05. Wave

Finalizada em: 04/07/2022.

Capítulo Único

Porto de Busan, 17 de abril de 2023.

O local estava o que ela chamava de um cheio vazio. Seu namorado sempre ria quando ela usava essa expressão, porque ele achava a incoerência dela engraçada e fofa pela forma como sua amada a pronunciava. Haviam outros familiares e homens uniformizados como o lado masculino do casal, que estava se despedindo um pouco afastado do restante.
— Não acredito que o dia de nos despedirmos chegou.
Sua voz saiu abafada devido à aproximação que ela estava do peitoral dele, sua forma de aproveitar os últimos minutos.
— Eu já disse que a gente não está se despedindo. Eu volto o mais rápido que puder.
— Serviço militar não funciona assim.
a olhava com amor agora, passando as pontas dos dedos nas mechas de seu cabelo, tentando se lembrar que não poderia ficar ali, por mais que quisesse muito. Não era uma escolha, ele sabia disso, ela sabia disso, os únicos que pareciam não saber eram seus corações que nos últimos dias pareciam querer pular para fora e acompanhar os amados aonde quer que eles fossem.
— Prometo que vou entrar em contato sempre que eu puder, amor. Você vai ver como vai passar mais rápido do que imaginava. — Ele não sabia se acreditava mesmo naquilo, mas precisava. — Eu vou ficar bem.
Depois da última frase, o barulho alto foi escutado novamente, indicando que já estava na hora de embarcarem. Eles se olharam a última vez, sem precisar dizer nada, como se o olhar já completasse tudo que fosse para ser dito. Eles selaram seus lábios mais uma vez antes dela vê-lo caminhar em direção à embarcação, parando próxima a ela, apenas para se virar e acenar uma última vez. Parecia que o que havia no seu peito pesou, mas ela apenas acenou de volta, vendo o homem que amava partir pro período mais distante que eles iam passar longe um do outro.

Escritório Busan Center’s, 21 de abril de 2023.

Já haviam se passado quatro dias desde a despedida, ou, como ele falava, o “A gente se vê em breve”. Nayo tentava focar ao máximo no seu trabalho, sabia que não era totalmente saudável, mas se enfiou em horas extras e tarefas que não eram do seu departamento desde então. Ela não tinha dependência dele, apesar de algumas pessoas vendo de fora acharem, ela só não queria se permitir sentir a saudade, porque sabia que quando essa aparecesse, não iria mais embora.
e se conheceram quando estavam no colegial e desde então não tinham ficado separados. Quando se tornaram adultos de fato, decidiram morar juntos, e a sua união, que já era bem grande, ficou imensamente maior, se é que isso fosse possível. Eles eram muito parceiros em tudo, então aquilo realmente estava sendo algo bem difícil, ainda mais que, desde sua partida, ele ainda não havia dado notícias.
Ela estava concentrada em um dos relatórios que se enfiou nesses últimos dias. As pessoas em seu escritório começaram a apresentar uma agitação, coisa que não era de muito costume por ali, não naquela hora do dia, não daquele jeito. Ela levantou da sua cadeira devagar, ainda estranhando o clima, mas queria ver o que estava acontecendo. Seguiu para onde as pessoas andavam e percebeu que estavam indo em direção à área de descanso. Achou aquilo mais estranho ainda, a televisão estava ligada e algumas palavras inaudíveis ainda para ela começavam a ser ouvidas.
“Acidente”, “Desaparecidos”, “Tempestade”, foram as palavras que ela conseguiu identificar conforme ia se aproximando. Nunca tinha visto aquele espaço tão lotado daquela forma. Olhando rápido, todo mundo do escritório parecia estar ali, o que estava acontecendo de fato? Ela não sabia ainda, mas não ia gostar da resposta.
Escutou alguém pedir de fundo para aumentarem o volume, e, como um soco, a primeira palavra que o jornalista falou foi “Marinha”. Ela escutou em alto e bom tom, e mesmo que aquilo pudesse englobar diversas coisas, ela sabia que algo ruim tinha acontecido, algo ruim tinha acontecido com ele.


🌊


Na televisão não se falava outra coisa. A acidente com uma das embarcações da marinha tinha sido a coisa mais grave a acontecer ali há muito tempo. Ela já tinha acabado com suas unhas, as notícias não paravam de chegar, o acidente parecia ter sido feio e até então não tinham encontrado ninguém a bordo. Não havia muitas pessoas, apenas os oficiais e alguns homens que haviam acabado de se juntar à marinha, como era o caso daquele que fazia seu coração bater mais forte, e quem estivesse perto dela naquele momento, conseguiria ouvir o batimento dele de nervosismo. Estava completamente ansiosa e desesperada, não sabia para quem ligar e se deveria, só conseguia manter seus olhos completamente presos à televisão, esperando algo, algo novo, o detalhe novo. E como se o apresentador estivesse escutando seus pensamentos, o mesmo veio: “As quatro pessoas que estavam na embarcação encontram-se desaparecidas”.
— COMO ASSIM DESAPARECIDAS?
Ela não sabia de onde vinha aquele grito, talvez de tudo que estava guardado, a ida dele, ela ter que se manter forte para não ficar preocupado e agora aquilo tudo. Ele estava desaparecido, agora a situação era outra. Ela achava que logo ia aparecer no canal em qual hospital eles estavam e ela correria para lá, mas não, agora ela não tinha para onde correr.


🌊




Ele estava sentado na areia, próximo ao mar, e observava a lua que refletia lindamente nele. Se perguntava nesses momentos se ela enxergava a lua do mesmo jeito que ele. Gostava de acreditar que sim, porque era nessas coisas que ele se agarrava para se manter são de alguma forma naquela situação, ela o mantinha são.
— Você sempre vem aqui quando já anoiteceu. Você para aqui e fica observando o mar, sempre quis saber o porquê.
Yugyeom, que com certeza havia sido a pessoa que tinha ficado mais próximo durante aquele tempo, havia sentado ao seu lado.
— Eu acho que aqui virou meu lugar de conexão, sei lá.
— Conexão com o quê?
— Com quem. Ela.
Ele sorriu só de lembrar da figura da amada.
— Sua namorada?
— Sim.
— Você acha, sabe… Acha que ela está bem?
— Eu espero que sim, mesmo acreditando que não. Se eu não soubesse onde ela está, eu com certeza estaria em pânico.
voltou seu olhar para a areia, mexendo com uma das mãos, aquele pensamento lhe perturbava todo dia, a todo momento. Como estaria ? Será que ela sabia que ele estava vivo? O que estava se passando na cabeça dela? O que será que ela estava sentindo? Ele tentava tirar todas essas dúvidas da mente, mas era impossível, por isso sempre escolhia ficar sozinho um pouco durante a noite, observando o mar, mas no fundo porque ele sabia que ela estaria lá também, vendo aquela imensidão azul. Gostava de pensar que ela só estava a algumas ondas de distância.


🌊




Ela não conseguia trabalhar desde que tudo aconteceu. Não conseguia ficar em casa e muito menos pensar em participar de qualquer evento social. Já tinha perdido as contas de quantas vezes havia ligado para as autoridades locais naquele curto espaço de tempo, mas estava completamente desesperada. Precisava de qualquer notícia, qualquer coisa na qual se agarrar que ele estava bem, mas não haviam encontrado nada, e a cada dia que passava ela ficava com mais medo.
Resolveu naquela tarde seguir até um lugar onde não parecia fazer muito sentido para se distrair, mas ela precisava disso. Saiu do carro, sentindo o solo mudar de espessura, de textura, a areia tinha algo diferente, parecia confortar os pés dela. Ela seguiu até perto do mar, sentando-se e apreciando enquanto a brisa marítima batia e pensava em tudo. Será que estava bem? Será que ela teria notícias logo? Será que ele também conseguia ver o mar de onde estava? Será que ele voltaria logo? Ela esperava que sim, esperava e gostava de pensar que eles só estavam a algumas ondas de distâncias. Bufou frustrada, mas se agarrou àquele pensamento enquanto as ondas batiam a alguns metros dela.

2 meses depois…

Já havia virado rotina. Devido à situação, o chefe dela havia lhe dado qualquer folga que quisesse, e ela, mesmo recusando de primeira, havia aceitado que precisava. Ela estava indo ao mar mais vezes do que esperava, não conseguia contar quantas vezes buscou por aquela sensação de conforto. Precisava estar ali perto do mar, como se daquela forma estivesse mais próxima a ele, a ondas de distância.
Do outro lado, sentia cada vez mais as dificuldades de estar longe de casa, em um lugar desconhecido. Seus amigos já começavam a apresentar sinais de desesperança, mas ele toda noite sentava em frente ao mar e pensava nela, nela que mantinha tudo aceso dentro dele.
Aquela semana começou com a falta da comida que eles tinham achado no local e que tinha sobrado do barco. Aquilo começou um clima de desespero entre eles, e talvez tivesse se agravado, a saúde mental deles já não estava muito boa. Naquela noite, enquanto ele observava o mar, viu aquela luz surgir ao fundo. No começo, achou que estava delirando, mas logo foi ficando mais forte, seguido de um barulho ensurdecedor. Começou a gritar com seus amigos e acenar fortemente. Era aquilo, a chance de voltar para casa.

Porto de Busan, 23 de junho de 2023.

Ela havia recebido a ligação horas antes. Agradeceu a qualquer ser superior por já estar devidamente vestida, se não teria corrido para o local com o que estivesse ou não no corpo. Esperava ansiosamente, não sabia direito o que era, não sabia se ele estava no meio dos resgatados, mas sabia que tinha esperança e aquilo era o que importava no momento para ela.
O barco chegou e, um por um, eles foram descendo. Tinha muita gente no local, imprensa, familiares, pessoas que torciam por algo, mas ela vasculhava cada um com muita precisão, até que localizou o que queria, o que seu coração procurou e sua mente se ocupou por esses últimos tempos.
O ar à sua volta parecia ter tomado uma perspetiva diferente, quase que parada. Ela não acreditava que era ele ali mesmo depois de todo aquele tempo de angústia. Ele estava ali, a alguns metros de distância. Ele olhava pelas pessoas, procurando algo, ela sabia o que ele procurava. Observou o sorriso surgir em seu rosto quando olhou em sua direção e correu em direção a ele, sentindo seus pés sendo tirados do chão segundos depois, o calor humano que ele emanava estava ali, nas mais repletas sensações de alívio e saudade. As lágrimas já molhavam seu rosto e sentiu seu ombro também umedecer, ele também estava chorando. Segurou seu rosto, sendo puxada para um beijo logo em seguida. Como sentiu falta daquilo, como sentiu medo de nunca mais poder sentir aquilo novamente. Deram vários selinhos, encerrando o beijo.
— Eu não acredito que você está aqui... Amor, eu…
— Eu sei, amor, eu sei. Eu sinto tanto a sua falta.
— Eu também, eu também.
— Eu não vou mais pra lugar nenhum, .
— Eu não deixaria você ir mesmo.
Eles se beijaram mais uma vez, curtindo cada pedaço e milésimo de segundo daquele momento, juntos novamente. Conseguiam ouvir as ondas batendo de fundo no cais do porto e estavam completamente aliviados de não serem mais um som que escutavam separados, esperando se reencontrarem. Era assim, estavam juntos agora, escutando as ondas juntos.


FIM



Nota da autora: Oiii, meus amores! Tudo bem? Meu Deus, como eu gostei de escrever essa música. Ela tem todo um significado especial pra mim, desde o álbum, a letra e quem ela representa. Eu espero que vocês tenham gostado também. Só queria agradecer quem leu até aqui. ❤️ Significa muito. <3🌊



Outras Fanfics:
One Chance
The Measure Of Love
Immergere
De Libro In Medium

Nota da beta: Ai que fic mais linda, Biancaaaaa!
Eu fiquei emocionada enquanto lia. Senti tudo junto aos personagens e, nossa, essa história me pegou de jeito.
Tô feliz demais que eles conseguiram se reencontrar. Você arrasou, amiga. Parabéns! ♥

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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