Prólogo
Senti meus dedos deslizarem pelas notas do piano suavemente, mudando das notas graves para as agudas, das notas brancas para pretas, apertando os pedais conforme a necessidade e teclei as notas em movimentos seguidos três vezes, antes de apertar o último sol contínuo, ouvindo o quarteto de cordas no som portátil parar junto, me fazendo abrir um sorriso e encarar meu dedo pressionando na nota agora muda.
- , ainda aí? – Ouvi a voz de Alice e percebi que a ligação ainda estava rolando.
- Oi, desculpa! – Falei, tirando o telefone do viva-voz e me levantando da banqueta, andando pelo estúdio.
- O que achou?
- É muito bom, Alice! – Falei, rindo fracamente. – Aposto que com sua letra vai ficar incrível.
- Estamos trabalhando nisso ainda, mas meu quarteto fez um trabalho incrível, e como estamos trabalhando juntos, achei que gostaria de ouvir.
- Ficou muito bom mesmo! – Sorri. – Dave não vai ficar com ciúmes por eu ser seu pianista nessa? – Ri fracamente e ela me acompanhou do outro lado da ligação.
- Eu ainda preciso de um DJ, né?! – Ela riu fracamente e ouvi alguns barulhos ocos e afastei meu corpo, encarando a porta que dava para a sala da estar. - Bom, eu tenho uma letra para finalizar, a Jessica entra em contato contigo para marcarmos a gravação da música e do videoclipe, pode ser? – Ela perguntou. – Tem planos para vir para os Estados Unidos?
- Eu tenho alguns shows aqui na Colômbia, mas até o fim do próximo mês eu estou livre. – Ela murmurou com a boca.
- Perfeito! – Ela falou e eu vi aparecer no pé da escada com várias malas e franzi a testa quando a mesma ajeitou os cabelos.
- Amor? – A chamei e ela nem me deu bola. - Alice, eu preciso desligar, nos falamos depois?
- Claro, eu... – Larguei o celular e corri até minha esposa.
- Amor? – A segurei pelos ombros e a mesma sacudiu os mesmos. – Aonde você vai?
- Eu vou embora! – Ela falou com calma, mas notei que seus olhos estavam vermelhos.
- Por quê? O que houve?
- Eu não aguento mais, é só trabalho, trabalho, trabalho... – Ela falou com a voz trêmula e eu levei minhas mãos até seu rosto e acariciei devagar.
- Por favor, não faça isso! – Ela sacudiu o rosto e eu abaixei as mãos.
- Não venha com essa agora, nós não somos um casal há mais de cinco anos. – Ela falou irritada. – Eu só sirvo para ir aos eventos contigo e servir de troféu do maior músico da Colômbia. – Ela foi irônica e eu respirei fundo.
- Eu te amo, . – Segurei seu rosto. – Não é nada disso, eu só...
- Só o quê? Qual vai ser a desculpa da vez? – Ela cruzou os braços. – Tem novos álbuns para gravar? Shows? Turnês internacionais? Colaboração com cantoras famosas de Hollywood? – Ela olhou firme e eu não tinha mais desculpas. – Sua mão em meu rosto é o máximo de carinho que eu tenho em anos. – Vi suas lágrimas começarem a deslizar. – E quando você me segura pela cintura nos seus eventos. – Ela suspirou.
- Por favor, me dê uma chance. – Falei. – Eu tiro umas férias, vamos para o Caribe, só nós dois e...
- Achei que você tivesse compromissos com Alice Stone. – Ela falou firme.
- Eu dou um jeito, eu...
- Não, não dá mais. Já te dei, segundas, terceiras e quartas chances, é melhor seguirmos separados. – Ela falou e deu um passo para trás, fazendo minha mão deslizar para baixo.
- Por favor, eu...
- Eu peço para Mila vir buscar o resto das minhas coisas depois. – Ela falou e pegou sua mala novamente do chão e a arrastou até a porta.
Olhei para o teto, respirando fundo e senti as lágrimas começarem a deslizar pelo meu rosto e percebi que apesar da falta de empatia, toque, carinho e contato nos últimos anos, eu tinha acabado de perder o amor da minha vida. Saí correndo em direção à porta, abrindo-a fortemente e encontrei um carro preto arrancando.
- Droga! – Reclamei, me sentando na beirada da calçada e puxei a respiração, deixando que as lágrimas caíssem pelas minhas bochechas sem dó.
Senti um focinho passando pela minha perna e ergui o rosto, vendo Shak se aconchegar em meu braço e passei a mão em seu pelo, puxando-a para meu colo e a abraçando fortemente, fazendo um filme começar a passar pela minha cabeça e eu começar a me lembrar de tudo o que eu sentiria falta.
- , ainda aí? – Ouvi a voz de Alice e percebi que a ligação ainda estava rolando.
- Oi, desculpa! – Falei, tirando o telefone do viva-voz e me levantando da banqueta, andando pelo estúdio.
- O que achou?
- É muito bom, Alice! – Falei, rindo fracamente. – Aposto que com sua letra vai ficar incrível.
- Estamos trabalhando nisso ainda, mas meu quarteto fez um trabalho incrível, e como estamos trabalhando juntos, achei que gostaria de ouvir.
- Ficou muito bom mesmo! – Sorri. – Dave não vai ficar com ciúmes por eu ser seu pianista nessa? – Ri fracamente e ela me acompanhou do outro lado da ligação.
- Eu ainda preciso de um DJ, né?! – Ela riu fracamente e ouvi alguns barulhos ocos e afastei meu corpo, encarando a porta que dava para a sala da estar. - Bom, eu tenho uma letra para finalizar, a Jessica entra em contato contigo para marcarmos a gravação da música e do videoclipe, pode ser? – Ela perguntou. – Tem planos para vir para os Estados Unidos?
- Eu tenho alguns shows aqui na Colômbia, mas até o fim do próximo mês eu estou livre. – Ela murmurou com a boca.
- Perfeito! – Ela falou e eu vi aparecer no pé da escada com várias malas e franzi a testa quando a mesma ajeitou os cabelos.
- Amor? – A chamei e ela nem me deu bola. - Alice, eu preciso desligar, nos falamos depois?
- Claro, eu... – Larguei o celular e corri até minha esposa.
- Amor? – A segurei pelos ombros e a mesma sacudiu os mesmos. – Aonde você vai?
- Eu vou embora! – Ela falou com calma, mas notei que seus olhos estavam vermelhos.
- Por quê? O que houve?
- Eu não aguento mais, é só trabalho, trabalho, trabalho... – Ela falou com a voz trêmula e eu levei minhas mãos até seu rosto e acariciei devagar.
- Por favor, não faça isso! – Ela sacudiu o rosto e eu abaixei as mãos.
- Não venha com essa agora, nós não somos um casal há mais de cinco anos. – Ela falou irritada. – Eu só sirvo para ir aos eventos contigo e servir de troféu do maior músico da Colômbia. – Ela foi irônica e eu respirei fundo.
- Eu te amo, . – Segurei seu rosto. – Não é nada disso, eu só...
- Só o quê? Qual vai ser a desculpa da vez? – Ela cruzou os braços. – Tem novos álbuns para gravar? Shows? Turnês internacionais? Colaboração com cantoras famosas de Hollywood? – Ela olhou firme e eu não tinha mais desculpas. – Sua mão em meu rosto é o máximo de carinho que eu tenho em anos. – Vi suas lágrimas começarem a deslizar. – E quando você me segura pela cintura nos seus eventos. – Ela suspirou.
- Por favor, me dê uma chance. – Falei. – Eu tiro umas férias, vamos para o Caribe, só nós dois e...
- Achei que você tivesse compromissos com Alice Stone. – Ela falou firme.
- Eu dou um jeito, eu...
- Não, não dá mais. Já te dei, segundas, terceiras e quartas chances, é melhor seguirmos separados. – Ela falou e deu um passo para trás, fazendo minha mão deslizar para baixo.
- Por favor, eu...
- Eu peço para Mila vir buscar o resto das minhas coisas depois. – Ela falou e pegou sua mala novamente do chão e a arrastou até a porta.
Olhei para o teto, respirando fundo e senti as lágrimas começarem a deslizar pelo meu rosto e percebi que apesar da falta de empatia, toque, carinho e contato nos últimos anos, eu tinha acabado de perder o amor da minha vida. Saí correndo em direção à porta, abrindo-a fortemente e encontrei um carro preto arrancando.
- Droga! – Reclamei, me sentando na beirada da calçada e puxei a respiração, deixando que as lágrimas caíssem pelas minhas bochechas sem dó.
Senti um focinho passando pela minha perna e ergui o rosto, vendo Shak se aconchegar em meu braço e passei a mão em seu pelo, puxando-a para meu colo e a abraçando fortemente, fazendo um filme começar a passar pela minha cabeça e eu começar a me lembrar de tudo o que eu sentiria falta.
Capítulo Único
Passei as mãos no piano devagar, sentindo a diferença da textura das notas embaixo dos meus dedos e me sentei na banqueta, respirando fundo. Toquei uma nota qualquer, reconhecendo seu toque rapidamente e tentei fazer um movimento simples de dó, ré, mi, fá e os dedos tropeçaram nas notas.
Fazia quase um mês que havia saído de casa e fazia o mesmo tempo que eu não conseguia tirar nenhuma nota decente do piano. Todas as minhas músicas eram inspiradas nela, em nós, na nossa história de amor e em nossa família, então tocar essas melodias lembravam dela e me machucavam por dentro cada vez mais.
Nunca pensei que a perderia, depois de tudo o que passamos, que eu não teria mais ela ao meu lado. Estamos juntos desde a adolescência, há quase 25 anos, as coisas esfriaram com o tempo, com minha carreira, com a vinda de nossos filhos e eu deixei. Eu não podia dizer o contrário, eu não podia fingir que não era culpado, eu sabia que nunca tinha sido ela, sempre fui eu. Eu desmereci nosso relacionamento e não me permiti segurá-la quando ela foi embora.
Ouvi a campainha e abaixei o tampo do piano mais uma vez naquele dia. Me levantei, abanando a cabeça e segui até a porta, dando uma olhada no espelho que tinha ali e eu tinha olheiras profundas, não conseguia dormir. Cancelei meus shows e compromissos, e não tinha coragem para mais nada. Segui até a porta e abri a mesma, surpreso ao encontrar meus três filhos ali.
- Oi, pai! – Eles falaram.
- O que estão fazendo aqui? – Perguntei, vendo Mila de 22, Conrad de 15 e Kalima de 10 desviar de mim e entrar em casa, Mila ainda estalou um beijo em minha bochecha.
- Viemos falar contigo, é claro! – Conrad falou, se jogando no sofá da sala. – Você sumiu! – Ele falou.
- Abaixa o pé! – Falei pela milésima vez e ele me obedeceu, sentando direito e eu sentei ao seu lado.
- Vocês sabem o que está acontecendo, já são grandinhos para entender isso. – Kalima me abraçou pelo pescoço e a puxei para sentar em meu colo.
- Vocês não podem se separar, papai, por favor. – Ela falou e eu suspirei.
- Ah, meu anjo! – Falei, sentindo-a me abraçar e minha mais velha me encarava do outro lado da sala com aquele olhar acusador. – Não tem nada a ver com vocês, meu amor. Isso as vezes acontece. – Suspirei.
- Não, pai, se você valorizasse a mamãe um pouco mais, eu aposto que isso não aconteceria. – Mila falou com seu tom reprovador e eu suspirei.
- Eu não tenho sido um bom marido, Mila, e acho que ela tem direito de escolher da forma que ela quer viver. – Falei.
- Mas ela quer viver contigo, seu idiota! – Conrad falou e nós três o encaramos.
- Primeiro de tudo: olha como você fala comigo, eu ainda sou seu pai e ainda mereço respeito. – Falei. – Segundo: ela foi embora, eu não a obriguei a nada e, desde aquele dia, eu tento contato com ela, quero que vocês fiquem nessa casa, mas ela não me retornou nenhuma vez.
- Exatamente por isso! – Ele se levantou irritado. – Eu ouvi ela falando com a tia Alana, ela está te ignorando porque sabe que se você pedir para ela voltar, ela volta. – Suspirei.
- É, pai! – Mila falou. – Eu ouvi também, ela sente falta do que vocês eram. – Ela disse, se levantando da cadeira e se sentou ao meu lado. – Ela quer aquele amor de vocês que vocês sempre nos contam. – Suspirei. – A inspiração de todas as suas músicas, papai. – Neguei com a cabeça, sentindo-a apertar minha mão.
- O que a gente foi... – Suspirei, negando com a cabeça. – Sua mãe foi meu primeiro amor, meus pequenos. Quando eu a conheci, foi a melhor coisa da minha vida. Enfrentamos várias coisas juntos, vivemos lindas fantasias, um conto de fadas mesmo. Sua mãe pegou a monotonia da minha vida e transformou em algo incrível. – Dei um pequeno sorriso. – E eu não a valorizei.
- Você ainda tem tempo, pai! – Kalima falou e eu suspirei. – Fala com a mamãe, por favor. – Ela falou manhosa. – Cante uma das suas músicas lindas para ela e conquista ela de volta. – Suspirei.
- Queria que fosse fácil assim, meu amor. – Dei um sorriso leve e ela negou com a cabeça.
- Mesmo que seja difícil, pai, é o amor da sua vida. – Mila falou e eu suspirei.
- Eu preciso pensar...
- Pai, você sabe que a gente não falaria isso se a gente não soubesse que você é capaz de ser alguém melhor, de fazer essa fantasia, como você diz, real novamente. – Fechei os olhos, franzindo os lábios. – Você ama ela. Olha seu estado!
- Valeu. – Suspirei.
- É, e se eu fosse você, pensaria logo, ela estava em contato com um advogado. – Conrad falou.
- Advogado? – Falei.
- Ela vai pedir o divórcio, pai. – Mila falou.
- Não. – Falei fracamente. – Ela não pode fazer isso, ela...
- Agora acordou, é?! – Mila falou irônica e eu revirei os olhos. – Se você a ama, pai, lute por ela. Mas se não, então deixe-a ir.
- Você sabe que eu a amo, mi hija! – Falei forte e um sorriso dançou em seus lábios.
- Então lute por ela. – Ela falou forte, quase como se fosse uma batalha. – Podemos te ajudar.
- É, pai! Por favor! – Conrad falou e eu suspirei.
- Podemos fazer uma caça ao tesouro! – Kalima falou alto e nós três franzimos as testas.
- Como assim, amor?
- É o que eles fazem em filmes! – Ela desceu do meu colo. – Eles fazem uma caça ao tesouro para lembrar tudo o que fizeram eles se apaixonarem.
- Isso é perfeito, pai! – Conrad também levantou rápido. – Podemos lembrar de quando vocês se apaixonaram, toda a história, todas as músicas. – Ele falou.
- Vocês na escola, o encontro, o quase afogamento, minha gravidez! – Mila falou. – É perfeito. – Dei um pequeno sorriso.
- A ideia é ótima, gente, mas como faríamos isso? – Perguntei.
- É fácil, ela já está em Galerazamba, quase tudo aconteceu lá, a gente só precisaria montar os acontecimentos, fazer as dicas, acho que entrar em contato com algumas pessoas e é isso! – Mila falou.
- É, e para ela chegar aqui em Cartagena é fácil, a gente dá um jeito. – Conrad falou com seu olhar maligno e eu franzi a testa. – Exagerei?
- Sempre! – Mila e eu falamos juntos e ele relaxou o rosto.
- Ok, mas acho que dá certo. Quando começarmos, ela vai ficar curiosa, aposto. – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Eu tenho que pensar nos momentos, então. – Suspirei. – São tantos...
- Ligue momentos a lugares, pai! Vamos simplificar. Não temos muito tempo, não sei a que pé anda o pedido de divórcio. – Mila falou.
- Vocês têm algum compromisso agora? – Perguntei e Mila abriu um sorriso.
- Não. – Eles falaram juntos.
- Vamos lá para o estúdio, temos muito o que trabalhar. – Falei, vendo-as sorrirem e as crianças mais novas gritarem animadas.
Me levantei do sofá e Mila veio ao meu lado, me abraçando pela cintura e apoiando a cabeça em meu ombro. Abracei-a pelo ombro, sabendo que eles haviam acabado de me dar um pouquinho de esperança. Eles eram muito parecidos conosco, e eu estava confiante de que tudo daria certo, se Deus quiser.
- Ok, pai, vamos organizar. – Conrad falou. – Vamos pensar no acontecimento e no lugar que aconteceu. – Assenti com a cabeça. – Depois podemos escrever a frase de alguma de suas músicas que lembre esse momento e depois colocar no final “siga para o destino tal” que vai ser o próximo lugar e assim por diante.
- Nesse lugar não vai ter nada? – Mila perguntou.
- A gente vai ter alguns reforços, não?! – Ele perguntou. – A gente pode conversar com pessoas que foram importantes na vida de vocês, se eles estiverem vivos.
- Mais respeito, garoto!
- E eu posso fazer um desenho para cada lugar para ela pegar. – Kalima falou.
- Que ideia ótima, meu amor! – Mila falou sorrindo.
- Aí fazemos essa pessoa lembrar de vocês. – Conrad falou como se fosse seu plano perfeito.
- Eu gosto do espírito dele. – Falei.
- Espero que ajude! – Mila comentou, nos fazendo rir.
- Beleza, qual vai ser o primeiro fato? – Conrad perguntou.
- Quando nos conhecemos, na escola. – Falei, suspirando.
- Eu não conheço essa história! – Kalima falou e Mila sorriu, pegando-a e sentando com ela no largo sofá.
- É incrível, maninha! – Mila falou sorrindo.
- Sua mãe tinha 16 anos e eu tinha 18. – Virei o corpo na banqueta do piano, passando os dedos pelas notas. – Eu tinha acabado de cumprir dois anos no reformatório juvenil por... – Suspirei, franzindo a testa.
- Conta, pai. É difícil, mas conta. – Mila falou e eu dei um pequeno sorriso.
- Eu tinha acabado de voltar para Galerazamba, eu fiquei dois anos preso em um reformatório juvenil por quase matar um cara. – Suspirei.
Meus pais se casaram muito cedo, como eu e sua mãe, mas meu pai faleceu quando eu tinha somente nove anos. E minha mãe era bonita, era nova, então ela foi tentar ser feliz novamente. Namorar novamente, encontrar um cara novamente. Só que um dos caras que ela encontrou, não era exatamente muito bom.
Um dia, já era de madrugada, a campainha tocou, e era o namorado dela. Eu fiz questão de apagar o nome dele da minha vida, o processo foi muito complicado. Ele estava bêbado e ele tentou... Bom, machucar a vovó de um jeito muito ruim. E eu não gostei de ver isso, então eu o afastei da minha mãe e a raiva tomou conta de mim e avancei em cima dele, e não me controlei, bati nele uma vez, duas, três...
Independente da situação, não é o certo a se fazer, crianças, mas eu não consegui evitar. Eu me via como responsável pela minha mãe e o cara estava fazendo mal a ela. Enfim, eu só parei de bater nele quando a polícia chegou. Eu tinha outros problemas psicológicos, o piano me ajudou muito nisso.
Enfim, eu fiquei dois anos preso e, quando eu voltei, eu tinha perdido dois anos na escola, então eu precisava fazer o segundo e o terceiro ano, e já tinha 18 anos, deveria estar formado há mais ou menos um ano.
Bom, nossa cidade é pequena, então, quando eu voltei, as notícias já estavam rolando, eu era o bad boy, eu era violento, eu não usava roupas muito felizes também, então eu já voltei com uma má-fama na escola, com uma fama horrível. As pessoas já começaram a olhar diferente para mim. Agora, sua mãe... Ah, gente! Sua mãe era a pessoa mais linda da escola, ela era fofa, ela era prestativa, ela era demais.
O único problema é que ela era filha do pastor da cidade, e seu avô era difícil, viu?! Putz, eu acho que conquistei ele na força quando aparecemos casados e com a Mila no colo. Parece engraçado agora, mas foi um tanto perturbador.
Enfim, quando eu voltei para escola, eu fui para sala dela. Eu era o novato de novo, peguei o número da minha sala, meus materiais e fui. Chegando lá, muitos alunos já tinham chegado, ficaram calados quando eu entrei e eu tentei, ao máximo, ficar na minha. Eu tinha feito acompanhamento psicológico no reformatório, então eu tentava evitar qualquer tipo de conflito.
Então eu entrei, recebi aquele olhar todo, encontrei uma mesa lá atrás e sentei. Peguei o caderno, abri a apostila na matéria e fiquei rabiscando no meu livro de partituras. Naquela época eu já tinha conhecimento em música, já fazia aulas e ia bem nisso tudo, escrever era só uma forma de passar o tempo. Até que ela se aproximou.
- Oi, com licença! – Ela falou e eu ergui meu rosto, vendo-a com um vestidinho soltinho e uma jaqueta por cima do mesmo. – Sou , faço parte do comitê de boas-vindas da escola.
- Oi. – Falei levemente estranhando. – Eu sou .
- É um prazer te conhecer, . Seja bem-vindo, caso você tenha alguma dúvida sobre aulas, cursos extracurriculares ou só quiser bater um papo, pode me chamar. – Ela deu um sorriso fofo e eu sorri junto.
- Obrigado. – Falei e ela assentiu com a cabeça. – Você tem a lista de cursos extracurriculares? – Perguntei.
- Sim, tenho, está pensando em se escrever em algum? – Ela perguntou.
- Para música, eu toco piano. – Ela sorriu.
- Ah, vai ser muito bom te ter com a gente, as inscrições são na quinta-feira, na parte da tarde, na própria sala de música, fica do lado da cafeteria. – Ela falou.
- Obrigado. – Falei e ela assentiu com a cabeça de novo, voltando à primeira cadeira na mesma fileira que a minha. Percebi o olhar de seus amigos quando ela se sentou de novo e ela só abanou a mão, como se pedissem para eles pararem de falar.
Logo depois a professora chegou.
- Ok, eu tive uma ideia! – Conrad falou e eu fui jogado de volta para a realidade.
- Pai? – Mila perguntou e eu abanei a cabeça.
- Desculpe, fui pego em pensamentos, crianças. – Eles riram.
- Adoro quando você lembra da mamãe, você fica com essa cara de tonto. – Ri fracamente, negando com a cabeça.
- Ela é o amor da minha vida, gente. – Suspirei.
- Qual sua ideia? – Kalima perguntou para Conrad.
- Nossa primeira pista pode ser na escola. A gente pode escrever algo como “no dia em que te conheci, só vi você”. – Ele falou animado. – Aí a gente coloca “siga até o lugar onde vocês se conheceram”.
- É, pai! – Kalima falou animada. – Vai ser legal.
- E você pode fazer um desenho da mamãe e do papai novos. – Conrad falou sorrindo. Mila esticou a mão e pegou um porta-retrato do nosso casamento, entregando para ela.
- Uau! – Kalima abriu um sorriso.
- Então temos nossa primeira estação? – Mila perguntou, se levantando e indo até a minha mesa, pegando papéis e caneta.
- E vamos deixar esse bilhete aonde? – Perguntei.
- Na casa da tia Alana. – Mila falou. – A gente entrega como uma carta ou algo assim.
- Combinado? – Conrad falou e eu assenti com a cabeça. – Ok, agora onde vai ser a segunda pista?
- Na aula de música. – Falei, virando de frente para o piano novamente, apoiando os dedos na mesma e começando uma melodia lenta que sempre tocávamos na aula.
- Eu já ouvi isso. – Mila falou.
- Era a música que compusemos na aula de música. – Suspirei. – Quando sua mãe disse que seria ótimo me ter na aula de música, eu pensei que era uma participação da escola, mas não, sua mãe também já tocava desde àquela época.
- Ela tocava violino desde cedo? – Conrad perguntou.
- Tocava. – Dei um pequeno sorriso. – O pai dela meio que a obrigava a tocar instrumentos por causa do coral da igreja, aí ela aproveitava e fazia aula de música também. Galerazamba é pequena, gente, precisávamos aproveitar todas as oportunidades. – Eles assentiram com a cabeça.
- E como foi? – Kalima perguntou.
Bom, eu entrei para banda, inicialmente ainda tinha aquele olhar sobre mim, mas quando eu tocava e cantava, todo mundo olhava para mim, né?! E eu acabei fazendo alguns amigos na aula, mostrei para eles que eu não era tão mal quanto achavam, contei toda minha história com a vovó e o motivo de ser preso. Formamos um grupo bacana, sabe? Não saíamos juntos nem nada, mas naquelas duas horas éramos uma família.
E sua mãe fazia parte dessa família também. Então perdíamos muitas horas nisso. E sempre tinha aquela apresentação de fim de ano, de fechamento de semestre e, no final do meu segundo ano, nós escrevemos essa música juntos. Eu no piano, sua mãe no violino. Lembro o primeiro dia que trabalhamos juntos, acho que foi naquele dia que eu realmente me apaixonei por ela.
- Bom, crianças, encerramos por hoje, nos vemos na terça-feira. Não se esqueçam de praticar! – O professor falou e todo mundo pegou suas coisas e foi saindo.
- Professor Alfredo? – Me aproximei do mesmo.
- Sim, ?
- Eu posso ficar mais um pouco? Não tenho piano em casa e...
- Claro! – Ele falou animado. – A escola fecha as sete, quando for embora, só leve a chave da porta para a secretaria, pode ser? – Ele a estendeu para mim.
- Claro! – Sorri e voltei para o piano.
Eu esperei os alunos saírem, acenei para alguns, me despedi e voltei a tocar. Essa música que eu toquei para vocês, ela era mais animada, mas ia acompanhar a turma de balé, tinha outros instrumentos e não éramos exatamente uma orquestra, então precisamos deixá-la mais lenta, ela era mais ou menos assim.
Deixei que meus dedos corressem pelas notas do piano em minha frente junto da lembrança e dei um pequeno sorriso. Eu não sabia do que a música falava, eu não tinha prática em composição naquela época, isso eu fui criando ao longo dos anos. Eu esperava estar sozinho na sala, mas ela voltou e ficou parada ao lado do piano me vendo tocar, até que eu percebi que ela estava lá.
- , ei, você está aqui ainda? – Perguntei, abaixando as mãos e ela deu um pequeno sorriso.
- Você tem um talento, . – Ela disse, abrindo um pequeno sorriso e apoiando seu material em uma das cadeiras do lado.
- Você também! – Eu disse.
- Não, eu me esforço, eu faço diversas aulas com diversos professores, você é bom mesmo. – Ela abriu o case do seu violino, tirando-o de lá dentro. – Suas mãos deslizam pelas notas, parece que você não está pensando. – Sorri.
- Às vezes parece que não estou. – Ri fracamente.
- Já pensou em seguir carreira? – Ela perguntou.
- Se eu me formar no ensino médio já me sinto no lucro. – Dei um pequeno sorriso.
- Você é uma boa pessoa, , não deixe que falem diferente de você. – Ela apoiou a mão em cima da minha, me fazendo tocar uma nota sem querer e eu sorri.
- Você também! – Falei, vendo-a pegar seu arco.
- Eu posso perguntar para o meu professor particular se ele conhece alguém que ensine piano, você deveria praticar...
- Não posso, não temos como pagar. – Fiz uma pequena careta e ela suspirou, assentindo com a cabeça.
- E onde você aprendeu a tocar? – Ela perguntou.
- Meu pai. – Suspirei. – Ele tocava e me ensinou, depois que ele morreu, o dinheiro em casa ficou contado, tivemos que vender o piano e... – Abanei a mão. – Não se preocupe com isso.
- Você pode usar a sala quando quiser, sabia? – Ela falou. – Só pedir na secretaria, se estiver livre, você pode usar, mesmo fora das aulas.
- Mesmo? – Falei surpreso e ela assentiu com a cabeça.
- Sim, o ambiente é nosso para ser usado. – Sorri.
- Vou ver de ficar um pouco após a aula, então. – Falei animado.
- Se quiser, posso vir praticar contigo. – Ela disse com um pequeno sorriso no rosto.
- Você não precisa... – Falei e ela fez um som em seu violino.
- Eu quero! – Ela sorriu. – Toca! – Ela pediu. – Vou tentar te acompanhar.
- Ok, mas eu estou na velocidade máxima. – Falei, apoiando as mãos no piano e começando a tocar animadamente e ela sorriu para mim, apoiando o violino na curva do seu pescoço e me acompanhando devagar.
Nem preciso dizer que acabamos nos tornando muito próximos naquela sala de música. Ficávamos depois do almoço de segunda, quarta e sexta, e ainda tinha as aulas de terça e quinta que a gente sempre alongava um pouco. O jeito que ela me olhava era especial, e eu já estava apaixonado por ela, era certeza, só não sabia que era correspondido.
- Já sei! – Mila me interrompeu. – Desculpa. – Ela falou. – Tem mais?
- Não, é isso. – Rimos juntos.
- E se a gente fizer algo tipo “aprendi a te amar no mesmo lugar que descobri seus maiores segredos”. – Ela falou animada.
- A sala de música. – Falei e ela sorriu.
- Sim, aí deixamos na sala de aula, junto de “siga para onde vocês se apaixonaram”, que vai ser a sala de música. – Conrad falou animado.
- É perfeito! – Kalima falou. – Posso fazer um desenho do papai no piano e da mamãe tocando violino. – Ela falou animada e eu sorri.
- Sim, minha princesa. – A vi sorrir, voltar a focar no desenho que ela já fazia.
- Depois da sala de música, aonde vamos? – Conrad perguntou.
- Podemos adiantar um pouco para o dia que eu a chamei para sair. – Suspirei.
Foi na saída de um desses ensaios, estávamos sentados em um dos bancos na frente da escola, ela esperava pelo pai dela e eu ia de bicicleta, então assim que ela fosse, eu pegaria minha bicicleta e iria também.
- Hoje foi legal! – Ela falou animada, rodando a saia e eu sorri.
- Foi sim, conseguimos terminar. – Ajeitei a mochila nas costas, vendo-a se sentar no banco e eu sentei ao seu lado.
- Estou empolgada para ver o que o professor Alfredo vai falar. – Ela sorriu.
- Eu acho que ele vai gostar, estamos evoluindo bem. – Falei sorrindo.
- Você pode ir, sabia? – Ela disse. – Ele logo chega.
- Não, eu gosto de ficar contigo. – Falei e ela sorriu, ficando levemente encabulada.
- Você é muito legal, . Se mostrou uma pessoa que não se deve julgar pela capa. – Sorri.
- Muito feio? – Brinquei e ela gargalhou.
- Não foi isso que eu quis dizer, me refiro ao que as pessoas falam de você. – Ela disse baixo e eu sorri.
- Eu sei, estou brincando.
- Você é bem bonito, na verdade. – Abri um pequeno sorriso, vendo-a ficar encabulada de novo.
- Eu fiz meus erros, eu paguei por eles, mas eu não sou aquilo. Eu talvez até seja, não sei, a psicóloga só acha que eu defendi uma pessoa que eu amo, o juiz queria dar uma multa, mas o cara tinha dinheiro, e sabe o que dinheiro faz nessa cidade... – Dei de ombros. – Mas eu sou uma pessoa boa, só tenho um estilo diferente. – Sorri.
- Você é incrível e isso basta. – Ela falou, segurando minha mão em cima do banco. Foi aí que eu peguei a oportunidade.
- ... – A chamei. – Espero não estar sendo invasivo ou entendendo errado, mas você gostaria de sair comigo um dia? Assim, algo de boa, simples, só nós dois, eu... – Comecei a me embananar.
- Claro! – Ela disse sorrindo e eu suspirei.
- Mesmo? – Fiquei surpreso.
- Mesmo! – Ela sorriu. – Só tem um problema. – Ela disse e no mesmo momento o carro do seu pai estacionou na frente da escola.
- O quê? – Perguntei, vendo-a se levantar com seus materiais.
- Você vai ter que pedir para meu pai. – Ela franziu os lábios e seguiu em direção ao carro.
Eu estava ferrado.
- Meu Deus! Você precisou pedir para o vovô para sair com a mãe? – Mila perguntou alto.
- Sim, só para sair com ela.
- Nossa, que chato! – Mila falou.
- Posso te garantir que o Edson teria muito mais pontos comigo se tivesse vindo se apresentar no primeiro encontro. – Falei e ela fez uma careta.
- É estranho, pai. – Ela disse e eu abanei a mão.
- Foca, gente! – Conrad falou. – A gente coloca na sala de música uma pista para ela ir até esse banco.
- Ideias? – Mila perguntou.
- Coloca algo tipo “foi nesse lugar que, inesperadamente, você aceitou ser minha”. Ela vai entender. – Mila sorriu.
- Aí coloca “siga até o ponto em que te chamei para sair”. – Conrad falou, apontando para Mila que escrevia.
- Como vamos deixar o bilhete no banco sem que ela perceba? Pode chover, pode voar... – Mila falou.
- Algum de vocês pode ficar de olho. Tem uma janela na sala de música que dá para rua, vocês podem espiar, quando perceberem que ela estiver saindo, deixam o bilhete. – Falei.
- Vai ficar contigo, Conrad. Você é mais ágil para se esconder. – Mila falou.
- O desenho três vai ser dos dois no banco. – Kalima falou animada e eu sorri.
- Está ficando bonito, irmãzinha. – Mila falou sorrindo.
- Ok, temos três, o próximo imagino que seja o encontro, né?!
- Sim. – Falei. – Como sua mãe tinha pais muito religiosos, eu arrumei só um piquenique no lago para ela, por volta das cinco da tarde, só nós dois, o lago era mais bonito do que é hoje... – Fui falando. – Mas eu tinha que passar pelo pai dela antes.
Então eu me arrumei todo engravatado. Camisa social, cabelo penteado para trás, fiz o bad boy sumir, tudo para que seu pai não encrencasse comigo, principalmente pela história lá atrás. Minha mãe me ajudou, ela via como eu estava feliz e apaixonado.
Seria tudo mais fácil se o pai dela não soubesse minha história, mas a cidade inteira sabia, então havia aquele grande preconceito por trás. Apesar de ser pastor, ele não era uma pessoa que aceitava todo mundo. Ele fala que queria proteger , eu já acho que não.
Enfim, combinamos às quatro da tarde. Eu preparei uma cesta de piquenique e fui até a casa dela. Foi a melhor ideia que eu tive meio de última hora. No calor de nossa cidade, todas as sorveterias estariam cheias e eu estava suando já dentro daquela calça social. Fui até à grande casa de sua mãe e toquei a campainha, equilibrando a cesta em meu braço. Seu pai abriu a porta.
- Olá, senhor, tudo bem? A está?
- ... – Ele falou naquele tom bacana de desdém, sabe?
- Sim, senhor. – Estiquei a mão livre e ele não se deu ao trabalho de apertar.
- Por que você se acha no direito de sair com a minha filha? – Ele perguntou.
- Senhor, eu...
- Ah, pare de encher o saco, Alex! – Ouvi uma voz e a mãe de apareceu na porta. – Você é o , certo? Filho da Janice?
- Sim, senhora! – Ela esticou a mão.
- É um prazer conhecê-lo. Olha como você está bonito. – Ela sorria e eu fiquei alguns segundos mais aliviado. – Querida, está pronta? – Ela falou um pouco mais alto.
- Sim, estou indo! – Ouvi a voz de e consegui vê-la descendo as escadas com a roupa similar que usava na escola, vestido com uma jaqueta por cima e sapatilha nos pés. – Oi, ! – Ela pareceu encabulada mais uma vez.
- Oi, você está linda! – Falei.
- Você está engraçado! – Sorrimos juntos.
- Aonde vocês vão? – O pai dela voltou a fazer.
- Vou levá-la para um piquenique no lago. – Apontei para a cesta.
- Oh, meu Deus! Um piquenique? – me pareceu animada e eu assenti com a cabeça.
- Estejam de volta até as nove da noite. – O pai dela falou.
- Dez! – Sua mãe disse e eu sorri. – Divirtam-se.
- Obrigado! – Falei e saiu, fazendo questão de puxar a porta.
- Desculpe por isso. – Ela falou. – Meu pai é meio mala às vezes.
- Tudo bem, eu não tenho uma fama muito boa mesmo. – Ela sorriu e eu estiquei o braço livre para ela, vendo-a segurar.
- Mas só porque as pessoas não te conhecem, . Para mim, você proteger sua mãe é a coisa mais corajosa que alguém poderia fazer. – Sorri.
- Bom, toda história tem dois lados, né?!
- E eu acredito na sua. – Ela disse e sorrimos, seguindo lado a lado até o lago.
Era sábado, então o lago até estava movimentado. Tinha pedalinho, pessoas jogando vôlei, um pequeno parquinho para as pessoas brincarem, enfim. Segui até um lado mais afastado, abri a cesta e estiquei uma toalha de mesa, depois peguei algumas coisas que eu e minha mãe havíamos preparado: bolo, suco, lanches naturais, coisas práticas. Além de um vasinho improvisado de flor.
- Ah, . Está maravilhoso. – Ela sorriu e estendi a mão para que ela pudesse se sentar e eu me coloquei ao seu lado.
- Você se importa? – Perguntei sobre o botão da blusa. – Está me apertando.
- Claro! – Ela falou rindo. – Não é nada parecido contigo. – Sorri, abrindo todos os botões da blusa e deixei minha regata branca por baixo à mostra.
- Melhor! – Falei e ela riu fracamente.
Aquele dia descobrimos todos os segredos um do outro. Todos aqueles segredos que você só descobre depois de ter anos de amizade com uma pessoa. Foi mais do que o que acontecia na aula de música. Ela sorria, eu sorria, gargalhávamos ao redor do lago e eu sentia que podia ficar ali pelo resto da minha vida.
O dia foi passando, a comida acabando, o sol baixando e as pessoas indo embora. Era por volta das sete horas quando estávamos só nós dois, sendo iluminados pelos poucos raios de sol que insistiam em sair por detrás das montanhas e dos postes que começavam a acender.
- Venha! – Ela falou de repente e eu franzi a testa.
- Aonde? – Me levantei atrás dela e a mesma tirou a jaqueta e a sapatilha. – ?
- Vamos nadar! – Ela falou animada e eu olhei em volta, procurando por algum segurança, já que não tinha placas impedindo isso, mas as pessoas não costumavam fazer aquilo. – Vem! – Quando a olhei de novo, ela já descia morro abaixo correndo e, quando ela pulou na água, seu vestido formou um balão, inchando.
- Você está doida? – Falei sussurrando e segui até ela.
- Venha, a água está ótima.
- Eu não...
- Vem! – Ela nadava, movimentando os braços e se movimentando um pouco.
- Não dá! – Gritei.
- Vem logo! – Ela falou gargalhando.
- Mas que caramba! – Falei irritado, tirando minha camisa social. – Seu pai vai me matar.
- Vem logo! – Ela falou e eu respirei fundo, antes de pular atrás dela. – Isso!
- Ok, agora me segura! – Gritei, movimentando os braços desengonçados, tentando manter a cabeça para cima da água.
- Fica direito, ! – Ela falou rindo e meu corpo começou a afundar. – ?
- Eu não sei nadar, ok?! – Gritei entre sacudidas.
- Meu Deus! – Ela falou desesperada, me segurando pelo braço, apoiando em seu ombro e sentia suas pernas batendo contra as minhas. – Mexe suas pernas como se estivesse andando de bicicleta. – Ela falou e eu copiava, sentindo nossas pernas entrelaçarem com o movimento. – Por que você não me disse? – Ela perguntou.
- Eu tentei, eu não podia estragar sua felicidade. – Falei cuspindo um pouco de água que entrava em minha boca.
- Você é idiota, ! – Ela falou rindo.
- Talvez... – Sorri. – Por você. Idiota por você. – Falei sorrindo e percebi que seu sorriso sumiu.
Achei que eu havia falado alguma coisa errada, mas no segundo seguinte ela passou os braços ao redor do meu corpo e me beijou. Meu corpo travou e eu naturalmente comecei a afundar novamente, fazendo com que o beijo ficasse molhado e desesperador.
- Venha! – Ela me puxou, apoiando meu braço pelo ombro e chegamos juntos até a borda. – Se segura!
Ela saiu antes, fazendo seu vestido ficar colado contra o corpo e depois ela me ajudou a sair. Em uma das tentativas ela caiu para trás na grama, gargalhando e eu fiz um esforço gigantesco para sair sozinho.
- Você está bem? Me desculpe! – Falei, me ajoelhando ao seu lado, enquanto ela ria na grama.
- Eu estou muito bem. – Ela sorriu, levando uma mão até meu rosto. – Eu te amo, . – Sorrimos juntos.
- Eu também te amo! – Falei, apoiando o cotovelo na cama e me debrucei sobre seu corpo na grama, beijando-a novamente.
A noite estava só começando, não tínhamos motivo para parar, então ficamos nos beijando até tarde da noite, ouvindo poucas e boas de seu pai quando a devolvi molhada e toda suja de terra e grama depois das dez da noite.
- Ah, pai, que lindinho! – Mila falou sorrindo. – Não sabia que você não sabia nadar.
- Não. – Falei rindo.
- E por que pulou? – Conrad perguntou.
- Porque sua mãe pediu, claro que quase me afoguei, mas valeu muito à pena. – Sorri e eles me copiaram.
- Precisamos colocar uma pista no lago. – Kalima falou animada.
- Sim, com certeza! – Mila falou sorrindo.
- Pode ser algo tipo “quando eu me afoguei, você me beijou”. – Conrad falou animado.
- “Siga para onde eu disse meu primeiro ‘eu te amo’”. – Mila falou e eu assenti com a cabeça.
- Com certeza. – Suspirei.
- Eu vou tentar desenhar vocês dois no piquenique. Ou nadando! – Kalima falou animada, e eu passei a mão em seus cachos.
- Vai ficar lindo. – Falei para ela.
- O que mais, pai? – Mila perguntou.
- Teve a nossa primeira vez, que eu vou passar meio rápido, pois vocês são muito novos para saber disso. – Falei rindo.
- Pai! – Mila e Conrad falaram juntos.
- A Mila talvez não, mas você sim, enxerido! – Baguncei os cabelos descoloridos de Conrad e o mesmo bufou.
- Até parece que eu não sei como as coisas acontecem. – Ele reclamou.
- Cala a boca, seu chato! – Mila falou. - Conta, pai. – Sorri.
Bom, depois daquele beijo, o pai de insistiu muito para que a gente não ficasse juntos, mas foi impossível. Estávamos apaixonados e era a melhor coisa do mundo. Eu tinha alguém para contar sempre, para dividir meus sonhos, meus medos, minhas conquistas, era perfeito.
Mais ou menos em março do terceiro ano, nós fomos para um acampamento da igreja da sua mãe. Eles insistiram para caramba, então fomos como voluntários para ajudar na cozinha, organização, enfim, coisas que eles fazem até hoje. Vocês já até foram e tal.
Apesar de termos ido, o avô de vocês fez questão que não ficássemos no mesmo quarto e eu não tiro a razão dele, sabe? Só um pai sabe o sentimento de preocupação em cima dos filhos, nos preocupamos que vocês vão se machucar e... Bom, o que aconteceu em seguida, a gente sabe que só acontece, normalmente, no momento de maior amor, então se ambos não estão na mesma sintonia, pode causar muitas dores futuramente.
Fico feliz dizer que conosco não aconteceu isso. Pelo menos não naquela época.
O toque de recolher no acampamento era nove da noite, então eu e sua mãe jantamos juntos e depois nos separamos. Naquela época não tinha celular para gente ficar mandando mensagens e conversando até de madrugada, então trocamos um beijo e fomos deitar, só que eu não consegui dormir.
Eu levantei da cama, coloquei meu tênis e saí do quarto. Aquele acampamento à noite era um breu, só com alguns postes iluminando e a casa grande onde eu ainda via luzes acesas. Fui em direção onde eu sabia que era o chalé dela e, para minha surpresa, ouvi risadas altas, as meninas ainda estavam acordadas. Eu não deveria, mas as amigas dela eram parceiras, então eu bati à porta. Uma amiga dela abriu.
- ? – Ela falou assustada e me puxou para dentro, checando se ninguém tinha me visto.
- ? – Sua mãe se levantou, vindo em minha direção. – O que você está fazendo aqui?
- Eu não paro de pensar em você.
- Oh! – As amigas dela falaram todas fofas.
- Por que vocês não vão dar uma volta? – A que atendeu a porta perguntou.
- A casa grande ainda está acesa. – Falei.
- Vão por trás daqui e fiquem perto da quadra, tem a luz da lua e vocês conseguem ficar sozinhos um pouco. – A própria inspetora do acampamento falou e eu ri fracamente. – O que foi? Eu também já fui jovem.
- Me chamem se der algum problema, ok?!
- Relaxa! – A inspetora falou e deu a mão para mim.
Saímos de fininho do quarto novamente, seguindo para o ponto perto do lago onde a luz da lua passava pelas árvores, mas que não dava tão na cara. Eu tirei meu casaco e estendi na grama para ela sentar em cima e me joguei ao seu lado.
- Nunca pensei que viveria uma história de amor gostosa assim, sabia? – Ela falou e eu sorri.
- Nem eu! – Ri fracamente. – Aí você entrou na minha vida.
- Você é incrível, . – Ela apoiou a cabeça em meu ombro e eu a abracei pelas costas.
- Você é o amor da minha vida e quero ficar contigo para sempre. – Falei e ela sorriu, segurando meu rosto com as mãos e colando os lábios nos meus.
No segundo seguinte eu a deitei na grama, continuamos nos beijando até que... Tampa os ouvidos, Kali. Até que tivemos nossa primeira vez. Eu tentei ser o mais gentil possível, era a primeira vez da sua mãe e, apesar de eu já ter feito outras vezes, nenhuma delas foi apaixonado, então acabou sendo a minha primeira vez também.
- Ah, pai! – Mila falou emocionada.
- Eu tratei sua mãe como a pessoa mais delicada do mundo, fiz dela minha rainha e... – Senti as lágrimas deslizarem pelo meu rosto e a voz ficar fraca. – Eu a perdi.
- Não, pai! – Conrad se ajoelhou em minha frente, segurando minhas mãos. – Ainda temos tempo! – Ele falou.
- Sim, pai! Por favor! – Mila falou também emocionada e eu passei as mãos em meu rosto.
- Escreva aí “aqui eu te fiz mulher, mas eu também me descobri homem pela primeira vez”. – Falei para Mila e a mesma pegou os papéis.
- Que desenho eu faço, pai? – Kalima perguntou.
- Faz eu e a mamãe no lago, vendo a lua, meu anjo! – Falei, vendo Conrad rir fracamente.
- A gente coloca no lago também, vai ter que ter alguém para se assegurar que não vai voar também. – Mila falou e eu assenti com a cabeça.
- A gente pensa no ponto prático depois. – Conrad falou mandão de tudo, me fazendo rir. – Qual vai ser a próxima pista? – Ele perguntou.
- Bom, depois dessa primeira vez, nós estávamos mais apaixonados do que nunca, mas agora éramos íntimos. Isso, crianças, é o ponto alto de intimidade na vida de um casal, mas como você lida com isso que muda tudo. – Falei. – Estava estampado nas nossas caras que algo estava diferente, mas continuamos vivendo, rindo, aproveitando, nos apaixonando cada dia mais. – Suspirei. – Até que...
- Eu vim, né?! – Mila perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Sim, filha. – Suspirei. – Não nos protegemos e sua mãe ficou grávida com 17 anos. – Mordi o lábio inferior.
Seus avôs tinham, ainda tem, uma visão diferente das coisas, então, primeiro, sua mãe descobriu sozinha, ela pegou algumas táticas com professores, fez um teste de farmácia e veio me contar. Imagino que toda notícia surpresa é pega de má forma, mas eu apoiei sua mãe nesse momento.
- Ei, amor! – Falei quando a recebi de surpresa na porta da minha casa.
- Podemos conversar? – Ela perguntou, desviando do meu beijo.
- Claro! – Falei abrindo espaço para ela entrar e fechei a porta.
- , querida! Estou preparando o almoço, come com a gente?
- Hoje não dá, vim rapidinho. – Ela falou acenando para minha mãe. – Precisamos conversar.
- O que foi, amor? – Apontei para o sofá e a mesma se sentou, quando toquei suas mãos percebi que ela estava gelada. – Você está gelada.
- Eu estou grávida, . – Ela falou quase em um sussurro, mas algo caiu na cozinha.
- Mesmo? – Perguntei e minha mãe apareceu igual um rojão na sala.
- Amor? Isso é verdade! – Ela quase me tirou da frente de , segurando as mãos dela.
Ela não respondeu, pois ela começou a chorar, minha mãe a abraçou e eu fiquei com aquela cara de tacho tentando procurar mil soluções para isso, mas não tinha, ela, assim como eu, estávamos preocupados somente com uma coisa: seu pai.
- Meu pai vai me matar. – Ela falava entre choros.
- Eu o mato se ele fizer isso. – Minha mãe falou.
- Licença? – Pedi à minha mãe e ela entendeu o recado, deixando que eu a abraçasse.
- Eu estou aqui contigo, meu amor. – Falei contra sua orelha, dando alguns beijos em sua cabeça. – Vamos passar por essa.
- Eu não sei o que fazer. – Ela respirou fundo, passando as mãos no rosto. – Ele vai me matar, .
- Não vai! Isso é uma decisão sua, amor. E eu estou contigo em qualquer que seja sua decisão. – Falei firme.
- É nosso, . – Ela apoiou as mãos na barriga. – Eu não tenho outra opção além de querer essa criança, pois é nossa. – Ela falou entre lágrimas e olhei para minha mãe que assentia com a cabeça.
- Bom, se você quer ter essa criança, , vocês terão. Independente do apoio do seu pai, eu vou ajudar vocês. – Minha mãe falou firme. – vai conseguir um emprego, nós vamos apertar os gastos, mas você pode ficar com a gente, essa criança terá amor, isso eu posso garantir. – deu um pequeno sorriso.
- Obrigada. – falou. – O que você acha disso?
- Eu estou contigo, amor, sua decisão é a nossa decisão. É você que vai carregar essa criança pelos próximos nove meses. – Falei firme.
- Seis. – Ela falou, apertando o vestido em seu corpo e eu arregalei os olhos.
- Mesmo? – Falei surpreso e ela assentiu com a cabeça.
- Sim. – Ela suspirou e eu a abracei de novo.
- Bom, nós vamos encarar essa juntos. – Falei sorrindo e ela assentiu com a cabeça.
- Fica comigo, ok?! – Ela pediu e eu suspirei.
- Para sempre. – Fui sincero quando disse aquilo.
Encurtando um pouco a história, tínhamos seis meses de aula ainda, mais ou menos, até a formatura, seria junto com a nossa formatura. Tínhamos planos de tentar adiantar algumas provas dela, ela sempre foi muito inteligente, então imagino que não teríamos problema, mas não esperávamos que seu pai seria um obstáculo tão grande.
Aquele dia em que ela me contou, ela ficou em casa, seu pai odiava quando ela dormia lá em casa, mas minha mãe mexeu uns pauzinhos, além de que percebemos que ficava muito ansiosa quando pensava em ir para casa.
No dia seguinte não tivemos como fugir. Todos nos arrumamos, inclusive minha mãe, para irmos à casa dela e botar isso tudo a limpo. Eles não precisavam apoiar, mas precisavam respeitar a decisão dela, a nossa decisão.
- ? Senhora ? – O pai dela se surpreendeu conosco.
- Podemos conversar? – Minha mãe falou com seu tom de simpatia ainda.
- Aconteceu alguma coisa? – A mãe de apareceu e a segurei pela mão, apertando-a fortemente.
- Precisamos conversar, mãe. – Ela falou e entrou em casa, fomos atrás dela.
- Melhor se sentarem. – Minha mãe falou e os três adultos se sentaram, ficando somente eu e em pé.
- Aconteceu alguma coisa? – A mãe de perguntou.
- Eu preciso falar algo para vocês, mas quero que saibam que eu já fiz minha decisão, ok?! – falou tentando ser firme, mas notava que seus lábios tremiam.
- O que foi, minha filha? – Sua mãe sempre foi mais aberta nas situações, em tudo, na verdade.
- Eu estou grávida, mãe! – falou de uma vez só e só percebi que segurava a respiração, pois começou a dar falta de ar.
- O QUÊ? – Seu pai gritou, se levantando e minha mãe se levantou junto e eu me coloquei em frente à na hora. – Como assim? Isso é inadmissível! – Ele falou alto. – Foi você, não foi, seu moleque? – Ele tentou partir para cima de mim, mas eu só segurei suas mãos, impedindo-o de se aproximar de nós.
- Para! – gritou. – Você não vai machucar o . – Ela falou firme. – É dele a criança sim, mas só porque nós dois quisemos.
- E eles decidiram ficar com essa criança. – Minha mãe interveio. – Você goste ou não.
- O quê? – Seu pai falou. – De jeito nenhum. Você vai para um convento e, quando essa criança nascer, vamos colocar para adoção.
- O quê? – perguntou, começando a chorar de novo.
- Você não tem escolha nisso. – Falei firme. – Nós vamos criar essa criança, nem que você nunca mais nos veja.
- Até parece que eu vou receber ordens de um meliante como você, não é mesmo?
- Olha como você fala do meu filho, se não as coisas vão ficar muito complicadas aqui. – Minha mãe falou firme.
- Vocês dois vão embora daqui, eu tenho assuntos para resolver com a minha filha. – Ele falou firme.
- Não! – Falei firme, sentindo apertar meus braços.
- Seguranças! – Ele chamou e eu sabia que eles eram ricos, sabia que eles tinham seguranças, mas nunca pensei que fosse enxotado porta afora por um deles.
- Não faça isso, não é necessário! – Sua mãe falava alto, chorava e eu tentei lutar, mas não queria machucar minha mãe, então fomos expulsos e a porta foi fechada na minha cara.
- Que escroto! – Mila falou.
- Por que vocês acham que tem pouco contato com o avô de vocês? – Falei, respirando fundo, sentindo que estava chorando. – Depois que sua avó se separou dele, nós o vimos em situações bem específicas. – Suspirei. – Ele tentou se redimir, mas querer doar seu próprio neto, expulsar a gente de casa e mandar sua mãe para um convento... Tem coisas que não têm perdão. – Suspirei.
- E a mãe foi para o convento? – Conrad perguntou.
- Foi. – Suspirei. – Depois desse dia...
- Espera! – Mila falou. – Podemos colocar uma pista no acampamento, seguindo para a casa da vovó. Aposto que ela vai gostar.
- Sim, sua avó ajudou muito a gente no que se segue. – Falei rindo.
- Qual vai ser a pista, pai? – Mila perguntou.
- Que tal algo tipo “não foi planejado, mas começamos nossa família aqui”. – Falei e Mila sorriu.
- Vai ser perfeito! – Ela disse. – Aí pode colocar “siga até o local em que tentaram nos separar”.
- Ela vai entender. – Assenti com a cabeça.
- Faz um desenho da mãe grávida, Kali! – Conrad falou.
- Vai ficar lindo. – Ela falou animada e eu sorri.
- E daí? – Mila perguntou.
Bom, desse dia em diante, eu não conseguia falar mais com a sua mãe, eu tentava ligar para ela e nada, eu ia na sua casa, mas era escorraçado igual um cachorro. Achava que ele não seria capaz, mas o pai dela realmente fez o prometido. Agora, na nossa cidade não tem convento, então eu comecei a achar conventos na região, mas quem iria contar para um cara que tinha uma adolescente grávida escondida ali?
A busca estava difícil, eu fique depressivo, eu não sabia como sua mãe estava, se ela estava bem, se eles não tinham feito um aborto nela, eu não sabia nada. Obviamente acabei saindo da escola, pois eu acabava arranjando muita encrenca, minhas notas decaíram, tudo virou uma bagunça. Até que a mãe dela se tornou uma salvadora da pátria.
Eu estava no telefone pela milésima vez aquele dia, como eu ficava todos os dias. Passando pela lista telefônica todo convento da Colômbia, quando eu ouvi a campainha tocar sequencial e alguns murros na porta.
- Abre logo! – Ouvi uma voz feminina e corri, abrindo a mesma, vendo sua mãe entrando correndo na mesma.
- Senhora ? – Perguntei e a mesma fechou a porta correndo, largando uma mala e tirando o véu e os óculos escuros.
- Desculpa esse susto, , eu precisava falar contigo, mas só consegui fugir agora. – Ela falou e minha mãe apareceu.
- Jasminda? – Minha mãe perguntou.
- Eu não tenho muito tempo, gente. – Ela falou rápido. – Eu preciso falar aonde está, eu ouvi Alex falando para um dos seguranças.
- Aonde ela está? – Falei apressado.
- Ela está em um convento em Cartagena, Santa Cruz de la Popa. Eu não sei como é lá, mas conversei com alguns contatos e eles falam que as freiras, apesar da situação, não concordam com essa situação, mas Alex está dando muito dinheiro...
- Como eu vou fazer? – Perguntei.
- Bom, você vai... – Ela abriu sua bolsa, tirando um grande envelope e me entregou, percebi que o mesmo está pesado. – Você vai confrontar dinheiro com dinheiro. – Abri o mesmo e encontrei várias notas de peso colombiano.
- Meu Deus! – Falei surpreso.
- Aqui tem algumas roupas para ela também. Tire-a de lá e fujam, vão viver sua história de amor, mas, por favor, cuide da minha filha. – Ela falou segurando meus ombros.
- Mas, senhora, eu...
- Eu não tenho muito tempo, me prometa que vai cuidar dela. – Suspirei, sentindo que estava chorando novamente.
- Pode deixar. – Respirei fundo e a mesma colocou o véu e os óculos de novo.
- Aqui tem o telefone do meu advogado, ele pode te dar uma carona para Cartagena, depois vocês estarão sozinhos, mas tentaremos nos comunicar. – Ela falou firme. – Se cuide! – Ela saiu pela porta novamente. Eu estava com um envelope cheio de dinheiro, malas com roupas de e 200 mil perguntas passando pela minha cabeça.
- Mãe! – Virei para a mesma que também estava surpresa. – O que acabou de acontecer aqui? – Perguntei, respirando fundo.
- Eu não sei, filho, mas você vai atrás dela. – Ela falou firme.
Eu liguei para seu advogado e o mesmo iria naquele dia mesmo para Cartagena, para minha mãe não tinha nem que pensar duas vezes. estava presa em um lugar contra sua vontade, aquilo era cárcere privado. Eu me arrumei, fiz uma mala também e ele me pegou por volta das seis da tarde.
A viagem para Cartagena demorou cerca de uma hora, ele fez em 40 minutos, mas para mim pareceu quatro, cinco horas. Ele me deixou em frente ao dito convento, mas quando eu pensei que ele iria me largar não, ele saiu do carro e entrou comigo. Eu acho que não me preocupei em perguntar seu nome, e não lembro o que estava escrito no cartão, mas ele foi o meu salvador. Sem ele, isso não seria possível.
- Tira essa jaqueta e fecha essa camiseta até o pescoço. – Ele ordenou e eu fiz o que ele mandou. – Prende esse cabelo também. – Ele me estendeu um elástico e eu tentei fazer meu melhor rabo de cavalo. – Vamos.
Minhas pernas tremiam mais do que gelatina naquele dia. Eu sentia que estava entrando em uma armadilha e que o pai dela estaria lá, ou ela não estaria lá e eu conseguiria deixar as coisas pior do que antes.
- Eu gostaria de falar com a madre superiora. – Ele falou e eu respirei fundo. – Eu sou um colaborador.
Eles nos deixaram entrar, mas éramos homens, aquilo era um convento, então ficamos só até a próxima sala. Esperamos por alguns minutos, até que uma senhora bem idosa com aquela roupa engraçada apareceu lá.
- Em que posso te ajudar? – Ela perguntou.
- Eu sou advogado do senhor Alexander . – Ele falou firme. – Ele pediu que eu viesse buscar sua filha para transferi-la para um convento no Brasil. – Ele falou firme.
- Ele não me informou nada. – Ela falou confusa.
- Foi uma decisão de última hora, a vaga apareceu agora e como sabemos que mais para frente vai ser difícil fazer a transferência por causa da gravidez, ele me mandou agora. – Ele falou firme e parecia que era realmente verdade.
- Você não se importa se eu checar com ele, importa? – Ela perguntou e o advogado ao meu lado deu uma risadinha.
- Fique à vontade, senhora. – Ele falou. – Mas ele disse para não interrompê-lo com isso e mandou algo para agradecer pelo ótimo trabalho. – Ele tirou o envelope do bolso e colocou sobre a mesa entre nós.
- Sim? – Ela pegou o envelope, observando dentro dele. – O senhor sabe que está trazendo problemas para mim se não estiver falando a verdade, não é mesmo?
- E o que ele pode fazer? – Ele perguntou. – Te denunciar? Ele que está mantendo a filha dele presa.
A madre superiora ponderou com a cabeça, olhou para o advogado, olhou para o dinheiro, depois olhou para mim e deu um longo trago no cigarro na sua mão, apoiando as mãos na mesa, voltando o olhar para mim.
- Você é o pai, não é?! – Ela perguntou e eu engoli em seco.
- Sim, senhora. – Falei tenso.
- Essa menina é muito boa, você promete que vai cuidar dela e dessa criança?
- É o que eu mais quero, senhora. – Ela assentiu com a cabeça.
- Ok... – Ela disse respirando fundo e sumiu pela porta.
Eu fiquei com um ponto de interrogação na cara, o advogado ao meu lado também. Passou cerca de um minuto, dois, 10, 20, até que ouvi passos novamente e , em uma roupa de freira também, apareceu junto da madre superiora. Ela estava mais gordinha do que eu lembrava, mas ainda lembro seu olhar de alívio quando me viu.
- ? – Ela falou surpresa e veio correndo em minha direção, me apertando. Quando ela fez isso, percebi sua barriga saliente e sorri, acariciando-a pelas laterais. – Você vai me levar para casa?
- Não, seremos só nós dois agora. – Falei sorrindo e ela colou os lábios nos meus novamente.
- Como você descobriu? Como...?
- Sua mãe te ama muito e quer te ver bem. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Aqui. – A madre superiora falou. – Levem isso. – Ela esticou o envelope. – Vocês vão precisar. – Assenti com a cabeça, pegando o dinheiro.
- Obrigada, senhora, muito obrigada. – falou e eu assenti com a cabeça.
- Saibam que sempre que precisarem de um apoio de Deus, estaremos aqui. – Ela falou sorrindo e eu assenti com a cabeça.
- Obrigada, senhora. – Suspirei.
- Agora vão, antes que descubram. – Ela disse apressada.
se livrou de seu hábito, ficando somente com o vestidinho azul e saímos nós três do convento. Ela me abraçou fortemente quando saiu na rua e eu a girei. Eu sabia que aquela mulher seria minha para o resto da vida.
- Para onde vamos? – O advogado perguntou e eu suspirei. – Eu preciso voltar antes que seu sinta minha falta.
- Nos deixe na rodoviária, ficaremos bem. – Falei e olhou para mim, confirmando com a cabeça.
Nosso dinheiro dava para ir para vários lugares da Colômbia, pensamos em Medellín, depois Bogotá, mas eram opções meio óbvias, então acabamos pegando um ônibus para Cali, mais de 24 horas de viagem, mas estávamos juntos e sabíamos que éramos inseparáveis.
- Cara, eu não sabia disso! – Mila falou surpresa.
- Pois é! – Suspirei. – Eu e sua mãe vivemos boas aventuras. – Ri fracamente. – Ela passou poucas e boas por causa de mim, então fiz questão de fazê-la feliz todos os dias da sua vida.
- Gente, isso é loucura! – Conrad falou surpresa. – Isso é coisa de filme. Vamos vender os direitos para...
- Menos! – Falei, vendo-o rir.
- Cara, isso é loucura! – Ele repetiu surpreso.
- Pois é, chegamos em Cali e prometemos amor eterno. – Suspirei.
- É por isso que eu nasci em Cali, então. – Mila falou e eu confirmei com a cabeça.
- Sim, vivemos lá por cerca de três anos, eu dava aulas de piano, sua mãe de violino e começamos a cantar em lugares da cidade, até que nos falaram desse incrível produtor musical de Cartagena, que achava que eu tinha uma chance. – Suspirei. – Pensamos muito nisso, pois estaríamos perto de nossa cidade e não sabíamos como as coisas estavam depois de tanto tempo. Mila já tinha quase três anos e nossas mães não a conheciam.
- Foi uma escolha difícil? – Mila perguntou.
- Foi. – Suspirei. – Eu já tinha 22 anos, sua mãe já tinha 20, já dependíamos de nós mesmos para viver, mas era difícil pensar que ainda podiam nos fazer mal. – Suspirei.
- E como vocês fizeram? – Kalima perguntou.
- Espera, sinto cheiro de novo capítulo. – Conrad falou. – Qual vai ser a pista para o convento aqui em Cartagena, pai? – Ele perguntou.
- “Te tirei da prisão, mas também descobrimos que aquele era nosso maior refúgio”. – Falei e ambos me estranharam. – Só escreve, vocês vão entender.
- O que eu desenho aqui, pai? – Kalima perguntou.
- Por que você não desenha a mamãe e eu juntos? – Perguntei e ela sorriu, confirmando com a cabeça.
- Refúgio, pai? – Mila perguntou.
- Quando a madre superiora falou que se precisássemos de um apoio de Deus, ela estaria ali, ela falou a verdade. Precisamos de Deus. – Suspirei. – E ele precisava muito nos proteger para o seguinte passo. – Falei, molhando os lábios.
- Vocês se casaram. – Mila falou e eu confirmei com a cabeça.
- Sim. – Suspirei. – Nós precisávamos de algum motivo para reencontrar nossas mães, mas antes precisávamos de um motivo para ficar aqui em Cartagena.
Voltamos para cá e combinamos de encontrar o tal produtor musical, ele na hora gostou de mim, achava que minha voz era muito boa e que poderia trabalhar com alguém que tocava piano, apesar de ele estar acostumado com reggaeton e boybands. Ofereceu dois anos de contrato para mim e sua mãe faria parte da minha banda de apoio, então seria um trabalho em dupla, além de diversas outras pessoas que poderiam nos acompanhar.
Passou cerca de três meses, estávamos estabelecidos em Cartagena, Mila já frequentava a escolinha e tudo mais, então entramos em contato com nossas mães. A minha foi fácil, ela namorava Tom, mas foi fácil entrar em contato com ela, a mãe de foi mais difícil, ela se separou de Alex e não ficamos sabendo, mas minha mãe disse que resolveria tudo isso.
O ponto de encontro foi o convento, o fatídico convento. Ele ainda estava lá, ainda está, na verdade. Eu tinha visto aquele lugar como algo ruim, mas ele nos foi bom para nós em vários sentidos.
Reencontrar a madre superiora foi ótimo, ela ainda estava lá, graças a Deus, estava feliz por nós e ficou mais feliz ainda em conhecer Mila. Agora reencontrar nossas mães foi coisa de outro mundo. Elas estavam diferentes, elas estavam mais bonitas, mas eu vi brilho no olhar delas quando nos viram.
- Meu Deus! – Minha mãe gritou saindo do carro e me abraçou fortemente, eu a tirei do ar, rindo com a sua gargalhada.
- Meu Deus, mãe! – Sorri, sentindo-a me beijar em várias partes do rosto. – Você está incrível. – Sorri.
- Olha você, meu querido, você já é um homem. – Ela começou a chorar e eu a acompanhei. – E essa é minha netinha?
- Meu Deus, ! – A mãe de me abraçou também. – Que bom ver vocês.
- Como a senhora está? Você está bem? – Perguntei apressado.
- Ficou tudo bem, querido. Eu me separei dele e tudo melhorou. – Ela sorriu.
- Esse é o famoso , então? – Um homem apoiou o braço no ombro de minha mãe e eu soube que era seu marido.
- Esse é meu marido, filho, Tom.
- É um prazer te conhecer, garoto! – Ele me abraçou forte e eu senti tudo ficar bem, sabe? Minha mãe estava bem, era uma felicidade incrível.
- O prazer é meu. – Sorri.
- E como vocês estão? Meu Deus, como é bom ver vocês dois bem, felizes, com essa menina grande desse jeito. – Minha mãe brincou com Mila que ficou envergonhada.
- Qual seu nome, pequena? – A mãe de perguntou.
- Mila! – Ela falou envergonhada.
- Lindo nome. – Sorri.
- Vamos sair para almoçar, então? – Minha mãe falou animada. – Vocês precisam nos levar para conhecer a casa de vocês. – Sorri.
- Vamos sim, vocês vão adorar, agora o vai ser famoso, então compramos uma casa linda na beirada do mar e...
- Na verdade... – Falei e todas olharam para mim. – Tem um motivo para eu vir aqui. – Falei firme.
- O que foi, amor? – perguntou.
- Lembra quando a madre superiora disse para procuramos aqui, caso precisássemos de um apoio de Deus?
- Sim, claro! – Ela falou.
- Bom, eu acho que eu precisava do apoio Dele. – Falei, puxando a pequena aliança do meu bolso e me coloquei de joelho no chão.
- Meu Deus, ! – Ela falou surpresa.
- Eu sei que já somos uma família, sei que nosso amor é o maior do mundo e que nada vai nos separar, mas eu gostaria de fazermos isso do jeito certo. Sei que tivemos nossos problemas com a religião, mas sei o quanto você acredita em Deus e quanto Ele nos apoiou. – Suspirei. – , você aceita se casar comigo? – Perguntei e ela deu um gritinho animado.
- Sim, sim! – Me levantei e a abracei fortemente, girando-a no ar, tirando-a do chão.
- Ah, pai! – Conrad falou emocionado.
- Eu lembro disso. – Mila falou. – Tenho uma vaga lembrança. – Ela suspirou.
- Você era novinha, mas estava lá. – Suspirei.
- E depois? – Conrad falou animado.
- Entramos e nos casamos no convento. – Falei rindo fracamente. – Nossas mães, meu padrasto e Mila como testemunhas. – Suspirei. – Daí o resto é história. Começamos nossas carreiras, criamos fama na Colômbia, depois na América do Sul, depois no mundo, veio Conrad, veio Kalima... – Suspirei. – E eu me esqueci de tudo isso.
- Eu não sabia de nada disso, eu ouço as músicas, mas eu não sabia que vocês lutaram tanto para ficar juntos. – Conrad falou e eu assenti com a cabeça.
- Pois é, e lembrando agora, eu sinto uma falta dela... – Suspirei.
- Viu? Ainda tem conserto, pai. Você a ama! – Mila falou.
- Aqui vai ser o último ponto. – Conrad falou. – Depois do convento a mãe vem para cá, foi aqui que vocês criaram suas vidas, é aqui que tem que terminar. – Suspirei, virando o corpo na bancada.
- É, pai! Nossa, vai ser fantástico, depois do convento vocês vêm para cá e a mãe está contigo e você...
- Gente! – Interrompi Mila. – Vocês podem me dar licença? Eu preciso compor. – Falei e os três sorriram.
- Nós terminamos isso. – Conrad falou animado.
- Vem, Kali! – Mila falou, pegando-a no colo e os três saíram do meu escritório, fechando a porta.
Os dedos começaram a deslizar pelo piano sem que eu percebesse. A overdose de memórias eram o tempero daquela música. Todas as falas, todos os beijos, todos os amores prometidos, tudo fazia com que aquela música se tornasse a melhor que eu já havia composto em minha vida. A forma que a música acelerava e reduzia conforme as lembranças dos momentos, sejam bons ou ruins. Para esse amor ser perfeito, também tínhamos momentos ruins em nossa história. Brigas por filhos, trabalhos, ciúmes que acabavam perdidos embaixo dos lençóis, pois nosso amor falava sempre mais alto.
Escrevi a última nota no papel e respirei fundo, suspirando. Eu tinha que conquistá-la de volta. Eu não era nada sem ela e sabia que ninguém no mundo me faria tão especial quanto ela, seria parceira a ponto de enfrentar todos os problemas e ainda seria a outra metade do melhor amor que alguém pudesse ter.
Agora eu estou aqui em casa. Com a mesma jaqueta de quando eu fui embora para Cartagena, que ainda estava guardada no fundo do armário. Com os cabelos penteados para trás da mesma forma que 22 anos atrás. Com as mãos tremendo da mesma forma em que eu a esperava para sair daquele convento e da mesma forma que ela me fazia sentir em diversas situações.
Já fazia cerca de 20 minutos que Mila havia mandado mensagem falando que ela tinha saído do convento e eu não poderia estar mais surpreso de como tudo tinha dado certo. Claro que Conrad e Mila foram descobertos no lago e no acampamento, perdemos um papel na escola, mas ela estava vindo para cá, eu sabia disso.
Ouvi um barulho de carro e corri em direção à janela, vendo um carro estacionar na mesma e a vi sair. Atrás dela parou outro carro e eu sabia que era Mila e Conrad. Corri em direção ao piano, sentando na banqueta e eu abri a jaqueta, sentindo-a liberar um pouco os braços. Aquilo já estava pequeno, é claro.
Ouvi a porta se abrir e algumas vozes falando tudo junto, Conrad estava um pouco desesperado, era agora, eu não tinha mais volta. Vi minhas mãos tremerem e as apoiei nas notas, vendo-as relaxarem um pouco.
- , o que você estava pensando? – Ouvi sua voz e virei para ela, encontrando-a de jeans e camiseta, um tênis no pé, uma bolsa na mão e um envelope na outra, além de diversos papéis.
- Por favor, só me ouve. – Falei, estendendo o dedo e a ouvi bufar.
Comecei a movimentar os dedos nas notas novamente, fazendo com que a melodia que eu criei três dias atrás ecoasse pelos alto-falantes do meu escritório, e deixei com que a música conduzisse minhas lembranças e esperava que ela conseguisse visualizá-las também. Todos os momentos felizes, tristes, todas as dificuldades que passamos, mas todos os momentos felizes. Esperasse que o mesmo filme que havia passado em minha cabeça há alguns dias também passasse pelos dela.
Quando a música finalmente acabou, ela continuava na mesma posição que antes, mas as lágrimas já escorregavam pelas suas bochechas e seus braços já haviam caído ao lado do corpo. Me levantei da banqueta, me aproximando alguns passos dela.
- , eu...
- Por favor. – Falei firme. – Eu sinto sua falta. – Falei, pegando as coisas em suas mãos e coloquei no sofá ao lado. – Eu sei que eu fiz muitas coisas erradas, te abandonei, desvalorizei nosso amor, parei de aceitar as coisas, parei de me importar... – Suspirei, sentindo que também estava chorando. – Quando você foi embora, eu não consegui encontrar forças para falar e pedir para você ficar, mas eu não sei viver sem você, você é a melhor coisa que aconteceu na minha vida. – Segurei suas mãos. – Eu tenho muita coisa para te dizer...
- Eu não acredito que você fez tudo isso, que você se lembra de todos momentos, eu...
- Eu nunca esqueci! – Suspirei. – Todas essas lembranças que não vão embora, me lembram do quanto eu te amo e o quanto você vai fazer falta se for embora.
- Eu trouxe os papéis do divórcio. – Ela falou, engolindo em seco. – Eu achava que você não se importava mais, que...
- Talvez eu não me importasse mais mesmo, mas relembrei e sei que podemos nos apaixonar novamente. Aconteceu uma vez, pode acontecer de novo. – As lágrimas caíam incansavelmente de meus olhos. – Às vezes temos que chorar para entender que a vida, por mais difícil que seja, cura o coração com lágrimas. – Suspirei, apertando suas mãos.
- Eu tenho tanta coisa para dizer... – Ela falou. – Eu não conseguia mais viver com aquela dor no meu peito, eu não quero mais viver daquele jeito, . Mas eu também tenho medo de viver sem seu amor.
- Não viva, então. – Mordi meu lábio inferior. – Eu farei o que você quiser, como eu tenho feito em toda nossa vida, mas hoje, justamente no fim, eu te juro que não vou deixar você partir, eu não vou desistir, mas também não quero que você sofra por me amar. – Suspirei.
- Nosso amor era tão grande, mais profundo que o mar... – Ela falou. – Eu não sei aonde ele está mais.
- Ele está aqui ainda. – Levei suas mãos até meu peito. – E dessa vez não vai passar. – Suspirei. – Mas eu vou fazer o que você quiser, pois eu só quero te ver feliz. Se você acha que se separar de mim é a melhor forma, eu aceito.
- Não! – Ela falou firme. – Meu ainda está aqui e você me mostrou isso hoje. – Ela soltou as mãos e as colocou em minhas bochechas. – Eu te amo e também tinha esquecido muita coisa que passamos lá atrás, eu não quero te perder nunca mais.
- Não vai, eu te prometo. Eu nunca mais vou te deixar partir. – Falei e a mesma colou os lábios nos meus, me fazendo abraçá-la pela cintura, colando nossos corpos novamente.
Fechei os olhos, aproveitando as mãos de minha esposa em meu corpo pela primeira vez em anos e suspirei, apertando-a fortemente. Ouvi alguns gritos de comemoração e sabia que meus filhos estavam animados com isso e só consegui sorrir, suspirando.
- Eu te amo muito e muito. – Falei, colando meus lábios seguidos nos dela.
- Eu também. – Ela falou e eu a abracei, apertando meus braços ao redor de seu corpo, sentindo-a apoiar o rosto em meu peito. – Isso era uma tentativa de parecer o de 20 e tantos anos atrás? – Ela perguntou e eu ri fracamente.
- Como eu fiquei? – Perguntei.
- Fracassou totalmente, amor. – Ela disse e eu ri sozinho, dando um beijo em sua cabeça, vendo Mila e Conrad se abraçando na outra sala e eu sorri para eles, chamando-os e eles entraram no abraço, fazendo rir.
- Eu não teria conseguido fazer isso sem eles. – Falei suspirando. – Kalima também ajudou.
- Eu amei os desenhos, ficou tão perfeito. – Suspirei.
- Tudo por você, mãe. – Conrad falou.
- É tudo para você, amor. Hoje e para sempre. – Falei e a mesma assentiu com a cabeça e eu suspirei.
Fazia quase um mês que havia saído de casa e fazia o mesmo tempo que eu não conseguia tirar nenhuma nota decente do piano. Todas as minhas músicas eram inspiradas nela, em nós, na nossa história de amor e em nossa família, então tocar essas melodias lembravam dela e me machucavam por dentro cada vez mais.
Nunca pensei que a perderia, depois de tudo o que passamos, que eu não teria mais ela ao meu lado. Estamos juntos desde a adolescência, há quase 25 anos, as coisas esfriaram com o tempo, com minha carreira, com a vinda de nossos filhos e eu deixei. Eu não podia dizer o contrário, eu não podia fingir que não era culpado, eu sabia que nunca tinha sido ela, sempre fui eu. Eu desmereci nosso relacionamento e não me permiti segurá-la quando ela foi embora.
Ouvi a campainha e abaixei o tampo do piano mais uma vez naquele dia. Me levantei, abanando a cabeça e segui até a porta, dando uma olhada no espelho que tinha ali e eu tinha olheiras profundas, não conseguia dormir. Cancelei meus shows e compromissos, e não tinha coragem para mais nada. Segui até a porta e abri a mesma, surpreso ao encontrar meus três filhos ali.
- Oi, pai! – Eles falaram.
- O que estão fazendo aqui? – Perguntei, vendo Mila de 22, Conrad de 15 e Kalima de 10 desviar de mim e entrar em casa, Mila ainda estalou um beijo em minha bochecha.
- Viemos falar contigo, é claro! – Conrad falou, se jogando no sofá da sala. – Você sumiu! – Ele falou.
- Abaixa o pé! – Falei pela milésima vez e ele me obedeceu, sentando direito e eu sentei ao seu lado.
- Vocês sabem o que está acontecendo, já são grandinhos para entender isso. – Kalima me abraçou pelo pescoço e a puxei para sentar em meu colo.
- Vocês não podem se separar, papai, por favor. – Ela falou e eu suspirei.
- Ah, meu anjo! – Falei, sentindo-a me abraçar e minha mais velha me encarava do outro lado da sala com aquele olhar acusador. – Não tem nada a ver com vocês, meu amor. Isso as vezes acontece. – Suspirei.
- Não, pai, se você valorizasse a mamãe um pouco mais, eu aposto que isso não aconteceria. – Mila falou com seu tom reprovador e eu suspirei.
- Eu não tenho sido um bom marido, Mila, e acho que ela tem direito de escolher da forma que ela quer viver. – Falei.
- Mas ela quer viver contigo, seu idiota! – Conrad falou e nós três o encaramos.
- Primeiro de tudo: olha como você fala comigo, eu ainda sou seu pai e ainda mereço respeito. – Falei. – Segundo: ela foi embora, eu não a obriguei a nada e, desde aquele dia, eu tento contato com ela, quero que vocês fiquem nessa casa, mas ela não me retornou nenhuma vez.
- Exatamente por isso! – Ele se levantou irritado. – Eu ouvi ela falando com a tia Alana, ela está te ignorando porque sabe que se você pedir para ela voltar, ela volta. – Suspirei.
- É, pai! – Mila falou. – Eu ouvi também, ela sente falta do que vocês eram. – Ela disse, se levantando da cadeira e se sentou ao meu lado. – Ela quer aquele amor de vocês que vocês sempre nos contam. – Suspirei. – A inspiração de todas as suas músicas, papai. – Neguei com a cabeça, sentindo-a apertar minha mão.
- O que a gente foi... – Suspirei, negando com a cabeça. – Sua mãe foi meu primeiro amor, meus pequenos. Quando eu a conheci, foi a melhor coisa da minha vida. Enfrentamos várias coisas juntos, vivemos lindas fantasias, um conto de fadas mesmo. Sua mãe pegou a monotonia da minha vida e transformou em algo incrível. – Dei um pequeno sorriso. – E eu não a valorizei.
- Você ainda tem tempo, pai! – Kalima falou e eu suspirei. – Fala com a mamãe, por favor. – Ela falou manhosa. – Cante uma das suas músicas lindas para ela e conquista ela de volta. – Suspirei.
- Queria que fosse fácil assim, meu amor. – Dei um sorriso leve e ela negou com a cabeça.
- Mesmo que seja difícil, pai, é o amor da sua vida. – Mila falou e eu suspirei.
- Eu preciso pensar...
- Pai, você sabe que a gente não falaria isso se a gente não soubesse que você é capaz de ser alguém melhor, de fazer essa fantasia, como você diz, real novamente. – Fechei os olhos, franzindo os lábios. – Você ama ela. Olha seu estado!
- Valeu. – Suspirei.
- É, e se eu fosse você, pensaria logo, ela estava em contato com um advogado. – Conrad falou.
- Advogado? – Falei.
- Ela vai pedir o divórcio, pai. – Mila falou.
- Não. – Falei fracamente. – Ela não pode fazer isso, ela...
- Agora acordou, é?! – Mila falou irônica e eu revirei os olhos. – Se você a ama, pai, lute por ela. Mas se não, então deixe-a ir.
- Você sabe que eu a amo, mi hija! – Falei forte e um sorriso dançou em seus lábios.
- Então lute por ela. – Ela falou forte, quase como se fosse uma batalha. – Podemos te ajudar.
- É, pai! Por favor! – Conrad falou e eu suspirei.
- Podemos fazer uma caça ao tesouro! – Kalima falou alto e nós três franzimos as testas.
- Como assim, amor?
- É o que eles fazem em filmes! – Ela desceu do meu colo. – Eles fazem uma caça ao tesouro para lembrar tudo o que fizeram eles se apaixonarem.
- Isso é perfeito, pai! – Conrad também levantou rápido. – Podemos lembrar de quando vocês se apaixonaram, toda a história, todas as músicas. – Ele falou.
- Vocês na escola, o encontro, o quase afogamento, minha gravidez! – Mila falou. – É perfeito. – Dei um pequeno sorriso.
- A ideia é ótima, gente, mas como faríamos isso? – Perguntei.
- É fácil, ela já está em Galerazamba, quase tudo aconteceu lá, a gente só precisaria montar os acontecimentos, fazer as dicas, acho que entrar em contato com algumas pessoas e é isso! – Mila falou.
- É, e para ela chegar aqui em Cartagena é fácil, a gente dá um jeito. – Conrad falou com seu olhar maligno e eu franzi a testa. – Exagerei?
- Sempre! – Mila e eu falamos juntos e ele relaxou o rosto.
- Ok, mas acho que dá certo. Quando começarmos, ela vai ficar curiosa, aposto. – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Eu tenho que pensar nos momentos, então. – Suspirei. – São tantos...
- Ligue momentos a lugares, pai! Vamos simplificar. Não temos muito tempo, não sei a que pé anda o pedido de divórcio. – Mila falou.
- Vocês têm algum compromisso agora? – Perguntei e Mila abriu um sorriso.
- Não. – Eles falaram juntos.
- Vamos lá para o estúdio, temos muito o que trabalhar. – Falei, vendo-as sorrirem e as crianças mais novas gritarem animadas.
Me levantei do sofá e Mila veio ao meu lado, me abraçando pela cintura e apoiando a cabeça em meu ombro. Abracei-a pelo ombro, sabendo que eles haviam acabado de me dar um pouquinho de esperança. Eles eram muito parecidos conosco, e eu estava confiante de que tudo daria certo, se Deus quiser.
- Ok, pai, vamos organizar. – Conrad falou. – Vamos pensar no acontecimento e no lugar que aconteceu. – Assenti com a cabeça. – Depois podemos escrever a frase de alguma de suas músicas que lembre esse momento e depois colocar no final “siga para o destino tal” que vai ser o próximo lugar e assim por diante.
- Nesse lugar não vai ter nada? – Mila perguntou.
- A gente vai ter alguns reforços, não?! – Ele perguntou. – A gente pode conversar com pessoas que foram importantes na vida de vocês, se eles estiverem vivos.
- Mais respeito, garoto!
- E eu posso fazer um desenho para cada lugar para ela pegar. – Kalima falou.
- Que ideia ótima, meu amor! – Mila falou sorrindo.
- Aí fazemos essa pessoa lembrar de vocês. – Conrad falou como se fosse seu plano perfeito.
- Eu gosto do espírito dele. – Falei.
- Espero que ajude! – Mila comentou, nos fazendo rir.
- Beleza, qual vai ser o primeiro fato? – Conrad perguntou.
- Quando nos conhecemos, na escola. – Falei, suspirando.
- Eu não conheço essa história! – Kalima falou e Mila sorriu, pegando-a e sentando com ela no largo sofá.
- É incrível, maninha! – Mila falou sorrindo.
- Sua mãe tinha 16 anos e eu tinha 18. – Virei o corpo na banqueta do piano, passando os dedos pelas notas. – Eu tinha acabado de cumprir dois anos no reformatório juvenil por... – Suspirei, franzindo a testa.
- Conta, pai. É difícil, mas conta. – Mila falou e eu dei um pequeno sorriso.
- Eu tinha acabado de voltar para Galerazamba, eu fiquei dois anos preso em um reformatório juvenil por quase matar um cara. – Suspirei.
Meus pais se casaram muito cedo, como eu e sua mãe, mas meu pai faleceu quando eu tinha somente nove anos. E minha mãe era bonita, era nova, então ela foi tentar ser feliz novamente. Namorar novamente, encontrar um cara novamente. Só que um dos caras que ela encontrou, não era exatamente muito bom.
Um dia, já era de madrugada, a campainha tocou, e era o namorado dela. Eu fiz questão de apagar o nome dele da minha vida, o processo foi muito complicado. Ele estava bêbado e ele tentou... Bom, machucar a vovó de um jeito muito ruim. E eu não gostei de ver isso, então eu o afastei da minha mãe e a raiva tomou conta de mim e avancei em cima dele, e não me controlei, bati nele uma vez, duas, três...
Independente da situação, não é o certo a se fazer, crianças, mas eu não consegui evitar. Eu me via como responsável pela minha mãe e o cara estava fazendo mal a ela. Enfim, eu só parei de bater nele quando a polícia chegou. Eu tinha outros problemas psicológicos, o piano me ajudou muito nisso.
Enfim, eu fiquei dois anos preso e, quando eu voltei, eu tinha perdido dois anos na escola, então eu precisava fazer o segundo e o terceiro ano, e já tinha 18 anos, deveria estar formado há mais ou menos um ano.
Bom, nossa cidade é pequena, então, quando eu voltei, as notícias já estavam rolando, eu era o bad boy, eu era violento, eu não usava roupas muito felizes também, então eu já voltei com uma má-fama na escola, com uma fama horrível. As pessoas já começaram a olhar diferente para mim. Agora, sua mãe... Ah, gente! Sua mãe era a pessoa mais linda da escola, ela era fofa, ela era prestativa, ela era demais.
O único problema é que ela era filha do pastor da cidade, e seu avô era difícil, viu?! Putz, eu acho que conquistei ele na força quando aparecemos casados e com a Mila no colo. Parece engraçado agora, mas foi um tanto perturbador.
Enfim, quando eu voltei para escola, eu fui para sala dela. Eu era o novato de novo, peguei o número da minha sala, meus materiais e fui. Chegando lá, muitos alunos já tinham chegado, ficaram calados quando eu entrei e eu tentei, ao máximo, ficar na minha. Eu tinha feito acompanhamento psicológico no reformatório, então eu tentava evitar qualquer tipo de conflito.
Então eu entrei, recebi aquele olhar todo, encontrei uma mesa lá atrás e sentei. Peguei o caderno, abri a apostila na matéria e fiquei rabiscando no meu livro de partituras. Naquela época eu já tinha conhecimento em música, já fazia aulas e ia bem nisso tudo, escrever era só uma forma de passar o tempo. Até que ela se aproximou.
- Oi, com licença! – Ela falou e eu ergui meu rosto, vendo-a com um vestidinho soltinho e uma jaqueta por cima do mesmo. – Sou , faço parte do comitê de boas-vindas da escola.
- Oi. – Falei levemente estranhando. – Eu sou .
- É um prazer te conhecer, . Seja bem-vindo, caso você tenha alguma dúvida sobre aulas, cursos extracurriculares ou só quiser bater um papo, pode me chamar. – Ela deu um sorriso fofo e eu sorri junto.
- Obrigado. – Falei e ela assentiu com a cabeça. – Você tem a lista de cursos extracurriculares? – Perguntei.
- Sim, tenho, está pensando em se escrever em algum? – Ela perguntou.
- Para música, eu toco piano. – Ela sorriu.
- Ah, vai ser muito bom te ter com a gente, as inscrições são na quinta-feira, na parte da tarde, na própria sala de música, fica do lado da cafeteria. – Ela falou.
- Obrigado. – Falei e ela assentiu com a cabeça de novo, voltando à primeira cadeira na mesma fileira que a minha. Percebi o olhar de seus amigos quando ela se sentou de novo e ela só abanou a mão, como se pedissem para eles pararem de falar.
Logo depois a professora chegou.
- Ok, eu tive uma ideia! – Conrad falou e eu fui jogado de volta para a realidade.
- Pai? – Mila perguntou e eu abanei a cabeça.
- Desculpe, fui pego em pensamentos, crianças. – Eles riram.
- Adoro quando você lembra da mamãe, você fica com essa cara de tonto. – Ri fracamente, negando com a cabeça.
- Ela é o amor da minha vida, gente. – Suspirei.
- Qual sua ideia? – Kalima perguntou para Conrad.
- Nossa primeira pista pode ser na escola. A gente pode escrever algo como “no dia em que te conheci, só vi você”. – Ele falou animado. – Aí a gente coloca “siga até o lugar onde vocês se conheceram”.
- É, pai! – Kalima falou animada. – Vai ser legal.
- E você pode fazer um desenho da mamãe e do papai novos. – Conrad falou sorrindo. Mila esticou a mão e pegou um porta-retrato do nosso casamento, entregando para ela.
- Uau! – Kalima abriu um sorriso.
- Então temos nossa primeira estação? – Mila perguntou, se levantando e indo até a minha mesa, pegando papéis e caneta.
- E vamos deixar esse bilhete aonde? – Perguntei.
- Na casa da tia Alana. – Mila falou. – A gente entrega como uma carta ou algo assim.
- Combinado? – Conrad falou e eu assenti com a cabeça. – Ok, agora onde vai ser a segunda pista?
- Na aula de música. – Falei, virando de frente para o piano novamente, apoiando os dedos na mesma e começando uma melodia lenta que sempre tocávamos na aula.
- Eu já ouvi isso. – Mila falou.
- Era a música que compusemos na aula de música. – Suspirei. – Quando sua mãe disse que seria ótimo me ter na aula de música, eu pensei que era uma participação da escola, mas não, sua mãe também já tocava desde àquela época.
- Ela tocava violino desde cedo? – Conrad perguntou.
- Tocava. – Dei um pequeno sorriso. – O pai dela meio que a obrigava a tocar instrumentos por causa do coral da igreja, aí ela aproveitava e fazia aula de música também. Galerazamba é pequena, gente, precisávamos aproveitar todas as oportunidades. – Eles assentiram com a cabeça.
- E como foi? – Kalima perguntou.
Bom, eu entrei para banda, inicialmente ainda tinha aquele olhar sobre mim, mas quando eu tocava e cantava, todo mundo olhava para mim, né?! E eu acabei fazendo alguns amigos na aula, mostrei para eles que eu não era tão mal quanto achavam, contei toda minha história com a vovó e o motivo de ser preso. Formamos um grupo bacana, sabe? Não saíamos juntos nem nada, mas naquelas duas horas éramos uma família.
E sua mãe fazia parte dessa família também. Então perdíamos muitas horas nisso. E sempre tinha aquela apresentação de fim de ano, de fechamento de semestre e, no final do meu segundo ano, nós escrevemos essa música juntos. Eu no piano, sua mãe no violino. Lembro o primeiro dia que trabalhamos juntos, acho que foi naquele dia que eu realmente me apaixonei por ela.
- Bom, crianças, encerramos por hoje, nos vemos na terça-feira. Não se esqueçam de praticar! – O professor falou e todo mundo pegou suas coisas e foi saindo.
- Professor Alfredo? – Me aproximei do mesmo.
- Sim, ?
- Eu posso ficar mais um pouco? Não tenho piano em casa e...
- Claro! – Ele falou animado. – A escola fecha as sete, quando for embora, só leve a chave da porta para a secretaria, pode ser? – Ele a estendeu para mim.
- Claro! – Sorri e voltei para o piano.
Eu esperei os alunos saírem, acenei para alguns, me despedi e voltei a tocar. Essa música que eu toquei para vocês, ela era mais animada, mas ia acompanhar a turma de balé, tinha outros instrumentos e não éramos exatamente uma orquestra, então precisamos deixá-la mais lenta, ela era mais ou menos assim.
Deixei que meus dedos corressem pelas notas do piano em minha frente junto da lembrança e dei um pequeno sorriso. Eu não sabia do que a música falava, eu não tinha prática em composição naquela época, isso eu fui criando ao longo dos anos. Eu esperava estar sozinho na sala, mas ela voltou e ficou parada ao lado do piano me vendo tocar, até que eu percebi que ela estava lá.
- , ei, você está aqui ainda? – Perguntei, abaixando as mãos e ela deu um pequeno sorriso.
- Você tem um talento, . – Ela disse, abrindo um pequeno sorriso e apoiando seu material em uma das cadeiras do lado.
- Você também! – Eu disse.
- Não, eu me esforço, eu faço diversas aulas com diversos professores, você é bom mesmo. – Ela abriu o case do seu violino, tirando-o de lá dentro. – Suas mãos deslizam pelas notas, parece que você não está pensando. – Sorri.
- Às vezes parece que não estou. – Ri fracamente.
- Já pensou em seguir carreira? – Ela perguntou.
- Se eu me formar no ensino médio já me sinto no lucro. – Dei um pequeno sorriso.
- Você é uma boa pessoa, , não deixe que falem diferente de você. – Ela apoiou a mão em cima da minha, me fazendo tocar uma nota sem querer e eu sorri.
- Você também! – Falei, vendo-a pegar seu arco.
- Eu posso perguntar para o meu professor particular se ele conhece alguém que ensine piano, você deveria praticar...
- Não posso, não temos como pagar. – Fiz uma pequena careta e ela suspirou, assentindo com a cabeça.
- E onde você aprendeu a tocar? – Ela perguntou.
- Meu pai. – Suspirei. – Ele tocava e me ensinou, depois que ele morreu, o dinheiro em casa ficou contado, tivemos que vender o piano e... – Abanei a mão. – Não se preocupe com isso.
- Você pode usar a sala quando quiser, sabia? – Ela falou. – Só pedir na secretaria, se estiver livre, você pode usar, mesmo fora das aulas.
- Mesmo? – Falei surpreso e ela assentiu com a cabeça.
- Sim, o ambiente é nosso para ser usado. – Sorri.
- Vou ver de ficar um pouco após a aula, então. – Falei animado.
- Se quiser, posso vir praticar contigo. – Ela disse com um pequeno sorriso no rosto.
- Você não precisa... – Falei e ela fez um som em seu violino.
- Eu quero! – Ela sorriu. – Toca! – Ela pediu. – Vou tentar te acompanhar.
- Ok, mas eu estou na velocidade máxima. – Falei, apoiando as mãos no piano e começando a tocar animadamente e ela sorriu para mim, apoiando o violino na curva do seu pescoço e me acompanhando devagar.
Nem preciso dizer que acabamos nos tornando muito próximos naquela sala de música. Ficávamos depois do almoço de segunda, quarta e sexta, e ainda tinha as aulas de terça e quinta que a gente sempre alongava um pouco. O jeito que ela me olhava era especial, e eu já estava apaixonado por ela, era certeza, só não sabia que era correspondido.
- Já sei! – Mila me interrompeu. – Desculpa. – Ela falou. – Tem mais?
- Não, é isso. – Rimos juntos.
- E se a gente fizer algo tipo “aprendi a te amar no mesmo lugar que descobri seus maiores segredos”. – Ela falou animada.
- A sala de música. – Falei e ela sorriu.
- Sim, aí deixamos na sala de aula, junto de “siga para onde vocês se apaixonaram”, que vai ser a sala de música. – Conrad falou animado.
- É perfeito! – Kalima falou. – Posso fazer um desenho do papai no piano e da mamãe tocando violino. – Ela falou animada e eu sorri.
- Sim, minha princesa. – A vi sorrir, voltar a focar no desenho que ela já fazia.
- Depois da sala de música, aonde vamos? – Conrad perguntou.
- Podemos adiantar um pouco para o dia que eu a chamei para sair. – Suspirei.
Foi na saída de um desses ensaios, estávamos sentados em um dos bancos na frente da escola, ela esperava pelo pai dela e eu ia de bicicleta, então assim que ela fosse, eu pegaria minha bicicleta e iria também.
- Hoje foi legal! – Ela falou animada, rodando a saia e eu sorri.
- Foi sim, conseguimos terminar. – Ajeitei a mochila nas costas, vendo-a se sentar no banco e eu sentei ao seu lado.
- Estou empolgada para ver o que o professor Alfredo vai falar. – Ela sorriu.
- Eu acho que ele vai gostar, estamos evoluindo bem. – Falei sorrindo.
- Você pode ir, sabia? – Ela disse. – Ele logo chega.
- Não, eu gosto de ficar contigo. – Falei e ela sorriu, ficando levemente encabulada.
- Você é muito legal, . Se mostrou uma pessoa que não se deve julgar pela capa. – Sorri.
- Muito feio? – Brinquei e ela gargalhou.
- Não foi isso que eu quis dizer, me refiro ao que as pessoas falam de você. – Ela disse baixo e eu sorri.
- Eu sei, estou brincando.
- Você é bem bonito, na verdade. – Abri um pequeno sorriso, vendo-a ficar encabulada de novo.
- Eu fiz meus erros, eu paguei por eles, mas eu não sou aquilo. Eu talvez até seja, não sei, a psicóloga só acha que eu defendi uma pessoa que eu amo, o juiz queria dar uma multa, mas o cara tinha dinheiro, e sabe o que dinheiro faz nessa cidade... – Dei de ombros. – Mas eu sou uma pessoa boa, só tenho um estilo diferente. – Sorri.
- Você é incrível e isso basta. – Ela falou, segurando minha mão em cima do banco. Foi aí que eu peguei a oportunidade.
- ... – A chamei. – Espero não estar sendo invasivo ou entendendo errado, mas você gostaria de sair comigo um dia? Assim, algo de boa, simples, só nós dois, eu... – Comecei a me embananar.
- Claro! – Ela disse sorrindo e eu suspirei.
- Mesmo? – Fiquei surpreso.
- Mesmo! – Ela sorriu. – Só tem um problema. – Ela disse e no mesmo momento o carro do seu pai estacionou na frente da escola.
- O quê? – Perguntei, vendo-a se levantar com seus materiais.
- Você vai ter que pedir para meu pai. – Ela franziu os lábios e seguiu em direção ao carro.
Eu estava ferrado.
- Meu Deus! Você precisou pedir para o vovô para sair com a mãe? – Mila perguntou alto.
- Sim, só para sair com ela.
- Nossa, que chato! – Mila falou.
- Posso te garantir que o Edson teria muito mais pontos comigo se tivesse vindo se apresentar no primeiro encontro. – Falei e ela fez uma careta.
- É estranho, pai. – Ela disse e eu abanei a mão.
- Foca, gente! – Conrad falou. – A gente coloca na sala de música uma pista para ela ir até esse banco.
- Ideias? – Mila perguntou.
- Coloca algo tipo “foi nesse lugar que, inesperadamente, você aceitou ser minha”. Ela vai entender. – Mila sorriu.
- Aí coloca “siga até o ponto em que te chamei para sair”. – Conrad falou, apontando para Mila que escrevia.
- Como vamos deixar o bilhete no banco sem que ela perceba? Pode chover, pode voar... – Mila falou.
- Algum de vocês pode ficar de olho. Tem uma janela na sala de música que dá para rua, vocês podem espiar, quando perceberem que ela estiver saindo, deixam o bilhete. – Falei.
- Vai ficar contigo, Conrad. Você é mais ágil para se esconder. – Mila falou.
- O desenho três vai ser dos dois no banco. – Kalima falou animada e eu sorri.
- Está ficando bonito, irmãzinha. – Mila falou sorrindo.
- Ok, temos três, o próximo imagino que seja o encontro, né?!
- Sim. – Falei. – Como sua mãe tinha pais muito religiosos, eu arrumei só um piquenique no lago para ela, por volta das cinco da tarde, só nós dois, o lago era mais bonito do que é hoje... – Fui falando. – Mas eu tinha que passar pelo pai dela antes.
Então eu me arrumei todo engravatado. Camisa social, cabelo penteado para trás, fiz o bad boy sumir, tudo para que seu pai não encrencasse comigo, principalmente pela história lá atrás. Minha mãe me ajudou, ela via como eu estava feliz e apaixonado.
Seria tudo mais fácil se o pai dela não soubesse minha história, mas a cidade inteira sabia, então havia aquele grande preconceito por trás. Apesar de ser pastor, ele não era uma pessoa que aceitava todo mundo. Ele fala que queria proteger , eu já acho que não.
Enfim, combinamos às quatro da tarde. Eu preparei uma cesta de piquenique e fui até a casa dela. Foi a melhor ideia que eu tive meio de última hora. No calor de nossa cidade, todas as sorveterias estariam cheias e eu estava suando já dentro daquela calça social. Fui até à grande casa de sua mãe e toquei a campainha, equilibrando a cesta em meu braço. Seu pai abriu a porta.
- Olá, senhor, tudo bem? A está?
- ... – Ele falou naquele tom bacana de desdém, sabe?
- Sim, senhor. – Estiquei a mão livre e ele não se deu ao trabalho de apertar.
- Por que você se acha no direito de sair com a minha filha? – Ele perguntou.
- Senhor, eu...
- Ah, pare de encher o saco, Alex! – Ouvi uma voz e a mãe de apareceu na porta. – Você é o , certo? Filho da Janice?
- Sim, senhora! – Ela esticou a mão.
- É um prazer conhecê-lo. Olha como você está bonito. – Ela sorria e eu fiquei alguns segundos mais aliviado. – Querida, está pronta? – Ela falou um pouco mais alto.
- Sim, estou indo! – Ouvi a voz de e consegui vê-la descendo as escadas com a roupa similar que usava na escola, vestido com uma jaqueta por cima e sapatilha nos pés. – Oi, ! – Ela pareceu encabulada mais uma vez.
- Oi, você está linda! – Falei.
- Você está engraçado! – Sorrimos juntos.
- Aonde vocês vão? – O pai dela voltou a fazer.
- Vou levá-la para um piquenique no lago. – Apontei para a cesta.
- Oh, meu Deus! Um piquenique? – me pareceu animada e eu assenti com a cabeça.
- Estejam de volta até as nove da noite. – O pai dela falou.
- Dez! – Sua mãe disse e eu sorri. – Divirtam-se.
- Obrigado! – Falei e saiu, fazendo questão de puxar a porta.
- Desculpe por isso. – Ela falou. – Meu pai é meio mala às vezes.
- Tudo bem, eu não tenho uma fama muito boa mesmo. – Ela sorriu e eu estiquei o braço livre para ela, vendo-a segurar.
- Mas só porque as pessoas não te conhecem, . Para mim, você proteger sua mãe é a coisa mais corajosa que alguém poderia fazer. – Sorri.
- Bom, toda história tem dois lados, né?!
- E eu acredito na sua. – Ela disse e sorrimos, seguindo lado a lado até o lago.
Era sábado, então o lago até estava movimentado. Tinha pedalinho, pessoas jogando vôlei, um pequeno parquinho para as pessoas brincarem, enfim. Segui até um lado mais afastado, abri a cesta e estiquei uma toalha de mesa, depois peguei algumas coisas que eu e minha mãe havíamos preparado: bolo, suco, lanches naturais, coisas práticas. Além de um vasinho improvisado de flor.
- Ah, . Está maravilhoso. – Ela sorriu e estendi a mão para que ela pudesse se sentar e eu me coloquei ao seu lado.
- Você se importa? – Perguntei sobre o botão da blusa. – Está me apertando.
- Claro! – Ela falou rindo. – Não é nada parecido contigo. – Sorri, abrindo todos os botões da blusa e deixei minha regata branca por baixo à mostra.
- Melhor! – Falei e ela riu fracamente.
Aquele dia descobrimos todos os segredos um do outro. Todos aqueles segredos que você só descobre depois de ter anos de amizade com uma pessoa. Foi mais do que o que acontecia na aula de música. Ela sorria, eu sorria, gargalhávamos ao redor do lago e eu sentia que podia ficar ali pelo resto da minha vida.
O dia foi passando, a comida acabando, o sol baixando e as pessoas indo embora. Era por volta das sete horas quando estávamos só nós dois, sendo iluminados pelos poucos raios de sol que insistiam em sair por detrás das montanhas e dos postes que começavam a acender.
- Venha! – Ela falou de repente e eu franzi a testa.
- Aonde? – Me levantei atrás dela e a mesma tirou a jaqueta e a sapatilha. – ?
- Vamos nadar! – Ela falou animada e eu olhei em volta, procurando por algum segurança, já que não tinha placas impedindo isso, mas as pessoas não costumavam fazer aquilo. – Vem! – Quando a olhei de novo, ela já descia morro abaixo correndo e, quando ela pulou na água, seu vestido formou um balão, inchando.
- Você está doida? – Falei sussurrando e segui até ela.
- Venha, a água está ótima.
- Eu não...
- Vem! – Ela nadava, movimentando os braços e se movimentando um pouco.
- Não dá! – Gritei.
- Vem logo! – Ela falou gargalhando.
- Mas que caramba! – Falei irritado, tirando minha camisa social. – Seu pai vai me matar.
- Vem logo! – Ela falou e eu respirei fundo, antes de pular atrás dela. – Isso!
- Ok, agora me segura! – Gritei, movimentando os braços desengonçados, tentando manter a cabeça para cima da água.
- Fica direito, ! – Ela falou rindo e meu corpo começou a afundar. – ?
- Eu não sei nadar, ok?! – Gritei entre sacudidas.
- Meu Deus! – Ela falou desesperada, me segurando pelo braço, apoiando em seu ombro e sentia suas pernas batendo contra as minhas. – Mexe suas pernas como se estivesse andando de bicicleta. – Ela falou e eu copiava, sentindo nossas pernas entrelaçarem com o movimento. – Por que você não me disse? – Ela perguntou.
- Eu tentei, eu não podia estragar sua felicidade. – Falei cuspindo um pouco de água que entrava em minha boca.
- Você é idiota, ! – Ela falou rindo.
- Talvez... – Sorri. – Por você. Idiota por você. – Falei sorrindo e percebi que seu sorriso sumiu.
Achei que eu havia falado alguma coisa errada, mas no segundo seguinte ela passou os braços ao redor do meu corpo e me beijou. Meu corpo travou e eu naturalmente comecei a afundar novamente, fazendo com que o beijo ficasse molhado e desesperador.
- Venha! – Ela me puxou, apoiando meu braço pelo ombro e chegamos juntos até a borda. – Se segura!
Ela saiu antes, fazendo seu vestido ficar colado contra o corpo e depois ela me ajudou a sair. Em uma das tentativas ela caiu para trás na grama, gargalhando e eu fiz um esforço gigantesco para sair sozinho.
- Você está bem? Me desculpe! – Falei, me ajoelhando ao seu lado, enquanto ela ria na grama.
- Eu estou muito bem. – Ela sorriu, levando uma mão até meu rosto. – Eu te amo, . – Sorrimos juntos.
- Eu também te amo! – Falei, apoiando o cotovelo na cama e me debrucei sobre seu corpo na grama, beijando-a novamente.
A noite estava só começando, não tínhamos motivo para parar, então ficamos nos beijando até tarde da noite, ouvindo poucas e boas de seu pai quando a devolvi molhada e toda suja de terra e grama depois das dez da noite.
- Ah, pai, que lindinho! – Mila falou sorrindo. – Não sabia que você não sabia nadar.
- Não. – Falei rindo.
- E por que pulou? – Conrad perguntou.
- Porque sua mãe pediu, claro que quase me afoguei, mas valeu muito à pena. – Sorri e eles me copiaram.
- Precisamos colocar uma pista no lago. – Kalima falou animada.
- Sim, com certeza! – Mila falou sorrindo.
- Pode ser algo tipo “quando eu me afoguei, você me beijou”. – Conrad falou animado.
- “Siga para onde eu disse meu primeiro ‘eu te amo’”. – Mila falou e eu assenti com a cabeça.
- Com certeza. – Suspirei.
- Eu vou tentar desenhar vocês dois no piquenique. Ou nadando! – Kalima falou animada, e eu passei a mão em seus cachos.
- Vai ficar lindo. – Falei para ela.
- O que mais, pai? – Mila perguntou.
- Teve a nossa primeira vez, que eu vou passar meio rápido, pois vocês são muito novos para saber disso. – Falei rindo.
- Pai! – Mila e Conrad falaram juntos.
- A Mila talvez não, mas você sim, enxerido! – Baguncei os cabelos descoloridos de Conrad e o mesmo bufou.
- Até parece que eu não sei como as coisas acontecem. – Ele reclamou.
- Cala a boca, seu chato! – Mila falou. - Conta, pai. – Sorri.
Bom, depois daquele beijo, o pai de insistiu muito para que a gente não ficasse juntos, mas foi impossível. Estávamos apaixonados e era a melhor coisa do mundo. Eu tinha alguém para contar sempre, para dividir meus sonhos, meus medos, minhas conquistas, era perfeito.
Mais ou menos em março do terceiro ano, nós fomos para um acampamento da igreja da sua mãe. Eles insistiram para caramba, então fomos como voluntários para ajudar na cozinha, organização, enfim, coisas que eles fazem até hoje. Vocês já até foram e tal.
Apesar de termos ido, o avô de vocês fez questão que não ficássemos no mesmo quarto e eu não tiro a razão dele, sabe? Só um pai sabe o sentimento de preocupação em cima dos filhos, nos preocupamos que vocês vão se machucar e... Bom, o que aconteceu em seguida, a gente sabe que só acontece, normalmente, no momento de maior amor, então se ambos não estão na mesma sintonia, pode causar muitas dores futuramente.
Fico feliz dizer que conosco não aconteceu isso. Pelo menos não naquela época.
O toque de recolher no acampamento era nove da noite, então eu e sua mãe jantamos juntos e depois nos separamos. Naquela época não tinha celular para gente ficar mandando mensagens e conversando até de madrugada, então trocamos um beijo e fomos deitar, só que eu não consegui dormir.
Eu levantei da cama, coloquei meu tênis e saí do quarto. Aquele acampamento à noite era um breu, só com alguns postes iluminando e a casa grande onde eu ainda via luzes acesas. Fui em direção onde eu sabia que era o chalé dela e, para minha surpresa, ouvi risadas altas, as meninas ainda estavam acordadas. Eu não deveria, mas as amigas dela eram parceiras, então eu bati à porta. Uma amiga dela abriu.
- ? – Ela falou assustada e me puxou para dentro, checando se ninguém tinha me visto.
- ? – Sua mãe se levantou, vindo em minha direção. – O que você está fazendo aqui?
- Eu não paro de pensar em você.
- Oh! – As amigas dela falaram todas fofas.
- Por que vocês não vão dar uma volta? – A que atendeu a porta perguntou.
- A casa grande ainda está acesa. – Falei.
- Vão por trás daqui e fiquem perto da quadra, tem a luz da lua e vocês conseguem ficar sozinhos um pouco. – A própria inspetora do acampamento falou e eu ri fracamente. – O que foi? Eu também já fui jovem.
- Me chamem se der algum problema, ok?!
- Relaxa! – A inspetora falou e deu a mão para mim.
Saímos de fininho do quarto novamente, seguindo para o ponto perto do lago onde a luz da lua passava pelas árvores, mas que não dava tão na cara. Eu tirei meu casaco e estendi na grama para ela sentar em cima e me joguei ao seu lado.
- Nunca pensei que viveria uma história de amor gostosa assim, sabia? – Ela falou e eu sorri.
- Nem eu! – Ri fracamente. – Aí você entrou na minha vida.
- Você é incrível, . – Ela apoiou a cabeça em meu ombro e eu a abracei pelas costas.
- Você é o amor da minha vida e quero ficar contigo para sempre. – Falei e ela sorriu, segurando meu rosto com as mãos e colando os lábios nos meus.
No segundo seguinte eu a deitei na grama, continuamos nos beijando até que... Tampa os ouvidos, Kali. Até que tivemos nossa primeira vez. Eu tentei ser o mais gentil possível, era a primeira vez da sua mãe e, apesar de eu já ter feito outras vezes, nenhuma delas foi apaixonado, então acabou sendo a minha primeira vez também.
- Ah, pai! – Mila falou emocionada.
- Eu tratei sua mãe como a pessoa mais delicada do mundo, fiz dela minha rainha e... – Senti as lágrimas deslizarem pelo meu rosto e a voz ficar fraca. – Eu a perdi.
- Não, pai! – Conrad se ajoelhou em minha frente, segurando minhas mãos. – Ainda temos tempo! – Ele falou.
- Sim, pai! Por favor! – Mila falou também emocionada e eu passei as mãos em meu rosto.
- Escreva aí “aqui eu te fiz mulher, mas eu também me descobri homem pela primeira vez”. – Falei para Mila e a mesma pegou os papéis.
- Que desenho eu faço, pai? – Kalima perguntou.
- Faz eu e a mamãe no lago, vendo a lua, meu anjo! – Falei, vendo Conrad rir fracamente.
- A gente coloca no lago também, vai ter que ter alguém para se assegurar que não vai voar também. – Mila falou e eu assenti com a cabeça.
- A gente pensa no ponto prático depois. – Conrad falou mandão de tudo, me fazendo rir. – Qual vai ser a próxima pista? – Ele perguntou.
- Bom, depois dessa primeira vez, nós estávamos mais apaixonados do que nunca, mas agora éramos íntimos. Isso, crianças, é o ponto alto de intimidade na vida de um casal, mas como você lida com isso que muda tudo. – Falei. – Estava estampado nas nossas caras que algo estava diferente, mas continuamos vivendo, rindo, aproveitando, nos apaixonando cada dia mais. – Suspirei. – Até que...
- Eu vim, né?! – Mila perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Sim, filha. – Suspirei. – Não nos protegemos e sua mãe ficou grávida com 17 anos. – Mordi o lábio inferior.
Seus avôs tinham, ainda tem, uma visão diferente das coisas, então, primeiro, sua mãe descobriu sozinha, ela pegou algumas táticas com professores, fez um teste de farmácia e veio me contar. Imagino que toda notícia surpresa é pega de má forma, mas eu apoiei sua mãe nesse momento.
- Ei, amor! – Falei quando a recebi de surpresa na porta da minha casa.
- Podemos conversar? – Ela perguntou, desviando do meu beijo.
- Claro! – Falei abrindo espaço para ela entrar e fechei a porta.
- , querida! Estou preparando o almoço, come com a gente?
- Hoje não dá, vim rapidinho. – Ela falou acenando para minha mãe. – Precisamos conversar.
- O que foi, amor? – Apontei para o sofá e a mesma se sentou, quando toquei suas mãos percebi que ela estava gelada. – Você está gelada.
- Eu estou grávida, . – Ela falou quase em um sussurro, mas algo caiu na cozinha.
- Mesmo? – Perguntei e minha mãe apareceu igual um rojão na sala.
- Amor? Isso é verdade! – Ela quase me tirou da frente de , segurando as mãos dela.
Ela não respondeu, pois ela começou a chorar, minha mãe a abraçou e eu fiquei com aquela cara de tacho tentando procurar mil soluções para isso, mas não tinha, ela, assim como eu, estávamos preocupados somente com uma coisa: seu pai.
- Meu pai vai me matar. – Ela falava entre choros.
- Eu o mato se ele fizer isso. – Minha mãe falou.
- Licença? – Pedi à minha mãe e ela entendeu o recado, deixando que eu a abraçasse.
- Eu estou aqui contigo, meu amor. – Falei contra sua orelha, dando alguns beijos em sua cabeça. – Vamos passar por essa.
- Eu não sei o que fazer. – Ela respirou fundo, passando as mãos no rosto. – Ele vai me matar, .
- Não vai! Isso é uma decisão sua, amor. E eu estou contigo em qualquer que seja sua decisão. – Falei firme.
- É nosso, . – Ela apoiou as mãos na barriga. – Eu não tenho outra opção além de querer essa criança, pois é nossa. – Ela falou entre lágrimas e olhei para minha mãe que assentia com a cabeça.
- Bom, se você quer ter essa criança, , vocês terão. Independente do apoio do seu pai, eu vou ajudar vocês. – Minha mãe falou firme. – vai conseguir um emprego, nós vamos apertar os gastos, mas você pode ficar com a gente, essa criança terá amor, isso eu posso garantir. – deu um pequeno sorriso.
- Obrigada. – falou. – O que você acha disso?
- Eu estou contigo, amor, sua decisão é a nossa decisão. É você que vai carregar essa criança pelos próximos nove meses. – Falei firme.
- Seis. – Ela falou, apertando o vestido em seu corpo e eu arregalei os olhos.
- Mesmo? – Falei surpreso e ela assentiu com a cabeça.
- Sim. – Ela suspirou e eu a abracei de novo.
- Bom, nós vamos encarar essa juntos. – Falei sorrindo e ela assentiu com a cabeça.
- Fica comigo, ok?! – Ela pediu e eu suspirei.
- Para sempre. – Fui sincero quando disse aquilo.
Encurtando um pouco a história, tínhamos seis meses de aula ainda, mais ou menos, até a formatura, seria junto com a nossa formatura. Tínhamos planos de tentar adiantar algumas provas dela, ela sempre foi muito inteligente, então imagino que não teríamos problema, mas não esperávamos que seu pai seria um obstáculo tão grande.
Aquele dia em que ela me contou, ela ficou em casa, seu pai odiava quando ela dormia lá em casa, mas minha mãe mexeu uns pauzinhos, além de que percebemos que ficava muito ansiosa quando pensava em ir para casa.
No dia seguinte não tivemos como fugir. Todos nos arrumamos, inclusive minha mãe, para irmos à casa dela e botar isso tudo a limpo. Eles não precisavam apoiar, mas precisavam respeitar a decisão dela, a nossa decisão.
- ? Senhora ? – O pai dela se surpreendeu conosco.
- Podemos conversar? – Minha mãe falou com seu tom de simpatia ainda.
- Aconteceu alguma coisa? – A mãe de apareceu e a segurei pela mão, apertando-a fortemente.
- Precisamos conversar, mãe. – Ela falou e entrou em casa, fomos atrás dela.
- Melhor se sentarem. – Minha mãe falou e os três adultos se sentaram, ficando somente eu e em pé.
- Aconteceu alguma coisa? – A mãe de perguntou.
- Eu preciso falar algo para vocês, mas quero que saibam que eu já fiz minha decisão, ok?! – falou tentando ser firme, mas notava que seus lábios tremiam.
- O que foi, minha filha? – Sua mãe sempre foi mais aberta nas situações, em tudo, na verdade.
- Eu estou grávida, mãe! – falou de uma vez só e só percebi que segurava a respiração, pois começou a dar falta de ar.
- O QUÊ? – Seu pai gritou, se levantando e minha mãe se levantou junto e eu me coloquei em frente à na hora. – Como assim? Isso é inadmissível! – Ele falou alto. – Foi você, não foi, seu moleque? – Ele tentou partir para cima de mim, mas eu só segurei suas mãos, impedindo-o de se aproximar de nós.
- Para! – gritou. – Você não vai machucar o . – Ela falou firme. – É dele a criança sim, mas só porque nós dois quisemos.
- E eles decidiram ficar com essa criança. – Minha mãe interveio. – Você goste ou não.
- O quê? – Seu pai falou. – De jeito nenhum. Você vai para um convento e, quando essa criança nascer, vamos colocar para adoção.
- O quê? – perguntou, começando a chorar de novo.
- Você não tem escolha nisso. – Falei firme. – Nós vamos criar essa criança, nem que você nunca mais nos veja.
- Até parece que eu vou receber ordens de um meliante como você, não é mesmo?
- Olha como você fala do meu filho, se não as coisas vão ficar muito complicadas aqui. – Minha mãe falou firme.
- Vocês dois vão embora daqui, eu tenho assuntos para resolver com a minha filha. – Ele falou firme.
- Não! – Falei firme, sentindo apertar meus braços.
- Seguranças! – Ele chamou e eu sabia que eles eram ricos, sabia que eles tinham seguranças, mas nunca pensei que fosse enxotado porta afora por um deles.
- Não faça isso, não é necessário! – Sua mãe falava alto, chorava e eu tentei lutar, mas não queria machucar minha mãe, então fomos expulsos e a porta foi fechada na minha cara.
- Que escroto! – Mila falou.
- Por que vocês acham que tem pouco contato com o avô de vocês? – Falei, respirando fundo, sentindo que estava chorando. – Depois que sua avó se separou dele, nós o vimos em situações bem específicas. – Suspirei. – Ele tentou se redimir, mas querer doar seu próprio neto, expulsar a gente de casa e mandar sua mãe para um convento... Tem coisas que não têm perdão. – Suspirei.
- E a mãe foi para o convento? – Conrad perguntou.
- Foi. – Suspirei. – Depois desse dia...
- Espera! – Mila falou. – Podemos colocar uma pista no acampamento, seguindo para a casa da vovó. Aposto que ela vai gostar.
- Sim, sua avó ajudou muito a gente no que se segue. – Falei rindo.
- Qual vai ser a pista, pai? – Mila perguntou.
- Que tal algo tipo “não foi planejado, mas começamos nossa família aqui”. – Falei e Mila sorriu.
- Vai ser perfeito! – Ela disse. – Aí pode colocar “siga até o local em que tentaram nos separar”.
- Ela vai entender. – Assenti com a cabeça.
- Faz um desenho da mãe grávida, Kali! – Conrad falou.
- Vai ficar lindo. – Ela falou animada e eu sorri.
- E daí? – Mila perguntou.
Bom, desse dia em diante, eu não conseguia falar mais com a sua mãe, eu tentava ligar para ela e nada, eu ia na sua casa, mas era escorraçado igual um cachorro. Achava que ele não seria capaz, mas o pai dela realmente fez o prometido. Agora, na nossa cidade não tem convento, então eu comecei a achar conventos na região, mas quem iria contar para um cara que tinha uma adolescente grávida escondida ali?
A busca estava difícil, eu fique depressivo, eu não sabia como sua mãe estava, se ela estava bem, se eles não tinham feito um aborto nela, eu não sabia nada. Obviamente acabei saindo da escola, pois eu acabava arranjando muita encrenca, minhas notas decaíram, tudo virou uma bagunça. Até que a mãe dela se tornou uma salvadora da pátria.
Eu estava no telefone pela milésima vez aquele dia, como eu ficava todos os dias. Passando pela lista telefônica todo convento da Colômbia, quando eu ouvi a campainha tocar sequencial e alguns murros na porta.
- Abre logo! – Ouvi uma voz feminina e corri, abrindo a mesma, vendo sua mãe entrando correndo na mesma.
- Senhora ? – Perguntei e a mesma fechou a porta correndo, largando uma mala e tirando o véu e os óculos escuros.
- Desculpa esse susto, , eu precisava falar contigo, mas só consegui fugir agora. – Ela falou e minha mãe apareceu.
- Jasminda? – Minha mãe perguntou.
- Eu não tenho muito tempo, gente. – Ela falou rápido. – Eu preciso falar aonde está, eu ouvi Alex falando para um dos seguranças.
- Aonde ela está? – Falei apressado.
- Ela está em um convento em Cartagena, Santa Cruz de la Popa. Eu não sei como é lá, mas conversei com alguns contatos e eles falam que as freiras, apesar da situação, não concordam com essa situação, mas Alex está dando muito dinheiro...
- Como eu vou fazer? – Perguntei.
- Bom, você vai... – Ela abriu sua bolsa, tirando um grande envelope e me entregou, percebi que o mesmo está pesado. – Você vai confrontar dinheiro com dinheiro. – Abri o mesmo e encontrei várias notas de peso colombiano.
- Meu Deus! – Falei surpreso.
- Aqui tem algumas roupas para ela também. Tire-a de lá e fujam, vão viver sua história de amor, mas, por favor, cuide da minha filha. – Ela falou segurando meus ombros.
- Mas, senhora, eu...
- Eu não tenho muito tempo, me prometa que vai cuidar dela. – Suspirei, sentindo que estava chorando novamente.
- Pode deixar. – Respirei fundo e a mesma colocou o véu e os óculos de novo.
- Aqui tem o telefone do meu advogado, ele pode te dar uma carona para Cartagena, depois vocês estarão sozinhos, mas tentaremos nos comunicar. – Ela falou firme. – Se cuide! – Ela saiu pela porta novamente. Eu estava com um envelope cheio de dinheiro, malas com roupas de e 200 mil perguntas passando pela minha cabeça.
- Mãe! – Virei para a mesma que também estava surpresa. – O que acabou de acontecer aqui? – Perguntei, respirando fundo.
- Eu não sei, filho, mas você vai atrás dela. – Ela falou firme.
Eu liguei para seu advogado e o mesmo iria naquele dia mesmo para Cartagena, para minha mãe não tinha nem que pensar duas vezes. estava presa em um lugar contra sua vontade, aquilo era cárcere privado. Eu me arrumei, fiz uma mala também e ele me pegou por volta das seis da tarde.
A viagem para Cartagena demorou cerca de uma hora, ele fez em 40 minutos, mas para mim pareceu quatro, cinco horas. Ele me deixou em frente ao dito convento, mas quando eu pensei que ele iria me largar não, ele saiu do carro e entrou comigo. Eu acho que não me preocupei em perguntar seu nome, e não lembro o que estava escrito no cartão, mas ele foi o meu salvador. Sem ele, isso não seria possível.
- Tira essa jaqueta e fecha essa camiseta até o pescoço. – Ele ordenou e eu fiz o que ele mandou. – Prende esse cabelo também. – Ele me estendeu um elástico e eu tentei fazer meu melhor rabo de cavalo. – Vamos.
Minhas pernas tremiam mais do que gelatina naquele dia. Eu sentia que estava entrando em uma armadilha e que o pai dela estaria lá, ou ela não estaria lá e eu conseguiria deixar as coisas pior do que antes.
- Eu gostaria de falar com a madre superiora. – Ele falou e eu respirei fundo. – Eu sou um colaborador.
Eles nos deixaram entrar, mas éramos homens, aquilo era um convento, então ficamos só até a próxima sala. Esperamos por alguns minutos, até que uma senhora bem idosa com aquela roupa engraçada apareceu lá.
- Em que posso te ajudar? – Ela perguntou.
- Eu sou advogado do senhor Alexander . – Ele falou firme. – Ele pediu que eu viesse buscar sua filha para transferi-la para um convento no Brasil. – Ele falou firme.
- Ele não me informou nada. – Ela falou confusa.
- Foi uma decisão de última hora, a vaga apareceu agora e como sabemos que mais para frente vai ser difícil fazer a transferência por causa da gravidez, ele me mandou agora. – Ele falou firme e parecia que era realmente verdade.
- Você não se importa se eu checar com ele, importa? – Ela perguntou e o advogado ao meu lado deu uma risadinha.
- Fique à vontade, senhora. – Ele falou. – Mas ele disse para não interrompê-lo com isso e mandou algo para agradecer pelo ótimo trabalho. – Ele tirou o envelope do bolso e colocou sobre a mesa entre nós.
- Sim? – Ela pegou o envelope, observando dentro dele. – O senhor sabe que está trazendo problemas para mim se não estiver falando a verdade, não é mesmo?
- E o que ele pode fazer? – Ele perguntou. – Te denunciar? Ele que está mantendo a filha dele presa.
A madre superiora ponderou com a cabeça, olhou para o advogado, olhou para o dinheiro, depois olhou para mim e deu um longo trago no cigarro na sua mão, apoiando as mãos na mesa, voltando o olhar para mim.
- Você é o pai, não é?! – Ela perguntou e eu engoli em seco.
- Sim, senhora. – Falei tenso.
- Essa menina é muito boa, você promete que vai cuidar dela e dessa criança?
- É o que eu mais quero, senhora. – Ela assentiu com a cabeça.
- Ok... – Ela disse respirando fundo e sumiu pela porta.
Eu fiquei com um ponto de interrogação na cara, o advogado ao meu lado também. Passou cerca de um minuto, dois, 10, 20, até que ouvi passos novamente e , em uma roupa de freira também, apareceu junto da madre superiora. Ela estava mais gordinha do que eu lembrava, mas ainda lembro seu olhar de alívio quando me viu.
- ? – Ela falou surpresa e veio correndo em minha direção, me apertando. Quando ela fez isso, percebi sua barriga saliente e sorri, acariciando-a pelas laterais. – Você vai me levar para casa?
- Não, seremos só nós dois agora. – Falei sorrindo e ela colou os lábios nos meus novamente.
- Como você descobriu? Como...?
- Sua mãe te ama muito e quer te ver bem. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Aqui. – A madre superiora falou. – Levem isso. – Ela esticou o envelope. – Vocês vão precisar. – Assenti com a cabeça, pegando o dinheiro.
- Obrigada, senhora, muito obrigada. – falou e eu assenti com a cabeça.
- Saibam que sempre que precisarem de um apoio de Deus, estaremos aqui. – Ela falou sorrindo e eu assenti com a cabeça.
- Obrigada, senhora. – Suspirei.
- Agora vão, antes que descubram. – Ela disse apressada.
se livrou de seu hábito, ficando somente com o vestidinho azul e saímos nós três do convento. Ela me abraçou fortemente quando saiu na rua e eu a girei. Eu sabia que aquela mulher seria minha para o resto da vida.
- Para onde vamos? – O advogado perguntou e eu suspirei. – Eu preciso voltar antes que seu sinta minha falta.
- Nos deixe na rodoviária, ficaremos bem. – Falei e olhou para mim, confirmando com a cabeça.
Nosso dinheiro dava para ir para vários lugares da Colômbia, pensamos em Medellín, depois Bogotá, mas eram opções meio óbvias, então acabamos pegando um ônibus para Cali, mais de 24 horas de viagem, mas estávamos juntos e sabíamos que éramos inseparáveis.
- Cara, eu não sabia disso! – Mila falou surpresa.
- Pois é! – Suspirei. – Eu e sua mãe vivemos boas aventuras. – Ri fracamente. – Ela passou poucas e boas por causa de mim, então fiz questão de fazê-la feliz todos os dias da sua vida.
- Gente, isso é loucura! – Conrad falou surpresa. – Isso é coisa de filme. Vamos vender os direitos para...
- Menos! – Falei, vendo-o rir.
- Cara, isso é loucura! – Ele repetiu surpreso.
- Pois é, chegamos em Cali e prometemos amor eterno. – Suspirei.
- É por isso que eu nasci em Cali, então. – Mila falou e eu confirmei com a cabeça.
- Sim, vivemos lá por cerca de três anos, eu dava aulas de piano, sua mãe de violino e começamos a cantar em lugares da cidade, até que nos falaram desse incrível produtor musical de Cartagena, que achava que eu tinha uma chance. – Suspirei. – Pensamos muito nisso, pois estaríamos perto de nossa cidade e não sabíamos como as coisas estavam depois de tanto tempo. Mila já tinha quase três anos e nossas mães não a conheciam.
- Foi uma escolha difícil? – Mila perguntou.
- Foi. – Suspirei. – Eu já tinha 22 anos, sua mãe já tinha 20, já dependíamos de nós mesmos para viver, mas era difícil pensar que ainda podiam nos fazer mal. – Suspirei.
- E como vocês fizeram? – Kalima perguntou.
- Espera, sinto cheiro de novo capítulo. – Conrad falou. – Qual vai ser a pista para o convento aqui em Cartagena, pai? – Ele perguntou.
- “Te tirei da prisão, mas também descobrimos que aquele era nosso maior refúgio”. – Falei e ambos me estranharam. – Só escreve, vocês vão entender.
- O que eu desenho aqui, pai? – Kalima perguntou.
- Por que você não desenha a mamãe e eu juntos? – Perguntei e ela sorriu, confirmando com a cabeça.
- Refúgio, pai? – Mila perguntou.
- Quando a madre superiora falou que se precisássemos de um apoio de Deus, ela estaria ali, ela falou a verdade. Precisamos de Deus. – Suspirei. – E ele precisava muito nos proteger para o seguinte passo. – Falei, molhando os lábios.
- Vocês se casaram. – Mila falou e eu confirmei com a cabeça.
- Sim. – Suspirei. – Nós precisávamos de algum motivo para reencontrar nossas mães, mas antes precisávamos de um motivo para ficar aqui em Cartagena.
Voltamos para cá e combinamos de encontrar o tal produtor musical, ele na hora gostou de mim, achava que minha voz era muito boa e que poderia trabalhar com alguém que tocava piano, apesar de ele estar acostumado com reggaeton e boybands. Ofereceu dois anos de contrato para mim e sua mãe faria parte da minha banda de apoio, então seria um trabalho em dupla, além de diversas outras pessoas que poderiam nos acompanhar.
Passou cerca de três meses, estávamos estabelecidos em Cartagena, Mila já frequentava a escolinha e tudo mais, então entramos em contato com nossas mães. A minha foi fácil, ela namorava Tom, mas foi fácil entrar em contato com ela, a mãe de foi mais difícil, ela se separou de Alex e não ficamos sabendo, mas minha mãe disse que resolveria tudo isso.
O ponto de encontro foi o convento, o fatídico convento. Ele ainda estava lá, ainda está, na verdade. Eu tinha visto aquele lugar como algo ruim, mas ele nos foi bom para nós em vários sentidos.
Reencontrar a madre superiora foi ótimo, ela ainda estava lá, graças a Deus, estava feliz por nós e ficou mais feliz ainda em conhecer Mila. Agora reencontrar nossas mães foi coisa de outro mundo. Elas estavam diferentes, elas estavam mais bonitas, mas eu vi brilho no olhar delas quando nos viram.
- Meu Deus! – Minha mãe gritou saindo do carro e me abraçou fortemente, eu a tirei do ar, rindo com a sua gargalhada.
- Meu Deus, mãe! – Sorri, sentindo-a me beijar em várias partes do rosto. – Você está incrível. – Sorri.
- Olha você, meu querido, você já é um homem. – Ela começou a chorar e eu a acompanhei. – E essa é minha netinha?
- Meu Deus, ! – A mãe de me abraçou também. – Que bom ver vocês.
- Como a senhora está? Você está bem? – Perguntei apressado.
- Ficou tudo bem, querido. Eu me separei dele e tudo melhorou. – Ela sorriu.
- Esse é o famoso , então? – Um homem apoiou o braço no ombro de minha mãe e eu soube que era seu marido.
- Esse é meu marido, filho, Tom.
- É um prazer te conhecer, garoto! – Ele me abraçou forte e eu senti tudo ficar bem, sabe? Minha mãe estava bem, era uma felicidade incrível.
- O prazer é meu. – Sorri.
- E como vocês estão? Meu Deus, como é bom ver vocês dois bem, felizes, com essa menina grande desse jeito. – Minha mãe brincou com Mila que ficou envergonhada.
- Qual seu nome, pequena? – A mãe de perguntou.
- Mila! – Ela falou envergonhada.
- Lindo nome. – Sorri.
- Vamos sair para almoçar, então? – Minha mãe falou animada. – Vocês precisam nos levar para conhecer a casa de vocês. – Sorri.
- Vamos sim, vocês vão adorar, agora o vai ser famoso, então compramos uma casa linda na beirada do mar e...
- Na verdade... – Falei e todas olharam para mim. – Tem um motivo para eu vir aqui. – Falei firme.
- O que foi, amor? – perguntou.
- Lembra quando a madre superiora disse para procuramos aqui, caso precisássemos de um apoio de Deus?
- Sim, claro! – Ela falou.
- Bom, eu acho que eu precisava do apoio Dele. – Falei, puxando a pequena aliança do meu bolso e me coloquei de joelho no chão.
- Meu Deus, ! – Ela falou surpresa.
- Eu sei que já somos uma família, sei que nosso amor é o maior do mundo e que nada vai nos separar, mas eu gostaria de fazermos isso do jeito certo. Sei que tivemos nossos problemas com a religião, mas sei o quanto você acredita em Deus e quanto Ele nos apoiou. – Suspirei. – , você aceita se casar comigo? – Perguntei e ela deu um gritinho animado.
- Sim, sim! – Me levantei e a abracei fortemente, girando-a no ar, tirando-a do chão.
- Ah, pai! – Conrad falou emocionado.
- Eu lembro disso. – Mila falou. – Tenho uma vaga lembrança. – Ela suspirou.
- Você era novinha, mas estava lá. – Suspirei.
- E depois? – Conrad falou animado.
- Entramos e nos casamos no convento. – Falei rindo fracamente. – Nossas mães, meu padrasto e Mila como testemunhas. – Suspirei. – Daí o resto é história. Começamos nossas carreiras, criamos fama na Colômbia, depois na América do Sul, depois no mundo, veio Conrad, veio Kalima... – Suspirei. – E eu me esqueci de tudo isso.
- Eu não sabia de nada disso, eu ouço as músicas, mas eu não sabia que vocês lutaram tanto para ficar juntos. – Conrad falou e eu assenti com a cabeça.
- Pois é, e lembrando agora, eu sinto uma falta dela... – Suspirei.
- Viu? Ainda tem conserto, pai. Você a ama! – Mila falou.
- Aqui vai ser o último ponto. – Conrad falou. – Depois do convento a mãe vem para cá, foi aqui que vocês criaram suas vidas, é aqui que tem que terminar. – Suspirei, virando o corpo na bancada.
- É, pai! Nossa, vai ser fantástico, depois do convento vocês vêm para cá e a mãe está contigo e você...
- Gente! – Interrompi Mila. – Vocês podem me dar licença? Eu preciso compor. – Falei e os três sorriram.
- Nós terminamos isso. – Conrad falou animado.
- Vem, Kali! – Mila falou, pegando-a no colo e os três saíram do meu escritório, fechando a porta.
Os dedos começaram a deslizar pelo piano sem que eu percebesse. A overdose de memórias eram o tempero daquela música. Todas as falas, todos os beijos, todos os amores prometidos, tudo fazia com que aquela música se tornasse a melhor que eu já havia composto em minha vida. A forma que a música acelerava e reduzia conforme as lembranças dos momentos, sejam bons ou ruins. Para esse amor ser perfeito, também tínhamos momentos ruins em nossa história. Brigas por filhos, trabalhos, ciúmes que acabavam perdidos embaixo dos lençóis, pois nosso amor falava sempre mais alto.
Escrevi a última nota no papel e respirei fundo, suspirando. Eu tinha que conquistá-la de volta. Eu não era nada sem ela e sabia que ninguém no mundo me faria tão especial quanto ela, seria parceira a ponto de enfrentar todos os problemas e ainda seria a outra metade do melhor amor que alguém pudesse ter.
Agora eu estou aqui em casa. Com a mesma jaqueta de quando eu fui embora para Cartagena, que ainda estava guardada no fundo do armário. Com os cabelos penteados para trás da mesma forma que 22 anos atrás. Com as mãos tremendo da mesma forma em que eu a esperava para sair daquele convento e da mesma forma que ela me fazia sentir em diversas situações.
Já fazia cerca de 20 minutos que Mila havia mandado mensagem falando que ela tinha saído do convento e eu não poderia estar mais surpreso de como tudo tinha dado certo. Claro que Conrad e Mila foram descobertos no lago e no acampamento, perdemos um papel na escola, mas ela estava vindo para cá, eu sabia disso.
Ouvi um barulho de carro e corri em direção à janela, vendo um carro estacionar na mesma e a vi sair. Atrás dela parou outro carro e eu sabia que era Mila e Conrad. Corri em direção ao piano, sentando na banqueta e eu abri a jaqueta, sentindo-a liberar um pouco os braços. Aquilo já estava pequeno, é claro.
Ouvi a porta se abrir e algumas vozes falando tudo junto, Conrad estava um pouco desesperado, era agora, eu não tinha mais volta. Vi minhas mãos tremerem e as apoiei nas notas, vendo-as relaxarem um pouco.
- , o que você estava pensando? – Ouvi sua voz e virei para ela, encontrando-a de jeans e camiseta, um tênis no pé, uma bolsa na mão e um envelope na outra, além de diversos papéis.
- Por favor, só me ouve. – Falei, estendendo o dedo e a ouvi bufar.
Comecei a movimentar os dedos nas notas novamente, fazendo com que a melodia que eu criei três dias atrás ecoasse pelos alto-falantes do meu escritório, e deixei com que a música conduzisse minhas lembranças e esperava que ela conseguisse visualizá-las também. Todos os momentos felizes, tristes, todas as dificuldades que passamos, mas todos os momentos felizes. Esperasse que o mesmo filme que havia passado em minha cabeça há alguns dias também passasse pelos dela.
Quando a música finalmente acabou, ela continuava na mesma posição que antes, mas as lágrimas já escorregavam pelas suas bochechas e seus braços já haviam caído ao lado do corpo. Me levantei da banqueta, me aproximando alguns passos dela.
- , eu...
- Por favor. – Falei firme. – Eu sinto sua falta. – Falei, pegando as coisas em suas mãos e coloquei no sofá ao lado. – Eu sei que eu fiz muitas coisas erradas, te abandonei, desvalorizei nosso amor, parei de aceitar as coisas, parei de me importar... – Suspirei, sentindo que também estava chorando. – Quando você foi embora, eu não consegui encontrar forças para falar e pedir para você ficar, mas eu não sei viver sem você, você é a melhor coisa que aconteceu na minha vida. – Segurei suas mãos. – Eu tenho muita coisa para te dizer...
- Eu não acredito que você fez tudo isso, que você se lembra de todos momentos, eu...
- Eu nunca esqueci! – Suspirei. – Todas essas lembranças que não vão embora, me lembram do quanto eu te amo e o quanto você vai fazer falta se for embora.
- Eu trouxe os papéis do divórcio. – Ela falou, engolindo em seco. – Eu achava que você não se importava mais, que...
- Talvez eu não me importasse mais mesmo, mas relembrei e sei que podemos nos apaixonar novamente. Aconteceu uma vez, pode acontecer de novo. – As lágrimas caíam incansavelmente de meus olhos. – Às vezes temos que chorar para entender que a vida, por mais difícil que seja, cura o coração com lágrimas. – Suspirei, apertando suas mãos.
- Eu tenho tanta coisa para dizer... – Ela falou. – Eu não conseguia mais viver com aquela dor no meu peito, eu não quero mais viver daquele jeito, . Mas eu também tenho medo de viver sem seu amor.
- Não viva, então. – Mordi meu lábio inferior. – Eu farei o que você quiser, como eu tenho feito em toda nossa vida, mas hoje, justamente no fim, eu te juro que não vou deixar você partir, eu não vou desistir, mas também não quero que você sofra por me amar. – Suspirei.
- Nosso amor era tão grande, mais profundo que o mar... – Ela falou. – Eu não sei aonde ele está mais.
- Ele está aqui ainda. – Levei suas mãos até meu peito. – E dessa vez não vai passar. – Suspirei. – Mas eu vou fazer o que você quiser, pois eu só quero te ver feliz. Se você acha que se separar de mim é a melhor forma, eu aceito.
- Não! – Ela falou firme. – Meu ainda está aqui e você me mostrou isso hoje. – Ela soltou as mãos e as colocou em minhas bochechas. – Eu te amo e também tinha esquecido muita coisa que passamos lá atrás, eu não quero te perder nunca mais.
- Não vai, eu te prometo. Eu nunca mais vou te deixar partir. – Falei e a mesma colou os lábios nos meus, me fazendo abraçá-la pela cintura, colando nossos corpos novamente.
Fechei os olhos, aproveitando as mãos de minha esposa em meu corpo pela primeira vez em anos e suspirei, apertando-a fortemente. Ouvi alguns gritos de comemoração e sabia que meus filhos estavam animados com isso e só consegui sorrir, suspirando.
- Eu te amo muito e muito. – Falei, colando meus lábios seguidos nos dela.
- Eu também. – Ela falou e eu a abracei, apertando meus braços ao redor de seu corpo, sentindo-a apoiar o rosto em meu peito. – Isso era uma tentativa de parecer o de 20 e tantos anos atrás? – Ela perguntou e eu ri fracamente.
- Como eu fiquei? – Perguntei.
- Fracassou totalmente, amor. – Ela disse e eu ri sozinho, dando um beijo em sua cabeça, vendo Mila e Conrad se abraçando na outra sala e eu sorri para eles, chamando-os e eles entraram no abraço, fazendo rir.
- Eu não teria conseguido fazer isso sem eles. – Falei suspirando. – Kalima também ajudou.
- Eu amei os desenhos, ficou tão perfeito. – Suspirei.
- Tudo por você, mãe. – Conrad falou.
- É tudo para você, amor. Hoje e para sempre. – Falei e a mesma assentiu com a cabeça e eu suspirei.
Epílogo
- Pronta? – Perguntei para e a mesma sorriu, assentindo com a cabeça.
Abri a porta do carro e saí do mesmo, ouvindo gritos pelo local e acenei para alguns fãs que ocupavam o cordão de isolamento na praia e estiquei a mão, ajudando a sair do carro e a mesma ajeitou seu longo vestido branco e segurou o pequeno buquê em suas mãos.
Dei o braço para ela, ajeitando a jaqueta em meu corpo e seguimos descalços pela areia fina da praia, tentando ignorar os fãs e fotógrafos que tentavam ter nossa atenção por alguns segundos que fosse, mas nada mais importava, só aquela mulher ao meu lado.
No final da areia, quase chegando no mar, minha mãe, meu padrasto, minha sogra, nossos três filhos e o namorado de Mila estavam lá, além de um pastor. Eu e nos entreolhamos e sorrimos, assentindo com a cabeça.
- Bom dia, senhores! – O pastor falou e sorrimos, deu o buquê à Mila. – Estamos aqui reunidos para renovar os votos de e . – Sorrimos. – Que luta até aqui, não?!
- Nem fala. – falou e eu sorri, dando um beijo em sua testa.
- , você aceita mais uma vez como seu legítimo esposo para amar, apoiar, respeitar e viver o resto de suas vidas em eterno amor? – Ela sorriu com suas palavras.
- Sim! – Ela falou animada e os fãs gritaram, me fazendo rir.
- , você aceita mais uma vez como sua legítima esposa para amar, apoiar, respeitar e viver o resto de suas vidas em eterno amor?
- Com certeza! – Falei sorrindo.
- Aos olhos de Deus, eu vos declaro, mais uma vez e para a vida inteira, marido e mulher. – Ele falou e eu sorri.
Eu e nos viramos frente a frente e eu passei as mãos pela sua cintura. Tirei o cabelo que insistia em cair em seu rosto devido ao vento e colei nossos lábios, sentindo-a passar os braços pela minha cintura e gargalhei alto devido aos gritos. A segurei pela cintura, pegando-a pelas pernas, ouvindo-a rir.
- !
- Vem! – Falei, correndo no meio arco improvisado em direção ao mar.
- ! , não faça isso. – Ela gritou, me fazendo gargalhar e a ouvi gritar quando a primeira onda nos atingiu.
- Eu te amo! – Falei, apertando-a em meu corpo e tropecei na areia, caindo junto dela na água, molhando nossos corpos.
- Eu te odeio! – Ela gritou e gargalhei, sentindo-a segurar forte em meu pescoço.
- Eu te amo, para sempre! – Falei, vendo-a sorrir e colei nossos lábios novamente, sentindo o beijo salgado.
- Ok, que seja para sempre, então. – Ela sorriu e eu assenti com a cabeça.
As crianças nos rodearam, jogando água entre nós e eu havia vivido uma grande fantasia com , mas eu vivia uma mais incrível com nossos filhos. Sabia que teríamos problemas pela frente, que muita coisa poderia acontecer, mas eu precisaria sempre voltar ao começo de nosso amor para nunca deixar ela ir embora, pois eu não sabia viver sem ela e não queria ter que descobrir.
Abri a porta do carro e saí do mesmo, ouvindo gritos pelo local e acenei para alguns fãs que ocupavam o cordão de isolamento na praia e estiquei a mão, ajudando a sair do carro e a mesma ajeitou seu longo vestido branco e segurou o pequeno buquê em suas mãos.
Dei o braço para ela, ajeitando a jaqueta em meu corpo e seguimos descalços pela areia fina da praia, tentando ignorar os fãs e fotógrafos que tentavam ter nossa atenção por alguns segundos que fosse, mas nada mais importava, só aquela mulher ao meu lado.
No final da areia, quase chegando no mar, minha mãe, meu padrasto, minha sogra, nossos três filhos e o namorado de Mila estavam lá, além de um pastor. Eu e nos entreolhamos e sorrimos, assentindo com a cabeça.
- Bom dia, senhores! – O pastor falou e sorrimos, deu o buquê à Mila. – Estamos aqui reunidos para renovar os votos de e . – Sorrimos. – Que luta até aqui, não?!
- Nem fala. – falou e eu sorri, dando um beijo em sua testa.
- , você aceita mais uma vez como seu legítimo esposo para amar, apoiar, respeitar e viver o resto de suas vidas em eterno amor? – Ela sorriu com suas palavras.
- Sim! – Ela falou animada e os fãs gritaram, me fazendo rir.
- , você aceita mais uma vez como sua legítima esposa para amar, apoiar, respeitar e viver o resto de suas vidas em eterno amor?
- Com certeza! – Falei sorrindo.
- Aos olhos de Deus, eu vos declaro, mais uma vez e para a vida inteira, marido e mulher. – Ele falou e eu sorri.
Eu e nos viramos frente a frente e eu passei as mãos pela sua cintura. Tirei o cabelo que insistia em cair em seu rosto devido ao vento e colei nossos lábios, sentindo-a passar os braços pela minha cintura e gargalhei alto devido aos gritos. A segurei pela cintura, pegando-a pelas pernas, ouvindo-a rir.
- !
- Vem! – Falei, correndo no meio arco improvisado em direção ao mar.
- ! , não faça isso. – Ela gritou, me fazendo gargalhar e a ouvi gritar quando a primeira onda nos atingiu.
- Eu te amo! – Falei, apertando-a em meu corpo e tropecei na areia, caindo junto dela na água, molhando nossos corpos.
- Eu te odeio! – Ela gritou e gargalhei, sentindo-a segurar forte em meu pescoço.
- Eu te amo, para sempre! – Falei, vendo-a sorrir e colei nossos lábios novamente, sentindo o beijo salgado.
- Ok, que seja para sempre, então. – Ela sorriu e eu assenti com a cabeça.
As crianças nos rodearam, jogando água entre nós e eu havia vivido uma grande fantasia com , mas eu vivia uma mais incrível com nossos filhos. Sabia que teríamos problemas pela frente, que muita coisa poderia acontecer, mas eu precisaria sempre voltar ao começo de nosso amor para nunca deixar ela ir embora, pois eu não sabia viver sem ela e não queria ter que descobrir.
FIM!
Nota da autora: Eu criei um amor especial pelos reggaeton quando comecei a aprender espanhol e me apaixonei demais por esse mundo. Me apaixonei pelo Yatra que nem sei como descrever. Quando esse ficstape apareceu para mim, eu queria a música Un Año, pois tenho um plot perfeito para aquela música, mas não caberia dentro do ficstape, teria que me conter em quantidade de páginas, minha ideia é mais longa, enfim, aí fui ver as músicas e esse álbum inteiro é perfeito, eu escolhi Fantasía, pois o enredo veio rápido na cabeça e eu me apaixonei.
Espero que se apaixonem também e não se esqueçam de deixar seu comentário aqui embaixo.
Ah, a música 08 também é minha, confere lá! ;)
Beijos.
Outras Fanfics:
08. Respiro
Nota da beta:
Lembrando que qualquer erro nessa atualização e reclamações somente no e-mail.
Espero que se apaixonem também e não se esqueçam de deixar seu comentário aqui embaixo.
Ah, a música 08 também é minha, confere lá! ;)
Beijos.
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