Capítulo Único
- Bienvenue, madam!
- Merci!
pegou o passaporte de volta com um sorriso contente, porém nervoso estampado nos lábios, segurando a alça da mala e começando a arrastá-la pelo aeroporto.
Não fazia ideia de onde estava indo. Não sabia falar Francês, nunca tinha viajado sozinha e passara as últimas horas quase entrando em colapso no avião, mas lá estava ela: os pés caminhando nervosamente pelo aeroporto de Paris, ansiosa para encontrar os melhores amigos que não via há um ano.
, seu irmão de alma, estava de férias no país junto com os amigos e colegas de banda – , e . Quando viram a oportunidade, chamaram para passar um tempo com eles, no que a moça aceitou sem nem titubear. Mesmo com medo e com a vida conspirando para aquela viagem não dar certo, lá estava ela.
Lá estava ela.
Aquela fora definitivamente a coisa mais louca e corajosa que fizera nos últimos anos.
Sentindo o coração batendo cada vez mais forte, ela não via a hora de encontrá-los novamente. As saudades estavam quase matando-a e, por mais que gostasse de se gabar da própria independência, realmente precisava deles para viver.
Foram eles que salvaram a vida dela por mais de uma vez. Que deram apoio quando ninguém mais dera. Que cuidaram dos machucados e limparam as lágrimas dela. não via a hora de abraçá-los fortemente mais uma vez.
Mas nenhum sentimento fora tão forte quanto o momento em que vira novamente depois de tanto tempo.
Abrindo um enorme sorriso, ela acenou para ele. Ouviu-o gritando seu nome, sendo seguido pela algazarra de , e . Arrastando a mala de qualquer jeito, correu para os braços do irmão, que corria na direção dela.
Assim que a alcançou, a enlaçou com força, derrubando a pequena mala no chão. Os outros vinham correndo atrás, enquanto os irmãos se mantinham rindo e chorando ao mesmo tempo, matando as saudades.
- Ah, minha linda...! Quanto tempo...! – suspirou, afagando os cabelos de camomila da irmã. Aquele aroma o acompanhara a vida toda e o acompanharia até morrer. – Eu ouvi as últimas músicas que você produziu, são maravilhosas!
- E as últimas que você escreveu também são lindas, ...! Senti tantas saudades...! – deu uma risada audível, abafando o som das lágrimas. Ele a abraçou com mais força.
- Ei! – se manifestou, como sempre com as mãos na cintura e postura de mãe desgostosa. – Você vai deixar a gente matar as saudades também ou não, ?!
riu imediatamente enquanto o irmão somente deu de ombros. Era bom tê-la de volta em seus braços.
E também sentira saudades quase eternas de . Durante muito tempo, ele cuidara dela de uma maneira que ninguém mais fora capaz. Por várias vezes, fora a única porta aberta que ela encontrara. E, quando ninguém mais esteve lá, salvara a vida dela.
****
estava escondida no último Box do banheiro da escola, respirando fundo e tentando se acalmar.
Era a terceira vez que aquilo acontecia. Ela tentara sair da sala durante o intervalo para conversar com o pessoal na praça do colégio, dar risadas, tomar seu lanche e, por mais que ela não quisesse admitir, observar o garoto que achava bonito na esperança de que ele a notaria e pudessem começar um romance típico de comédias românticas adolescentes.
Mas a vida dela não era uma comédia romântica adolescente. deixara a sala com vergonha, caminhando com passos inseguros pela praça e sentindo o sol batendo em seu rosto. A garota começou a sorrir, empolgada para encontrar o irmão e os amigos dele – que sempre foram tão simpáticos com ela. No meio do caminho, entretanto, ela encontrou o garoto que gostava e começou a observá-lo, jogando os cabelos de uma maneira que achava que era discreta.
Então ela nem soube mais o que houve, pois tudo fora muito rápido. Outras garotas apareceram e começaram a rir dela, fazendo piadinhas de mau gosto, na frente do garoto que gostava. Sem saber direito o que fazer, com o coração acelerado e as orelhas ardendo em vermelho, a garota abaixou a cabeça e tentou ir embora o mais rápido possível. Ela nem viu quem colocou o pé em seu caminho para que tropeçasse. Quando percebeu, estava no chão e as risadas ecoavam tão alto que ela correu para o banheiro.
E agora não conseguia sair.
Colocou a mão na maçaneta uma, duas, três vezes. Até que finalmente desistiu e se sentou na privada fechada, derrotada. Suspirando de maneira audível, ela só pensava em como era ridícula e em quando teria coragem de se tornar alguém melhor.
- ...?
Ela imediatamente levantou a cabeça.
- ?! – O que o irmão dela fazia no banheiro feminino a escapava, mas aquilo a fez abrir a porta do Box imediatamente.
- Eu fiquei sabendo sobre o que aconteceu. – Ele comentou silenciosamente, enquanto encontrava os grandes olhos laminados de lágrimas da irmã.
somente sorriu e o abraçou, deitando a cabeça sobre o peito dele. afagou levemente os cabelos dela, tentando fazê-la se sentir segura.
- Esquece essa gente idiota, tá bem? – E se separou dela, limpando uma lágrima do rosto de de maneira desleixada até. Em seguida, segurou uma das mãos dela, caminhando calmamente, porém com passos decididos. – E deixa de passar o intervalo sozinha. Vou te apresentar aos meus amigos e vamos ficar juntos. Essa gente não te merece.
- Muita gente também não te merece, . – respondeu, fazendo o silêncio cair entre ambos de maneira significativa. – Obrigada por sempre estar aqui.
Saindo do banheiro, a puxou para perto de si, passando o braço pelos ombros da irmã e abraçando-a o mais próximo que podia – permanecendo sempre com a expressão de poucos amigos que fazia com que ninguém se aproximasse.
Durante muitos anos, um fora o suporte do outro na árdua luta contra a depressão. Entendiam-se com poucas palavras, passavam horas tocando piano e compondo músicas juntos. Quando fora agredida pelos colegas de turma nas aulas de esportes, a abrigou em casa e cuidou de seus machucados e do coração partido. Quando quase tomou a pior decisão de sua vida, correu até ela e quase colocou a porta abaixo para lembrá-la que valia a pena e que ele a amava. Quando ela se sentiu perdida e sem esperança alguma, ele a ligou e acalmou seus pensamentos. Quando tudo parecia perdido, dormiu ao lado dela, de mãos dadas, prometendo que tudo ficaria melhor e que ficaria ao lado dela até o fim da vida.
não tinha muitas certezas na vida, mas naquela promessa, podia confiar. Trilharam o caminho em busca dos próprios sonhos juntos e conquistaram tudo juntos. Sempre de mãos dadas, um dando suporte ao outro e fazendo com que permanecessem em pé por mais agressões que levassem. Sabiam que se eventualmente acabassem separados, um dia se encontrariam novamente. Porque ficariam juntos até o fim da vida.
e podiam não ser realmente irmãos de sangue, mas eram irmãos de alma. E era aquilo que contava.
****
- Agora, quer me falar o porquê de você estar tão empolgada para desenhar estátuas quando tem isso daqui para modelar para você? – perguntou enquanto apontava para o próprio corpo de maneira óbvia.
simplesmente riu enquanto caminhavam pelas ruas de Paris. Estavam a caminho do museu do Louvre e, pelo que dissera, havia uma creperia muito boa em uma rua ao lado do museu, então aquele era o itinerário do dia: comer crepes na creperia do e passar a tarde no Louvre – onde desenharia as estátuas que quisesse. Estava tão empolgada com aquilo, que fora o assunto principal do dia em que chegara e andara a cidade inteira junto com os amigos para conhecer todas as linhas de metrô antes de se aventurar pelos pontos turísticos.
- , meu querido. Eu posso desenhar você quando quiser, as estátuas tenho somente aqui na França! – respondeu de maneira espirituosa, causando exclamações de todos os amigos.
- Ela chamou o de “meu querido”?! - comentou como se estivesse em choque, seguido de uma risada escandalosa e um tapa da amiga.
- Meu amor, nós já evoluímos tanto assim?! – parecia emocionado, fazendo balançar a cabeça e rir. – Se alguém te ouvisse da época da escola, ia achar que você foi sequestrada e quem está aqui conosco é uma irmã gêmea do mal! É sério que eu sou seu querido?!
- , por mais que você seja grudento, carente, mulherengo, sexy e fofinho ao mesmo tempo... – suspirou após a lista, parando no meio da calçada e encarando o amigo. – Sim. Você é meu querido.
- Ah, esse é o melhor dia da minha VIDA! – E sim, gritou no meio da rua, causando mais risadas.
- E esse é o momento que a vai se arrepender amargamente das próprias palavras. – anunciou de maneira dramática, arrancando uma boa risada de .
- Eu espero que... – Mas, antes que ela pudesse terminar de falar, foi envolvida por um abraço avassalador de .
- Eu te amo, minha linda! Sabia disso? – Ele perguntou com carinho, enquanto caminhava com a moça de uma maneira estranha, atraindo olhares na rua ao quase chegarem à famigerada creperia.
- Sabia. – comentou com um suspiro, causando risadas nos amigos que já entraram no pequeno bistrô. Como ela e estavam juntos, esperaram até que , e estivessem lá dentro, antes de começarem a caminhar como gêmeos siameses. O mais difícil seria subir as escadas. – Eu também te amo, .
E ele congelou. Ao pé das escadas, continuou abraçado em , completamente em choque enquanto a moça somente sorria. Após finalmente processar o que ela tinha falado, começou a sorrir, lutando contra as lágrimas nos próprios olhos. Em seguida, a abraçou mais forte, de maneira aconchegante e protetora, como se aquele fosse o momento mais precioso da vida deles.
E provavelmente era.
- Você sabe que sempre pode contar comigo, não é, meu amor? – disse baixinho, quase em um sussurro, para que só ela ouvisse. fechou os olhos e lutou contra as lágrimas de felicidade que ameaçavam surgir. – Eu sempre estarei aqui para você. Minha melhor amiga.
- E eu sempre estarei aqui por você, meu melhor amigo. – sussurrou de volta, olhando para .
Assim que os olhos de ambos se encontraram, começaram a sorrir. Era a primeira vez que eram tão sinceros um com o outro.
- Oi! – E ouviram a voz de no topo das escadas, encontrando só a cabeça do amigo. – Vocês dois querem parar de namorar e subir logo? Estamos com fome.
- Não estamos namorando! – e disseram ao mesmo tempo, largando um do outro e subindo as escadas imediatamente enquanto sumia.
Mas logo segurou a mão de , guiando-a escada acima. Aquele fora o melhor almoço que tiveram na vida.
****
De todos os amigos de , era o que mais fazia se sentir confortável. Não porque os outros não eram simpáticos, mas era como um fofinho cobertor ambulante: sabia que não havia erro nos abraços dele.
Mas ela nem sempre fora receptiva a abraços. Muito pelo contrário: quando se conheceram no colégio, ela tinha ojeriza a quem tentasse encostar nela.
E claro: não sabia o que era espaço pessoal.
- ! Meu amor! – Ele saía gritando quando a avistava, correndo grandes distâncias enquanto somente tinha uma expressão óbvia de horror.
Congelada no lugar, grudava nela feito um coala. queria morrer.
- Quer sair de cima de mim, desgraça?
- Não! Eu te amo, ! – O garoto dizia, abraçando-a mais forte.
- Eu não.
Era esse o momento que todos explodiam em risadas, ficava orgulhoso da irmã que tinha e começava o maior drama do século de “minha vida não faz sentido, a me odeia” até que ela finalmente falasse “eu te amo” com o maior olhar de morte do planeta.
Apesar da aparente amargura da garota – coisa que ela e tinham em comum e não podiam negar que aquilo era um traço compartilhado de irmãos – ela não podia negar que se sentia feliz com toda aquela atenção. Não demonstrava, mas jamais negava.
- Você estava maravilhosa naquele palco, ! – praticamente babava em cima da garota. somente rolou os olhos e cruzou as pernas envoltas por somente uma meia arrastão e shorts pretos.
Tinha acabado de descer do palco na apresentação anual da escola – um grande evento do colégio, no qual todas as alunas das escolas de dança apresentavam as coreografias ensaiadas durante o ano todo – e somente se dera ao trabalho de tirar a saia para caminhar pela escola de collant, shorts, meia arrastão e sapatilhas. Não achava que chamaria atenção, afinal, quem prestaria atenção nela?
- , você diz isso pra qualquer coisa com um par de pernas à mostra. – lançou um olhar com uma sobrancelha erguida para o amigo. – Mulherengo.
Apesar das risadas, no dia seguinte – quando ela já estava novamente de uniforme, com as calças jeans esfarrapadas e a mochila preta apoiada no ombro – era quase completamente alheia aos comentários sobre como ela estava linda no dia anterior... Porém e não eram.
- Esses cretinos filhos da...
- ! Qual é o seu problema? – perguntou de sobrancelhas franzidas. – Não pode sair xingando todo mundo que comentar que a sua irmã é bonita, se não vai ter que xingar o mundo todo!
- Mas ele tem razão, . – cruzou os braços, quase tão mal humorado quanto . Só não era igual, pois a aura negra de era correspondente somente à de . – Esses caras ficam zoando a todos os dias e agora ficam falando como querem dar uns amassos com ela só porque estava bonita ontem.
- Oi...? O sujeito da conversa está aqui...? – se manifestou, acenando para chamar a atenção dos amigos sem noção. – Se vocês puderem parar com isso, agradeço. Não fico confortável com essas coisas...
- MAS COMO VOCÊ NÃO PRESTA, MULHER! – gritou repentinamente enquanto encarava o celular.
Todos ficaram em choque. abraçou , já se preparou para bater no amigo e somente ficou encarando como se quisesse dizer “grita de novo que eu acabo com a sua existência, seu cretino”.
Mas somente lançou um olhar indignado para .
- Como você não nos contou que hoje é seu aniversário?! – Ele colocou as mãos na cintura, parecendo uma perfeita mãe dando bronca na filha.
- O QUÊ?! – E foi a vez de e abrirem o berreiro.
somente suspirou e olhou para o chão. Era exatamente por causa daquilo que optava por ignorar o próprio aniversário. E também porque fora muito maltratada por outros “amigos” antes e achara melhor simplesmente apagar a data da existência do próprio calendário. Ele nunca discutira: entendia a irmã perfeitamente e faria o que ela se sentisse mais confortável.
- Eu não preciso sair colando panfletos pela escola declarando meu aniversário, né? – E tirou os braços de de si de maneira agressiva, cruzando os próprios braços e encolhendo-se na defensiva. – Ninguém precisa ficar sabendo. Não é uma data legal e eu odeio comemorar, ok?
Antes que qualquer pessoa pudesse discutir, porém, o sinal tocou e tiveram que voltar para suas respectivas salas de aula. O dia correu normal, sem mais nenhum incidente de aniversário, até colocar a mochila nos ombros e caminhar casualmente até a porta do colégio. Conforme tinham combinado – e como faziam todos os dias – eles iam almoçar na casa de .
Simplesmente porque a casa era tão grande quanto o coração dele e nenhum deles saberia o que fazer caso dissesse algum dia que não poderiam almoçar lá. Era quase como um ritual.
- Sim, sim! Pode ser o de chocolate! – Ela o ouviu falando no celular. – Chegamos em menos de cinco minutos, não tem problema!
- O que vai ser de chocolate? – perguntou casualmente, ignorando o sorriso óbvio nos lábios de .
- O seu bolo de aniversário, é claro! – respondeu como se fosse óbvio. A garota simplesmente o encarou em choque. – Pedi para a minha empregada correr no supermercado e comprar um bolo de chocolate pra você! Porque todo mundo gosta de chocolate, né?
- ... Não precisava... – nem sabia o que falar e provavelmente se esconderia embaixo de algum carro conforme andavam pela rua. – Nós nem nos conhecemos há tanto tempo...
- E precisa conhecer há quantos anos pra comemorar aniversário? – Ele perguntou de volta como se aquilo fosse o maior absurdo que já tinha ouvido. e conversavam sobre qual filme iriam assistir para comemorar enquanto os seguia em silêncio com as mãos nos bolsos da calça. – Você é minha amiga e sinto que te conheço a vida toda, ! Vamos comemorar juntos e será com bolo!
A comemoração foi simples. Um almoço com todos juntos, conversando e dando risadas. O pequeno bolo de chocolate que não tinha vela – então deu a brilhante idéia de usarem o fósforo como substituto:
- Vamos, ! Apaga logo antes que queime meus dedos! – Ele gritava desesperadamente no meio da canção de parabéns, enquanto não conseguia parar de rir.
- Devia deixar queimar. – se manifestou com uma risadinha enquanto batia palmas e recebia olhares não muito simpáticos de .
- E não se esquece de fazer um pedido! – apoiava as mãos nos ombros da amiga, pulando atrás dela como um pequeno coelho empolgado.
Fechando os olhos, assoprou sua vela de fósforo segundos antes de queimar o indicador de .
- Ai, misericórdia! – Ele gritou e finalmente se jogou na mesa, exausto com a tensão.
- Vamos, vamos! Tem que cortar o bolo e fazer outro pedido! – entregou a faca para e a garota pensou alguns segundos antes de finalmente tirar o pedaço e deitar no prato de porcelana. – E aí? Para quem vai ser? Para o ?
- Pra você. – sorriu e estendeu o prato para .
- VERDADE?! – Que claro, quase derreteu em cima dela, que quase chegou a se arrepender daquela decisão.
Rindo com ela, antes de aceitar o pedaço, tirou uma foto da amiga estendendo o pedaço de bolo e o aceitou em seguida, enviando a imagem para todos do grupo – a fim de não se esquecerem daquele dia.
observou aquela foto várias vezes, sempre dando um sorriso para si mesmo. Durante todo o período da escola, nunca sorriu de maneira tão sincera quanto naquele dia.
****
- Onze horas da noite e estamos caminhando pela rua como se nada estivesse acontecendo. – comentou com uma pequena risadinha em seguida. – No meio da rua de pornôs e bordéis, com uma perspectiva de chegar em casa à pé daqui uma hora.
- Bem vinda à Paris, minha linda! – exclamou com um olhar um tanto safado para a amiga. – A terra da liberdade, igualdade e fraternidade!
- Vocês têm certeza que não há perigo nenhum nisso que estamos fazendo...? – Ela ergueu uma sobrancelha, passando por mais uma loja de filmes pornô com letreiro neon. Mais à frente, podiam ver as pás do moinho do Moulin Rouge.
- Certeza, . Não se preocupe. – assumiu uma postura mais séria quando percebeu que ela estava preocupada. – Nunca faríamos alguma coisa que te colocaria em perigo.
- E se estivermos em perigo, você sempre pode grudar feito um coala no . – apontou de maneira displicente para o amigo, levemente distraído com a vitrine de uma das lojas.
- Ah, sim...! – deu um de seus sorrisos meio envergonhados, porém, ao mesmo tempo, cheios de segurança. – Pode contar comigo, ! Se precisarmos, eu te pego de porquinho nas costas e saio correndo enquanto bato nos caras maus!
- E deixamos o resto pra trás para levarem tapas pela gente? – perguntou com a mesma empolgação do amigo.
- Exatamente! – E fez joinha com ambas as mãos enquanto recebia gritos de indignação tanto de quanto de . , por outro lado, estava no próprio mundo.
Mas, felizmente, a caminhada deles foi calma e sem nenhum incidente. O maior incidente que ocorreu foi um casal perguntando para que lado ficava a torre Eiffel. Depois de indicarem corretamente, continuaram caminhando, como se Paris inteira fosse deles e eles fossem de Paris.
- Sabe o que está faltando? – perguntou repentinamente, tomando um gole da garrafa de vinho que carregava e estendendo-a para . – Música!
- Canta essa hora que todo mundo vai te jogar um balde d’água pela janela. – respondeu com uma breve risada, tomando um gole do vinho e passando a garrafa para .
- , você esqueceu de onde estamos...? – perguntou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, pegando a garrafa de logo que a moça tomou seu gole. – A terra da...
- Liberdade, igualdade e fraternidade! – , , e deram as mãos e praticamente gritaram juntos, fazendo cair na gargalhada.
- Provavelmente vamos parar na prisão por causa disso, mas é bom ter história para contar, né? – Ele respondeu enquanto a garrafa continuava circulando pelos amigos.
- Então, música! – disse repentinamente. – Posso te fazer uma serenata, madam?
Segurando uma das mãos de , começou a cantar belamente enquanto caminhava. e se juntaram à cantoria, porém focava em serenar para . Ela ria e cantava junto com ele, fazendo com que cantasse alguns trechos também.
E assim, a longa caminhada de volta ao lugar em que ficavam foi mais curta do que esperavam.
Por conta do vinho, o tempo que permaneceram acordados também foi mais curto. Deitada em sua cama, pegara no sono algumas vezes e acordara logo em seguida, assustada sem nenhum motivo.
O que resultou na moça suspirando na cozinha enquanto bebia um copo de água com açúcar para se acalmar e ver se o sono vinha mais rápido.
- ...? – surgiu na cozinha com a maior cara de travesseiro do mundo. Álcool não o afetava muito bem. – Está tudo bem?
- Não consigo dormir. Não sei o motivo. – Ela suspirou novamente, deixando o copo na pia.
somente sorriu e segurou uma das mãos da amiga. Apagando a luz da cozinha, usou a luz da lua que entrava pela janela a fim de guiá-los até o enorme sofá no qual ele se instalara. Deitando, puxou a amiga para que ela deitasse em seguida, de frente para ele.
- Não se preocupe. Nada de mal vai te acontecer, eu vou te proteger. – disse, enquanto segurava as mãos de na frente de seus rostos. – Sou seu super-herói, lembra?
Com um sorriso calmo, a moça fechou os olhos para finalmente conseguir pegar no sono. E somente depois que ela adormeceu, se deixou descansar.
****
Segurança.
Era aquilo que passava à .
Ele tinha tudo para ser popular: era muito bonito e admirado por todas as garotas da escola, por onde passava tinha pelo menos um grupinho de meninas suspirando e morrendo de amores, era bem sucedido em tudo que se propunha a fazer e tinha um coração de ouro, com um sorriso que derretia até os corações mais negros.
A única coisa que não era bom era matemática. Porque ele precisava ter algum defeito.
Mesmo assim, escolhera andar com o grupo de esquisitos de e – basicamente, as pessoas que não se encaixavam em lugar nenhum, nem mesmo entre si. Mas que, com suas diferenças, complementavam-se sem igual.
Aquilo dizia muito da personalidade dele, na opinião de . Logo que se conheceram, ela mal esperava que ele falasse direito com ela – julgando logo de cara pelas aparências.
Foi em uma tarde na sala de música que começou a mudar a opinião sobre . Mal sabia ele que a garota gostava de passar horas e mais horas tocando piano na sala mais afastada e sem nenhuma alma viva – como era amiga da professora, tinha a chave da sala e preferia ficar lá do que em qualquer outro lugar do mundo. perguntara por e lá fora e companhia procurar por ela. Ouvindo que talvez estivesse na sala de música, o garoto correu para lá – diminuindo os passos ao ouvir a melodia que ecoava pelo corredor deserto.
Observando a porta fechada com a boca entreaberta, aproximou-se com passos calmos e entrou no ambiente sem fazer muito barulho para não assustá-la.
tocava de olhos fechados, completamente em silêncio e sem dizer uma palavra – mas parecia que estava realmente falando com ele. entendera o motivo de ela não tocar na frente de mais ninguém: ficava extremamente vulnerável e sincera em um momento como aquele.
- ...? – Ela ergueu uma sobrancelha e parou de tocar repentinamente.
- Você toca muito bem! – O garoto sorriu, como se aquilo não fosse nada de mais. Não queria que tivesse medo dele. – Pode tocar de novo? Eu quero cantar!
Dando de ombros, voltou a tocar – descobrindo a maravilhosa voz de ouro de .
A partir daquele dia, começaram a se tornar bons amigos.
E o caos se iniciou – simplesmente porque toda idéia que tinha, apoiava. Inclusive as que podiam expulsá-los do colégio. O que resultava em dando risadas, correndo atrás deles falando em como iam ser expulsos, e fugindo de mãos dadas e suspirando atrás provavelmente se questionando o que tinha na cabeça no dia em que resolvera apresentá-los.
Mas o que realmente a fizera se sentir segura na presença de foi uma simples caminhada por um corredor.
- Olha quem está aqui...! – Um garoto da turma dela disse com escárnio enquanto caminhava sozinha com a mochila nos ombros, os olhos fixos no all star. – Perdeu alguma coisa no chão, ?
- Eu só não quero falar com vocês. – A garota respondeu de maneira resoluta, levantando o olhar. Vendo alguns garotos sentados de ambos os lados do corredor com as pernas esticadas, sabia exatamente o que ia acontecer.
- Ah, não precisa falar. Só precisa passar pelo corredor da morte se quiser chegar à sua aula, nerdezinha do professor. – Ele completou, provocando risadas nos amigos.
suspirou. Aquilo era ridículo e ninguém fazia nada. Todos os alunos davam voltas, pegavam outros caminhos ou esperavam que aqueles garotos saíssem, chegando atrasados às próprias aulas.
- Eu preciso ir para a minha aula. Dá licença. – Ela pediu com paciência, mas decisão no olhar.
- À vontade para passar por nós. – O garoto apontou para o corredor.
Respirando fundo e se recusando a abaixar a cabeça para eles, segurou a alça da mochila com um pouco mais de força e começou a atravessar. Logo que alcançou os garotos, começou a levar chutes e mais chutes nas canelas, sentindo uma dor que provavelmente a faria mancar em seguida. Mas não desistiria e não daria para trás: eles não tinham o direito de fazer aquilo e se era necessário enfrentá-los, era isso mesmo que faria.
- Parece que a nerd não tem medo!
- É porque não estamos chutando forte o suficiente!
E quando aumentaram a força, surgiu no corredor – como se o próprio destino o tivesse chamado para lá, falando que havia algo de errado. levou um pontapé mais forte na canela, fazendo-a gemer de dor e começar a mancar. imediatamente franziu as sobrancelhas e gritou, fazendo com que todos congelassem nos lugares.
- O que vocês acham que estão fazendo, seus idiotas?! – correu na direção de , fazendo todos os garotos se levantarem em medo. – Não sabem mexer com alguém do tamanho de vocês?! Por que não vêm me chutar?! Estão com medo?!
Parecendo que a voz dele era mágica, outras pessoas chegaram ao corredor. E mais outras. E professores. Logo, todo o silêncio deserto que havia anteriormente foi se enchendo de vozes curiosas e os garotos não tinham para onde correr.
- É bom que peguem as imagens dessas câmeras e mostrem o que vocês estavam fazendo, seus delinquentes! Se deem por felizes de eu não dar uma surra em vocês exatamente nesse momento! - Ignorando as palavras de uma professora sobre agressão física, repousou ambas as mãos nos braços de e a observou com preocupação. – Tá sentindo dor, ? Quer ir para a enfermaria?
- Não, estou bem, ... – A garota suspirou, tentando apoiar o pé mais machucado no chão. Ao sentir uma dor aguda, levantou-o novamente e fechou os olhos, franzindo as sobrancelhas.
- Você é péssima pra mentir pra mim, amor. – Ele deu uma piscada rápida e se abaixou, levantando levemente a barra da calça jeans da amiga. O gesto revelou um hematoma vermelho arroxeado, bem como algo que parecia sangue pisado.
travou o maxilar e sentiu o próprio sangue subindo até as orelhas. Levantando-se sem olhar para a amiga, aproveitou o tumulto para pegar pela camiseta o garoto que era o líder do grupinho antes que pudessem ir para a sala da Coordenadora. Puxando-o para um canto sem que ninguém percebesse, segurou a blusa com força para que ele não escapasse.
- Se você ou um dos seus amiguinhos estúpidos encostar mais um dedo que for nela, eu juro... – respirou fundo e deu um pequeno sorriso sem humor algum, deixando pasma. – Eu acabo com a raça de todos vocês. Entendido?
- Sim, sim... – O garoto respondeu com medo quando deu uma leve chacoalhada nele pelo colarinho. Assim que o largou, o garoto saiu correndo, preferindo mil vezes enfrentar a Coordenadora do que o colega de turma.
- Pronto, . Eles nunca mais vão mexer com você. – suspirou, virando-se novamente para a amiga. – Agora precisamos te levar para a enfermaria.
- Também. Depois da intimidada que você deu, qualquer um que mexer comigo seria suicida. – não queria dar o braço a torcer, mas queria abraçar ao mesmo tempo. Aquela era uma das coisas mais legais que tinham feito por ela nos últimos anos. – E desculpa... Eu não sei como vou chegar à enfermaria nesse estado.
- Hmmm, verdade... – ponderou assim que apontou para a própria canela machucada. Em seguida, segurou a alça da mochila dela, jogando-a contra os próprios ombros. – Acho que se eu carregar isso aqui é mais fácil. E se eu carregar isso aqui, também...
Dizendo isso, a pegou no colo sem aviso algum. imediatamente grudou os braços em volta dele, soltando um pequeno grito por não sentir mais o chão embaixo dos pés. Quando se deu conta de que o amigo a estava carregando até a enfermaria, começou a rir, provocando a mesma reação nele.
- Se precisarem de alguma coisa, me avisem. – , que tinha chegado depois de todos e assistido a somente uma parte do bafafá, finalmente se manifestou, lançando um pequeno sorriso pra . – É só me chamar no celular.
Dizendo isso, deixou que e fossem até a Enfermaria e que ele cuidasse dela. Afinal, podia ter certeza de que se estava nos braços de , estava segura.
****
- Eu não acredito que vocês comeram todos os meus pêssegos achatados! – estava louco da vida, indignado enquanto apontava para a geladeira vazia exatamente no ponto onde deveriam constar os tais pêssegos achatados.
Era uma iguaria que tinha localizado e simplesmente não conseguia parar de comer.
Fora em uma tarde passeando pela Galerie Lafayette que ele resolvera apresentar para o que realmente valia a pena.
- Ótimo, só venham um pouquinho mais para o lado... – murmurou com a câmera entre os dedos, guiando e que serviam de modelos entre a arquitetura intrincada da galeria. – , se você puder se apoiar no guarda corpo será melhor.
- Assim...? – E, logo que perguntou, colocou as mãos nos bolsos da calça e lançou o melhor olhar que podia para a câmera de , algo que já estava acostumado após tanto tempo modelando para os photoshoots do grupo.
- , pode chegar mais perto dele, eu ainda não gostei do meu ângulo. – pediu de sobrancelhas franzidas enquanto observava as próprias fotos com um sorriso no rosto. obedeceu, quase entrelaçando as próprias pernas com as do amigo. – Perfeito! , pode segurar a pela cintura com a mão direita?
- Claro! – A animação óbvia de provocou uma risada em , enquanto o amigo a enlaçava pela cintura.
No mesmo momento que lançou um olhar de poucos amigos a , e ficaram sérios e o amigo pôde bater a foto que tanto queria, quase dando pulinhos de alegria ao ver o resultado.
- Agora que vocês já terminaram...! – rolou os olhos e segurou uma das mãos de . – Você vem comigo. Vou te apresentar o melhor lugar de Paris!
- Espera, ...! – começou a falar, mas logo teve que seguir os passos apressados do amigo, rindo enquanto os outros três se manifestavam logo atrás. – Você sabe mesmo como fazer entradas e saídas triunfais, não?
- Minha querida, o pode ser a diva do grupo, mas quem brilha mais sou eu. – deu uma rápida piscadela à , fazendo-a cair na gargalhada.
Realmente, aquilo fora real na escola e ela podia dizer com segurança que sempre seria.
- Mas então, ... O que você quer me apresentar? – ergueu uma sobrancelha quando saíram da galeria, para logo atravessar a rua, ainda ignorando os amigos.
- A outra galeria. – sorriu orgulhosamente, principalmente após a expressão de confusão nos olhos dela. – A galeria de comidas.
- Comidas? – E parecia imediatamente interessada, fazendo-o rir.
Quando entraram na tal da galeria, estavam rodeados das mais variadas lojas de doces, salgados, macarons e eclairs. Temperos exóticos, doces milimetricamente preparados com precisão e o cheiro de produtos fresquinhos sendo preparados de uma maneira a dar água na boca.
- do céu, você achou o paraíso. – comentou embasbacada, fazendo-o quase brilhar de tanto orgulho.
- E bota paraíso nisso. – concordou com a mesma expressão no rosto. – A gente vai provar um de cada, né...?
- Sim. – , e responderam ao mesmo tempo, o que os fez trocar olhares e imediatamente começar a rir.
- Mas, antes de tudo isso! – E novamente pegou a mão de . – Precisamos descer um andar!
Sendo assim, o grupo desceu as escadas rolantes, descobrindo um pequeno mercado com produtos fresquinhos e frutas exóticas de todos os lugares do mundo.
- Você tem que provar... Esse daqui! – procurou em algumas cestas, encontrando um pêssego literalmente achatado. – Um pêssego!
- Isso não é um pêssego. – comentou com as sobrancelhas franzidas.
- É sim. Vou comprar vários e estocar em casa! – piscou para ela, começando a escolher seus amados pêssegos.
- Não é possível ser um pêssego... – tinha a mesma expressão que a irmã.
E nisso, deu uma mordida na fruta.
- É um pêssego sim! – Ele disse em choque, levando um tapa de .
- Seu animal! Não é pra sair comendo as coisas sem lavar e no meio do supermercado!
Enquanto levava bronca de , e somente se ocupavam com gargalhadas e assumia a tarefa de escolher os pêssegos.
Então claro, quando os mesmos acabaram na geladeira, simplesmente virou uma fera.
- Vocês são uns porcos! Não acredito que comeram tudo e não deixaram nem um para mim...! – Ele reclamava ainda com a porta da geladeira aberta.
- A gente compra mais depois, calma. – assegurou com um gesto displicente e praticamente dormindo no sofá.
- Mas eu queria comer amanhã de manhã! Um pêssego achatado geladinho de café da manhã, que não vai dar pra acontecer, porque vocês são uns gordos inconsequentes que comeram tudo...!
As reclamações continuaram e a indiferença também. No final, todos foram dormir sem nem comentar sobre os pêssegos achatados.
Mas, quando acordou cedo no dia seguinte – afinal, era função de arrancar todos das camas – percebera que não estava na sua. Estranhando, foi até a sala, tentando colocar os cabelos bagunçados no lugar.
E lá, encontrou colocando a mesa para o café da manhã e, no prato dele, três pêssegos achatados.
- ? Aonde você achou isso? Guardou para mim...? – Ele perguntou com os olhos quase tão achatados quanto o pêssego por conta do sono. somente sorriu de volta, nitidamente com tanto sono quanto ele.
- Não. Acordei cedo para ir comprar para você. – Ela respondeu com um sorriso plácido, finalmente terminando e colocar a mesa.
somente abriu um enorme sorriso, fazendo-a fazer o mesmo. Aproximando-se da amiga, deixou um dos pêssegos na mão dela – mas não soltou-a após aconchegar a fruta na palma da mão de .
Ele não esperava que mesmo depois de todo aquele tempo, ainda retribuísse boas ações feitas para ele.
- Obrigado, . De verdade.
somente sorriu de volta. E, nesse momento, sentiu algo quente no peito – a certeza da lealdade de uma amizade verdadeira.
****
tinha certeza que podia ligar para em qualquer horário do dia que, se precisasse, ele estaria cinco minutos depois na porta da casa dela com um bule de chá e biscoitos preparados artesanalmente por ele mesmo.
A lealdade de era imbatível. tinha problemas em confiar em alguém que não fosse ela mesma ou , mas desde que o irmão apresentara seus amigos, a garota não pode deixar de se apaixonar por cada um deles e criar uma amizade especial.
Não queria. Preferia ter a certeza e a segurança de sempre permanecer sozinha – porém eles eram muito legais para que ela os negasse.
provou a própria amizade para de uma maneira meio inusitada. Ela e ele tinham um tipo de relacionamento engraçado: começavam a discutir somente de brincadeira, falando coisas absurdas que de fato não ofendiam, somente para se abraçar e dar risada logo em seguida. Tudo aquilo começou quando estava prestes a atravessar a rua na companhia de e quase a atropelou de bicicleta.
- Você não olha por onde anda, não, ô cabeça de bagre? – colocou uma das mãos na cintura, claramente cobrando uma posição.
- Melhor ser cabeça de bagre do que de vento que nem você! A senhorita estava toda olhando para o que nem me viu chegando, não é mesmo? – estacionou a bicicleta, pegando a mochila para acompanhá-los na escola.
- Claro! Muito melhor me ocupar com o do que com você! – Ela realmente parecia brava, parando logo que parou à frente dela.
estava pronto para separá-los caso um resolvesse morder o outro.
Mas imediatamente começaram a rir e se abraçaram dando bom dia.
Enquanto permanecia sem entender nada e ambos caminhavam lado a lado conversando sobre o dia anterior como se nada tivesse acontecido, estava iniciado um dos maiores costumes daqueles dois.
Portanto, quando mais precisava, não sabia se a atenderia tão prontamente.
Em um belo dia, após meses daquelas amizades que a ajudaram tanto, anunciara a todos os amigos como estava empolgada por finalmente receber amigos só dela em casa. Algumas pessoas que ela aparentemente conhecia já fazia um bom tempo e poderiam ser um bom grupinho da idade dela.
- O ponto é que nós temos que ficar de olho, ok? – perguntou a , e , com a postura mais séria que já tinham visto. – Os “amigos” da já a machucaram demais e é possível que a machuquem hoje também. Precisamos estar alerta.
Todos bateram continência e ficaram de olho nos próprios celulares durante o resto do dia. Enquanto isso, , em sua empolgação, preparou um bolo em casa e aguardou.
E aguardou.
E aguardou.
Até que ninguém apareceu.
Ela mandou algumas mensagens a fim de ter certeza que ninguém tinha se perdido no meio do caminho.
Mas a realidade é que nenhuma das pessoas que ela convidara compareceria.
desabou na própria cadeira da cozinha, sentindo-se ridícula com o próprio bolo e as esperanças de algumas horas que poderia ter um grupinho de amigos que não tivesse que ser o do irmão – adorava todos eles, mas sentia que tinha que dá-los certo espaço, afinal tinha acabado de ser chamada para ficar com eles, pois estava tentando protegê-la.
Sem saber mais para quem recorrer, ligou para . Como ele não respondeu – provavelmente estava dormindo – começou a checar a lista de contatos. Nem , nem apareciam como disponíveis. O único que estava online era .
“Oi, ! Não quero incomodar, mas eu fui literalmente deixada em casa, completamente sozinha e com um bolo. O programa foi por ralo abaixo e eu não queria ficar sozinha no fim de semana... Você vai fazer alguma coisa?”
Ela aguardou a resposta com expectativa. Esperava, pela maneira como sempre fora tratada, que negasse e ela realmente tivesse que ficar sozinha em um final de semana que estava empolgada para sair ou encontrar com amigos.
“Me dá dez minutos que eu já apareço aí com um chá para tomar com o bolo. Você gosta de quê?”
Sorrindo para si mesma, imediatamente respondeu.
Conforme o tempo fora passando, porém, a esperança se tornou um pensamento completamente sem fundamento e começou a recear que ele também não aparecesse – como falara que o faria.
Mas, antes mesmo que ela pudesse se desesperar, a campainha tocou. E, ao abrir a porta, se deparou com carregando um bule de chá de porcelana e um saco de bolachinhas.
- Oi! – Ele disse com um enorme sorriso. – Trouxe o chá e biscoitinhos que eu fiz para acompanharmos seu bolo! Você sabe que tudo que precisar, é só me ligar, certo? Agora, não vamos te deixar sozinha nesse sábado chuvoso!
somente concordou com a cabeça, rindo junto com . Começando a preparar a mesa para o chá da tarde, não parava de puxar assunto por um minuto, focado na idéia de fazê-la sorrir e esquecer o que tinha acontecido.
: Vi agora que você me ligou. Tá tudo bem? [16:26]
: Tudo ótimo! O está aqui e temos tudo sob controle! Obrigada, ! [16:32]
Cada um dos dois sorriu para a tela do próprio telefone – pois sabiam que, de todas as pessoas, podiam sempre contar com a lealdade – e a bondade - de .
****
- Ah... – suspirou enquanto se jogava no sofá que conheciam tão bem. – A França realmente foi uma viagem e tanto, não?
- E como foi... Já estou com saudades e precisando de férias de novo. – estava sentado em uma poltrona próxima, uma taça de vinho nas mãos e a expressão mais cansada do planeta.
- Que horror, faz menos de seis meses que voltamos de lá! Normalmente temos um período de férias por ano, então contente-se! – caminhava pela sala ansiosamente, enquanto surgiu da própria cozinha com mais uma garrafa de vinho em mãos.
- E praticamente três meses que não vemos a . O que aquele outro grupo fez com ela? Escravizou, por um mero acaso? – O amigo reclamou observando o horário no relógio de pulso. – Ela devia ter chegado há uma hora!
- Pelo que ela me disse, ficou presa terminando algumas edições em uma música que vão lançar depois de amanhã... – comentou preguiçosamente, observando as últimas mensagens da irmã no celular. – Ela tá com uma agenda puxada, dá um desconto.
e já abriram a boca para reclamar quando ouviram a porta se abrindo. Todos eles já sabiam como abrir a porta do apartamento de – o mesmo que frequentavam praticamente todo dia quando estavam na escola e comemoraram o aniversário de quando eram mais jovens.
E logo surgiu a imagem da amiga sorridente, carregando somente a bolsa e usando um casaco preto comprido que sinceramente parecia afanado de .
- Desculpem o atraso, meus amores! Terminei o que precisava e sou toda de vocês essa noite! – anunciou enquanto praticamente dava pulinhos na direção da amiga.
Ele e o cachorro de tiveram que disputar a atenção. Quando quase se aproximara para o abraço, se abaixou para cumprimentar o cachorro – causando risadas em todos os amigos presentes.
- Desde a escola, ela não muda. – comentou com , cheio de afeição na voz.
Apesar de concordar com a cabeça, discordava. mudara muito. Antes era uma estrela apagada, com potencial para brilhar, porém muito machucada pelas pessoas a sua volta. sabia como ela tinha dificuldade para gostar de si mesma depois de tudo que tinha passado. Sabia de cada machucado no coração de e a dor que a irmã tinha suportado. Os dilemas, as indecisões, as escolhas difíceis. Agora, porém, ela brilhava em todo seu potencial – e tinha certeza que brilharia cada vez mais. Tinha orgulho de tê-la ajudado naquela jornada e mais orgulho ainda dos amigos que estenderam as mãos e seguraram quando ela mais precisara. Foram eles que a arrancaram do mar e a deixaram sã e salva quando a moça estava se afogando. E fariam aquilo pelo resto da eternidade de fosse preciso – apesar de que agora quem dava o suporte quando mais precisavam era ela.
- Oi, ! Pode parar de pular agora! – Ela praticamente gritou com o amigo, que a abraçou fortemente e pulou junto com , ambos dando risadas.
- Minha gata maravilhosa! – exclamou logo que a largou. – Seja bem vinda! Antes de mais nada, me diga: vai querer beber o quê? Temos todas as opções possíveis nessa casa!
- Ah, não sei... – pensou um pouco e deu um pequeno sorriso brincalhão. – Me faça uma surpresa.
A sala inteira explodiu em risadas, menos . Aquele era um bordão deles, algo que dissera exatamente a , oito anos antes, quando estavam almoçando na casa dele na escola. voltara com um Toddyinho e realmente ficara surpreso, então era exatamente aquilo que esperava.
- Ai, não fala assim que eu volto nu. – respondeu com um sorriso safado, indo para a cozinha.
e estavam quase rolando de rir no chão. provavelmente estava querendo que nunca tivesse ouvido aquilo. estava com cara de choque e murmurou “realmente não estava esperando por isso”.
- Por favor, que ele não volte nu... – comentou olhando para o teto fazendo com que a irmã e o amigo rissem mais ainda.
- Pronto! – E retornou, por sorte ainda com roupas. Em seguida, entregou um Toddyinho e uma taça de vinho rose para . – Achou que eu não ia lembrar, não?!
- Obrigada. Hoje é um dia que eu realmente estou precisando de um Toddyinho. – deu um rápido beijo na bochecha de , deixando-o completamente ruborizado até as orelhas.
E o jantar foi exatamente o que faziam na época da escola: falaram besteira, comeram lasanhas feitas por – esperavam um desastre, mas o amigo admitira no meio da noite que comprara em um lugar especializado – beberam e beberam, jogando conversa fora e dando boas risadas conforme a noite passava.
- Sabe o que precisamos para encerrar essa noite com chave de ouro? – perguntou repentinamente, batendo no tampo de vidro da mesa e recebendo reclamações de . – Assistir um filme!
- Sim! Exatamente da maneira como fazíamos no colegial! – se empolgou, já se levantando e levando junto consigo, que agarrou mais uma caixinha de Toddyinho enquanto era arrastada.
- Eu escolho o filme! – se levantou tão rapidamente que mal viram o amigo correndo até a sala, algo inédito.
- Ih, gente... Vou ter que ser um pouco estraga prazeres... – parecia realmente triste. – Não tenho pipoca... Temos que sair para comprar.
A casa caiu em silêncio. Após alguns segundos se encarando, pegou o próprio casaco e o celular em cima da mesa.
- Então vamos em um supermercado vinte quatro horas! Eu chamo o uber!
- Eu faço a lista! – pegou o celular e começou a anotar no bloco de notas. – Pipoca. O que mais?
- Waffles! – se manifestou, seguindo os amigos até o elevador.
- Sorvete de chocolate da Häagen Dasz! – complementou, apertando o térreo.
- Toddyinho! – se manifestou, sorrindo em seguida. – E vodka.
- Vamos fazer milkshakes de vodka?! – sorriu animadamente para a irmã.
- Mas é claro, meu amor!
- Você é a coisa mais linda do mundo, ! – praticamente grudou em , sendo o amigo que mais bebia no grupo e quem a moça carinhosamente apelidara de “mulherengo manguaça”.
Entre risadas, o grupo de amigos saiu do elevador, já correndo até a porta do prédio para pegar o uber que, segundo , chegaria em menos de dois minutos. ia por último, aproveitando cada passo no caminho de pedras ladeado por grama, árvores e um laguinho de carpas – no qual caíra quando eram adolescentes.
Parando ao lado do laguinho enquanto os amigos esperavam o carro à porta de vidro do prédio, se lembrou daquele dia e começou a rir. Um leve vento gélido do meio da madrugada bateu e a moça pôde ouvir o barulho de sinos de vento em algum prédio.
observou à sua frente e pensou em como era sortuda de tê-los durante tanto tempo. Fora por causa deles que ela aguentara os momentos mais difíceis e sabia que poderia contar com aqueles quatro pastéis em qualquer momento da vida. Ela sorriu inconscientemente, mas logo percebeu uma presença atrás de si.
Virando-se vagarosamente, a moça encontrou somente o caminho de pedras vazio. Lembrou-se de todos os momentos que passara lá quando era mais jovem, de todos os sorrisos que dera quando pensara que a vida estava acabando. De todas as vezes que eles a abraçaram, que dera altas risadas com ela, que segurara sua mão, que a abraçara e que grudara nela feito um coala.
E, como se fosse mágica, podia se ver novamente. Parada em frente a si mesma, vestindo o uniforme da escola – a camiseta com o nome do colégio, a calça jeans esfarrapada e o par de all star sujo. O vento bateu no rosto de ambas, esvoaçando seus cabelos. Elas se observavam com curiosidade, como se o próprio tempo tivesse parado.
A mais velha sentiu lágrimas surgindo nos olhos. Erguendo levemente a cabeça, tinha vontade de falar para aquela garota de dezesseis anos – machucada, assustada, melancólica e com problemas de confiança – que tudo ia acabar bem. Que havia esperança. Que havia pelo que lutar. Que aqueles amigos que ela tinha iam segurá-la quando ela mais precisasse e ajudá-la a nunca desistir. Que ela sabia que, no momento, a garota estava sangrando, magoada, sem conseguir se levantar do chão por causa dos machucados – mas que cada um dos amigos, à sua maneira, a ajudaria a se recuperar e continuar caminhando. Que a ensinariam a correr mesmo com os pés doendo.
Que a mostrariam que havia pelo que viver.
A própria garota teve os olhos cheios de lágrimas, parecendo entender tudo que se passava na cabeça da moça. A mais velha sabia que era uma tarefa árdua, mas tudo aquilo a mostraria o que era o amor verdadeiro – e que se ela própria não se amasse, como poderia amar outra pessoa?
- Tudo vai passar... – Ela suspirou, chamando a atenção da sua versão mais nova e fazendo as lágrimas escorrerem nos olhos da garota. – Somos sobreviventes, tudo vai passar...
Sim. Aquela garota de dezesseis anos era uma das pessoas mais fortes que conhecera. Ela atravessaria o fogo para salvar a própria vida e as dos amigos. Ela tinha alma de sobrevivente e nunca se deixaria quebrar – por mais fraca que pudesse ficar. a admirava... E queria viver. Queria ficar bem velhinha ao lado dos amigos, fazer diversas besteiras, dar boas risadas e viver. Ainda havia muito que ver e o mundo era grande demais para achar que tudo havia chegado ao final – aquele era somente o começo de grandes coisas que estavam por vir.
- Ei, . – repentinamente a tocou no ombro, fazendo-a virar somente a cabeça na direção dele. – O uber chegou. Vem logo antes que o vá embora e tenhamos que pegar outro.
- Ok, estou indo. – Ela deu um pequeno sorriso, fazendo o irmão sorrir de volta. Ele não sabia o que se passava na cabeça de , mas entendia, pelas lágrimas nos olhos dela, que a irmã precisava de um momento.
Olhando novamente para aquele lugar, encontrou ela mesma sorrindo, ainda com o uniforme de escola, como se estivesse feliz de ver aquela interação.
Aproximando-se com passos decididos, começou a caminhar nos próprios saltos em direção a ela. Finalmente movendo o all star, começou a andar na direção daquela moça que lhe dava orgulho em ver. Aos poucos, ambas começaram a correr até que finalmente uma terminou nos braços da outra – a mais velha afagando os cabelos da mais nova. Lágrimas começaram a escorrer dos olhos da moça, enquanto a garota manchava a blusa da moça com as próprias lágrimas.
Apesar disso, ambas sorriam como nunca – sentindo uma mistura de alegria, euforia e calor no coração. Algo que nunca tinham sentido antes, mas definitivamente gostaram.
E, ao mesmo tempo, disseram as palavras que definiram o que estavam sentindo e que somente elas poderiam entender:
- Eu te amo.
Extra: Sobre carpas, cervejas de guaraná e filmes de terror
- Quem chamou o ?! – estava prestes a morder alguém.
- Ah, eu chamei! – se manifestou enquanto tentava dar as direções ao motorista.
Tentava, porque o homem estava mais seguro com o GPS do que com as direções de após quatro garrafas de vinho.
- A sempre ficou de olho nele, então acho que vai fazer bem! – completou com um sorriso safado.
- ! – e gritaram ao mesmo tempo, enquanto a moça somente queria se enfiar embaixo do banco e ria como nunca.
- Achei que não teria problema! Depois que vocês não me chamaram para a viagem de Paris, seus ingratos, era o mínimo que podiam fazer para se redimir. – respondeu com um sorriso simpático nos lábios, afagando os cabelos de . – Vim aqui pra cuidar de vocês, meus bêbados de plantão.
- Primeiro, você estava no meio da gravação da sua novela, . – cruzou os braços após tirar as mãos do amigo de circulação. – E segundo, eu não estou bêbado.
- Pois é, diz a pessoa que colocou guaraná no copo achando que era cerveja, tomou e ainda curtiu o “gosto do malte”. – disse a última frase da maneira mais ridícula que conseguira para imitar , resultando em risadas dos amigos.
- Você é mais que bem vindo, . – apoiou a cabeça no ombro do amigo que sentara logo ao lado dela, a fim de demonstrar o carinho. – Precisamos de alguém com bom senso por aqui.
- Eu disse que ela fica de olho nele...! – disse entre risadinhas, levando tapas tanto de quanto de enquanto dava gargalhadas.
- Se estamos dependendo do para ser a pessoa com “bom senso” no grupo, estamos perdidos. – comentou de maneira agourenta.
E o caminho ao supermercado não podia ter sido mais escandaloso.
- Tá vendo?! Ainda bem que vocês me trouxeram junto! – comentou enquanto caminhava com os amigos pelo caminho de pedra a fim de irem até o elevador. – Se não, teriam esquecido a cobertura de chocolate e os donuts!
Já tinham comprado tudo que precisavam – depois de muito escândalo, fotos com pessoas do supermercado que os reconheceram, discussões sobre qual cobertura iam levar e qual sabor dos donuts, além de arrastando e pelo colarinho para que não pegassem um estoque considerável de miojo e cervejas, enquanto somente ria das expressões de crianças que fizeram besteira de ambos. Com a missão cumprida duas horas depois de terem saído de casa, estavam caminhando de volta ao apartamento que tanto amavam, carregados de sacolas e mais sacolas de comida.
Não tinham saído para comprar tanta coisa assim, mas queria ver a cara de todos quando descobrissem as coisas que tinham comprado enquanto levemente altos de bebidas.
Isso porque nem tinham tomado os famigerados milkshakes de vodka.
- Eu disse que foi uma decisão sábia! – estufou o peito, caminhando a passos largos pelas pedras.
- Ok, ok. Amor próprio à parte, o que vamos assistir essa noite? – literalmente ignorou , causando risadas.
- E você ainda pergunta?! – parecia indignado. – É claro que vamos assistir Gilmore Girls!
- SIM! – berrou atrás do amigo, praticamente pulando em cima dele para um abraço.
não conseguia parar de rir da moça – e não podia negar que a achava fofa quando agia daquela maneira. Era impossível tirar os olhos de .
Parecia que só ele tinha percebido, mas ela brilhava de uma maneira diferente naquela madrugada.
- Ah, não! – se manifestou. – Temos que assistir a um filme de terror!
- Ah, eu não gosto de filme de terror...! – começou a dizer com manha.
- Toda vez que assistimos filmes de terror temos boas risadas. O correndo e gritando em desespero é um ponto alto da noite. – ponderou, fazendo o coração de e ficarem tentados.
E percebera, já começando a entrar em desespero.
- Não! Tenham piedade! ...! – E agarrou a manga da blusa do amigo, chacoalhando levemente e observando-o com olhos pidões. – Por favor, seja a pessoa com bom senso...
- Desculpe, . Mas o filme de terror realmente é a opção mais interessante da noite. – tinha um sorriso reconfortante nos lábios apesar das palavras cruéis, o que os fez cair em gargalhadas.
Menos .
- Se eu puder sentar do seu lado, concordo com a proposta. – enlaçou o braço de , começando a caminhar junto com ele.
- Claro que pode! – Ele respondeu com as bochechas ficando levemente coradas e sentindo o coração batendo mais forte.
gostava de assistir filmes de terror, porém tinha que admitir que não era das mais corajosas. , por outro lado, nem se mexia – e ainda ria dos sustos dos amigos. Nenhum dos dois queria admitir, mas era conhecida por um dia se assustar tanto que praticamente pulou no colo de e grudou nele como um coala, então esperava com todo o coração que aquilo acontecesse e ele pudesse acalmá-la em seus braços, enquanto esperava que o filme não a poupasse nem um segundo para que pudesse esconder o rosto na curva do pescoço de .
- ! – gritou em uma fúria cega, fazendo com que o amigo somente desse a risada que sempre dera quando tinha feito alguma travessura. – Seu filho de um inhame! Eu vou acabar com a sua raça!
E , na tentativa de fugir de um pontapé de , caiu novamente no lago de carpas.
As risadas foram quase ensurdecedoras.
- Por que você sempre faz isso?! – perguntou como se não acreditasse no amigo que tinha, as mãos na cintura e os olhos grudados nas estrelas. – Por quê?!
- Eu já nem fico mais surpreso. – comentou tentando permanecer calmo, mas rindo horrores logo em seguida.
- Espera, espera... Temos que tirar fotos! – tirou o celular do bolso e começou a bater inúmeras fotos, junto com a ajuda de .
- Sabe como se chama isso? KARMA, SEU INGRATO! – E o que mais se divertia era .
- Ninguém vai me ajudar a sair daqui, não?! – parecia irritado com aquela situação, tentando fazer com que suas sacolas não molhassem.
se aproximou e todos ficaram impressionados com a bondade do amigo.
Até que ele pegou as sacolas e as distribuiu entre ele, , e .
- Não podemos deixar as compras molhar... – comentou calmamente, fazendo com que rissem mais ainda.
- Calma, , eu te ajudo... – suspirou entre risadas, segurando as mãos do amigo.
E sendo puxada para o lago de carpas.
- , SEU FILHO DE UM INHAME! – Ela xingou enquanto ouvia a risada sapeca dele, entre as dos outros amigos.
- Ei, vocês! Querem parar de fazer barulho?! – Ouviram um dos moradores gritando pelas janelas e imediatamente começou a fazer sinais para que ficassem em silêncio.
Reprimindo as risadas para que continuassem se divertindo sem nenhum som – afinal, ninguém queria que levasse alguma multa ou algo do gênero – ajudaram e a sair do laguinho e se enfiaram no elevador o mais rápido que puderam.
Explodindo em risadas logo que entraram no apartamento de .
e foram logo para os banheiros do grande apartamento para tomar um banho quentinho e colocar um dos vários pijamas do amigo a fim de ficar mais confortáveis. Os outros também pegaram pijamas emprestados e logo estavam todos na sala, com colchões no chão, prontos para assistir a filmes de terror.
não dissera, mas separara o pijama mais fofinho e quentinho para . Ninguém falara nada, mas ela estava simplesmente a visão mais adorável da noite no pijama rosa de plush – parecendo um pequeno floco de algodão doce.
Comeram provavelmente mais do que deveriam, beberam uma quantidade ridícula de milkshake de vodka, assistiram diversos filmes, deram boas risadas com os sustos e conversaram até o amanhecer. Quando o sol estava despontando entre as nuvens, porém, e ficaram responsáveis de dar uma breve organizada no local e enfiar todos eles embaixo das cobertas para que também pudessem descansar.
Quando já tinha cuidado de e , finalmente parou para observar e .
Ela estava apoiada no ombro de , uma das pernas quase jogada sobre o colo dele – como se quisesse se sentar entre as pernas do amigo e usar o peito dele de travesseiro, aconchegada pelos braços de . Ele tinha uma das mãos na cabeça de , provavelmente tendo adormecido afagando os cabelos dela. Após se mexer um pouco, porém, a mão livre segurou a perna indecisa de e a puxou na direção da cintura dele, fazendo com que ela quase estivesse sentada no colo de .
conhecia o bom coração do amigo e a sinceridade que tinha. Os sentimentos de eram ingênuos e puros e por mais de uma vez o pegara falando de uma maneira quase sonhadora sobre . Ele reclamava do amigo, mas sabia que era por conta do sentimento que já tinha percebido entre os dois e o medo de que fosse machucada mais uma vez.
- Ei, ... – balançou levemente o ombro livre do amigo, fazendo-o abrir os olhos de maneira sonolenta. – Tá na hora de deitar.
- Ok... – murmurou de volta, fechando os olhos por alguns segundos antes de suspirar e observar em seus braços.
Puxando a outra perna para o colo, fechou os braços da amiga em volta do próprio pescoço e – mesmo sonolento e cansado – usou de toda a força que tinha para levantá-la da maneira mais suave possível a fim de não acordá-la. Quando ouviu resmungando, congelou no lugar para que ela voltasse a dormir placidamente. Após se certificar de que tudo estava bem, empurrou os lençóis com os pés e a deitou cuidadosamente, como se a moça fosse feita de cristal. Finalmente a cobriu e deu um rápido beijo na testa de , completamente ignorante aos olhos de .
- Boa noite, . – murmurou e se deitou ao lado dela, pronto para virar de costas quando uma das pequenas mãos da moça agarrou a dele.
- Boa noite... – Ela resmungou entre os sonhos, impedindo-o de virar de costas.
sorriu e se aproximou, dormindo frente a frente com a moça que tanto gostava.
somente sorriu. Deitando-se em seu próprio lugar do outro lado de , não tinha mais nenhum receio no próprio coração, podendo dormir placidamente.
Agora, além dele, , e , tinha mais uma pessoa para cuidar dela.
- Merci!
pegou o passaporte de volta com um sorriso contente, porém nervoso estampado nos lábios, segurando a alça da mala e começando a arrastá-la pelo aeroporto.
Não fazia ideia de onde estava indo. Não sabia falar Francês, nunca tinha viajado sozinha e passara as últimas horas quase entrando em colapso no avião, mas lá estava ela: os pés caminhando nervosamente pelo aeroporto de Paris, ansiosa para encontrar os melhores amigos que não via há um ano.
, seu irmão de alma, estava de férias no país junto com os amigos e colegas de banda – , e . Quando viram a oportunidade, chamaram para passar um tempo com eles, no que a moça aceitou sem nem titubear. Mesmo com medo e com a vida conspirando para aquela viagem não dar certo, lá estava ela.
Lá estava ela.
Aquela fora definitivamente a coisa mais louca e corajosa que fizera nos últimos anos.
Sentindo o coração batendo cada vez mais forte, ela não via a hora de encontrá-los novamente. As saudades estavam quase matando-a e, por mais que gostasse de se gabar da própria independência, realmente precisava deles para viver.
Foram eles que salvaram a vida dela por mais de uma vez. Que deram apoio quando ninguém mais dera. Que cuidaram dos machucados e limparam as lágrimas dela. não via a hora de abraçá-los fortemente mais uma vez.
Mas nenhum sentimento fora tão forte quanto o momento em que vira novamente depois de tanto tempo.
Abrindo um enorme sorriso, ela acenou para ele. Ouviu-o gritando seu nome, sendo seguido pela algazarra de , e . Arrastando a mala de qualquer jeito, correu para os braços do irmão, que corria na direção dela.
Assim que a alcançou, a enlaçou com força, derrubando a pequena mala no chão. Os outros vinham correndo atrás, enquanto os irmãos se mantinham rindo e chorando ao mesmo tempo, matando as saudades.
- Ah, minha linda...! Quanto tempo...! – suspirou, afagando os cabelos de camomila da irmã. Aquele aroma o acompanhara a vida toda e o acompanharia até morrer. – Eu ouvi as últimas músicas que você produziu, são maravilhosas!
- E as últimas que você escreveu também são lindas, ...! Senti tantas saudades...! – deu uma risada audível, abafando o som das lágrimas. Ele a abraçou com mais força.
- Ei! – se manifestou, como sempre com as mãos na cintura e postura de mãe desgostosa. – Você vai deixar a gente matar as saudades também ou não, ?!
riu imediatamente enquanto o irmão somente deu de ombros. Era bom tê-la de volta em seus braços.
E também sentira saudades quase eternas de . Durante muito tempo, ele cuidara dela de uma maneira que ninguém mais fora capaz. Por várias vezes, fora a única porta aberta que ela encontrara. E, quando ninguém mais esteve lá, salvara a vida dela.
estava escondida no último Box do banheiro da escola, respirando fundo e tentando se acalmar.
Era a terceira vez que aquilo acontecia. Ela tentara sair da sala durante o intervalo para conversar com o pessoal na praça do colégio, dar risadas, tomar seu lanche e, por mais que ela não quisesse admitir, observar o garoto que achava bonito na esperança de que ele a notaria e pudessem começar um romance típico de comédias românticas adolescentes.
Mas a vida dela não era uma comédia romântica adolescente. deixara a sala com vergonha, caminhando com passos inseguros pela praça e sentindo o sol batendo em seu rosto. A garota começou a sorrir, empolgada para encontrar o irmão e os amigos dele – que sempre foram tão simpáticos com ela. No meio do caminho, entretanto, ela encontrou o garoto que gostava e começou a observá-lo, jogando os cabelos de uma maneira que achava que era discreta.
Então ela nem soube mais o que houve, pois tudo fora muito rápido. Outras garotas apareceram e começaram a rir dela, fazendo piadinhas de mau gosto, na frente do garoto que gostava. Sem saber direito o que fazer, com o coração acelerado e as orelhas ardendo em vermelho, a garota abaixou a cabeça e tentou ir embora o mais rápido possível. Ela nem viu quem colocou o pé em seu caminho para que tropeçasse. Quando percebeu, estava no chão e as risadas ecoavam tão alto que ela correu para o banheiro.
E agora não conseguia sair.
Colocou a mão na maçaneta uma, duas, três vezes. Até que finalmente desistiu e se sentou na privada fechada, derrotada. Suspirando de maneira audível, ela só pensava em como era ridícula e em quando teria coragem de se tornar alguém melhor.
- ...?
Ela imediatamente levantou a cabeça.
- ?! – O que o irmão dela fazia no banheiro feminino a escapava, mas aquilo a fez abrir a porta do Box imediatamente.
- Eu fiquei sabendo sobre o que aconteceu. – Ele comentou silenciosamente, enquanto encontrava os grandes olhos laminados de lágrimas da irmã.
somente sorriu e o abraçou, deitando a cabeça sobre o peito dele. afagou levemente os cabelos dela, tentando fazê-la se sentir segura.
- Esquece essa gente idiota, tá bem? – E se separou dela, limpando uma lágrima do rosto de de maneira desleixada até. Em seguida, segurou uma das mãos dela, caminhando calmamente, porém com passos decididos. – E deixa de passar o intervalo sozinha. Vou te apresentar aos meus amigos e vamos ficar juntos. Essa gente não te merece.
- Muita gente também não te merece, . – respondeu, fazendo o silêncio cair entre ambos de maneira significativa. – Obrigada por sempre estar aqui.
Saindo do banheiro, a puxou para perto de si, passando o braço pelos ombros da irmã e abraçando-a o mais próximo que podia – permanecendo sempre com a expressão de poucos amigos que fazia com que ninguém se aproximasse.
Durante muitos anos, um fora o suporte do outro na árdua luta contra a depressão. Entendiam-se com poucas palavras, passavam horas tocando piano e compondo músicas juntos. Quando fora agredida pelos colegas de turma nas aulas de esportes, a abrigou em casa e cuidou de seus machucados e do coração partido. Quando quase tomou a pior decisão de sua vida, correu até ela e quase colocou a porta abaixo para lembrá-la que valia a pena e que ele a amava. Quando ela se sentiu perdida e sem esperança alguma, ele a ligou e acalmou seus pensamentos. Quando tudo parecia perdido, dormiu ao lado dela, de mãos dadas, prometendo que tudo ficaria melhor e que ficaria ao lado dela até o fim da vida.
não tinha muitas certezas na vida, mas naquela promessa, podia confiar. Trilharam o caminho em busca dos próprios sonhos juntos e conquistaram tudo juntos. Sempre de mãos dadas, um dando suporte ao outro e fazendo com que permanecessem em pé por mais agressões que levassem. Sabiam que se eventualmente acabassem separados, um dia se encontrariam novamente. Porque ficariam juntos até o fim da vida.
e podiam não ser realmente irmãos de sangue, mas eram irmãos de alma. E era aquilo que contava.
- Agora, quer me falar o porquê de você estar tão empolgada para desenhar estátuas quando tem isso daqui para modelar para você? – perguntou enquanto apontava para o próprio corpo de maneira óbvia.
simplesmente riu enquanto caminhavam pelas ruas de Paris. Estavam a caminho do museu do Louvre e, pelo que dissera, havia uma creperia muito boa em uma rua ao lado do museu, então aquele era o itinerário do dia: comer crepes na creperia do e passar a tarde no Louvre – onde desenharia as estátuas que quisesse. Estava tão empolgada com aquilo, que fora o assunto principal do dia em que chegara e andara a cidade inteira junto com os amigos para conhecer todas as linhas de metrô antes de se aventurar pelos pontos turísticos.
- , meu querido. Eu posso desenhar você quando quiser, as estátuas tenho somente aqui na França! – respondeu de maneira espirituosa, causando exclamações de todos os amigos.
- Ela chamou o de “meu querido”?! - comentou como se estivesse em choque, seguido de uma risada escandalosa e um tapa da amiga.
- Meu amor, nós já evoluímos tanto assim?! – parecia emocionado, fazendo balançar a cabeça e rir. – Se alguém te ouvisse da época da escola, ia achar que você foi sequestrada e quem está aqui conosco é uma irmã gêmea do mal! É sério que eu sou seu querido?!
- , por mais que você seja grudento, carente, mulherengo, sexy e fofinho ao mesmo tempo... – suspirou após a lista, parando no meio da calçada e encarando o amigo. – Sim. Você é meu querido.
- Ah, esse é o melhor dia da minha VIDA! – E sim, gritou no meio da rua, causando mais risadas.
- E esse é o momento que a vai se arrepender amargamente das próprias palavras. – anunciou de maneira dramática, arrancando uma boa risada de .
- Eu espero que... – Mas, antes que ela pudesse terminar de falar, foi envolvida por um abraço avassalador de .
- Eu te amo, minha linda! Sabia disso? – Ele perguntou com carinho, enquanto caminhava com a moça de uma maneira estranha, atraindo olhares na rua ao quase chegarem à famigerada creperia.
- Sabia. – comentou com um suspiro, causando risadas nos amigos que já entraram no pequeno bistrô. Como ela e estavam juntos, esperaram até que , e estivessem lá dentro, antes de começarem a caminhar como gêmeos siameses. O mais difícil seria subir as escadas. – Eu também te amo, .
E ele congelou. Ao pé das escadas, continuou abraçado em , completamente em choque enquanto a moça somente sorria. Após finalmente processar o que ela tinha falado, começou a sorrir, lutando contra as lágrimas nos próprios olhos. Em seguida, a abraçou mais forte, de maneira aconchegante e protetora, como se aquele fosse o momento mais precioso da vida deles.
E provavelmente era.
- Você sabe que sempre pode contar comigo, não é, meu amor? – disse baixinho, quase em um sussurro, para que só ela ouvisse. fechou os olhos e lutou contra as lágrimas de felicidade que ameaçavam surgir. – Eu sempre estarei aqui para você. Minha melhor amiga.
- E eu sempre estarei aqui por você, meu melhor amigo. – sussurrou de volta, olhando para .
Assim que os olhos de ambos se encontraram, começaram a sorrir. Era a primeira vez que eram tão sinceros um com o outro.
- Oi! – E ouviram a voz de no topo das escadas, encontrando só a cabeça do amigo. – Vocês dois querem parar de namorar e subir logo? Estamos com fome.
- Não estamos namorando! – e disseram ao mesmo tempo, largando um do outro e subindo as escadas imediatamente enquanto sumia.
Mas logo segurou a mão de , guiando-a escada acima. Aquele fora o melhor almoço que tiveram na vida.
De todos os amigos de , era o que mais fazia se sentir confortável. Não porque os outros não eram simpáticos, mas era como um fofinho cobertor ambulante: sabia que não havia erro nos abraços dele.
Mas ela nem sempre fora receptiva a abraços. Muito pelo contrário: quando se conheceram no colégio, ela tinha ojeriza a quem tentasse encostar nela.
E claro: não sabia o que era espaço pessoal.
- ! Meu amor! – Ele saía gritando quando a avistava, correndo grandes distâncias enquanto somente tinha uma expressão óbvia de horror.
Congelada no lugar, grudava nela feito um coala. queria morrer.
- Quer sair de cima de mim, desgraça?
- Não! Eu te amo, ! – O garoto dizia, abraçando-a mais forte.
- Eu não.
Era esse o momento que todos explodiam em risadas, ficava orgulhoso da irmã que tinha e começava o maior drama do século de “minha vida não faz sentido, a me odeia” até que ela finalmente falasse “eu te amo” com o maior olhar de morte do planeta.
Apesar da aparente amargura da garota – coisa que ela e tinham em comum e não podiam negar que aquilo era um traço compartilhado de irmãos – ela não podia negar que se sentia feliz com toda aquela atenção. Não demonstrava, mas jamais negava.
- Você estava maravilhosa naquele palco, ! – praticamente babava em cima da garota. somente rolou os olhos e cruzou as pernas envoltas por somente uma meia arrastão e shorts pretos.
Tinha acabado de descer do palco na apresentação anual da escola – um grande evento do colégio, no qual todas as alunas das escolas de dança apresentavam as coreografias ensaiadas durante o ano todo – e somente se dera ao trabalho de tirar a saia para caminhar pela escola de collant, shorts, meia arrastão e sapatilhas. Não achava que chamaria atenção, afinal, quem prestaria atenção nela?
- , você diz isso pra qualquer coisa com um par de pernas à mostra. – lançou um olhar com uma sobrancelha erguida para o amigo. – Mulherengo.
Apesar das risadas, no dia seguinte – quando ela já estava novamente de uniforme, com as calças jeans esfarrapadas e a mochila preta apoiada no ombro – era quase completamente alheia aos comentários sobre como ela estava linda no dia anterior... Porém e não eram.
- Esses cretinos filhos da...
- ! Qual é o seu problema? – perguntou de sobrancelhas franzidas. – Não pode sair xingando todo mundo que comentar que a sua irmã é bonita, se não vai ter que xingar o mundo todo!
- Mas ele tem razão, . – cruzou os braços, quase tão mal humorado quanto . Só não era igual, pois a aura negra de era correspondente somente à de . – Esses caras ficam zoando a todos os dias e agora ficam falando como querem dar uns amassos com ela só porque estava bonita ontem.
- Oi...? O sujeito da conversa está aqui...? – se manifestou, acenando para chamar a atenção dos amigos sem noção. – Se vocês puderem parar com isso, agradeço. Não fico confortável com essas coisas...
- MAS COMO VOCÊ NÃO PRESTA, MULHER! – gritou repentinamente enquanto encarava o celular.
Todos ficaram em choque. abraçou , já se preparou para bater no amigo e somente ficou encarando como se quisesse dizer “grita de novo que eu acabo com a sua existência, seu cretino”.
Mas somente lançou um olhar indignado para .
- Como você não nos contou que hoje é seu aniversário?! – Ele colocou as mãos na cintura, parecendo uma perfeita mãe dando bronca na filha.
- O QUÊ?! – E foi a vez de e abrirem o berreiro.
somente suspirou e olhou para o chão. Era exatamente por causa daquilo que optava por ignorar o próprio aniversário. E também porque fora muito maltratada por outros “amigos” antes e achara melhor simplesmente apagar a data da existência do próprio calendário. Ele nunca discutira: entendia a irmã perfeitamente e faria o que ela se sentisse mais confortável.
- Eu não preciso sair colando panfletos pela escola declarando meu aniversário, né? – E tirou os braços de de si de maneira agressiva, cruzando os próprios braços e encolhendo-se na defensiva. – Ninguém precisa ficar sabendo. Não é uma data legal e eu odeio comemorar, ok?
Antes que qualquer pessoa pudesse discutir, porém, o sinal tocou e tiveram que voltar para suas respectivas salas de aula. O dia correu normal, sem mais nenhum incidente de aniversário, até colocar a mochila nos ombros e caminhar casualmente até a porta do colégio. Conforme tinham combinado – e como faziam todos os dias – eles iam almoçar na casa de .
Simplesmente porque a casa era tão grande quanto o coração dele e nenhum deles saberia o que fazer caso dissesse algum dia que não poderiam almoçar lá. Era quase como um ritual.
- Sim, sim! Pode ser o de chocolate! – Ela o ouviu falando no celular. – Chegamos em menos de cinco minutos, não tem problema!
- O que vai ser de chocolate? – perguntou casualmente, ignorando o sorriso óbvio nos lábios de .
- O seu bolo de aniversário, é claro! – respondeu como se fosse óbvio. A garota simplesmente o encarou em choque. – Pedi para a minha empregada correr no supermercado e comprar um bolo de chocolate pra você! Porque todo mundo gosta de chocolate, né?
- ... Não precisava... – nem sabia o que falar e provavelmente se esconderia embaixo de algum carro conforme andavam pela rua. – Nós nem nos conhecemos há tanto tempo...
- E precisa conhecer há quantos anos pra comemorar aniversário? – Ele perguntou de volta como se aquilo fosse o maior absurdo que já tinha ouvido. e conversavam sobre qual filme iriam assistir para comemorar enquanto os seguia em silêncio com as mãos nos bolsos da calça. – Você é minha amiga e sinto que te conheço a vida toda, ! Vamos comemorar juntos e será com bolo!
A comemoração foi simples. Um almoço com todos juntos, conversando e dando risadas. O pequeno bolo de chocolate que não tinha vela – então deu a brilhante idéia de usarem o fósforo como substituto:
- Vamos, ! Apaga logo antes que queime meus dedos! – Ele gritava desesperadamente no meio da canção de parabéns, enquanto não conseguia parar de rir.
- Devia deixar queimar. – se manifestou com uma risadinha enquanto batia palmas e recebia olhares não muito simpáticos de .
- E não se esquece de fazer um pedido! – apoiava as mãos nos ombros da amiga, pulando atrás dela como um pequeno coelho empolgado.
Fechando os olhos, assoprou sua vela de fósforo segundos antes de queimar o indicador de .
- Ai, misericórdia! – Ele gritou e finalmente se jogou na mesa, exausto com a tensão.
- Vamos, vamos! Tem que cortar o bolo e fazer outro pedido! – entregou a faca para e a garota pensou alguns segundos antes de finalmente tirar o pedaço e deitar no prato de porcelana. – E aí? Para quem vai ser? Para o ?
- Pra você. – sorriu e estendeu o prato para .
- VERDADE?! – Que claro, quase derreteu em cima dela, que quase chegou a se arrepender daquela decisão.
Rindo com ela, antes de aceitar o pedaço, tirou uma foto da amiga estendendo o pedaço de bolo e o aceitou em seguida, enviando a imagem para todos do grupo – a fim de não se esquecerem daquele dia.
observou aquela foto várias vezes, sempre dando um sorriso para si mesmo. Durante todo o período da escola, nunca sorriu de maneira tão sincera quanto naquele dia.
- Onze horas da noite e estamos caminhando pela rua como se nada estivesse acontecendo. – comentou com uma pequena risadinha em seguida. – No meio da rua de pornôs e bordéis, com uma perspectiva de chegar em casa à pé daqui uma hora.
- Bem vinda à Paris, minha linda! – exclamou com um olhar um tanto safado para a amiga. – A terra da liberdade, igualdade e fraternidade!
- Vocês têm certeza que não há perigo nenhum nisso que estamos fazendo...? – Ela ergueu uma sobrancelha, passando por mais uma loja de filmes pornô com letreiro neon. Mais à frente, podiam ver as pás do moinho do Moulin Rouge.
- Certeza, . Não se preocupe. – assumiu uma postura mais séria quando percebeu que ela estava preocupada. – Nunca faríamos alguma coisa que te colocaria em perigo.
- E se estivermos em perigo, você sempre pode grudar feito um coala no . – apontou de maneira displicente para o amigo, levemente distraído com a vitrine de uma das lojas.
- Ah, sim...! – deu um de seus sorrisos meio envergonhados, porém, ao mesmo tempo, cheios de segurança. – Pode contar comigo, ! Se precisarmos, eu te pego de porquinho nas costas e saio correndo enquanto bato nos caras maus!
- E deixamos o resto pra trás para levarem tapas pela gente? – perguntou com a mesma empolgação do amigo.
- Exatamente! – E fez joinha com ambas as mãos enquanto recebia gritos de indignação tanto de quanto de . , por outro lado, estava no próprio mundo.
Mas, felizmente, a caminhada deles foi calma e sem nenhum incidente. O maior incidente que ocorreu foi um casal perguntando para que lado ficava a torre Eiffel. Depois de indicarem corretamente, continuaram caminhando, como se Paris inteira fosse deles e eles fossem de Paris.
- Sabe o que está faltando? – perguntou repentinamente, tomando um gole da garrafa de vinho que carregava e estendendo-a para . – Música!
- Canta essa hora que todo mundo vai te jogar um balde d’água pela janela. – respondeu com uma breve risada, tomando um gole do vinho e passando a garrafa para .
- , você esqueceu de onde estamos...? – perguntou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, pegando a garrafa de logo que a moça tomou seu gole. – A terra da...
- Liberdade, igualdade e fraternidade! – , , e deram as mãos e praticamente gritaram juntos, fazendo cair na gargalhada.
- Provavelmente vamos parar na prisão por causa disso, mas é bom ter história para contar, né? – Ele respondeu enquanto a garrafa continuava circulando pelos amigos.
- Então, música! – disse repentinamente. – Posso te fazer uma serenata, madam?
Segurando uma das mãos de , começou a cantar belamente enquanto caminhava. e se juntaram à cantoria, porém focava em serenar para . Ela ria e cantava junto com ele, fazendo com que cantasse alguns trechos também.
E assim, a longa caminhada de volta ao lugar em que ficavam foi mais curta do que esperavam.
Por conta do vinho, o tempo que permaneceram acordados também foi mais curto. Deitada em sua cama, pegara no sono algumas vezes e acordara logo em seguida, assustada sem nenhum motivo.
O que resultou na moça suspirando na cozinha enquanto bebia um copo de água com açúcar para se acalmar e ver se o sono vinha mais rápido.
- ...? – surgiu na cozinha com a maior cara de travesseiro do mundo. Álcool não o afetava muito bem. – Está tudo bem?
- Não consigo dormir. Não sei o motivo. – Ela suspirou novamente, deixando o copo na pia.
somente sorriu e segurou uma das mãos da amiga. Apagando a luz da cozinha, usou a luz da lua que entrava pela janela a fim de guiá-los até o enorme sofá no qual ele se instalara. Deitando, puxou a amiga para que ela deitasse em seguida, de frente para ele.
- Não se preocupe. Nada de mal vai te acontecer, eu vou te proteger. – disse, enquanto segurava as mãos de na frente de seus rostos. – Sou seu super-herói, lembra?
Com um sorriso calmo, a moça fechou os olhos para finalmente conseguir pegar no sono. E somente depois que ela adormeceu, se deixou descansar.
Segurança.
Era aquilo que passava à .
Ele tinha tudo para ser popular: era muito bonito e admirado por todas as garotas da escola, por onde passava tinha pelo menos um grupinho de meninas suspirando e morrendo de amores, era bem sucedido em tudo que se propunha a fazer e tinha um coração de ouro, com um sorriso que derretia até os corações mais negros.
A única coisa que não era bom era matemática. Porque ele precisava ter algum defeito.
Mesmo assim, escolhera andar com o grupo de esquisitos de e – basicamente, as pessoas que não se encaixavam em lugar nenhum, nem mesmo entre si. Mas que, com suas diferenças, complementavam-se sem igual.
Aquilo dizia muito da personalidade dele, na opinião de . Logo que se conheceram, ela mal esperava que ele falasse direito com ela – julgando logo de cara pelas aparências.
Foi em uma tarde na sala de música que começou a mudar a opinião sobre . Mal sabia ele que a garota gostava de passar horas e mais horas tocando piano na sala mais afastada e sem nenhuma alma viva – como era amiga da professora, tinha a chave da sala e preferia ficar lá do que em qualquer outro lugar do mundo. perguntara por e lá fora e companhia procurar por ela. Ouvindo que talvez estivesse na sala de música, o garoto correu para lá – diminuindo os passos ao ouvir a melodia que ecoava pelo corredor deserto.
Observando a porta fechada com a boca entreaberta, aproximou-se com passos calmos e entrou no ambiente sem fazer muito barulho para não assustá-la.
tocava de olhos fechados, completamente em silêncio e sem dizer uma palavra – mas parecia que estava realmente falando com ele. entendera o motivo de ela não tocar na frente de mais ninguém: ficava extremamente vulnerável e sincera em um momento como aquele.
- ...? – Ela ergueu uma sobrancelha e parou de tocar repentinamente.
- Você toca muito bem! – O garoto sorriu, como se aquilo não fosse nada de mais. Não queria que tivesse medo dele. – Pode tocar de novo? Eu quero cantar!
Dando de ombros, voltou a tocar – descobrindo a maravilhosa voz de ouro de .
A partir daquele dia, começaram a se tornar bons amigos.
E o caos se iniciou – simplesmente porque toda idéia que tinha, apoiava. Inclusive as que podiam expulsá-los do colégio. O que resultava em dando risadas, correndo atrás deles falando em como iam ser expulsos, e fugindo de mãos dadas e suspirando atrás provavelmente se questionando o que tinha na cabeça no dia em que resolvera apresentá-los.
Mas o que realmente a fizera se sentir segura na presença de foi uma simples caminhada por um corredor.
- Olha quem está aqui...! – Um garoto da turma dela disse com escárnio enquanto caminhava sozinha com a mochila nos ombros, os olhos fixos no all star. – Perdeu alguma coisa no chão, ?
- Eu só não quero falar com vocês. – A garota respondeu de maneira resoluta, levantando o olhar. Vendo alguns garotos sentados de ambos os lados do corredor com as pernas esticadas, sabia exatamente o que ia acontecer.
- Ah, não precisa falar. Só precisa passar pelo corredor da morte se quiser chegar à sua aula, nerdezinha do professor. – Ele completou, provocando risadas nos amigos.
suspirou. Aquilo era ridículo e ninguém fazia nada. Todos os alunos davam voltas, pegavam outros caminhos ou esperavam que aqueles garotos saíssem, chegando atrasados às próprias aulas.
- Eu preciso ir para a minha aula. Dá licença. – Ela pediu com paciência, mas decisão no olhar.
- À vontade para passar por nós. – O garoto apontou para o corredor.
Respirando fundo e se recusando a abaixar a cabeça para eles, segurou a alça da mochila com um pouco mais de força e começou a atravessar. Logo que alcançou os garotos, começou a levar chutes e mais chutes nas canelas, sentindo uma dor que provavelmente a faria mancar em seguida. Mas não desistiria e não daria para trás: eles não tinham o direito de fazer aquilo e se era necessário enfrentá-los, era isso mesmo que faria.
- Parece que a nerd não tem medo!
- É porque não estamos chutando forte o suficiente!
E quando aumentaram a força, surgiu no corredor – como se o próprio destino o tivesse chamado para lá, falando que havia algo de errado. levou um pontapé mais forte na canela, fazendo-a gemer de dor e começar a mancar. imediatamente franziu as sobrancelhas e gritou, fazendo com que todos congelassem nos lugares.
- O que vocês acham que estão fazendo, seus idiotas?! – correu na direção de , fazendo todos os garotos se levantarem em medo. – Não sabem mexer com alguém do tamanho de vocês?! Por que não vêm me chutar?! Estão com medo?!
Parecendo que a voz dele era mágica, outras pessoas chegaram ao corredor. E mais outras. E professores. Logo, todo o silêncio deserto que havia anteriormente foi se enchendo de vozes curiosas e os garotos não tinham para onde correr.
- É bom que peguem as imagens dessas câmeras e mostrem o que vocês estavam fazendo, seus delinquentes! Se deem por felizes de eu não dar uma surra em vocês exatamente nesse momento! - Ignorando as palavras de uma professora sobre agressão física, repousou ambas as mãos nos braços de e a observou com preocupação. – Tá sentindo dor, ? Quer ir para a enfermaria?
- Não, estou bem, ... – A garota suspirou, tentando apoiar o pé mais machucado no chão. Ao sentir uma dor aguda, levantou-o novamente e fechou os olhos, franzindo as sobrancelhas.
- Você é péssima pra mentir pra mim, amor. – Ele deu uma piscada rápida e se abaixou, levantando levemente a barra da calça jeans da amiga. O gesto revelou um hematoma vermelho arroxeado, bem como algo que parecia sangue pisado.
travou o maxilar e sentiu o próprio sangue subindo até as orelhas. Levantando-se sem olhar para a amiga, aproveitou o tumulto para pegar pela camiseta o garoto que era o líder do grupinho antes que pudessem ir para a sala da Coordenadora. Puxando-o para um canto sem que ninguém percebesse, segurou a blusa com força para que ele não escapasse.
- Se você ou um dos seus amiguinhos estúpidos encostar mais um dedo que for nela, eu juro... – respirou fundo e deu um pequeno sorriso sem humor algum, deixando pasma. – Eu acabo com a raça de todos vocês. Entendido?
- Sim, sim... – O garoto respondeu com medo quando deu uma leve chacoalhada nele pelo colarinho. Assim que o largou, o garoto saiu correndo, preferindo mil vezes enfrentar a Coordenadora do que o colega de turma.
- Pronto, . Eles nunca mais vão mexer com você. – suspirou, virando-se novamente para a amiga. – Agora precisamos te levar para a enfermaria.
- Também. Depois da intimidada que você deu, qualquer um que mexer comigo seria suicida. – não queria dar o braço a torcer, mas queria abraçar ao mesmo tempo. Aquela era uma das coisas mais legais que tinham feito por ela nos últimos anos. – E desculpa... Eu não sei como vou chegar à enfermaria nesse estado.
- Hmmm, verdade... – ponderou assim que apontou para a própria canela machucada. Em seguida, segurou a alça da mochila dela, jogando-a contra os próprios ombros. – Acho que se eu carregar isso aqui é mais fácil. E se eu carregar isso aqui, também...
Dizendo isso, a pegou no colo sem aviso algum. imediatamente grudou os braços em volta dele, soltando um pequeno grito por não sentir mais o chão embaixo dos pés. Quando se deu conta de que o amigo a estava carregando até a enfermaria, começou a rir, provocando a mesma reação nele.
- Se precisarem de alguma coisa, me avisem. – , que tinha chegado depois de todos e assistido a somente uma parte do bafafá, finalmente se manifestou, lançando um pequeno sorriso pra . – É só me chamar no celular.
Dizendo isso, deixou que e fossem até a Enfermaria e que ele cuidasse dela. Afinal, podia ter certeza de que se estava nos braços de , estava segura.
- Eu não acredito que vocês comeram todos os meus pêssegos achatados! – estava louco da vida, indignado enquanto apontava para a geladeira vazia exatamente no ponto onde deveriam constar os tais pêssegos achatados.
Era uma iguaria que tinha localizado e simplesmente não conseguia parar de comer.
Fora em uma tarde passeando pela Galerie Lafayette que ele resolvera apresentar para o que realmente valia a pena.
- Ótimo, só venham um pouquinho mais para o lado... – murmurou com a câmera entre os dedos, guiando e que serviam de modelos entre a arquitetura intrincada da galeria. – , se você puder se apoiar no guarda corpo será melhor.
- Assim...? – E, logo que perguntou, colocou as mãos nos bolsos da calça e lançou o melhor olhar que podia para a câmera de , algo que já estava acostumado após tanto tempo modelando para os photoshoots do grupo.
- , pode chegar mais perto dele, eu ainda não gostei do meu ângulo. – pediu de sobrancelhas franzidas enquanto observava as próprias fotos com um sorriso no rosto. obedeceu, quase entrelaçando as próprias pernas com as do amigo. – Perfeito! , pode segurar a pela cintura com a mão direita?
- Claro! – A animação óbvia de provocou uma risada em , enquanto o amigo a enlaçava pela cintura.
No mesmo momento que lançou um olhar de poucos amigos a , e ficaram sérios e o amigo pôde bater a foto que tanto queria, quase dando pulinhos de alegria ao ver o resultado.
- Agora que vocês já terminaram...! – rolou os olhos e segurou uma das mãos de . – Você vem comigo. Vou te apresentar o melhor lugar de Paris!
- Espera, ...! – começou a falar, mas logo teve que seguir os passos apressados do amigo, rindo enquanto os outros três se manifestavam logo atrás. – Você sabe mesmo como fazer entradas e saídas triunfais, não?
- Minha querida, o pode ser a diva do grupo, mas quem brilha mais sou eu. – deu uma rápida piscadela à , fazendo-a cair na gargalhada.
Realmente, aquilo fora real na escola e ela podia dizer com segurança que sempre seria.
- Mas então, ... O que você quer me apresentar? – ergueu uma sobrancelha quando saíram da galeria, para logo atravessar a rua, ainda ignorando os amigos.
- A outra galeria. – sorriu orgulhosamente, principalmente após a expressão de confusão nos olhos dela. – A galeria de comidas.
- Comidas? – E parecia imediatamente interessada, fazendo-o rir.
Quando entraram na tal da galeria, estavam rodeados das mais variadas lojas de doces, salgados, macarons e eclairs. Temperos exóticos, doces milimetricamente preparados com precisão e o cheiro de produtos fresquinhos sendo preparados de uma maneira a dar água na boca.
- do céu, você achou o paraíso. – comentou embasbacada, fazendo-o quase brilhar de tanto orgulho.
- E bota paraíso nisso. – concordou com a mesma expressão no rosto. – A gente vai provar um de cada, né...?
- Sim. – , e responderam ao mesmo tempo, o que os fez trocar olhares e imediatamente começar a rir.
- Mas, antes de tudo isso! – E novamente pegou a mão de . – Precisamos descer um andar!
Sendo assim, o grupo desceu as escadas rolantes, descobrindo um pequeno mercado com produtos fresquinhos e frutas exóticas de todos os lugares do mundo.
- Você tem que provar... Esse daqui! – procurou em algumas cestas, encontrando um pêssego literalmente achatado. – Um pêssego!
- Isso não é um pêssego. – comentou com as sobrancelhas franzidas.
- É sim. Vou comprar vários e estocar em casa! – piscou para ela, começando a escolher seus amados pêssegos.
- Não é possível ser um pêssego... – tinha a mesma expressão que a irmã.
E nisso, deu uma mordida na fruta.
- É um pêssego sim! – Ele disse em choque, levando um tapa de .
- Seu animal! Não é pra sair comendo as coisas sem lavar e no meio do supermercado!
Enquanto levava bronca de , e somente se ocupavam com gargalhadas e assumia a tarefa de escolher os pêssegos.
Então claro, quando os mesmos acabaram na geladeira, simplesmente virou uma fera.
- Vocês são uns porcos! Não acredito que comeram tudo e não deixaram nem um para mim...! – Ele reclamava ainda com a porta da geladeira aberta.
- A gente compra mais depois, calma. – assegurou com um gesto displicente e praticamente dormindo no sofá.
- Mas eu queria comer amanhã de manhã! Um pêssego achatado geladinho de café da manhã, que não vai dar pra acontecer, porque vocês são uns gordos inconsequentes que comeram tudo...!
As reclamações continuaram e a indiferença também. No final, todos foram dormir sem nem comentar sobre os pêssegos achatados.
Mas, quando acordou cedo no dia seguinte – afinal, era função de arrancar todos das camas – percebera que não estava na sua. Estranhando, foi até a sala, tentando colocar os cabelos bagunçados no lugar.
E lá, encontrou colocando a mesa para o café da manhã e, no prato dele, três pêssegos achatados.
- ? Aonde você achou isso? Guardou para mim...? – Ele perguntou com os olhos quase tão achatados quanto o pêssego por conta do sono. somente sorriu de volta, nitidamente com tanto sono quanto ele.
- Não. Acordei cedo para ir comprar para você. – Ela respondeu com um sorriso plácido, finalmente terminando e colocar a mesa.
somente abriu um enorme sorriso, fazendo-a fazer o mesmo. Aproximando-se da amiga, deixou um dos pêssegos na mão dela – mas não soltou-a após aconchegar a fruta na palma da mão de .
Ele não esperava que mesmo depois de todo aquele tempo, ainda retribuísse boas ações feitas para ele.
- Obrigado, . De verdade.
somente sorriu de volta. E, nesse momento, sentiu algo quente no peito – a certeza da lealdade de uma amizade verdadeira.
tinha certeza que podia ligar para em qualquer horário do dia que, se precisasse, ele estaria cinco minutos depois na porta da casa dela com um bule de chá e biscoitos preparados artesanalmente por ele mesmo.
A lealdade de era imbatível. tinha problemas em confiar em alguém que não fosse ela mesma ou , mas desde que o irmão apresentara seus amigos, a garota não pode deixar de se apaixonar por cada um deles e criar uma amizade especial.
Não queria. Preferia ter a certeza e a segurança de sempre permanecer sozinha – porém eles eram muito legais para que ela os negasse.
provou a própria amizade para de uma maneira meio inusitada. Ela e ele tinham um tipo de relacionamento engraçado: começavam a discutir somente de brincadeira, falando coisas absurdas que de fato não ofendiam, somente para se abraçar e dar risada logo em seguida. Tudo aquilo começou quando estava prestes a atravessar a rua na companhia de e quase a atropelou de bicicleta.
- Você não olha por onde anda, não, ô cabeça de bagre? – colocou uma das mãos na cintura, claramente cobrando uma posição.
- Melhor ser cabeça de bagre do que de vento que nem você! A senhorita estava toda olhando para o que nem me viu chegando, não é mesmo? – estacionou a bicicleta, pegando a mochila para acompanhá-los na escola.
- Claro! Muito melhor me ocupar com o do que com você! – Ela realmente parecia brava, parando logo que parou à frente dela.
estava pronto para separá-los caso um resolvesse morder o outro.
Mas imediatamente começaram a rir e se abraçaram dando bom dia.
Enquanto permanecia sem entender nada e ambos caminhavam lado a lado conversando sobre o dia anterior como se nada tivesse acontecido, estava iniciado um dos maiores costumes daqueles dois.
Portanto, quando mais precisava, não sabia se a atenderia tão prontamente.
Em um belo dia, após meses daquelas amizades que a ajudaram tanto, anunciara a todos os amigos como estava empolgada por finalmente receber amigos só dela em casa. Algumas pessoas que ela aparentemente conhecia já fazia um bom tempo e poderiam ser um bom grupinho da idade dela.
- O ponto é que nós temos que ficar de olho, ok? – perguntou a , e , com a postura mais séria que já tinham visto. – Os “amigos” da já a machucaram demais e é possível que a machuquem hoje também. Precisamos estar alerta.
Todos bateram continência e ficaram de olho nos próprios celulares durante o resto do dia. Enquanto isso, , em sua empolgação, preparou um bolo em casa e aguardou.
E aguardou.
E aguardou.
Até que ninguém apareceu.
Ela mandou algumas mensagens a fim de ter certeza que ninguém tinha se perdido no meio do caminho.
Mas a realidade é que nenhuma das pessoas que ela convidara compareceria.
desabou na própria cadeira da cozinha, sentindo-se ridícula com o próprio bolo e as esperanças de algumas horas que poderia ter um grupinho de amigos que não tivesse que ser o do irmão – adorava todos eles, mas sentia que tinha que dá-los certo espaço, afinal tinha acabado de ser chamada para ficar com eles, pois estava tentando protegê-la.
Sem saber mais para quem recorrer, ligou para . Como ele não respondeu – provavelmente estava dormindo – começou a checar a lista de contatos. Nem , nem apareciam como disponíveis. O único que estava online era .
“Oi, ! Não quero incomodar, mas eu fui literalmente deixada em casa, completamente sozinha e com um bolo. O programa foi por ralo abaixo e eu não queria ficar sozinha no fim de semana... Você vai fazer alguma coisa?”
Ela aguardou a resposta com expectativa. Esperava, pela maneira como sempre fora tratada, que negasse e ela realmente tivesse que ficar sozinha em um final de semana que estava empolgada para sair ou encontrar com amigos.
“Me dá dez minutos que eu já apareço aí com um chá para tomar com o bolo. Você gosta de quê?”
Sorrindo para si mesma, imediatamente respondeu.
Conforme o tempo fora passando, porém, a esperança se tornou um pensamento completamente sem fundamento e começou a recear que ele também não aparecesse – como falara que o faria.
Mas, antes mesmo que ela pudesse se desesperar, a campainha tocou. E, ao abrir a porta, se deparou com carregando um bule de chá de porcelana e um saco de bolachinhas.
- Oi! – Ele disse com um enorme sorriso. – Trouxe o chá e biscoitinhos que eu fiz para acompanharmos seu bolo! Você sabe que tudo que precisar, é só me ligar, certo? Agora, não vamos te deixar sozinha nesse sábado chuvoso!
somente concordou com a cabeça, rindo junto com . Começando a preparar a mesa para o chá da tarde, não parava de puxar assunto por um minuto, focado na idéia de fazê-la sorrir e esquecer o que tinha acontecido.
: Vi agora que você me ligou. Tá tudo bem? [16:26]
: Tudo ótimo! O está aqui e temos tudo sob controle! Obrigada, ! [16:32]
Cada um dos dois sorriu para a tela do próprio telefone – pois sabiam que, de todas as pessoas, podiam sempre contar com a lealdade – e a bondade - de .
- Ah... – suspirou enquanto se jogava no sofá que conheciam tão bem. – A França realmente foi uma viagem e tanto, não?
- E como foi... Já estou com saudades e precisando de férias de novo. – estava sentado em uma poltrona próxima, uma taça de vinho nas mãos e a expressão mais cansada do planeta.
- Que horror, faz menos de seis meses que voltamos de lá! Normalmente temos um período de férias por ano, então contente-se! – caminhava pela sala ansiosamente, enquanto surgiu da própria cozinha com mais uma garrafa de vinho em mãos.
- E praticamente três meses que não vemos a . O que aquele outro grupo fez com ela? Escravizou, por um mero acaso? – O amigo reclamou observando o horário no relógio de pulso. – Ela devia ter chegado há uma hora!
- Pelo que ela me disse, ficou presa terminando algumas edições em uma música que vão lançar depois de amanhã... – comentou preguiçosamente, observando as últimas mensagens da irmã no celular. – Ela tá com uma agenda puxada, dá um desconto.
e já abriram a boca para reclamar quando ouviram a porta se abrindo. Todos eles já sabiam como abrir a porta do apartamento de – o mesmo que frequentavam praticamente todo dia quando estavam na escola e comemoraram o aniversário de quando eram mais jovens.
E logo surgiu a imagem da amiga sorridente, carregando somente a bolsa e usando um casaco preto comprido que sinceramente parecia afanado de .
- Desculpem o atraso, meus amores! Terminei o que precisava e sou toda de vocês essa noite! – anunciou enquanto praticamente dava pulinhos na direção da amiga.
Ele e o cachorro de tiveram que disputar a atenção. Quando quase se aproximara para o abraço, se abaixou para cumprimentar o cachorro – causando risadas em todos os amigos presentes.
- Desde a escola, ela não muda. – comentou com , cheio de afeição na voz.
Apesar de concordar com a cabeça, discordava. mudara muito. Antes era uma estrela apagada, com potencial para brilhar, porém muito machucada pelas pessoas a sua volta. sabia como ela tinha dificuldade para gostar de si mesma depois de tudo que tinha passado. Sabia de cada machucado no coração de e a dor que a irmã tinha suportado. Os dilemas, as indecisões, as escolhas difíceis. Agora, porém, ela brilhava em todo seu potencial – e tinha certeza que brilharia cada vez mais. Tinha orgulho de tê-la ajudado naquela jornada e mais orgulho ainda dos amigos que estenderam as mãos e seguraram quando ela mais precisara. Foram eles que a arrancaram do mar e a deixaram sã e salva quando a moça estava se afogando. E fariam aquilo pelo resto da eternidade de fosse preciso – apesar de que agora quem dava o suporte quando mais precisavam era ela.
- Oi, ! Pode parar de pular agora! – Ela praticamente gritou com o amigo, que a abraçou fortemente e pulou junto com , ambos dando risadas.
- Minha gata maravilhosa! – exclamou logo que a largou. – Seja bem vinda! Antes de mais nada, me diga: vai querer beber o quê? Temos todas as opções possíveis nessa casa!
- Ah, não sei... – pensou um pouco e deu um pequeno sorriso brincalhão. – Me faça uma surpresa.
A sala inteira explodiu em risadas, menos . Aquele era um bordão deles, algo que dissera exatamente a , oito anos antes, quando estavam almoçando na casa dele na escola. voltara com um Toddyinho e realmente ficara surpreso, então era exatamente aquilo que esperava.
- Ai, não fala assim que eu volto nu. – respondeu com um sorriso safado, indo para a cozinha.
e estavam quase rolando de rir no chão. provavelmente estava querendo que nunca tivesse ouvido aquilo. estava com cara de choque e murmurou “realmente não estava esperando por isso”.
- Por favor, que ele não volte nu... – comentou olhando para o teto fazendo com que a irmã e o amigo rissem mais ainda.
- Pronto! – E retornou, por sorte ainda com roupas. Em seguida, entregou um Toddyinho e uma taça de vinho rose para . – Achou que eu não ia lembrar, não?!
- Obrigada. Hoje é um dia que eu realmente estou precisando de um Toddyinho. – deu um rápido beijo na bochecha de , deixando-o completamente ruborizado até as orelhas.
E o jantar foi exatamente o que faziam na época da escola: falaram besteira, comeram lasanhas feitas por – esperavam um desastre, mas o amigo admitira no meio da noite que comprara em um lugar especializado – beberam e beberam, jogando conversa fora e dando boas risadas conforme a noite passava.
- Sabe o que precisamos para encerrar essa noite com chave de ouro? – perguntou repentinamente, batendo no tampo de vidro da mesa e recebendo reclamações de . – Assistir um filme!
- Sim! Exatamente da maneira como fazíamos no colegial! – se empolgou, já se levantando e levando junto consigo, que agarrou mais uma caixinha de Toddyinho enquanto era arrastada.
- Eu escolho o filme! – se levantou tão rapidamente que mal viram o amigo correndo até a sala, algo inédito.
- Ih, gente... Vou ter que ser um pouco estraga prazeres... – parecia realmente triste. – Não tenho pipoca... Temos que sair para comprar.
A casa caiu em silêncio. Após alguns segundos se encarando, pegou o próprio casaco e o celular em cima da mesa.
- Então vamos em um supermercado vinte quatro horas! Eu chamo o uber!
- Eu faço a lista! – pegou o celular e começou a anotar no bloco de notas. – Pipoca. O que mais?
- Waffles! – se manifestou, seguindo os amigos até o elevador.
- Sorvete de chocolate da Häagen Dasz! – complementou, apertando o térreo.
- Toddyinho! – se manifestou, sorrindo em seguida. – E vodka.
- Vamos fazer milkshakes de vodka?! – sorriu animadamente para a irmã.
- Mas é claro, meu amor!
- Você é a coisa mais linda do mundo, ! – praticamente grudou em , sendo o amigo que mais bebia no grupo e quem a moça carinhosamente apelidara de “mulherengo manguaça”.
Entre risadas, o grupo de amigos saiu do elevador, já correndo até a porta do prédio para pegar o uber que, segundo , chegaria em menos de dois minutos. ia por último, aproveitando cada passo no caminho de pedras ladeado por grama, árvores e um laguinho de carpas – no qual caíra quando eram adolescentes.
Parando ao lado do laguinho enquanto os amigos esperavam o carro à porta de vidro do prédio, se lembrou daquele dia e começou a rir. Um leve vento gélido do meio da madrugada bateu e a moça pôde ouvir o barulho de sinos de vento em algum prédio.
observou à sua frente e pensou em como era sortuda de tê-los durante tanto tempo. Fora por causa deles que ela aguentara os momentos mais difíceis e sabia que poderia contar com aqueles quatro pastéis em qualquer momento da vida. Ela sorriu inconscientemente, mas logo percebeu uma presença atrás de si.
Virando-se vagarosamente, a moça encontrou somente o caminho de pedras vazio. Lembrou-se de todos os momentos que passara lá quando era mais jovem, de todos os sorrisos que dera quando pensara que a vida estava acabando. De todas as vezes que eles a abraçaram, que dera altas risadas com ela, que segurara sua mão, que a abraçara e que grudara nela feito um coala.
E, como se fosse mágica, podia se ver novamente. Parada em frente a si mesma, vestindo o uniforme da escola – a camiseta com o nome do colégio, a calça jeans esfarrapada e o par de all star sujo. O vento bateu no rosto de ambas, esvoaçando seus cabelos. Elas se observavam com curiosidade, como se o próprio tempo tivesse parado.
A mais velha sentiu lágrimas surgindo nos olhos. Erguendo levemente a cabeça, tinha vontade de falar para aquela garota de dezesseis anos – machucada, assustada, melancólica e com problemas de confiança – que tudo ia acabar bem. Que havia esperança. Que havia pelo que lutar. Que aqueles amigos que ela tinha iam segurá-la quando ela mais precisasse e ajudá-la a nunca desistir. Que ela sabia que, no momento, a garota estava sangrando, magoada, sem conseguir se levantar do chão por causa dos machucados – mas que cada um dos amigos, à sua maneira, a ajudaria a se recuperar e continuar caminhando. Que a ensinariam a correr mesmo com os pés doendo.
Que a mostrariam que havia pelo que viver.
A própria garota teve os olhos cheios de lágrimas, parecendo entender tudo que se passava na cabeça da moça. A mais velha sabia que era uma tarefa árdua, mas tudo aquilo a mostraria o que era o amor verdadeiro – e que se ela própria não se amasse, como poderia amar outra pessoa?
- Tudo vai passar... – Ela suspirou, chamando a atenção da sua versão mais nova e fazendo as lágrimas escorrerem nos olhos da garota. – Somos sobreviventes, tudo vai passar...
Sim. Aquela garota de dezesseis anos era uma das pessoas mais fortes que conhecera. Ela atravessaria o fogo para salvar a própria vida e as dos amigos. Ela tinha alma de sobrevivente e nunca se deixaria quebrar – por mais fraca que pudesse ficar. a admirava... E queria viver. Queria ficar bem velhinha ao lado dos amigos, fazer diversas besteiras, dar boas risadas e viver. Ainda havia muito que ver e o mundo era grande demais para achar que tudo havia chegado ao final – aquele era somente o começo de grandes coisas que estavam por vir.
- Ei, . – repentinamente a tocou no ombro, fazendo-a virar somente a cabeça na direção dele. – O uber chegou. Vem logo antes que o vá embora e tenhamos que pegar outro.
- Ok, estou indo. – Ela deu um pequeno sorriso, fazendo o irmão sorrir de volta. Ele não sabia o que se passava na cabeça de , mas entendia, pelas lágrimas nos olhos dela, que a irmã precisava de um momento.
Olhando novamente para aquele lugar, encontrou ela mesma sorrindo, ainda com o uniforme de escola, como se estivesse feliz de ver aquela interação.
Aproximando-se com passos decididos, começou a caminhar nos próprios saltos em direção a ela. Finalmente movendo o all star, começou a andar na direção daquela moça que lhe dava orgulho em ver. Aos poucos, ambas começaram a correr até que finalmente uma terminou nos braços da outra – a mais velha afagando os cabelos da mais nova. Lágrimas começaram a escorrer dos olhos da moça, enquanto a garota manchava a blusa da moça com as próprias lágrimas.
Apesar disso, ambas sorriam como nunca – sentindo uma mistura de alegria, euforia e calor no coração. Algo que nunca tinham sentido antes, mas definitivamente gostaram.
E, ao mesmo tempo, disseram as palavras que definiram o que estavam sentindo e que somente elas poderiam entender:
- Eu te amo.
Extra: Sobre carpas, cervejas de guaraná e filmes de terror
- Quem chamou o ?! – estava prestes a morder alguém.
- Ah, eu chamei! – se manifestou enquanto tentava dar as direções ao motorista.
Tentava, porque o homem estava mais seguro com o GPS do que com as direções de após quatro garrafas de vinho.
- A sempre ficou de olho nele, então acho que vai fazer bem! – completou com um sorriso safado.
- ! – e gritaram ao mesmo tempo, enquanto a moça somente queria se enfiar embaixo do banco e ria como nunca.
- Achei que não teria problema! Depois que vocês não me chamaram para a viagem de Paris, seus ingratos, era o mínimo que podiam fazer para se redimir. – respondeu com um sorriso simpático nos lábios, afagando os cabelos de . – Vim aqui pra cuidar de vocês, meus bêbados de plantão.
- Primeiro, você estava no meio da gravação da sua novela, . – cruzou os braços após tirar as mãos do amigo de circulação. – E segundo, eu não estou bêbado.
- Pois é, diz a pessoa que colocou guaraná no copo achando que era cerveja, tomou e ainda curtiu o “gosto do malte”. – disse a última frase da maneira mais ridícula que conseguira para imitar , resultando em risadas dos amigos.
- Você é mais que bem vindo, . – apoiou a cabeça no ombro do amigo que sentara logo ao lado dela, a fim de demonstrar o carinho. – Precisamos de alguém com bom senso por aqui.
- Eu disse que ela fica de olho nele...! – disse entre risadinhas, levando tapas tanto de quanto de enquanto dava gargalhadas.
- Se estamos dependendo do para ser a pessoa com “bom senso” no grupo, estamos perdidos. – comentou de maneira agourenta.
E o caminho ao supermercado não podia ter sido mais escandaloso.
- Tá vendo?! Ainda bem que vocês me trouxeram junto! – comentou enquanto caminhava com os amigos pelo caminho de pedra a fim de irem até o elevador. – Se não, teriam esquecido a cobertura de chocolate e os donuts!
Já tinham comprado tudo que precisavam – depois de muito escândalo, fotos com pessoas do supermercado que os reconheceram, discussões sobre qual cobertura iam levar e qual sabor dos donuts, além de arrastando e pelo colarinho para que não pegassem um estoque considerável de miojo e cervejas, enquanto somente ria das expressões de crianças que fizeram besteira de ambos. Com a missão cumprida duas horas depois de terem saído de casa, estavam caminhando de volta ao apartamento que tanto amavam, carregados de sacolas e mais sacolas de comida.
Não tinham saído para comprar tanta coisa assim, mas queria ver a cara de todos quando descobrissem as coisas que tinham comprado enquanto levemente altos de bebidas.
Isso porque nem tinham tomado os famigerados milkshakes de vodka.
- Eu disse que foi uma decisão sábia! – estufou o peito, caminhando a passos largos pelas pedras.
- Ok, ok. Amor próprio à parte, o que vamos assistir essa noite? – literalmente ignorou , causando risadas.
- E você ainda pergunta?! – parecia indignado. – É claro que vamos assistir Gilmore Girls!
- SIM! – berrou atrás do amigo, praticamente pulando em cima dele para um abraço.
não conseguia parar de rir da moça – e não podia negar que a achava fofa quando agia daquela maneira. Era impossível tirar os olhos de .
Parecia que só ele tinha percebido, mas ela brilhava de uma maneira diferente naquela madrugada.
- Ah, não! – se manifestou. – Temos que assistir a um filme de terror!
- Ah, eu não gosto de filme de terror...! – começou a dizer com manha.
- Toda vez que assistimos filmes de terror temos boas risadas. O correndo e gritando em desespero é um ponto alto da noite. – ponderou, fazendo o coração de e ficarem tentados.
E percebera, já começando a entrar em desespero.
- Não! Tenham piedade! ...! – E agarrou a manga da blusa do amigo, chacoalhando levemente e observando-o com olhos pidões. – Por favor, seja a pessoa com bom senso...
- Desculpe, . Mas o filme de terror realmente é a opção mais interessante da noite. – tinha um sorriso reconfortante nos lábios apesar das palavras cruéis, o que os fez cair em gargalhadas.
Menos .
- Se eu puder sentar do seu lado, concordo com a proposta. – enlaçou o braço de , começando a caminhar junto com ele.
- Claro que pode! – Ele respondeu com as bochechas ficando levemente coradas e sentindo o coração batendo mais forte.
gostava de assistir filmes de terror, porém tinha que admitir que não era das mais corajosas. , por outro lado, nem se mexia – e ainda ria dos sustos dos amigos. Nenhum dos dois queria admitir, mas era conhecida por um dia se assustar tanto que praticamente pulou no colo de e grudou nele como um coala, então esperava com todo o coração que aquilo acontecesse e ele pudesse acalmá-la em seus braços, enquanto esperava que o filme não a poupasse nem um segundo para que pudesse esconder o rosto na curva do pescoço de .
- ! – gritou em uma fúria cega, fazendo com que o amigo somente desse a risada que sempre dera quando tinha feito alguma travessura. – Seu filho de um inhame! Eu vou acabar com a sua raça!
E , na tentativa de fugir de um pontapé de , caiu novamente no lago de carpas.
As risadas foram quase ensurdecedoras.
- Por que você sempre faz isso?! – perguntou como se não acreditasse no amigo que tinha, as mãos na cintura e os olhos grudados nas estrelas. – Por quê?!
- Eu já nem fico mais surpreso. – comentou tentando permanecer calmo, mas rindo horrores logo em seguida.
- Espera, espera... Temos que tirar fotos! – tirou o celular do bolso e começou a bater inúmeras fotos, junto com a ajuda de .
- Sabe como se chama isso? KARMA, SEU INGRATO! – E o que mais se divertia era .
- Ninguém vai me ajudar a sair daqui, não?! – parecia irritado com aquela situação, tentando fazer com que suas sacolas não molhassem.
se aproximou e todos ficaram impressionados com a bondade do amigo.
Até que ele pegou as sacolas e as distribuiu entre ele, , e .
- Não podemos deixar as compras molhar... – comentou calmamente, fazendo com que rissem mais ainda.
- Calma, , eu te ajudo... – suspirou entre risadas, segurando as mãos do amigo.
E sendo puxada para o lago de carpas.
- , SEU FILHO DE UM INHAME! – Ela xingou enquanto ouvia a risada sapeca dele, entre as dos outros amigos.
- Ei, vocês! Querem parar de fazer barulho?! – Ouviram um dos moradores gritando pelas janelas e imediatamente começou a fazer sinais para que ficassem em silêncio.
Reprimindo as risadas para que continuassem se divertindo sem nenhum som – afinal, ninguém queria que levasse alguma multa ou algo do gênero – ajudaram e a sair do laguinho e se enfiaram no elevador o mais rápido que puderam.
Explodindo em risadas logo que entraram no apartamento de .
e foram logo para os banheiros do grande apartamento para tomar um banho quentinho e colocar um dos vários pijamas do amigo a fim de ficar mais confortáveis. Os outros também pegaram pijamas emprestados e logo estavam todos na sala, com colchões no chão, prontos para assistir a filmes de terror.
não dissera, mas separara o pijama mais fofinho e quentinho para . Ninguém falara nada, mas ela estava simplesmente a visão mais adorável da noite no pijama rosa de plush – parecendo um pequeno floco de algodão doce.
Comeram provavelmente mais do que deveriam, beberam uma quantidade ridícula de milkshake de vodka, assistiram diversos filmes, deram boas risadas com os sustos e conversaram até o amanhecer. Quando o sol estava despontando entre as nuvens, porém, e ficaram responsáveis de dar uma breve organizada no local e enfiar todos eles embaixo das cobertas para que também pudessem descansar.
Quando já tinha cuidado de e , finalmente parou para observar e .
Ela estava apoiada no ombro de , uma das pernas quase jogada sobre o colo dele – como se quisesse se sentar entre as pernas do amigo e usar o peito dele de travesseiro, aconchegada pelos braços de . Ele tinha uma das mãos na cabeça de , provavelmente tendo adormecido afagando os cabelos dela. Após se mexer um pouco, porém, a mão livre segurou a perna indecisa de e a puxou na direção da cintura dele, fazendo com que ela quase estivesse sentada no colo de .
conhecia o bom coração do amigo e a sinceridade que tinha. Os sentimentos de eram ingênuos e puros e por mais de uma vez o pegara falando de uma maneira quase sonhadora sobre . Ele reclamava do amigo, mas sabia que era por conta do sentimento que já tinha percebido entre os dois e o medo de que fosse machucada mais uma vez.
- Ei, ... – balançou levemente o ombro livre do amigo, fazendo-o abrir os olhos de maneira sonolenta. – Tá na hora de deitar.
- Ok... – murmurou de volta, fechando os olhos por alguns segundos antes de suspirar e observar em seus braços.
Puxando a outra perna para o colo, fechou os braços da amiga em volta do próprio pescoço e – mesmo sonolento e cansado – usou de toda a força que tinha para levantá-la da maneira mais suave possível a fim de não acordá-la. Quando ouviu resmungando, congelou no lugar para que ela voltasse a dormir placidamente. Após se certificar de que tudo estava bem, empurrou os lençóis com os pés e a deitou cuidadosamente, como se a moça fosse feita de cristal. Finalmente a cobriu e deu um rápido beijo na testa de , completamente ignorante aos olhos de .
- Boa noite, . – murmurou e se deitou ao lado dela, pronto para virar de costas quando uma das pequenas mãos da moça agarrou a dele.
- Boa noite... – Ela resmungou entre os sonhos, impedindo-o de virar de costas.
sorriu e se aproximou, dormindo frente a frente com a moça que tanto gostava.
somente sorriu. Deitando-se em seu próprio lugar do outro lado de , não tinha mais nenhum receio no próprio coração, podendo dormir placidamente.
Agora, além dele, , e , tinha mais uma pessoa para cuidar dela.
FIM
Nota da autora: Primeira vez que eu escrevo uma história com uma parte extra, mas não deu pra segurar! Queria muito escrever sobre o amigo pastel caindo no laguinho das carpas e deixar um hint de romance para essa sobrevivente que merece amor depois de tanto tempo lutando!
E sim, esse casal de irmãos é o mesmo de Cypher e de Fake Love. Tô curtindo escrever sobre eles e tenho certeza que ainda vai vir muita coisa desses dois pastéis e amigos mais pastéis ainda!
Sobre inspirações: 2018 foi um ano que me fez ter a primeira epifania de “I’m in Love with myself” na minha vida. Tive que colocar a viagem para a França, pois foi exatamente o que me fez ter essa epifania, além de todos os momentos com os amigos na escola, tanto bons quanto ruins – então tem MUITA coisa de experiência própria nessa fic.
Agora, o fim. Sem entrar em muitos detalhes, foi essa a epifania que eu tive, em um momento exatamente como aquele e em um lugar exatamente igual. Dez anos depois, eu quase podia enxergar a Kah-Fly de uniforme me observando e queria deixar essa experiência aqui.
Resultado? Chorei muito escrevendo essa fic!
Hahahaha espero que tenham gostado e que suas jornadas de amor próprio nunca terminem! Essas epifanias são os melhores sentimentos do mundo e deixo o recado para que nunca desistam. Por mais difícil que a vida esteja, lembrem-se o quão forte foram, são e serão – e como isso faz de vocês sobreviventes mais incríveis do que a própria Mulher Maravilha. Apaixonem-se por si mesmas e espalhem somente amor aos outros!
Não se esqueçam de comentar, um beijo cheio de amor próprio e até a próxima!
XX
PS: Ah, e segue meu grupo no facebook pra que vocês fiquem de olho nos meus próximos projetos – tenho mais alguns ficstapes para entregar e sempre atualizo por lá! Tem espaço pra todo mundo, sempre procuro conversar bastante com o pessoal que faz parte e realmente vou ficar feliz de vê-los por lá: https://www.facebook.com/groups/558784227519925/?ref=bookmarks.
Disclaimer: Essa história é protegida pela Lei de Direitos Autorais e o Marco Civil da Internet. Postar em outro lugar sem a minha permissão é crime.
Não gosto de falar essas coisas, mas como já tive problemas antes, acho bom deixar avisado. Nem tudo que tá na internet é do mundo, minha gente. Quer postar em outro site? Fala comigo! Eu não mordo! Hahaha a gente vê de me dar o crédito e linkar para o original aqui no FFObs! Só me mandar um e-mail ou pedir aí nos comentários!
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
E sim, esse casal de irmãos é o mesmo de Cypher e de Fake Love. Tô curtindo escrever sobre eles e tenho certeza que ainda vai vir muita coisa desses dois pastéis e amigos mais pastéis ainda!
Sobre inspirações: 2018 foi um ano que me fez ter a primeira epifania de “I’m in Love with myself” na minha vida. Tive que colocar a viagem para a França, pois foi exatamente o que me fez ter essa epifania, além de todos os momentos com os amigos na escola, tanto bons quanto ruins – então tem MUITA coisa de experiência própria nessa fic.
Agora, o fim. Sem entrar em muitos detalhes, foi essa a epifania que eu tive, em um momento exatamente como aquele e em um lugar exatamente igual. Dez anos depois, eu quase podia enxergar a Kah-Fly de uniforme me observando e queria deixar essa experiência aqui.
Resultado? Chorei muito escrevendo essa fic!
Hahahaha espero que tenham gostado e que suas jornadas de amor próprio nunca terminem! Essas epifanias são os melhores sentimentos do mundo e deixo o recado para que nunca desistam. Por mais difícil que a vida esteja, lembrem-se o quão forte foram, são e serão – e como isso faz de vocês sobreviventes mais incríveis do que a própria Mulher Maravilha. Apaixonem-se por si mesmas e espalhem somente amor aos outros!
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XX
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Não gosto de falar essas coisas, mas como já tive problemas antes, acho bom deixar avisado. Nem tudo que tá na internet é do mundo, minha gente. Quer postar em outro site? Fala comigo! Eu não mordo! Hahaha a gente vê de me dar o crédito e linkar para o original aqui no FFObs! Só me mandar um e-mail ou pedir aí nos comentários!