05. Lipstick
Finalizada em: 17/07/2018

Capítulo Único

가득한 널 꿈꾸지
Filled with all the colors of the world,
싶어 내 맘 가득히 찬
All the colors that fill up my heart;
I want your lipstick, 너란
Your color.


— Eu tenho um anúncio.
A voz de repercutiu no ambiente assim que pôs os pés no local. Os olhos do ator rodaram nas órbitas e sondaram ligeiramente a feição de quem passava por ali, captando se o manager realmente falava com ele.
A primeira coisa que ele percebeu foi que estava lá, no sofá do escritório de , lendo um livro e não prestando muita atenção na sua entrada furtiva. A segunda coisa foi que tinha um envelope marrom barro centrado em sua mesa, o que era um tanto surpreendente dado que era, quase que sempre, desorganizado o bastante para não ser possível reconhecer o que cada coisa em sua mesa poderia ser.
sentou-se à frente da poltrona de lançando um aceno direto para o envelope lacrado e levantando o olhar para o amigo.
— Antes de tudo: o que seria isso?
— Oh, nossa ilustríssima estrela em ascensão, . — disse sem levantar os olhos do livro, caçoando com o seu teor sarcástico, mas sem a habitual rejeição, fazendo desviar a sua atenção. — Você foi convidado para o Met Gala, o que significa que precisa se encontrar comigo hoje à tarde para que possamos discutir sobre.
levou dois ou três segundos para registrar que estava feliz com aquela novidade. Era difícil dizer quando ela se encontrava exultante com algo que conseguia fazer, a mulher meio que dizia a maioria das coisas no mesmo tom e o ator era um fracasso assumido em compreender as mesclagens nos timbres de humor da assessora.
— Discutir o quê, exatamente? — Ele não quis rebater na mesma velocidade, mas os olhos de finalmente se sobressaíram das folhas escritas em suas mãos e, mesmo que por uma fração insignificante de tempo, jurou ler a desconsideração bem requintada da mulher através dos seus cílios fartos.
— Bem, eu tenho que saber com quem devo entrar em contato. — Ela soou óbvia e fez se sentir ainda mais estúpido. — Você sabe, para fazer as suas roupas e todo o resto.
O ator murmurou um “oh” e limpou a garganta, ajeitando-se no assento quando notou que estava se sentindo acanhado demais no estofado. Aquele era o efeito de — a mulher poderia fazê-lo se reduzir à quantidade de um protótipo de ser humano com a mera menção de vontade.
Ele tossiu só para repercutir na sua garganta um barulho que não fosse um suspiro e olhou de soslaio para , esse que revezava as piscadelas entre os amigos, divertindo-se atrás das folhas do jornal.
— Eu pensei que poderia usar o mesmo tipo de roupa que você me arruma para os eventos. — Ele insinuou. — Céus, qual é a necessidade de enviar o convite tão cedo? Estamos em Fevereiro e esta festa é sei lá, daqui cinco meses, no mínimo?
consagrou a dádiva de escutar o suspiro mais alto e pontiagudo que ele já ouvira. Ela abaixou o livro para encarar e ele sentiu como se houvesse deixado algo alarmante passar despercebido.
— Você não pode vestir um simplório smoking para ir ao Met Gala. — respondeu calmamente. — Isso é basicamente suicídio de carreira no mundo da moda.
— Sou ator, não modelo. — criou ânimo nas cordas vocais para alfinetar a mulher. — Não acho que preciso manter minha carreira no mundo da moda, acredito que eu não devo me dedicar em agradar uma realidade que não me pertence. — revirou os olhos até alcançar a constelação e os desceu novamente para o livro, parecendo estar determinada a fingir que aquela última frase nunca havia sido dita na história da humanidade e estava só ocupando espaço físico no mesmo ambiente que ela.
— Olhe, , pense comigo. — resolveu intervir na conversa com o seu tom sábio. vagou o olhar até o amigo, sentindo o timbre do mais velho oscilar entre humorado e sereno. — Imagine que isso tudo é uma festa à fantasia. — Ele começou. — Não é necessário que alguém vá vestido no tema, mas também você se pareceria com um imbecil gigante se não for vestido no tema.
— Eu não consigo entender o porquê isso é tão importante. — franziu a testa entrando em estado de incômodo.
acha que é importante. — contornou a mesa, distraído, revirando os bolsos das calças, deixando o comentário falar por si só.
cruzou os braços irritado e descrente.
é presunçosa.
olhou para ele através dos óculos de aros escuros, de cima de sua cópia de livro, debuxando um sorriso enraivecido.
— Com licença, palerma atrevido e astucioso?
Os dois trocaram uma carga de olhares que poderia demolir aquele prédio em mais um piscar.
gostava de desferir palavreados geniais porque amava ver as sobrancelhas de se vincarem juntas em sua testa e questioná-lo como ele era matraqueado em provocá-la com sucesso.
inclinou o próprio corpo e estava resignada a deixar de fitá-lo com a profundidade de seu desfeito pelo ator. Ele engoliu em seco, fazendo com que o seu pomo de Adão parecesse o triunfo vitorioso aos olhos de , custando a desviar o olhar e não quebrar o contato visual que estabeleceram.
afrouxou a gravata presa em seu pescoço e estralou a língua passando a ficar apreensivo com o rumo da conversa.
— Eu só acho que seria bom para você aparecer em um evento que não está relacionado a algum filme que está promovendo. — pressionou a ideia no cérebro do amigo. — E, amigão, não há muitas pessoas asiáticas sendo convidadas para essas coisas. Você precisa apreciar as oportunidades de visibilidade que são jogadas no seu colo.
— Você quer que as pessoas fiquem “Ohhh, que lindo homem coreano da terceira geração adentrando no nosso humilde recinto e nos dando a graça de receber tamanha inovação!” ou “Você não deveria ter deslocado a sua bundinha magra por todo o caminho da China até aqui se não prestou para ao menos estar no tema, seu imbecil”?
respirou, tragando uma quantidade considerável de ar e esbravejando uma ira mesclada pela petulância da mulher. Ele piscou incrédulo mais alguns momentos, recapitulando o foco da conversa.
— Eu não sou chinês. — Ele disse finalmente, destacando o motivo pela suas bochechas estarem pelando de vermelhidão e seus olhos cerrados.
— Eu sei. — emergiu os olhos novamente para o objeto nas mãos, virando preguiçosamente a folha do livro. — Mas eles não.


●●●


chegou na sua casa, o lugar que acreditou estar bem vazio, ainda mais por viver sozinho desde que se mudara temporariamente para os Estados Unidos, mas ao encontrar esparramada pelo chão de sua sala, enroscada no tapete de fios grossos, empurrando diversas revistas e folhas impressas pela extensão do chão e digitando freneticamente com os longos dedos pelas teclas do notebook, ele descobriu que a mulher estava realmente empenhada em fazê-lo incorporar o espírito do Met Gala a partir de agora.
— Como você entrou aqui?! — O ator exclamou extasiado. Suas mãos desceram para a altura dos quadris e ele analisou o rosto da mulher esperando que ela forjasse ao menos uma falsa inocência, mas não era do tipo que fazia ladainhas. Ela apenas deu de ombros, olhando rapidamente para o ponto onde permanecia e retornando a atenção para o seu trabalho.
é a cabeça do crime, atribua o dolo do delito a ele. — murmurou por baixo da caneta mordiscada pelos seus dentes. sentou na borda do sofá e suspirou frustrado, passando a odiar as artimanhas planejadas do melhor amigo.
A assessora notou o contraste no humor do ator e não pensou em indagá-lo do porquê. Apesar de conviverem por um tempo razoável o suficiente para criar um vínculo que não tornasse esses tipos de perguntas desconfortáveis, ela preferiu seguir pelo caminho mais fácil e manter o contato no nível mais alto do profissionalismo, mesmo que fosse difícil deixar de rolar os olhos ou bufar impaciente para a calmaria e descontração do ator. Eles eram como dois polos totalmente diferentes que foram obrigados a se conectar por uma consequência fortuna do destino. Ela achou que mantê-lo nesta perspectiva era a melhor forma de lidar com o inferno em sua cabeça que as expressões muito claras de lhe causavam.
— Se quiser, posso ir embora. Tenho amor ao meu psicológico e aguentar a sua carranca melancólica pelo resto da noite não é o meu sinônimo de prazer. — abriu os olhos e contemplou os fios soltos despencarem pelo rosto de . Ela sorriu divertida após apoiar as costas na borda do outro sofá e abaixar os óculos do rosto, esfregando os dedos pelas laterais dos olhos e amaciando os cabelos até que ele tivesse vontade de respondê-la.
— Tudo bem, só estou um pouco cansado. — Ele remexeu-se no sofá e pressionou as mãos no rosto, distribuindo tapas pelo entorno, soltando barulhos motivadores. — Vamos fazer isso. Você não quer comer algo? — Ele perguntou acenando para a organização quase que espantosa que mantinha na cozinha.
suspirou fechando os olhos e gemendo em aprovação só com a insinuação. reprimiu o sorriso de divertimento, deixando-se levar pela presença da assessora. Ela estava enrijecida sobre os próprios pés, rodopiando a caneta grossa pelos lábios e revirando as folhas com uma agilidade impecável.
— Eu estava contando com esse momento. — Ela replicou. — Pode pedir alguma coisa por mim? Estou meio que envolvida nisso tudo. — Ela apontou para a bagunça que armou no chão do apartamento do ator. Ele assentiu com a cabeça, arrastando-se para fora do sofá e buscando pelo telefone, contornando e sorrindo ao vê-la cutucar a cabeça com a caneta e murmurar estímulos para pensar.
— O que você está fazendo aí?
— Estou tentando encontrar algo que encaixe com você e o seu biotipo. — cantarolou. — Acho que isso aqui é o suficiente para o tema sem te deixar intensamente desconfortável. Alguém vai ter que revitalizar as formas da moda masculina, mas eu tenho certeza que não vai ser você, então é melhor que pareça sofisticado, mas básico e estranho como você sempre é sem deixá-lo parecendo um peixe fora d’água.
atreveu moldar um sorriso curioso pela análise que transpareceu. Ele cruzou os braços na altura da barriga e apoiou a cabeça no encosto do sofá, fixando o olhar nos da mulher.
— O que você quer dizer com “estranho como você sempre é”?
— Ser estranho faz parte do seu charme. — Ela riu. — Dá a você o ar de bom rapaz que conserva as raízes humanitárias e não permite se tornar um robô controlado pelo senso midiático da geração atual.
— Oh. — expeliu depois de um tempo. — Ouch.
— Não se preocupe, é fofo. — sorriu. — Você deveria abraçar essa vantagem e torná-la seu triunfo. — não soube dizer o porquê se sentia mais sobrecarregado de energia depois desse inusitado “elogio”. — O que você pensa sobre isso? — Ela perguntou de repente, levantando uma folha que esboçava a imagem de um homem vestido com uma roupa bizarramente prata ofuscante, acessórios prendidos no topo de sua cabeça e uma sensação de estar retratando um verdadeiro alien cutucou um incômodo na garganta do ator.
— Quais são suas ideias sobre o que eu devo pensar sobre isso? — engasgou, apontando um tanto frenético para a imagem e repousando a mão livre no peito, achando que só poderia estar iniciando alguma espécie de transe lunático.
— Diga apenas o que você sente se vendo vestido assim, .
— Muitíssimo incomodado e fora do mundo. — Ele foi franco.
sorriu de canto, concordando com a cabeça e colocando a folha no meio das demais. Ela pareceu aceitar a argumentação do homem e deu de ombros.
— Deu para notar. — Ela disse. — Eu jamais iria colocá-lo nessa vestimenta, de qualquer maneira. Só queria saber como você reage a esse tipo de coisa.
perscrutou a imagem novamente em sua mente e se sentiu mais aliviado por saber que não estava tão devota em fazê-lo assumir com empenho as raízes de uma cultura que não é essencialmente a sua.
— Eu tenho que me vestir como se fosse o Surfista Prateado? — Ele perguntou sentindo toda a sua energia deixar o seu corpo.
— O tema é o conceito intergaláctico. — contou. — Mas não acho que você faz o tipo de vestir um colã apertadinho e rebolar diante das câmeras mundiais para apoiar sua crença de que alienígenas existem. — A mulher desceu os olhos pelas elevações do corpo de e ele ficou imóvel no seu assento endurecido como se houvesse levado um choque elétrico e respirou com cuidado quando ela se aproximou minimamente. — Você está mais para o destemido James T. Kirk, embora eu ache que os americanos só iriam ver o seu potencial para ser o filho do Hikaru Sulu. — rolou os olhos e balançou os cabelos. Ele riu pela citação de Star Trek e balançou a cabeça em negativa, achando que era uma peça achada no meio desse mundo bizarro. Ela retirou do bolo de folhas uma fotografia em especial e desceu os olhos por ela, agora começando a digerir a ideia, e não achando que aquela seria tão absurda de experimentar.
— Você gostou, huh? Agrega um contraste favorável a sua beleza. — notou a aceitação no rosto de e ele sorriu, tímido, enrubescendo sem saber o porquê. — Podemos trabalhar com base nisso.
— Eu não entendo o sentido de eu precisar me vestir dessa forma só para falar sobre filmes. — Ele disse ao invés de agradecer o elogio ou, ao menos, não sabia se aquilo poderia ser inserido na categoria de “elogios estranhamente inusitados que oferece a ”.
— Digamos que é mais uma forma das celebridades esbanjarem e exibirem suas riquezas, mas é muito bom saber que viram potencial em você para participar de um ato esdrúxulo como esse. Sem apontar o grandioso fato de que é a maior noite da moda, ou seja, os nomes mais poderosos da indústria investem suas apostas inovadoras e tendenciosas para fazer história. No fim de tudo isso, eles também querem consagrar a indústria cinematográfica. Consegue ver a magnitude desse evento? Eles unem todos os polos do universo glorioso para dar espaço a todos e continuarem fazendo fortuna.
assentiu atento, embora sua cabeça trabalhasse uma ideia contrária. Ele sabia de todas as pretensões hollywoodianas em cima desta cerimônia, mas a verdade é que ele ainda se sentia apenas um cara que nasceu no interior da Coréia do Sul e subiu para o pódio numa longa jornada difícil e trabalhosa. Apesar de todos os bem-feitos que ele já alcançou, se via apenas daquela maneira: um cara comum. E foi justamente com essa pontuação em mente que ele passou a achar que estava deixando muitas coisas passarem, inclusive o significativo fato de que ele não era tão antenado em entender por que as pessoas colocavam tamanha consideração no Met e muito menos em como alguém como ele poderia participar desta ocasião.
— Digo, eu compreendo toda a bajulação que esse evento tem. — olhou para ele. — Mas eu nunca fui ao Met e não entendo o porquê as pessoas gostam de relacioná-lo a ele.
deixou cair o catálogo que estava folheando e escancarou uma expressão cômica, se fosse assumir, e levou a mão até a altura da boca, expressando o seu choque.
— Você nunca foi ao Met? — Ela pareceu não estar acreditando.
— É só mais um museu. — levantou do sofá. — Você já foi?
— Não é só mais um museu, . — soou insultada pela colocação do ator. — É O Museu. — Ela coçou a nuca e riu incrédula. — , a primeira coisa que fiz ao chegar à Nova York foi ir ao Met. Como é que você pode estar aqui há quase um ano e ainda não foi?
— Eu não cheguei nem a me lembrar da existência dele, para ser sincero. — olhou novamente para , agora menos chocada do que antes.
não entendia absolutamente nada sobre arte.
Foi esse pensamento que se plantou na mente do rapaz, que já passara da metade da casa dos vinte anos, assim que ele leu na expressão de que, de forma bem específica, ele precisaria começar a abordar a temática menos patente em sua vida.
Afinal, o que seria arte?
pensou, refutou, digeriu, engoliu, vomitou e repetiu o processo incansável durante um bom período de minutos, determinado a realmente poder identificar se algo em seu subconsciente iria lhe advertir de que ele estava gastando muita determinação naquilo. Como uma celebridade regada de influência na mídia, não poderia pisar na bola e se envolver em um tópico que não cabia nem um pouco de sua personalidade. Sendo obrigado a encarar aquela escolha, preferiu refletir sobre as suas prioridades como um profissional. Não estava ele suposto a explorar todo o campo ilimitado de oportunidades que eram lançadas em seu colo?
A denominação de “arte” é um tanto quanto escassa e ampla demais, se fosse analisar com uma mínima atenção. A arte está em todos os cantos, literalmente, em que mirava os seus olhos por uma fração de segundos. Estava nas paredes, nas construções, nas músicas, nas peças de coleção… Eram tão infinitas as possibilidades de detectar o que era arte que ele ao menos conseguiu concluir o seu pensamento.
Ora, ele também é um artista. Sua fonte de renda e, especialmente, sua fonte de paixão, ao qual lhe condicionava a continuar fazendo o que fazia era nada menos a arte que transmitia pela emoção humana, pela capacidade de projetar um universo fictício que de tão verdadeiro poderia ser confundido com o real.
também trabalhava no mundo da música, o que ele considerava por si só uma enorme denominação de “arte”, apesar de que a sua devoção tenha sido deixada momentaneamente de lado pelo fato de estar se dedicando ao novo desafio na carreira.
Como é que, então, que o seu conhecimento poderia ser tão ínfimo sobre algo que faz parte de sua rotina?
coçou a extensão de seu queixo e franziu a testa até que uma ruguinha de curiosidade evidenciasse uma das qualidades inconfundíveis do ídolo: a tentação de se explorar no desconhecido.
— O que é tão difícil de acreditar sobre isso? — perguntou. — Eu só não sou do tipo que gosta de frequentar museus de arte.
A campainha tocou advertindo que a comida havia chegado. foi em direção à porta e ficou confortável sentada sobre suas pernas, oferecendo uma piscadela sacana para o ator.
— Amanhã. — Ela disse quando já estava a caminho da saída. — Vou te levar para o Met e, você gostando ou não, irá conhecer a “arte para os não-artistas”. Porque, querido , você ainda tem muito a aprender.


●●●


descobriu que não estava brincando ou exagerando quando disse que iria, realmente, fazê-lo ir ao Met. Ela apareceu às sete e meia na porta da casa do ator, acionando a campainha até que a ponta de seu dedo latejasse. O rapaz levantou-se da cama, ainda acreditando que só poderia ser o alerta de um terremoto e alguém estava lhe ajudando a despertar do sono profundo para salvar a sua pele, mas quando ele se deparou com o monitor da câmera externa ele só pôde ver , enrolada em um cachecol grosso e volumoso, escondendo parcialmente a elevação avermelhada de seu nariz. Ela saltou algumas vezes nos próprios pés e acenou eufórica ao perceber que havia ligado o conversor do aparelho e iria dirigir uma sequência de palavrões em sua orelha.
— Vamos, vamos, , o mundo das tintas está te esperando! — cantarolou dançando em torno da celebridade ao tê-lo visto abrindo o portão do condomínio.
Eles saíram às oito da manhã, o que soou impiedosamente maldoso para porque se ele não entende de arte nem quando está bem acordado e descansado, quem dirá quando ainda está adormecido e se arrastando pelas ruas. pouco se importou, no entanto. Ela insistiu que deveriam partir cedo para evitar as filas crescendo à medida que o dia começava e seria melhor apreciar as obras enquanto o lugar estivesse vazio.
Ao entrarem no táxi, porque estava muito sonolento para dirigir e é adepta ao passeio mais turístico e típico possível de New York, o ator notou que havia algo espairecendo entre os nuances de . Ela estava sorrindo e não parecia nem um pouco sarcástica ou debochada, um tanto radiante para a proporção do momento. Quando ela mergulhou para dentro do táxi e saudou o motorista com um cumprimento polido, percebeu que ela estava transbordando alegria.
E, ele pensou, que talvez fosse quem iria fazê-lo se importar com Arte e História. Ela tinha uma capacidade inacreditável de atribuir uma nova perspectiva ao mundo unicamente sua e fazer com que os neurônios de se alinhassem em pensamentos que rotineiramente ele nunca chegou a cogitar. A forma que encarava a vida e era capaz de julgá-la, entendê-la e vivê-la era uma das coisas que ele mais amava na mulher — e claramente nunca admitiu em voz alta — porque, ao invés de se adaptar a todo o exterior e como ele funciona, preferia criar uma visão própria para si, uma que seja mais prazerosa e bela de encarar. , vez ou outra, se pegava tentando pensar nas coisas do mundo pela maneira que a mulher pensava. Às vezes ele até mesmo se culpava por estar deixando que ela o influenciasse tanto assim.
saltou para fora do táxi sem antes terminar de conversar com o motorista e abriu os braços teatralmente, parando logo à frente e de costas ao museu, olhando animada para .
Tchan-ram! — Ela quase gritou. retirou os óculos de sol e deu uma olhada geral no ambiente. Ele precisava confessar que nunca havia notado o potencial naquele prédio. O museu parecia bonito, de um jeito que ele não tinha percebido, agora que o encarava no solo e de frente. Por passar em frente ao local quase todos os dias, ele não gastava tempo analisando os detalhes do edifício, mas nesse momento ele se sentiu tolo por ter deixado algo tão bonito passar despercebido. — A escadaria é a minha parte favorita! Não parece que estamos no filme “Uma Noite no Museu”?
— A única diferença é que estamos em Nova York e o museu de Uma Noite no Museu fica em DC. — rolou os olhos para o ator. — Esse aqui é tão bonito quanto aquele.
Ela é uma guia turística muito envolvida e determinada a explorar, iria atribuí-la esse elogio. É muito mais divertido e interessante ver dando seus próprios comentários intercalados com fatos e explicações aleatórias do que assistir alguém que ele nem conhece falar sobre algo muito menos conhecido aos seus olhos.
contou para sobre como achava ridículo as pessoas comprarem arte com o pressuposto de exibi-las em forma de demonstrar suas riquezas. Arte é arte, pura e nítida, e não deveria ser vista como fonte de renda lucrativa para aqueles que se apropriam. O verdadeiro gênio ao qual deveria ser vangloriado era a pessoa que criou aquele universo na tela, não quem era capaz de fazer duplicar o valor. Em sua concepção, acreditava que as pessoas sempre arrumariam uma oportunidade de superfaturar coisas que nasceram com um propósito totalmente inspiracional e verdadeiro, ao contrário dos cifrões.
— Se você encarar cada quadro sem a sombra dos milhões que eles valem e que colaboram para induzirem a sua análise sobre eles, a sua visão irá se clarear e você compreenderá a finalidade do artista. — Ela perdurou o olhar entre a obra a frente e . — Acredite em mim.
E ele acreditou porque agora, olhando para aqueles quadros, parecia muito mais belo do que antes, quando ele julgava como alguém seria capaz de embolsar milhões gordos em um só quadro. entendia que arte é arte e que está nos olhos de quem vê, mas ele não conseguia assimilar a necessidade de aplicar tamanha quantidade de dinheiro em algo que, ao seu ver, não tinha aquela intenção. Assim como só queria que sua arte fosse ouvida, ele achava que aqueles pintores só queriam que a arte deles fosse interpretada e compreendida. Por que fazê-los se resumir a dinheiro, então?
Depois de algumas incontáveis voltas pelo museu, corou furiosamente por toda a ala de arte moderna assim que pôs os pés no recinto, porque em toda parte ele via alguém nu e sua expressão despencou alguns níveis de timidez quando o arrastou, pela mão, para a ala de arte africana.
— Você está corando e isso é tão adorável! — quase choramingou e afagou as mãos pelos lados do rosto de , deixando-o ainda mais desconcertado e afundando no seu senso de vergonha. Ele entortou o nariz e resmungou algumas coisas, mas a mulher estava mais interessada em zombar do ator do que ajudá-lo a recuperar a concentração.
— Eles estavam todos nus. — tentou se defender. — Havia tantas partes despidas por todo canto!
começou a gargalhar e a sua rápida e acanhada explosão de humor pareceu inadequada porque todas as pessoas ao redor observaram a arte em silêncio e seus olhos giraram de encontro à mulher ostentando um riso alegre e vívido. olhou pelo ambiente, achando graça na forma que a maioria das pessoas indagaram uma repreensão com os olhos, mas não se importou com elas, por incrível que parecesse. Ele só queria que continuasse rindo.
— E há coisa mais artística do que o corpo? — recuperou a voz. — O corpo nu, especificamente.
Deus, forçou-se a não descer os olhos pelo corpo da mulher e ratificar com os próprios sentimentos aquela afirmativa. estava parecendo um bebê enrolado em tantas roupas e aquilo nem ao menos impossibilitou de ter uma memória resgatada das vezes em que ele a via desfilando com seus figurinos no verão, algumas toneladas a menos de roupa e trajes expondo mais centímetros de pele. Quando ele notou que havia aquele tipo de lembrança em sua mente, seu rosto voltou a corar e ele se culpou infinitamente por estar imaginando dessa forma.
Quem ele queria enganar? Ele tinha uma queda que só descia e descia para o fundo do poço por essa criatura inusitada que era conhecida pelo humor pontuado, as expressões cômicas e o cérebro genial.
É claro que ele não iria esquecer-se do momento em que viu vestida em um vestido preto, de cauda longa, ombros à mostra, um par de luvas tocando até a altura dos seus cotovelos e um colar de diamantes descendo pela sua clavícula e cruzando com as bordas de seus seios, o ponto em que refutou olhar por mais de dois segundos, mas acabou fracassando e se envolveu por um tempo mais duradouro do que aquele. A memória surgiu de lugar nenhum e se perdeu um pouco naquela cena que tinha sido protagonizada pela mulher quando ela foi uma das convidadas para a premiação que foi premiado.
Apesar de ela soar majestosa naquele traje, o jeito que mais gostava de vê-la era assim, na sua forma comum, ainda que imensamente sofisticada perante os olhos do ator. conseguia ser o perfeito tipo de classy woman até quando tentava não ser. Era natural e se crucificava por amar tanto os detalhes dela.
— Você é uma especialista em Arte. Já pensou em seguir carreira? — tombou o rosto e olhou com atenção para . Ela encarava as obras de arte dos greco-romanos e um sorriso lisonjeado emergiu dos lábios dela, mas logo diminuiu quando ela notou que também sorria. Ela mirou o olhar mais penetrado nos glóbulos de e elevou a sobrancelha.
— Está querendo se livrar da sua manager, ?
Ele sorriu provocativo e deu de ombros, piscando para a mulher.
— Ficou tão óbvio assim?
socou a lateral do braço do ator e ele resmungou um xingamento, fingindo estar bravo e irritado com ela.
— Vamos, se você acha que o que viu na sala passada é um atentado ao pudor… Espere só para ver o que vem a seguir. — arregalou os olhos para ela e quase choramingou quando o puxou pelo braço.
— Você irá me traumatizar dessa forma, ! O que diabos vamos ver?!
— Descubra com os próprios olhos. — apontou para um canto distante de onde eles estavam e, quando o grupo de turistas dispersou pelo ponto e deixou que ele tivesse uma visão geral, escancarou a boca e soltou um som misturado de surpresa e nojo.
Era a figura de um homem imensamente enorme, nu e parecendo encarnar a luta lendária da humanidade.
— Céus, o quão estranho é ter de esculpir um homem nu em um pedaço de mármore? — encarava a arte, escandalizado, achando que o atleta nu poderia criar vida a qualquer momento e esbofeteá-lo.
— Sinceramente, … — cruzou os braços encarando a estátua e deslizou a língua pelos lábios. — Você acha que essa escultura surgiu do além sem nenhum modelo para ajudá-lo a reproduzir a imagem? — Ela sorriu maliciosa. — Se tem uma coisa que deve ter sido ótima foi justamente esculpir esse homem nu.


●●●


— Vem, ! — cochichou um pouco alto para puxar o ator em direção à outra sala. estava com os olhos vidrados nas esculturas retratando crianças com aparências de perfeitos adultos e ele não conseguia simplesmente parar de olhar. Ao mesmo tempo em que parecia muito feio, pensava o quão lindo deve ter sido na época já que, ser pintor nos raios da idade média deve ter sido, no mínimo, uma experiência única.
— Eu não consigo parar de olhar, me ajude! — Ele quase entrou em desespero. Elevou as mãos nas alturas das maçãs do rosto e fechou os olhos, tentando fugir daquela imagem que era tão cativante e meio que assustadora. prendeu o riso e o empurrou pelas costas. — Por que eles são tão feios e velhos?
— É porque naquela época os pintores só começaram a pintar crianças porque os pais queriam um retrato de seus filhos. As pinturas de Jesus influenciaram demais porque, na época em que pintavam imagens de Jesus versão criança, em todas elas ele aparentava ser mais velho do que atualmente era quando bebê. — explicou para . — As pessoas achavam que Cristo já havia nascido com o seu corpo totalmente desenvolvido, como um pequeno homem. Quando eles caíram na real, depois disso, eles passaram a ver as crianças como seres frágeis e a imagem se distorceu nos próximos séculos.
— Isso é meio assustador. — olhou curioso para ela. — Por que eles pensavam assim?
— É um pensamento de pessoas que viveram em milhares e milhares de séculos atrás, . — deu de ombros, realmente não interessada em aprofundar o assunto. — Quando se envolve religião, às vezes nem tudo faz perfeito sentido.
— Tenho medo de fechar os olhos à noite e quando abrir encontrar uma criança daquela, segurando uma espada medieval e apontando para mim enquanto sorri diabolicamente.
A carranca de se contorceu em pavor e medo, olhando rapidamente para só para ter certeza de que ela também sentiria medo só de imaginar uma cena daquela. A mulher, em contrapartida, olhava divertida e impressionada para . Ela não esperava que ele se envolvesse tanto com esse passeio, estava até mesmo crente de que teria que o arrastar pelos lugares o mais rápido possível para não correr o risco de ter de ir embora cedo demais. Quando aparentou estar entretido em todo o contexto histórico e querendo conhecer mais, ela sentiu a pontadinha no coração de alegria e realização, mas aquele lado responsável por arcar com os seus sentimentos repreensivos explorou ainda mais aquele feeling. Ela desviou o ângulo de seu rosto e soltou um longo suspiro, passando a fingir que estava encantada com todas aquelas obras, mas na verdade ela estava encantada com . Como sempre esteve.
— Você já imaginou a dor no corpo que o pobre homem sentia ao andar com um negócio desses?! — indagou surpreso quando passaram pela armadura de um soldado medieval. desceu os olhos pelo traje antigo e sorriu impressionada. O trabalho era, de fato, maravilhoso, rodeado de detalhes e sustância. Ela não se cansava de se impressionar com a capacidade, desde o início, do ser humano em criar belezas. Na época, a quantidade de materiais e habilidades era escassa, não haviam tantos instrumentos modernizados para ajudá-los a criar estruturas como atualmente, mas era impressionante o quão detalhadas e perfeccionistas eram.
— É incrível, não é? Hoje em dia nós iríamos rir na cara da pessoa que nos falasse que seria necessário usar essa armadura para fazer o seu trabalho. — Ela cruzou os braços em frente à armadura e sorriu mais estupefata. — Mas na época era significado de puro orgulho. Eles carregavam isso como se fosse um prêmio.
sorriu em resposta.
— Vamos, tem mais uma coisa que quero mostrar a você. — segurou na mão de com tamanha facilidade que, ao notar, seu rosto quase pelou de vergonha como o de . Havia se tornado um hábito automático segurar a mão do ator para guiá-lo e não se perderem no meio das multidões, mas mesmo ali, no vazio do corredor, sentiu a vontade de segurar a mão de . Ele percebeu também, logo após ela, de que as mãos entrelaçadas não eram necessárias, não se eles estivessem em outro momento. Embora ambos se conformavam com aquele fato, nenhum deles soltou a mão do outro.
— Essa sala é especialmente para você compreender o que eu quero que entenda. — saiu da frente de e lhe lançou um sorriso. — Que há várias extensões de arte.
contemplou a enorme sala completa de instrumentos de diversos portes, tipos e anos. Seus olhos varreram pelo ambiente e ele não sabia para onde olhar primeiro — em cada segundo que passava ele queria correr pela sala e admirar cada peça que ali residia.
estava logo atrás, tranquila e serena, observando o estupor de . O ator ficou em silêncio, revezando os murmúrios em espanto e os suspiros em admiração, deixando a mulher sozinha em seu pleno contentamento e conforto. Ela sorria à medida que arregalava os olhos e achava que a peça em sua frente estava prestes a desmanchar.
— Você está brincando! — apontou para o instrumento que mais amava naquele museu.
Ela sorriu a ponto de suas bochechas se tornarem almofadados aos olhos de . Ele retribuiu ainda mais feliz e esperou chegar até ele.
— Sim, é ele mesmo. — Ela olhou para o instrumento. — Ao vivo e a cores.
Os dois deixaram que suas vistas se acostumassem com a imagem surreal do piano mais antigo da humanidade. Estava ali, perfeitamente diante de seus olhos, o primeiro piano na história de existência dos pianos, feito em 1720 por Bartolomeo Cristofori, o italiano que é creditado como o inventor do instrumento.
— Me sinto viajando no tempo. — compartilhou o pensamento. — Parece que estou diante do início da minha paixão, naquele dia que eu descobri pela primeira vez qual é o prazer de tocar um piano. Como é que eu deixei de visitar esse lugar antes?!
ia explodir de felicidade. Aquela revelação foi como canção aos seus ouvidos e ela riu abobalhada, passando a admirar, agora, a feição de . O ator estava no céu, encarando com cuidado cada um dos instrumentos na sala, atento em descobrir qual era a origem, quem inventou e de onde veio.
A onda de quietude e felicidade logo trocou de lugar com a sensação de seu coração estar se aquecendo.
Não porque ela se provou certa, pela milésima vez, para .
O coração de se aqueceu porque é tão bonito no meio daquelas esculturas que, durante o vislumbre, também o considerou como um belíssimo retrato de arte.
O seu tipo favorito de arte.


●●●


— Então, disserte sobre a experiência magnífica que você teve. — As curvas dos lábios de se curvaram para cima e pressionou os lábios contra o frappuccino de chocolate em suas mãos. A luz provinda da janela do fundo da cafeteria inundou o ambiente e envolveu como se ele fosse Jesus, nascido de uma concepção imaculada. Ela quase gargalhou com o pensamento, balançou a cabeça vagarosamente para espantar os pensamentos e acreditou que se continuasse seguindo aquela linha de pensamento uma hora ou outra soltaria mais um comentário ou elogio para o homem, o que seria péssimo para os “seus negócios”.
“Seus negócios” estes que se entendem por “seus sentimentos mal resolvidos e mal compreendidos”.
Ela sutilmente limpou a garganta e estralou a língua pela abrasada da bebida ter a feito formigar. inchou um bico descontraído, cogitando como estruturar os seus pensamentos e concluir aquele dia em questão.
— Achei, hum, digamos que interessante. Foi surpreendente, no mínimo. — Ele disse sorridente e contente. havia mostrado a ele um lado do mundo que ele desconhecia, até mesmo poderia passar a apreciar com mais frequência. — Mas ainda acho totalmente desnecessário encher uma sala com estátuas de homens pelados.
gargalhou e empurrou o corpo para frente, dando um leve tapa no ombro de e jogou o seu peso novamente na cadeira, passando a mão pela barriga e sorrindo por fim. se sentia estranhamente embasbacado pela reação espontânea da mulher. Ele mal sabia qual era a sensação de fazê-la rir, sempre fora do tipo que não esboçava maiores reações humoradas quando estava por perto. Ela permanecia centralizada, momento ou outro sorria mais abertamente ou demonstrava seu lado “humano” de ser. Ao vê-la ali, tão relaxada e leve, começou a achar que a sua paixonite secreta entraria em evidência caso ela soltasse mais um bendito sorriso que poderia competir com o Sol para descobrir quem brilharia mais.
Mesmo que estivesse vestida em tons opacos e só ostentava um cachecol amarelo mostarda, se convenceu de que a felicidade era a cor que vestia perfeitamente bem a mulher.
— Você é péssimo, . Cuidado com as palavras, talvez você ainda tenha que desfilar peladinho na frente das câmeras. — entortou o nariz e negou com a cabeça. — Você não aceitaria fazer um filme em que precisaria ficar nu ou parcialmente despido? Tipo, em uma cena de sexo ou coisa do tipo?
abaixou a cabeça como pretexto para fingir estar concentrado em terminar a sua bebida. A verdade é que ele corou só de imaginá-lo simulando uma cena de sexo com alguém, muito mais diante das câmeras. A questão era que , apesar de ser uma das figuras consideradas como “modelo sexy da imagem masculina” do país, ele se limitava a se ver como um completo estranho. Não conseguia entender como diabos alguém poderia projetá-lo como um deus sensual ou coisa do tipo e foi por isso que ele não achava que iriam querê-lo em cenas dessa finalidade.
A ideia, no entanto, passeava pela mente de e por um momento ele se permitiu questioná-la. Seria, iniciando o tópico, curioso se imaginar fazendo um trabalho assim, incluindo todas as sensações vergonhosas e depreciativas que ele desenvolvia em seu cérebro, mas desafiante também.
— É, talvez eu viesse a pensar um pouco sobre a proposta. — respondeu. — Seria um belo desafio.
— Eu acho que seria ótimo. — respondeu com graça, não parecendo estar o zoando ou algo do tipo. — Imagine só ver peladinho, do jeito que veio ao mundo, no telão do cinema?
Ele mordiscou a ponta da boca e riu minimamente, começando a se arrepender antes mesmo de terminar de respondê-la.
— Se estiver interessada, você não precisa esperar para ver em uma tela de cinema.
Os olhos de pareceram se erguer com majestosidade quando a última palavra soou feito uma melodia em seus tímpanos. estava com as costas grudadas no estofado, as mãos brincando com o canudinho da bebida e os olhos sondando a reação claramente avassalada da mulher. Ele sorriu ao pé que alargava o choque e a incredulidade, fazendo com que ambos não soubessem o que dizer, mas só pensar em como diabos foram parar naquela encruzilhada.
quis rir, mais por ser um fracasso como homem e ter jogado a piadinha menos atraente e cativante de todos os tempos, e pensou que chegaria até a chorar se continuasse com os olhos arregalados e presos em seu rosto.
, … — repetiu o nome do ator com graciosidade, transbordando pela palavra um teor de maliciosidade e luxúria que ele mal teve tempo de prender a respiração e sentir os seus batimentos cardíacos perderem a paciência. — Você deveria tomar cuidado quando faz esse tipo de proposta.
— E por que eu tomaria?
estava de volta. Ah, com a plena certeza estava, diante dos olhos de , se deliciando com a habilidade que tinha para desarmar o homem e deixá-lo rendido em seus dedos.
— Porque uma vez feita não dá para voltar atrás. — A tonalidade em sua voz sobrecarregava um alerta. — E você não terá tempo para se arrepender.
— Aí está a questão, . — Ele inclinou-se para frente, tendo um vislumbre da marca de catapora na testa da mulher, um pouco acima de sua sobrancelha direita. — Tenho certeza de que eu não me arrependeria.
Oh, os detalhes. Todos eles.
Ele estava apaixonado pelos detalhes.
Os lábios carnudos e avermelhados por natureza construíram uma estrada para o manicômio e se viu diante da viagem mais prazerosa que viria a fazer.
Com a sua camiseta no tom coral de um oceano, as pétalas de rosas secas que estavam jogadas logo atrás de sua figura, no canto externo do ambiente, ornando com toda a sua figura, tudo parecia um presente para ela, um conjunto de detalhes para torná-la ainda mais linda.
O engraçado, para , foi que ele passou as últimas vinte e quatro horas pensando em arte, arte e arte, mas ele mal se ateve em assemelhar o que diabos é arte com a coisa que, escancaradamente, significava arte para ele.
era a arte de seu mundo.
Como a arte que se coloriu sozinha com a cor mais linda, pintada severas vezes em seus delicados lábios, era uma obra de arte bem diante dos olhos apaixonados de .
No momento menos previsível, se pegou querendo o batom da boca de , a cor da mulher, o sabor de beijá-la. Ele quis saber se, beijando seus lábios regados de cor, ele poderia conhecer o seu coração.
Ele queria conhecer o coração de e era por isso que ele estava se aproximando cada vez mais.
Antes de selar a distância, queria vê-la e contemplá-la com o conjunto do sol laranja e do pôr do sol vermelho abraçando a mulher em uma paisagem encantadora.
Os lábios dela brilharam, talvez porque queriam descobrir se poderiam se tornar diamantes aos olhos de ou porque o universo todo conspirou a favor dele.
No momento em que ele a alcançou, os seus olhos se fecharam e todas as cores se extasiaram como se ele houvesse ficado cego.
Quando permitiu que conhecesse os seus lábios, ele suspirou, finalmente, sentindo-se enfim completo.
Aquela descoberta, por obséquio do seu coração, foi o que lhe fez continuar a beijando, ainda mais, como se o mundo estivesse explodindo em todos os tons de cores, vívidos, pastéis, vibrantes, mórbidos, ele não se importava.
Naquele segundo, eles eram todas as cores.
Naquele segundo, eles se tornaram a mesma cor.
A cor do que chamaria, timidamente, de amor.
— O que foi isso, ? — expeliu quando os lábios do ator estavam abertos em um sorriso de tirar o fôlego. Ela sabia bem o que era, oh, como sabia, mas o seu cérebro estava em pane e ela não pensou coerentemente quando fez a pergunta mais óbvia do século. Era inacreditável!
A assessora suspirou, beirando ao encantamento, e não controlou o sorriso que preenchia cada poro do seu rosto.
— Isso é arte. — não se sentiu envergonhado de selar os lábios dos dois mais uma vez. — O que sinto por você é arte. Passei as últimas horas da minha vida me preocupando em descobrir o que raios poderia ser arte, mas não me dei conta de que, você, , é arte. A minha arte preferida.
sentiu o arco-íris explodir de dentro do seu coração e irradiar luz pelo universo. Seus olhos se penduraram nos lábios quentes e macios de e ela só quis pensar que eles eram realmente quentes e macios.
— Apesar de tudo? — perguntou com receio. — Apesar de eu sempre tentar te afastar e me esforçar para fazer com que você fique longe de mim? Apesar de eu ser essa bagunça que nunca aceitou entender o que diabos eu sinto por você, porque a sua existência por si só me faz sentir coisas que eu só acreditei que existiriam nas telinhas dos filmes que você estreia?! — Ela gesticulava apreensiva e nervosa com as mãos, tentando de todo modo colocar em palavras o aglomerado de sentimentos que o ator causava em seu coração. Pareceu impossível, quando sua ficha caiu, buscar uma maneira de explicar a o que ele significava para ela. Nem mesmo , que vivia sob a própria pele, tinha noção da profundidade daqueles sentimentos.
sorriu encabulado. Ele percorreu com o polegar pela bochecha da mulher e ela fechou os olhos, suspirando extasiada com aquele supérfluo contato.
— Por causa de tudo. — respondeu. — Eu também passei todo esse tempo tentando fugir do que você causava em mim, do que eu poderia sentir se eu permitisse deixá-la entrar no meu coração de vez. A verdade é que… — umedeceu os lábios e riu descrente. — Você chegou dando um pontapé na porta do meu coração e se apossou dele por completo.
A mulher ia admitir que havia acontecido a mesma coisa com ela, mas não achou que era preciso. A mágica sobre os dois era o fato de que não havia necessidade de traduzir em palavras o que cada olhar significava. entendia que era , do seu jeito, e poderia retribuir o que ele sentia, talvez até já retribuísse.
Para ele aquilo bastava.
Estou confessando o meu amor porque é tudo sobre você, . Eu irei dar o meu coração para você dessa vez.
suspirou. A cor do seu coração esvoaçante ficou mais espessa com os lábios vermelhos de e ele poderia ver aquela imagem como a última de sua vida. No momento final, sabe-se lá quando seria, iria se lembrar de estar nesta cafeteria, no auge dos seus vinte e tantos anos, observando a mulher mais linda que já conhecera, por fora e por dentro, como um perfeito retrato esculpido por Da Vinci — tinha a vaga certeza de que se tornaria eterna em seu coração. Antes de assumir o que sentia por ela, ele achava que não teria aquela experiência de um amor para recordar, um amor para consumi-lo e o completar.
Ali, naquele fim de tarde ensolarada, em um dia de outono, descobriu que era a sua oportunidade.
Estavam se aproximando, seus corações ficando mais sensíveis e o paladar intangível daquela declaração rastreavam um mapa nos percursos dos lábios de ambos.
se sentiu como uma francesa da idade média, sendo pintada pelo seu pintor favorito, numa sala intimista, só ela e o seu artista. contornava as elevações de com precisão, tentando memorizá-las como se tivesse medo de que a qualquer momento aquele momento evaporasse e ambos seguissem um rumo diferente. A mulher sentiu-se confiante o suficiente para buscar pela mão do ator, que estava em cima da mesa, repousando como se aguardasse por aquele contato, e seus dedos brincaram pelas extremidades dos dele. foi descendo o olhar, pausadamente, só para não perder o brilho nos glóbulos da sua artista. Ela suavemente segurou a mão dele com a sua e a levantou até encontrar o caminho para os seus lábios. Os seus olhos foram se fechando e, os de , se estreitando cada vez mais e mais, ao passo que o seu sorriso preenchia todos os detalhes de seu rosto.
Os lábios forrados do batom vermelho repousaram no dorso da mão de e ele sentiu o beijo doce, carinhoso e eletrizante de , percorrendo por toda a sua pele, corrente sanguínea e ossos. O beijo da mulher era a sua vitória particular, seu presente preferido, seu prazer recém-descoberto e sua certeza mais indiscutível.
A marca dos lábios vermelhos de ficou tatuada na mão de . O batom dela talhou a resposta que ele tanto quis desde que conheceu a sua futura beldade.
O ator sabia o que aquele gesto representava.
Era o início do seu tão desejado e aclamado amor para recordar.
— Bom, acho que preciso dizer que a sua dissertativa foi nota dez. — Ela falou fazendo o homem sorrir, rir e gargalhar, rechear o ambiente com formosura. — Você se saiu muito bem com exercícios práticos.
— Sabe como é, eu tenho uma boa professora para creditar. — sorriu sugestivo. — Mas acho que ainda preciso de mais algumas aulas de reforço… Quem sabe na minha casa?
delineou um sorriso malicioso e sugestivo, do jeito que tinha certeza ser o suficiente para declinar a sua capacidade mental e fazê-lo submisso aos pés da sua musa. Os lábios dela se rechearam de prazer ao tocar os de , indicando que a sua provocação não era em todo caso uma má ideia.
— Vamos, Jack Dawson, quero lhe ver me pintando como você pinta as suas francesas.
— Será um prazer, Mademoiselle Rose DeWitt Bukater.




End.
For now.



Nota da autora: AYOOOOOO MY SOFT BABIES! WHAT’S UP?
Gente do sky, como explicar esse plot?! Surgiu literalmente depois do Met Gala de 2018 que, precisamos dizer: FOI MEGA POLÊMICO (nas inovações, digamos assim).
Fiquei aqui refletindo sobre as culturas, a indústria cinematográfica, o lugar de fala poderoso e as repercussões que esse evento é capaz de gerar globalmente aaaaaaand aconteceu que eu precisei transformar isso em um pequeno cenário de fic! HAUAHUAUHAHA.
Sempre quis fazer algo mais “explorador” no sentido cultural, que pudesse ser um ensinamento de assuntos diários, mas que nem nos atentamos e/ou deixamos passar despercebido. Tem coisa melhor do que Artes e História para ajudar na missão?! Hehehehe.
Ficou bem light, algo mais leve e “introdutório” para o romance do casal, mas acabei gostando bastante! Sou apaixonada por momentos em que os personagens trocam vivências e conhecimentos, aí ficou difícil não amar esses dois ♥.
Para que eu não me prolongue demais (as always) quero finalizar agradecendo às donas do site, as betas, capistas, helpers e todas as pessoas que estão por trás para manter esse time em pé e trazer o melhor nível de entretenimento e, de certa forma, refúgio para milhares de pessoas. É aqui que as diversas autoras se sentem confiantes o bastante para colocarem os seus trabalhos a público e não dá nem para definir a magnitude da beleza que esse site tem. Obrigada, FFOBS, por nos disponibilizar essa oportunidade mágica! ♥
Espero que tenha sido uma boa leitura para quem chegou até aqui e que eu não tenha te decepcionado!
Fico infinitamente grata por você ter chegado até aqui!
Nos vemos na próxima música, no próximo ficstape, no próximo projeto e em qualquer ‘corredor’ desse site maravilindo. Se cuidem!
We are one! ♥




Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


comments powered by Disqus