Capítulo Único
Eu esperei, que você ficaria, apenas um pouco mais
And I hoped you'd keep calling
E eu esperei que você continuasse ligando
With every single day I have to face
Com cada dia que eu tenho que enfrentar
I wonder why our love was stolen away
Eu me pergunto por que nosso amor foi roubado
Ela havia partido e o levado consigo. A partir do momento que passou pela porta do apartamento, todo o ser de foi junto. O homem que vivia para a sua empresa, o negociador infalível, vaidoso e estiloso partiu. Sumiu. Deixando um corpo oco, vazio e que não possuía mais vontades. A expressão vazia, mas que escondia o interior repleto de arrependimentos e lembranças que só faziam aumentar o peso da culpa em seus ombros.
Quando a porta do apartamento se fechou, deixando-o de joelhos no chão e chorando lágrimas silenciosas era como se naquele instante uma dor - que parecia fogo - alastrando-se por cada mísero centímetro de seu corpo. Ele se sentia em chamas e sem qualquer sinal de que fossem se apagar.
A culpa da partida da mulher que amava era totalmente dele. Ainda se recordava do momento exato que foi o estopim do fim de tudo.
Estou queimando como fogo, alguém ajudará minha dor?
I’m drowning above the water, oh, help me breathe again
Estou me afogando acima da água, oh, me ajude a respirar novamente.
Aquela noite tinha sido aguardada por durante semanas. Se recordava de quantas vezes ouvia-a dizer o que faria naquele dia.
— Vou acordar cedo para vê-lo sair para o trabalho. - Disse com um sorriso animado enquanto estava com o olhar no bloco de papel em suas mãos, a caneta escrevendo algo e o óculos de armação tartaruga em seu rosto. Os longos e sedosos cabelos negros estavam presos no topo da cabeça. Vestia o seu pijama favorito e calçava meias enquanto dormia em seu colo.
Fechou os olhos com força, as batidas do coração doendo em seu peito ao constatar que aquele primeiro item não havia sido cumprido. E se lembrava exatamente da mensagem triste que recebeu e que foi lida somente horas depois, já que estava dentro do seu jatinho particular indo para a Inglaterra fechar um contrato com um novo investidor.
— Depois, eu e - o cachorro vira-lata de pelagem cinza e irregular, levantou a cabeça instantaneamente e encarou a dona, em uma sonolenta expectativa. - iremos a padaria comer croissants com geleia de morango e sentar na mesa da calçada para observar o belo sol que fará nesse dia. - Escreveu a ideia e soltou uma risada divertida ao ouvir o questionamento do marido sobre como ela tinha tanta certeza que faria sol naquele dia.
E ele riu ao vê-la dar de ombros convencida, dizendo que era o dia do nascimento de uma bela princesa. Então, o dia deveria ser lindo todos os anos. Retirou sua gravata, abrindo sua camisa social branca enquanto voltava a fechar seus olhos e cochilar.
Até mesmo o seu cachorro foi capaz de compartilhar um momento daquele dia tão especial. E talvez, seja por isso que ele teve sorte em partir junto com sua dona. Somente ele ficou naquele apartamento, abandonado no silêncio e escuridão, repleto de lembranças em cada cantinho. Milhares de fotos de momentos felizes espalhadas que pareciam cortá-lo por dentro, cada vez que olhava-as e o perfume da mulher que parecia impregnar cada cômodo.
— Almoçarei no The Village com mamãe, papai, e Sidney! Vamos andar na orla da praia e comer muito sorvete… - Escrevia concentrada, mas parou e olhou para o belo marido que estava trajando apenas a cueca enquanto estava parado na porta do banheiro.
perguntou o motivo de não estar incluindo no almoço. abriu um sorriso desculpando-se e disse que ele sabia muito bem que era tradição de família. Ele brinca dizendo que só por isso vai tomar banho sozinho naquela noite. Ela solta uma gargalhada, levanta e corre até o banheiro, levando o bloco e caneta consigo. assustado, segue a dona e late. Eles invadem o banheiro enquanto o homem já se encontra nu, debaixo do chuveiro.
Ao contrário da esposa, a sua família sempre foi problemática. Os seus pais e irmãos não tinham tanto costume ou davam importância por momentos que pudessem estar juntos. Sempre foi assim desde a sua infância e por isso, sempre foi muito natural para ele fazendo com que não sentisse dessas situações que não existiram. Nunca duvidou do amor que sentia por sua família, nem deles por ele, mas cada um tinha um jeito. Foi somente quando conheceu a esposa e passou a conviver, conhecer sua família que percebeu que sua vida poderia ter sido muito diferente caso, tivesse estado mais com seus parentes.
E por se sentir tão bem, acolhido por seus sogros e cunhada, se viu estando na presença deles em momentos do dia-a-dia e até mesmo, dividindo suas alegrias e frustrações. Perder , significava muito mais do que perder o amor de sua mulher. Ele estaria perdendo uma família que o aceitou como todo amor e carinho, dando a ele tudo que nunca teve.
E enxergar isso fazia com que doesse ainda mais.
Levantou-se do chão, caminhou até o aparador e pegou a garrafa de uísque que estava ainda lacrada. Abriu-a e bebeu um grande gole, cobrindo a boca com o antebraço ao tossir por conta da forte ardência inesperada. Secou algumas lágrimas, fungou e voltou para o sofá, deitando. Os seus pés descalços descansando nos braços do sofá, o peito nu, vestindo apenas a calça social.
Os seus olhos castanhos presos ao teto branco do apartamento enquanto todas as memórias pareciam furar a sua mente, causando-lhe dor. Ou poderia ser o fato de estar a dias consumindo bebida alcoólica e se alimentando pouco.
Três dias que não saía do apartamento, não atendia qualquer ligação do trabalho. Apenas usava o celular para enviar mensagens desesperadas para a mulher. Foram vários áudios, com a voz grogue por estar bêbado.
No início, a raiva lhe fazia dizer coisas horríveis, ameaças sobre ir atrás dela e arrastá-la de volta para casa. Depois, a dor do arrependimento das coisas que havia dito no calor da revolta e também, quando sua consciência o lembrava de todos os seus erros, dizia que a amava e pedia desculpas. Implorava para que voltasse. Tentava demonstrar o quanto estava doendo e dizia não ser capaz de suportar toda dor.
Queria não ser egoísta o suficiente para dizer que poderia esperar o tempo dela, mas o seu amor e tudo que sentia pela esposa não permitia que aquelas palavras saíssem de sua boca.
E eu, eu não posso deixá-lo ir, então, quando estiver pronto
Come back home
Volte para casa
I’d like to say, I’m sorry
Eu gostaria de dizer, desculpe
And I thought you’d stay (you’d stay)
E eu pensei que você ficaria (você ficaria)
— E a noite teremos a minha festa surpresa! - Anunciou ela com um enorme sorriso enquanto estava sentada na tampa do vaso sanitário, anotando mais um item. Ela olhou-o se ensaboar, mordeu o lábio inferior excitada pela imagem que tinha do marido naquele instante.
Foi tirada do transe ao ouvi-lo perguntar com uma expressão divertida, como ela tinha tanta certeza daquilo. riu e disse que sabia que era amada de verdade por todos a sua volta. abriu um sorriso maldoso que revelava sua intenção. Saiu do box, molhado e repleto de espuma do sabonete, agarrando sua esposa pelos braços e levando-a em direção ao chuveiro. A mulher ria e fingia querer fugir, mas no fundo, estava adorando. Até que desistiu de resistir e se entregou ao homem.
Tomou mais um gole do uísque tentando ficar entorpecido o suficiente para não sentir a dor daquelas lembranças. Apenas mais uma das memórias incriminadoras que pareciam querer arrancar cada lufada de ar que escapava de seus pulmões. Largou a garrafa no tapete junto com o celular, cobriu o rosto com as mãos e o choro voltou a escapar novamente por sua garganta.
Lembrou de cada ligação da querendo contar algo que aconteceu durante o dia, os compromissos marcados em que optou por trabalhar e deixou-a indo sozinha. Todas as brigas em que ela comentava acidamente que não era importante o suficiente para ter um espaço na agenda cheia dele ou que deveria marcar com meses de antecedência um encontro. Os áudios que ela enviava com a voz triste dizendo que estava com dificuldade para dormir por não tê-lo junto a ela naquela noite. Os diversos passeios que ele perdeu com ela e a família para a praia.
Todas lembranças, uma por uma lhe jogando na cara tudo que havia feito de errado. E em todas ele dizia a mesma coisa, mas nunca cumpria.
Na noite mais importante em que tudo estava acabado, ele prometeu novamente - só que desesperadamente disposto a cumprir - entretanto, ela não foi capaz de acreditar.
Eu tentaria ser o homem que eu disse que eu seria Just come back home
Apenas volte para casa And I’ll try, I’ll try cause I said I would
E vou tentar, eu vou tentar porque eu disse que seria
Os olhos verdes que tanto amava estavam vermelhos pelas muitas lágrimas que havia chorado. entrou no apartamento silenciosamente, acendeu a luz da sala e seu coração se acelerou por não imaginar que fosse encontrá-la em casa. Esperava que a festa de aniversário ainda estivesse acontecendo e que fosse capaz de fazer algo em casa para surpreendê-la. Um pedido de desculpas por não ter conseguido chegar a tempo. Durante todos esses anos, sabia o quanto aquele dia tinha importância para a mulher e mais uma vez, ele tinha decepcionado. Quebrou a promessa de que estaria presente naquela noite.
Não conseguia se recordar perfeitamente da expressão da mulher, mas conseguia sentir perfeitamente o choque de emoções que recebeu ao encará-la. Simplesmente porque a partir daquele instante as sensações não lhe abandonaram mais.
Ela estava encolhida no sofá com em seu colo. Estava com os cabelos soltos, a maquiagem colorida borrada e um vestido rosa cintilante. Os pés descalços enquanto as enormes botas brancas de couro estavam jogadas no tapete.
Poderia ter dito mil coisas e se arrependia do que não foi dito, mas ele acabou sendo estúpido demais apenas ao pedir desculpa - como em todas as milhares de vezes. Analisando depois do ocorrido, ele conseguia entender que fez a escolha errada, disse a palavra errada.
Entretanto, o momento mais doloroso de todos foi quando ela se ergueu do sofá sem ao menos pronunciar uma única palavra. E ele sabia que jamais seria capaz de esquecer aquele momento. Causava muita dor e ao ponto de não ser capaz de fazê-la parar, como se tivessem alimentado as labaredas com mais madeira.
O silêncio da mulher o assustou tanto que ele continuou parado no mesmo lugar e se pudesse voltar no tempo, teria ido até ela e dito o quanto a amava. Envolvendo-a em seus braços, mas ao invés disso, ficou estático vendo-a calçar tranquilamente suas botas, colocar a coleira vermelha no e caminhar até a porta do apartamento, tudo isso tranquilamente.
E ele permaneceu no mesmo lugar, apenas olhando como se sua mente não aceitasse o que estava prestes a acontecer.
Sentou-se no sofá, grunhiu irritado com a dor em todo seu corpo e apoiou os cotovelos nas coxas, as mãos puxando raivosamente seus cabelos. Uma tentativa de descontar toda a raiva daquela lembrança, a sua atitude estúpida. Fechou os olhos ainda na mesma posição, a lembrança daquela noite mais uma vez lhe machucando a alma.
Somente quando pegou a alça de uma mala preta que estava estrategicamente próxima a porta que ele pareceu reagir. Chamou-a com uma expressão confusa e ela apenas lançou aquele olhar magoado, os olhos verdes vermelhos das lágrimas.
— Eu não aguento mais ter esperança! Não aguento ter que dizer mil vezes que você teve que ficar até mais tarde no trabalho! Não aguento mais ouvir que você vai mudar e no dia seguinte, tudo acontecer novamente! Eu cansei de acreditar nas suas palavras, ! - Confessou algumas lágrimas escorrendo por seu rosto. O tom de voz demonstrando todo o sofrimento. A coleira de em uma mão e a alça da mala na outra, a porta aberta atrás de si.
As palavras da mulher ainda se repetiam sem parar em sua mente como num eco sem fim. E a dor da angústia, culpa lhe transbordava e parecia vazar por seus poros. As memórias eram como gasolina que tornavam as chamas ainda mais fortes fazendo com que ardessem ainda mais. Não aguentava tanta dor.
Deitou-se novamente no sofá. O corpo de lado, encolhido, abraçando suas longas pernas. Os olhos fechados enquanto algumas lágrimas escorriam próximas ao seu nariz.
— Eu te juro que dessa vez eu vou mudar! - Falou num tom desesperado dando alguns passos em direção a mulher.
riu, mas uma gargalhada totalmente diferente da que costumava ouvir. Essa transbordava sofrimento, descrença. Ela negou com um gesto de cabeça ao se silenciar e olhou-o com todo sofrimento.
Ali estava mais um de seus erros. Repetiu a fala que ela estava cansada de ouvir, como um espectador que assistia mil vezes o mesmo filme ruim. O choro saiu por sua garganta, apertou ainda mais forte suas pernas. A queimação ainda mais forte, não sabia como sobreviveria.
— Não faz isso, por favor! - Implorou ao ver a mulher dar mais um passo que a levaria para fora do lar deles. O lugar que foi preparado para serem felizes juntamente com a família que construíram.
sabia que foi o desespero repentino que lhe fez agir daquela forma. A última e única vez que havia se ajoelhado foi por e para pedi-la em casamento. Jamais imaginou que no futuro estaria fazendo o mesmo gesto, mas por motivos diferentes.
— Eu não sei viver sem você, ! Eu não sou capaz! - Implorou em desespero, as lágrimas molhando seu rosto que estava pressionado contra o tecido do vestido da mulher. Os dois joelhos plantados no chão e os braços envolvendo as pernas de fortemente.
— Não faz isso, ! Por favor! - Ela pediu num tom sussurrado, mas suplicante.
Talvez tenha sido por isso que ele foi capaz de vencer os próprios sentimentos e soltá-la. Só Deus sabia o quanto foi difícil para ele, deixá-la livre para partir. E mais doloroso ainda vê-la, lançar um olhar arrasado antes de fechar a única barreira que o impedia de fazê-la voltar para casa. E eram todas essas memórias que o machucava, sugava toda a vontade de viver.
Poderia ter se erguido, ido atrás dela e implorado ainda mais. Entretanto, algo sempre o impedia e era a consciência. A sua maior acusadora e que fazia questão de mostrar que o erro havia sido somente dele. Sua ficha estava mais do que suja e não possuía dignidade o suficiente para ir atrás dela, forçá-la a voltar. E esse sentimento o deixava apenas implorar através das mensagens e áudios já que ela nem mesmo atendia suas ligações.
o amava e talvez, seja por esse motivo que tomou a decisão pelos dois. Ambos precisavam de um tempo, por mais que ele temesse aceitar. Precisavam repensar tudo - principalmente ele. Se a mulher estava sendo forte por ele, então era necessário que fosse também. E com esse entendimento, finalmente, ele sentou no sofá. Secou as lágrimas, respirou fundo e mesmo que a dor tivesse amenizado, conforme se forçava a entender o que deveria fazer.
Ele fez.
So when you’re ready
Então, quando estiver pronto
come back home
volte para casa