Capítulo Único
Even wide awake or dreaming
I’m the one who ends up leaving
Make it okay
Ela sabia.
Infelizmente, ela sabia o que deveria fazer.
Pela primeira vez sentiu medo, temeu o seu futuro. O coração de Isabella parecia pesar toneladas dentro do peito, uma angústia estava alojada ali e era como se estivesse morrendo aos poucos. Não conseguia reconhecer a mulher refletida no espelho, avaliando-a com seus magníficos e astutos olhos. Sentia-se presa num furacão de sentimentos, incapaz de pensar racionalmente. Em pouco tempo, se tornara outra pessoa e esquecera de seu verdadeiro eu: .
Antes de tudo acontecer. Antes de arder nas chamas da paixão, era a mulher temida por aqueles que ousavam pronunciar o seu nome, destemida, sagaz e a única paixão que possuía eram suas duas pistolas prateadas. O mundo em que fora criada não permitia o amor, pois trazia problemas para pessoas como ela. Inclusive, uma das lições que foram herança do seu amado pai e daqueles que o antecederam, era “vá embora, isso resolve tudo.”. Funcionou todas as vezes em que fora rastreada, mas desta vez era diferente, envolvia o amor.
Amor? - Questionou-se, sorrindo debochadamente enquanto se afastava do espelho e, pegava suas duas pistolas que estavam sob o colchão. Admirou-as.
See a match I wanna strike it
Every fire I’ve ignited
Fade into grey
Duas leves batidas na porta foram suficientes para fazer com que os batimentos de seu coração se acelerassem. Escondeu as pistolas no cós traseiro de sua calça jeans, conferiu rapidamente o seu reflexo no espelho e forçou-se uma expressão sensual, mas era algo inútil, seus olhos denunciavam a tormenta que estava para acontecer. Pela primeira vez na vida, entrou em uma guerra sem ter certeza se gostaria de lutar, entretanto, havia muita coisa em risco: sua vida, sua missão. E enquanto abria a porta do quarto em que estava hospedada, sentia-se prestes a vomitar de nervoso, medo.
— Mi amore! - Chamou-a docemente enquanto envolvia seu rosto com as duas mãos e lhe dava um beijo na boca.
Isabella fechou os olhos e se permitiu, pela última vez, sentir o despertar do rebuliço das borboletas frientas em seu estômago. Desde a primeira vez em que a beijara, era como se estivesse nevando dentro da sua barriga e ao mesmo tempo, borboletas voassem enlouquecidas pelo frio. Era uma sensação surreal, incompreensível para si mesma, sem qualquer palavra de qualquer idioma capaz de expressá-la. Pensava nunca ser capaz de enjoar de algo tão simples.
Now that you know it
Caught up in a moment
Can you see inside?
A porta fechou atrás de si com o peso de seu corpo apoiado enquanto beijava-a com intensidade, correspondia ao beijo com a mesma sede. Suas mãos apertavam as costas do homem, bagunçavam seus cabelos como se estivessem memorizando cada detalhe, cada sensação numa tentativa de guardar esse momento para si.
Mas, a dor dentro de si era absurda. O único resquício de sanidade berrava na sua mente sem parar: “MATE!”
Lágrimas ardiam em seus olhos enquanto se entregava a toda aquela paixão. Podia sentir o peso das pistolas presas em seu jeans e da sua decisão. Esforçou-se para não dar ouvidos a sua mente e apenas mergulhar nas sensações das mãos quentes de passeando por seu corpo. Entretanto, sabia que não poderia continuar vivendo com as ilusões.
MATE!
And there’s a hurricane underneath it
Trying to keep us apart
I write with a poison pen
But these chemicals moving between us
Are the reasons to start again
Apoiou as palmas de suas mãos no ombro do rapaz e o afastou usando a coragem que ainda lhe restava, interrompendo o beijo abruptamente e surpreendendo-o.
— Está chorando? - perguntou com uma expressão preocupada em seu belo rosto.
Isabella secou algumas lágrimas que jorravam de seus olhos, respirou fundo, hesitou por alguns segundos com uma de suas mãos apenas alguns centímetros de distância das pistolas.
MATE!
Seus instintos, seu lado assassina ainda gritava o objetivo que levou-a até ali. Até aquele homem. Secou mais algumas lágrimas, as palmas de suas mãos suavam frio de nervoso, os batimentos acelerados de seu coração e a respiração de ambos eram os únicos sons que dominavam aquele quarto. Sacou suas armas, ambas pistolas foram apontadas para a expressão surpresa do rapaz.
gargalhou alto, como se tivesse acabado de ouvir uma piada muito engraçada. Sua reação surpreendeu a mulher que mantinha as pistolas apontadas.
— Isabella ! Não imaginei que você viria por mim… - Falou ele com um sorriso debochado enquanto fazia um pequeno movimento com um dos braços, mas que não passou despercebido pelos olhos treinados da jovem.
— Ei, paradinho! Qualquer movimento e estouro seus miolos. - Ameaçou-o, forçando uma expressão tranquila enquanto internamente estava a ponto de desmoronar. Seu coração estava batendo tão acelerado dentro do peito, suas mãos suavam e sentia a tristeza lhe dominar. Doeu na alma saber que o tempo todo sabia da verdade, todos os momentos compartilhados foram falsos.
— Você acha mesmo que sou idiota? Eu sabia que a qualquer momento teria o mesmo destino que o Giovani… - Disse seriamente, com as duas mãos levantadas próximas ao próprio rosto. Por alguns segundos, Isabella pensou ter identificado tristeza em sua expressão.
A mulher se recordava exatamente da noite em que precisou “apagar” a ameaça de ser descoberta em sua missão. Depois de dois meses tendo diversos encontros com , se permitiu correr o risco de ser apresentada para os integrantes da sua “família”. Sabia que teria probabilidade de alguém reconhecê-la ou ter uma vaga lembrança de si, um descuido feito por culpa dos sentimentos que estavam começando a existir entre ela e . E infelizmente, Giovani reconheceu-a e foi necessário tomar uma ação de emergência.
Ainda se lembrava da noite em que seguiu Giovani até uma área abandonada, onde costumavam desovar os corpos daqueles que eram torturados até abrirem o bico para o chefão. O capanga riu ao ser surpreendido pela jovem, xingou-a, ameaçou-a e morreu com um tiro certeiro na cabeça. E também, muitos outros espalhados pelo corpo, pois Isabella costumava perder o controle quando utilizava suas pistolas.
Algo que ainda não aprendeu a controlar.
There’s no way that we could rewind
Maybe there’s nothing after midnight
That could make you stay
But now that I’m broken
And now that you know it
Caught up in a moment
Can you see inside?
— Ele me avisou! Eu fui um otário que estava cego de paixão por você e essa sua beleza, não fui esperto o suficiente para acreditar… e aí… e aí… ele foi morto. - Falou ele indignado, com uma expressão de ódio. – Como pôde me enganar assim? Hein? Me responde! - Passou as mãos pelos cabelos, bagunçando-os.
— Parado! - Lembrou ela, seriamente acompanhando os movimentos dele, atentamente.
Isabella esforçou-se para manter o controle, tentava ignorar com todas as suas forças os sentimentos que possuía por . Ela sabia que era o fim da linha para ambos e que jamais poderiam ter um futuro juntos. Ela não era a jovem turista canadense Laura Anne, que estava se aventurando pelas cidades da Itália, e sim a assassina profissional da família , temida durante gerações. E ele é o filho de um dos mais poderosos e perigosos mafiosos de toda Itália. Como poderiam ficar juntos? Havia sido uma mentira o início da relação de ambos, mas ela não foi profissional e permitiu que seus sentimentos interferissem na missão.
Jamais poderiam ficar juntos.
— Não vai me dizer nada? - Perguntou ele, irritado.
— Eu te amei… - Sussurrou seriamente, sem desviar a atenção do rapaz.
— Me amou? VOCÊ VEIO PARA ME MATAR! – Gritou, perdendo o controle. – Mas, eu vim preparado… Vamos ver quem sai vivo daqui nesta noite! - Anunciou num movimento rápido ao puxar uma arma dourada que estava escondida dentro da calça e apontou para Isabella.
Ela posicionou o dedo indicador prestes a atirar, mas perdeu a coragem. Sabia que não seria tão fácil atingi-lo sem acabar se ferindo também. Além do mais, sabia que no fundo sentia-se machucado por toda a mentira, pela ameaça à sua vida.
And there’s a hurricane underneath it
Trying to keep us apart
I write with a poison pen
But these chemicals moving between us
Are the reasons to start again
Isabella nunca imaginou que vivenciaria uma situação tão dolorosa como a que se encontrava naquele instante. A primeira vez que amou alguém de verdade, sem ser o seu pai, e estava prestes a matá-lo, ter sangue em suas mãos daquele a quem entregara o seu coração. Não imaginava como seria quando o matasse. Talvez fosse fácil de lidar como qualquer outra morte, mas sabia que não seria tão simples assim. Aprendera desde cedo a controlar suas emoções, a raciocinar o mais rápido possível em situações de vida ou morte, a lutar, a atirar e agora, se encontrava em uma situação que nunca fora treinada.
Deveria matar o grande amor da sua vida ou desistir de tudo?
Abandonar a sua carreira, o seu verdadeiro “eu” ou matá-lo?
Ela sabia que abandonar tudo não era uma escolha, pois seria morta a qualquer momento por seus inimigos.
poderia perdoá-la?
— Você seria capaz de me perdoar? - Perguntou ela ao homem que aparentava estar com muita raiva da mulher enquanto ainda apontava a arma. Ele não se dignou a responder a pergunta, apenas permaneceu prestando a atenção nela.
Ambos sabiam da resposta.
Is made up of mistakes
Let’s forget who we are
And dive into the dark
As we burst into colors
We turn into life
Tiros foram disparados.
Lágrimas e sangue se misturavam no piso de madeira. Um homem e uma mulher, ambos baleados em diversos lugares e que estavam caídos no quarto daquele hotel. Ele caído de costas sob o colchão branco, agora tingido de vermelho e sua pistola dourada perdida em algum canto do chão do quarto. E ela se arrastava pelo chão, baleada, a vida se esvaindo aos poucos de seu corpo enquanto tentava se aproximar do homem amado.
— Me perdoa, me perdoa… - Murmurava em meio ao choro que escapava de sua garganta, uma de suas mãos pressionavam a ferida no abdômen enquanto se arrastava até os pés de caído sob a cama. Usou todas as suas forças enquanto as feridas queimavam sua pele, pareciam tostar cada milímetro da sua carne.
Ela morreria.
Eles estavam morrendo.
— ? ? - Chamou diversas vezes enquanto lágrimas escorriam por suas bochechas, agora pálidas e frias. Não conseguia se levantar para alcançar o colchão, ainda foi capaz de rastejar, deixando marcas de sangue no piso, até tocar uma das pernas do rapaz. Continuou chamando-o incessantemente, bateu em sua perna.
Não houve resposta.
A dor no seu coração era dilacerante, sentia sua vida escapando através de cada ferida. Ela havia atirado primeiro em , atingindo-o na virilha e tudo aconteceu muito rápido, vários tiros haviam sido disparados e ambos caíram em cantos diferentes do quarto. E no final das contas, ela matou o homem que amava. Se sobrevivesse, jamais conseguiria conviver com a culpa, o peso da decisão tomada.
Infelizmente, o amor para aqueles como eles não existe.
É composto de erros (para começar de novo)
Vamos esquecer quem somos
E mergulhar no escuro