Fanfic Finalizada

Capítulo Único

É engraçado como as coisas podem acontecer de forma irônica!
Há anos eu esperava e desejava aquele momento: a hora em que eu me vingaria de , em que eu tiraria tudo dele, do mesmo jeito que ele tinha tirado tudo de mim, se aproveitando do fato de que eu pensava que ele era o meu melhor amigo.
Tudo acontecera em nossa adolescência. Em uma segunda-feira que deveria ter sido como qualquer outra, eu tinha chegado à escola e me deparado primeiro com os olhares acusadores de todos em mim, depois com garotos que perguntavam se podiam ir conhecer meu quarto também, se insinuando de forma agressiva, até encontrar minha melhor amiga, Phoebe, que foi quem me fez entender o que estava acontecendo.
!” Ela disse, aflita, me puxando para um canto. “Como você tá?”
“Confusa!” Respondi. “O que tá acontecendo?”
“Ai, meu Deus! Você não sabe?” Questionou e eu balancei a cabeça, confirmando que não. “Tem um vídeo na Internet! Primeiro, você com o Kyle, dando o maior amasso, no seu quarto. Acho que foi no dia do aniversário do seu irmão, pela sua roupa. Depois aparecem você e o Donald, se pegando também, e, por último, você transando com o Ralph.”
“O q-que? Mas co-como? No meu quarto? Não é possível...” Eu disse, sentindo meu rosto queimar e um buraco se formar no meu peito. Aquilo não podia estar acontecendo! Milhares de pessoas me vendo fazer sexo era aterrorizante! Na verdade, nem precisava tanto: o pessoal do colégio me vendo levar três caras diferentes para o meu quarto só podia resultar em uma reputação ruim que eu demoraria muito para apagar. Isso se conseguisse, algum dia! Estava tão apavorada que nem me preocupei em especular a respeito de quem poderia ter feito aquilo. Só pensei nisso depois e, mesmo assim, não conseguia suspeitar de ninguém.
“Mas é uma vadiazinha mesmo! Eu sempre soube!” Hillary parou bem perto de mim, fazendo cara de nojo. “Era a única razão pro Ralph preferir você a mim! Você dar fácil, fácil tudo que ele queria.”
Eu não respondi. Não perderia meu tempo com ela. Apenas puxei minha amiga pelo braço e entrei em nossa sala de aula.
... tem uma outra coisa.” Phoebe revelou, parecendo bastante constrangida.
“Meu Deus! O que?” Franzi a testa, apavorada. Mais?
“Meus pais viram o vídeo.” Suspirou. “Minha mãe me proibiu de continuar sequer falando com você e mandou o Jeff me espionar, aqui na escola.”
“Pelo amor de Deus, Phoebe! Não! Você não pode me abandonar! Eu...”
“Eu sinto muito, . De verdade! Mas você conhece a minha mãe.” Ela disse, indo ocupar uma carteira distante da minha. Vi que ela secou algumas lágrimas, que não queria aquilo. Porém não dava para contarmos com a discrição do irmão gêmeo dela, que chegou logo depois, e nem com a compreensão de seus pais, que sabiam castigar como ninguém, quando suas ordens eram contrariadas. Eu não estava - nem poderia ficar - com raiva dela, apenas ainda mais destruída emocionalmente. Corri para casa, assim que o primeiro tempo terminou, autorizada pelo diretor, que ficou sabendo de tudo, obviamente.
Minha família também tinha visto o vídeo e, quando cheguei à minha casa, já tinham tudo planejado. Apesar de minha mãe ter ficado preocupada comigo, meu pai e meu irmão estavam, acima de tudo, com vergonha, e fui mandada para a casa de uma tia, que morava nos Estados Unidos. Ao invés de me apoiar, eles preferiram se livrar de mim!
Não fui autorizada nem mesmo a me despedir de , que, além de meu amigo, era meu vizinho e minha paixão secreta. A tristeza, que já parecia insuportável, cresceu ainda mais! E eu só comecei a me recuperar quando a dor que sentia se transformou em uma raiva incontrolável, no momento em que eu soube por minha mãe que, iniciada uma investigação policial sobre a postagem do material com cenas de nudez e sexo envolvendo menores de idade, ele, dentre todas as pessoas no mundo, tinha se apresentado ao Ministério Público como o responsável por toda a minha humilhação.
Jurei para mim mesma que um dia iria fazê-lo se sentir tão mal quanto eu me senti, naquela manhã na escola e durante muito tempo depois dela. As piores imagens povoavam minha mente quando me lembrava dele, mesmo depois de eu ter voltado à Inglaterra, de ninguém mais aparentar ter lembranças do ocorrido, de eu ter conseguido ir para uma ótima faculdade de jornalismo e me formado com louvores, ganhando logo um trabalho bem interessante em um jornal de grande circulação.
Eles informam aos investigados: Tudo o que disser pode e será usado contra você e ele disse, com todas as letras, que tinha me causado todo aquele mal, mas, ainda assim, nada daquilo fora usado contra ele! Por ser menor de idade, ele teve apenas que prestar serviço comunitário e não precisou deixar o país onde morava, a escola em que estudava ou o time de futebol no qual jogava.
Na verdade, a vida dele, que merecia o inferno aqui mesmo, tinha sido maravilhosa até eu atravessá-la de novo, mais ou menos um mês atrás. Ele era nada menos que o principal jogador de um dos mais importantes times da Europa (! Uau!), tinha levado o clube à final da Liga dos Campeões e, até a semi-final, era o artilheiro do campeonato.
Eu não podia aceitar que ele nunca fosse pagar um preço justo por sua conduta e orquestrei uma humilhação que eu achava que se aproximaria, pelo menos um pouco, da minha: usei o recalque de um de seus companheiros de equipe para convencer o rapaz a colocar droga na garrafa de isotônico dele, que, completamente alterado, não conseguiu jogar a final. Depois espalhei a notícia de que ele tinha recebido uma boa quantia do time adversário para simplesmente sair de campo e diminuir a força do , que acabou derrotado.
É claro que nenhum dos jornais ou revistas que publicou a nota tinha como provar nada, mas a desconfiança foi suficiente para que ele perdesse algumas campanhas publicitárias e o prestígio que tinha com a torcida.
Eu pensava que ficaria radiante quando visse tantas pessoas questionando a índole dele, aproveitando para questionar também o seu talento, trazendo à tona outras histórias que usaram para macular sua imagem. No entanto, eu estava vazia! Tinha perdido a sede de vingança que ficara comigo por tanto tempo, e não havia nada para colocar no lugar.
Eu achava – eu jurava – que me sentiria poderosa, ao olhar nos olhos dele e dizer que tinha sido eu quem tinha feito aquilo, mas a realidade foi bem diferente.
“Surpreso?” Perguntei, quando ele ficou sem palavras, me encarando, ao ver quem era a jornalista enviada para entrevista-lo em casa, naquele final de tarde.
“Muito.” Ele finalmente recuperou a voz.
“Não vou tomar seu tempo.” Falei seca, rejeitando o convite para me sentar. “Não tem entrevista nenhuma! Eu, na verdade, tenho uma única pergunta pra você, Sr. . Como você se sente agora quando é pra sua cara que estão apontando o dedo? Quando é você quem tá sendo julgado e condenado? Quando finalmente você tá sentindo o gostinho de perder a admiração das pessoas? Sentindo como é ficar encurralado, hum? Me diz, ! Me conta!”
“Foi você?” Ele perguntou, obviamente se esquivando de me responder. Não notei, entretanto, nenhuma raiva em sua indagação. Ele se manteve calmo e parecia apenas cansado. Talvez até conformado, ao entender de onde tinha vindo aquele caminhão desgovernado para cima dele, tão de repente.
“Que espeeeerto!” Falei, bastante irônica, encarando-o com olhar desafiador, mas ele baixou os olhos, enquanto ocupava um lugar no sofá em que eu me recusara a sentar.
“Eu deveria ter imaginado. Afinal, eu não sou do tipo que coleciona inimigos. Na real, não lembro de mais ninguém que tenha razões pra ter raiva de mim e querer me prejudicar.” Comentou, com as costas curvadas, os cotovelos sobre as coxas, a cabeça baixa, o olhar perdido.
“E é só isso que você vai dizer?” Questionei, irritada.
“Eu poderia dizer que sinto muito pelo que você passou, , mas... Você não acreditaria, certo?” Deu de ombros e eu levei alguns segundos para responder. O que eu esperava, afinal? Que ele se desculpasse de joelhos?
Havia alguma chance de eu acreditar em seu arrependimento, se ele fizesse isso?
“Certo! Certíssimo!” Confirmei, enfim. “Não há mesmo nada a dizer. Eu só queria que você soubesse! Que você tivesse plena consciência do que fez para merecer tudo isso. Tenha uma péssima noite, Sr. .” Completei, saindo com passos firmes, apesar de mais nada estar firme em mim. Ele não tinha tentado me convencer a não odiá-lo, não tinha tentado justificar seus atos ou dizer que se sentia culpado, mas eu podia jurar que vi tudo isso em seus olhos, quando cruzaram rapidamente com os meus, antes de eu partir. Eu podia jurar que as lágrimas que ele tentou esconder, mas que escorreram por seu rosto, gritavam cada palavra não dita.
Dirigi até minha casa, chorando também. Estava feito! Eu me vinguei e, então, cuspi na cara dele todas as verdades que eu queria, bem como o fato de que o que você faz de mal sempre volta para você! O que ele estava sofrendo não tinha sido obra minha, mas dele mesmo, ao fazer o que ele provavelmente tinha visto simplesmente como uma brincadeira juvenil.
Não me senti nem um pouco melhor, apesar disso. Ver o sofrimento no rosto dele, refletindo o que eu sentira no passado, era apenas algo que eu pensava que precisava. Ver suas lágrimas apenas despertou os sentimentos bons que eu tinha por ele, antes de tudo acontecer, e, consequentemente, me deixou em um conflito enervante.
Na verdade, – acabei descobrindo – o que eu queria era somente outro ontem! Eu trocaria aquele momento e todos que viriam, mesmo ainda não sabendo como seria meu amanhã, por apenas um ontem diferente! Um passado em que ele, que eu ainda amava, por debaixo de uma camada espessa de ódio, não tivesse me machucado tanto.
Somente um ontem que nenhuma vingança me daria!





Fim.



Nota da autora: Olá, amadas! Sei que essa fic, além de curta, não se parece nem um pouco com qualquer outra minha, mas eu achei que essa música pedia apenas o ponto de vista de uma pp cheia de ódio e sede de vingança. Já estou trabalhando numa continuação, curtinha também, mas mostrando o "lado" do pp e como esse reeencontro deles termina, ok? Fiquem de olho! Bjão!! <3





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