Finalizado em: 26/12/2019

Capítulo Único



— Muito obrigado por essa noite, pessoal! — gritei no microfone, sorrindo abertamente para os fãs que não paravam de gritar. — Amo vocês.
Saí correndo do palco, deixando para trás o barulho ensurdecedor e contagiante do público. Eu nunca me acostumaria com isso. Sempre era tão incrível quanto a primeira vez e eu esperava que continuasse assim. Deixei a guitarra perto das outras, tirei o fone e entreguei o aparelho que estava no meu bolso. Sempre esquecia o nome daquilo.
— Você foi incrível, ! — Edmund, meu empresário, veio me felicitar. — Amanhã encerraremos a turnê com chave de ouro em San Francisco.
— Eu nem acredito que já tá acabando — agarrei a garrafa de água que ele me entregou. — Parece surreal que já faz um ano que começou.
— O tempo voa, né? — ele riu, dando uma batida nas minhas costas. — Os seus pais devem estar felizes que agora terão um tempinho com você.
Minha mãe estava enlouquecendo de tão feliz, era verdade. Meu pai também estava muito satisfeito e meu tio já estava planejando para qual bar de motoqueiro me levar para fugirmos da orla de fãs que era frequente quando eu voltava para casa. Eu não me incomodava, mas era bom ter privacidade de vez em quando e era meio impossível ter isso em Chicago.
— Eles estão — garanti. — Acho que devem estar planejando uma festa.
— Nós certamente estamos — ele esfregou as mãos, parecendo pronto para fazer coisa errada. — Depois do show de amanhã, vou reservar uma mesa em um bar para encerrarmos com uma comemoração.
— Acho uma ótima ideia! — bebi uns bons goles de água. — O pessoal vai adorar.
— Vai ser ótimo! — ele garantiu. — Vem, vamos nos aprontar para voltar para o hotel.
Corri para o camarim, sentindo meu estômago roncar de fome. A mesa do buffet estava cheia de delícias e eu enchi um prato com tudo que tinha direito, peguei uma long neck e fui me jogar no sofá. Mal coloquei um mini cheeseburguer na boca e entrou sem nem bater. A camiseta tava amassada, o cabelo bagunçado, o pescoço vermelho... Soube imediatamente com quem ele estava.
— Você tava com a Lola, né? — perguntei, bebericando a cerveja.
Ele sorriu, culpado.
— Aquela mulher vai me deixar louco, — choramingou, caindo ao meu lado no sofá. — Eu quero muito ela!
— É você que diz que não quer nada sério, mas sabe que ela tá apaixonada por você — lembrei, sabendo que ele adorava esquecer esse detalhe. — Se eu perder minha estilista por isso, eu vou cortar seu pau.
— E não quero! — tentou pegar um cheeseburguer do meu prato, mas consegui afastar bem a tempo. — Me dá só um!
— Tem no buffet! — rosnei, colocando o braço de proteção ao redor do meu prato. — Levanta e pega.
— Egoísta do caralho — ele resmungou ao levantar.
— Mas anda, você tava falando que não quer nada sério, mas quer a Lola — engoli mais outro pedaço do cheeseburguer. — Como você espera resolver esse dilema?
parou na frente da mesa do buffet com um cheeseburguer na mão e me olhou com a derrota clara no olhar.
— Não faço ideia — admitiu. — O que você me diz pra fazer?
— Parar de besteira e tentar — fui curto e grosso. — Ou então usa o tempo longe dela para tentar esquecer.
— Tem que ter outro jeito — ele fez uma cara sofrida. — Não sei se conseguiria nenhum dos dois.
— E tem outro jeito — sorri com cinismo. — Você ir se foder.
— Muito obrigado pelo conselho, cara — a ironia foi acompanhada de um revirar de olhos. — A ajudava bem mais nessas horas. Eu até consegui ficar longe da Lola por um tempo durante a supervisão da .
A menção do nome pareceu deixar tudo em câmera lenta. me olhou com medo, eu me perdi nos segundos que o nome dela me atingia. Era meio ridículo sentir tanto com um nome, mas eu sentia. Sentia falta, sentia tristeza e... Sentia tudo que dava para sentir mesmo depois de dois meses.
— Ela é bem melhor que eu nisso — admiti, deixando o prato de hamburguer para o lado e focando na cerveja.
Minha língua coçou para perguntar se ele tinha notícias sobre ela e eu tinha certeza que ele tinha. só havia cortado papo comigo, mas era tão amigo dela quanto meu.
— Vocês têm se falado? — acabei me rendendo.
— Sempre — falou enquanto mastigava o resto do hamburguer. — Ela me mandou mensagem agorinha, tava se arrumando para sair com um pessoal que ela fez amizade. Acho que iam para o boliche.
Meu coração apertou só de imaginar ela indo sair com esses amigos novos. Não sei se era saudade de quando a gente saía ou inveja desses amigos. Talvez os dois. sempre foi a alma da festa e eu nunca fiquei para trás, então era sempre único quando saíamos juntos.
— E como ela tá?
— Ela tá tão bem quanto dá para estar quando seu rolinho quase namorado não sabe o que dizer quando ela confessa estar apaixonada por ele — outra vez quis pular no pescoço dele por todo aquele cinismo na voz.
— Você precisa esfregar na minha cara toda vez?
— Vale a pena ressaltar.
veio sentar no sofá novamente como quem não quer nada, mas percebi sua inquietação. Não perguntei o porquê, já que ele iria falar de qualquer jeito.
— Vocês nunca mais se falaram mesmo? — dito e feito, perguntou.
Soltei um suspiro, focando no rótulo da Budweiser. Nunca uma cerveja me pareceu tão mais interessante do que falar sobre minha melhor amiga. Eu não queria ter que confessar que eu não falava com ela desde que resolveu fugir da turnê — por culpa minha — e ir passar um tempo com o pai. Eu só sabia que ela estava na Califórnia porque as fotos do seu Instagram mostravam pôr-do-sois incríveis e sábados agitados no píer de Santa Mônica.
— Não — a resposta soou mais ríspida do que eu pretendia. — Ela não tentou entrar em contato.
— E nem você.
E nem eu. Mas eu não sabia como tentar falar com ela depois de ter cometido a maior mancada do século ao deixar ela ir sem falar o que eu queria ter dito. As explicações aos demais tinham sido rasas e pouco conviventes. sabia porque sempre arranjava um jeito de descobrir sobre tudo e, depois de , ele era meu melhor amigo. Não dava para não contar uma coisa dessas.
— Não acho que ela queira muita conversa comigo, — um riso sem graça escapou pelos meus lábios. — Eu fui idiota.
— É, eu sei, mas ainda é você.
— E o que isso deveria significar?
— Que ela te aceita se você for contar a verdade e pedir desculpa por ter sido lento.
— Você conhece a mesma que eu? — pisquei os olhos, incrédulo que ele achasse que seria simples assim.
— Não tô te mandando ligar para ela com uma desculpinha esfarrapada na ponta da língua — bufou. — Eu conheço ela bem demais, não ache que eu sou idiota. Era capaz de ela voltar só para enfiar o celular no seu rabo.
— E o que diabos eu vou fazer? — afundei no sofá, me sentindo um belo derrotado. Por que tínhamos entrado nesse assunto mesmo? — Eu nem sei direito o que eu espero que aconteça.
— Espera aí — levantou, parecendo descrente. — Você me disse que tá apaixonado por ela, mas não sabe o que espera que aconteça?
— Ela é minha melhor amiga, cara! A gente só misturou tudo quando começou a ficar — apontei o ponto X da questão. — Eu realmente não sei como deveria ser. E se não der certo? E se a gente estragar tudo?
— Porra, ! — ele passou a mão pelo rosto em um típico gesto impaciente. — Você tá apaixonado por alguém que é sua melhor amiga. Eu vejo vocês dois juntos há anos! Eu cresci com vocês, esqueceu? Se tem alguém feito para você no meio dessas 7 bilhões de pessoas no mundo, é a ! Cara, acorda! Você só tá perdendo de estar com a sua melhor amiga e de ter um sexo maravilhoso com sua namorada. Duas em uma!
Quando pensei que ele ia me deixar pensar, continuou:
— E vocês não podem estragar o que você já estragou, meu amigo. Fica tranquilo — soltou um risinho de deboche.
estava certo em cada palavra, é óbvio. Depois da mancada que eu dei, tentei ligar para ela, para o pai, a madrasta, Gwen... Fui ignorado em todas as tentativas. Eu quis fugir da turnê para ir atrás dela, mas não tive chance e depois a chance pareceu ter passado. Ela não deu sinal de vida, nem sequer mandava eu me foder por ainda ter ela nos meus “melhores amigos” do IG. Ela parecia bem demais mesmo depois de todo o rolo.
— É a — suspirei. — Nada parece suficiente quando se trata dela.
— Ela te achou o suficiente, o que prova que a minha menina tem um gosto bem duvidável, mas tudo bem, eu não julguei... Não tanto, pelo menos — continuou a zombar. — Então, vai fazer alguma coisa ou não?
— O foco dessa conversa nem era eu! — olhei indignado para ele. — Era você e Lola!
— Agora é você e ! — sorriu. — Vamos lá, qual vai ser seu grande gesto romântico?
Continuei o encarando, sem fazer a mínima ideia do que responder. Grande gesto romântico? Eu sou uma das pessoas menos românticas que alguém vai conhecer algum dia. Cantar sobre amor não quer dizer que eu sou bom com essas coisas. Eu sou péssimo com essas coisas. sabia, ela é igual.
— Eu não faço ideia — abandonei meu prato de cheeseburger. — Ela não gosta de frescura. É capaz de nunca mais falar comigo se eu fizer algo extravagante demais.
— É por isso que a gente vai pensar em uma coisa que não faça ela matar nós dois — explicou, parecendo acreditar demais que nossa ideia daria certo. — Vamos lá, me diz uma coisa que faria a morrer de amores e que seja tipo um sonho.
— Ela adoraria ter um panda, mas tenho certeza que criar um em casa é ilegal — fiz uma careta descontente.
Será que dava para comprar um na internet? A mãe dela mora em uma fazenda bem afastada, é pouco provável que alguém o encontre lá se a gente souber armar direitinho... Não! Até você tem limites, .
— Uma coisa acessível, por favor — ele me olhou como se eu estivesse louco só de pensar. — Vamos lá, você sabe que sabe. Ela te contava os maiores desejos.
Olhei para o teto, tentando me concentrar nos maiores desejos de , algo que fizesse ser impossível ela não me perdoar, mas nada vinha. Estava quase quebrando a garrafa de cerveja na cabeça para ver se ajudava a clarear as ideias.
— … Algo que você seja bom — falou, mas eu só peguei o final.
Essa curta frase foi suficiente para que uma lembrança estalasse na minha mente. Quase pulei no sofá. Algo que você seja bom.
Eu tinha uma grande ideia do que eu poderia fazer.

— The horizon tries but it’s just not as kind on the eye… — abriu os braços, girando ao redor de si mesma. — AS ARABELLA.
— AS ARABELLA — cantei junto, fazendo de conta que estava imitando uma guitarra.
— JUST MIGHT HAVE TAPPED INTO YOUR MIND AND SOUL — ela cantou, apontando o punho fechado para mim.
— YOU CAN’T BE SURE — finalizei, tocando a última nota da minha guitarra imaginária.
riu gostosamente.
— Ai, por que Arctic Monkeys é tão bom? — ela fez um biquinho. — E por que o Alex Turner tem que ser tão gostoso? Você devia fazer uma colaboração com eles e me apresentar para ele.
— Qual é essa sua tara por vocalistas, hein? — fiz uma careta. — Antes era o Axl Rose, Dan Reynolds, o Jon Bon Jovi, o Adam Levine, Joe Jonas… Nossa, dá para continuar por uns dez minutos.
segurou minha mão para poder subir com mais equilíbrio em cima do banco infinito do parque. Ela estava bêbada assim como eu, então segurei a mão dela. A última coisa que eu queria era ir para o hospital essa noite.
— Humm… — fez uma cara pensativa. — Não sei. Acho que nem é fetiche nem nada, só porque são os mais gostosos. Eu tenho tara por voz gostosa, você sabe.
Parei onde estava, fazendo ela frear também.
— Isso quer dizer que você tem tara por minha voz? — arqueei uma sobrancelha.
Sabia que ela reviraria os olhos pelo comentário e foi exatamente o que ela fez.
— Você bem que queria — ela respondeu com o risinho.
— E o que eles têm que eu não tenho pra ser apto? — perguntei, indignado. Eu não devia ser desmerecido só por não ser Axl Rose ou Alex Turner.
— Intimidade demais — ela estalou a língua. — É meio difícil ter tara por alguém que já usou meu banheiro e me fez acender uma vela aromática pra aliviar a situação.
Mostrei a língua pra ela em um ato bastante adulto de inconformada.
— Você já me tarou duas vezes antes e não pareceu ter problema com isso — relembrei. — Mas tá, se fosse só minha voz e eu? Se não fôssemos amigos.
Sim, eu tinha um ego que precisava ser acalentado com a possibilidade da minha melhor amiga ter uma tara por mim se não fosse minha melhor amiga.
— Hummm... — ela voltou a ficar pensativa. — Talvez. Depende.
— De quê?
— Eu adoraria ter um música escrita sobre ou para mim — sorriu, travessa, me olhando em expectativa. — Tipo Arabella. Eu seria uma Arabella perfeita se Alex tivesse me conhecido antes. Guns N’ Roses teria escrito Sweet Child Of Mine para mim também. Então, , escreveria uma música sobre mim?
Agora eu fingi que estava pensando. O que eu escreveria em uma música sobre ela? Que é uma ótima amiga quando não rouba as minhas comidas quando vai para minha casa e quando não faz minhas camisas de pijama quando esquece a roupa?
— E o que você espera de uma música sobre você? — quis saber, ainda sem responder sua pergunta.
tamborilou a ponta dos dedos na boca borrada e ainda avermelhada. Ela tinha ficado com um cara na festa, mas, segundo ela, ser bonito não significava beijar bem.
— Emoção — decretou, voltando a focar o olhar em mim. — Tem que me chamar de linda também.
— Linda? — soltei uma risada. — É pré-requisito?
— Sim! — assentiu, animada. — Pré-requisito! E aí, vai encarar?
Mordi a ponta da língua, segurando um sorriso com uma ideia.
— Vou tentar uma coisa antes de me submeter a escrever uma música pra você.
Sem aviso prévio, puxei do banco que ela estava e o impulso fez nós dois sairmos cambaleando para trás. Precisei segurar no quadril dela para que ela não tombasse no chão antes. O xingamento que ela soltou me fez rir.
— Se eu tivesse caído, quebrava esse seu rostinho bonito — ela brigou, apertando minhas bochechas e formando um bico na minha boca.
— Solta que tá doendo — resmunguei, minha voz saindo estranha por conta do aperto.
soltou minha bochecha e pude fazer cara feia pra ressaltar o quão chateado estava por esse aperto. Ela não deu a mínima, óbvio.
— Você merece pior — retrucou.
— Shhh… — coloquei o indicador sob os lábios dela. — Deixa eu fazer meu teste.
piscou os grandes olhos castanhos, parecendo um pouco confusa, mas bem curiosa. Curiosidade era uma característica importante sobre ela. Ainda com a mão em seu quadril, me aproximei dela e afastei uma mecha do seu cabelo para trás da orelha. Vi a pele do pescoço dela arrepiar e sorri por isso. Era muito bom saber que a minha melhor amiga não era tão imune assim a toques como ela costumava se gabar.
— I know a girl, she puts the colors inside of my world… — comecei a cantar baixinho, a boca quase encostando no ouvido dela. — And she’s just like a maze where all of her walls are continually change, and I’ve done all I can to stand on her steps with my heart on my hand…
Não percebi quando, mas começamos a dançar. Parecia mais um abraço que balançava para os lados, mas a mão dela estava no meu tríceps e minha mão que não estava em seu quadril acabou ficando no topo das suas costas mesmo que eu nem tenha notado como subiu para lá.
— Father’s be good to your daughetrs, daughters will love like you do… Girls become lovers who turn into mothers, so mothers be good to your daughters too…
A cabeça de pesou no meu ombro e eu tive quase certeza que ela estava prestes a cochilar. Sua mão subiu até o meu pescoço e com a outra mão, entrelaçou os dedos ao redor do meu pescoço. Passei o braço em volta da sua cintura, segurando ela com mais firmeza.
— Ainda não entendi o que você estava tentando fazer — murmurou, a voz abafada por seu rosto estar na curva do meu pescoço.
— Tentando te fazer tarar a minha voz sem precisar escrever uma música para você — respondi.
Ela riu e o som reverberou no meu peito, que deu um pulo. Não entendi o porquê de ter sentido o coração acelerar, mas não gostei muito. Pareceu algo mais íntimo do que qualquer coisa que ela e eu sentimos pelo outro e olha que já tomamos banho juntos aos doze anos.
— Sinto informar, mas não funcionou — disse, erguendo o rosto para me olhar. — Você vai precisar escrever uma música para mim, . É algo que você é bom em fazer, vai ser fácil.
— Sério? — fiz um bico de desapontamento.
— Quando você escrever, tudo pode acontecer — seu olhar sonolento se encheu de promessas.
— Fiquei curioso agora — franzi o cenho, pensativo.
— Não queira saber tudo que pode acontecer, — voltou a fechar os olhos, aconchegando melhor seu corpo contra o meu.
— Por quê? — agora sim eu havia ficado bem curioso.
— Porque pode ser algo que nem eu, nem você, estejamos prontos para lidar.
E, antes que eu pudesse falar mais algo, ela desmaiou. Ou dormiu. Só sei que tive que sentar com ela no colo ali no banco e esperar o uber chegar por mais ou menos dez minutos. Fiquei olhando para o rosto tranquilo dela, me perguntando que verdade seria essa.


Essa era uma verdade que agora eu estava bem familiarizado e que continuava a martelar na minha mente desde quando contou que estava apaixonada por mim. A gente tinha ficado apenas duas vezes antes desse dia e eu não fazia ideia de que ela pudesse se sentir assim antes disso. Eu tinha ficado sem reação e ainda estava.
— Eu vou escrever uma música — anunciei, olhando para .
O sorriso no rosto dele poderia ter partido sua cara em dois pedaços e eu quase ri de tão maníaco que pareceu.
— Ótimo! Mãos à obra, então.



— Mais marshmallows? — gritei, botando a cabeça na abertura da porta.
— Siiiiiim! — Marrie cantarolou. — Mais, .
Ri, voltando para fuçar a cozinha. Eu estava aqui há uns dois meses, mas ainda não estava acostumada com os lugares que cada coisa ficava nos armários. Fucei uns dois até encontrar onde Scarlett escondia as guloseimas de Marrie. Peguei o pacote de marshmallow e corri de volta para o deck onde meu pai e Marrie estavam.
Eu não gostava muito de Scarlett, esposa do meu pai, no começo e muito menos de Marrie. Quando meus pais se divorciaram, botei a culpa toda nela e me senti ameaçada pelos olhos azuis e o riso encantador da pequena bebê de dois aninhos que veio com a nova esposa do meu pai. Agora, eu conseguia ver claramente que nenhuma delas era uma ameaça e o quão bem as duas faziam ao meu pai.
Tive que engolir todo meu orgulho para poder pedir para ficar com eles porque não consegui voltar para Chicago agora. Precisava urgentemente de novos ares e minha mãe me mandou vir visitar a Califórnia. Acabei ficando surpresa com o quanto me adaptei fácil. Talvez eu tivesse tido um ótimo incentivo para ficar aqui depois de todo rolo o com aka aquele-que-não-deve-ser-nomeado.
Eu precisava de uma distração e, como Gwen, minha melhor amiga, estava fazendo curso de verão de teatro na UCLA, pareceu ótimo vir para cá.
— Corre, ! — Marrie apareceu correndo na cozinha. — Mamãe vai me botar pra minha soneca da tarde em cinco minutos, preciso comer tantos marshmallows quanto der.
Soltei uma risada e me deixei ser arrastada por ela até a churrasqueira, onde estávamos assando os marshmallows dela. Ainda eram três da tarde, mas isso não parecia importar para ela. Toda hora é hora de marshmallow tostado.
— ...E amanhã o Bryan vai levar sorvete pra escola porque é aniversário dele — Marrie contou. — Eu acho que gosto dele.
— Você tem sete anos, M — arqueei uma sobrancelha.
— E você tem 21. Qual é o seu ponto? — retrucou, me fazendo rir.
— Nenhum — fechei um zíper invisível na minha boca.
, a música do está tocando na rádio — meu pai sorriu, aumentando o volume da caixa de som da piscina.
Segurei um suspiro. Meu pai não havia entendido muito bem o porquê de eu ter pedido pra todo mundo ignorar as ligações de na primeira semana. Aparentemente ele não lembrava que eu não queria papo com meu melhor amigo. Não dava pra culpar pelo esquecimento. O próprio havia esquecido, como eu pedi pra ele fazer, mas que no fundo não queria que ele tivesse levado a sério.
Fechei os olhos com força com a lembrança daquela noite. Não sei se era vergonha, desgosto ou total arrependimento. Talvez os três, o que é bem estranho porque eu não me arrependo de nada que eu faço e muito menos tenho vergonha.
— O ! — os olhinhos de Marrie brilharam. — Quando você vai trazer ele pra cá, ?
— Não estamos em uma fase muito boa, M — admiti. — Não sei quando vou trazer ele pra você conhecer.
— Aaah — o biquinho dela derreteu meu coração.
— Mas eu consigo te arranjar um meet and greet grátis na próxima vez que ele vier aqui — assegurei. O sorriso dela foi enorme e o abraço que me deu, também.
— Você é a melhor irmã, ! — encostou o queixo na minha barriga pra poder olhar pra mim. — Obrigada!
Sorri de volta, aproveitando pra dar um beijo na sua testa. Eu nunca me acostumava a ser chamada de “irmã”, mas pra ela parecia muito natural.
— Marrie! — Scarlett chamou. — Soninho!
M fez uma careta chorosa.
— Já vou! — disse, enfiando três marshmallows na boca.
Ela saiu correndo e eu fui para perto do meu pai na mesa do píer. Sentei na cadeira vazia ao lado dele e olhei para a areia branca e o sol alto no céu sem nuvem alguma. Tínhamos uma vista incrível para o mar.
— Esqueci que vocês brigaram — meu pai fez uma careta. — Desculpa.
— Que não se repita! — usei meu tom autoritário e ele riu.
— Tá bom, tá bom... — ergueu os braços acima dos ombros em um gesto de rendição. — Mas não vai me explicar o motivo?
Mordi o canto da boca, relutando. Não era nada demais, mas eu não queria contar. No entanto, eu estava me escondendo na casa dele então meu pai devia saber, né?
— Eu confessei que estava apaixonada, mas ele não estava. — resumi. — Não por mim, pelo menos.
A lembrança deixou um gosto amargo na minha boca.

Meus olhos arderam quando o vento gelado bateu nas lágrimas que nublavam meu olhar. Eu não entendia porque estava chorando, mas não consegui controlar o bolo na minha garganta e fugi. Eu ainda não tinha me acostumado com a ideia de estar apaixonada pelo meu melhor amigo depois de tanto tempo pensando que eu era incapaz de sentir algo assim por alguém depois do divórcio dos meus pais, mas eu estava apaixonada e ter visto ele agarrar Cassie não ajudou a confusão na minha cabeça e nem com a minha TPM.
Esfreguei as costas da mão na minha bochecha, enxugando as lágrimas que tinham caído. O rímel era a prova d’água, mas o resto da maquiagem não era tão imune assim. Péssimo dia para uma super produção.
Meu celular começou a tocar e o nome de Gwen brilhou no visor. Eu não queria falar com ninguém, mas eu tinha certeza que ela não me deixaria em paz até saber onde eu tinha me enfiado.
— Onde você tá? — Gwen inquiriu assim que atendi. — Eu só vi um vulto correndo quando você passou.
Fechei os olhos com força, parando ali mesmo onde eu estava.
— Eu tô apaixonada pelo — confessei.
A ligação ficou muda por um momento e, se não fosse o barulho da festa no fundo, eu juraria que ela havia desligado.
— Ah, não... — soltou um suspiro. — E você viu o beijo?
Assenti, mesmo sabendo que ela não veria.
— Não é nada que eu não tenha visto antes, não sei porque estou fazendo tanto drama sobre isso — soltei uma risada sem graça.
— Porque agora é diferente — ressaltou. — Onde você tá? Tô indo aí.
— Não, fica! Eu vou voltar para o hotel, preciso respirar e ficar sozinha para botar as coisas em ordem dentro de mim.
— Tem certeza, ? Eu não me importo, juro.
— Certeza — sorri um pouquinho. — O Fred se importa. Ele já não teve muita sorte esses meses, aproveita.
Ela riu.
— Me avisa quando chegar no hotel, ok?
— Aviso.
— Beijos — ela soltou um beijo barulhento. — Fica bem.
O “fica bem” me fez ter vontade de chorar novamente. Desliguei a chamada e enfiei o celular no bolso da saia. Respirei fundo para controlar minha respiração e voltei a andar, querendo chegar logo no meu quarto. Eu nem estava me reconhecendo hoje! Decepções para mim se curavam facilmente com álcool ou pegando outra pessoa, mas eu não estava animada nem para isso.
! O grito fez meu coração parar por reconhecer a voz. Apressei o passo, fingindo que não ouvi. Não queria ver agora. Eu estava sendo a pessoa menos eu possível e ainda estava bêbada o suficiente para falar tudo que não devia. Eu tinha que correr para o hotel.
— Ei, ei, ei... — os passos apressados me indicaram que estava correndo e não demorou para sua mão puxar a minha. Fui obrigada a encará-lo quando se meteu na minha frente. Os três primeiros botões da camisa branca estavam abertos, os olhos confusos e os cachos escuros bem bagunçados.
Engoli em seco.
— O que aconteceu? Só vi você sair correndo — perguntou, avaliando meu rosto.
— Me surpreende você ter notado alguma coisa — resmunguei, evitando contato visual. — Tô cansada, quero voltar para o hotel.
— Não é isso — retrucou, bastante seguro. — Você está chorando. O que foi?
Por que quando as pessoas apontam que você está chorando e perguntam o motivo, só torna mais difícil segurar as lágrimas? No meu caso, era segurar a raiva.
— Não foi nada — abri um sorriso falso. — Foi só um cisco.
— Você podia pelo menos inventar uma desculpa mais aceitável — revirou os olhos. — Eu não vou te deixar ir embora até que você me explique o que rolou. Aconteceu alguma coisa?
Cerrei os dentes, me esforçando para não falar. Eu não podia falar. e eu estávamos ficando casualmente há algum tempo, o que tinha parecido ótimo no começo porque não parecia haver chances de rolar mais sentimentos do que o de amizade, mas agora... Eu não sei onde estava com a cabeça quando concordei com isso.
— Aconteceu — falei. — Me apaixonei pelo meu melhor amigo, mesmo sabendo que não devia, e ver ele beijando outra garota me machucou, mesmo sabendo que não devia, já que quando combinamos de ficar, deixamos bem claro que poderíamos sair com outras pessoas.
Joguei tudo em cima dele, mas nem sequer piscou. Ele parecia uma estátua de tão imóvel e eu me preocupei se ele estaria respirando.
— Você... — murmurou, parecendo atordoado. — Tá apaixonada por mim?
E foi a vez do meu corpo congelar. Puta merda! O que eu havia acabado de falar? Eu havia confessado, para o meu melhor amigo complexado com relacionamentos, que estava apaixonada por ele.
— Ai, meu Deus! — cobri a boca com a mão. — Esquece, por favor, esquece.
Soltei minha mão, contornei o corpo dele e acelerei o passo. Queria fugir, queria muito sumir dali. A reação dele podia ter sido pior, né? Claro. Mas parte de mim queria que ele dissesse algo. Talvez que sentia o mesmo.
Fechei os olhos, querendo me bater. Eu não era iludida assim antes.
! — ele chamou.
Virei para trás bruscamente, o coração acelerado. Nossos olhos se encontraram, abriu a boca, mas nada saiu. O que quer que ele fosse falar se perdeu no espaço entre nós. Seu olhar caiu no chão e eu entendi.
O silêncio também era resposta.


Meu pai me olhou com pesar e por cima da mesa puxou minha mão.
— Ah, ... — seu polegar acariciou as costas da minha mão. — Sinto muito, querida.
— Ele não deve reciprocidade, né? — abri um sorriso amarelo.
— Infelizmente, não — suspirou. — Mas consideração, sim. Ele nunca mais tentou falar com você?
— Não — neguei. Nem eu.
Meu celular vibrou em cima da mesa e a tela acendeu com o ícone de mensagem nas notificações. Abri a mensagem de Gwen, que era curta e o que eu mais precisava:
“Vamos beber mais tarde?”

Nem hesitei em confirmar.



Minhas mãos estavam suando, meu coração acelerado e eu não conseguia ficar quieto no quartinho minúsculo nos fundos do bar.
tinha esquematizado tudo com Gwen, que, depois de ouvir minha explicação, resolveu colaborar porque estava sentindo minha falta tanto quanto eu a dela.
— Depois desse cara, é você — entrou no quartinho. — Violão pronto?
— Pronto — peguei o meu violão Martin, passando a alça pelo peito. — Tá todo mundo disfarçado pelas mesas?
assentiu.
— Todo mundo — soltou uma risada. — Ninguém queria perder você levando um pé na bunda definitivo ou a reconciliação do não-casal que poderia ganhar um Oscar pelo drama.
Revirei os olhos.
— E a ?
— Tá linda — ele deu uma piscadinha. — Bronzeada, gata e com uma minissaia. Não olha demais pra não esquecer a letra da música, beleza?
Eu tinha virado a noite escrevendo a música e foi a mais fácil e ao mesmo tempo a mais difícil que eu já escrevi. Veio com facilidade, mas não pareceu boa o suficiente no começo. Escrevi, apaguei, reescrevi alguns trechos, troquei umas palavras... Foi difícil arranjar as palavras certas, mas o resultado tinha sido ótimo.
Eu tinha virado outra noite tentando aprender a letra depois que encerramos a turnê no show de San Francisco. Saí para comemorar com o pessoal, mas levei a letra junto para ir repassando. Foi nessa oportunidade que resolveu espalhar para todo mundo que eu iria tentar “remendar o coração partido da donzela da vida dele”, palavras do próprio .
Todos resolveram vir dar suporte moral, mas eu tinha certeza que só estavam curiosos para verem com os próprios olhos o que isso ia dar. Eu também estava curioso. E nervoso. Estava tão apavorado quanto no meu primeiro show no Madison Square, meu primeiro show em uma arena.
— Vou tentar não olhar demais — murmurei. — Não posso olhar pra ver como tá lá fora?
— Não recomendo. A tá na primeira fila, mas eu sei que você vai olhar... — antes que ele terminasse, corri para a brecha da porta. — ... Do mesmo jeito.
Ouvi seu suspiro, mas foquei em encontrar na plateia. Quando meu olhar bateu nela, precisei me segurar para não correr até lá para matar a saudade que tava machucando. Independente de estar apaixonado ou não, ela ainda era minha melhor amiga e eu não a via há dois meses. Estava louco de saudade.
Como disse, ela estava linda.
Ela estava rindo sobre algo que Gwen falou e quando cruzou as pernas, a minissaia subiu. Entendi muito o que disse sobre a distração. Voltei imediatamente para dentro.
— Você viu as pernas, né? — sorriu com malicia. — Tive a mesma reação.
— Se tudo der certo, ela vai ser minha namorada até o fim da noite e você tá mesmo falando das pernas dela? — arqueei uma sobrancelha, implicando. Eu não era ciumento.
— Falei no maior respeito, é claro — respondeu, levando a mão ao peito. — O cara acabou, vou te anunciar agora, se liga.
Não sei nem como ouviu que o cara tinha parado de cantar, mas ele saiu correndo para o palco, me deixando sozinho no quartinho. Meu coração estava batendo tão alto que parecia ecoar ali, mas me concentrei. Cheguei mais perto da porta para ouvir e saber quando entrar.
— Muito boa noite, pessoal! Bom, um amigo meu veio aqui porque ele ouviu falar que a garota dele tá aqui também e, como ele não fez o que devia ter feito, ela estava o ignorando com toda razão. Mas meu amigo voltou ao seu juízo e veio aqui falar para ela tudo que não conseguiu antes. Então, com vocês, !
Os gritos foram altos e eu tinha certeza que grande parte era do pessoal da equipe. Quando saí do quartinho, minhas suspeitas se confirmaram. Grande parte do pessoal estava de pé, aplaudindo e gritando enquanto incentivava como se estivesse coordenando uma orquestra. Não resisti a rir, mas me senti mais leve depois disso. No entanto, foi só olhar para que senti o peso novamente.
Os olhos castanhos dela fixaram nos meus e eu vi a incredulidade refletir neles. Seu rosto todo demonstrava a surpresa que ela estava sentindo. Arrisquei dar um sorriso travesso antes de ir para frente do microfone. Ajustei o apoio de microfone na minha altura e clareei a garganta antes de começar a falar.
— Como meu caro amigo já explicou, eu vim aqui na missão de fazer uma mulher incrível me perdoar por ter ficado calado quando eu tinha algo importante a dizer — comecei, não desviando o olhar do de . — Eu fui covarde, admito. Eu não sou bom com essas coisas, ela sabe disso, mas não justifica muito. Não vou falar muito agora porque eu escrevi uma música que diz um pouco do que eu quero dizer.
Umedeci os lábios, tirei a palheta do bolso, ajustei o violão e comecei a tocar os primeiros acordes. O bar inteiro ficou em silêncio ou pelo menos foi o que pareceu para mim quando notei o brilho no olhar dela. E então comecei a cantar:

Hello beautiful
How's it going?

I hear it's wonderful in California
I've been missing you
It's true

But tonight I'm gonna fly
Yeah tonight I'm gonna fly

Cause I could comb across the world
And see everything and never be satisfied
If I couldn't see those eyes


As luzes do bar caíram e seguiu com o plano que tínhamos armado. A primeira lanterna de celular que foi a dele, depois a de Gwen, o que surpreendeu . Então todos do bar começaram a ligar as lanternas, balançando o celular no ritmo da música. A iluminação mais baixa não me deixava olhar direto nos olhos dela, mas o meio sorriso no seu rosto era suficiente para aliviar meu peito.

Hello beautiful

It's been a long time
Since my phone's rung
And you've been on that line

I've been missing you
It's true

But tonight I'm gonna fly
Yeah, tonight I'm gonna fly...

Cause I could comb across the world
And see everything and never be satisfied
If I couldn't see those eyes


Quando finalizei a música, o bar explodiu em uma chuva ensurdecedora de palmas, mas não consegui nem agradecer, pois estava esperando uma reação de . Quando ela levantou da cadeira, tirei o violão e o apoiei rapidamente na cadeira, mas enquanto eu esperava ela vir até mim, tinha outros planos.
Ela saiu apressada para fora do bar.



Ar.
Eu precisava de ar.
Eu não estava pronta para isso. Eu nem sequer estava pronta para uma ligação, muito menos ele em pessoa aqui, ainda mais com uma música que ele escreveu para mim. Era uma besteira eu me sentir assim porque, apesar de tudo, ainda era apenas o , meu amigo há doze anos, o garoto que me deu o primeiro beijo porque nós dois queríamos aprender antes de beijar os respectivos crushs. Ainda era o que usou minha calcinha por uma semana porque perdeu uma aposta e o que tinha os puns mais fedorentos que tive o desprazer de sentir.
Mas ao mesmo tempo era diferente. Agora também era o com quem eu passei meses transando e por quem eu estava apaixonada e eu não fazia ideia do que essa música significava.
— Você precisa parar de fugir de mim, .
Mordi o lábio ao ouvir sua voz e forcei meu coração a se controlar antes de virar para ele. Qual é! Eu não sou romântica, nunca fui do tipo de sentir borboletas no estômago, coração acelerado e ficar ansiosa por algum garoto e agora estava sentindo isso justamente por ? Era simplesmente ridículo.
— Você precisa me explicar algumas coisas porque eu ainda estou confusa — cruzei os braços.
— Eu sei — se aproximou alguns passos, mas deixou uma distância confortável entre nós dois. — Primeiro: Desculpa.
— Por...? — eu iria fazer ele falar.
Seus lábios se franziram como ele sempre fazia quando não gostava de algo, mas não podia falar. Se ele estava me pedindo desculpa, claramente estava em desvantagem pra reclamar de algo.
— Por não dizer que eu estava apaixonado quando eu sabia que estava.
Eu definitivamente não esperava essa resposta e fiquei até sem saber o que fazer. Isso pareceu deixá-lo muito satisfeito, pois seu sorriso ampliou e ele se aproximou mais um pouco.
— Quê? — murmurei.
— Eu tô apaixonado por você, . Eu sabia e por isso fiquei com medo — ele passou a mão pelos cachos, puxando para trás. — Meus pais não acabaram bem, assim como os seus. Assim como você, eu tenho na cabeça a ideia de que comigo vai ser igual. Eu não queria te perder caso eu dissesse que tô de quatro por você e tentássemos algo que não desse certo.
— Foi algo bem idiota a se fazer — bufei.
— É, eu fui idiota — ele continuou. — Eu sei que fui mais idiota ainda porque esperei tanto tempo pra falar isso, mas você me conhece, . Eu entendo se você quiser quebrar meu nariz, se quiser me mandar pra o inferno, se quiser me fazer penar para ganhar um beijo seu, porque, acredite, eu quero muito... Mas, por favor, eu não quero perder minha melhor amiga. Não falar com você não é uma experiência que eu queira repetir.
— Então você escreveu essa música esperando que eu fosse te desculpar? — tombei a cabeça para o lado, avaliando sua expressão.
Ele riu.
— Eu sou mais inteligente que isso — balançou a cabeça. — Esperei que fosse suficiente para quebrar o gelo, daí, quando eu te beijar, eu espero que você me perdoe.
— Um beijo seu não é tão bom assim — agora eu que ri.
— Você sabe que é — o sorriso malicioso tomou conta dos seus lábios rosados. — Garanto que você mudaria de ideia se provasse de novo.
— Eu sei o que você está tentando fazer — apontei para ele. — Não vai funcionar.
— Não?! — e deu mais um passo na minha direção. — Tem certeza?
— Absoluta — recuei um passo para trás.
— Nesse caso... — me puxou pela cintura, me fazendo soltar um gritinho estridente demais para parecer meu. — Vou tentar a sorte.
Sua boca encostou na minha e eu fechei os olhos. Esqueci a briga, a bagunça dos meus sentimentos e foquei na saudade que eu estava. Sem minha permissão, minhas mãos subiram, uma até seu ombro e a outra se enroscou nos cachos escuros e macios que eu tanto senti falta de bagunçar. Sua boca continuava macia, se encaixando tão bem na minha quanto antes. Seus braços me apertaram contra ele, quase me tirando do chão.
A verdade é que ele tinha ganhado na música, mas o beijo foi com certeza um extra para perdoá-lo pelo silêncio que me matou por tanto tempo. Seus lábios eram ávidos contra os meus, cheios de saudade e euforia. Acabei suspirando entre o beijo, afundando os dedos no seu ombro.
— Estou perdoado? — perguntou entre o beijo, aproveitando para mordiscar minha boca.
— Ainda não — sorri, me sentindo totalmente inebriada.
encerrou o beijo com um selinho e eu encostei a testa na dele, ainda de olhos fechados. Nossas respirações irregulares se misturavam e era reconfortante saber que ele estava perto de mim de novo.
Independentemente do que eu sentia romanticamente por ele, eu odiaria perder meu melhor amigo.
Abri os olhos lentamente, encontrando o olhar de . Ele sorriu, dando um beijo no meu nariz.
— Olá, linda — murmurou.
— Eu adorei a música — confessei, abrindo um sorriso pequeno.
— Que bom.
subiu uma das mãos para o meu rosto, deixando seus dedos rasparem na minha bochecha. Seu olhar fixo no meu, como tinha sido a noite toda.
— Porque eu nunca ficaria satisfeito se não pudesse ver esses seus olhos de perto de novo. 



Fim.



Nota da autora: Eu nem acredito que consegui essa musica no último minuto do segundo tempo, socorro! Semana de prova, viagem, relatório de estágio, long para atualizar e eu resolvi pegar essa musica. Louca? Sim, muito. Eu acabei gostando do resultado depois de pensar em mil histórias. Sou apaixonada pelos Jonas e essa musica sempre foi meu xodozinho. Espero que tenham gostado da história! Beijos.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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