está sorrindo assim para mim? Pode parar.
Harry gargalhou e quando Chloe fez menção de entrar na casa, barrou a passagem dela fazendo força na porta de modo que deixasse a brecha apenas possível para passagem de sua cabeça.
- Corrija-me se eu estiver errado, mas não foi a senhorita que disse que… como foram as palavras mesmo? - Harry fingiu pensar com deboche - Ah sim, que nem morta viria para minha festa de aniversário?
Chloe revirou os olhos e bufou, remexendo-se mais do que o necessário num tremelique nervoso.
- Pois saiba que se dependesse de mim, nem aqui eu estaria…
- Bom, então você pode dar meia volta e ir para sua casa - Harry respondeu numa provocação risonha - É bom que sobra cheesecake de cereja.
Chloe vacilou em sua expressão por um momento e Harry se deliciou com a imagem da garota incerta entre continuar implicante e baixar a guarda já que cheesecake de cereja era a sobremesa favorita dela.
- Cheesecake de cereja? - Chloe perguntou com a voz um pouco menos arredia.
- Sim, da W Mandeville.
- Você encomendou de propósito só porque eu disse que não vinha? - Chloe exclamou esganiçada e Harry riu perversamente quando ela tentou chutar a porta.
Continuaram naquela implicância por mais algum tempo até que Pierre voltasse para a entrada dando por falta da irmã.
- … Qual a palavrinha mágica para eu deixar você entrar? - Harry ia dizendo.
- Harry, por favor, deixa de ser idiota, eu…
- Nananinanão, a palavra mágica é…
- Tá bom, Harry, tá bom, você já torturou o suficiente - Pierre disse intervindo para abrir a porta. Harry suspirou teatralmente, mas o sorriso ainda no rosto.
- Que pena, ela estava quase cedendo.
- Nos seus sonhos, seu idiota! - Chloe disse marchando para dentro da casa emburrada.
- Pega leve você também, Chloe, é aniversário dele - Pierre ponderou e a irmã se contentou a dar língua para Harry que apenas lançou-lhe um beijo no ar.
- Sim, é meu aniversário. E cadê meu presente, Chloe?
- Não tem presente, seu presente é a minha ilustre presen…
- Bom, então pode ir embora!
- Harry! - Pierre perdeu a paciência - Nossos pais saíram e disseram que eu só poderia vir se a Chloe viesse junto, se você irritar a minha irmã eu vou embora!
Como em todas as vezes, Harry ergueu os braços indicando uma trégua parando de implicar momentaneamente com a menina que já estava vermelha feito pimentão.
- Sem presente, mas pelo menos você pode ser educada e dar um abraço no aniversariante? - Harry sorriu de orelha a orelha abrindo os braços de um jeito amável e Chloe soltou um muxoxo desconfortável olhando para o irmão como se pedisse apoio, mas Pierre apenas deu de ombros comunicando que o pedido era até razoável. Suspirando resignada, Chloe aproximou-se para abraçar Harry Styles como se ele tivesse uma doença infecto contagiosa.
Harry sorriu com a lembrança, se dissessem para aqueles dois adolescentes implicantes tudo o que viria acontecer no futuro, jamais acreditariam….
@cherryisreal: Nós não temos muitas fotos da infância e da adolescência deles, mas temos essa foto de 2011 em uma viagem que as famílias fizeram juntas. Esse background foi só para contextualizar vocês de que eles têm muita história.
Maldito Pierre que tinha publicado aquela foto horrorosa deles na Riviera Francesa, uma das últimas viagens que Harry fez em família antes da vida ficar totalmente impraticável com a correria da One Direction. Sim, eles tinham muita história… E aquela foto também, já que algo aconteceu naquela viagem que, no que dependesse de Harry e Chloe, permaneceria em segredo para sempre.
Harry terminou de vestir a camisa e Chloe amarrou os cabelos em um coque, retirando o suor do rosto.
- Nós nunca vamos contar isso para ninguém, certo? - A menina checou pela enésima vez.
- Não, Chloe, não vamos. Você acha que eu tenho algum orgulho de ter feito isso com você para ficar me exibindo por ai?
- Ei! Pois deveria! Eu é quem teria motivo de ter vergonha!
- Sei, vergonha, não era isso que estava parecendo dez minutos atrás… - Harry zombou recebendo um tapa ardido no braço.
- Eu tô falando sério!
- Chloe! Relaxa. Mesmo que alguém soubesse, ninguém iria acreditar… A gente se odeia, certo?
Chloe ponderou por alguns minutos, perdida na súbita intensidade dos olhos verdes do garoto. Piscou algumas vezes e gaguejou ao responder.
- Certo, certo…
@cherryisreal: Vamos de contextualização: Harry alcançou a fama com a One Direction e namorou modelos como Kendall Jenner e Camile Rowe e Chloe deslanchou na carreira tornando sua marca consolidada a nível mundial com a marca ..
Apesar de não ter tido um relacionamento muito bom com Chloe ao longo da infância e adolescência, sempre marcados pelas brigas de gato e rato, Harry nunca negou o tanto de admiração que tinha pela competência e pelo foco de Chloe em alcançar seu objetivo. Ele se considerava uma pessoa sempre calma, apenas com o excedente de existir duas pessoas no mundo capazes de tirar sua paciência: Zayn Malik, seu antigo parceiro de banda e Chloe , que para todos os efeitos era uma pedra no sapato, mas isso não significava dizer que não valorizava o quão talentosa, visionária e esforçada que ela era. Lembrava de diversas vezes ter visto Chloe trancafiada num quarto cortando e costurando tecidos enquanto todos se divertiam.
@cherryisreal: O ano é 2018 e Harry namorava com Camile, fez sua primeira campanha com a Gucci e usou até alguns looks assinados pela marca em sua turnê Live On Tour. Também ficou muito próximo de Alessandro Michele. O que isso tem a ver com Chloe? Tudo, segue.
Harry suspirou. É claro que estariam falando sobre isso.
@cherryisreal: A Live On Tour acabou assim como o namoro de Harry e Camile (amém!) e quem resolve passar as férias em LA com Harry? Isso mesmo, Pierre… Que leva a tira colo quem? Isso mesmo, Chloe! O reencontro aconteceu e a partir daí eles saíram várias vezes juntos.
- Harry, meu rapaz, anime para a vida! - Pierre disse chutando a canela de Harry que estava sentado de qualquer jeito na poltrona da sala.
- Ela simplesmente terminou comigo. Disse que não queria mais, que não estava feliz e foi embora… - Harry se frustrou, chocado, triste e incrédulo. - Depois de todos os esforços que eu fiz, ela simplesmente nem ligou. Na nossa primeira crise, me deu um pé na bunda e pronto, não quer mais saber.
- Harry, você acha que a Camile é a mulher da sua vida? Em algum momento, seja sincero comigo, em algum momento desse relacionamento você realmente achou que ela era a mulher da sua vida? - Pierre perguntou sério e Harry pôs-se a pensar.
- Eu gostava de estar com ela… Eu gosto dela.
- Você não respondeu minha pergunta.
- Eu não sei… Nunca parei realmente para pensar nisso nessa seriedade. - Harry confessou sincero.
- Se serve de alguma coisa, eu, seu melhor amigo, nunca achei que vocês dois fossem ficar juntos para sempre.
- Não importa… O que importa é que está doendo agora. - Harry deitou no sofá e abraçou uma almofada, tristonho.
- Harry! Sua turnê acabou, você está de férias, eu estou em L.A! Nós vamos sair, nós vamos nos divertir!
- Eu não estou no clima para isso… Mesmo que seja apenas nós dois.
- Na verdade, não somos apenas nós dois… - Pierre começou e Harry franziu a sobrancelha.
- Como assim? Quem mais você trouxe para L.A?
A resposta veio através da porta do banheiro que abriu dando passagem para que uma mulher saísse vestida num roupão branco felpudo com uma toalha torcida na cabeça. Quando o olhar de Harry cruzou com o da mulher, ela sorriu irônica dando um “tchauzinho” no ar, ao que ele bufou frustrado afundando o rosto na almofada.
- Oi, corninho! Soube que é o mais novo solteirinho do pedaço.
- Eu não acredito que você trouxe a Chloe para estragar nossas férias! - Harry exclamou abafado com o rosto contra a almofada.
A sequência de fotos da thread tinha sido tirada no aniversário de Chloe e Harry lembrava de ter trocado farpas com a estilista durante todo o momento. Recordar daquele dia que parecia ter sido há anos fez com que sentisse quase que saudade da época que tudo entre eles era uma implicância leve, e divertida mesmo que jamais fossem admitir que adoravam aquela frequência de provocações.
Cherryisreal fez pelo menos uma sequência de cinco tweets só mostrando “evidências” das fãs para comprovar que estiveram juntos mesmo em fotos que não eram flagrados juntos. Como o cabelo do Harry ao fundo de alguma foto de Chloe, ou a voz dela em algum dos vídeos em que ele estava, ou alguma fã que tinha tirado foto com os dois separadamente no mesmo dia e no mesmo lugar por minutos de diferença. E todas elas estavam certas, eles estavam mesmo juntos nesses dias… Mas não romanticamente.
@cherryisreal: Eles estavam tão próximos que a Chloe desenvolveu um editorial de moda todo com o Harry, quem não lembra desse ensaio icônico que enlouqueceu o fandom dele usando glitter na cara? Foi o começo da era unha pintada, renda e babadinhos.
Harry sorriu para a foto do seu ensaio com Chloe. Tinha feito isso para ajudar a marca a se reinventar e para desenvolver um estilo que estivesse combinando com sua nova fase. Tinha sido uma época gostosa, parando para recordar, como ele e Chloe tinham conseguido colocar suas “diferenças infantis” de lado para fazer algo juntos. E isso realmente tinha aproximado eles…
@cherryisreal: E temos o surto do fandom: a viagem para o Grand Canyon que eles fizeram juntos! Pierre certamente nos alimentou com muitos mimos dessa viagem e se esses sorrisinhos não respondem então eu não sei mais o que responderia.
As fotos da viagem tomaram cerca de três outros tweets e Harry sentiu seu coração pesar por reviver momentos tão preciosos daquela viagem especial ao lado de Chloe. Se parasse para pensar, aquele tinha sido seu último momento pacífico depois de toda aquela merda acontecer e se encontrar na situação que se encontrava no momento.
Harry não teve estômago para ler o resto da thread porque estava achando doloroso demais acompanhar momentos da sua vida através das palavras especulativas das fãs. Elas especulavam e apesar de errarem feio em muitas teorias, em outras até acertavam. Como no anel de Harry que Chloe já foi vista usando ou como o colar de pérolas dela que ele já tinha usado algumas vezes. As peças de roupa em comum já nem eram mais evidências e sim um fato: havia muito de Chloe na forma de Harry se vestir, ela praticamente construiu o novo estilo dele.
Pulou para alguns comentários das outras fãs em resposta a thread e viu coisas como “Isso não prova absolutamente nada, ele é casado com o Louis e todo mundo sabe disso”, ou “Meu Deus vocês fanficam em cima de absolutamente tudo, até com uma amiga de infância, todo mundo sabe que a Chloe tem namorado! Aqui o perfil dele pra quem não sabe @gastonbg ele é artista plástico e eles fazem um casal lindo!”, “Essa thread é uma piada todo mundo sabe que o Harry é gay e a Chloe é lésbica”, “Bonito casal, pena que não sobreviveram ao Harry trocar a marca da namorada pela exclusividade da Gucci, dinheiro em primeiro lugar”, “Li tudo isso esperando vc falar da , mas até agora nada, eu sou uma piada para você?”
E com isso, Harry bloqueou a tela do celular e jogou a cabeça para trás. Sentia como se tivesse perdido metade do seu dia apenas lendo aquela thread e só naquele momento conseguia compreender como elas tomavam tempo, parecia que uma vez imerso dela era impossível sair até terminar. Não sabia de onde vinha aquela tendência masoquista de viver o próprio sofrimento diversas vezes em repetição alimentando-o da pior forma possível, mas sabia que não se sentiria bem em ler aquela publicação e só depois de ter o coração reduzido a um caroço de azeitona é que conseguia entender o porquê.
podia até ser uma mimadinha rica, patricinha privilegiada e socialite cheia de frescura, mas o que Harry era além de um cara rico e cheio de caprichos de pop star? Estava, ou não estava em uma mansão luxuosa que abrigaria tranquilamente pelo menos cinco famílias, sendo que morava completamente sozinho? Tinha ou não tinha, diversos carros na garagem? Podia mesmo se dizer tão humilde assim se tinha uma série de restrições em seus shows por pura… frescura? Harry não podia falar de Chloe, ele também não era tão melhor assim.
Mas a verdade é que sentia falta dela.
Sentia falta do seu cheiro cítrico e fresco que tinha notas de bergamota, mandarina, laranja e flor de jasmin, e de ter aprendido a decifrar perfumes por causa dela. Sentia saudade de falar sobre como preferiam filmes do que livros, tecidos e tendências e como todas aquelas coisas ficavam tão mais bonitas ditas no sotaque dela. E como sentia falta do sotaque dela… Da voz que fazia sons engraçados toda vez que ela carregava a pronúncia de palavras em francês. Sentia saudade do café e dos croissants, das risadas que davam juntos…
E perceber isso era incrivelmente doloroso, porque sentir a falta dela também vinha com a realização de algo que não havia se dado conta, embora por todo aquele tempo estivesse se revelando nos pequenos e mínimos detalhes sórdidos daquela relação, era tão natural que nem havia necessidade de falar sobre, mas aceitar a realidade só fazia com que tudo se tornasse ainda mais doloroso: nas pequenas coisas, nos silêncios e nos momentos mais singelos foi por que ele se apaixonou. Por quem, no fundo, sempre esteve apaixonado.
Cherry
Chloe e Harry
E, por Deus, como gostaria de tão ter sido o arrogante filho da puta que estragou tudo ao perceber isso tarde demais.
🍒🍒
Harry abriu a porta quando seis funcionárias da Gucci amontoaram-se na porta de sua casa pontualmente às 15h. Engoliu todo seu cansaço e toda sua indisposição e sorriu simpático quando elas entraram já tagarelando sobre a prova de roupas para o tão esperado look do MET Gala.
Fingiu prestar atenção em tudo o que diziam e assentiu educadamente em todas as vezes que pediram sua opinião para alguma coisa, mas a verdade é que se sentia completamente desmotivado com qualquer coisa que remetesse a ocasião do baile, principalmente na prova de roupas.
- Outch! - Harry exclamou baixinho quando, por acidente, uma das funcionárias o espetou com o alfinete.
- Desculpe, Sr Styles, me desculpe! - A mulher implorou.
- Não, tudo bem, eu que peço desculpas, devo ter me distraído… - Harry sorriu educado, mas em um estado um tanto quanto catatônico ao ser acometido por uma espécie de dejavu.
- Outch! - Harry exclamou exageradamente quando a ponta da agulha que Chloe manuseava encostou levemente em seu braço.
- Não me venha com “Outch!” eu não te fiz nada, a agulha mal encostou no pêlo do seu braço! - Chloe resmungou e Harry prendeu o riso ao inclinar a cabeça para baixo para observar a expressão da estilista que estava compenetrada na medição do tecido no corpo dele.
Chloe estava de olhos semicerrados com toda concentração do mundo tentando ser o máximo detalhista o possível enquanto seus óculos aro de tartaruga escorriam pela ponta do nariz suado. Os cabelos loiros estavam presos de qualquer jeito em um coque que deixava vários fios bagunçados a solta, mas, ainda assim, Harry tinha que admitir que ela ficava ainda mais bonita daquela forma: compenetrada no foco do seu trabalho. De todas as qualidades de Chloe, aquela era a mais saliente…. Isso e sua habilidade de tirá-lo do sério por qualquer motivo.
- Não acredito que compactuei com isso - Harry respirou para não transparecer na voz seu ar de riso - Emprestar meu corpo para você me mutilar.
Chloe balançou minimamente a cabeça, crispando os lábios.
- E eu não acredito nisso… Gastando meu tempo, meus tecidos e minhas habilidades com você.
- Por favor tenha cuidado com isso! - Harry esganiçou-se quando Chloe se abaixou para pegar a tesoura. Fazendo um tremelique totalmente proposital, ele fingiu medo.
- Fica quieto, caralho! Se você ficar se mexendo muito eu não vou conseguir medir direito!
- Não chegue perto do meu corpinho com isso!
- Harry, cala a boca! Você está me desconcentrando! - Chloe bufou chateada segurando a tesoura.
- Humpf… - Ele resmungou de fingimento, mas se calou ao ver que ela estava realmente se entufando. Chloe voltou a fazer as medições, praguejando baixinho enquanto Harry se segurava para não rir.
- Mimado, irritante, ingrato! Quer dizer, só porque eu preciso não significa que eu tenha que me humilhar para isso, sabe? - Chloe ia dizendo de maneira quase inaudível e Harry franziu a sobrancelha quando ela começou a apertar mais do que o necessário.
- Ei, eu não estou te humi…
- Cala a boca que eu não tô falando com você! - Chloe exclamou emburrada olhando para cima com raiva e Harry arregalou os olhos se calando. O remorso pela provocação bateu forte quando ela voltou a costurar com raiva, menos delicada e precisa do que o normal -... Só porque é uma celebridade tá dando ataque de estrelismo e…
- Chloe, você está apertando… - Harry tentou falar, mas ela não deu atenção, continuando a enfiar vários alfinetes, pela primeira vez realmente assustando o rapaz - Me desculpe, eu estava só brin…
E foi então que, no descuido, um dos alfinetes realmente fincou na pele de Harry que sentiu a pontada ardida.
- OUTCH! - Exclamou quando o filete de sangue sujou o tecido branco.
Chloe piscou longamente, chocada demais para dar-se conta do que tinha acontecido. Enquanto Harry dava alguns pulinhos de dor, ela permaneceu estática, sem acreditar que tinha machucado alguém pela primeira vez. Todo o estresse pareceu ter diluído quando a ficha finalmente caiu.
- Ai, Harry, me desculpa, me desculpa! Deixa eu ver…
- Ai, ai, você me mutilou, ai ai!!!
- Sr. Styles? Sr. Styles? Harry…
- Hãn? Ah, sim… Sim, está tudo bem… Eu só… Vocês podem me dar licença por um minuto? - Harry perguntou dirigindo-se as funcionárias da Gucci com um sorriso amarelo.
Sem nem dar tempo delas responderem qualquer coisa que fosse, Harry saiu da sala e encaminhou-se com ligeireza até a cozinha, abrindo a geladeira de qualquer jeito para pegar um copo de água bem gelada. Respirou fundo ao beber todo o líquido do copo e um cheiro característico invadiu as narinas fazendo com que seu coração acelerasse.
-Ellis? - Harry chamou e logo a funcionária apareceu, saindo da área de serviço.
-Oi, Sr Styles!
-Que cheiro é esse? - Harry perguntou inutilmente porque já sabia exatamente do que se tratava.
-O Sr está recebendo visitas hoje, então resolvi fazer aquele cheesecake de cereja que estava se tornando corriqueiro nessa casa. - Ellis respondeu prestativa e Harry apenas suspirou fundo, visivelmente frustrado. - Alguma coisa errada?
-Não, de forma alguma… Ellis, me faz um favor? Leva esse doce para as mulheres que estão na sala e as dispense educadamente, diga que não estou me sentindo bem e que marcamos outro dia, tudo bem? Obrigado.
-Fiz mal? - Ellis perguntou preocupada e Harry sorriu tocando suavemente no ombro da mulher.
-Não, Ellis, tá tudo bem.
Harry largou-se em uma das cadeiras da cozinha e passou as mãos pelo cabelo, completamente frustrado. Aquilo estava ficando praticamente insustentável, não havia nada em seu dia que não o lembrasse de Chloe, até mesmo o esforço para não pensar nela já era um pensamento inevitável. Tentando distrair-se enquanto no outro cômodo Ellis despistava as funcionárias da Gucci, Harry pegou o celular para passar as inúmeras mensagens ignoradas e checar as redes sociais de um jeito despretencioso.
Uma foto de Adam abraçado com Desmond chamou sua atenção e atingiu em cheio no peito.
Harry saiu do bar a passos largos, se possível fosse, chamas sairiam de todos os orifícios do seu rosto, de tão chateado que estava.
- Ei, ei, cara, calma! - Um rapaz seguiu em disparada, tocando um dos ombros do cantor, que se esquivou.
Harry suspirou fundo.
- Olha, eu não quero descontar nada em você. Eu nem sei quem você é. Meu problema não é contigo, mas por favor me deixa em paz.
- Não, cara, calma, eu sei que a pode ser difícil de lidar, mas…
- Difícil? Difícil? ELA É INSUPORTÁVEL! - Harry gritou angustiado.
- Quem é insuportável, “Arry”? - apareceu na porta do bar, cambaleando.
- Harry, releva, ela tá bêbada, sabe? A gente sabe que você é gente boa - O rapaz falou.
- Qual seu nome?
- Adam, cara, me desculpe nem me apresentei. E aquele segurando a bêbada lá é o meu namorado, o Desmond. E olha, nos somos amigos da , eu só quero te dizer que quando você conhecer ela um pouco melhor…
Harry bufou.
- Escuta, Adam, eu conheço a desde que ela era uma menininha que andava pelo bairro só de calcinha - Harry disse alto o suficiente para ouvir.
- Ei! VOCÊ NUNCA ME VIU DE CALCINHA! - Ela soltou um mini arroto e depois tocou na boca - Ops, lembrei que você me viu sem…
Harry arregalou os olhos e deu um tapa na própria testa quando Adam levou a mão a boca, chocado.
- , você está bêbada, completamente bêbada! - Desmond dizia tentando equilibrar a amiga.
- O irmão dela está na minha casa, como eu vou aparecer com ela assim?
- Relaxa, a gente leva ela pra casa… - Adam começou e Harry semicerrou os olhos, desconfiado. Por mais que parecessem muito amigos de e fossem gays, ele não os conhecia e por mais ódio que sentisse da mulher no momento, não confiava a ponto de deixá-la vulnerável perto de desconhecidos.
Com raiva, Harry rumou até o local onde estava, mas ela o afastou afetada. Sem paciência, ele respirou fundo e mesmo sob protestos de gritos, a carregou de ponta a cabeça com as mãos nos joelhos dela colocando-a por cima de seu ombro. Ao perceber que sua saia esvoaçava, puxou a barra para baixo e tapou sua calcinha.
- ME POE NO CHÃO, ARRY, ME PÕE NO CHÃO!
- CHATA PRA CARALHO, CHLOÉ, VOCÊ É CHATA PARA CARALHO! - Harry gritou de volta.
- Ei, para onde você vai levá-la? - Adam gritou.
- Para casa! Prazer conhecer vocês. - Harry respondeu emburrado. - A amiga de vocês é uma pedra no meu sapato!
- Pronto, elas já foram embora.
Harry voltou para a órbita com a voz de Ellis e sorriu sem emoção agradecendo silenciosamente a mulher pelo favor. Bloqueando de volta o celular, levantou da cadeira e arrastou-se desanimado até o estúdio, de onde pediu que não fosse incomodado por nada e por ninguém.
Analisando todos os equipamentos e a mesa de som do seu estúdio, Harry pensou em quanto gostaria de estar produzindo no seu novo álbum que sequer tinha um nome. Parecia ter sido há anos e não há meses que tinha escrito as faixas animadas de Lights Up e Watermelon Sugar. Não sabia como iria encontrar forças para produzir qualquer coisa que fosse, mas torcia para não destoar tanto nas outras composições com seu tom tão melancólico e infeliz dos últimos dias. Só não descartaria todas as coisas feitas porque tinham sido músicas muito boas, embora não lembrassem como e quais circunstâncias tinham feito She. Malditos fossem os cogumelos.
Harry sorriu com a lembrança e pensou com nostalgia a respeito do último ano que havia se passado. Se lhe dissessem quantas reviravoltas aconteceriam, não teria acreditado. Todo seu término com Camile, sua aproximação com Chloe, seu relacionamento com … Seu envolvimento com as drogas… Como sua vida tinha girado em função do seus relacionamentos e seus fracassos afetivos. Queria conseguir escrever sobre, mas nem isso parecia ser capaz.
Sem expectativas de que isso fosse render algum fruto produtivo, Harry ligou o computador e começou a remexer em pastas aleatórias gravações de ensaios que costumava fazer. Alguém certa vez lhe dissera para nunca apagar nada, sempre deixar registros porque esses materiais poderiam servir como matéria prima para alguma composição no futuro. Assim sendo, toda vez que entrava no estúdio, colocava coisas para gravar. Revisitando uma dessas gravações, Harry sentiu o coração acelerar ao lembrar com exatidão o dia em que despretenciosamente passou a dedilhar aquela melodia qualquer no violão.
Afinou as cordas do violão e sentou-se confortavelmente nas almofadas no chão do estúdio, dedilhando sem saber exatamente o que. Estava distraído, sem se preocupar com nada e sem ter algo pesando-lhe o coração. Era uma sensação gostosa que estava se tornando costumeira desde que passou a frequentar sua casa…
E pensando nela, sorriu ao sentir o cheiro cítrico invadir o estúdio, sabendo que ela tinha entrado em seu templo antes mesmo de vê-la.
- Tá se escondendo de mim, baby? - A voz de Chloe ecoou baixinho quando ela se ajoelhou para aplicar um beijo delicado na bochecha de Harry, que riu.
- Jamais. E acho tão engraçado quando você me chama assim “baby”, não parece você.
- Não parece a pessoa que tocou fogo nas suas roupas de propósito e nem que colocou detergente na sua comida, você quis dizer - brincou e Harry arregalou os olhos.
- Detergente na minha comida?
- Ops? Eu nunca te contei isso?
- !
- Me desculpa, mas todos os jantares na casa dos meus pais eu aprontava com sua comida, tipo cuspir em seu prato. - confessou culpada e Harry suspirou, fazendo uma expressão resignada.
- Ainda bem que pensando nisso eu sempre troquei meu prato pelo seu quando ia na sua casa.
Foi a vez de boquiabrir-se.
- O QUE?
Harry gargalhou largando o violão quando ela passou a dar soquinhos no ombro dele, segurou-a pelos pulsos e fez com que ela deitasse por cima dele, logo invertendo as posições, deitando-a no chão e imobilizando-a com seu peso, fazendo com que ela cedesse ao riso pelos beijinhos distribuídos por todos os cantos do rosto.
- Eu não acredito que você trocava nossos pratos! - exclamou chocada. - Arrrgh, eu comi detergente!
- E o próprio cuspe - Harry salientou e voltou a beijá-la quando ela fez menção de golpeá-lo novamente.
- Isso não é justo.
- Ah? - Harry riu com gosto - O que não é justo, você tentar acabar comigo e eu dar a volta por cima?
- Sim - respondeu manhosa recebendo os beijos por toda extensão de seu pescoço e colo - Eu que tinha que sair ganhando.
- Mas você já saiu ganhando - Harry respondeu, beijando inocentemente o espaço entre os seios dela, descoberto pelo decote fazendo-a arrepiar - Você me ganhou.
- Grandes coisas - resmungou só por resmungar e Harry soltou um sorrisinho sabendo que ela dizia da boca pra fora.
- Você sabe que é grande coisa sim - Ele disse antes de selar seus lábios aos dela.
Beijar sempre tinha rendido sensações inusitadas para Harry. Fosse na inocência quando se beijaram num desafio ainda quando crianças, fosse nas descobertas da pré adolescência ou nos acordos de “ninguém pode saber” de quando começaram a compreender que sentiam um pouquinho de atração um pelo outro por baixo das implicâncias. Os beijos com ela também foram inusitados já adultos, cientes dos sentimentos mais profundos que começaram a desenvolver um pelo outro mesmo em meio a todo o caos envolvendo entre eles. E ali, naquele momento, beijar sem precisar se esconder, fingir ou fugir, causava sensações inusitadas de uma paz que nunca tinha sentido antes.
- Nós não vamos transar no estúdio de novo, né? - perguntou quando partiram o beijo e Harry riu safado.
- Se você quiser…
- Você não está gravando essa conversa de novo, está?
- Não se preocupe, eu apago.
- Da última vez o Mitch ouviu.
Gargalharam juntos.
Estavam prestes a iniciar outro beijo, ainda entre risos, quando o celular de tocou.
- Ah, ela está retornando minha ligação.
Sorrindo, Harry saiu de cima dela e voltou a dedilhar alguma coisa no violão, vez ou outra olhando-a conversar com a mãe com empolgação.
- Coucou! Tu dors? Oh, j'suis désolée...
Mesmo sem querer, um sorriso cresceu na lateral do seu rosto… Como amava vê-la falar na língua mãe. E como amava tê-la por perto para presenciar isso todos os dias.
Harry pausou a gravação como se o som estivesse perfurando seus tímpanos com facas afiadas. Não conseguia sustentar nem mais um segundo daquilo. Era oficial: estava ficando louco. Chloe estava presente em seu dia-a-dia de maneira tão intrínseca que o que quer que estivesse fazendo, era nela que pensava. Demorou a perceber como em cada parte de sua vida, mesmo a mais insignificante como abrir um guarda roupa e escolher o que usar lembrava ela. E agora até mesmo nas suas composições, no seu estúdio, no seu lugar sagrado ela estava.
- Estou ouvindo - Jeff disse no segundo que completou a chamada, Harry suspirou fundo com o celular na mão, ligando para o agente.
- Estou pronto para limpar… Você sabe, a bagunça. - Harry disse.
- Fico feliz em saber disso. Demorou, mas conseguiu. Como vai fazer isso?
Harry inspirou fundo, abrindo mão de todo seu orgulho para encontrar um pouco de paz.
- Indo para Paris - Decretou - Hoje mesmo se possível.
🍒🍒
A decepção nos olhos dela doía mais do que qualquer coisa. Preferia ser golpeado mil vezes do que ser alvo daquele olhar.
- Você realmente precisava fazer isso? - Ela perguntou magoada.
- , por favor não misture as coisas...
- Misturar as coisas? Você acha que isso é sobre você ter me apunhalado pelas costas com a questão da Gucci? Não, Harry, são negócios, é sua visibilidade, é dinheiro, isso eu até poderia entender... Mas olha a forma como as coisas estão acontecendo! Depois de tudo que a gente passou...
- Depois da , você quer dizer?
- Você ainda é obcecado por ela!
- Sou eu, ?
- Você nunca aceitou bem o fato de que nós duas nos apaixonamos. Simplesmente aconteceu, Harry, nunca esteve nos meus planos roubar o alvo da sua obsessão, mas eu achei que isso fosse passado, que nós estivéssemos bem.
- Isso não é sobre .
- Foi você quem colocou o nome dela no meio de tudo isso! Isso não é sobre ela, mas sobre o que você se deixou levar! Drogas, Harry? Nunca pensei que você iria se deixar chegar nesse ponto.
- Não seja tão puritana, , aqui em L.A as coisas são diferentes.
- Diferentes? Quando você vai aceitar que isso deixou de ser diversão para ser um problema? Você não está fazendo isso por diversão e sim para suprir algo. Algo que nem eu, nem nem Camile podemos suprir.
- O que a Camile tem a ver com isso?
- Tudo! Tudo, Harry! Já te ocorreu quanto tempo faz que você não fica sozinho? Que você não está sofrendo por alguém? Você é movido por isso, viciado no drama e em sofrer. Depois de Camile você engatou em uma obsessão por e depois...
- E depois por você? É isso o que você acha que nós somos? Depois de todos esses anos, de toda história que nós temos você vai nos comparar a essa situação?
suspirou fundo, passando as mãos pelos cabelos.
- Harry, me desculpe, mas eu não consigo. Não confio em você. Não na pessoa que você se tornou.
- E quem eu me tornei?
- Alguém que eu não reconheço mais.
Em pensar que toda aquela confusão tinha começado com o fim da turnê e, consequentemente com o fim do seu relacionamento com Camile. O plano de Pierre animá-lo nas férias em L.A trazendo a tiracolo a irmã insuportável que sempre pegou no pé de Harry, levando-o para todas as festas, todas as programações de esbórnia que fizeram com que, em uma das noites, Harry conhecesse e se apaixonasse pela funcionária do bar, .
E em que confusão se meteu quando e começaram a se envolver.
Harry suspirou cansado, tirando o cabelo do rosto. Tinha certeza que seria flagrado com a barba por fazer e o cabelo grande assustaria suas fãs, mas até mesmo para vaidades estava sem tempo e vontade. Não prestou atenção na paisagem da capital francesa enquanto o motorista dirigia até o endereço de . Seu coração acelerado não o deixava pensar em mais nada que não fosse a resolução da confusão em que havia se metido.
Ele desceu do carro cambaleante, certo de que algumas gotas de suor se acumulavam na sua testa, rezando para que nenhum paparazzi flagrasse aquele momento. Parado na soleira da porta de , Harry reuniu coragem para tocar a campainha.
O movimento da porta fez com que o cheiro cítrico adentrasse as narinas de Harry que só então percebeu quão saudoso estava daquele perfume. Seus olhos procuraram pela figura daquela que não saia dos seus pensamentos e quase assustou-se ao vê-la materializada na sua frente. estava diferente da última vez que a vira: os cabelos loiros agora estavam castanhos em sua cor natural, cortados num estilo channel e com uma franjinha que combinava com seu rosto redondo e corado. Se possível fosse, ela estava ainda mais bonita do que nunca.
- Harry? - A voz gutural dela ecoou de forma chocada. Abrindo a porta lentamente.
- Oi, .
Ficaram se encarando por alguns minutos, apenas esquadrinhando traços um do outro, imersos em seus próprios pensamentos e recordações.
- O que você tá fazendo aqui?
- Vim te dizer uma coisa, acabar com essa guerra fria entre nós… Será que eu posso entrar?
mordeu o lábio inferior e fechou a porta atrás de si, logo abraçando-se para se proteger do frio.
- Eu não acho uma boa ideia, Harry.
- Melhor a ideia de algum paparazzi nos pegar aqui?
- Como você entrou no condomínio?
- Eu sou Harry Styles, . - Harry disse para quebrar o gelo, na intenção de brincar, mas pela expressão dela, soube que ser Harry Styles não era considerado algo bom para ela - Me desculpe. Por que eu não posso entrar?
- Porque não acho uma boa ideia - Ela respondeu taxativa e Harry foi acometido pela sensação angustiante de compreensão.
- Ah, você está com ele… Então, é verdade? Vocês estão juntos?
- Não é da sua conta - respondeu calmamente.
- Gaston, ? O que de bom você poderia fazer com ele? Visitar a galeria dos pais dele?
- Harry, por que você está aqui? Para ser passivo agressivo e reivindicar um posto que não é seu por direito? Eu não vou deixar você entrar e não te interessa se tem alguém comigo.
Harry suspirou.
- Me desculpe. Mas você não precisa falar assim comigo, faz parecer que você não se importa.
- Eu me importo, Harry. Se não me importasse não estaria aqui, do lado de fora, tentando entender o que diabos você está fazendo aqui depois de tudo… Veio me pedir sugestão de look para o MET Gala? - não conseguiu disfarçar o amargor na voz.
- Eu sinto sua falta - Harry disse de uma vez, foi a vez de suspirar, triste e cansada.
- Eu também sinto sua falta, Harry. - Ela respondeu com sinceridade, o que só fez doer ainda mais o coração dele.
- Me desculpe por não ter percebido isso antes. O quanto eu sinto sua falta...
- O que você tá querendo dizer…?
- Que eu te amo. - Harry completou num só fôlego, sem nem pestanejar. As palavras ferviam com uma sinceridade quase visceral - Que eu sempre amei.
Diversos sentimentos perpassaram as feições de Chloe em uma fração de segundos. Seus olhos brilharam mais do que o normal a medida que suas sobrancelhas arquearam com o tremor da face ruborizada.
- Harry…
- Eu te amo, Chloe. Eu te amo… Eu te amo… Eu te amo - Harry respirou fundo percebendo-se incapaz de dizer outra coisa além disso - Eu te amo.
“E não consigo por em outras palavras o que se passou por minha cabeça por todos esses dias desde que você decidiu ir embora. Nenhum orgulho é maior do que o remorsos que eu sinto por ter estragado tudo, nenhum ego é maior do que a saudade que eu senti de você… Eu pensei em você em todas horas, minutos e segundos de todos esses dias e isso estava me deixando louco… Quantas vezes eu fui dormir angustiado, sonhei com você e acordei apaixonado… Quantas vezes eu peguei o telefone com vontade de te ligar e mudei de ideia por medo, por ser um covarde que não consegue pedir desculpas. Quantas vezes eu desejei voltar no tempo e ter dito antes que eu… simplesmente te amo. E acho que sempre te amei, desde que éramos crianças, eu só não tinha percebido isso. É você e sempre foi você.”
Chloe pareceu ter sido esbofetada ao ouvir todo o discurso de Harry que mais pareceu com um desabafo, mas, ainda assim, incapaz de emitir qualquer som que fosse. Seus pés tinham fincado raízes na soleira da porta.
Harry suspirou cansado, parecendo ter finalmente expurgado um veneno do corpo.
- Você está em tudo, Chloe. Está no vazio da minha cama quando acordo, está nas notas de laranja e bergamota do seu perfume que ainda impregna minhas roupas, está no estilo que me visto, está no cheiro do cheesecake de cereja que a Ellis faz, está no silêncio desconfortável nas minhas conversas com Jeff, está na saudade que sinto dos seus amigos e em qualquer coisa em francês que eu escuto. Você está no meu bloqueio criativo, na minha improdutividade com as músicas e na tristeza que eu sinto por sequer pensar que você chama outra pessoa da maneira que me chamava. Tudo… absolutamente tudo que eu vivo tem você.
Os olhos de estavam marejados, mas ela manteve-se firme. Os braços cruzados em volta do corpo pareciam protegê-la de vacilar perante a confissão.
- Eu te quero de volta. Eu não quero , eu não quero Camile, eu não quero ninguém. Quando imagino uma pessoa do meu lado, para construir um futuro, uma família, eu imagino você. Porque é assim que tem que ser, desde o primeiro dia.
limpou a garganta num pigarro, mas sua voz ainda ecoou rouca quando conseguiu falar.
- Harry, você ainda está usando?
Ele coçou a nuca e ela revirou os olhos tristemente.
- Não, por favor, me deixe continuar…
- Harry! - Ela interrompeu com a voz mais consistente - É tarde demais.
- Não, , me escute, eu sei que…
- Harry, o que você precisa é de uma terapia. Eu sinto muito por seu bloqueio criativo e eu sinto muito que você esteja se sentindo tão angustiado por pensar em mim. Mas, para mim já é tarde demais.
aproximou-se para beijar a bochecha de Harry em um golpe final, fazendo-o sentir o perfume dela de maneira mais precisa.
Quando estava prestes a abrir a porta para entrar, a maçaneta foi puxada por alguém de dentro, revelando Gaston Bury que saiu de um jeito pomposo, provavelmente buscando a ausência da namorada.
- Baby, eu estava falando sozinho achando que você estava em casa, o que você tá fazend… - E calou-se ao ver Harry parado na soleira, mudando drasticamente a expressão.
- Oi, Gaston. - Harry cumprimentou sem vida.
- O que você está fazendo aqui? - Gaston perguntou com as sobrancelhas franzidas e olhou para os pés, desconfortável.
- Não se preocupe eu já estava de saída… - E voltando-se para , Harry completou com a voz amargurada - “Baby”, sério?
Ela suspirou, ainda encarando o chão e reunindo todo seu orgulho e dignidade já feridos, Harry deu as costas para a casa nº5, rápido o suficiente para que não pudessem ver suas lágrimas.
🍒🍒
As lágrimas se misturaram com a água do chuveiro e Harry soluçou quando finalmente conseguiu colocar para fora todos aqueles sentimentos angustiantes que pareciam sufocá-lo por dentro. Era tanto sofrimento acumulado e só naquele momento se dava conta disso. Todos achavam que ele era um cara certinho, amável, perfeito, incapaz de errar, mas essa era uma imagem completamente distorcida e que distoava do que achava de si mesmo: era um arrogante e orgulhoso que tinha perdido tudo por sua incapacidade de lidar com o próprio ego ferido.
Era o trabalho, que demandava uma dedicação extrema. Era a pressão para produzir uma música mais comercial, que vendesse mais, que o colocasse no topo, que fizesse jus as expectativas que criavam sobre ele. Era a vontade de continuar sendo verdadeiro, de manter sua essência e escrever sobre suas experiências e fazer uma música que o agradasse primeiramente… Mas era também sobre perder sua essência e, muitas vezes, se olhar no espelho sem entender quem realmente era e qual seu propósito no mundo.
Era a saudade que sentia de uma vida leve, mas que nem lembrava mais a última vez que isso tinha sido sua realidade. Tantos anos de holofotes já tinham se passado e tantas crises de ansiedade tinham sido acumuladas com a pressão da One Direction. O peso de ser o modelo ideal e perfeito e a vontade de jogar tudo para cima e experimentar o que quisesse, fazer o que quisesse, ser o que quisesse sem precisar se esconder e sem precisar dar satisfações para ninguém.
Era a saudade que sentia de . Era o arrependimento por ter misturado sua mágoa pessoal com questões profissionais. Era a realização de que tinha se tornado um trem desgovernado por não saber lidar com suas emoções conflituosas e por ter sido, como bem dito por “viciado em drama e em sofrer”. Era a epifânia de dar-se conta de que estava apaixonado por ela e que não conseguiria fazê-la acreditar nisso devido ao seu histórico.
Com o rosto inchado de chorar, Harry saiu do banho e enrolou-se no roupão felpudo, arrastando-se de cabelo ainda molhado para o quarto. Desanimado até mesmo para respirar, sabia que sua alternativa fácil poderia ser encontrada em um estojo de metal escondido na gaveta, mas resolveu jogar todo o pó branco dentro da pia, ligando a torneira para limpar qualquer vestígio daquilo que queria se livrar.
A sua frente, o enorme piano parecia reluzir.
Arrastando-se, Harry sentou ainda nu, molhado do banho e enrolado apenas num roupão no banquinho em frente ao instrumento. Num suspiro, pressionou os dedos sobre as teclas sabendo que finalmente estava pronto para voltar a fazer aquilo que sabia de melhor: canalizar suas emoções em música.
Seu sofrimento poderia estar só começando, mas, pelo menos, seu bloqueio criativo tinha acabado.
Fazia pouco mais de cinco anos que, entre idas e vindas, L.A tinha se tornado seu abrigo e, naquele tempo, tinha aprendido a gostar do sol e do mar, tinha aprendido a desfrutar de Fish and Fries e a ouvir pop psicodélico. Há algum tempo já não era mais o garoto simples vindo do vilarejo campestre de Holmes Chapel e até mesmo seu sotaque britânico era mesclado de novas gírias e vícios de linguagem local. Los Angeles tinha aberto tantas portas, tinha o modificado tanto por dentro, sido seu porto nos momentos mais intensos - tanto felizes quanto tristes - e, no entanto, respirando profundamente aquela brisa salgada e contemplando o céu limpo e estrelado de uma noite quente demais para ser considerada de inverno, Harry não soube dizer se amava ou odiava a cidade.
Os sentimentos que ela lhe causava eram tão conflitantes…
Suas divagações foram interrompidas por uma notificação no celular e quase sorriu ao receber a ligação de .
- E então? - Harry perguntou com um sorriso preguiçoso se alastrando por seu rosto, desejando ser capaz de ver o sentimento nos olhos da mulher.
- “I’d walk through fire for you, just let me adore you…” - leu uma frase e Harry mordeu o lábio inferior com ar de riso. - “You don’t have to say you love me, you don’t have to say nothing, you don’t have to say you’re mine…”
- A minha linguagem do amor é a servidão, eu sei. - Harry brincou e fechou os olhos ao ouvir a gostosa gargalhada de do outro lado da linha.
- É linda, Harry. Eu me sinto lisonjeada que seja sobre mim. - disse e havia sinceridade em seu timbre, mesmo tão distante.
- Estamos pensando em fazer dessa música o lead single do álbum, então talvez você devesse se sentir muito lisonjeada. - Harry brincou.
- Devo me preparar para me tornar uma pessoa pública? Devo me preparar para receber mais hates do seu público ou sem chances de alguém ligar isso até mim? - perguntou, mas pelo tom de voz amistoso Harry soube que ela estava brincando.
- Sempre tem chance de alguém acertar, mas não é como se eu fosse confirmar que boa parte do meu álbum é sobre você… - Harry deu de ombros mesmo que ela não pudesse ver e, só então deu-se conta de algo - Bom, na verdade todas as músicas que foram escritas até agora basicamente foram sobre você.
Alexa riu novamente e aquele riso trouxe diversas memórias.
Se apaixonar por foi como viver um sonho de verão. Iluminados pelo sol de Santa Mônica, tendo o polêmico bar Barabash como o point central e testemunha. O perfume frutado com notas de morango tinha sido seu cheiro favorito por todas as noites que se perdia nas curvas dela e todas as manhãs que acordava viciado em algo a mais que ela nunca poderia dar. Se apaixonar por foi como viver uma aventura digna dos filmes com recordações em fotos polaroid para guardar pelo resto da vida. A pele bronzeada, dourada pelo sol, os olhos amendoados, a boca vermelha e aquele riso contagiante. Assim como nos sonhos, foi intenso, fugaz e avassalador. E ela, com todos seus mistérios e nuances, assim como num sonho, não teve problema em acordá-lo para a realidade de que eles jamais poderiam passar disso.
Era até interessante pensar em retrospecto porque fazia consideravelmente pouco tempo que tinha se curado de sua obsessão por a ponto de conseguir conversar com ela sem sentir vontade de morrer imerso em seu próprio drama.
- Tem tanto tempo assim que você não escreve nada? Não é possível que o momento atual não te dê nenhuma inspiração.
Harry sorriu minimamente, não o suficiente para atingir seus olhos que estavam tristes. Conforme o assunto ia sutilmente se tornando mais próximo daquilo que não queria falar, seu coração progressivamente ia demonstrando quão rápido podia acelerar.
- Estou com bloqueio criativo.
suspirou.
- Por que eu não acredito nisso?
- É sério, não consigo escrever nada há algum tempo… - Harry confessou odiando seu corpo por ser imaturo o suficiente para começar a demonstrar reações físicas ao assunto. De repente, seu estômago já estava queimando.
- Seu bloqueio criativo por acaso tem um metro e setenta e cinco, cabelos loiros, bochechas redondas, perfume cítrico, uma elegância invejável e uma voz que fala se aarrraasstando de frrrancé? - debochou e Harry sentiu seu peito arder por instantaneamente materializar a pessoa que ela descrevia - Por acaso, seu bloqueio criativo atende pelo nome de ?
Foi a vez de Harry Styles suspirar, mas o ar pareceu ficar preso em seus pulmões graças a angústia.
- Por favor, eu não quero falar sobre isso, . - O rapaz soprou com sua voz angelical ressoando em uma doce súplica.
- Vocês não têm se falado ultimamente, não é?
- Não… Ela não quer conversa comigo. - Harry respondeu amargurado, relembrando a última conversa com a mulher em questão - Dentre diversas outras coisas, disse que não me reconhece mais.
- Duas pessoas geniosas e orgulhosas juntas só podia dar nisso.
- Mas e você, hein? Falando comigo sobre … Isso é tão estranho - Harry quase sorriu da risada de , tão logo sendo invadido por uma vontade de abraçá-la.
- Só porque nós temos uma ex em comum isso seria estranho?
- Ela não é minha ex.
- Sim, porque vocês nem se deram essa oportunidade. Ela gosta de você, você gosta dela, eu ainda não entendo qual o motivo dessa guerra fria.
- Tanta coisa aconteceu, . - Harry passou a mão livre sobre o cabelo, sentindo uma brisa leve esfriar seu rosto.
- Pense por esse lado, eu sei a angústia que você está passando porque sei bem como aquela pessoa consegue ser encantadora a ponto de te fazer sentir dessa forma.
Harry riu fraco.
- Nunca sei de quem sentir ciúmes nessas horas. - Ele respondeu e fechou os olhos risonho ao ouvir a gargalhada de . Como sentia saudade dela.
- Harry, Harry… Certamente não é de mim que você deve ter ciúmes, sou a última pessoa para isso. Eu já desisti de vocês dois… Não... Na verdade, não é comigo que você tem que se preocupar.
As entranhas de Harry se pronunciaram no instante que terminou sua sentença, se revirando loucamente fazendo com que quase sentisse vontade de vomitar de tanto nervoso.
- Por favor, eu não quero saber… - Harry pediu.
- Saiu uma nota dizendo que ele vai pedir ela em casamento.
E então, Harry parou de respirar. Que Chloe estava namorando o engomadinho e perfeito Gaston Bury artista plástico, ele já imaginava. Mas casar? Em tão pouco tempo? Isso era demais para aceitar, parecia demais para sequer acreditar.
- … É claro que pode ser falso, já que é da imprensa que estamos falando… Harry, Harry você tá me ouvindo?
ainda falava, mas Harry já não prestava mais atenção. Desde que se conhecia por gente ou pelo menos que se recordava das memórias a ponto de não duvidar delas, sua vida sempre esteve interligada com a vida de Chloe, desde crianças. E parecia que algo lá no fundo de sua mente mesmo sendo silenciada pelo subconsciente, algo já sabia que um dia eles poderiam acabar juntos… E talvez por essa certeza ser segura nos confins do seu coração, tinha acreditado que toda aquela situação entre eles uma hora ou outra iria se normalizar… Mas casamento já era demais.
Depois de tudo que eles tinham dito e feito um pelo outro, como ela podia?
- Harry?
- Estou aqui, … Desculpe, eu só quero… Acho que preciso ficar chapado hoje para lidar com essa informação seja ela verdadeira ou falsa. - Harry respondeu com a voz rouca.
suspirou.
- De todas as coisas que eu apresentei para você, Harry, a droga não era aquela que eu gostaria que fosse mais presente em sua vida, sabe? - sorriu, embora falasse sério - Você perdeu um pouco o fio do que é diversão e o que é responsabilidade… E principalmente, perdeu o fio do que é momentaneamente afogar as mágoas e depender disso para ser sua muleta… Não queria estar te vendo assim.
- , eu realmente não quero falar sobre a Chloe.
- Tudo bem… Você vai ficar bem?
- Vou, eventualmente vou sim.
Aquela foi uma das poucas vezes que Harry notou desconcertada por alguma coisa. Ela parecia pressentir que algo de ruim viria daquilo.
- Vou deixar você quieto… Se cuide, tá ok?
- Pode deixar… Se cuide também, . Arrase por aí. - Harry desejou sinceramente embora estivesse catatônico demais para esboçar grandes emoções.
- Irei… E ah, Harry?
- Que?
- Obrigada pelas músicas. Foi sincero da minha parte também.
Harry sorriu fino quando desligou o telefone com , mas seu coração ainda estava tomado pela angústia. Se alguém tivesse lhe dito, um ano atrás, quando tudo aquilo começou que seria aquele o destino final, não teria acreditado. Ainda há um ano estava namorando com Camile Rowe, fazendo turnê pelo mundo com seu primeiro disco e contido demais até mesmo para ficar bêbado. Se lhe dissessem que terminaria seu relacionamento com Camile, mas que não haveria uma só música dedicada a ela em seu novo álbum, não acreditaria.
E acreditaria muito menos que seu ano seria regrado de festas que mal teria recordações, já que estaria drogado quase 100% do tempo. Não acreditaria se dissessem que teria experimentado de tudo um pouco e muito menos que seu novo álbum seria um misto do seu envolvimento amoroso com não só uma, como duas mulheres que também se relacionaram entre si. Não acreditaria e teria gargalhado da cara de quem te dissesse que uma dessas mulheres seria , irmã do seu melhor amigo, sua única relação declarada de ódio desde a infância… Realmente, quanta coisa tinha mudado em apenas um ano e Harry jamais poderia prever e sequer acreditar.
Dando as costas para a noite estrelada, Harry saiu da varanda fechando a porta atrás de si, arrastando-se até a cama onde encontraria tudo o que precisava para afogar-se na tristeza que estava sentindo.
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Um dos mais importantes eventos de moda, o MET Gala há anos reúne celebridades e nomes da alta costura em uma noite temática com os looks mais icônicos da estação. Com o conceito de fuga ao tradicional e amor pelo exagero, a edição desse ano terá como anfitrião o novo queridinho da moda Harry Styles, que desde que saiu da boyband inglesa One Direction, vem consolidando um estilo próprio que consiste em quebrar os conceitos de masculinidade apostando em looks extravagantes e chamativos. O conceito que surgiu desde sua parceria com a empresária e estilista deve durar nessa nova era do cantor que se prepara para lançar o segundo álbum. Muito próximo de Alessandro Michele, Styles também já participou de campanhas para Gucci e agora nos deixa na dúvida: quem vai assinar o look icônico do cantor no MET Gala, ou Gucci?
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As outras grifes que chorem, mas Harry Styles agora é da Gucci e passa a integrar todas as campanhas da marca em um contrato de exclusividade que especula-se que tenha custado uma fortuna que jamais teremos. O cantor já tinha demonstrado interesse pela casa italiana e sido garoto propaganda de algumas campanhas, além de ter vestido peças nos shows da sua última turnê Live On Tour, mas agora parece que Styles só poderá usar roupas assinadas pela Gucci: o tipo de problema que a gente queria ter! Com isso, o mistério do look MET Gala foi solucionado e sabemos que Alessandro Michele levou a melhor, quem não deve estar muito feliz com isso é a empresária e socialite que faturou milhões em 2018 na parceria com Harry, e que além disso é amiga de infância do cantor e já até foi especulada como possível affair, mas ambos negaram. Amigos, amigos, mas negócios a parte! Mas será? Climão! Tudo o que queremos é ver qual look será escolhido por Styles, mas já podemos afirmar que será um hino!
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Desaparecido da mídia desde o final da turnê Live On Tour em julho do ano passado, Harry Styles chamou atenção ao ser flagrado saindo de uma boate luxuosa em Miami. Apesar do ambiente descontraído, a expressão do ex integrante da boyband mais famosa do mundo não estava das melhores, como logo foi notado por suas fãs que já criaram diversas teorias sobre o humor do astro no Twitter. É que Harry assustou as fãs ao aparecer com cabelos bagunçados, olheiras, barba por fazer e a ausência do sorrisinho sempre educado. Parece que a festa não foi muito boa, né? Solteiro até que se prove o contrário desde o término com a modelo Camile Rowe, Harry evitou holofotes sob a justificativa de estar focado na produção de um novo álbum. A julgar pelo estado de espírito dele, é certo afirmar que podemos esperar muitas músicas tristes nessa nova era.”
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Enquanto as manchetes se acumulavam nos jornais voltando a noticiar desenfreadamente o seu nome, Harry Styles mantinha-se alheio aos folhetins e entocava-se no conforto de sua casa de uma maneira que contrastava diretamente com o que se esperava dele: de cabelos desgrenhados, barba pinicando, com remelas nos olhos, uma crosta de saliva grudada na boca suja e usando um pijama velho e maltrapilho assinado por ninguém em especial. Suas fãs que amavam encher a boca para dizer que o conheciam muito bem certamente teriam uma síncope ao ver aquela cena “o Harry que eu conheço deve usar roupas finas até para dormir, ele respira moda”, mas a verdade é que ele estava pouco se importando com a moda… Naquele momento, pelo menos.
Deitado na cama, Harry encarava o teto sem realmente prestar muita atenção no gesso e no lustre que refletia a luz do sol que adentrava timidamente pelas cortinas semi abertas. Uma brisa leve da janela esvoaçava seus cabelos bagunçados, mas Harry não se incomodou em retirá-los do rosto. Estava apático, sentia-se cansado demais até mesmo para levantar e tomar um banho mesmo sabendo que estava há horas mais do que precisando de um.
- É isso, Harry Styles, você PRECISA reagir - A porta do quarto foi aberta sem cerimônias e Harry resmungou assustado quando Jeffrey Azoff adentrou o cômodo com impaciência.
- Me deixe em paz… - Harry respondeu com a voz engrolada.
- Não, não vou deixar em paz, sabe por que? Porque esse quarto FEDE! - Jeff respondeu energicamente abrindo as cortinas com força fazendo com que Harry fechasse os olhos em uma careta com o excesso de claridade. - VOCÊ FEDE!
- Foda-se - Harry resmungou tapando o rosto com a mão.
- Resto de comida em cima da cama - Jeff ia dizendo enquanto retirava uma embalagem com nachos da cama do cantor, colocando direto em um saco de lixo que trazia nas mãos - Garrafa de vinho… E… É sério isso, Harry, de novo? - Jeff apontou para um estojo de metal que estava aberto com resquícios de um pó branco por cima.
Harry não respondeu e Jeff nem tampouco precisava de uma resposta para saber que ele tinha se drogado novamente. Simplesmente recolheu o estojo de metal e o colocou direto na sacola do lixo. Depois de ter recolhido toda a sujeira de cima da cama sem o menor sinal de movimentação por parte de Harry, Jeff deixou a sacola de lixo fechada no chão e foi em direção ao banheiro sem dizer nada. Harry até gostou do silêncio, achou que poderia arriscar um cochilo, mas seu momento foi interrompido quando começou a engasgar com uma quantidade exorbitante de água gelada que era atirada em seu rosto.
- Eu disse… CHEGA! - Jeff gritou ao esvaziar a água do balde na cabeça de Harry - Levanta, AGORA!
- Satisfeito agora? - Harry ergueu as duas mãos anunciando sua presença do topo, descendo lentamente as escadas sendo observado por Jeff que tinha o celular nas mãos. Com os cabelos molhados, a barba devidamente feita e os dentes escovados, Harry se sentou em uma das poltronas em frente a Jeff, mas nem toda colônia da Gucci do mundo era capaz de camuflar o cheiro de álcool e cigarro que ainda estavam incrustados na alma dele.
- Parcialmente. Coma isso - Jeffrey disse estendendo uma bandeja que estava em cima da mesa de centro e Harry sentou-se no chão beliscando um pedaço minúsculo de uma torrada.
- Estou sem fome.
- Problema seu, você vai comer - Jeffrey respondeu taxativo.
- Sabe, quando eu te contratei, era para ser meu agente musical e não meu padrasto. Dessa forma vão acreditar que o chefe é você e não eu… - Harry comentou num tom amistoso, mas Jeff não sorriu.
- Você está achando que isso aqui é uma brincadeira, é isso? Eu tô com cara de quem tá achando engraçado?
- Jeez, Jeff, calma, pega leve, nem amanheceu direito…
- São três e quarenta da tarde, Harry. Pegar leve? Você teve um porre ontem, você usou de novo…
- Cara foi só um pouco, eu só queria relaxar, eu ando estressado e você sabe disso…
- Quantas desculpas mais você vai dar até perceber que tem um problema real acontecendo Harry?
- Jeffrey, sério, como eu disse, você é meu agente…
- Acorde, Harry Styles! Eu sou a única pessoa que não saiu do seu lado ainda! Onde estão Claire, Sarah, Mitch? Seus amigos de infância já não vêm mais te visitar, Robert, Pierre e …
- Não fale esse nome perto de mim! - Harry se apressou em dizer como se tivesse sido eletrocutado, o coração reagindo imediatamente ao ouvir o nome dela.
Jeffrey respirou fundo e pela primeira vez naquele dia olhou para Harry sem traços de dureza, apenas o encarou com olhos afetuosos e preocupados que somente um amigo verdadeiro poderia ter e foi justamente esse olhar que mais incomodou Harry, que se sentiu um verdadeiro fracasso por estar visivelmente desapontando alguém que amava. Estava virando costume desapontar as pessoas.
- Até quando você vai levar a vida dessa forma? Já tem meses nisso… Você não está bem e isso é visível, mas ao invés de se afundar ainda mais, por que não tenta dar a volta por cima? Focar na produção do seu álbum?
- Estou sem inspiração, Jeffrey. Desde que eu e terminamos não escrevo mais nada.
- Perfeito, aproveite o momento para canalizar suas emoções para a escrita, tenho certeza que ai dentro tem alguma coisa muito forte precisando ir para fora.
- Não tem nada aqui… - Harry mentiu.
- Então por que eu não posso falar o nome de ?
- Eu já disse que eu não quero saber…
- Chloe!
- Pare, Jeffrey!
- Chloe, Chloe, Chloe, CHLOE!
- PARA DROGA QUE INFERNO! - Harry levantou em um rompante fazendo com que a bandeja cheia do café da manhã caísse no chão sujando tudo. Jeffrey permaneceu impassível.
- Você precisa limpar a bagunça que fez, ninguém pode fazer isso por você.
- Como se eu nunca tivesse limpado um chão antes - Harry bufou largando-se na poltrona novamente, olhando com desgosto para o porcelanato preenchido por farelo de torradas e suco.
- Eu estou falando da sujeira aí dentro de você.
Harry se sentiu angustiado pela forma como Jeffrey soltou sua última sentença e imaginou que era exatamente esse o efeito que o amigo esperava obter. Recolhendo o celular e uma mochila, o agente levantou-se do sofá já rumando para a porta de saída sem esperar que Harry o conduzisse por educação.
- Preciso ir, tenho que ajeitar as coisas com a equipe do Marketing, espero que você tenha um bom dia.
Restou apenas o silêncio de sua mansão vazia quando Jeffrey saiu e Harry passou incontáveis minutos pregado no chão sem encontrar motivação o suficiente para começar a limpar a bagunça que tinha feito… No chão e na sua própria vida. Evitava pensar em como tinha se deixado chegar até aquele ponto porque certamente entraria em um looping de autoflagelação sem fim e não tinha muita certeza do que encontraria e nem se teria forças para lidar com tudo que deixou acumular.
Para muitas pessoas, ele era um rapaz educado, gentil, bondoso e com coração generoso. Nunca tinha sido flagrado em episódios comprometedores e nunca teve sua índole vinculada com assuntos polêmicos como a maioria das celebridades da sua idade. Parte disso dava-se pelo fato de ter tido sua vida perfeitamente e milimetricamente gerenciada pela equipe da Modest, responsável por sua carreira nos tempos da finada One Direction, na época de boyband tinha medo de ser o causador de discórdia ou de prejudicar a banda se fosse noticiado fazendo alguma coisa considerada errada como… Usar drogas.
Depois de ter vivido uma vida tão exposta com todos os seus passos flagrados por segundo, Harry aderiu uma áurea de mistério em sua carreira solo. Fazia poucas aparições públicas e somente quando o necessário, concedia poucas entrevistas, selecionava muito bem as campanhas que iria dar a cara e manteve o quanto possível sua vida pessoal e seus relacionamentos fora do radar da mídia. Tinha se acostumado a não entrar em redes sociais e a não procurar pelo que diziam a respeito dele, precisou fazer dessa forma para evitar as inúmeras crises de ansiedade e os sintomas de depressão que começaram a aparecer todas as vezes que se importava demais em ser aceito.
Ser aceito. Ser amado. Era isso o que Harry queria, conseguir agradar a todos, suprir todas as expectativas, não ser o alvo de críticas e nem o responsável por decepcionar a imagem que tinham dele. Sabia que isso não era muito saudável e tinha como o sonho de vida não dar a mínima para a opinião alheia… E talvez por isso tenha acumulado tanta coisa dentro de si explodindo mesmo que internamente cedendo as pressões… E embora a mídia não visse isso, embora suas fãs não fizessem ideia do que realmente estava acontecendo, Harry Styles estava afundando em suas próprias expectativas e arrastando todos a sua volta.
A vítima da vez era .
“@cherryisreal: Se esse tweet tiver cinco mil likes eu faço uma thread mostrando de uma vez todas as evidências que provam que Cherry é real”
Depois de limpar todo o chão gastando mais tempo do que o necessário na atividade, Harry fez aquilo que só fazia quando estava no ápice do tédio: checou as redes sociais, a começar pelo Twitter. Um em particular lhe chamou atenção já que tinha sido mencionado nele centenas de vezes naquela manhã. Estava acostumado a ver conteúdo de shippers seus com diversos outros artistas, afinal, tinha vivido um verdadeiro inferno com as Larry Shippers que insistiam em dizer que sua relação com Louis Tomlinson, parceiro de banda, tinha sido um romance tórrido e escondido. Estava acostumado, mas não significava dizer que não mexia com seu coração, ainda mais com tudo sendo tão recente se tratando dela.
O tweet de Cherryisreal tinha mais de 30 mil likes e uma continuidade cheia de detalhes que teoricamente provavam seu argumento. Movido pelo bichinho da curiosidade e pelo pouco ou nenhum apreço que tinha a própria sanidade, Harry fez a linha masoquista e clicou nos detalhes para ler mais.
@cherryisreal: Primeiramente, vamos a contextualização para quem não está familiarizada com o ship: é uma estilista e empresária francesa, fundadora e diretora executiva da , grife que ela mesma desenvolveu desde que tinha 14 anos e costurava as próprias roupas. Lenda.
Anexo no twitter estava um vídeo editado de Chloe com vários cortes dela elaborando os desenhos das peças, fazendo prova dos tecidos, cortando, costurando e modelando. Harry sorriu fino ao perceber como sempre admirou o quão concentrada ela era no seu trabalho, desde cedo sabendo exatamente o que queria ser.
@cherryisreal: Chloe e Harry se conhecem desde crianças, Chloe se mudou com a família para Holmes Chapel quando tinha apenas sete anos e é a irmã mais nova de Pierre, que nós já conhecemos muito bem e é melhor amigo de infância do Harry.
Harry raspou com o tênis no cimento quando tentou chutar a bola mais uma vez. Não era muito bom em futebol, mas queria valorizar o presente que tinha ganhado no seu aniversário de nove anos. Seria mais interessante se tivesse amigos para brincar, mas todos eles estavam ocupados demais com outras coisas para ensiná-lo a ser bom numa brincadeira que ele claramente não dava conta.
Sua diversão consistia em chutar e ir buscar a bola completamente sozinho e assim o fez por aproximadamente trinta minutos, até encher o saco e sentar na calçada com as mãos nos joelhos. Não queria deixar a mãe triste sabendo que não tinha muitos amigos e nem também queria brincar com os amigos mais velhos de Gemma, portanto, apenas ficou sentado na calçada esperando o tempo passar até ser aceitável voltar para casa.
Acordou dos seus devaneios quando um carro freou na garagem da casa em frente a sua, uma que estava sem habitantes há mais de um ano. Com curiosidade, Harry ergueu o rosto e viu uma família sair do carro cheia de caixas, conversando alto.
- Eu quero o quarto maior! - Uma menininha de cabelos castanhos saiu em disparada, esganiçada.
- Não! O quarto maior é meu! Você é pequena - Um menino, mais ou menos da idade de Harry, gritou em resposta.
- O maior quarto não é de nenhum dos dois, é do papai e da mamãe - O pai das crianças falou risonho, cessando a discussão.
Harry observou a cena com curiosidade e interesse, já animando-se com a perspectiva de ter novos vizinhos na rua e com crianças para brincar com ele. Quando os pais entraram na casa para desencaixotar, o casal de irmãos começou a brincar no jardim, tudo que o irmão mais velho fazia, a menor imitava com verdadeiro fascínio. Ansioso por ser notado, Harry levantou-se como quem não queria nada e voltou a chutar a bola, seu objetivo era chutar na casa ao lado e “sem querer” ter que ir buscar para apresentar-se aos possíveis novos amiguinhos.
Trocou alguns olhares amistosos com o menino chamado Pierre, que parecia igualmente curioso e interessado em se apresentar e participar da brincadeira, mas sem dizer nada, voltou a chutar despretencioso… Até que um chute em particular foi forte demais.
- AI! AI!
A menininha chamada caiu no chão com a bolada na cabeça e Harry arregalou os olhos, ficando vermelho feito um pimentão.
- Me desculpe! Me desculpe!
- MAMÃE!!!!
- Ei, a minha irmã! - Pierre resmungou e Harry desesperou-se no pedido de desculpas.
- Não foi minha intenção, de verdade, me desculpe, posso te ajudar?
- NÃO! - A menina abriu a boca e desatou-se a chorar em voz alta, deixando Harry triste.
- O que foi? O que houve? - A mãe apareceu na porta de casa preocupada.
- ELE TENTOU ME MATAR! - gritou dramática.
- Foi sem querer, meu nome é Harry, Harry Styles, moro na casa da frente, eu estava só brincando, sem querer chutei a bola e bateu nela e…
- Calma, tudo bem, querido. - A mulher consolou o garoto que parecia a beira do choro. - , ele não fez por mal, tudo bem? Vamos para dentro…
Quando entrou aos prantos com a mãe, Pierre mordeu os cantos da boca, ciscando o chão meio timidamente.
- Me desculpe por sua irmã, eu não tive intenção… - Harry começou novamente.
- Tudo bem - Pierre respondeu, estendendo a mão - Pierre, prazer.
- Harry! - Harry aceitou o cumprimento, aliviado - Vocês tem sotaques estranhos, de onde são? -Perguntou curioso.
- Da França.
- Uau, que legal, eu nunca saí da Inglaterra. - Exclamou com assombro e Pierre riu.
Preocupado que o assunto acabasse e ele voltasse a ser o Menino Que Deu Uma Bolada Em , Harry ofereceu a bola para Pierre:
- Quer brincar?
Parecendo ter sido transportado diretamente para o passado, Harry recordou com nostalgia de como conheceu Pierre e e de como a menina tinha o odiado desde o primeiro dia que pôs os olhos sob ele. Não apenas pela bolada, mas também porque Harry e Pierre tinham se tornado praticamente inseparáveis desde aquele dia e, como uma boa garota ciumenta, se sentiu deixada de lado pelo irmão, criando uma antipatia completamente gratuita por Harry, que até tentava se aproximar, mas sem sucesso. Com o passar dos anos, divertiu-se em provocar a irritação de , ele mesmo passando a achá-la uma menina irritante, mimada e insuportável.
Eram poucas as pessoas que conseguiam tirar Harry Styles do sério, mas era a primeira delas.
O tweet tinha uma foto super antiga de Harry junto com Pierre e Chloe no aniversário de quinze anos do cantor, da época que ele ainda tocava na White Eskimo. Com os cabelos cheios e ondulados, Harry tinha um sorriso enorme no rosto enquanto Chloe fazia uma careta desgostosa, bem característica de alguma palhaçada que Harry provavelmente tinha feito para irritá-la. Aquela foto tinha sido postada por Anne Styles há algum tempo e desde então o fandom começou a especular da relação com Chloe, já que apesar de se conhecerem há séculos, não foram sempre muito amigos… Na verdade, meio que se odiavam e já tinham superado isso… Ou talvez estivessem voltando aquela fase, Harry pensou com tristeza.
Aquela foto trouxe as memórias de forma vívida para aquela época, que embora já fizesse tantos anos, de certa forma ainda parecia que tinha sido o dia anterior…
- Pierre! Que bom que você veio, você já está atrasado, achei que não viesse mais - Harry sorriu abrindo a porta dando passagem para que o melhor amigo adentrasse a casa que já estava preenchida com risadas e zoações.
Assim que Pierre entrou, Harry percebeu a figura hesitante e desconfortável que se escondia atrás do amigo e sorriu mordendo o lábio inferior quando revirou os olhos.
- Por que está sorrindo assim para mim? Pode parar.
Harry gargalhou e quando Chloe fez menção de entrar na casa, barrou a passagem dela fazendo força na porta de modo que deixasse a brecha apenas possível para passagem de sua cabeça.
- Corrija-me se eu estiver errado, mas não foi a senhorita que disse que… como foram as palavras mesmo? - Harry fingiu pensar com deboche - Ah sim, que nem morta viria para minha festa de aniversário?
Chloe revirou os olhos e bufou, remexendo-se mais do que o necessário num tremelique nervoso.
- Pois saiba que se dependesse de mim, nem aqui eu estaria…
- Bom, então você pode dar meia volta e ir para sua casa - Harry respondeu numa provocação risonha - É bom que sobra cheesecake de cereja.
Chloe vacilou em sua expressão por um momento e Harry se deliciou com a imagem da garota incerta entre continuar implicante e baixar a guarda já que cheesecake de cereja era a sobremesa favorita dela.
- Cheesecake de cereja? - Chloe perguntou com a voz um pouco menos arredia.
- Sim, da W Mandeville.
- Você encomendou de propósito só porque eu disse que não vinha? - Chloe exclamou esganiçada e Harry riu perversamente quando ela tentou chutar a porta.
Continuaram naquela implicância por mais algum tempo até que Pierre voltasse para a entrada dando por falta da irmã.
- … Qual a palavrinha mágica para eu deixar você entrar? - Harry ia dizendo.
- Harry, por favor, deixa de ser idiota, eu…
- Nananinanão, a palavra mágica é…
- Tá bom, Harry, tá bom, você já torturou o suficiente - Pierre disse intervindo para abrir a porta. Harry suspirou teatralmente, mas o sorriso ainda no rosto.
- Que pena, ela estava quase cedendo.
- Nos seus sonhos, seu idiota! - Chloe disse marchando para dentro da casa emburrada.
- Pega leve você também, Chloe, é aniversário dele - Pierre ponderou e a irmã se contentou a dar língua para Harry que apenas lançou-lhe um beijo no ar.
- Sim, é meu aniversário. E cadê meu presente, Chloe?
- Não tem presente, seu presente é a minha ilustre presen…
- Bom, então pode ir embora!
- Harry! - Pierre perdeu a paciência - Nossos pais saíram e disseram que eu só poderia vir se a Chloe viesse junto, se você irritar a minha irmã eu vou embora!
Como em todas as vezes, Harry ergueu os braços indicando uma trégua parando de implicar momentaneamente com a menina que já estava vermelha feito pimentão.
- Sem presente, mas pelo menos você pode ser educada e dar um abraço no aniversariante? - Harry sorriu de orelha a orelha abrindo os braços de um jeito amável e Chloe soltou um muxoxo desconfortável olhando para o irmão como se pedisse apoio, mas Pierre apenas deu de ombros comunicando que o pedido era até razoável. Suspirando resignada, Chloe aproximou-se para abraçar Harry Styles como se ele tivesse uma doença infecto contagiosa.
Harry sorriu com a lembrança, se dissessem para aqueles dois adolescentes implicantes tudo o que viria acontecer no futuro, jamais acreditariam….
Maldito Pierre que tinha publicado aquela foto horrorosa deles na Riviera Francesa, uma das últimas viagens que Harry fez em família antes da vida ficar totalmente impraticável com a correria da One Direction. Sim, eles tinham muita história… E aquela foto também, já que algo aconteceu naquela viagem que, no que dependesse de Harry e Chloe, permaneceria em segredo para sempre.
Harry terminou de vestir a camisa e Chloe amarrou os cabelos em um coque, retirando o suor do rosto.
- Nós nunca vamos contar isso para ninguém, certo? - A menina checou pela enésima vez.
- Não, Chloe, não vamos. Você acha que eu tenho algum orgulho de ter feito isso com você para ficar me exibindo por ai?
- Ei! Pois deveria! Eu é quem teria motivo de ter vergonha!
- Sei, vergonha, não era isso que estava parecendo dez minutos atrás… - Harry zombou recebendo um tapa ardido no braço.
- Eu tô falando sério!
- Chloe! Relaxa. Mesmo que alguém soubesse, ninguém iria acreditar… A gente se odeia, certo?
Chloe ponderou por alguns minutos, perdida na súbita intensidade dos olhos verdes do garoto. Piscou algumas vezes e gaguejou ao responder.
- Certo, certo…
Apesar de não ter tido um relacionamento muito bom com Chloe ao longo da infância e adolescência, sempre marcados pelas brigas de gato e rato, Harry nunca negou o tanto de admiração que tinha pela competência e pelo foco de Chloe em alcançar seu objetivo. Ele se considerava uma pessoa sempre calma, apenas com o excedente de existir duas pessoas no mundo capazes de tirar sua paciência: Zayn Malik, seu antigo parceiro de banda e Chloe , que para todos os efeitos era uma pedra no sapato, mas isso não significava dizer que não valorizava o quão talentosa, visionária e esforçada que ela era. Lembrava de diversas vezes ter visto Chloe trancafiada num quarto cortando e costurando tecidos enquanto todos se divertiam.
Harry suspirou. É claro que estariam falando sobre isso.
- Harry, meu rapaz, anime para a vida! - Pierre disse chutando a canela de Harry que estava sentado de qualquer jeito na poltrona da sala.
- Ela simplesmente terminou comigo. Disse que não queria mais, que não estava feliz e foi embora… - Harry se frustrou, chocado, triste e incrédulo. - Depois de todos os esforços que eu fiz, ela simplesmente nem ligou. Na nossa primeira crise, me deu um pé na bunda e pronto, não quer mais saber.
- Harry, você acha que a Camile é a mulher da sua vida? Em algum momento, seja sincero comigo, em algum momento desse relacionamento você realmente achou que ela era a mulher da sua vida? - Pierre perguntou sério e Harry pôs-se a pensar.
- Eu gostava de estar com ela… Eu gosto dela.
- Você não respondeu minha pergunta.
- Eu não sei… Nunca parei realmente para pensar nisso nessa seriedade. - Harry confessou sincero.
- Se serve de alguma coisa, eu, seu melhor amigo, nunca achei que vocês dois fossem ficar juntos para sempre.
- Não importa… O que importa é que está doendo agora. - Harry deitou no sofá e abraçou uma almofada, tristonho.
- Harry! Sua turnê acabou, você está de férias, eu estou em L.A! Nós vamos sair, nós vamos nos divertir!
- Eu não estou no clima para isso… Mesmo que seja apenas nós dois.
- Na verdade, não somos apenas nós dois… - Pierre começou e Harry franziu a sobrancelha.
- Como assim? Quem mais você trouxe para L.A?
A resposta veio através da porta do banheiro que abriu dando passagem para que uma mulher saísse vestida num roupão branco felpudo com uma toalha torcida na cabeça. Quando o olhar de Harry cruzou com o da mulher, ela sorriu irônica dando um “tchauzinho” no ar, ao que ele bufou frustrado afundando o rosto na almofada.
- Oi, corninho! Soube que é o mais novo solteirinho do pedaço.
- Eu não acredito que você trouxe a Chloe para estragar nossas férias! - Harry exclamou abafado com o rosto contra a almofada.
A sequência de fotos da thread tinha sido tirada no aniversário de Chloe e Harry lembrava de ter trocado farpas com a estilista durante todo o momento. Recordar daquele dia que parecia ter sido há anos fez com que sentisse quase que saudade da época que tudo entre eles era uma implicância leve, e divertida mesmo que jamais fossem admitir que adoravam aquela frequência de provocações.
Cherryisreal fez pelo menos uma sequência de cinco tweets só mostrando “evidências” das fãs para comprovar que estiveram juntos mesmo em fotos que não eram flagrados juntos. Como o cabelo do Harry ao fundo de alguma foto de Chloe, ou a voz dela em algum dos vídeos em que ele estava, ou alguma fã que tinha tirado foto com os dois separadamente no mesmo dia e no mesmo lugar por minutos de diferença. E todas elas estavam certas, eles estavam mesmo juntos nesses dias… Mas não romanticamente.
@cherryisreal: Eles estavam tão próximos que a Chloe desenvolveu um editorial de moda todo com o Harry, quem não lembra desse ensaio icônico que enlouqueceu o fandom dele usando glitter na cara? Foi o começo da era unha pintada, renda e babadinhos.
Harry sorriu para a foto do seu ensaio com Chloe. Tinha feito isso para ajudar a marca a se reinventar e para desenvolver um estilo que estivesse combinando com sua nova fase. Tinha sido uma época gostosa, parando para recordar, como ele e Chloe tinham conseguido colocar suas “diferenças infantis” de lado para fazer algo juntos. E isso realmente tinha aproximado eles…
As fotos da viagem tomaram cerca de três outros tweets e Harry sentiu seu coração pesar por reviver momentos tão preciosos daquela viagem especial ao lado de Chloe. Se parasse para pensar, aquele tinha sido seu último momento pacífico depois de toda aquela merda acontecer e se encontrar na situação que se encontrava no momento.
Harry não teve estômago para ler o resto da thread porque estava achando doloroso demais acompanhar momentos da sua vida através das palavras especulativas das fãs. Elas especulavam e apesar de errarem feio em muitas teorias, em outras até acertavam. Como no anel de Harry que Chloe já foi vista usando ou como o colar de pérolas dela que ele já tinha usado algumas vezes. As peças de roupa em comum já nem eram mais evidências e sim um fato: havia muito de Chloe na forma de Harry se vestir, ela praticamente construiu o novo estilo dele.
Pulou para alguns comentários das outras fãs em resposta a thread e viu coisas como “Isso não prova absolutamente nada, ele é casado com o Louis e todo mundo sabe disso”, ou “Meu Deus vocês fanficam em cima de absolutamente tudo, até com uma amiga de infância, todo mundo sabe que a Chloe tem namorado! Aqui o perfil dele pra quem não sabe @gastonbg ele é artista plástico e eles fazem um casal lindo!”, “Essa thread é uma piada todo mundo sabe que o Harry é gay e a Chloe é lésbica”, “Bonito casal, pena que não sobreviveram ao Harry trocar a marca da namorada pela exclusividade da Gucci, dinheiro em primeiro lugar”, “Li tudo isso esperando vc falar da , mas até agora nada, eu sou uma piada para você?”
E com isso, Harry bloqueou a tela do celular e jogou a cabeça para trás. Sentia como se tivesse perdido metade do seu dia apenas lendo aquela thread e só naquele momento conseguia compreender como elas tomavam tempo, parecia que uma vez imerso dela era impossível sair até terminar. Não sabia de onde vinha aquela tendência masoquista de viver o próprio sofrimento diversas vezes em repetição alimentando-o da pior forma possível, mas sabia que não se sentiria bem em ler aquela publicação e só depois de ter o coração reduzido a um caroço de azeitona é que conseguia entender o porquê.
podia até ser uma mimadinha rica, patricinha privilegiada e socialite cheia de frescura, mas o que Harry era além de um cara rico e cheio de caprichos de pop star? Estava, ou não estava em uma mansão luxuosa que abrigaria tranquilamente pelo menos cinco famílias, sendo que morava completamente sozinho? Tinha ou não tinha, diversos carros na garagem? Podia mesmo se dizer tão humilde assim se tinha uma série de restrições em seus shows por pura… frescura? Harry não podia falar de Chloe, ele também não era tão melhor assim.
Mas a verdade é que sentia falta dela.
Sentia falta do seu cheiro cítrico e fresco que tinha notas de bergamota, mandarina, laranja e flor de jasmin, e de ter aprendido a decifrar perfumes por causa dela. Sentia saudade de falar sobre como preferiam filmes do que livros, tecidos e tendências e como todas aquelas coisas ficavam tão mais bonitas ditas no sotaque dela. E como sentia falta do sotaque dela… Da voz que fazia sons engraçados toda vez que ela carregava a pronúncia de palavras em francês. Sentia saudade do café e dos croissants, das risadas que davam juntos…
E perceber isso era incrivelmente doloroso, porque sentir a falta dela também vinha com a realização de algo que não havia se dado conta, embora por todo aquele tempo estivesse se revelando nos pequenos e mínimos detalhes sórdidos daquela relação, era tão natural que nem havia necessidade de falar sobre, mas aceitar a realidade só fazia com que tudo se tornasse ainda mais doloroso: nas pequenas coisas, nos silêncios e nos momentos mais singelos foi por que ele se apaixonou. Por quem, no fundo, sempre esteve apaixonado.
Chloe e Harry
E, por Deus, como gostaria de tão ter sido o arrogante filho da puta que estragou tudo ao perceber isso tarde demais.
Harry abriu a porta quando seis funcionárias da Gucci amontoaram-se na porta de sua casa pontualmente às 15h. Engoliu todo seu cansaço e toda sua indisposição e sorriu simpático quando elas entraram já tagarelando sobre a prova de roupas para o tão esperado look do MET Gala.
Fingiu prestar atenção em tudo o que diziam e assentiu educadamente em todas as vezes que pediram sua opinião para alguma coisa, mas a verdade é que se sentia completamente desmotivado com qualquer coisa que remetesse a ocasião do baile, principalmente na prova de roupas.
- Outch! - Harry exclamou baixinho quando, por acidente, uma das funcionárias o espetou com o alfinete.
- Desculpe, Sr Styles, me desculpe! - A mulher implorou.
- Não, tudo bem, eu que peço desculpas, devo ter me distraído… - Harry sorriu educado, mas em um estado um tanto quanto catatônico ao ser acometido por uma espécie de dejavu.
- Outch! - Harry exclamou exageradamente quando a ponta da agulha que Chloe manuseava encostou levemente em seu braço.
- Não me venha com “Outch!” eu não te fiz nada, a agulha mal encostou no pêlo do seu braço! - Chloe resmungou e Harry prendeu o riso ao inclinar a cabeça para baixo para observar a expressão da estilista que estava compenetrada na medição do tecido no corpo dele.
Chloe estava de olhos semicerrados com toda concentração do mundo tentando ser o máximo detalhista o possível enquanto seus óculos aro de tartaruga escorriam pela ponta do nariz suado. Os cabelos loiros estavam presos de qualquer jeito em um coque que deixava vários fios bagunçados a solta, mas, ainda assim, Harry tinha que admitir que ela ficava ainda mais bonita daquela forma: compenetrada no foco do seu trabalho. De todas as qualidades de Chloe, aquela era a mais saliente…. Isso e sua habilidade de tirá-lo do sério por qualquer motivo.
- Não acredito que compactuei com isso - Harry respirou para não transparecer na voz seu ar de riso - Emprestar meu corpo para você me mutilar.
Chloe balançou minimamente a cabeça, crispando os lábios.
- E eu não acredito nisso… Gastando meu tempo, meus tecidos e minhas habilidades com você.
- Por favor tenha cuidado com isso! - Harry esganiçou-se quando Chloe se abaixou para pegar a tesoura. Fazendo um tremelique totalmente proposital, ele fingiu medo.
- Fica quieto, caralho! Se você ficar se mexendo muito eu não vou conseguir medir direito!
- Não chegue perto do meu corpinho com isso!
- Harry, cala a boca! Você está me desconcentrando! - Chloe bufou chateada segurando a tesoura.
- Humpf… - Ele resmungou de fingimento, mas se calou ao ver que ela estava realmente se entufando. Chloe voltou a fazer as medições, praguejando baixinho enquanto Harry se segurava para não rir.
- Mimado, irritante, ingrato! Quer dizer, só porque eu preciso não significa que eu tenha que me humilhar para isso, sabe? - Chloe ia dizendo de maneira quase inaudível e Harry franziu a sobrancelha quando ela começou a apertar mais do que o necessário.
- Ei, eu não estou te humi…
- Cala a boca que eu não tô falando com você! - Chloe exclamou emburrada olhando para cima com raiva e Harry arregalou os olhos se calando. O remorso pela provocação bateu forte quando ela voltou a costurar com raiva, menos delicada e precisa do que o normal -... Só porque é uma celebridade tá dando ataque de estrelismo e…
- Chloe, você está apertando… - Harry tentou falar, mas ela não deu atenção, continuando a enfiar vários alfinetes, pela primeira vez realmente assustando o rapaz - Me desculpe, eu estava só brin…
E foi então que, no descuido, um dos alfinetes realmente fincou na pele de Harry que sentiu a pontada ardida.
- OUTCH! - Exclamou quando o filete de sangue sujou o tecido branco.
Chloe piscou longamente, chocada demais para dar-se conta do que tinha acontecido. Enquanto Harry dava alguns pulinhos de dor, ela permaneceu estática, sem acreditar que tinha machucado alguém pela primeira vez. Todo o estresse pareceu ter diluído quando a ficha finalmente caiu.
- Ai, Harry, me desculpa, me desculpa! Deixa eu ver…
- Ai, ai, você me mutilou, ai ai!!!
- Sr. Styles? Sr. Styles? Harry…
- Hãn? Ah, sim… Sim, está tudo bem… Eu só… Vocês podem me dar licença por um minuto? - Harry perguntou dirigindo-se as funcionárias da Gucci com um sorriso amarelo.
Sem nem dar tempo delas responderem qualquer coisa que fosse, Harry saiu da sala e encaminhou-se com ligeireza até a cozinha, abrindo a geladeira de qualquer jeito para pegar um copo de água bem gelada. Respirou fundo ao beber todo o líquido do copo e um cheiro característico invadiu as narinas fazendo com que seu coração acelerasse.
-Ellis? - Harry chamou e logo a funcionária apareceu, saindo da área de serviço.
-Oi, Sr Styles!
-Que cheiro é esse? - Harry perguntou inutilmente porque já sabia exatamente do que se tratava.
-O Sr está recebendo visitas hoje, então resolvi fazer aquele cheesecake de cereja que estava se tornando corriqueiro nessa casa. - Ellis respondeu prestativa e Harry apenas suspirou fundo, visivelmente frustrado. - Alguma coisa errada?
-Não, de forma alguma… Ellis, me faz um favor? Leva esse doce para as mulheres que estão na sala e as dispense educadamente, diga que não estou me sentindo bem e que marcamos outro dia, tudo bem? Obrigado.
-Fiz mal? - Ellis perguntou preocupada e Harry sorriu tocando suavemente no ombro da mulher.
-Não, Ellis, tá tudo bem.
Harry largou-se em uma das cadeiras da cozinha e passou as mãos pelo cabelo, completamente frustrado. Aquilo estava ficando praticamente insustentável, não havia nada em seu dia que não o lembrasse de Chloe, até mesmo o esforço para não pensar nela já era um pensamento inevitável. Tentando distrair-se enquanto no outro cômodo Ellis despistava as funcionárias da Gucci, Harry pegou o celular para passar as inúmeras mensagens ignoradas e checar as redes sociais de um jeito despretencioso.
Uma foto de Adam abraçado com Desmond chamou sua atenção e atingiu em cheio no peito.
Harry saiu do bar a passos largos, se possível fosse, chamas sairiam de todos os orifícios do seu rosto, de tão chateado que estava.
- Ei, ei, cara, calma! - Um rapaz seguiu em disparada, tocando um dos ombros do cantor, que se esquivou.
Harry suspirou fundo.
- Olha, eu não quero descontar nada em você. Eu nem sei quem você é. Meu problema não é contigo, mas por favor me deixa em paz.
- Não, cara, calma, eu sei que a pode ser difícil de lidar, mas…
- Difícil? Difícil? ELA É INSUPORTÁVEL! - Harry gritou angustiado.
- Quem é insuportável, “Arry”? - apareceu na porta do bar, cambaleando.
- Harry, releva, ela tá bêbada, sabe? A gente sabe que você é gente boa - O rapaz falou.
- Qual seu nome?
- Adam, cara, me desculpe nem me apresentei. E aquele segurando a bêbada lá é o meu namorado, o Desmond. E olha, nos somos amigos da , eu só quero te dizer que quando você conhecer ela um pouco melhor…
Harry bufou.
- Escuta, Adam, eu conheço a desde que ela era uma menininha que andava pelo bairro só de calcinha - Harry disse alto o suficiente para ouvir.
- Ei! VOCÊ NUNCA ME VIU DE CALCINHA! - Ela soltou um mini arroto e depois tocou na boca - Ops, lembrei que você me viu sem…
Harry arregalou os olhos e deu um tapa na própria testa quando Adam levou a mão a boca, chocado.
- , você está bêbada, completamente bêbada! - Desmond dizia tentando equilibrar a amiga.
- O irmão dela está na minha casa, como eu vou aparecer com ela assim?
- Relaxa, a gente leva ela pra casa… - Adam começou e Harry semicerrou os olhos, desconfiado. Por mais que parecessem muito amigos de e fossem gays, ele não os conhecia e por mais ódio que sentisse da mulher no momento, não confiava a ponto de deixá-la vulnerável perto de desconhecidos.
Com raiva, Harry rumou até o local onde estava, mas ela o afastou afetada. Sem paciência, ele respirou fundo e mesmo sob protestos de gritos, a carregou de ponta a cabeça com as mãos nos joelhos dela colocando-a por cima de seu ombro. Ao perceber que sua saia esvoaçava, puxou a barra para baixo e tapou sua calcinha.
- ME POE NO CHÃO, ARRY, ME PÕE NO CHÃO!
- CHATA PRA CARALHO, CHLOÉ, VOCÊ É CHATA PARA CARALHO! - Harry gritou de volta.
- Ei, para onde você vai levá-la? - Adam gritou.
- Para casa! Prazer conhecer vocês. - Harry respondeu emburrado. - A amiga de vocês é uma pedra no meu sapato!
- Pronto, elas já foram embora.
Harry voltou para a órbita com a voz de Ellis e sorriu sem emoção agradecendo silenciosamente a mulher pelo favor. Bloqueando de volta o celular, levantou da cadeira e arrastou-se desanimado até o estúdio, de onde pediu que não fosse incomodado por nada e por ninguém.
Analisando todos os equipamentos e a mesa de som do seu estúdio, Harry pensou em quanto gostaria de estar produzindo no seu novo álbum que sequer tinha um nome. Parecia ter sido há anos e não há meses que tinha escrito as faixas animadas de Lights Up e Watermelon Sugar. Não sabia como iria encontrar forças para produzir qualquer coisa que fosse, mas torcia para não destoar tanto nas outras composições com seu tom tão melancólico e infeliz dos últimos dias. Só não descartaria todas as coisas feitas porque tinham sido músicas muito boas, embora não lembrassem como e quais circunstâncias tinham feito She. Malditos fossem os cogumelos.
Harry sorriu com a lembrança e pensou com nostalgia a respeito do último ano que havia se passado. Se lhe dissessem quantas reviravoltas aconteceriam, não teria acreditado. Todo seu término com Camile, sua aproximação com Chloe, seu relacionamento com … Seu envolvimento com as drogas… Como sua vida tinha girado em função do seus relacionamentos e seus fracassos afetivos. Queria conseguir escrever sobre, mas nem isso parecia ser capaz.
Sem expectativas de que isso fosse render algum fruto produtivo, Harry ligou o computador e começou a remexer em pastas aleatórias gravações de ensaios que costumava fazer. Alguém certa vez lhe dissera para nunca apagar nada, sempre deixar registros porque esses materiais poderiam servir como matéria prima para alguma composição no futuro. Assim sendo, toda vez que entrava no estúdio, colocava coisas para gravar. Revisitando uma dessas gravações, Harry sentiu o coração acelerar ao lembrar com exatidão o dia em que despretenciosamente passou a dedilhar aquela melodia qualquer no violão.
Afinou as cordas do violão e sentou-se confortavelmente nas almofadas no chão do estúdio, dedilhando sem saber exatamente o que. Estava distraído, sem se preocupar com nada e sem ter algo pesando-lhe o coração. Era uma sensação gostosa que estava se tornando costumeira desde que passou a frequentar sua casa…
E pensando nela, sorriu ao sentir o cheiro cítrico invadir o estúdio, sabendo que ela tinha entrado em seu templo antes mesmo de vê-la.
- Tá se escondendo de mim, baby? - A voz de Chloe ecoou baixinho quando ela se ajoelhou para aplicar um beijo delicado na bochecha de Harry, que riu.
- Jamais. E acho tão engraçado quando você me chama assim “baby”, não parece você.
- Não parece a pessoa que tocou fogo nas suas roupas de propósito e nem que colocou detergente na sua comida, você quis dizer - brincou e Harry arregalou os olhos.
- Detergente na minha comida?
- Ops? Eu nunca te contei isso?
- !
- Me desculpa, mas todos os jantares na casa dos meus pais eu aprontava com sua comida, tipo cuspir em seu prato. - confessou culpada e Harry suspirou, fazendo uma expressão resignada.
- Ainda bem que pensando nisso eu sempre troquei meu prato pelo seu quando ia na sua casa.
Foi a vez de boquiabrir-se.
- O QUE?
Harry gargalhou largando o violão quando ela passou a dar soquinhos no ombro dele, segurou-a pelos pulsos e fez com que ela deitasse por cima dele, logo invertendo as posições, deitando-a no chão e imobilizando-a com seu peso, fazendo com que ela cedesse ao riso pelos beijinhos distribuídos por todos os cantos do rosto.
- Eu não acredito que você trocava nossos pratos! - exclamou chocada. - Arrrgh, eu comi detergente!
- E o próprio cuspe - Harry salientou e voltou a beijá-la quando ela fez menção de golpeá-lo novamente.
- Isso não é justo.
- Ah? - Harry riu com gosto - O que não é justo, você tentar acabar comigo e eu dar a volta por cima?
- Sim - respondeu manhosa recebendo os beijos por toda extensão de seu pescoço e colo - Eu que tinha que sair ganhando.
- Mas você já saiu ganhando - Harry respondeu, beijando inocentemente o espaço entre os seios dela, descoberto pelo decote fazendo-a arrepiar - Você me ganhou.
- Grandes coisas - resmungou só por resmungar e Harry soltou um sorrisinho sabendo que ela dizia da boca pra fora.
- Você sabe que é grande coisa sim - Ele disse antes de selar seus lábios aos dela.
Beijar sempre tinha rendido sensações inusitadas para Harry. Fosse na inocência quando se beijaram num desafio ainda quando crianças, fosse nas descobertas da pré adolescência ou nos acordos de “ninguém pode saber” de quando começaram a compreender que sentiam um pouquinho de atração um pelo outro por baixo das implicâncias. Os beijos com ela também foram inusitados já adultos, cientes dos sentimentos mais profundos que começaram a desenvolver um pelo outro mesmo em meio a todo o caos envolvendo entre eles. E ali, naquele momento, beijar sem precisar se esconder, fingir ou fugir, causava sensações inusitadas de uma paz que nunca tinha sentido antes.
- Nós não vamos transar no estúdio de novo, né? - perguntou quando partiram o beijo e Harry riu safado.
- Se você quiser…
- Você não está gravando essa conversa de novo, está?
- Não se preocupe, eu apago.
- Da última vez o Mitch ouviu.
Gargalharam juntos.
Estavam prestes a iniciar outro beijo, ainda entre risos, quando o celular de tocou.
- Ah, ela está retornando minha ligação.
Sorrindo, Harry saiu de cima dela e voltou a dedilhar alguma coisa no violão, vez ou outra olhando-a conversar com a mãe com empolgação.
- Coucou! Tu dors? Oh, j'suis désolée...
Mesmo sem querer, um sorriso cresceu na lateral do seu rosto… Como amava vê-la falar na língua mãe. E como amava tê-la por perto para presenciar isso todos os dias.
Harry pausou a gravação como se o som estivesse perfurando seus tímpanos com facas afiadas. Não conseguia sustentar nem mais um segundo daquilo. Era oficial: estava ficando louco. Chloe estava presente em seu dia-a-dia de maneira tão intrínseca que o que quer que estivesse fazendo, era nela que pensava. Demorou a perceber como em cada parte de sua vida, mesmo a mais insignificante como abrir um guarda roupa e escolher o que usar lembrava ela. E agora até mesmo nas suas composições, no seu estúdio, no seu lugar sagrado ela estava.
- Estou ouvindo - Jeff disse no segundo que completou a chamada, Harry suspirou fundo com o celular na mão, ligando para o agente.
- Estou pronto para limpar… Você sabe, a bagunça. - Harry disse.
- Fico feliz em saber disso. Demorou, mas conseguiu. Como vai fazer isso?
Harry inspirou fundo, abrindo mão de todo seu orgulho para encontrar um pouco de paz.
- Indo para Paris - Decretou - Hoje mesmo se possível.
A decepção nos olhos dela doía mais do que qualquer coisa. Preferia ser golpeado mil vezes do que ser alvo daquele olhar.
- Você realmente precisava fazer isso? - Ela perguntou magoada.
- , por favor não misture as coisas...
- Misturar as coisas? Você acha que isso é sobre você ter me apunhalado pelas costas com a questão da Gucci? Não, Harry, são negócios, é sua visibilidade, é dinheiro, isso eu até poderia entender... Mas olha a forma como as coisas estão acontecendo! Depois de tudo que a gente passou...
- Depois da , você quer dizer?
- Você ainda é obcecado por ela!
- Sou eu, ?
- Você nunca aceitou bem o fato de que nós duas nos apaixonamos. Simplesmente aconteceu, Harry, nunca esteve nos meus planos roubar o alvo da sua obsessão, mas eu achei que isso fosse passado, que nós estivéssemos bem.
- Isso não é sobre .
- Foi você quem colocou o nome dela no meio de tudo isso! Isso não é sobre ela, mas sobre o que você se deixou levar! Drogas, Harry? Nunca pensei que você iria se deixar chegar nesse ponto.
- Não seja tão puritana, , aqui em L.A as coisas são diferentes.
- Diferentes? Quando você vai aceitar que isso deixou de ser diversão para ser um problema? Você não está fazendo isso por diversão e sim para suprir algo. Algo que nem eu, nem nem Camile podemos suprir.
- O que a Camile tem a ver com isso?
- Tudo! Tudo, Harry! Já te ocorreu quanto tempo faz que você não fica sozinho? Que você não está sofrendo por alguém? Você é movido por isso, viciado no drama e em sofrer. Depois de Camile você engatou em uma obsessão por e depois...
- E depois por você? É isso o que você acha que nós somos? Depois de todos esses anos, de toda história que nós temos você vai nos comparar a essa situação?
suspirou fundo, passando as mãos pelos cabelos.
- Harry, me desculpe, mas eu não consigo. Não confio em você. Não na pessoa que você se tornou.
- E quem eu me tornei?
- Alguém que eu não reconheço mais.
Em pensar que toda aquela confusão tinha começado com o fim da turnê e, consequentemente com o fim do seu relacionamento com Camile. O plano de Pierre animá-lo nas férias em L.A trazendo a tiracolo a irmã insuportável que sempre pegou no pé de Harry, levando-o para todas as festas, todas as programações de esbórnia que fizeram com que, em uma das noites, Harry conhecesse e se apaixonasse pela funcionária do bar, .
E em que confusão se meteu quando e começaram a se envolver.
Harry suspirou cansado, tirando o cabelo do rosto. Tinha certeza que seria flagrado com a barba por fazer e o cabelo grande assustaria suas fãs, mas até mesmo para vaidades estava sem tempo e vontade. Não prestou atenção na paisagem da capital francesa enquanto o motorista dirigia até o endereço de . Seu coração acelerado não o deixava pensar em mais nada que não fosse a resolução da confusão em que havia se metido.
Ele desceu do carro cambaleante, certo de que algumas gotas de suor se acumulavam na sua testa, rezando para que nenhum paparazzi flagrasse aquele momento. Parado na soleira da porta de , Harry reuniu coragem para tocar a campainha.
O movimento da porta fez com que o cheiro cítrico adentrasse as narinas de Harry que só então percebeu quão saudoso estava daquele perfume. Seus olhos procuraram pela figura daquela que não saia dos seus pensamentos e quase assustou-se ao vê-la materializada na sua frente. estava diferente da última vez que a vira: os cabelos loiros agora estavam castanhos em sua cor natural, cortados num estilo channel e com uma franjinha que combinava com seu rosto redondo e corado. Se possível fosse, ela estava ainda mais bonita do que nunca.
- Harry? - A voz gutural dela ecoou de forma chocada. Abrindo a porta lentamente.
- Oi, .
Ficaram se encarando por alguns minutos, apenas esquadrinhando traços um do outro, imersos em seus próprios pensamentos e recordações.
- O que você tá fazendo aqui?
- Vim te dizer uma coisa, acabar com essa guerra fria entre nós… Será que eu posso entrar?
mordeu o lábio inferior e fechou a porta atrás de si, logo abraçando-se para se proteger do frio.
- Eu não acho uma boa ideia, Harry.
- Melhor a ideia de algum paparazzi nos pegar aqui?
- Como você entrou no condomínio?
- Eu sou Harry Styles, . - Harry disse para quebrar o gelo, na intenção de brincar, mas pela expressão dela, soube que ser Harry Styles não era considerado algo bom para ela - Me desculpe. Por que eu não posso entrar?
- Porque não acho uma boa ideia - Ela respondeu taxativa e Harry foi acometido pela sensação angustiante de compreensão.
- Ah, você está com ele… Então, é verdade? Vocês estão juntos?
- Não é da sua conta - respondeu calmamente.
- Gaston, ? O que de bom você poderia fazer com ele? Visitar a galeria dos pais dele?
- Harry, por que você está aqui? Para ser passivo agressivo e reivindicar um posto que não é seu por direito? Eu não vou deixar você entrar e não te interessa se tem alguém comigo.
Harry suspirou.
- Me desculpe. Mas você não precisa falar assim comigo, faz parecer que você não se importa.
- Eu me importo, Harry. Se não me importasse não estaria aqui, do lado de fora, tentando entender o que diabos você está fazendo aqui depois de tudo… Veio me pedir sugestão de look para o MET Gala? - não conseguiu disfarçar o amargor na voz.
- Eu sinto sua falta - Harry disse de uma vez, foi a vez de suspirar, triste e cansada.
- Eu também sinto sua falta, Harry. - Ela respondeu com sinceridade, o que só fez doer ainda mais o coração dele.
- Me desculpe por não ter percebido isso antes. O quanto eu sinto sua falta...
- O que você tá querendo dizer…?
- Que eu te amo. - Harry completou num só fôlego, sem nem pestanejar. As palavras ferviam com uma sinceridade quase visceral - Que eu sempre amei.
Diversos sentimentos perpassaram as feições de Chloe em uma fração de segundos. Seus olhos brilharam mais do que o normal a medida que suas sobrancelhas arquearam com o tremor da face ruborizada.
- Harry…
- Eu te amo, Chloe. Eu te amo… Eu te amo… Eu te amo - Harry respirou fundo percebendo-se incapaz de dizer outra coisa além disso - Eu te amo.
“E não consigo por em outras palavras o que se passou por minha cabeça por todos esses dias desde que você decidiu ir embora. Nenhum orgulho é maior do que o remorsos que eu sinto por ter estragado tudo, nenhum ego é maior do que a saudade que eu senti de você… Eu pensei em você em todas horas, minutos e segundos de todos esses dias e isso estava me deixando louco… Quantas vezes eu fui dormir angustiado, sonhei com você e acordei apaixonado… Quantas vezes eu peguei o telefone com vontade de te ligar e mudei de ideia por medo, por ser um covarde que não consegue pedir desculpas. Quantas vezes eu desejei voltar no tempo e ter dito antes que eu… simplesmente te amo. E acho que sempre te amei, desde que éramos crianças, eu só não tinha percebido isso. É você e sempre foi você.”
Chloe pareceu ter sido esbofetada ao ouvir todo o discurso de Harry que mais pareceu com um desabafo, mas, ainda assim, incapaz de emitir qualquer som que fosse. Seus pés tinham fincado raízes na soleira da porta.
Harry suspirou cansado, parecendo ter finalmente expurgado um veneno do corpo.
- Você está em tudo, Chloe. Está no vazio da minha cama quando acordo, está nas notas de laranja e bergamota do seu perfume que ainda impregna minhas roupas, está no estilo que me visto, está no cheiro do cheesecake de cereja que a Ellis faz, está no silêncio desconfortável nas minhas conversas com Jeff, está na saudade que sinto dos seus amigos e em qualquer coisa em francês que eu escuto. Você está no meu bloqueio criativo, na minha improdutividade com as músicas e na tristeza que eu sinto por sequer pensar que você chama outra pessoa da maneira que me chamava. Tudo… absolutamente tudo que eu vivo tem você.
Os olhos de estavam marejados, mas ela manteve-se firme. Os braços cruzados em volta do corpo pareciam protegê-la de vacilar perante a confissão.
- Eu te quero de volta. Eu não quero , eu não quero Camile, eu não quero ninguém. Quando imagino uma pessoa do meu lado, para construir um futuro, uma família, eu imagino você. Porque é assim que tem que ser, desde o primeiro dia.
limpou a garganta num pigarro, mas sua voz ainda ecoou rouca quando conseguiu falar.
- Harry, você ainda está usando?
Ele coçou a nuca e ela revirou os olhos tristemente.
- Não, por favor, me deixe continuar…
- Harry! - Ela interrompeu com a voz mais consistente - É tarde demais.
- Não, , me escute, eu sei que…
- Harry, o que você precisa é de uma terapia. Eu sinto muito por seu bloqueio criativo e eu sinto muito que você esteja se sentindo tão angustiado por pensar em mim. Mas, para mim já é tarde demais.
aproximou-se para beijar a bochecha de Harry em um golpe final, fazendo-o sentir o perfume dela de maneira mais precisa.
Quando estava prestes a abrir a porta para entrar, a maçaneta foi puxada por alguém de dentro, revelando Gaston Bury que saiu de um jeito pomposo, provavelmente buscando a ausência da namorada.
- Baby, eu estava falando sozinho achando que você estava em casa, o que você tá fazend… - E calou-se ao ver Harry parado na soleira, mudando drasticamente a expressão.
- Oi, Gaston. - Harry cumprimentou sem vida.
- O que você está fazendo aqui? - Gaston perguntou com as sobrancelhas franzidas e olhou para os pés, desconfortável.
- Não se preocupe eu já estava de saída… - E voltando-se para , Harry completou com a voz amargurada - “Baby”, sério?
Ela suspirou, ainda encarando o chão e reunindo todo seu orgulho e dignidade já feridos, Harry deu as costas para a casa nº5, rápido o suficiente para que não pudessem ver suas lágrimas.
As lágrimas se misturaram com a água do chuveiro e Harry soluçou quando finalmente conseguiu colocar para fora todos aqueles sentimentos angustiantes que pareciam sufocá-lo por dentro. Era tanto sofrimento acumulado e só naquele momento se dava conta disso. Todos achavam que ele era um cara certinho, amável, perfeito, incapaz de errar, mas essa era uma imagem completamente distorcida e que distoava do que achava de si mesmo: era um arrogante e orgulhoso que tinha perdido tudo por sua incapacidade de lidar com o próprio ego ferido.
Era o trabalho, que demandava uma dedicação extrema. Era a pressão para produzir uma música mais comercial, que vendesse mais, que o colocasse no topo, que fizesse jus as expectativas que criavam sobre ele. Era a vontade de continuar sendo verdadeiro, de manter sua essência e escrever sobre suas experiências e fazer uma música que o agradasse primeiramente… Mas era também sobre perder sua essência e, muitas vezes, se olhar no espelho sem entender quem realmente era e qual seu propósito no mundo.
Era a saudade que sentia de uma vida leve, mas que nem lembrava mais a última vez que isso tinha sido sua realidade. Tantos anos de holofotes já tinham se passado e tantas crises de ansiedade tinham sido acumuladas com a pressão da One Direction. O peso de ser o modelo ideal e perfeito e a vontade de jogar tudo para cima e experimentar o que quisesse, fazer o que quisesse, ser o que quisesse sem precisar se esconder e sem precisar dar satisfações para ninguém.
Era a saudade que sentia de . Era o arrependimento por ter misturado sua mágoa pessoal com questões profissionais. Era a realização de que tinha se tornado um trem desgovernado por não saber lidar com suas emoções conflituosas e por ter sido, como bem dito por “viciado em drama e em sofrer”. Era a epifânia de dar-se conta de que estava apaixonado por ela e que não conseguiria fazê-la acreditar nisso devido ao seu histórico.
Com o rosto inchado de chorar, Harry saiu do banho e enrolou-se no roupão felpudo, arrastando-se de cabelo ainda molhado para o quarto. Desanimado até mesmo para respirar, sabia que sua alternativa fácil poderia ser encontrada em um estojo de metal escondido na gaveta, mas resolveu jogar todo o pó branco dentro da pia, ligando a torneira para limpar qualquer vestígio daquilo que queria se livrar.
A sua frente, o enorme piano parecia reluzir.
Arrastando-se, Harry sentou ainda nu, molhado do banho e enrolado apenas num roupão no banquinho em frente ao instrumento. Num suspiro, pressionou os dedos sobre as teclas sabendo que finalmente estava pronto para voltar a fazer aquilo que sabia de melhor: canalizar suas emoções em música.
Seu sofrimento poderia estar só começando, mas, pelo menos, seu bloqueio criativo tinha acabado.
Fim
Nota da autora: Oi, minhas gatinhas ^___^
Espero, de verdade, que essa história não tenha ficado confusa. Mas ela é, na verdade, um imenso spoiler futuro da nova história que pretendo lançar no site. Essa ficstape é equivalente a um capítulo já do meio para o final, assim como o prólogo de Bela Casualidade foi no começo uehauehauheu.
Se ficou confuso, explico mais ou menos a sinopse da história, que contará como tuuudo isso chegou nesse ponto: Harry Styles terminou a turnê e o namoro com Camile, portanto seu melhor amigo chega na cidade na intenção de animá-lo trazendo a tiracolo sua irmã mais nova e também a pessoa com quem Harry tem uma relação de implicância por toda a vida. Nessas férias, além de descobrirem sentimentos mais profundos entre eles, eles também se apaixonam pela mesma mulher… O que serve de inspiração para Harry escrever o Fine Line.
É completamente diferente de Bela Casualidade, mas eu espero que vocês gostem de triângulos amorosos, amor e ódio, implicâncias, personagens bissexuais e, claro, cenas restritas AUEHAUEU. Lembrando que, apesar desse ponto da história ser beeem dramático, a minha nova fic não será drama! A mesma coisa leve e divertida, mas, claro com uns toques de tristeza HUHEAUHUE.
Eu espero de verdade que vocês gostem e não fiquem confusas!
Comentem e me digam o que acharam.
Beijinhos! <333
~MM.
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Espero, de verdade, que essa história não tenha ficado confusa. Mas ela é, na verdade, um imenso spoiler futuro da nova história que pretendo lançar no site. Essa ficstape é equivalente a um capítulo já do meio para o final, assim como o prólogo de Bela Casualidade foi no começo uehauehauheu.
Se ficou confuso, explico mais ou menos a sinopse da história, que contará como tuuudo isso chegou nesse ponto: Harry Styles terminou a turnê e o namoro com Camile, portanto seu melhor amigo chega na cidade na intenção de animá-lo trazendo a tiracolo sua irmã mais nova e também a pessoa com quem Harry tem uma relação de implicância por toda a vida. Nessas férias, além de descobrirem sentimentos mais profundos entre eles, eles também se apaixonam pela mesma mulher… O que serve de inspiração para Harry escrever o Fine Line.
É completamente diferente de Bela Casualidade, mas eu espero que vocês gostem de triângulos amorosos, amor e ódio, implicâncias, personagens bissexuais e, claro, cenas restritas AUEHAUEU. Lembrando que, apesar desse ponto da história ser beeem dramático, a minha nova fic não será drama! A mesma coisa leve e divertida, mas, claro com uns toques de tristeza HUHEAUHUE.
Eu espero de verdade que vocês gostem e não fiquem confusas!
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Beijinhos! <333
~MM.