Capítulo Único
Quando você conhece alguém, é difícil conter o pensamento: será que vai dar certo? Não é muito algo que você consiga conter, a mente da gente vive pregando essas peças, rodeando nosso coração, assombrando nossa mente. Criando expectativas, construindo castelos e escrevendo contos de fadas.
Quando passa a fase de conhecer um ao outro e um compromisso é estabelecido, muitos acham que o ato de sonhar com o futuro passou. Quando dão por si, percebem que é exatamente o contrário. Os contos de fadas ganham formas. Eles são tingidos por branco e moldados para que seja o dia perfeito. Cada pequeno detalhe importa. As flores, o lugar, os amigos, a família... O tão sonhado e desejado vestido. O véu, a grinalda.
Quando você diz o “sim”, é como se o seu mundo assentasse. Há uma nova força que te prende à Terra, a gravidade passa a ficar em segundo plano. O que eram apenas sonhos começam a ser colocados em prática. As buscas, a adrenalina, a contagem regressiva. Todos os caminhos percorridos são para chegar a um fim específico: o melhor dia.
E então, mais uma vez, a palavra “sim” sai da sua boca. Nesse momento, vivendo o conto de fadas, enxergando os sonhos tornando-se reais, seu coração deixa de bater sozinho. Como um só, dois corações seguem um ritmo forte, intenso. O que fora apenas um encontro, agora era a realidade de uma vida.
Os sonhos, entretanto, não acabaram. Se você pensou em ter filhos um dia, esse é o momento em que tudo toma grandes proporções. O desejo de ter uma família, o desejo de ser feliz com o outro. O desejo de ver seu amor gerando outras vidas. O desejo de construir uma vida juntos.
Você deseja muitas coisas.
Menos que tudo acabe.
1. Negação: I'm happy for you, know that I am
— Você tem certeza que vai a essa festa? — minha amiga perguntou, preocupada, enquanto eu dobrava as roupas que havia recolhido do varal.
— Claro, eu estou ótima! — disse e sorri em sua direção.
— Você sabe que ele vai estar lá, certo? — Permaneci com o sorriso nos lábios.
— Sim, eu sei.
— Ele vai com ela. — Ainda sorrindo, eu assenti.
— Eu também sei disso.
— É a primeira festa que vocês vão após o divórcio, tem certeza...
— Eu já disse que estou ótima. Eu estou feliz por ele. — Meu coração ensaiou uma pontada, mas balancei a cabeça e impedi o pensamento. Eu estava bem. Eu estava ótima.
— Por que você não para de negar e continua insistindo que está tudo bem? Você ainda está usando a aliança! — Nervosa, minha amiga apontou para a minha mão esquerda, na qual a aliança dourada brilhava. Respirei fundo e parei o que estava fazendo, virando-me em sua direção.
— Eu apenas esqueci. — Ela negou com a cabeça, um sorriso triste estava em seus lábios.
— Você sabe que eu sempre estarei aqui pra você, né? — Mais uma vez, sorri para ela.
— Eu estou bem, não precisa se preocupar. Nossos amigos estarão lá, mal vou vê-lo. — Ela encarou o nada, como se ponderasse suas próximas palavras.
— Vocês ficaram casados por anos, sabe que os seus amigos também são os amigos dele, certo? — Eu revirei os olhos.
— O que, exatamente, você está querendo me dizer? Porque eu já sei de tudo isso o que você está falando. Eu já sei que o meu casamento acabou, já sei que ele me trocou por outra e que vai estar com ela nessa festa. Eu já sei.
— E você está bem com isso?
— Estou ótima. — Minha amiga bufou, virando as costas e seguindo em direção à porta.
— Nos vemos lá. — ela disse e bateu a porta.
Encarei meu reflexo no espelho. O vestido preto ajustava-se bem ao meu corpo, destacando as curvas e fazendo-me sentir bem comigo mesma. Assim que tive a certeza de que estava pronta e preparada para ir, vi, de relance, um brilho no espelho.
Eu ainda não tinha tirado a aliança.
Minha respiração falhou e meu peito apertou de tal maneira que precisei apoiar-me na cama. Sentei-me e coloquei minhas mãos sobre as pernas. Encarei a aliança, buscando em minha mente os motivos por ainda não a ter retirado.
Eu sabia que nosso casamento tinha acabado. Eu sabia que não tinha mais volta. Eu sabia que ele estava com outra. Eu sabia que ele tinha me trocado por essa outra.
Eu não tinha esperanças.
Levantei meu olhar e encarei o nada. Acalmei minha respiração e as batidas do meu coração. O aperto diminuiu, mas apenas agora me dei conta que fazia muito tempo que ele estava ali.
Despertei dos meus devaneios com o som do toque do meu celular. Tinham três chamadas perdidas da minha amiga.
— Oi! — eu disse.
— Você está bem? Por que não me atendeu antes? — Balancei a cabeça e levantei da cama, seguindo para fora do quarto.
— Eu estava terminando de me arrumar, mas já estou indo.
— Vou te esperar na porta. — ela falou, receosa.
— Não precisa, eu já disse...
— Que está bem, eu sei. Até daqui a pouco. — Desliguei o celular e peguei as chaves do carro sobre a mesa no centro da sala. Por um momento, meus olhos captaram a imagem no porta-retratos, mas não permiti que isso me tomasse mais tempo.
Dirigi com calma até o local da festa de aniversário de uma amiga. Da nossa amiga. Estacionei o carro e meus olhos logo encontraram o dele. Eu não o via desde o dia que assinamos os papéis do divórcio, há duas semanas. Meu coração, mais uma vez, apertou. Senti como se algo estivesse preso em minha garganta, impedindo-me de respirar. Encarei meu olhar no espelho retrovisor e notei o desespero. Um brilho que eu fazia tanto esforço para conter. Fechei os olhos com força e coloquei um sorriso nos lábios.
— Eu estou bem. Vai ficar tudo bem. A casa é grande. Eu estou bem. — disse baixinho para mim mesma. Eu soava patética, mas isso me acalmou um pouco. Respirei fundo e abri a porta do carro. Tranquei-o e segui em direção à casa. Minha amiga, como prometido, estava lá, esperando-me.
— Eu sei, não precisava. Mas eu queria. — ela disse assim que eu estava perto o suficiente para ouvi-la.
— Eu já vi o carro dele. — Minha amiga desviou o olhar. Ela parecia querer fugir dali e levar-me junto.
— Você tem certeza? — ela perguntou, pela última vez.
— Sim. — eu respondi, ainda que um eco na minha cabeça gritasse não.
Seguimos para dentro da casa e um silêncio instaurou-se entre nossos amigos assim que me viram. Eu sorri para todos eles, impedindo que meu olhar focasse nele, ainda que minha visão periférica já o tivesse localizado.
— Que bom que você chegou! — um de nossos amigos disse, tentando quebrar o clima incômodo.
— Claro, não perderia por nada! — Abracei a todos, menos ele. Eu ainda não estava preparada para o contato. Eu ainda não poderia vê-lo... com ela. Mantive o sorriso no rosto, mas tive a sensação de alguém estar encarando-me. Assim que levantei o olhar, notei que ele encarava minha mão esquerda. Fechei os olhos assim que me dei conta: a aliança. Escondi minha mão e segui em direção à cozinha a passos rápidos.
Peguei uma taça com água em uma das bandejas que estavam ali. Tomei em um único gole o seu conteúdo, tentando voltar a respirar normalmente. Eu sentia minhas pernas bambas, meu corpo, de repente, pesado demais para eu aguentar. Encarei minha mão novamente: por quê?
Senti uma mão em meus ombros, e minha amiga encarava-me com pesar. Forcei um sorriso para ela, que bufou.
— Não fala nada, não aguento mais ouvir que está bem. — ela disse e aproximou-se mais de mim. — Olha pra mim. — Ela pediu. Encarei seus olhos, sentindo os meus lacrimejarem. Prendi o choro. Eu não iria chorar, não ali.
— Vamos voltar. Já estou melhor. — eu falei, ainda que não tivesse certeza. Assim que voltamos para a sala, meu olhar foi atraído para a pista de dança. Ele estava dançando. Ele estava dançando com ela. Não pude conter as pontadas no meu coração, eu sentia como se pudesse desmaiar a qualquer momento. A dor era lancinante, como se várias facas estivessem sendo enfiadas em meu peito.
Apesar da música alta, eu podia ouvir o som da sua risada. Seu sorriso, que um dia já foi para mim, agora era dela. Seus olhos brilhavam em sua direção, como se ela fosse o seu bem mais precioso. Senti um aperto em minha mão, mas logo soltei. Peguei o celular em minha bolsa e o encarei. Meu dedo mexia sem parar, mas sem um propósito. Meus olhos estavam focados na tela, como se ali estivesse passando meu filme preferido. Eu não podia aguentar.
Como ele pôde? Por que ele precisava fazer isso? O que eu tinha feito de errado?
Respirei fundo, ainda encarando a tela do celular para que não os visse dançando. Eu precisava sair dali.
Forcei um sorriso nos lábios e voltei para os meus amigos, que me encaravam com pena. Cheguei ao meu limite.
— Preciso ir, pessoal. O trabalho chama. — Eu sorri e cumprimentei a todos, saindo dali humilhada. Minha amiga não me seguiu. Eu precisava de espaço. Eu precisava controlar toda a raiva.
2. Raiva: I was your ember, but now she's your shade of gold
As lágrimas que tanto lutei para conter agora escorriam livremente pelo meu rosto. As ruas passavam por mim em um borrão; eu só precisava chegar em casa.
Estacionei o carro de qualquer maneira e retirei as chaves da casa. Assim que entrei, joguei a bolsa longe e retirei o vestido. Eu sentia-me imunda. Todos aqueles olhares julgando-me, sentindo pena da mulher trocada por outra. Apenas com a roupa de baixo, retirei a maldita aliança e a lancei na parede.
Peguei um vaso que estava próximo e o joguei longe, apenas ouvindo o barulho do vidro estraçalhando-se no chão. As lágrimas ainda impediam-me de enxergar claramente, mas eu conseguia distinguir o porta-retratos. Um riso irônico saiu dos meus lábios.
— “Melhor dia”. — disse, com nojo, enquanto pegava a foto em minhas mãos. Vi uma lágrima pingar no vidro e também o arremessei. O barulho de tudo sendo destruído amenizava a dor que eu sentia por dentro.
Comecei a pegar tudo o que via pela frente e, simplesmente, joguei em qualquer direção. Eu não me importava com o que era, ou em que batia. Eu só queria acabar com tudo ali, eu só queria apagar todas as memórias. Eu queria que eu não tivesse ido à festa, eu queria não os ter visto dançando... Eu queria que ele não tivesse me deixado.
Um grito agonizante saiu do fundo da minha garganta e minhas pernas cederam, meus joelhos bateram com força no chão. E eu chorei. Chorei porque doía. Doía mais do que qualquer coisa que eu já havia sentido. E sentia-me um nada. Eu não valia nada para ele, porque agora ele a tinha.
Fechei meus olhos, ainda jogada no chão. O sorriso. O sorriso dele para ela. Seus toques no corpo dela. Seus carinhos, seus olhares, seu cheiro. Tudo dela. Deus sabia que eu tentei sentir-me feliz por ele, eu tentei com todas as forças que ainda me restavam.
Deitei-me no chão, sentindo alguns pedaços de vidro na minha pele, mas eu não conseguia importar-me. A dor dentro do meu peito era absurda demais para que qualquer dor física a superasse. Para ser bem sincera, era até reconfortante, de certa forma. Pelo menos isso provava que eu ainda era capaz de sentir alguma coisa.
Acordei no dia seguinte completamente destruída, assim como a sala ao meu redor. Sentei-me com calma. Eu havia chorado até dormir. Encarei a bagunça, ainda sentindo vestígios da raiva dentro de mim.
Levantei-me e retirei os pedaços de vidro que estavam grudados na minha pele, um pouco de sangue seco estava espalhado pelo meu corpo. Subi diretamente para o quarto, retirando as peças de roupa íntima e entrando no banheiro. Liguei o chuveiro e coloquei-me debaixo dele, deixando que a água lavasse tudo aquilo que ela fosse capaz, pedindo aos céus para que toda a dor fosse junto.
Após incontáveis minutos, saí dali e vesti um conjunto moletom que estava sobre uma cadeira ali perto. Desci para a cozinha, ignorando tudo o que havia acontecido na noite anterior. Preparei um sanduíche e sentei na bancada da cozinha. A comida não descia com facilidade, mas forcei-me a comer, de qualquer forma.
Minha mente estava nublada, a única coisa que se passava por ela eram as ações necessárias para que eu comesse o sanduíche. Não me permiti pensar, não me permiti sentir. Eu estava cansada de sentir.
Ouvi um barulho de chaves na porta e senti meu corpo tencionar. Apenas ele tinha a chave. Soltei o sanduíche, que caiu de qualquer jeito sobre o prato. Isso não podia estar acontecendo. Foquei-me em respirar, apenas no ar que entrava e saía do meu corpo. Ouvi seus passos sobre os cacos de vidro na sala, e eu podia imaginar claramente sua feição de choque.
Mesmo sem olhar, eu senti sua presença. Eu tinha certeza de que ele estava na porta da cozinha, bem atrás de mim. Ele nada disse, muito menos eu. Calmamente, peguei o sanduíche no prato e dei uma mordida. Senti que ele deu um passo em minha direção. Apenas fechei os olhos, como se isso o fizesse ir para longe dali.
— Você está bem? — ele perguntou, depois do que pareceu uma eternidade. Terminei de mastigar e assenti, mesmo que ainda de costas para ele.
— Estou ótima. — respondi depois de um tempo, quando ele também nada falou.
— Eu... Eu achei que não estivesse em casa, só vim buscar as últimas coisas que faltavam. — ele disse, com pesar na voz.
— Sinta-se em casa. — falei, com um leve deboche na voz. Ouvi seu suspiro, mas não me virei. Seus passos distanciaram-se, retornando pelo mesmo caminho. Desliguei essa parte da minha mente e respirei fundo. Terminei de comer e levantei para lavar o prato. Aproveitei e lavei toda a louça que estava acumulada na pia.
Deixei um copo escorregar quando ouvi seus passos aproximando da cozinha novamente. Ele veio correndo, assustado, preocupado.
— Está tudo bem? — ele perguntou, sem fôlego pela corrida.
— EU JÁ DISSE QUE ESTOU ÓTIMA. — gritei em sua direção. — VOCÊ NÃO TEM O DIREITO DE SE PREOCUPAR! — As lágrimas voltaram a escorrer pelo meu rosto e ele encarava-me, assustado. — Só sai daqui. — eu disse, com a voz baixa.
— Eu sinto muito, eu...
— Por favor, não diz nada. — Eu permaneci chorando enquanto ele encarava-me.
— Eu nunca quis te magoar. — Eu virei-me de costas para ele, não aguentando suas palavras, a dor voltando com toda a força para o meu peito. — Eu não pude evitar, ela...
— Ela é melhor do que eu? Ela é mais bonita do que eu? Ela te satisfaz melhor na cama do que eu? O que você quer jogar na minha cara? O leque de opções é bem grande. Diz! Termina de vez com isso e some daqui! — disse, encostando-me na pia. Eu estava de pé, mas a cada segundo que passava mais uma parte de mim morria por dentro.
— Ela não é melhor do que você... Não existe comparação. — Eu ri, não conseguindo controlar a gargalhada, ainda que em meio às lágrimas.
— Tá certo. Pegou tudo o que precisava? — perguntei, querendo encerrar logo com aquilo.
— Eu...
— Eu não quero ouvir. Por que você não volta para ela e me deixa em paz?
— Por favor, eu só quero que você entenda...
— Por favor digo eu! — Virei-me de costas, apoiando minhas mãos na pia. Eu não queria chorar na frente dele, não queria mostrar-me fraca, não queria que ele visse o quanto estava machucando-me.
O silêncio, mais uma vez, instaurou-se entre nós, mas não estávamos dispostos a rompê-lo. A presença dele era mais do que eu podia suportar, toda a dor intensificava-se com ele ali. Eu sabia que sua intenção nunca foi machucar-me, mas em nada amenizava todo o sofrimento que eu estava sentindo.
Ao mesmo tempo que eu o queria longe, eu queria entender o porquê.
3. Negociação: Give me the truth, me and my heart will make it through
— Só me deixa explicar. — ele pediu, sua voz quebrando ao final.
— Explicar como se apaixonou pela sua colega no trabalho? Como não pensou duas vezes antes de me largar por ela? Como não me deu a chance de lutar por nós? O que exatamente você quer explicar? — rebati, ainda que não quisesse prolongar a discussão.
— Só aconteceu, eu nunca planejei nada disso. Nós fomos felizes, eu amei você. — Apoiei meu corpo na pia para que eu não caísse, suas palavras destruindo o pouco que ainda restava de mim.
— Diga. Diz logo a verdade, eu e meu coração vamos aguentar. Só diz de uma vez e vai embora, por favor.
— Eu a amo. Eu nunca me senti dessa forma. Eu sinto muito, de verdade, se pareceu que eu queria te humilhar ontem. Mas eu segui em frente, você deveria fazer o mesmo. — Eu ri, mais uma vez.
— Não sei se você reparou, mas você teve bastante tempo para se apaixonar e processar que tudo estava acabado entre nós. Eu soube de tudo há pouco tempo. Sinto muito se não consigo seguir em frente tão rápido assim. — Ele suspirou, pegando sua mala do chão.
— Eu desejo tudo de melhor para você. — Eu revirei os olhos.
— Eu queria poder dizer o mesmo, mas vou ficar apenas com adeus. — Ergui-me e o encarei pela primeira vez desde o dia do nosso divórcio. Olhei bem no fundo dos seus olhos, tirando minhas últimas forças para vê-lo partir.
— Adeus.
Assim que ele foi embora, senti um vazio apossar-se de mim. As esperanças que eu ainda tinha, mesmo que negasse estarem ali, foram destruídas de vez. A dor, antes agonizante, agora estava silenciosa. Ela estava entranhada em mim, agarrando-se em cada parte, como se nunca mais fosse deixar-me.
Após incontáveis minutos, saí da cozinha e segui em direção à sala. Comecei a recolher os cacos de vidro, as flores murchas, a foto amassada... Cada pedaço de uma vida que não voltaria. Concentrei-me em toda a bagunça, limpando tudo ao meu redor.
Saí para jogar o lixo no lado de fora da casa e deparei-me com um novo casal entrando na casa da frente, que estava para alugar já fazia algum tempo. O rapaz pegou a moça no colo. Ela passou os braços ao redor do seu pescoço, rindo em sua direção. Os olhares estavam conectados, e eu sabia que eles nem notavam o mundo ao seu redor. Eu sabia porque um dia eu já tinha sido aquela moça.
Balancei minha cabeça, afastando pensamentos que não ajudariam em nada. Respirei fundo e voltei para a casa. Encarei a sala, agora apenas com os móveis, e permiti que meus olhos percorressem cada ponto.
— Achei que fosse conseguir chegar para comemorarmos nosso aniversário. — disse, baixinho, ao telefone. Ele apenas suspirou, como se tivesse algo mais importante para fazer do que falar com a sua esposa. Como se tivesse alguém que merecesse mais a sua atenção.
— Eu sei, mas é que surgiu esse compromisso de última hora. — Ele abafou o microfone, falando com alguém. Uma lágrima escorreu pelo meu rosto. — Nós podemos comemorar amanhã. — Eu apenas assenti, mesmo sabendo que ele não poderia ver.
— Tudo bem. — Pausei, buscando minha voz. — Você ainda vai demorar? — perguntei, controlando o choro que estava prestes a intensificar-se.
— Sim, falta muito para eu acabar aqui. — Afastei o telefone do ouvido, fungando e abafando o soluço.
— Eu te vejo amanhã, então. — falei, com a voz quase inaudível.
— Eu sinto muito.
— Eu também.
Eu ainda podia enxergar-me sentada no sofá, com o telefone na mão. Eu podia ver as velas acesas espalhadas pela sala, eu podia ver a garrafa de vinho e as duas taças para que brindássemos mais um ano juntos.
Eu ainda podia sentir a dor.
O medo.
Limpei as novas lágrimas em meu rosto e segui em direção às escadas. Ao chegar ao quarto, notei as portas do guarda-roupa abertas, um leve sinal de que ele esteve ali, retirando tudo que ainda restava.
Encarei o vazio dentro das portas, os cabides que antes estavam cheios com suas roupas. Aproximei-me do móvel e passei a mão pela primeira porta, respirando fundo com a nova pontada em meu peito. Passei a mão pelos cabides, fazendo-os balançar. O barulho deles batendo um no outro levou a uma nova pontada. Abri a primeira gaveta, apenas para encarar mais vazio. Olhei para a outra porta e um ponto brilhante chamou minha atenção.
Duas alianças.
Minhas pernas cederam e eu caí de joelhos, encarando as duas peças de ouro brilhando em minha direção, como se jogassem na minha cara um passado que estava morto e enterrado. Sufoquei com tamanha dor, mal conseguindo respirar e controlar os soluços do choro incessante.
Por que ele tinha feito isso? Por que deixá-las ali? Por que ser tão cruel?
Peguei nossas alianças e as coloquei na palma da minha mão. Senti o metal queimar minha pele e as soltei, deixando com que caíssem no chão. O estalo que fez assim que tocaram o piso ecoou em meus ouvidos, fazendo com que a última parte do meu coração fosse despedaçada.
Agora, sim: nada mais restava.
Nem mesmo a dor.
4. Depressão: Maybe if I don't cry, I won't feel anymore
Eu estava... dormente.
Era como se eu não existisse mais dentro de mim, apenas o vazio estava ali. Eu não queria falar com ninguém, eu não queria fazer nada... Simplesmente porque nada mais realmente importava.
Peguei o telefone ao lado da cama e liguei para o trabalho, avisando que não estava sentindo-me bem. Acredito que minha voz estava ruim o suficiente, já que meu chefe deu-me o resto da semana de folga. Coloquei o telefone novamente no criado-mudo, retirando o fio que o mantinha ligado. Meu celular eu nem fazia ideia de onde estava.
Eu só queria... nada.
Permaneci deitada na cama, encarando o teto como se fosse a mais bela paisagem. Encolhi meu corpo debaixo das cobertas, respirando fundo e apreciando o frio cortante que atingia meu corpo. Eu sentia como se estivesse deitada sobre uma pedra de mármore, dura, fria.
Eu não chorei. Não tinha mais propósito, não tinha mais forças, não tinha, nem mesmo, vontade. Eu estava seca por dentro. Minha mente vagava pelos diferentes pontos do teto, mas nada parecia focar, nada parecia enxergar. Meus pensamentos eram embaçados, nada fazia sentido.
Nada importava. Eu não importava. Ele não importava. Ela, muito menos.
Tentei dormir, mas assim que meus olhos fechavam, imagens surgiam sob as pálpebras, tentando atingir qualquer ponto que ainda restava de mim. Eu havia perdido a noção de dia ou noite. Eu não conseguia ter noção de há quanto tempo estava deitada, nem mesmo se o dia já havia acabado. Em algum ponto, o cansaço venceu, e eu adormeci em meio a imagens que lutei tanto para esquecer.
Meu corpo estava dolorido. Eu sentia como se um trator tivesse passado a noite toda esmagando-me. Tentei espreguiçar-me, mas meu corpo não respondia aos meus comandos.
Abri os olhos calmamente, acostumando-me com a escuridão do quarto. Aos poucos, minha visão pôde enxergar as sombras dos móveis e todo o vazio do cômodo. Voltei meu olhar para o teto, como se um ímã estivesse ali, atraindo-me ainda mais para a escuridão.
Pude ouvir algumas batidas na porta lá debaixo, alguns gritos... Talvez isso que tenha me acordado. Uma parte de mim queria levantar e saber quem era, o que queria. Mas a outra, a mais forte, disse que ali estava confortável demais. Então eu fiquei ali, deitada. Aos poucos, o barulho foi perdendo as forças, até sumir completamente.
Quem quer que fosse desistiu. Mais uma pessoa para a lista de quem desistia de mim.
Será que eu era o problema? Será que a culpa era minha? Será que eu era tão desprezível que ninguém mais queria ficar perto de mim?
Balancei minha cabeça, mas logo me arrependi. A dor e a tontura foram intensas demais, deixando-me à beira de um desmaio. Fechei os olhos e respirei fundo, tentando fazer com que meu corpo voltasse a me responder. Após incontáveis minutos nos quais meu foco ficou apenas em minha respiração, eu voltei a abrir os olhos. A visão foi ficando mais clara, a cabeça mais limpa.
Forcei uma perna para fora da cama, em seguida a outra. Senti uma dor intensa no estômago, quase me impedindo de levantar. Passei meus braços pela minha barriga, como se esse simples gesto fosse levar a dor embora. Se eu não conseguia identificar que dia era hoje, muito menos quando havia feito minha última refeição.
Com calma, eu levantei da cama. Assim que me coloquei de pé, segui em direção ao banheiro. Os armários ali também estavam abertos e sem os produtos masculinos que eu conhecia tão bem.
Não permiti que minha mente problematizasse e, lentamente, retirei minhas roupas. Liguei o chuveiro, colocando na temperatura mais quente que meu corpo pudesse suportar. Assim que entrei, senti minha pele reclamar do choque térmico, mas, aos poucos, ela se acostumou. Encarei meu fraco reflexo na porta do box, assustando-me com a imagem que ele refletia de volta para mim.
Levei uma das minhas mãos à boca, assistindo, com horror, a mulher à minha frente repetindo o gesto. Não podia ser eu. O cabelo estava bagunçado, tão embolado que parecia que alguém o estava puxando para cima. Sob os olhos, duas bolsas escuras estavam instaladas, deixando bem claro que as últimas noites de sono não estavam fazendo o efeito esperado.
O corpo estava tão magro que os ossos estavam mais protuberantes do que nunca estiveram. Era possível contar cada um deles, marcados na pele seca de um corpo que já foi tão cuidado e curvilíneo. As pernas aparentavam fraqueza, além de cortes e machucados por toda sua extensão. Os joelhos estavam roxos, os cortes, ainda vermelhos.
Voltei a encarar o rosto. Um rosto que eu não era capaz de reconhecer.
Coloquei-me completamente sob a água forte e quente que saía do chuveiro. A água escorria pelo meu corpo e queimava; os cortes na perna, causados pelos cacos de vidro poucos dias atrás, ardiam. O cabelo começou a tampar a visão, grudando no rosto. Levantei a cabeça e deixei que a água lavasse minha face. Tomei um banho calmamente, tomando meu tempo para limpar de toda sujeira visível e também todas as feridas interiores.
Ainda com a mente nublada, saí do box. A fumaça estava presente em todo o banheiro, dificultando que enxergasse qualquer coisa. Vesti o roupão e enrolei uma toalha no cabelo. Passei minha mão no espelho para conseguir enxergar meu reflexo.
A mulher que vi mais cedo ainda tinha traços ali, mas agora eu conseguia enxergar uma pequena chama, uma pequena esperança de que a dor fosse embora, de que as coisas melhorassem.
Encarei um leve movimento nos lábios, como se um singelo sorriso quisesse aparecer ali, mas ele não veio. Ainda não era o momento. Deixei o banheiro e peguei um moletom no guarda-roupa. Após vesti-lo, sequei meu cabelo e o penteei.
A dor no meu estômago ainda estava intensa, então desci as escadas com cuidado e fui em direção à cozinha. Abri a geladeira e comecei a procurar qualquer coisa que estivesse em condições de ser comida. Peguei a caixa de leite e contive a ânsia de vômito com o cheiro forte do leite estragado.
Após jogar o conteúdo da caixa fora, segui para os armários. Encontrei uma caixa de leite fechada e uma de cereais. Logo peguei uma tigela e preparei um pouco, forçando-me a comer. Quando já estava quase no final, ouvi batidas fortes na porta.
— EU JURO QUE SE VOCÊ NÃO ABRIR, EU VOU CHAMAR A POLÍCIA E INVADIR! — minha amiga soava desesperada. Levantei com um pouco de dificuldade e segui em direção à porta. Assim que abri, minha amiga pulou em cima de mim, abraçando-me, aliviada. — Ainda bem que está viva. — Assim que me soltou, senti um tapa em meu braço. — Você quer me matar do coração? Posso saber por que não abriu a porra dessa porta nos últimos dois dias? — Arregalei meus olhos, assustada com essa nova informação.
— Que dia é hoje? — perguntei com a voz rouca e fraca.
— Sábado. — minha amiga disse, preocupada. — Você não saiu de casa desde quarta? Desde a festa? — ela questionou, incrédula. Apenas neguei com a cabeça, sentindo tudo rodar ao meu redor. Senti que minhas pernas cederiam a qualquer momento, então me apoiei no móvel mais próximo. Minha amiga ajudou-me a chegar até o sofá, nervosa com o meu estado.
— Eu estou...
— Eu juro que vou perder toda a minha paciência se ouvir a palavra “bem” sair da sua boca. — ela disse, interrompendo-me. — O que aconteceu? Por que sua casa está vazia e bagunçada desse jeito? — ela perguntou, percorrendo o lugar com os olhos.
— É uma longa história. — eu respondi.
— Nós temos tempo. — Minha amiga deitou minha cabeça em seu colo. — Pode começar. — Eu suspirei. Pela primeira vez, eu aceitei que não estava bem, mas agora eu sabia que iria ficar.
5. Aceitação: If happy is her, I'm happy for you
Aos poucos, a dor foi indo embora. À medida que os dias passavam, mais eu aceitava tudo o que tinha acontecido e entendia que minha vida não tinha acabado por conta daquilo. Muito pelo contrário: eu tinha aprendido a minha lição. Eu não precisava de um homem para me sentir bem comigo mesma, ela não era melhor do que eu, ele não era o último homem na face da Terra. Tantas coisas que algumas pessoas podem julgar tão óbvias, mas que precisei lutar muito para entender.
Muitos dizem que sofrer pelo término de um relacionamento é bobagem. Existem frases clássicas: ele é um idiota por ter trocado você; um dia ele vai se dar conta da mulher maravilhosa que perdeu; ele não era o cara certo; você vai encontrar alguém muito melhor do que ele... e por aí vai. As pessoas tentam de todas as formas colocar na sua mente que o que aconteceu foi a melhor coisa da sua vida e que a outra pessoa ainda vai se arrepender amargamente.
O que muitas não sabem é que em nada isso ameniza. A dor da perda continua ali. A saudade dos momentos a dois, dos sonhos, das risadas, das carícias, dos olhares... De cada pequeno detalhe. Tudo fica ali por muito tempo. No início, pode estar, sim, permeada por ódio e desejo de vingança. Mas com o passar do tempo você percebe que existiram momentos felizes. Você entende que até os momentos bons, um dia, chegam ao fim.
Isso não significa que sua vida acabou ou que perdeu o propósito. Significa apenas que uma nova jornada está começando e que precisa encontrar o seu lugar, ter um novo objetivo.
Eu vendi a casa. Eu não queria mais encarar todos aqueles cômodos cheios de lembranças, memórias que apenas traziam-me sofrimento. Com o dinheiro, comprei uma nova casa, em uma nova vizinhança, onde ninguém me conhecia ou sabia o que tinha acontecido. Eu teria o meu recomeço.
Nos primeiros dias, foi bastante difícil. Acostumar-me com uma nova casa, com uma nova cama que parecia grande demais só para mim, ao mesmo tempo em que era reconfortante poder andar pela rua sem os olhares de pena dos vizinhos.
Em um domingo qualquer, eu estava sentada em um café. Um lugar agradável e acolhedor. Eu apenas encarava as pessoas ao redor, conversando e se divertindo com os amigos. Até que ele apareceu. Meio sem jeito, sem saber como começar a falar.
— Você se importa se eu sentar aqui? — ele perguntou, receoso. Eu apenas sorri em sua direção, feliz por não me importar com sua presença.
— Claro, fique à vontade. — falei quando ele não entendeu que eu não iria atacá-lo ou algo do tipo. Após se sentar, ele encarou-me por um certo tempo. Eu apenas continuei tomando café, ainda olhando para as pessoas.
— Você está diferente. — ele disse. Dei de ombros, não sentindo necessidade de comentar. — Soube que vendeu a casa. — ele continuou. Claro que sabia, enviei o cheque com a metade do valor, mas ele devolveu.
— Sim, quis mudar os ares. — falei, colocando a xícara sobre a mesa e fazendo sinal para que a garçonete trouxesse outra.
— Você parece bem. — Eu sorri para ele, retirando os óculos escuros para que pudesse encarar fundo em seus olhos.
— Eu estou ótima. — Ele recuou, quase como que intimidado.
— Fico feliz por você ter seguido em frente. — Continuei sorrindo e agradeci quando uma nova xícara de café foi colocada a minha frente. — Uhm...
— Por que você não me diz de uma vez o que quer? — eu disse tranquilamente, sem ressentimentos. Ele pigarreou, tomando coragem para começar a falar.
— Eu vou me mudar do estado. — Encarei o céu. Estava limpo, o sol brilhava forte, ainda que o clima estivesse frio. Fechei meus olhos e esperei que as pontadas de dor viessem. Esperei que eu desmoronasse, que meu coração, recentemente colado, fosse se quebrar mais uma vez. Mas a dor não veio, muito pelo contrário: alívio. Voltei meu olhar para ele, que me encarava, esperando por alguma reação da minha parte.
— Mudanças fazem bem. Eu estou muito feliz com a nova casa, a nova vizinhança. Vai te fazer bem também! Espero que sejam muito felizes, para onde quer que vão. — disse, com toda a sinceridade que existia em mim. Seu olhar assustado não conseguia desviar de mim, como se a qualquer momento eu fosse desmoronar.
— Ela conseguiu uma promoção e achamos melhor nos mudarmos, começar em outro lugar... Sem tanta bagagem. — Ele parecia pesar cada palavra antes de dizer.
— Sem dúvidas. O passado é passado, certo? — Bebi mais um gole do café, orgulhosa por estar mantendo uma conversa saudável, mas, principalmente, por ainda estar inteira.
— Acho melhor eu ir. — Eu assenti, mas antes que ele se levantasse, eu disse:
— Se a felicidade é ela, eu estou feliz por você. — Ele apenas sorriu fraco e acenou, virando as costas e indo embora. Respirei fundo e permaneci sentada, esperando que qualquer sentimento ruim surgisse dentro de mim, mas não. Eu realmente quis dizer aquilo. Por mais difícil de acreditar que fosse, era a verdade.
Aquela, sem dúvidas, foi uma das conversas mais estranhas que já tive na vida, mas uma das mais importantes, também. Foi o fechamento. O final de uma etapa da minha vida que tinha ficado para trás. As brigas, as dores, o sofrimento... Tudo apenas fez-me mais forte e mais consciente de mim.
Alguns meses depois, eu encontrava-me sentada naquele mesmo café. Dessa vez, uma pessoa também perguntou se poderia se sentar. Um sorriso tímido surgiu em meus lábios, assentindo. Ele sentou e se apresentou. Ele disse que eu era linda. Disse que existia alguma coisa em mim que resplandecia. Eu apenas agradeci, sentindo os batimentos do meu coração acelerarem.
Quando você conhece alguém, é difícil conter o pensamento: será que vai dar certo? Não é muito algo que você consiga conter, a mente da gente vive pregando essas peças, rodeando nosso coração, assombrando nossa mente. Criando expectativas, construindo castelos e escrevendo contos de fadas.
Quando passa a fase de conhecer um ao outro e um compromisso é estabelecido, muitos acham que o ato de sonhar com o futuro passou. Quando dão por si, percebem que é exatamente o contrário. Os contos de fadas ganham formas. Eles são tingidos por branco e moldados para que seja o dia perfeito. Cada pequeno detalhe importa. As flores, o lugar, os amigos, a família... O tão sonhado e desejado vestido. O véu, a grinalda.
Quando você diz o “sim”, é como se o seu mundo assentasse. Há uma nova força que te prende à Terra, a gravidade passa a ficar em segundo plano. O que eram apenas sonhos começam a ser colocados em prática. As buscas, a adrenalina, a contagem regressiva. Todos os caminhos percorridos são para chegar a um fim específico: o melhor dia.
E então, mais uma vez, a palavra “sim” sai da sua boca. Nesse momento, vivendo o conto de fadas, enxergando os sonhos tornando-se reais, seu coração deixa de bater sozinho. Como um só, dois corações seguem um ritmo forte, intenso. O que fora apenas um encontro agora era a realidade de uma vida.
Os sonhos, entretanto, não acabaram. Se você pensou em ter filhos um dia, esse é o momento em que tudo toma grandes proporções. O desejo de ter uma família, o desejo de ser feliz com o outro. O desejo de ver seu amor gerando outras vidas. O desejo de construir uma vida juntos.
Você deseja muitas coisas.
Menos que tudo acabe.
Mas, talvez, o fim não seja para sempre.
Talvez o fim indique apenas a necessidade de um recomeço.
Talvez você precise se perder para encontrar a si mesma.
Talvez os melhores dias ainda estejam por vir.
Talvez os antigos sonhos precisem ser reformulados.
Talvez seu coração encontre um novo alguém. Talvez não.
Talvez você só precise viver. E ser feliz.
E deixar para se preocupar com o talvez um dia de cada vez.
Quando passa a fase de conhecer um ao outro e um compromisso é estabelecido, muitos acham que o ato de sonhar com o futuro passou. Quando dão por si, percebem que é exatamente o contrário. Os contos de fadas ganham formas. Eles são tingidos por branco e moldados para que seja o dia perfeito. Cada pequeno detalhe importa. As flores, o lugar, os amigos, a família... O tão sonhado e desejado vestido. O véu, a grinalda.
Quando você diz o “sim”, é como se o seu mundo assentasse. Há uma nova força que te prende à Terra, a gravidade passa a ficar em segundo plano. O que eram apenas sonhos começam a ser colocados em prática. As buscas, a adrenalina, a contagem regressiva. Todos os caminhos percorridos são para chegar a um fim específico: o melhor dia.
E então, mais uma vez, a palavra “sim” sai da sua boca. Nesse momento, vivendo o conto de fadas, enxergando os sonhos tornando-se reais, seu coração deixa de bater sozinho. Como um só, dois corações seguem um ritmo forte, intenso. O que fora apenas um encontro, agora era a realidade de uma vida.
Os sonhos, entretanto, não acabaram. Se você pensou em ter filhos um dia, esse é o momento em que tudo toma grandes proporções. O desejo de ter uma família, o desejo de ser feliz com o outro. O desejo de ver seu amor gerando outras vidas. O desejo de construir uma vida juntos.
Você deseja muitas coisas.
Menos que tudo acabe.
— Você tem certeza que vai a essa festa? — minha amiga perguntou, preocupada, enquanto eu dobrava as roupas que havia recolhido do varal.
— Claro, eu estou ótima! — disse e sorri em sua direção.
— Você sabe que ele vai estar lá, certo? — Permaneci com o sorriso nos lábios.
— Sim, eu sei.
— Ele vai com ela. — Ainda sorrindo, eu assenti.
— Eu também sei disso.
— É a primeira festa que vocês vão após o divórcio, tem certeza...
— Eu já disse que estou ótima. Eu estou feliz por ele. — Meu coração ensaiou uma pontada, mas balancei a cabeça e impedi o pensamento. Eu estava bem. Eu estava ótima.
— Por que você não para de negar e continua insistindo que está tudo bem? Você ainda está usando a aliança! — Nervosa, minha amiga apontou para a minha mão esquerda, na qual a aliança dourada brilhava. Respirei fundo e parei o que estava fazendo, virando-me em sua direção.
— Eu apenas esqueci. — Ela negou com a cabeça, um sorriso triste estava em seus lábios.
— Você sabe que eu sempre estarei aqui pra você, né? — Mais uma vez, sorri para ela.
— Eu estou bem, não precisa se preocupar. Nossos amigos estarão lá, mal vou vê-lo. — Ela encarou o nada, como se ponderasse suas próximas palavras.
— Vocês ficaram casados por anos, sabe que os seus amigos também são os amigos dele, certo? — Eu revirei os olhos.
— O que, exatamente, você está querendo me dizer? Porque eu já sei de tudo isso o que você está falando. Eu já sei que o meu casamento acabou, já sei que ele me trocou por outra e que vai estar com ela nessa festa. Eu já sei.
— E você está bem com isso?
— Estou ótima. — Minha amiga bufou, virando as costas e seguindo em direção à porta.
— Nos vemos lá. — ela disse e bateu a porta.
Encarei meu reflexo no espelho. O vestido preto ajustava-se bem ao meu corpo, destacando as curvas e fazendo-me sentir bem comigo mesma. Assim que tive a certeza de que estava pronta e preparada para ir, vi, de relance, um brilho no espelho.
Eu ainda não tinha tirado a aliança.
Minha respiração falhou e meu peito apertou de tal maneira que precisei apoiar-me na cama. Sentei-me e coloquei minhas mãos sobre as pernas. Encarei a aliança, buscando em minha mente os motivos por ainda não a ter retirado.
Eu sabia que nosso casamento tinha acabado. Eu sabia que não tinha mais volta. Eu sabia que ele estava com outra. Eu sabia que ele tinha me trocado por essa outra.
Eu não tinha esperanças.
Levantei meu olhar e encarei o nada. Acalmei minha respiração e as batidas do meu coração. O aperto diminuiu, mas apenas agora me dei conta que fazia muito tempo que ele estava ali.
Despertei dos meus devaneios com o som do toque do meu celular. Tinham três chamadas perdidas da minha amiga.
— Oi! — eu disse.
— Você está bem? Por que não me atendeu antes? — Balancei a cabeça e levantei da cama, seguindo para fora do quarto.
— Eu estava terminando de me arrumar, mas já estou indo.
— Vou te esperar na porta. — ela falou, receosa.
— Não precisa, eu já disse...
— Que está bem, eu sei. Até daqui a pouco. — Desliguei o celular e peguei as chaves do carro sobre a mesa no centro da sala. Por um momento, meus olhos captaram a imagem no porta-retratos, mas não permiti que isso me tomasse mais tempo.
Dirigi com calma até o local da festa de aniversário de uma amiga. Da nossa amiga. Estacionei o carro e meus olhos logo encontraram o dele. Eu não o via desde o dia que assinamos os papéis do divórcio, há duas semanas. Meu coração, mais uma vez, apertou. Senti como se algo estivesse preso em minha garganta, impedindo-me de respirar. Encarei meu olhar no espelho retrovisor e notei o desespero. Um brilho que eu fazia tanto esforço para conter. Fechei os olhos com força e coloquei um sorriso nos lábios.
— Eu estou bem. Vai ficar tudo bem. A casa é grande. Eu estou bem. — disse baixinho para mim mesma. Eu soava patética, mas isso me acalmou um pouco. Respirei fundo e abri a porta do carro. Tranquei-o e segui em direção à casa. Minha amiga, como prometido, estava lá, esperando-me.
— Eu sei, não precisava. Mas eu queria. — ela disse assim que eu estava perto o suficiente para ouvi-la.
— Eu já vi o carro dele. — Minha amiga desviou o olhar. Ela parecia querer fugir dali e levar-me junto.
— Você tem certeza? — ela perguntou, pela última vez.
— Sim. — eu respondi, ainda que um eco na minha cabeça gritasse não.
Seguimos para dentro da casa e um silêncio instaurou-se entre nossos amigos assim que me viram. Eu sorri para todos eles, impedindo que meu olhar focasse nele, ainda que minha visão periférica já o tivesse localizado.
— Que bom que você chegou! — um de nossos amigos disse, tentando quebrar o clima incômodo.
— Claro, não perderia por nada! — Abracei a todos, menos ele. Eu ainda não estava preparada para o contato. Eu ainda não poderia vê-lo... com ela. Mantive o sorriso no rosto, mas tive a sensação de alguém estar encarando-me. Assim que levantei o olhar, notei que ele encarava minha mão esquerda. Fechei os olhos assim que me dei conta: a aliança. Escondi minha mão e segui em direção à cozinha a passos rápidos.
Peguei uma taça com água em uma das bandejas que estavam ali. Tomei em um único gole o seu conteúdo, tentando voltar a respirar normalmente. Eu sentia minhas pernas bambas, meu corpo, de repente, pesado demais para eu aguentar. Encarei minha mão novamente: por quê?
Senti uma mão em meus ombros, e minha amiga encarava-me com pesar. Forcei um sorriso para ela, que bufou.
— Não fala nada, não aguento mais ouvir que está bem. — ela disse e aproximou-se mais de mim. — Olha pra mim. — Ela pediu. Encarei seus olhos, sentindo os meus lacrimejarem. Prendi o choro. Eu não iria chorar, não ali.
— Vamos voltar. Já estou melhor. — eu falei, ainda que não tivesse certeza. Assim que voltamos para a sala, meu olhar foi atraído para a pista de dança. Ele estava dançando. Ele estava dançando com ela. Não pude conter as pontadas no meu coração, eu sentia como se pudesse desmaiar a qualquer momento. A dor era lancinante, como se várias facas estivessem sendo enfiadas em meu peito.
Apesar da música alta, eu podia ouvir o som da sua risada. Seu sorriso, que um dia já foi para mim, agora era dela. Seus olhos brilhavam em sua direção, como se ela fosse o seu bem mais precioso. Senti um aperto em minha mão, mas logo soltei. Peguei o celular em minha bolsa e o encarei. Meu dedo mexia sem parar, mas sem um propósito. Meus olhos estavam focados na tela, como se ali estivesse passando meu filme preferido. Eu não podia aguentar.
Como ele pôde? Por que ele precisava fazer isso? O que eu tinha feito de errado?
Respirei fundo, ainda encarando a tela do celular para que não os visse dançando. Eu precisava sair dali.
Forcei um sorriso nos lábios e voltei para os meus amigos, que me encaravam com pena. Cheguei ao meu limite.
— Preciso ir, pessoal. O trabalho chama. — Eu sorri e cumprimentei a todos, saindo dali humilhada. Minha amiga não me seguiu. Eu precisava de espaço. Eu precisava controlar toda a raiva.
As lágrimas que tanto lutei para conter agora escorriam livremente pelo meu rosto. As ruas passavam por mim em um borrão; eu só precisava chegar em casa.
Estacionei o carro de qualquer maneira e retirei as chaves da casa. Assim que entrei, joguei a bolsa longe e retirei o vestido. Eu sentia-me imunda. Todos aqueles olhares julgando-me, sentindo pena da mulher trocada por outra. Apenas com a roupa de baixo, retirei a maldita aliança e a lancei na parede.
Peguei um vaso que estava próximo e o joguei longe, apenas ouvindo o barulho do vidro estraçalhando-se no chão. As lágrimas ainda impediam-me de enxergar claramente, mas eu conseguia distinguir o porta-retratos. Um riso irônico saiu dos meus lábios.
— “Melhor dia”. — disse, com nojo, enquanto pegava a foto em minhas mãos. Vi uma lágrima pingar no vidro e também o arremessei. O barulho de tudo sendo destruído amenizava a dor que eu sentia por dentro.
Comecei a pegar tudo o que via pela frente e, simplesmente, joguei em qualquer direção. Eu não me importava com o que era, ou em que batia. Eu só queria acabar com tudo ali, eu só queria apagar todas as memórias. Eu queria que eu não tivesse ido à festa, eu queria não os ter visto dançando... Eu queria que ele não tivesse me deixado.
Um grito agonizante saiu do fundo da minha garganta e minhas pernas cederam, meus joelhos bateram com força no chão. E eu chorei. Chorei porque doía. Doía mais do que qualquer coisa que eu já havia sentido. E sentia-me um nada. Eu não valia nada para ele, porque agora ele a tinha.
Fechei meus olhos, ainda jogada no chão. O sorriso. O sorriso dele para ela. Seus toques no corpo dela. Seus carinhos, seus olhares, seu cheiro. Tudo dela. Deus sabia que eu tentei sentir-me feliz por ele, eu tentei com todas as forças que ainda me restavam.
Deitei-me no chão, sentindo alguns pedaços de vidro na minha pele, mas eu não conseguia importar-me. A dor dentro do meu peito era absurda demais para que qualquer dor física a superasse. Para ser bem sincera, era até reconfortante, de certa forma. Pelo menos isso provava que eu ainda era capaz de sentir alguma coisa.
Acordei no dia seguinte completamente destruída, assim como a sala ao meu redor. Sentei-me com calma. Eu havia chorado até dormir. Encarei a bagunça, ainda sentindo vestígios da raiva dentro de mim.
Levantei-me e retirei os pedaços de vidro que estavam grudados na minha pele, um pouco de sangue seco estava espalhado pelo meu corpo. Subi diretamente para o quarto, retirando as peças de roupa íntima e entrando no banheiro. Liguei o chuveiro e coloquei-me debaixo dele, deixando que a água lavasse tudo aquilo que ela fosse capaz, pedindo aos céus para que toda a dor fosse junto.
Após incontáveis minutos, saí dali e vesti um conjunto moletom que estava sobre uma cadeira ali perto. Desci para a cozinha, ignorando tudo o que havia acontecido na noite anterior. Preparei um sanduíche e sentei na bancada da cozinha. A comida não descia com facilidade, mas forcei-me a comer, de qualquer forma.
Minha mente estava nublada, a única coisa que se passava por ela eram as ações necessárias para que eu comesse o sanduíche. Não me permiti pensar, não me permiti sentir. Eu estava cansada de sentir.
Ouvi um barulho de chaves na porta e senti meu corpo tencionar. Apenas ele tinha a chave. Soltei o sanduíche, que caiu de qualquer jeito sobre o prato. Isso não podia estar acontecendo. Foquei-me em respirar, apenas no ar que entrava e saía do meu corpo. Ouvi seus passos sobre os cacos de vidro na sala, e eu podia imaginar claramente sua feição de choque.
Mesmo sem olhar, eu senti sua presença. Eu tinha certeza de que ele estava na porta da cozinha, bem atrás de mim. Ele nada disse, muito menos eu. Calmamente, peguei o sanduíche no prato e dei uma mordida. Senti que ele deu um passo em minha direção. Apenas fechei os olhos, como se isso o fizesse ir para longe dali.
— Você está bem? — ele perguntou, depois do que pareceu uma eternidade. Terminei de mastigar e assenti, mesmo que ainda de costas para ele.
— Estou ótima. — respondi depois de um tempo, quando ele também nada falou.
— Eu... Eu achei que não estivesse em casa, só vim buscar as últimas coisas que faltavam. — ele disse, com pesar na voz.
— Sinta-se em casa. — falei, com um leve deboche na voz. Ouvi seu suspiro, mas não me virei. Seus passos distanciaram-se, retornando pelo mesmo caminho. Desliguei essa parte da minha mente e respirei fundo. Terminei de comer e levantei para lavar o prato. Aproveitei e lavei toda a louça que estava acumulada na pia.
Deixei um copo escorregar quando ouvi seus passos aproximando da cozinha novamente. Ele veio correndo, assustado, preocupado.
— Está tudo bem? — ele perguntou, sem fôlego pela corrida.
— EU JÁ DISSE QUE ESTOU ÓTIMA. — gritei em sua direção. — VOCÊ NÃO TEM O DIREITO DE SE PREOCUPAR! — As lágrimas voltaram a escorrer pelo meu rosto e ele encarava-me, assustado. — Só sai daqui. — eu disse, com a voz baixa.
— Eu sinto muito, eu...
— Por favor, não diz nada. — Eu permaneci chorando enquanto ele encarava-me.
— Eu nunca quis te magoar. — Eu virei-me de costas para ele, não aguentando suas palavras, a dor voltando com toda a força para o meu peito. — Eu não pude evitar, ela...
— Ela é melhor do que eu? Ela é mais bonita do que eu? Ela te satisfaz melhor na cama do que eu? O que você quer jogar na minha cara? O leque de opções é bem grande. Diz! Termina de vez com isso e some daqui! — disse, encostando-me na pia. Eu estava de pé, mas a cada segundo que passava mais uma parte de mim morria por dentro.
— Ela não é melhor do que você... Não existe comparação. — Eu ri, não conseguindo controlar a gargalhada, ainda que em meio às lágrimas.
— Tá certo. Pegou tudo o que precisava? — perguntei, querendo encerrar logo com aquilo.
— Eu...
— Eu não quero ouvir. Por que você não volta para ela e me deixa em paz?
— Por favor, eu só quero que você entenda...
— Por favor digo eu! — Virei-me de costas, apoiando minhas mãos na pia. Eu não queria chorar na frente dele, não queria mostrar-me fraca, não queria que ele visse o quanto estava machucando-me.
O silêncio, mais uma vez, instaurou-se entre nós, mas não estávamos dispostos a rompê-lo. A presença dele era mais do que eu podia suportar, toda a dor intensificava-se com ele ali. Eu sabia que sua intenção nunca foi machucar-me, mas em nada amenizava todo o sofrimento que eu estava sentindo.
Ao mesmo tempo que eu o queria longe, eu queria entender o porquê.
— Só me deixa explicar. — ele pediu, sua voz quebrando ao final.
— Explicar como se apaixonou pela sua colega no trabalho? Como não pensou duas vezes antes de me largar por ela? Como não me deu a chance de lutar por nós? O que exatamente você quer explicar? — rebati, ainda que não quisesse prolongar a discussão.
— Só aconteceu, eu nunca planejei nada disso. Nós fomos felizes, eu amei você. — Apoiei meu corpo na pia para que eu não caísse, suas palavras destruindo o pouco que ainda restava de mim.
— Diga. Diz logo a verdade, eu e meu coração vamos aguentar. Só diz de uma vez e vai embora, por favor.
— Eu a amo. Eu nunca me senti dessa forma. Eu sinto muito, de verdade, se pareceu que eu queria te humilhar ontem. Mas eu segui em frente, você deveria fazer o mesmo. — Eu ri, mais uma vez.
— Não sei se você reparou, mas você teve bastante tempo para se apaixonar e processar que tudo estava acabado entre nós. Eu soube de tudo há pouco tempo. Sinto muito se não consigo seguir em frente tão rápido assim. — Ele suspirou, pegando sua mala do chão.
— Eu desejo tudo de melhor para você. — Eu revirei os olhos.
— Eu queria poder dizer o mesmo, mas vou ficar apenas com adeus. — Ergui-me e o encarei pela primeira vez desde o dia do nosso divórcio. Olhei bem no fundo dos seus olhos, tirando minhas últimas forças para vê-lo partir.
— Adeus.
Assim que ele foi embora, senti um vazio apossar-se de mim. As esperanças que eu ainda tinha, mesmo que negasse estarem ali, foram destruídas de vez. A dor, antes agonizante, agora estava silenciosa. Ela estava entranhada em mim, agarrando-se em cada parte, como se nunca mais fosse deixar-me.
Após incontáveis minutos, saí da cozinha e segui em direção à sala. Comecei a recolher os cacos de vidro, as flores murchas, a foto amassada... Cada pedaço de uma vida que não voltaria. Concentrei-me em toda a bagunça, limpando tudo ao meu redor.
Saí para jogar o lixo no lado de fora da casa e deparei-me com um novo casal entrando na casa da frente, que estava para alugar já fazia algum tempo. O rapaz pegou a moça no colo. Ela passou os braços ao redor do seu pescoço, rindo em sua direção. Os olhares estavam conectados, e eu sabia que eles nem notavam o mundo ao seu redor. Eu sabia porque um dia eu já tinha sido aquela moça.
Balancei minha cabeça, afastando pensamentos que não ajudariam em nada. Respirei fundo e voltei para a casa. Encarei a sala, agora apenas com os móveis, e permiti que meus olhos percorressem cada ponto.
— Achei que fosse conseguir chegar para comemorarmos nosso aniversário. — disse, baixinho, ao telefone. Ele apenas suspirou, como se tivesse algo mais importante para fazer do que falar com a sua esposa. Como se tivesse alguém que merecesse mais a sua atenção.
— Eu sei, mas é que surgiu esse compromisso de última hora. — Ele abafou o microfone, falando com alguém. Uma lágrima escorreu pelo meu rosto. — Nós podemos comemorar amanhã. — Eu apenas assenti, mesmo sabendo que ele não poderia ver.
— Tudo bem. — Pausei, buscando minha voz. — Você ainda vai demorar? — perguntei, controlando o choro que estava prestes a intensificar-se.
— Sim, falta muito para eu acabar aqui. — Afastei o telefone do ouvido, fungando e abafando o soluço.
— Eu te vejo amanhã, então. — falei, com a voz quase inaudível.
— Eu sinto muito.
— Eu também.
Eu ainda podia enxergar-me sentada no sofá, com o telefone na mão. Eu podia ver as velas acesas espalhadas pela sala, eu podia ver a garrafa de vinho e as duas taças para que brindássemos mais um ano juntos.
Eu ainda podia sentir a dor.
O medo.
Limpei as novas lágrimas em meu rosto e segui em direção às escadas. Ao chegar ao quarto, notei as portas do guarda-roupa abertas, um leve sinal de que ele esteve ali, retirando tudo que ainda restava.
Encarei o vazio dentro das portas, os cabides que antes estavam cheios com suas roupas. Aproximei-me do móvel e passei a mão pela primeira porta, respirando fundo com a nova pontada em meu peito. Passei a mão pelos cabides, fazendo-os balançar. O barulho deles batendo um no outro levou a uma nova pontada. Abri a primeira gaveta, apenas para encarar mais vazio. Olhei para a outra porta e um ponto brilhante chamou minha atenção.
Duas alianças.
Minhas pernas cederam e eu caí de joelhos, encarando as duas peças de ouro brilhando em minha direção, como se jogassem na minha cara um passado que estava morto e enterrado. Sufoquei com tamanha dor, mal conseguindo respirar e controlar os soluços do choro incessante.
Por que ele tinha feito isso? Por que deixá-las ali? Por que ser tão cruel?
Peguei nossas alianças e as coloquei na palma da minha mão. Senti o metal queimar minha pele e as soltei, deixando com que caíssem no chão. O estalo que fez assim que tocaram o piso ecoou em meus ouvidos, fazendo com que a última parte do meu coração fosse despedaçada.
Agora, sim: nada mais restava.
Nem mesmo a dor.
Eu estava... dormente.
Era como se eu não existisse mais dentro de mim, apenas o vazio estava ali. Eu não queria falar com ninguém, eu não queria fazer nada... Simplesmente porque nada mais realmente importava.
Peguei o telefone ao lado da cama e liguei para o trabalho, avisando que não estava sentindo-me bem. Acredito que minha voz estava ruim o suficiente, já que meu chefe deu-me o resto da semana de folga. Coloquei o telefone novamente no criado-mudo, retirando o fio que o mantinha ligado. Meu celular eu nem fazia ideia de onde estava.
Eu só queria... nada.
Permaneci deitada na cama, encarando o teto como se fosse a mais bela paisagem. Encolhi meu corpo debaixo das cobertas, respirando fundo e apreciando o frio cortante que atingia meu corpo. Eu sentia como se estivesse deitada sobre uma pedra de mármore, dura, fria.
Eu não chorei. Não tinha mais propósito, não tinha mais forças, não tinha, nem mesmo, vontade. Eu estava seca por dentro. Minha mente vagava pelos diferentes pontos do teto, mas nada parecia focar, nada parecia enxergar. Meus pensamentos eram embaçados, nada fazia sentido.
Nada importava. Eu não importava. Ele não importava. Ela, muito menos.
Tentei dormir, mas assim que meus olhos fechavam, imagens surgiam sob as pálpebras, tentando atingir qualquer ponto que ainda restava de mim. Eu havia perdido a noção de dia ou noite. Eu não conseguia ter noção de há quanto tempo estava deitada, nem mesmo se o dia já havia acabado. Em algum ponto, o cansaço venceu, e eu adormeci em meio a imagens que lutei tanto para esquecer.
Meu corpo estava dolorido. Eu sentia como se um trator tivesse passado a noite toda esmagando-me. Tentei espreguiçar-me, mas meu corpo não respondia aos meus comandos.
Abri os olhos calmamente, acostumando-me com a escuridão do quarto. Aos poucos, minha visão pôde enxergar as sombras dos móveis e todo o vazio do cômodo. Voltei meu olhar para o teto, como se um ímã estivesse ali, atraindo-me ainda mais para a escuridão.
Pude ouvir algumas batidas na porta lá debaixo, alguns gritos... Talvez isso que tenha me acordado. Uma parte de mim queria levantar e saber quem era, o que queria. Mas a outra, a mais forte, disse que ali estava confortável demais. Então eu fiquei ali, deitada. Aos poucos, o barulho foi perdendo as forças, até sumir completamente.
Quem quer que fosse desistiu. Mais uma pessoa para a lista de quem desistia de mim.
Será que eu era o problema? Será que a culpa era minha? Será que eu era tão desprezível que ninguém mais queria ficar perto de mim?
Balancei minha cabeça, mas logo me arrependi. A dor e a tontura foram intensas demais, deixando-me à beira de um desmaio. Fechei os olhos e respirei fundo, tentando fazer com que meu corpo voltasse a me responder. Após incontáveis minutos nos quais meu foco ficou apenas em minha respiração, eu voltei a abrir os olhos. A visão foi ficando mais clara, a cabeça mais limpa.
Forcei uma perna para fora da cama, em seguida a outra. Senti uma dor intensa no estômago, quase me impedindo de levantar. Passei meus braços pela minha barriga, como se esse simples gesto fosse levar a dor embora. Se eu não conseguia identificar que dia era hoje, muito menos quando havia feito minha última refeição.
Com calma, eu levantei da cama. Assim que me coloquei de pé, segui em direção ao banheiro. Os armários ali também estavam abertos e sem os produtos masculinos que eu conhecia tão bem.
Não permiti que minha mente problematizasse e, lentamente, retirei minhas roupas. Liguei o chuveiro, colocando na temperatura mais quente que meu corpo pudesse suportar. Assim que entrei, senti minha pele reclamar do choque térmico, mas, aos poucos, ela se acostumou. Encarei meu fraco reflexo na porta do box, assustando-me com a imagem que ele refletia de volta para mim.
Levei uma das minhas mãos à boca, assistindo, com horror, a mulher à minha frente repetindo o gesto. Não podia ser eu. O cabelo estava bagunçado, tão embolado que parecia que alguém o estava puxando para cima. Sob os olhos, duas bolsas escuras estavam instaladas, deixando bem claro que as últimas noites de sono não estavam fazendo o efeito esperado.
O corpo estava tão magro que os ossos estavam mais protuberantes do que nunca estiveram. Era possível contar cada um deles, marcados na pele seca de um corpo que já foi tão cuidado e curvilíneo. As pernas aparentavam fraqueza, além de cortes e machucados por toda sua extensão. Os joelhos estavam roxos, os cortes, ainda vermelhos.
Voltei a encarar o rosto. Um rosto que eu não era capaz de reconhecer.
Coloquei-me completamente sob a água forte e quente que saía do chuveiro. A água escorria pelo meu corpo e queimava; os cortes na perna, causados pelos cacos de vidro poucos dias atrás, ardiam. O cabelo começou a tampar a visão, grudando no rosto. Levantei a cabeça e deixei que a água lavasse minha face. Tomei um banho calmamente, tomando meu tempo para limpar de toda sujeira visível e também todas as feridas interiores.
Ainda com a mente nublada, saí do box. A fumaça estava presente em todo o banheiro, dificultando que enxergasse qualquer coisa. Vesti o roupão e enrolei uma toalha no cabelo. Passei minha mão no espelho para conseguir enxergar meu reflexo.
A mulher que vi mais cedo ainda tinha traços ali, mas agora eu conseguia enxergar uma pequena chama, uma pequena esperança de que a dor fosse embora, de que as coisas melhorassem.
Encarei um leve movimento nos lábios, como se um singelo sorriso quisesse aparecer ali, mas ele não veio. Ainda não era o momento. Deixei o banheiro e peguei um moletom no guarda-roupa. Após vesti-lo, sequei meu cabelo e o penteei.
A dor no meu estômago ainda estava intensa, então desci as escadas com cuidado e fui em direção à cozinha. Abri a geladeira e comecei a procurar qualquer coisa que estivesse em condições de ser comida. Peguei a caixa de leite e contive a ânsia de vômito com o cheiro forte do leite estragado.
Após jogar o conteúdo da caixa fora, segui para os armários. Encontrei uma caixa de leite fechada e uma de cereais. Logo peguei uma tigela e preparei um pouco, forçando-me a comer. Quando já estava quase no final, ouvi batidas fortes na porta.
— EU JURO QUE SE VOCÊ NÃO ABRIR, EU VOU CHAMAR A POLÍCIA E INVADIR! — minha amiga soava desesperada. Levantei com um pouco de dificuldade e segui em direção à porta. Assim que abri, minha amiga pulou em cima de mim, abraçando-me, aliviada. — Ainda bem que está viva. — Assim que me soltou, senti um tapa em meu braço. — Você quer me matar do coração? Posso saber por que não abriu a porra dessa porta nos últimos dois dias? — Arregalei meus olhos, assustada com essa nova informação.
— Que dia é hoje? — perguntei com a voz rouca e fraca.
— Sábado. — minha amiga disse, preocupada. — Você não saiu de casa desde quarta? Desde a festa? — ela questionou, incrédula. Apenas neguei com a cabeça, sentindo tudo rodar ao meu redor. Senti que minhas pernas cederiam a qualquer momento, então me apoiei no móvel mais próximo. Minha amiga ajudou-me a chegar até o sofá, nervosa com o meu estado.
— Eu estou...
— Eu juro que vou perder toda a minha paciência se ouvir a palavra “bem” sair da sua boca. — ela disse, interrompendo-me. — O que aconteceu? Por que sua casa está vazia e bagunçada desse jeito? — ela perguntou, percorrendo o lugar com os olhos.
— É uma longa história. — eu respondi.
— Nós temos tempo. — Minha amiga deitou minha cabeça em seu colo. — Pode começar. — Eu suspirei. Pela primeira vez, eu aceitei que não estava bem, mas agora eu sabia que iria ficar.
Aos poucos, a dor foi indo embora. À medida que os dias passavam, mais eu aceitava tudo o que tinha acontecido e entendia que minha vida não tinha acabado por conta daquilo. Muito pelo contrário: eu tinha aprendido a minha lição. Eu não precisava de um homem para me sentir bem comigo mesma, ela não era melhor do que eu, ele não era o último homem na face da Terra. Tantas coisas que algumas pessoas podem julgar tão óbvias, mas que precisei lutar muito para entender.
Muitos dizem que sofrer pelo término de um relacionamento é bobagem. Existem frases clássicas: ele é um idiota por ter trocado você; um dia ele vai se dar conta da mulher maravilhosa que perdeu; ele não era o cara certo; você vai encontrar alguém muito melhor do que ele... e por aí vai. As pessoas tentam de todas as formas colocar na sua mente que o que aconteceu foi a melhor coisa da sua vida e que a outra pessoa ainda vai se arrepender amargamente.
O que muitas não sabem é que em nada isso ameniza. A dor da perda continua ali. A saudade dos momentos a dois, dos sonhos, das risadas, das carícias, dos olhares... De cada pequeno detalhe. Tudo fica ali por muito tempo. No início, pode estar, sim, permeada por ódio e desejo de vingança. Mas com o passar do tempo você percebe que existiram momentos felizes. Você entende que até os momentos bons, um dia, chegam ao fim.
Isso não significa que sua vida acabou ou que perdeu o propósito. Significa apenas que uma nova jornada está começando e que precisa encontrar o seu lugar, ter um novo objetivo.
Eu vendi a casa. Eu não queria mais encarar todos aqueles cômodos cheios de lembranças, memórias que apenas traziam-me sofrimento. Com o dinheiro, comprei uma nova casa, em uma nova vizinhança, onde ninguém me conhecia ou sabia o que tinha acontecido. Eu teria o meu recomeço.
Nos primeiros dias, foi bastante difícil. Acostumar-me com uma nova casa, com uma nova cama que parecia grande demais só para mim, ao mesmo tempo em que era reconfortante poder andar pela rua sem os olhares de pena dos vizinhos.
Em um domingo qualquer, eu estava sentada em um café. Um lugar agradável e acolhedor. Eu apenas encarava as pessoas ao redor, conversando e se divertindo com os amigos. Até que ele apareceu. Meio sem jeito, sem saber como começar a falar.
— Você se importa se eu sentar aqui? — ele perguntou, receoso. Eu apenas sorri em sua direção, feliz por não me importar com sua presença.
— Claro, fique à vontade. — falei quando ele não entendeu que eu não iria atacá-lo ou algo do tipo. Após se sentar, ele encarou-me por um certo tempo. Eu apenas continuei tomando café, ainda olhando para as pessoas.
— Você está diferente. — ele disse. Dei de ombros, não sentindo necessidade de comentar. — Soube que vendeu a casa. — ele continuou. Claro que sabia, enviei o cheque com a metade do valor, mas ele devolveu.
— Sim, quis mudar os ares. — falei, colocando a xícara sobre a mesa e fazendo sinal para que a garçonete trouxesse outra.
— Você parece bem. — Eu sorri para ele, retirando os óculos escuros para que pudesse encarar fundo em seus olhos.
— Eu estou ótima. — Ele recuou, quase como que intimidado.
— Fico feliz por você ter seguido em frente. — Continuei sorrindo e agradeci quando uma nova xícara de café foi colocada a minha frente. — Uhm...
— Por que você não me diz de uma vez o que quer? — eu disse tranquilamente, sem ressentimentos. Ele pigarreou, tomando coragem para começar a falar.
— Eu vou me mudar do estado. — Encarei o céu. Estava limpo, o sol brilhava forte, ainda que o clima estivesse frio. Fechei meus olhos e esperei que as pontadas de dor viessem. Esperei que eu desmoronasse, que meu coração, recentemente colado, fosse se quebrar mais uma vez. Mas a dor não veio, muito pelo contrário: alívio. Voltei meu olhar para ele, que me encarava, esperando por alguma reação da minha parte.
— Mudanças fazem bem. Eu estou muito feliz com a nova casa, a nova vizinhança. Vai te fazer bem também! Espero que sejam muito felizes, para onde quer que vão. — disse, com toda a sinceridade que existia em mim. Seu olhar assustado não conseguia desviar de mim, como se a qualquer momento eu fosse desmoronar.
— Ela conseguiu uma promoção e achamos melhor nos mudarmos, começar em outro lugar... Sem tanta bagagem. — Ele parecia pesar cada palavra antes de dizer.
— Sem dúvidas. O passado é passado, certo? — Bebi mais um gole do café, orgulhosa por estar mantendo uma conversa saudável, mas, principalmente, por ainda estar inteira.
— Acho melhor eu ir. — Eu assenti, mas antes que ele se levantasse, eu disse:
— Se a felicidade é ela, eu estou feliz por você. — Ele apenas sorriu fraco e acenou, virando as costas e indo embora. Respirei fundo e permaneci sentada, esperando que qualquer sentimento ruim surgisse dentro de mim, mas não. Eu realmente quis dizer aquilo. Por mais difícil de acreditar que fosse, era a verdade.
Aquela, sem dúvidas, foi uma das conversas mais estranhas que já tive na vida, mas uma das mais importantes, também. Foi o fechamento. O final de uma etapa da minha vida que tinha ficado para trás. As brigas, as dores, o sofrimento... Tudo apenas fez-me mais forte e mais consciente de mim.
Alguns meses depois, eu encontrava-me sentada naquele mesmo café. Dessa vez, uma pessoa também perguntou se poderia se sentar. Um sorriso tímido surgiu em meus lábios, assentindo. Ele sentou e se apresentou. Ele disse que eu era linda. Disse que existia alguma coisa em mim que resplandecia. Eu apenas agradeci, sentindo os batimentos do meu coração acelerarem.
Quando você conhece alguém, é difícil conter o pensamento: será que vai dar certo? Não é muito algo que você consiga conter, a mente da gente vive pregando essas peças, rodeando nosso coração, assombrando nossa mente. Criando expectativas, construindo castelos e escrevendo contos de fadas.
Quando passa a fase de conhecer um ao outro e um compromisso é estabelecido, muitos acham que o ato de sonhar com o futuro passou. Quando dão por si, percebem que é exatamente o contrário. Os contos de fadas ganham formas. Eles são tingidos por branco e moldados para que seja o dia perfeito. Cada pequeno detalhe importa. As flores, o lugar, os amigos, a família... O tão sonhado e desejado vestido. O véu, a grinalda.
Quando você diz o “sim”, é como se o seu mundo assentasse. Há uma nova força que te prende à Terra, a gravidade passa a ficar em segundo plano. O que eram apenas sonhos começam a ser colocados em prática. As buscas, a adrenalina, a contagem regressiva. Todos os caminhos percorridos são para chegar a um fim específico: o melhor dia.
E então, mais uma vez, a palavra “sim” sai da sua boca. Nesse momento, vivendo o conto de fadas, enxergando os sonhos tornando-se reais, seu coração deixa de bater sozinho. Como um só, dois corações seguem um ritmo forte, intenso. O que fora apenas um encontro agora era a realidade de uma vida.
Os sonhos, entretanto, não acabaram. Se você pensou em ter filhos um dia, esse é o momento em que tudo toma grandes proporções. O desejo de ter uma família, o desejo de ser feliz com o outro. O desejo de ver seu amor gerando outras vidas. O desejo de construir uma vida juntos.
Você deseja muitas coisas.
Menos que tudo acabe.
Mas, talvez, o fim não seja para sempre.
Talvez o fim indique apenas a necessidade de um recomeço.
Talvez você precise se perder para encontrar a si mesma.
Talvez os melhores dias ainda estejam por vir.
Talvez os antigos sonhos precisem ser reformulados.
Talvez seu coração encontre um novo alguém. Talvez não.
Talvez você só precise viver. E ser feliz.
E deixar para se preocupar com o talvez um dia de cada vez.
Fim.
Nota da autora: Oi, pessoas! Tudo certinho?
Confesso que estava bastante insegura para escrever essa fanfic, muito mesmo. Para quem já leu minhas outras fanfics, já devem ter notado que sou adepta dos finais felizes e dos clichês maravilhosos da vida HAHAHAHAHAHA
Essa fic foi bastante difícil de escrever, chorei um pouco, o coração ficou bem apertado... Enfim, tentei fazer o meu melhor e espero não ter decepcionado <3
Muito obrigada por todo o apoio, vocês são demais!
Até a próxima!
Larys
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Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Confesso que estava bastante insegura para escrever essa fanfic, muito mesmo. Para quem já leu minhas outras fanfics, já devem ter notado que sou adepta dos finais felizes e dos clichês maravilhosos da vida HAHAHAHAHAHA
Essa fic foi bastante difícil de escrever, chorei um pouco, o coração ficou bem apertado... Enfim, tentei fazer o meu melhor e espero não ter decepcionado <3
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