Finalizada em: 11/08/2021

Capítulo Único

Quando a festa acabar;
Cê vai me procurar;
Com os teus problemas...


Com o teu jeans, teu all-star;
E a tristeza no olhar.
É o teu sistema...

null null balançou a taça que tinha nas mãos, enquanto cumprimentava algumas pessoas. Ser filho do vice-prefeito da cidade tinha muitas vantagens e desvantagens — mais desvantagens do que vantagens, ao ver de null. Poucos amigos verdadeiros, muito fingimento, muitas mulheres interesseiras, ele tinha que fingir estar bem o tempo todo, o sorriso sempre tinha que estar nos lábios, tinha que aturar as pessoas perguntando se ele pretendia seguir a carreira do pai…
Bufou assim que se sentou num sofá branco disposto pelo velho salão de festas da prefeitura. O melhor amigo, Jimin, se sentou ao seu lado, colocando uma das mãos sobre um de seus ombros.
— Cansado, amigo?
— Um pouco! Eu não aguento essa barulheira na minha cabeça! — Tampou um dos ouvidos com a mão livre.
Jimin riu da impaciência do amigo.
null null era um tanto quanto avesso à barulhos muito altos em sua cabeça por um longo tempo. O pai sempre o obrigava a participar das festividades para que ele se familiarizasse mais com a política e o mundo que a rodeava. null detestava. Mas ia, para evitar que o pai o sufocasse.
Jimin se despediu do amigo e abraçou a namorada para que pudessem ir embora. Agora null ficaria sozinho, a não ser por Rebbeca null, ou null, sua melhor amiga desde que eles nasceram.
Ela era filha do prefeito da cidade e melhor amigo do pai de null. Os dois se conheciam desde sempre e faziam de tudo juntos, eram como irmãos. Bom, não exatamente, já que null era apaixonado por null desde que soube o que era o sentimento. Mas eles nunca haviam sequer dado um selinho. Ele achava que a morena não sabia dos sentimentos que ele tinha por ela, mas não tinha certeza, além de não ter coragem de se declarar e tentar algo mais com a melhor amiga. Tinha medo da reação da mesma, além do medo de perder a melhor amiga.
Era o que diziam: um pouco de amor era melhor que nada.
null era completamente o oposto de null, ela era falante, carismática, risonha, amava ser a filha do prefeito e todos os privilégios que isso a trazia. Fazia questão de usar isso ao seu favor e amava a popularidade. Rebbeca amava ficar no meio dos ricos e populares da cidade, estava sempre em festas e sempre se apaixonando pela pessoa errada. Apesar do jeito festeiro, era louca para ter alguém ao seu lado pela vida toda. Queria casar e ter filhos, e isso desde pequenina. Estava sempre se envolvendo com homens que quebravam seu coração, sem se dar conta de que null sempre ali esteve, disposto a dar tudo o que a garota sempre quis.
E todas as vezes a história se repetia: ela se envolvia com alguém — às vezes o mesmo ex que sempre ia e vinha —, a pessoa não era o que ela esperava e a tratava mal ou a dispensava, e ela procurava null para a consolar. Ele já sabia, já a conhecia, já estava se acostumando a enxugar as lágrimas e a curar a tristeza da melhor amiga.
Os dois trocaram um olhar, null sentado no mesmo sofá em que falou com Jimin e ela em pé, rodeada dos amigos, porém, antes conversa com Anthony, a mais nova paixão.
null sorriu e jogou um beijo na direção do melhor amigo, que piscou para ela, erguendo a taça já vazia.

Sei, é sempre assim;
Eu só sirvo pro fim;
Da tua glória...

Você chama atenção;
Mas um a um, eles vão;
Todos embora...

Depois de algumas taças, null decidiu que estava na hora de ir embora. Amanhã era sábado, mas ele tinha algumas tarefas da faculdade acumuladas e queria tirar o dia para colocá-las em dia. Porém, o pai o impediu, dizendo que era muito feio o filho do vice-prefeito ir embora tão cedo de uma festividade como aquela.
null torceu o lábio em uma careta.
Vislumbrou Rebbeca sentada ao lado do pai, entediada, enquanto ele conversava com algum secretário. Sozinha. Todos os “amigos” e potenciais namorados haviam ido embora, provavelmente para alguma after party e não a haviam chamado. null balançou a cabeça, pensando em quantos minutos ele teria que contar para que ela viesse ao seu encontro, como um cãozinho com o rabinho entre as pernas, abandonada.
“Só eu sei o tanto que me dói me entregar tão fácil e, mesmo assim, vou enxugar teu olho, me deixar de lado e te guardar em mim”, pensou null ao olhar a amiga pegando mais uma taça de champanhe.
— Deve existir um clã de homens a fim de me fazer de idiota. — null bufou, sentando-se ao lado de null no velho sofá.
null sorriu sem mostrar os dentes. Achou que ela fosse demorar um pouco mais. Talvez quando estivesse bem bêbada.
— Seus pais não te fizeram esse mulherão da porra para ficar chorando de madrugada por quem não te quer! — Passou uma das mãos pelos cabelos da melhor amiga, bagunçando-os.
— Me dê um abraço apertado, deixe-me sentir o seu cheiro. Seu cheiro é sempre tudo o que eu preciso quando fico na merda!
null passou um dos braços pela cintura da amiga, puxando-a para um abraço apertado. null aproximou o nariz do pescoço de null, puxando o ar para seus pulmões com toda a força. Amava o cheiro do amigo desde que se entendia por gente. null era tão bom!
Os pelos da nuca de null se arrepiaram e ele apertou a cintura fina e delicada de null.
— Nenhum deles? — Questionou perto do ouvido de null. — Você está bem?
A morena sentiu um leve arrepio começando da espinha e subir por seu corpo, e achou aquilo estranho.
— Mais ou menos! — Respondeu ainda com o rosto atracado no pescoço de null.
— “Mais ou menos” não rende papo, não faz inverno, nem verão, não exige uma longa explicação. É melhor estar alegre ou estar triste, “mais ou menos” é a pior coisa que existe.
Os dois se afastaram minimamente, mas os rostos ainda estavam perto o suficiente. null não sabia se era a bebida começando a fazer algum efeito, mas há quanto tempo ela havia dormido? null estava tão diferente… os cabelos, o rosto… ele sempre foi bonito e charmoso daquele jeito?
Desceu o olhar pelo maxilar desenhado do amigo e sentiu vontade de distribuir alguns beijos ali. Mas o que ele acharia? Desviou o olhar para os olhos do melhor amigo de infância. O que era aquilo? Ela queria… beijá-lo? Que bagunça era aquela? Olhou os olhos de null e ele a encarava de um jeito intenso…
— Você é tão calmo e quieto, você nunca diz. Mas eu sei que existem coisas dentro de você. Eu os vejo… às vezes escondidos em seus olhos.
null piscou os olhos algumas vezes, o que ela estava querendo dizer? Limitou-se a gargalhar.
— Estamos tão solitários, null! — Ela se deitou no colo do amigo. — Precisamos nos curar disso, o que acha?
null abaixou o olhar até encontrar o de null.
— Solidão não se cura com o amor dos outros, null. Se cura com o próprio.
null revirou os olhos.
— Ai, null! Você é tão careta! — Ela pôs a língua para fora. — Você tem curtido a sua vida? Você tem feito algo, além de pensar na sua faculdade?
“Tenho pensado em você e em como eu gostaria de poder beijar a sua boca todos os dias, null!”, foi o que ele pensou.
— Como você é chata. Meu Deus, null!
null! Só gosto quando me chama de null!
— E só eu te chamo de null ou suas paixonites também? — Ele ergueu uma sobrancelha.
— Só você! null é uma coisa só sua!
Os dois se encararam. null sentiu o coração acelerar.
— Você tem um bom coração, null, deveria dá-lo a alguém que se importe.
— Para você? — Ela se levantou.
De novo o rosto dos dois estavam colados.
— Não me olhe assim, null! Com esse olhar de quem quer, mas não pode; de quem pode, mas não quer…
Ela mordeu o lábio inferior. null suspirou, antes de se levantar do sofá disposto a ir buscar mais uma taça.
— Espera, null! — null o chamou, enquanto o segurava com as duas mãos em sua cintura.
null, por favor!
— É sério! Espera, null! Eu vou com você! Também quero beber!
Os dois ficaram frente a frente.
Sou teu amor de fim de festa, null! Tua bebida mais barata. Teu coração é tão gelado!
null engoliu seco, como se um tapa lhe atingisse o rosto.
— Não, null! Não fala isso! Eu só… — ela pausou.
Meu Deus, eu sou tão azarado de me entregar no fim de festa, sabe? Eu só queria ir para casa, mas tô cuidando de você! O que eu fiz para merecer o teu amor de festa?
null segurou uma das mãos dele e a outra pôs sobre seu rosto.
— Você é bom demais para ser verdade, null! Eu só tenho medo.
— E eu não tenho medo?
null umedeceu os lábios.
— Olha, eu posso me arrepender e você também!
— Sim! Eu já me arrependi, null. — Ele se soltou e caminhou em direção a um garçom qualquer, e null se amaldiçoou por dentro.
null! — Ela chamou, indo atrás dele.
— Vou tomar só essa e tô indo embora, Rebbeca!
Ela bufou.
null! — Corrigiu o amigo. — Olha, me escuta um pouquinho?
— Fala, null! — Ele caminhou até a varanda do lugar.
null foi atrás.
— Se está destinado a acontecer, acontecerá.
— Então deixe acontecer! Apenas deixe acontecer.
Os dois ficaram em silêncio.
null voltou a olhar o maxilar do amigo e resolveu fazer o que estava com vontade um pouco mais, aproximou-se e então segurou o rosto dele entre as mãos. Depositou delicados beijos molhados pelo local e sorriu ao ver a expressão de confusão sobre todo o rosto do amigo.
— Eu não tenho a intenção de ser tão tensa, mas, você sabe, meu coração foi ferido algumas vezes por alguns garotos que não me trataram direito. Eu estou cansada, então me mostre do que você é feito. Me faça acreditar, null.
— Você não sabe que você é linda? — Foi a vez de null segurar o rosto de null com as duas mãos. — E é fácil de ver.
E assim ele a beijou. Com delicadeza.
null sentiu aquele famoso sentimento, sabem? De querer levantar um dos pés durante o beijo? O gosto do amigo era doce.
É, talvez fosse um amor de fim de festa, mas talvez fosse ele.



FIM!



Nota da autora: Oieee! Espero que tenham gostado! Qualquer coisa me chama no twitter que eu tenho mais de 20 fanfics no site! É @plsfallove

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