Última atualização: 17/05/2020

Capítulo Único

On lockdown, like a penitentiary

O típico namoro de adolescente no ensino médio que evoluiu pra casamento: juntos durante dez anos, era assim que e iam levando. No começo, tudo era legal, novo e divertido mas, aos poucos, a relação foi se desgastando e o amor de por se resumiu a: nada, simplesmente um nada, uma sensação de nem saber mais o que se sente. dizia para seus amigos que estava cansado do jeito que o tratava – segundo ele, era como merda mas, ainda assim, sobrava um amor da parte dele.
era a típica garota californiana – cabelo loiro e queimado pelo sol, ondulado, olhos verdes igual o mar, pele queimada de sol com marca de biquini. Quando ela chegou em Houston, no Texas, todos morriam de amores por ela, e foi com que ela resolveu ficar. Depois de uns meses de relacionamento, se mostrou ciumento e possessivo, odiava que ela continuasse no time das líderes de torcida, mas nem se importava, o que ocasionou várias brigas no relacionamento dos dois. Com 21 anos, resolveram se casar, e dizia ter sido a pior decisão de sua vida, mas que não teve coragem de pedir o divórcio. Depois de casados e formados, voltaram para Venice Beach, onde a loira nasceu, coisa que ela sempre quis fazer. Lá, conseguiu arrumar algo na sua área e era responsável pela curadoria de uma galeria de arte no centro.
Pelo menos, em Venice, poderia encontrar seus amigos de vez em quando e escapar do pesadelo que virou o casamento. , por ser ciumento e abusivo, tinha mania de regular as roupas que usava – shorts e saias curtos, nem pensar, e nada decotado também – e, por Deus, quantas vezes ela não pensou em jogar tudo pro alto e desistiu pelo simples sentimento de cumplicidade e desejo de que tudo iria melhorar e voltaria a ser o menino pelo qual ela se apaixonou no começo: calmo, brincalhão e tranquilo. “Aqui, em Venice, ele tem apenas amigos do trabalho, deve ser por isso”, pensava quando queria arranjar uma desculpa qualquer para seus amigos, quando sabia que não era aquele o motivo. Ryan, Kenna e Gia eram os amigos inseparáveis da menina, que ela conheceu ainda criança. Ryan dava aulas de ioga e era o mais próximo dela – ele, sim, sabia o que acontecia naquele casamento que mais parecia uma prisão para a amiga. Kenna era confeiteira e Gia organizava shows e eventos por toda Venice – as duas ficavam ocasionalmente sabendo das coisas que passavam com o casal quando Ryan contava ou quando se abria, o que era um tanto raro, já que ela tinha vergonha.
Numa noite de fevereiro, precisou ir até Seattle resolver algumas pendências da empresa de engenharia na qual ele trabalhava e passaria uma semana por lá, então aproveitou o momento para ligar para seus amigos e combinarem algum passeio do qual ela gostasse. Os quatro saíram para o Ocean Front Walk que, mesmo no frio, por ser uma sexta feira, se encontrava lotado. Decidiram parar numa doceria e ar chocolate quente. Quando se sentaram, conversaram sobre o relacionamento de e . desabafou com os amigos e disse sobre o quanto se sentia sufocada no casamento.

– Por que você não pede o divórcio logo? – Questionou Gia. – Sério, amiga, você deveria mesmo.
– Eu sei que deveria, mas não posso. Eu morro de medo de ele partir pra cima de mim. Só de pensar, já fico com o coração disparado.
– Amiga, vem morar comigo. Sério. Eu dividia apartamento com minha prima que fazia faculdade aqui perto, mas ela já terminou e vai voltar pra San Diego antes do Natal. Eu acho que é uma ótima hora. E você ainda vai poder morar mais perto do trabalho... Deve dar uns quinze minutos a pé e uns oito de carro. – Completou Kenna.
– Ai, gente, não sei se consigo, mesmo.
... Você já considerou fazer terapia? – Ryan soltou devagar, como quem estava dando uma notícia ruim.
– Eu procurei sobre mas,, agora com a exposição que vai vir para cá, eu tô sem tempo total.
– É sério. Você precisa muito se livrar desse cara e ir cuidar da sua saúde mental.
– E se eu só sair de casa? Resolver isso do divórcio aos poucos...
– Você acha que funcionaria? Mesmo? – Kenna perguntou.
– Eu acho que seria mais fácil do aceitar. Se eu chegar falando que quero o divórcio, vai ter toda uma briga pelo peso da palavra, sabe?
– Entendi sua linha de raciocínio. Mesmo. É você quem tem que saber o que fazer. – Gia completou.
– Vem, gente. Vamos dar mais uma volta. – Disse depois de uns dois minutos em silêncio.
Os quatro levantaram, deram mais uma andada pela Ocean e, então, pararam num barzinho onde estava tendo show ao vivo. Assistiram uma ou duas músicas da calçada, junto com algumas pessoas que fizeram a mesma coisa e, depois, entraram para dançar um pouco. Quando era quase uma da madrugada, começou a sentir um pouco de sono e pediu um uber para voltar para casa, pensando sobre a conversa com seus amigos no caminho enquanto o carro passava ao lado dos canais de Venice. “ara que isso dê certo”, pensou.


Oh, take this veil from off my eyes

sabia que não ia sentir falta de , mas ia sentir falta daquela casa. Era uma casa de madeira de verdade, pintada em azul. Não era uma horrível caixa de gesso gigante com janelas, como as duas casas vizinhas e muitas outras nas ruas estreitas de Venice. Após subir as escadas para o nível principal da casa, ela parou em meio ao plano aberto. Observou, de um lado, a bancada da cozinha, que imitava mármore. De outro, as plantas da sala em seus vasos de vime. Foi para o quarto, tirou os sapatos e sentiu, com as solas dos pés, o carpete macio. Queria memorizar tudo, porque sabia que era a última vez que entraria naquela casa.
pensou, pelo menos, umas trinta vezes antes de fazer a mala, pensou mais umas quarenta em como abordaria o assunto. Quando chegou de viagem, a loira esperou na sala, sentada no sofá cinza claro com as malas vermelhas do lado.

– Que porra é essa? – soltou quando abriu a porta da casa e reparou a cena que via.
– Estou saindo de casa.
– O que você quer dizer com “saindo de casa”?
– Nós dois sabemos o quão cansativo e prisional esse relacionamento se tornou. Não adianta você negar.
– Eu não vou negar. Você não me ama mais e eu sei disso.
– E você ainda me ama?
– Amo, .
– Se você realmente amasse, não ia ser do jeito que você é comigo, você não concorda?
– Eu sou assim porque te amo.
– Pelo amor de Deus, . Você me trata mal, quer mandar em tudo que eu coloco o dedo. Onde isso é amor? – Ao falar isso em voz alta, a instintiva sensação de querer sair de perto e chorar bateu em .
A loira, portanto, levantou e continuou falando.
– Toda vez, você quer escolher minhas roupas e vive reclamando de tudo que eu faço. Tudo. Eu aguentei anos de casamento por pura cumplicidade com você, mas agora acho que nem isso eu tenho mais.

As lágrimas de rolavam pelo rosto delicado dela enquanto a encarava como quem não sabia do que se tratava o assunto.

. Eu faria qualquer coisa por você ou por nós.
– Isso não significa nada pra mim. Eu estou saindo. Goste você ou não, eu estou saindo.
– Você não pode fazer isso comigo.
– Eu posso muitas coisas e só agora eu consigo ver o quão idiota eu fui de ficar nesse casamento até agora.
– E tudo que nós construímos?
– Por Deus, . Nós não construímos nada.
, se você for embora, você nunca mais volta.
– É o que eu pretendo, na verdade.

puxou a alça da mala maior e colocou a de alça no ombro. Deu uns três ou quatro passos até a porta e, antes de fechar, olhou para dentro da casa por uma última vez. Limpou as lágrimas que insistiam em escorrer, amarrou o cabelo em um rabo-de-cavalo com o elástico que ela sempre tinha no pulso. Pegou o celular da bolsa e discou um número.

– Posso ir para sua casa?
, oi! Você tá indo? Sério mesmo?
– Sério. Saí de casa.
– Finalmente! Estou muito feliz por você, mesmo. Estou chegando em casa em menos de cinco minutos. Você já tá vindo?
– Vou pedir um uber ainda.
– Pode pedir, venha! A gente arruma tudo por aqui e assamos um bolo red velvet que você ama!
– Fechado!

entrou no uber a caminho do apartamento de Kenna, que ficava mais perto da praia. Assim que chegou, Kenna já estava esperando a amiga de braços abertos e, para a surpresa de Kenna, não chorava mais – e não chorou nem um pouco depois.


Summertime, and the livin's easy!

Sandália aberta nos pés, shorts jeans, camiseta regata larga branca meio transparente e um top rendado rosa por baixo. O cabelo solto, brilhante e mais loiro ainda. Óculos escuros ray-ban no rosto e um milkshake de morango na mão direita cheia de anéis. Era assim que se encontrava na movimentada Venice, no meio do verão. Depois de sair da terapia, ela resolveu comprar um milkshake para se refrescar enquanto dava uma volta em direção à praia. Olhou para cima e viu o famoso letreiro escrito “VENICE” em branco no meio da rua. Sorriu com todos os dentes e se sentiu livre. Andou até a praia, onde tirou a sandália e sentiu os pés na areia, observando o movimento. “Tenho que ir atrás de aulas de surfe”, pensou. Iria atrás de coisas que nunca fez e seria feliz – dessa vez, sem impedimentos.
Era verão e a vida estava leve, fácil. Ela estava feliz como se estivesse boiando livre no mar, com a cabeça fora d’água, observando o céu.


Fim.



Nota da autora: "Oi! Eu por aqui de novo, Obrigada por ler mais uma coisinha minha. Espero que tenham gostado. A Millie está melhor sem o Thomas, garanto pra vocês! Beijinhos! Se cuidem."

Outras Fanfics:
06.O Tempo É Agora

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