Finalizada em: 06/03/2021

Capítulo Único

A sensação era a de que minhas pernas pareciam ser feitas de gelatina naquela noite. Por mais que eu lutasse para parecer natural, cada passo que eu dava era milimetricamente calculado a fim de evitar que eu desabasse, tropeçando em meus próprios pés e transformando tudo no pior vexame da minha vida.
Eu tinha um hábito péssimo de sempre cogitar as piores situações para as coisas que aconteciam na minha vida, então obviamente aquele não era o único cenário desastroso que percorria minha mente enquanto eu circulava ali, naquele enorme salão repleto de diversos rostos conhecidos e alguns nem tanto assim.
Percebia alguns olhares intrigados na minha direção e até mesmo aqueles que desejavam que a minha queda acontecesse de alguma forma, mas se dependesse de mim, lutaria até o último segundo para não desabar.
Não havia sido fácil chegar até ali, assim como não era fácil me manter firme enquanto cumprimentava cada uma daquelas pessoas com o meu melhor sorriso, agradecendo todas as palavras que dirigiam a mim. Uma parte minha conseguia distinguir quem era verdadeiro e quem só se aproximava por alguma espécie de interesse.
Sinceramente? Eu não me importava. Aquela era a minha noite, não deles. Aquilo tudo dizia respeito a mim e apenas a mim e à minha causa.
Era a resposta a todos aqueles anos em que vi as pessoas mais importantes da minha vida me virarem as coisas. A dose de satisfação a olhar nos rostos de cada uma delas para declarar abertamente que não importava o quanto tivessem praguejado que eu era uma causa perdida, que jamais conseguiria meu meio de salvar o mundo porque não era nenhuma heroína, eu havia conseguido.

Caminhei até a mesa onde meu lugar foi designado e agradeci mentalmente por não ter sido forçada a me sentar com qualquer uma daquelas pessoas do meu passado, não por mágoa, mas porque a energia que exalavam nunca era boa e disso eu passava longe.
Resolvi que beber um pouco de champanhe me ajudaria a relaxar, então aceitei a taça servida pelo garçom e me deixei envolver por algumas conversas aleatórias enquanto na verdade meus pensamentos voavam bem longe, visitando algumas memórias dolorosas, mas que eu sabia que precisavam ser experienciadas novamente naquela noite.
Como se fosse mágica, mais uma vez eu conseguia ver com nitidez os olhares de descrença, as expressões de nojo e desgosto, assim como era capaz de ouvir cada uma das palavras que sempre eram usadas para me colocar para baixo.
As pessoas costumavam atribuir meu sobrenome à uma família poderosa, dona de uma grande empresa responsável pela produção de energia elétrica que era um verdadeiro monopólio da região. Era difícil acreditar que qualquer membro da família Remington não tivesse a sua parcela gorda de poder e não usufruísse disso esbanjando sempre as coisas mais caras. De uma maneira bastante clichê, as aparências definitivamente enganavam.
Como primogênita, era eu a grande herdeira de todo aquele império. Deveria ser eu a tomar a frente de todos os negócios quando meu pai já não pudesse mais, no entanto, os meus ideais não eram os mesmos da empresa e era completamente inviável dar continuidade a algo que feria todos os meus princípios.
A Remington Company poluía o meio ambiente sem escrúpulos. Contaminava nascentes, matando milhares de peixes diariamente e adoecendo várias pessoas que consumiam aquela água de alguma forma. Toda vez que eu via o estrago que fazia, meu coração doía e se partia em mil pedaços.
Cansei de contar quantas vezes isso virou motivo de discussão entre eu e meus pais, que simplesmente não conseguiam ver o quão mal faziam ao nosso planeta com aquelas atitudes. E eles simplesmente não conseguiam aceitar que meus pensamentos pudessem ser tão diferentes.
Não posso dizer que me vi surpresa ao ser completamente deserdada e ter a presidência da empresa passada para meu primo, já que eu era única filha de Derick e Marissa. Também não posso mentir que não me senti aliviada em ter aquele fardo tirado de meus ombros. Ainda assim, todas as palavras terríveis do meu pai realmente me machucaram. Não era fácil ouvir que ele não tinha um pingo de fé em mim, que eu era uma perdedora e sempre seria.
No entanto, permitir que aquilo me derrubasse estava completamente fora de questão. Não deixei que eles me vencessem e se o mundo inteiro ficasse contra mim, eu lutaria ainda assim.

— escutei meu nome me tirar dos pensamentos, então encarei a pessoa naquele palco, sorrindo pra mim enquanto eu tentava disfarçar que me encontrava completamente avoada segundos antes.
Uma salva de palmas irrompeu no segundo seguinte, então eu tratei de me levantar, mantendo minhas pernas o mais firme possível enquanto sentia todos os olhares em mim.
Caminhei até o palco e subi nele com calma, até que me vi diante da Iara Thompson, responsável pela entrega daquele que era o melhor prêmio que eu poderia receber em toda a minha carreira.
— É com muito orgulho e alegria que hoje eu entrego a você o prêmio de empresária do ano! Você merece isso e muito mais. — O sorriso dela me pareceu genuíno, então aceitei o troféu e troquei um abraço rápido com Iara antes de me dirigir ao microfone.
Meus olhos varreram todo aquele salão enquanto meus nervos estavam à flor da pele.
Então eu encontrei os olhos de meus pais. Não havia nenhum sinal de afeto na forma como me encaravam, mas desde a última vez em que nos vimos, havia sim algo de diferente: eu não era mais uma perdedora.
— Uma vez eu escutei que não sou uma heroína. Que não existem companhias produtoras de energia limpa bem sucedidas e que viver sonhando com isso me tornaria para sempre uma perdedora — comecei a falar, sem conseguir desviar meus olhos deles. — Eu ouvi piadas sobre o que acredito, fui chamada de louca e até mesmo de ingrata.
Fiz uma pausa, enquanto desviava meu olhar para todas as pessoas, tentando evitar voltar a olhar para meus pais, mas falhando miseravelmente.
— Quando eu finalmente me libertei de algumas amarras, eu senti como se estivesse lutando contra o mundo todo e não me importava se realmente isso acabasse acontecendo, porque sim, eu acredito que cada um de nós pode fazer a sua parte para salvar o nosso planeta. E foi acreditando que nem sempre é preciso ser um herói para mudar nosso destino que eu construí essa companhia. Foi pela minha causa que eu abandonei meu sobrenome e hoje eu não respondo mais por Remington. Sou com orgulho e em nome de todas as pessoas que desejam um futuro melhor não só para nós, como a todos os seres vivos, estou aceitando esse prêmio. Eu venci.
Conforme ia fazendo meu discurso, percebi que já não me importava mais como eu era vista por aqueles que deveriam ser o meu maior alicerce, eu não precisava delas porque tinha a mim mesma. Eu não era um pesadelo e muito menos uma perdedora como diziam.
Eu era e eu era capaz de tudo que quisesse. Inclusive de salvar o mundo.


FIM



Nota da autora: Espero que vocês tenham gostado. É curtinha, mas escrevi com muito carinho!
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Beijos e até a próxima.
Ste.

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