Capítulo Único
Naquele momento havia um misto de sentimentos dentro de mim. Eu me sentia livre, me sentia bem, como se um peso tivesse sido tirado das minhas costas depois de um longo tempo. Mas também sentia como se estivesse cega durante todo esse período, só recobrando a visão e a razão agora. Todos os sinais estavam ali. As palavras duras, as atitudes rudes. Ele nunca foi a pessoa que eu imaginei, que eu projetei. Porque, sim, a imagem que eu tinha dele não era nada mais que uma projeção do que eu queria, do que eu esperava, não a realidade. E quando você “acorda” desse sonho, você se sente culpada, não pelas coisas que aconteceram, mas sim por não ter percebido todos os sinais logo no começo e ter se poupado de tanto sofrimento desnecessário.
Mas é o que falam: o que não te mata, te fortalece.
Vi o telefone acender em cima da mesa de centro e vibrar, fazendo um barulho alto e incomodo soar pela sala. Olhei o visor, vendo o nome “” estampado na tela. Fechei os olhos, balançando a cabeça lentamente. O aparelho vibrou por mais alguns segundos e logo parou, mostrando três chamadas não atendidas. Todas dele. Eu pensei que tivesse sido clara quando pedi que ele não me procurasse mais, mas, provavelmente, ele não estava me levando a sério, como sempre. E talvez seria assim para sempre.
Respirei fundo, tentando clarear a mente, mas tinha muita coisa na minha cabeça ao mesmo tempo e eu não conseguia nem pensar. Já fazia duas semanas que havia ido embora, mas, pra mim, parecia que tinha sido no dia anterior. Eu tinha tantas coisas pra dizer a ele, tanta coisa que ficou presa na minha garganta, que eu só consegui enxergar depois, mas eu não queria vê-lo. Eu não queria nem mesmo saber sobre ele. Mas eu precisava colocar para fora, então decidi fazer da forma que eu sabia melhor, transformando tudo em música.
For all the times that you rain on my parade
Por todas as vezes que você me arruinou
And all the clubs you get in using my name
E todas as boates que você entra usando meu nome
You think you broke my heart, oh girl for goodness sake*
Você acha que você quebrou meu coração, oh garota pelo amor de Deus
You think I'm crying oh my own, well I ain't
Você acha que estou chorando, bem, eu não estou
UM ANO ANTES
- Você vai mesmo pra essa festa? – perguntou, me fazendo levantar a cabeça. Sorri de lado, terminando de fechar a sandália que colocava e me pondo de pé – Pensei que a gente fosse ficar junto essa noite.
- Eu te disse que eu preciso ir na festa, é da gravadora, muita gente nova, possíveis contatos. Tenho que aproveitar enquanto a minha música está tocando para aparecer para o mundo, ou então vão esquecer de mim. – respondi, caminhando até onde ele estava e o abraçando pela cintura. – E eu sei que você disse que não queria ir, que não curte nenhuma dessas “festas chatas” – forcei a entonação, para imitar sua voz - Mas você podia fazer isso por mim, assim eu faço meus contatos e passamos a noite juntinhos. Prometo que será coisa de no máximo duas horas. – sorri, tentando convencê-lo.
- Até parece que você vai ter tempo pra ficar comigo, . – ele rolou os olhos, se desenvencilhando do meu abraço – Eu só vou para ficar sozinho e entre ficar sozinho no meio de um monte de gente que eu não conheço, prefiro ficar sozinho em casa.
- Mas não seria sozinho entre um monte de gente estranha, seria entre um monte de gente famosa. – brinquei, mas ele não sorriu, pelo contrário, fez uma cara pior que a anterior – Deus, , foi uma piada.
- Você não tá atrasada pra sua festa? – ele disse, como se quisesse se livrar de mim e acabar nossa conversa.
- Não quero sair com você bravo comigo dessa forma, parece que eu estou fazendo isso para te irritar, mas eu não estou. É o meu trabalho. – falei, fechando os olhos e respirando fundo – Não quero ter que ficar escolhendo entre o meu trabalho e você.
- Até porque eu não tenho nenhuma chance de sair vencedor dessa competição, não é mesmo? – ele murmurou, sem olhar para mim – Vai logo para a sua festa.
Peguei a bolsa e sai de casa, sentando no carro e me sentindo mortalmente culpada. Girei a chave, sentindo o barulho do motor, mas permaneci parada. Eu precisava estar na festa, eu precisava conhecer aquelas pessoas. Se eu queria ser uma compositora, se eu queria que cantassem as minhas músicas, que elas fossem sucesso, eu tinha que estar lá. Mas eu não conseguiria fazer nada, não dessa forma. Não com a minha cabeça presa no aqui sozinho, mesmo depois que eu prometi que estaria aqui com ele. Suspirei, desligando o carro e caminhando de volta até a casa. Parei no batente da porta do quarto, encarando , enquanto ele mexia em algo no celular, demorou alguns segundo para que ele notasse minha presença.
- Esqueceu alguma coisa? – ele perguntou, voltando os olhos para o pequeno aparelho a sua frente. Tirei as sandálias e caminhei até a cama, me deitando ao seu lado.
- Você. – falei, puxando o telefone de sua mão, fazendo com que ele me olhasse – Me desculpe se pareceu que eu estava te trocando pelo trabalho, eu nunca vou fazer isso. – beijei seus lábios rapidamente, mas ele não disse nada, apenas sorriu. O mesmo sorriso vitorioso de sempre, como se soubesse que conseguia o que quisesse de mim.
E ele conseguia.
A pior parte de tudo é o sentimento de culpa. Se sentir culpada por fazer algo que você precisa. Naquele dia eu poderia ter feito muitos contatos, poderia ter firmado parcerias, poderia ter muitas músicas minhas gravadas por aí, mas não. Eu deixei que ele, novamente, fizesse com que eu me sentisse errada por ter que fazer o meu trabalho. Se fosse qualquer outra coisa, ou pessoa, poderia se disponibilizar a ir comigo, me dar apoio, me ajudar a crescer, mas era como se ele não quisesse isso. Como se a minha vida tivesse que continuar como estava no momento em que ele me conheceu. Sem grandes conquistas ou avanços. E só Deus sabe o quanto eu perdi por isso. É complicado, mas precisamos reconhecer quando aquela pessoa que está ao nosso lado não quer nosso bem. Porque quem ama quer ver o outro feliz, com grandes feitos e realizações na vida e ele não era assim. Cada passo que eu dava para frente, ele fazia questão de fazer com eu desse dois para trás. E sabe qual a pior parte de tudo isso?
Eu não percebia.
And I didn't wanna write a song
E eu não queria escrever uma canção
'Cause I didn't want anyone thinking I still care
Porque eu não queria que ninguém achasse que eu ainda me importo
I don't but, you still hit my phone up
Eu não me importo, mas você ainda me liga
And baby I've been movin' on
E amor, estou partindo para outra
And I think you should be somethin'
E eu acho que você deve ser algo
I don't wanna hold back, maybe you should know that
Que eu não quero segurar, talvez você deva saber disso
CINCO MESES ANTES
- Eu só queria saber se você vai vir almoçar aqui no domingo. – minha mãe disse do outro lado da linha, enquanto eu tentava equilibrar o celular com o ombro e carregar as compras para dentro de casa.
- Sim, eu falei com o e nós vamos, ele está ansioso para ver vocês de novo. – comentei, animada, mas não ouvi minha mãe falar nada em resposta – Mãe, ainda tá aí?
- Esse rapaz, o , ele vem com você mesmo? Pensei que seríamos só nós. – ela perguntou, com sua voz longe do tom doce habitual.
- Claro, ele é meu namorado e eu quero que vocês se conheçam melhor, que passem a se dar bem. – parei na cozinha, apoiando as sacolas em cima da bancada e pegando o celular com uma das mãos, para ficar mais confortável – Posso perguntar por quê?
- Eu não sei como dizer isso, minha filha, não de uma forma legal, mas eu não gostei dele. – ela disse pausadamente, como se arrependesse após cada palavra dita – Não quero que você me leve a mal, até porque eu mal o conheço, mas tem algo nele que eu...
- Que você o que? Fala, mãe. – pedi, já ficando nervosa.
- Eu não quero brigar com você, ok? Traga seu namorado no domingo, vamos todos conversar e eu vou ver que isso é apenas uma impressão errada. – minha mãe falou do outro lado da linha, mas eu já tinha perdido toda a vontade de ir para casa.
- Eu acho melhor não, mãe. Não quero que você tenha que passar seu tempo com alguém que não goste, além do mais a casa é sua...
- A casa também é sua, sempre será. – ela ponderou, com a voz baixa, como se estivesse chateada – Eu não quero que fique brava comigo, .
- Eu não estou, depois nos falamos, tchau. – me atropelei nas palavras, desligando o telefone antes que eu pudesse ouvir o que ela falava. Joguei o celular na bancada, bufando alto. Ouvi passos atrás de mim e me virei, vendo me encarando.
- Algum problema? – ele perguntou, cruzando os braços na altura do peito.
- Minha mãe, ela me disse umas coisas que eu não gostei, só isso. – dei de ombros, começando a desembalar as compras. Ele se aproximou, passando os braços pela minha cintura e apoiando o queixo em meu ombro.
- O que ela disse? Você sabe que pode confiar em mim pra te apoiar, não é? – ele sorriu de lado, fazendo o meu coração amolecer.
- Ela disse que... – abaixei os olhos, sem coragem de olhar pra ele enquanto falava – Não gosta de você.
- Hmm... – ele murmurou, sem demonstrar nenhuma reação – E disse o porquê?
- Não e eu também não perguntei. – dei de ombros – Não consigo pensar em motivos para que alguém não goste de você.
- Se você gosta de mim, já é o bastante. Não preciso da aprovação da sua mãe. – ele beijou meu ombro – Nem do seu pai. – subiu para o meu pescoço – Ou de qualquer pessoa da sua família. – ele virou meu corpo, me fazendo ficar de frente para ele. Seus lábios roçaram os meus e eu fechei os olhos por alguns segundos, enquanto tentava lembrar como se respirava – Você precisa?
- N-não, eu não preciso de nada. – murmurei, enquanto suas mãos apertavam minha cintura e ele me puxava para mais perto.
- Então esquece eles, você é só minha agora...
E foi assim que eu passei quatro meses sem ver ninguém da minha família. Sempre que meus pais ligavam, querendo que nós fossemos até em casa ou até mesmo jantar fora, ele sempre arrumava uma desculpa ou falava: “Eles não gostam de mim, pra que eu vou encontrá-los? Mas se você quiser, pode ir...”, mas sempre ficava com uma expressão horrível quando eu falava que iria sair sozinha, mesmo que fosse para a casa dos meus pais. Então de uma forma ou outra, acabei me afastando da minha família apenas para não contrariá-lo e não arrumar nenhuma confusão. Eu era como uma posse dele, um pequeno troféu. Não era como se ele me amasse, ele apenas amava a ideia de alguém ao seu lado, alguém que ele pudesse falar que era dele, sua propriedade. Só que quando você para pra pensar, vê que não vale a pena, nem um pouco. Não deveria existir a nem a opção de afastar pessoas que te amam, só porque alguém acha que deve. Se eu pudesse voltar no tempo, teria dado ouvidos à minha mãe. O sexto sentido de mãe nunca falha, mas nós ficamos cegas demais.
My mama don't like you and she likes everyone
Minha mãe não gosta de você e ela gosta de todo mundo
And I never like to admit that I was wrong
E eu nunca gostei de admitir que eu estava errado
And I've been so caught up in my job, didn't see what's going on
E eu estive tão ocupado com meu trabalho que não via o que estava acontecendo
And now I know, I'm better sleeping on my own
E agora eu sei, estou melhor dormindo sozinho
DOIS MESES ANTES
- Nós não vamos mais sair com essas pessoas. – disse, batendo a porta da sala assim que passamos. Coloquei a bolsa em cima do sofá e me virei para ele, com a expressão confusa.
- O que? – perguntei, pedindo que ele repetisse, para saber se tinha entendido certo.
- Eu não quero mais que você veja essas pessoas. – ele falou, como se fosse a coisa mais simples do mundo.
- E você pode me dizer um motivo plausível para isso? – indaguei, cruzando os braços e olhando em sua direção.
- Ah, não vem dizer que você não reparou que aquele cara ficou a noite inteira te encarando, . – esbravejou, levantando os braços, com o tom de voz mais alto que o normal.
- O Kennedy? Pelo amor de Deus, , eu o conheço desde que tinha sete anos de idade. Nós crescemos juntos, todos nós. Não tem motivo nenhum para você sentir ciúme dele. - coloquei as mãos na cabeça, tirando o cabelo da frente do rosto e respirando fundo – Não existe a opção de eu deixar de falar com todos os meus amigos só porque você não quer. Você vai deixar de falar com os seus?
- Os meus não dão em cima de mim. – ele deu de ombros e eu rolei os olhos.
- Eu já estou exausta de ter a mesma briga praticamente todos os dias, . Isso cansa de uma forma que você parece não compreender.
- Então por que você continua agindo da mesma forma errada? – ele disse, como se fosse a coisa mais simples do mundo e se eu fosse a única culpada da história.
- Mas eu não estou errada. – respondi, elevando um pouco o tom de voz além do normal.
- Se não está errada, por que está gritando? Por que está tão nervosa? Só quem tem culpa, quem tem algo a esconder que fica com medo. Você tem algo para que eu não posso descobrir? – ele se aproximou, ficando bem perto de mim, seu nariz quase encostava na minha testa e eu sentia sua respiração pesada bater contra o meu rosto – Me diz, com qual deles, com quantos deles você já dormiu? Me diz. – ele gritou a última parte.
- Se eu me levar pelo o que você pensa, todos os homens do planeta dão em cima de mim e querem me comer. Não é assim que você fala, que todo mundo quer me comer?
- Talvez queiram mesmo, só você que não sabe. Talvez você dê um sorrisinho a mais, dê condição para todos eles sem perceber. Não lembra o quanto você flertou comigo sem nem ter noção disso? – conforme as palavras saiam de sua boca, mais confusa e magoada eu ficava.
- Você tá dizendo que eu me ofereço para todo mundo, é isso? Como se eu fosse parte de um buffet? E eu sabia exatamente o que estava fazendo quando te conheci, eu gostei de você e flertei, como qualquer garota solteira faz. Só que agora eu não sou mais solteira, não tem motivos para que eu procure outra pessoa, eu já tenho você.
- Não se faça de ofendida, , vocês são todas assim. Eu aposto que se eu não te acompanhasse nesses encontros com seus “amigos” – ele usou os dedos para fazer aspas no ar e mudou a entonação, tornando tudo ainda mais nojento – Você já teria parado na cama de qualquer um deles.
- Se você acha isso tudo de mim, o que você ainda faz comigo? – perguntei, já com a voz embargada, mordendo o lábio inferior para não começar a chorar.
- Você acha que eu não me pergunto isso todos os dias? – ele disse, com um sorriso cínico no canto dos lábios, antes de levantar e seguir para o quarto, de onde não saiu mais naquela noite. Eu me sentei no sofá, deixei meu rosto tombar em minhas mãos e chorei, chorei como nunca tinha chorado na vida. Estava me sentido humilhada, machucada, magoada, tudo isso sem nenhuma necessidade. Nada tinha acontecido, não precisava me atacar dessa forma.
Passei aquela noite no sofá mesmo, porque não queria vê-lo, não queria nem chegar perto dele. Só de pensar nas palavras duras que ele usou para me atingir, já me dava vontade de chorar. Mas quando acordei, a primeira coisa que vi foi ele sentado na mesa de centro, me encarando. Sua expressão estava mais calma, tinha até um sorriso no canto dos lábios.
- Bom dia, por que dormiu aí? – ele disse, como se nada tivesse acontecido.
- O que? – perguntei, me sentando no sofá e o encarando, completamente confusa.
- Você dormiu toda torta nesse sofá, tendo uma cama completamente confortável lá dentro. – ele brincou. Franzi a testa, imaginando se tudo aquilo que se passava na minha cabeça não tinha passado de um sonho ruim.
- Como que você queria que eu dormisse ao seu lado depois de tudo o que você me disse? – questionei. Ele sentou ao meu lado, levantando uma das mãos, para tocar meu rosto, mas eu me afastei.
- Ah, meu amor, não seja boba. Eu estava bêbado, eu mal lembro o que aconteceu. Se eu te disse algo ruim, não era eu, era a bebida. Você sabe que eu fico completamente fora de mim quando bebo. – ele deu de ombros – E provavelmente nem foi algo assim tão grave, você deve ter ido dormir muito brava comigo e sonhou que brigamos, agora está misturando tudo.
- Não, , eu lembro exatamente cada palavra que você usou ontem. – falei e ele usou um dedo para me calar.
- Mas eu não, então não temos que conversar sobre isso, certo? – o tom de sua voz era baixo e suave. Ele passou a mão pelo meu rosto, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.
O pior tipo de manipulação é aquela que você sabe que está sendo enganada e ainda sim cede. Talvez porque alguma voz dentro de você diz: “ah, talvez ele esteja arrependido”, “talvez ele não lembre mesmo”, ou “ele é sempre tão bom pra mim, que não vale a pena pensar apenas nas pequenas coisas ruins”. Mas nós temos que pensar e levar muito em consideração, porque são nesses momentos que nós conseguimos quem a pessoa é de verdade, sem máscaras, sem truques. A se deixarmos cada pequena coisa passar, chega um momento em que acumulamos tanta coisa, que se torna um fardo maior do que somos capazes que carregar. Então é mais um sinal que acabamos ignorando, porque a gente gosta, fazemos planos, acreditamos que aquela pessoa é a certa pra dividir a nossa vida e, de repente, ela mostra que não é. Nunca subestime a capacidade de um homem fazer você acreditar que a culpa de algo que ele fez é sua.
When you told me that you hated my friends
Quando você me disse que odiava meus amigos
The only problem was with you and not them
O único problema era com você e não com eles
And every time you told me my opinion was wrong
E cada vez que me dizia que minha opinião estava errada
And tried to make me forget where I came from
E tentou me fazer esquecer de onde eu vim
DUAS SEMANAS ANTES
- Onde você estava, ? – perguntei, assim que ele passou pela porta. Ele estava meio cambaleante e eu podia sentir o cheiro da bebida de longe.
- Eu estava no bar com uns amigos. – ele respondeu de má vontade, passando direto por mim, como se eu não merecesse atenção.
- Amigos? No masculino? – minha voz estava baixa e eu tentava me controlar, mas estava difícil.
- Por quê? Você não acredita em mim? – ele indagou, virando o corpo em minha direção. Eu peguei o celular e mostrei a foto que tinham me enviado quarenta minutos atrás. Fiquei segurando o aparelho em sua direção durante alguns segundos, até que ele levantou os olhos e encarou.
- E isso deveria significar o que?
- Você está beijando outra garota nessa foto, . E nessa. – passei a imagem – E nessa. – mais outra – E em todas essas aqui. – continuei arrastando o dedo pela tela do celular, mostrando todas as fotos que havia recebido.
- E o que essa merda deveria significar? – ele perguntou de volta, gritando e tomando o celular da minha mão, jogando num canto qualquer.
- Isso me mostra a merda de pessoa que você é. – gritei de volta. – Que todo esse tempo você me acusou de estar te traindo com todos os caras possíveis do mundo, enquanto era você que fazia isso. Mostra como você é uma pessoa baixa, suja, desleal. Eu confiei, acreditei em você. Eu te amei pra cacete e foi assim que você me retribuiu. – Sua expressão mudou, havia algo ruim em seus olhos. E a forma que ele me olhava me fez ter medo de alguém pela primeira vez na vida.
- Quem te mandou isso? Foi aquela vaca da Perrie? Você sabe que ele tentou de tudo para me levar para cama? E como não conseguiu, está tentando nos separar. Mas como você é uma idiota, cabeça fraca, que segue todas as ideias erradas que qualquer pessoa coloca na sua cabeça, vai acreditar.
- Não foi a Perrie que me mandou. E eu sei o que você tentou fazer com ela, o que você tentou fazer com ela debaixo do meu próprio teto. Você não foi capaz de respeitar a minha melhor amiga. E se foi capaz de tentar algo com ela, imagina com todas essas garotas que você vive encontrando pela rua? Você já tentou e conseguiu me confundir, fazer com que eu pensasse que estava louca por muitas vezes, . Mas hoje não, chega. Eu cansei. – respirei fundo, tentando controlar a minha vontade de pular no pescoço dele – Eu não quero conversar, quero você fora daqui. E quero agora.
- O que você? Você tá me colocando pra fora? Por que...
- Eu quero você fora daqui agora! – gritei, perdendo completamente o controle. Eu sentia meu corpo tremer por completo, como se estivesse prestes a ter um colapso nervoso.
- Você está se achando muito importante mesmo, não é? – disse, com um sorriso cínico nos lábios – , a grande compositora. Pena que na verdade você não é nada e nem nunca será. Você está destinada ao fracasso, nasceu pra ficar à sombra de alguém. E quando você pensar em mim daqui a alguns anos, imaginando como poderia ter sido, ainda presa nesse cubículo que você chama de casa, eu estarei vivendo a vida que você sempre sonhou. E adivinhe, vivendo sem você.
- , eu não quero conversar. – pedi, sentindo as lágrimas rolarem pelo meu rosto – Eu quero que você vá embora. Eu quero você fora da minha vida, para sempre. Não quero nunca mais te ver.
- Você acha mesmo que alguém nesse mundo vai querer ficar com você? Ninguém além de mim vai querer te aturar. Você – ele caminhou lentamente, até parar bem na minha frente, abaixando o rosto para olhar bem nos meus olhos - Vai ficar e morrer sozinha, do exato jeito que merece.
- Você já ouviu aquele ditado: antes só do que mal acompanhado? Então... – respondi, tentando não me deixar abalar por suas palavras. Ele balançou a cabeça lentamente, caminhando até o quarto. Tentei respirar fundo enquanto ele estava lá dentro, levei as mãos até o rosto, mas eles tremiam tanto, que eu mal conseguia secar as lágrimas. Minutos depois ele voltou com uma mochila apoiada em um dos ombros. Ele parou na entrada da sala e ficou me encarando, como se esperasse que eu voltasse atrás. Mas não hoje, não dessa vez. Agora era para sempre. Não levantei o rosto para olhá-lo em nenhum momento, desde que ele saiu do quarto, até o momento em que desistiu. Caminhando lentamente, ele foi até a porta, mas parou com uma mão na maçaneta.
- Você vai se arrepender. – foi a última coisa que ele disse, antes de sair da minha casa e da minha vida.
Às vezes demora para você abrir os olhos. Como se estivesse num processo de sonho profundo e acorda num susto. Foi assim que eu me senti. Conforme eu comecei a perceber todas as coisas erradas que fazia comigo e com as pessoas ao meu redor, eu entendi como ele me fazia mal. Como a presença dele na minha vida só me levava para baixo. Quando Perrie, minha melhor amiga, tomou coragem para me contar que ele tentou agarrá-la na cozinha da minha casa, num dia em que estávamos todos comemorando o meu aniversário, eu não acreditei. Porque não era possível o meu , o meu namorado fazer uma coisa assim. Eu lembrei de todas as coisas boas que passamos juntos, de todos os momentos alegres e felizes. Imaginei que ela deveria ter confundido as coisas ou que ela poderia ter de oferecido para ele. Só que era Perrie, minha melhor amiga desde que tínhamos cinco anos de idade. Nós crescemos juntas, não tem uma única coisa que aconteça na minha vida que ela não saiba e o inverso também. Então, conforme fomos conversando sobre isso e eu comentei sobre todas as pequenas coisas que fazia comigo, as cobranças, o ciúme doentio, as palavras grosseiras e como nada disso parecia importar para ele. E lembra como as pequenas coisas acumuladas se tornam mais do que podemos suportar? As fotos, a traição, isso foi apenas mais um peso, mais uma pequena violência do dia a dia. E um relacionamento não deve ser sofrido, não deve doer tanto. Você deve ser feliz e não lembrava a última vez que tinha sido verdadeiramente feliz com o .
For all the times that you made me feel small
Por todas as vezes que me fez sentir pequeno
I fell in love, now I feel nothing at all
Eu me apaixonei, agora não sinto nada
I never felt so low when I was vulnerable
Nunca me senti tão pra baixo quando estava vulnerável
Was I a fool to let you break down my walls?
Eu fui um tolo quando deixei você derrubar minhas paredes?
UM MÊS DEPOIS
Eu estava sentada na sala de espera da gravadora tinha, mais ou menos, meia hora. A recepcionista me informou que eles estavam em reunião, mas me receberiam assim que a mesma terminasse. Estava tão nervosa, que não parava de balançar a perna e mordiscar o canto do dedão. Olhava para a grande porta de madeira à minha esquerda a cada cinco segundos, como isso fosse fazer com que ela se abrisse mais rápido.
Eu tinha conhecido duas semanas atrás, quando um amigo em comum, o Kennedy, nos apresentou. Ele era um novo cantor, que a Capitol Records estava apostando, só que ele precisava de uma música boa. Então Kenny imaginou que poderíamos trabalhar juntos. Depois de uns dois dias de conversa, escrevemos a primeira letra juntos, era uma música mais animada, bem nesse estilo que toca nas festas e tinha cara de ser música de verão. Ele levou para os produtores e eles adoraram, gravaram uma demo e ela acabou sendo encaixada na versão deluxe do cd de estreia dele, porque tinham muitas músicas animadas. Eles precisavam de uma mais lenta, uma balada, como eles falam. Então um dia eu tomei coragem e mostrei "Love Yourself", a música que tinha escrito pensando no meu relacionamento com o , pra ele e li a letra, não deixando claro todas as questões que me fizeram escrevê-la. E adorou. No dia seguinte nós nos encontramos e ele colocou uma melodia em cima, já deixando pronta para gravar uma demo. Assim que ficou pronta, ele marcou uma reunião para mostrar para os produtores e, bem, a reunião é hoje. E eu estou aqui sem conseguir conter o nervosismo, porque é como se essa música fosse aceita, seria como se tudo o que o disse se mim fosse mentira. Por mais que eu soubesse que fosse, era uma forma de eu provar a ele e a mim mesma que era.
A porta se abriu e eu fiquei de pé no susto. saiu da sala, com os dois homens mais velhos caminhando logo trás, eles tinham uma expressão alegre, o que fez meu coração acelerar na hora. Ele veio até onde eu estava e, sorrindo, passou o braço pelos meus ombros, fazendo com que eu andasse até mais pertos dos outros.
- Peter, Jack, essa aqui é a , a grande responsável pela música. Foi ela que escreveu. – ele disse, com um traço de orgulho em sua voz.
- Muito prazer. – o com barba grisalha, que depois descobri ser o Peter, disse, estendendo a mão, tendo o gesto imitado pelo outro.
- Nós adoramos a música, ela passa tanto sentimento, mas com tanta sutileza. Nós adoramos, de verdade. – Jack falou, com um sorriso no canto dos lábios. Eu os encarava meio boquiaberta, sem saber o que falar. me cutucou, fazendo com que o olhasse. E sorrindo ele disse:
- Nós vamos gravar.
- Sério. – murmurei, levando uma das mãos a boca, ainda sem acreditar – É sério mesmo?
- É tão sério, que segundo o planejamento do Peter, ela tem chances de ser um single. – comentou, mordendo o lábio inferior.
- Eu não to acreditando, . Não brinca comigo. – pedi, ainda fora de mim, sentindo meu coração bater tão acelerado, que ele parecia que iria sair do peito a qualquer momento.
- Eu nunca brincaria com algo tão sério.
'Cause if you like the way you look that much
Porque se você gosta tanto da sua aparência
Oh baby you should go and love yourself
Oh, querida, você deveria ir e amar a si mesma
And if you think that I'm still holdin' on to somethin'
E se você pensa que eu ainda estou me segurando em alguma coisa
You should go and love yourself
Você deveria ir e amar a si mesma
UM ANO DEPOIS
E o vencedor da categoria Música do Ano é: Love Yourself, de .
Eu ouvi aquela frase e fiquei petrificada no lugar, não conseguia me mover. levantou, também sem acreditar. Na mesma hora, ele virou em minha direção e segurou minhas mãos, fazendo com que eu ficasse de pé e me dando um abraço apertado.
- Você merece. – eu sussurrei em seu ouvido, da forma que pude.
- Nós merecemos. – respondeu, se afastando e olhando em meus olhos – Esse prêmio é nosso.
Caminhamos até o palco e no momento em que recebemos nossos Grammys das mãos de Paul McCartney é que a ficha começou a cair. Eu fiquei lá parada na frente de todos, encarando aquele gramofone dourado e pensando em todas as voltas que a vida deu antes de me trazer até aqui. estava lá fazendo discurso longo e emocionado, mas eu não conseguia ouvir nenhuma palavra. Estava presa dentro de um furacão de memórias que mostraram o porquê eu cheguei até aqui e todas as pessoas que eu deveria ser grata. Até mesmo aquelas que eu deveria esquecer. olhou em minha direção, apontando para o microfone, como se dissesse para eu falar alguma coisa. Então me aproximei lentamente, ainda sem acreditar.
- Um dia me disseram que eu era nada e sempre seria... – respirei fundo, com um sorriso bobo nos lábios – Bem, pelo menos agora serei um nada com um Grammy. Muito obrigada.
Mas é o que falam: o que não te mata, te fortalece.
Vi o telefone acender em cima da mesa de centro e vibrar, fazendo um barulho alto e incomodo soar pela sala. Olhei o visor, vendo o nome “” estampado na tela. Fechei os olhos, balançando a cabeça lentamente. O aparelho vibrou por mais alguns segundos e logo parou, mostrando três chamadas não atendidas. Todas dele. Eu pensei que tivesse sido clara quando pedi que ele não me procurasse mais, mas, provavelmente, ele não estava me levando a sério, como sempre. E talvez seria assim para sempre.
Respirei fundo, tentando clarear a mente, mas tinha muita coisa na minha cabeça ao mesmo tempo e eu não conseguia nem pensar. Já fazia duas semanas que havia ido embora, mas, pra mim, parecia que tinha sido no dia anterior. Eu tinha tantas coisas pra dizer a ele, tanta coisa que ficou presa na minha garganta, que eu só consegui enxergar depois, mas eu não queria vê-lo. Eu não queria nem mesmo saber sobre ele. Mas eu precisava colocar para fora, então decidi fazer da forma que eu sabia melhor, transformando tudo em música.
Por todas as vezes que você me arruinou
And all the clubs you get in using my name
E todas as boates que você entra usando meu nome
You think you broke my heart, oh girl for goodness sake*
Você acha que você quebrou meu coração, oh garota pelo amor de Deus
You think I'm crying oh my own, well I ain't
Você acha que estou chorando, bem, eu não estou
UM ANO ANTES
- Você vai mesmo pra essa festa? – perguntou, me fazendo levantar a cabeça. Sorri de lado, terminando de fechar a sandália que colocava e me pondo de pé – Pensei que a gente fosse ficar junto essa noite.
- Eu te disse que eu preciso ir na festa, é da gravadora, muita gente nova, possíveis contatos. Tenho que aproveitar enquanto a minha música está tocando para aparecer para o mundo, ou então vão esquecer de mim. – respondi, caminhando até onde ele estava e o abraçando pela cintura. – E eu sei que você disse que não queria ir, que não curte nenhuma dessas “festas chatas” – forcei a entonação, para imitar sua voz - Mas você podia fazer isso por mim, assim eu faço meus contatos e passamos a noite juntinhos. Prometo que será coisa de no máximo duas horas. – sorri, tentando convencê-lo.
- Até parece que você vai ter tempo pra ficar comigo, . – ele rolou os olhos, se desenvencilhando do meu abraço – Eu só vou para ficar sozinho e entre ficar sozinho no meio de um monte de gente que eu não conheço, prefiro ficar sozinho em casa.
- Mas não seria sozinho entre um monte de gente estranha, seria entre um monte de gente famosa. – brinquei, mas ele não sorriu, pelo contrário, fez uma cara pior que a anterior – Deus, , foi uma piada.
- Você não tá atrasada pra sua festa? – ele disse, como se quisesse se livrar de mim e acabar nossa conversa.
- Não quero sair com você bravo comigo dessa forma, parece que eu estou fazendo isso para te irritar, mas eu não estou. É o meu trabalho. – falei, fechando os olhos e respirando fundo – Não quero ter que ficar escolhendo entre o meu trabalho e você.
- Até porque eu não tenho nenhuma chance de sair vencedor dessa competição, não é mesmo? – ele murmurou, sem olhar para mim – Vai logo para a sua festa.
Peguei a bolsa e sai de casa, sentando no carro e me sentindo mortalmente culpada. Girei a chave, sentindo o barulho do motor, mas permaneci parada. Eu precisava estar na festa, eu precisava conhecer aquelas pessoas. Se eu queria ser uma compositora, se eu queria que cantassem as minhas músicas, que elas fossem sucesso, eu tinha que estar lá. Mas eu não conseguiria fazer nada, não dessa forma. Não com a minha cabeça presa no aqui sozinho, mesmo depois que eu prometi que estaria aqui com ele. Suspirei, desligando o carro e caminhando de volta até a casa. Parei no batente da porta do quarto, encarando , enquanto ele mexia em algo no celular, demorou alguns segundo para que ele notasse minha presença.
- Esqueceu alguma coisa? – ele perguntou, voltando os olhos para o pequeno aparelho a sua frente. Tirei as sandálias e caminhei até a cama, me deitando ao seu lado.
- Você. – falei, puxando o telefone de sua mão, fazendo com que ele me olhasse – Me desculpe se pareceu que eu estava te trocando pelo trabalho, eu nunca vou fazer isso. – beijei seus lábios rapidamente, mas ele não disse nada, apenas sorriu. O mesmo sorriso vitorioso de sempre, como se soubesse que conseguia o que quisesse de mim.
E ele conseguia.
A pior parte de tudo é o sentimento de culpa. Se sentir culpada por fazer algo que você precisa. Naquele dia eu poderia ter feito muitos contatos, poderia ter firmado parcerias, poderia ter muitas músicas minhas gravadas por aí, mas não. Eu deixei que ele, novamente, fizesse com que eu me sentisse errada por ter que fazer o meu trabalho. Se fosse qualquer outra coisa, ou pessoa, poderia se disponibilizar a ir comigo, me dar apoio, me ajudar a crescer, mas era como se ele não quisesse isso. Como se a minha vida tivesse que continuar como estava no momento em que ele me conheceu. Sem grandes conquistas ou avanços. E só Deus sabe o quanto eu perdi por isso. É complicado, mas precisamos reconhecer quando aquela pessoa que está ao nosso lado não quer nosso bem. Porque quem ama quer ver o outro feliz, com grandes feitos e realizações na vida e ele não era assim. Cada passo que eu dava para frente, ele fazia questão de fazer com eu desse dois para trás. E sabe qual a pior parte de tudo isso?
Eu não percebia.
E eu não queria escrever uma canção
'Cause I didn't want anyone thinking I still care
Porque eu não queria que ninguém achasse que eu ainda me importo
I don't but, you still hit my phone up
Eu não me importo, mas você ainda me liga
And baby I've been movin' on
E amor, estou partindo para outra
And I think you should be somethin'
E eu acho que você deve ser algo
I don't wanna hold back, maybe you should know that
Que eu não quero segurar, talvez você deva saber disso
CINCO MESES ANTES
- Eu só queria saber se você vai vir almoçar aqui no domingo. – minha mãe disse do outro lado da linha, enquanto eu tentava equilibrar o celular com o ombro e carregar as compras para dentro de casa.
- Sim, eu falei com o e nós vamos, ele está ansioso para ver vocês de novo. – comentei, animada, mas não ouvi minha mãe falar nada em resposta – Mãe, ainda tá aí?
- Esse rapaz, o , ele vem com você mesmo? Pensei que seríamos só nós. – ela perguntou, com sua voz longe do tom doce habitual.
- Claro, ele é meu namorado e eu quero que vocês se conheçam melhor, que passem a se dar bem. – parei na cozinha, apoiando as sacolas em cima da bancada e pegando o celular com uma das mãos, para ficar mais confortável – Posso perguntar por quê?
- Eu não sei como dizer isso, minha filha, não de uma forma legal, mas eu não gostei dele. – ela disse pausadamente, como se arrependesse após cada palavra dita – Não quero que você me leve a mal, até porque eu mal o conheço, mas tem algo nele que eu...
- Que você o que? Fala, mãe. – pedi, já ficando nervosa.
- Eu não quero brigar com você, ok? Traga seu namorado no domingo, vamos todos conversar e eu vou ver que isso é apenas uma impressão errada. – minha mãe falou do outro lado da linha, mas eu já tinha perdido toda a vontade de ir para casa.
- Eu acho melhor não, mãe. Não quero que você tenha que passar seu tempo com alguém que não goste, além do mais a casa é sua...
- A casa também é sua, sempre será. – ela ponderou, com a voz baixa, como se estivesse chateada – Eu não quero que fique brava comigo, .
- Eu não estou, depois nos falamos, tchau. – me atropelei nas palavras, desligando o telefone antes que eu pudesse ouvir o que ela falava. Joguei o celular na bancada, bufando alto. Ouvi passos atrás de mim e me virei, vendo me encarando.
- Algum problema? – ele perguntou, cruzando os braços na altura do peito.
- Minha mãe, ela me disse umas coisas que eu não gostei, só isso. – dei de ombros, começando a desembalar as compras. Ele se aproximou, passando os braços pela minha cintura e apoiando o queixo em meu ombro.
- O que ela disse? Você sabe que pode confiar em mim pra te apoiar, não é? – ele sorriu de lado, fazendo o meu coração amolecer.
- Ela disse que... – abaixei os olhos, sem coragem de olhar pra ele enquanto falava – Não gosta de você.
- Hmm... – ele murmurou, sem demonstrar nenhuma reação – E disse o porquê?
- Não e eu também não perguntei. – dei de ombros – Não consigo pensar em motivos para que alguém não goste de você.
- Se você gosta de mim, já é o bastante. Não preciso da aprovação da sua mãe. – ele beijou meu ombro – Nem do seu pai. – subiu para o meu pescoço – Ou de qualquer pessoa da sua família. – ele virou meu corpo, me fazendo ficar de frente para ele. Seus lábios roçaram os meus e eu fechei os olhos por alguns segundos, enquanto tentava lembrar como se respirava – Você precisa?
- N-não, eu não preciso de nada. – murmurei, enquanto suas mãos apertavam minha cintura e ele me puxava para mais perto.
- Então esquece eles, você é só minha agora...
E foi assim que eu passei quatro meses sem ver ninguém da minha família. Sempre que meus pais ligavam, querendo que nós fossemos até em casa ou até mesmo jantar fora, ele sempre arrumava uma desculpa ou falava: “Eles não gostam de mim, pra que eu vou encontrá-los? Mas se você quiser, pode ir...”, mas sempre ficava com uma expressão horrível quando eu falava que iria sair sozinha, mesmo que fosse para a casa dos meus pais. Então de uma forma ou outra, acabei me afastando da minha família apenas para não contrariá-lo e não arrumar nenhuma confusão. Eu era como uma posse dele, um pequeno troféu. Não era como se ele me amasse, ele apenas amava a ideia de alguém ao seu lado, alguém que ele pudesse falar que era dele, sua propriedade. Só que quando você para pra pensar, vê que não vale a pena, nem um pouco. Não deveria existir a nem a opção de afastar pessoas que te amam, só porque alguém acha que deve. Se eu pudesse voltar no tempo, teria dado ouvidos à minha mãe. O sexto sentido de mãe nunca falha, mas nós ficamos cegas demais.
Minha mãe não gosta de você e ela gosta de todo mundo
And I never like to admit that I was wrong
E eu nunca gostei de admitir que eu estava errado
And I've been so caught up in my job, didn't see what's going on
E eu estive tão ocupado com meu trabalho que não via o que estava acontecendo
And now I know, I'm better sleeping on my own
E agora eu sei, estou melhor dormindo sozinho
DOIS MESES ANTES
- Nós não vamos mais sair com essas pessoas. – disse, batendo a porta da sala assim que passamos. Coloquei a bolsa em cima do sofá e me virei para ele, com a expressão confusa.
- O que? – perguntei, pedindo que ele repetisse, para saber se tinha entendido certo.
- Eu não quero mais que você veja essas pessoas. – ele falou, como se fosse a coisa mais simples do mundo.
- E você pode me dizer um motivo plausível para isso? – indaguei, cruzando os braços e olhando em sua direção.
- Ah, não vem dizer que você não reparou que aquele cara ficou a noite inteira te encarando, . – esbravejou, levantando os braços, com o tom de voz mais alto que o normal.
- O Kennedy? Pelo amor de Deus, , eu o conheço desde que tinha sete anos de idade. Nós crescemos juntos, todos nós. Não tem motivo nenhum para você sentir ciúme dele. - coloquei as mãos na cabeça, tirando o cabelo da frente do rosto e respirando fundo – Não existe a opção de eu deixar de falar com todos os meus amigos só porque você não quer. Você vai deixar de falar com os seus?
- Os meus não dão em cima de mim. – ele deu de ombros e eu rolei os olhos.
- Eu já estou exausta de ter a mesma briga praticamente todos os dias, . Isso cansa de uma forma que você parece não compreender.
- Então por que você continua agindo da mesma forma errada? – ele disse, como se fosse a coisa mais simples do mundo e se eu fosse a única culpada da história.
- Mas eu não estou errada. – respondi, elevando um pouco o tom de voz além do normal.
- Se não está errada, por que está gritando? Por que está tão nervosa? Só quem tem culpa, quem tem algo a esconder que fica com medo. Você tem algo para que eu não posso descobrir? – ele se aproximou, ficando bem perto de mim, seu nariz quase encostava na minha testa e eu sentia sua respiração pesada bater contra o meu rosto – Me diz, com qual deles, com quantos deles você já dormiu? Me diz. – ele gritou a última parte.
- Se eu me levar pelo o que você pensa, todos os homens do planeta dão em cima de mim e querem me comer. Não é assim que você fala, que todo mundo quer me comer?
- Talvez queiram mesmo, só você que não sabe. Talvez você dê um sorrisinho a mais, dê condição para todos eles sem perceber. Não lembra o quanto você flertou comigo sem nem ter noção disso? – conforme as palavras saiam de sua boca, mais confusa e magoada eu ficava.
- Você tá dizendo que eu me ofereço para todo mundo, é isso? Como se eu fosse parte de um buffet? E eu sabia exatamente o que estava fazendo quando te conheci, eu gostei de você e flertei, como qualquer garota solteira faz. Só que agora eu não sou mais solteira, não tem motivos para que eu procure outra pessoa, eu já tenho você.
- Não se faça de ofendida, , vocês são todas assim. Eu aposto que se eu não te acompanhasse nesses encontros com seus “amigos” – ele usou os dedos para fazer aspas no ar e mudou a entonação, tornando tudo ainda mais nojento – Você já teria parado na cama de qualquer um deles.
- Se você acha isso tudo de mim, o que você ainda faz comigo? – perguntei, já com a voz embargada, mordendo o lábio inferior para não começar a chorar.
- Você acha que eu não me pergunto isso todos os dias? – ele disse, com um sorriso cínico no canto dos lábios, antes de levantar e seguir para o quarto, de onde não saiu mais naquela noite. Eu me sentei no sofá, deixei meu rosto tombar em minhas mãos e chorei, chorei como nunca tinha chorado na vida. Estava me sentido humilhada, machucada, magoada, tudo isso sem nenhuma necessidade. Nada tinha acontecido, não precisava me atacar dessa forma.
Passei aquela noite no sofá mesmo, porque não queria vê-lo, não queria nem chegar perto dele. Só de pensar nas palavras duras que ele usou para me atingir, já me dava vontade de chorar. Mas quando acordei, a primeira coisa que vi foi ele sentado na mesa de centro, me encarando. Sua expressão estava mais calma, tinha até um sorriso no canto dos lábios.
- Bom dia, por que dormiu aí? – ele disse, como se nada tivesse acontecido.
- O que? – perguntei, me sentando no sofá e o encarando, completamente confusa.
- Você dormiu toda torta nesse sofá, tendo uma cama completamente confortável lá dentro. – ele brincou. Franzi a testa, imaginando se tudo aquilo que se passava na minha cabeça não tinha passado de um sonho ruim.
- Como que você queria que eu dormisse ao seu lado depois de tudo o que você me disse? – questionei. Ele sentou ao meu lado, levantando uma das mãos, para tocar meu rosto, mas eu me afastei.
- Ah, meu amor, não seja boba. Eu estava bêbado, eu mal lembro o que aconteceu. Se eu te disse algo ruim, não era eu, era a bebida. Você sabe que eu fico completamente fora de mim quando bebo. – ele deu de ombros – E provavelmente nem foi algo assim tão grave, você deve ter ido dormir muito brava comigo e sonhou que brigamos, agora está misturando tudo.
- Não, , eu lembro exatamente cada palavra que você usou ontem. – falei e ele usou um dedo para me calar.
- Mas eu não, então não temos que conversar sobre isso, certo? – o tom de sua voz era baixo e suave. Ele passou a mão pelo meu rosto, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.
O pior tipo de manipulação é aquela que você sabe que está sendo enganada e ainda sim cede. Talvez porque alguma voz dentro de você diz: “ah, talvez ele esteja arrependido”, “talvez ele não lembre mesmo”, ou “ele é sempre tão bom pra mim, que não vale a pena pensar apenas nas pequenas coisas ruins”. Mas nós temos que pensar e levar muito em consideração, porque são nesses momentos que nós conseguimos quem a pessoa é de verdade, sem máscaras, sem truques. A se deixarmos cada pequena coisa passar, chega um momento em que acumulamos tanta coisa, que se torna um fardo maior do que somos capazes que carregar. Então é mais um sinal que acabamos ignorando, porque a gente gosta, fazemos planos, acreditamos que aquela pessoa é a certa pra dividir a nossa vida e, de repente, ela mostra que não é. Nunca subestime a capacidade de um homem fazer você acreditar que a culpa de algo que ele fez é sua.
Quando você me disse que odiava meus amigos
The only problem was with you and not them
O único problema era com você e não com eles
And every time you told me my opinion was wrong
E cada vez que me dizia que minha opinião estava errada
And tried to make me forget where I came from
E tentou me fazer esquecer de onde eu vim
DUAS SEMANAS ANTES
- Onde você estava, ? – perguntei, assim que ele passou pela porta. Ele estava meio cambaleante e eu podia sentir o cheiro da bebida de longe.
- Eu estava no bar com uns amigos. – ele respondeu de má vontade, passando direto por mim, como se eu não merecesse atenção.
- Amigos? No masculino? – minha voz estava baixa e eu tentava me controlar, mas estava difícil.
- Por quê? Você não acredita em mim? – ele indagou, virando o corpo em minha direção. Eu peguei o celular e mostrei a foto que tinham me enviado quarenta minutos atrás. Fiquei segurando o aparelho em sua direção durante alguns segundos, até que ele levantou os olhos e encarou.
- E isso deveria significar o que?
- Você está beijando outra garota nessa foto, . E nessa. – passei a imagem – E nessa. – mais outra – E em todas essas aqui. – continuei arrastando o dedo pela tela do celular, mostrando todas as fotos que havia recebido.
- E o que essa merda deveria significar? – ele perguntou de volta, gritando e tomando o celular da minha mão, jogando num canto qualquer.
- Isso me mostra a merda de pessoa que você é. – gritei de volta. – Que todo esse tempo você me acusou de estar te traindo com todos os caras possíveis do mundo, enquanto era você que fazia isso. Mostra como você é uma pessoa baixa, suja, desleal. Eu confiei, acreditei em você. Eu te amei pra cacete e foi assim que você me retribuiu. – Sua expressão mudou, havia algo ruim em seus olhos. E a forma que ele me olhava me fez ter medo de alguém pela primeira vez na vida.
- Quem te mandou isso? Foi aquela vaca da Perrie? Você sabe que ele tentou de tudo para me levar para cama? E como não conseguiu, está tentando nos separar. Mas como você é uma idiota, cabeça fraca, que segue todas as ideias erradas que qualquer pessoa coloca na sua cabeça, vai acreditar.
- Não foi a Perrie que me mandou. E eu sei o que você tentou fazer com ela, o que você tentou fazer com ela debaixo do meu próprio teto. Você não foi capaz de respeitar a minha melhor amiga. E se foi capaz de tentar algo com ela, imagina com todas essas garotas que você vive encontrando pela rua? Você já tentou e conseguiu me confundir, fazer com que eu pensasse que estava louca por muitas vezes, . Mas hoje não, chega. Eu cansei. – respirei fundo, tentando controlar a minha vontade de pular no pescoço dele – Eu não quero conversar, quero você fora daqui. E quero agora.
- O que você? Você tá me colocando pra fora? Por que...
- Eu quero você fora daqui agora! – gritei, perdendo completamente o controle. Eu sentia meu corpo tremer por completo, como se estivesse prestes a ter um colapso nervoso.
- Você está se achando muito importante mesmo, não é? – disse, com um sorriso cínico nos lábios – , a grande compositora. Pena que na verdade você não é nada e nem nunca será. Você está destinada ao fracasso, nasceu pra ficar à sombra de alguém. E quando você pensar em mim daqui a alguns anos, imaginando como poderia ter sido, ainda presa nesse cubículo que você chama de casa, eu estarei vivendo a vida que você sempre sonhou. E adivinhe, vivendo sem você.
- , eu não quero conversar. – pedi, sentindo as lágrimas rolarem pelo meu rosto – Eu quero que você vá embora. Eu quero você fora da minha vida, para sempre. Não quero nunca mais te ver.
- Você acha mesmo que alguém nesse mundo vai querer ficar com você? Ninguém além de mim vai querer te aturar. Você – ele caminhou lentamente, até parar bem na minha frente, abaixando o rosto para olhar bem nos meus olhos - Vai ficar e morrer sozinha, do exato jeito que merece.
- Você já ouviu aquele ditado: antes só do que mal acompanhado? Então... – respondi, tentando não me deixar abalar por suas palavras. Ele balançou a cabeça lentamente, caminhando até o quarto. Tentei respirar fundo enquanto ele estava lá dentro, levei as mãos até o rosto, mas eles tremiam tanto, que eu mal conseguia secar as lágrimas. Minutos depois ele voltou com uma mochila apoiada em um dos ombros. Ele parou na entrada da sala e ficou me encarando, como se esperasse que eu voltasse atrás. Mas não hoje, não dessa vez. Agora era para sempre. Não levantei o rosto para olhá-lo em nenhum momento, desde que ele saiu do quarto, até o momento em que desistiu. Caminhando lentamente, ele foi até a porta, mas parou com uma mão na maçaneta.
- Você vai se arrepender. – foi a última coisa que ele disse, antes de sair da minha casa e da minha vida.
Às vezes demora para você abrir os olhos. Como se estivesse num processo de sonho profundo e acorda num susto. Foi assim que eu me senti. Conforme eu comecei a perceber todas as coisas erradas que fazia comigo e com as pessoas ao meu redor, eu entendi como ele me fazia mal. Como a presença dele na minha vida só me levava para baixo. Quando Perrie, minha melhor amiga, tomou coragem para me contar que ele tentou agarrá-la na cozinha da minha casa, num dia em que estávamos todos comemorando o meu aniversário, eu não acreditei. Porque não era possível o meu , o meu namorado fazer uma coisa assim. Eu lembrei de todas as coisas boas que passamos juntos, de todos os momentos alegres e felizes. Imaginei que ela deveria ter confundido as coisas ou que ela poderia ter de oferecido para ele. Só que era Perrie, minha melhor amiga desde que tínhamos cinco anos de idade. Nós crescemos juntas, não tem uma única coisa que aconteça na minha vida que ela não saiba e o inverso também. Então, conforme fomos conversando sobre isso e eu comentei sobre todas as pequenas coisas que fazia comigo, as cobranças, o ciúme doentio, as palavras grosseiras e como nada disso parecia importar para ele. E lembra como as pequenas coisas acumuladas se tornam mais do que podemos suportar? As fotos, a traição, isso foi apenas mais um peso, mais uma pequena violência do dia a dia. E um relacionamento não deve ser sofrido, não deve doer tanto. Você deve ser feliz e não lembrava a última vez que tinha sido verdadeiramente feliz com o .
Por todas as vezes que me fez sentir pequeno
I fell in love, now I feel nothing at all
Eu me apaixonei, agora não sinto nada
I never felt so low when I was vulnerable
Nunca me senti tão pra baixo quando estava vulnerável
Was I a fool to let you break down my walls?
Eu fui um tolo quando deixei você derrubar minhas paredes?
UM MÊS DEPOIS
Eu estava sentada na sala de espera da gravadora tinha, mais ou menos, meia hora. A recepcionista me informou que eles estavam em reunião, mas me receberiam assim que a mesma terminasse. Estava tão nervosa, que não parava de balançar a perna e mordiscar o canto do dedão. Olhava para a grande porta de madeira à minha esquerda a cada cinco segundos, como isso fosse fazer com que ela se abrisse mais rápido.
Eu tinha conhecido duas semanas atrás, quando um amigo em comum, o Kennedy, nos apresentou. Ele era um novo cantor, que a Capitol Records estava apostando, só que ele precisava de uma música boa. Então Kenny imaginou que poderíamos trabalhar juntos. Depois de uns dois dias de conversa, escrevemos a primeira letra juntos, era uma música mais animada, bem nesse estilo que toca nas festas e tinha cara de ser música de verão. Ele levou para os produtores e eles adoraram, gravaram uma demo e ela acabou sendo encaixada na versão deluxe do cd de estreia dele, porque tinham muitas músicas animadas. Eles precisavam de uma mais lenta, uma balada, como eles falam. Então um dia eu tomei coragem e mostrei "Love Yourself", a música que tinha escrito pensando no meu relacionamento com o , pra ele e li a letra, não deixando claro todas as questões que me fizeram escrevê-la. E adorou. No dia seguinte nós nos encontramos e ele colocou uma melodia em cima, já deixando pronta para gravar uma demo. Assim que ficou pronta, ele marcou uma reunião para mostrar para os produtores e, bem, a reunião é hoje. E eu estou aqui sem conseguir conter o nervosismo, porque é como se essa música fosse aceita, seria como se tudo o que o disse se mim fosse mentira. Por mais que eu soubesse que fosse, era uma forma de eu provar a ele e a mim mesma que era.
A porta se abriu e eu fiquei de pé no susto. saiu da sala, com os dois homens mais velhos caminhando logo trás, eles tinham uma expressão alegre, o que fez meu coração acelerar na hora. Ele veio até onde eu estava e, sorrindo, passou o braço pelos meus ombros, fazendo com que eu andasse até mais pertos dos outros.
- Peter, Jack, essa aqui é a , a grande responsável pela música. Foi ela que escreveu. – ele disse, com um traço de orgulho em sua voz.
- Muito prazer. – o com barba grisalha, que depois descobri ser o Peter, disse, estendendo a mão, tendo o gesto imitado pelo outro.
- Nós adoramos a música, ela passa tanto sentimento, mas com tanta sutileza. Nós adoramos, de verdade. – Jack falou, com um sorriso no canto dos lábios. Eu os encarava meio boquiaberta, sem saber o que falar. me cutucou, fazendo com que o olhasse. E sorrindo ele disse:
- Nós vamos gravar.
- Sério. – murmurei, levando uma das mãos a boca, ainda sem acreditar – É sério mesmo?
- É tão sério, que segundo o planejamento do Peter, ela tem chances de ser um single. – comentou, mordendo o lábio inferior.
- Eu não to acreditando, . Não brinca comigo. – pedi, ainda fora de mim, sentindo meu coração bater tão acelerado, que ele parecia que iria sair do peito a qualquer momento.
- Eu nunca brincaria com algo tão sério.
Porque se você gosta tanto da sua aparência
Oh baby you should go and love yourself
Oh, querida, você deveria ir e amar a si mesma
And if you think that I'm still holdin' on to somethin'
E se você pensa que eu ainda estou me segurando em alguma coisa
You should go and love yourself
Você deveria ir e amar a si mesma
UM ANO DEPOIS
E o vencedor da categoria Música do Ano é: Love Yourself, de .
Eu ouvi aquela frase e fiquei petrificada no lugar, não conseguia me mover. levantou, também sem acreditar. Na mesma hora, ele virou em minha direção e segurou minhas mãos, fazendo com que eu ficasse de pé e me dando um abraço apertado.
- Você merece. – eu sussurrei em seu ouvido, da forma que pude.
- Nós merecemos. – respondeu, se afastando e olhando em meus olhos – Esse prêmio é nosso.
Caminhamos até o palco e no momento em que recebemos nossos Grammys das mãos de Paul McCartney é que a ficha começou a cair. Eu fiquei lá parada na frente de todos, encarando aquele gramofone dourado e pensando em todas as voltas que a vida deu antes de me trazer até aqui. estava lá fazendo discurso longo e emocionado, mas eu não conseguia ouvir nenhuma palavra. Estava presa dentro de um furacão de memórias que mostraram o porquê eu cheguei até aqui e todas as pessoas que eu deveria ser grata. Até mesmo aquelas que eu deveria esquecer. olhou em minha direção, apontando para o microfone, como se dissesse para eu falar alguma coisa. Então me aproximei lentamente, ainda sem acreditar.
- Um dia me disseram que eu era nada e sempre seria... – respirei fundo, com um sorriso bobo nos lábios – Bem, pelo menos agora serei um nada com um Grammy. Muito obrigada.
Fim.
Nota da autora: Escrever essa história foi difícil, porque eu não sabia o tom que eu usava e nem ao menos se deveria escrevê-la dessa forma, mas eu não conseguia pensar em outra coisa. Porque eu acho essa letra é muito poderosa, ela fala clara e abertamente sobre coisas, mesmo se não tiver sido a intenção do Ed, do Justin e de quem mais ajudou a escrever. O Justin cantando não passa tanto a ideia desse relacionamento tóxico, mas quando você vê a letra, ignorando quem canta, pensando numa história que poderia ter inspirado, vê consegue ler as "entrelinhas", enfim. Eu acho importante tratar essas coisas aqui, ainda mais se for o quanto mais próximo da realidade possível e foi o que eu tentei. Espero que gostem.
Beijo da That.
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