[Capítulo Único]
Eu estava passando pela rua com algumas sacolas em mãos, de uma pequena compra que eu acabara de fazer e vi com a sua gangue, na varanda de sua casa, que fica bem em frente à esquina onde eu moro.
— , eu…
— Não — o interrompi mais que depressa — Eu realmente não quero estresse agora, tô cansada.
— Pelo menos quer a minha ajuda? — Perguntou, apontando para as compras e sorrindo de lado.
— Eu agradeço a gentileza, mas eu aguento levar isto pra casa. — Sacudi as sacolas e ele assentiu.
— Tudo bem, eu vejo você por aí — ele ficou parado me olhando e eu balancei a cabeça, me retirando de sua presença, rapidamente.
Infelizmente, todas as vezes que eu saio de casa, tenho que encarar a face do meu ex-namorado e ainda sou obrigada a conviver com suas investidas falhas de reatar o nosso relacionamento, que foi um dos piores que eu já tive. sabe que a gangue de é a maior do nosso bairro, mas ele teima em querer dominar a nossa área, e talvez se dê mal nessa tentativa. Eu não quero estar por perto quando isso acontecer.
Continuei a caminhar sobre o meu salto alto e grosso, a passos largos, sentindo o olhar de e de seus parceiros cobiçando os meus atributos naturais, muito bem valorizados pela saia jeans curta e blusa verde generosamente decotada, que eu usava com gosto. Balancei o meu cabelo, deixando o vento soprar sobre a minha nuca, o calor estava terrível. Encontrei minha irmã deitada na nossa velha espreguiçadeira, tomando banho de mangueira no quintal, com seu biquíni cavado de cor rosa e chamando atenção da vizinhança, pelas suas belas curvas expostas. Não que isso seja um problema para ela, que adora chamar atenção, principalmente por sua beleza incomum.
— Depois não reclame quando passar por aqui te perturbando, você sabe o quanto ele é doente! — Eu a avisei, enquanto abria o portão e ela continuou fazendo pose.
— Eu não vou esconder a minha beleza só porque é louco, ele precisa saber que não sou propriedade dele. — Ela riu, se banhando novamente. — Você sabe que aquele traste vive me perseguindo, mas eu não quero mais nada com ele.
— é um babaca, mas é o pai do seu filho, o problema é que ele só se lembra disso quando joga na nossa cara que paga pensão alimentícia. — Eu bufei irritada com a situação, era sempre assim. — E a pior parte é que nós duas sabemos que, sem a grana dele, não temos como cuidar do Nico. — rolou os olhos despreocupada e eu entrei em casa, logo guardando as compras.
Reparei que a casa ainda estava em ordem, minha irmã é uma bagunceira, mas conseguiu manter a organização do local enquanto eu me mantive longe. Um ponto positivo para aquela inconsequente.
— — ouvi me chamar com a voz um pouco alterada — Socorro, ! — Corri até o quintal, encontrando puxando o cabelo da minha irmã, enquanto ela tentava se soltar dando alguns golpes nele.
— Solta ela agora, ou teremos um grande problema aqui! — Eu o ordenei, tentando afastá-lo da minha irmã, mas ele fez força contra mim, me empurrando com certa violência. — Você me ouviu, desgraçado?! — O soquei com toda força que eu possuo.
— Está precisando de ajuda, ? — apareceu no meu portão. Como temos apenas um cercado enferrujado em volta da casa, tudo que acontecia no quintal era visto pela vizinhança.
— Você acha mesmo que eu tenho medo desse panaca? — me perguntou, rindo de , que entrou no quintal, o socando no rosto. — Man, você tá implorando por uma surra — soltou minha irmã e focou apenas em meu ex.
— Liga para , agora! — me pediu desesperada e eu a olhei, furiosa.
— A culpa dessa merda toda é sua! — Eu disse, tirando o meu celular do bolso e ligando para o meu namorado. Não acho que tenha que realmente se isolar por causa de , ela não o deve nada, nem mesmo são namorados. Porém minha irmã continua se envolvendo com ele casualmente e o provoca sempre que pode, e isso definitivamente me irrita, porque eu sempre sou obrigada a me intrometer em suas brigas, antes que saia morte dali. — , preciso que você venha até aqui o mais rápido que puder.
— Chego aí em dois minutos. — Respondeu com certa urgência e finalizou a chamada.
Percebia o quanto estava golpeando , e por mais que eu odeie quando ele fica me perturbando com seus papos de ainda estar apaixonado por mim, insistindo para voltarmos, mesmo sabendo que eu tenho um novo namorado, eu não queria que ele fosse morto, ainda mais à sangue frio. é capaz de tudo e eu odeio o fato de ele ser o pai de um anjinho como o Nico, o meu sobrinho não merecia um pai como ele. Mas é uma louca, que nunca pensa nas consequências de seus atos, apenas quando já está pagando pelo que fez.
O ônibus que todos os dias leva e traz Nico da escola, parou em frente à nossa casa e o menino viu a cena do pai batendo em .
— , leva o menino para dentro de casa, sua inconsequente! — Eu a ordenei. Vi saindo de seu carro e suspirei aliviada, ele logo apartou a briga e mandou que não aparecesse mais na casa, a menos que fosse visitar Nico e levar a pensão dele.
— Agora vaza daqui, seu frouxo! — Ele disse a , que não contestou. Se estivesse em seu comum estado até o faria, mas arrebentado do jeito que já estava, eu duvido que ele ansiasse por outra surra. — Ainda não acredito que você namorou com esse babaca metido a gangster — me deu um beijo rápido e se sentou na pequena escada que dá acesso à porta de entrada da casa.
— Não vamos falar sobre isso agora. — Eu fechei a passagem de água da mangueira que deixou desperdiçando.
— Você parece bem estressada hoje. — Eu me sentei ao lado do meu namorado e ele passou seu braço pelas minhas costas, me apertando em um abraço de lado. — O que tá te deixando assim?
— A falta de grana, a arrumando sempre algum problema, o que toda semana vem nos perturbar, que não me deixa em paz… Eu só tô cansada disso tudo.
— Tem certeza que não quer morar comigo? — Eu o olhei, sorrindo de lado. Sabia que estava tentando me poupar de todo o estresse que vivo, mas eu preciso encarar todas as situações da minha vida, sendo elas boas ou ruins.
— Não posso abandonar o meu sobrinho — ele concordou com a cabeça — A minha irmã é uma boa mãe, mas não mede as consequências de nada do que faz e o menino tá sempre sujeito às suas loucuras. Eu preciso estar aqui para ele, tenho que protegê-lo.
— A sua ligação com ele é bem forte, né?! — Eu assenti, respirando fundo e sorriu para mim, tirando um bolo de dinheiro de sua carteira. — Toma, vai ajudar vocês por alguns meses e…
— Não, eu jamais aceitaria esse dinheiro. — Ele continuou insistindo, mas eu arduamente negava. — Eu já disse que não, .
— , você sabe que eu tenho condições de te dar uma vida melhor, por que não vem comigo?
— Eu não quero o seu dinheiro, , eu gosto de você e ponto. Não quero nada além do seu amor, parceria e fidelidade. — Cruzei meus braços. — Além do mais, você tem uma festa planejada para o fim de semana, não precisa gastar seu dinheiro comigo.
— , é pelo seu sobrinho que eu digo para você pegar essa grana — eu desacelerei um pouco a minha respiração e o encarei, ele apertou o meu nariz e sorriu fofo. — E sobre a festa, já tá tudo resolvido.
— Você tá apelando usando o meu sobrinho como desculpa — eu dei uma tapinha em seu peito e ele riu fraco, me envolvendo em um abraço apertado. — Eu trabalho muito para receber o é meu por direito, honestamente, . Sei que tá tentando me ajudar, mas eu não quero o seu dinheiro, ele é muito sujo.
— Eu te entendo, amor, mas esse dinheiro eu recebi com honestidade, acredite em mim. Tenho feito alguns trabalhos temporários na empresa do meu tio, eu saí da liderança da gangue e para falar a verdade, não estou mais andando com os caras. — Eu arregalei os olhos, surpresa e ele riu mais alto, me entregando o dinheiro. Suspirei mais forte, escondendo as notas no sutiã, não queria ter que aceitar, mas a situação me leva a isso. — Eu tô desprotegido agora, então ninguém pode saber disso.
— Claro, eu entendo — ele assentiu. — Mas estou muito orgulhosa de você. — Pulei em seu colo e ele me olhou intensamente, segurei seu rosto e o beijei empolgada. — Sei que você viveu tempos difíceis, mas, a partir de agora, você levará uma vida digna.
— Depois de três prisões, finalmente, terei a vida normal que pedi a Deus. — Ele disse, ainda me olhando nos olhos e eu sorri orgulhosa, o beijando novamente. Conseguia ver o brilho no olhar de e sabia o quanto ele estava satisfeito com a nova fase que se iniciara em sua vida.
Sexta-feira, 20h20; dia da festa.
— , você tá bem? — me perguntou, enquanto eu saía do banheiro que fica no corredor do segundo andar de sua casa. — Hoje você parece meio desnorteada.
— Tá tudo bem, eu só tô um pouco enjoada, mas isso é o que a bebida faz, né?! — Eu o olhei, forçando um sorriso. — Vamos voltar pra festa, ainda quero dançar mais.
— Assim é que se fala. — Ele se aproximou de mim, cambaleando e derrubando um pouco da bebida, que carregava em mãos, sobre alguns convidados que estavam no andar debaixo. Rimos baixo e nos escondemos no quarto dele, durante um tempo. — Isso é loucura!
— O que?
— Eu. Você. Nós.
— Vós — eu disse em tom de brincadeira, o fazendo rir mais alto.
— Falando sério agora, eu nunca imaginei que a gente daria tão certo. — Eu assenti, lembrando de quando nos conhecemos.
Flashback On:
Retornando do trabalho, eu caminhava pela minha rua, sendo encarada por pessoas que eu nunca nem vi por ali e estranhei a movimentação, mas deixei passar, estava cansada demais para me importar com besteira.
O dia no escritório foi bem puxado, era sempre assim quando havia reuniões dos diretores.
Eu só precisava relaxar um pouco.
Cheguei à frente da minha casa, avistando pessoas desconhecidas e da vizinhança dançando loucamente ao som de Soldier em meu quintal e jogando algumas bebidas uns aos outros. Fiquei boquiaberta e furiosa, já sabendo do que se tratava e de quem havia organizado, pelas minhas costas, a festa, mas me controlei ao máximo para não começar a gritar descontroladamente.
Enquanto eu procurava por , vi duas meninas rebolando em cima da mesa central, que fica na sala e mais alguns bêbados que estavam caídos sobre o nosso sofá, as aplaudindo. Fui para o meu quarto e expulsei os casais ousados que estavam de saliência na minha cama, voltei à sala dando de cara com e outro cara brigando, e o pior, na frente de Nico.
Não importa quem você seja, se escandalizar na frente do meu sobrinho, vai arrumar um problema dos grandes comigo!
— Hey, vocês dois — dei uma tapa bem forte nas costas dos marmanjos — Não percebem que tem uma criança aqui na casa os observando? — Os perguntei, descansando uma das mãos na cintura. — Qual é o problema de vocês?
— E-e-esse cara… — apontou para o homem, me fazendo o encarar.
— O que tem ele? — Eu arqueei uma sobrancelha, recebendo um olhar tão intenso que me desestabilizou por alguns segundos. Respirei fundo, tentando manter a mesma firmeza de antes.
— Ficou olhando para o seu bumbum e eu não gostei disso. — reclamou, me fazendo revirar os olhos, impaciente. Estava tão bêbado que mal conseguia falar. — E ainda continua olhando? Ah, você quer mesmo apanhar. — Ele tentou avançar no homem, mas eu o empurrei e o mesmo caiu no chão, e por ali ficou.
— Então você é a irmã da ? — O homem perguntou, mas o ignorei, enquanto eu ordenava Nico a se trancar em meu quarto. — Muito prazer, eu sou e...
— Escuta aqui, cara — eu apontei o dedo indicador para ele, chegando a encostar em seu peito, mas logo desviei minha atenção a , que havia entrado na casa completamente alterado, com certeza por alguma droga misturada com o alchool. Ele estava ameaçando todos os convidados, nos deixando apavorados e eu percebi que o homem, com quem eu acabara de falar, fez sinal a alguns de seus amigos para conter meu ex-cunhado.
— Quem é esse?
— Infelizmente, o louco que meu sobrinho chama de pai. — Eu disse preocupada, mas também aliviada por Nico estar em meu quarto naquele momento. Mas, foi nesse exato momento que apontou uma arma para mim. — Mas que droga você tá fazendo, cara?! — Eu levantei as mãos, em sinal de rendição e o meu coração disparou.
— Se não largar essa arma agora e vazar daqui, você vai sentir da pior maneira o furo que eu vou fazer em seu crânio! — o ameaçou, agora apontando sua arma para a cabeça de , que não se rendeu. — Eu não tô pra brincadeira, cara, então não testa a minha paciência.
— Quem você pensa que é pra…
— Sou o dono desse território — disse visivelmente alterado, se referindo ao nosso bairro. A gangue dele já havia dominado toda área. — Por isso, eu vou te falar pela segunda vez, e peça a Deus que não haja a terceira; larga essa merda e vaza daqui.
— Você é metidinho a gangster, mas não passa de um filhinho de papai revoltado com a vida — disse provocativo, rindo alto sem humor algum e engatilhou a arma, já a encostando na cabeça do outro.
— Não, por favor — eu pedi, tentando o segurar, mas ele continuou apontando a arma para — Ele é um ser desprezível, mas é o pai do meu sobrinho e o menino o ama mais que tudo. — Eu o encarei, enojada e ele me olhou, de olhos arregalados, abaixando a arma. Seus olhos pareciam perdidos, era visível que ele não sabia o que fazer.
— Ele pode ir — falou, deixando os seus parceiros confusos e até mesmo furiosos — Mas, que fique claro que eu só livrei a sua cara porque a irmã da me pediu em consideração a criança. Na próxima vez…
— Não terá próxima vez. — num tom firme e olhou de para mim, logo saindo raivoso, o que me deixou preocupada. O conhecendo bem, sei que ele não deixaria ficar por isso mesmo a vergonha que passou, ainda mais diante dos convidados.
pareceu não se importar com isso, mas quando algo é relacionado ao pai do meu sobrinho, o assunto sempre é sério. Sério até demais.
— Você não devia ter feito isso — se virou para mim, guardando sua arma e me olhando curioso — é perigoso.
— Eu sei, ele quase te matou, não é mesmo?! — Eu respirei fundo, engolindo as palavras de em seco, era a verdade e eu não podia fazer nada quanto a isso. — Olha, me desculpa por ter estragado a diversão da galera, mas eu não podia deixar aquele cara entrar aqui e ameaçar a minha turma, não no meu território.
— Só que este aqui é o meu território, minha casa e sou eu quem mando aqui, entendeu? — Eu disse irritada, já estava cansada dessa briguinha idiota de gangues querendo conquistar o seu espaço.
— Eu não podia deixar que ele te machucasse. Eu jamais aceitaria algo assim, ainda mais com você! — O encarei, um tanto surpresa com a intensidade em suas palavras e ele riu fraco, parecia tentar se acalmar.
— Eu — ele ergueu as sobrancelhas, esperando ansioso pelas minhas próximas palavras — Entendo e te agradeço. Aliás, desculpa por…
— Por favor, não se desculpe por nada, você é a maior vítima dessa história. — Eu concordei com a cabeça e ele respirou fundo — Eu não quero que pense que tô me aproveitando do momento, mas será que você pode…
— Te passar o meu número? — Eu rolei os olhos, esperando pela confirmação dele e o mesmo assentiu. — Ah claro, não poderia ser diferente vindo de…
— vêm me falando sobre você há algum tempo — ele me interrompeu com serenidade na voz, me olhando de um jeito fofo — E desde então, eu tenho me interessado por você.
— Bem — eu confesso que me senti afetada por seu jeito meio desajeitado ao falar comigo, mas sem deixar transparecer. — Eu posso até te passar o meu número, mas por gratidão ao que você acabara de fazer por mim. — Eu disse em um tom superior, erguendo as sobrancelhas e mexendo no cabelo. — E é bom que você não seja mais um babaca, eu tô cansada de babacas!
— Ah não, eu sou moderno à moda antiga. — Ele disse confiante e eu ri por um curto tempo, o fazendo me acompanhar.
— Tudo bem — tirei uma caneta preta da minha bolsa e escrevi meu número em sua mão. — Prontinho. Agora se me der licença, eu preciso expulsar todos vocês da minha casa.
— O que?
— A FESTA ACABOU, CAMBADA! SAIAM TODOS DAQUI, SEM DEIXAR UM SÓ RASTRO DE VOCÊS PARA TRÁS. — Eu gritei, fazendo alguns reclamarem, inclusive , que já estava se tornando um só corpo com um de nossos vizinhos. — Onde é que você estava, garota? Eu quase fui morta pelo . — Se não fosse o seu amigo pra me ajudar, eu nem sei.
— , deixa de ser chata e dramática. — Eu fiquei boquiaberta com a atitude dela em ignorar a minha quase morte — Você ficou bem, nada de pior te aconteceu e ainda tá cedo pra acabar com a festa.
— Eu trabalhei muito hoje, tô cansada. E Nico tem aula amanhã cedo. — Ela revirou os olhos. — Não tente argumentar nada ou eu expulso você também.
— Que merda, ! — Ela disse irritada, pedindo aos convidados para se retirar.
— Hum, você ainda não foi — olhei para , sendo surpreendida por ele, que tirou uma foto minha. — Me deixa ver essa foto — ele me mostrou a imagem e eu puxei o celular de sua mão, logo a apagando — Deixa que eu mesma faço isso. — Dei algumas batidinhas no rosto, como se isso realmente fosse realçar a minha maquiagem depois de um longo dia de trabalho, e sorri para a câmera.
— Então é verdade. — Ele disse de repente e eu o entreguei o celular.
— O que é verdade? — Perguntei, o vendo encarar a tela do aparelho.
— O que a sua irmã falou sobre o seu sorriso, é encantador. — Eu franzi a testa, mas não deixando de dar razão a ele. — Bem, eu vou indo, mas a gente se fala.
— Tudo bem, até qualquer dia. — Ele saiu assentindo e eu vi me olhando com cara de tédio. — Que foi, garota?
— Devia estar me agradecendo por conhecer alguém legal como , depois de ter ficado com o idiota do . Mas não, você faz essa cena ridícula de mandar todo mundo ir embora e ainda me mete nisso. — Rolei os olhos, não estava com paciência para os drama da minha irmã.
— — ela me encarou de braços cruzados e sobrancelhas arqueadas — Vou para o meu quarto agora e só sairei de lá amanhã pela manhã, para trabalhar. É melhor que esta casa esteja um brinco até a hora que eu for sair, caso contrário, teremos um problema.
Deixei ela reclamando da vida na sala e fui para o meu quarto, vendo Nico dormindo em minha cama. Tomei um banho rápido e me aninhei a ele, também me entregando ao sono.
Flashback Off.
— Eu fiquei com tanta raiva da minha irmã naquele dia, você não tem noção.
— Eu lembro do quanto você ficou irritada — ele riu fraco, tirando a sua jaqueta e me puxando contra o seu corpo, em uma pegada bem ousada. Começou a beijar meu pescoço e a subir a barra do meu vestido completamente dourado e brilhante, porém quando transferiu seus beijos para minha boca, o empurrei rapidamente e corri, mais uma vez, para o banheiro. Não queria sujar o banheiro do seu quarto, mas os enjoos estavam fortíssimos. — , o que tá acontecendo contigo?
— Eu não sei direito, acho que é só a bebida fazendo seu efeito. — Lavei a minha boca, logo depois de usar o enxaguante bucal. Sei que é errado fazer isso, mas que líquido horrível para fazer a minha língua arder. — O estranho é que têm acontecido com frequência nas últimas semanas.
— Então não é só por causa da bebida. — me olhou desconfiado e eu saí do banheiro, me sentando em sua cama.
— Eu já tô bem, podemos continuar de onde paramos e…
— Não, , você não tá bem. — Ele se esquivou do meu abraço e tirou uma bolsa branca de dentro da sua gaveta. — Toma. Eu comprei para você ontem à tarde, só não esperava que fosse usar agora. — Me entregou o objeto e eu me surpreendi com o que vi.
— Testes de gravidez, ? — Ele suspirou, escorando as costas e um dos pés na parede, cruzando os braços. — Você acha que eu tô…
— Grávida? Sim, você tá estranha há dias, pensa que eu não te observo? Pensa que eu não me preocupo contigo? — Eu acharia muito fofo da parte dele a sua preocupação comigo, se a situação não fosse amedrontadora para mim.
— — eu o olhei chorosa e ele se aproximou de mim, sentando ao meu lado.
— Não precisa ter medo de nada, amor. Se você não estiver grávida, nós ficaremos com a consciência tranquila, mas se você realmente estiver, então nós iremos tomar os devidos cuidados e vai dar tudo certo. — Ele me deu um abraço muito reconfortante e eu tomei um pouco de coragem para levantar e fazer os testes.
Levei a sacola para o banheiro, já fechando a porta quando a segurou, me fazendo o olhar, curiosa.
— Não quer que eu fique contigo? — Ele ergueu as sobrancelhas, ansioso pela resposta. Estava meio desajeitado. — Eu posso… Sei lá, segurar a sua mão ou segurar seu cabelo ou… Eu não sei, só quero te apoiar. — Ele deu de ombros, suspirando forte. Parecia mesmo preocupado.
— Eu agradeço, amor — me aproximei dele novamente, acariciando o seu rosto. — Mas sinto que preciso fazer isso sozinha, entende? — Eu forcei um meio sorriso, selando nossos lábios e ele assentiu, ainda apreensivo.
Fechei a porta do banheiro, sem trancá-la e fiz todo o procedimento indicado pela embalagem do produto.
Esperei o tempo necessário e me torturei com pensamentos que me vinham, caso o resultado fosse positivo, pensei muito em como faria para criar a criança, pensei na condição de , agora que está limpo e fora da gangue, talvez correndo perigo de vida, pensei em mim e no bebê e pensei em e Nico, que correm tanto perigo quanto nós…
Minha mente não parava de rodar em pensamentos desnecessários, mas eu não conseguia os controlar.
Eu finalmente tive a coragem de olhar para todos os resultados e cada um deles deu positivo, senti como se um buraco se abrisse debaixo dos meus pés e eu escorei na parede, deslizando as costas até cair no chão, ainda segurando os testes nas mãos.
Desatei a chorar fortemente, não queria assustar , mas dentro de mim, o medo era o maior que eu já senti em toda a minha vida. O que seria do bebê? O que seria de nós? O que seria da nossa família?
— , você tá aí por muito tempo, qual foi o resultado? — perguntou, demonstrando apreensão em seu tom de voz, mas eu não o respondi. Tudo que eu conseguia era apenas chorar e chorar. — — ele abriu a porta com certa agressividade, talvez por achar que eu havia trancado a mesma, e invadiu o banheiro, me encontrando encolhida no canto da parede, soluçando de tanto chorar. — Meu Deus, ! Pelo seu estado, o resultado foi positivo.
— Sim — eu o respondi, com a voz embargada e o abraçando muito forte. — Eu não sei o que fazer agora. Eu…
— Calma — ele me interrompeu, ainda me consolando. Eu sentia fraqueza em meu corpo devido aos enjoos fortíssimos e a tudo que coloquei para fora, durante todos esses dias, e pelo tanto de lágrimas que eu não conseguia controlar. — Nós vamos dar um jeito, sem desespero, por favor.
— Eu tô tentando me controlar, mas tudo que sinto agora é preocupação e medo. — Ele assentiu, passando suas mãos sobre o meu rosto, na tentativa de secar algumas lágrimas. — Como iremos proteger essa criança? Como iremos nos proteger? Corremos tantos riscos agora e eu não quero perder nenhum de vocês!
— Hey amor, você precisa se acalmar, vem — me ajudou a levantar e me levou até sua cama. — Vou agora até a farmácia para comprar algum calmante que uma grávida possa tomar, você não pode ficar nervosa assim.
— Não, eu não quero ficar sozinha.
— Eu vou chamar a sua irmã e ela vai cuidar de você, ok?
— Estamos falando de , , ela não cuida nem dela mesma. — Eu disse, rolando os olhos e ele riu fraco.
— Conta a verdade a sua irmã, tenho certeza que ela vai te apoiar. — Assenti compreensiva e ele me cobriu com seu cobertor azul, apesar do calor forte, eu me tremia muito e até sentia uns calafrios. A verdade é que eu estou tão nervosa, que mal consigo parar de tremer. — Eu volto logo. — Ele beijou minha testa e saiu do quarto.
Esperei alguns minutos por minha irmã, conseguia ouvir o som abafado de Party tocando lá embaixo, não queria acabar com a festa dela, já que eu a conheço muito bem e sabia que ela viria reclamando, ainda mais por estar perdendo a sua música favorita.
— me contou que você não tá bem, então eu vim correndo — adentrou o quarto, falando muito alto e me assustando. — Mas é melhor que seja grave, minha música favorita tá tocando e eu saí no meio da dança. — Ela se sentou à minha frente e eu a analisei, toda animada, vestindo seu conjunto de cropped e shorts vermelhos com seu tamanco preto e as tranças longas jogadas para o lado, presas pelo próprio cabelo.
— , acabei de descobrir que tô grávida — ela abriu a boca por alguns segundos e logo sorriu largamente, me fazendo estranhar — Por que tá reagindo assim?
— Porque eu vou ter um sobrinho e tô muito feliz por você. — Ela me abraçou forte e ficou segurando as minhas mãos — Ainda bem que o pai é um cara ajuizado e irá cuidar muito bem de você e do bebê.
— Por falar em pai, a conversa que nós tivemos sobre ter saído da gangue não foi levada adiante, né? Sei que você ainda se encontra com , então eu espero que você tenha mantido o bico fechado. — Ela desviou o olhar para a janela e eu comecei a me alterar — , você contou isso a ele?
— Calma, estresse não faz bem ao bebê. — Eu a ignorei e continuei a encará-la. — Tudo bem, eu confesso, contei a ele anteontem, nos encontramos para… Conversarmos sobre Nico — sabia que estava mentindo, ela só se encontra com por segundas intenções — Então eu acabei falando, mas foi sem querer.
— Sem querer? , tem noção do quanto isso é grave? — Ela fez uma expressão de arrependida, mas era tarde demais, a merda já estava feita. — Agora é torcer para que... — Ouvimos alguns tiros por perto, o som abafado estava bem nítido, e nós arregalamos os nossos olhos, já pensando no pior.
— Garotas — um amigo do meu namorado invadiu o quarto, parecia ofegante — acabou de ser baleado e tá lá na rua.
Corremos juntos até a frente da casa e lá estava ele, estirado no chão, jorrando tanto sangue que eu nem fazia ideia de como ele iria resistir. Fui até e segurei firme em suas mãos.
— Será que alguém pode chamar logo a droga da ambulância? — Eu disse histérica, começando um choro forte.
— Amor — ele me olhou de olhos arregalados e eu chorei ainda mais ao vê-lo assim — Se eu morrer agora, tudo bem, apenas mantenha uma boa saúde e cuide do nosso bebê. — Ele dizia com dificuldade, sua boca também jorrava sangue.
— Por favor, meu amor, não diga isso — Eu apertei ainda mais suas mãos — Você vai ficar bem e criaremos nosso bebê, juntos.
— Foi aquele desgraçado do , ele me deu dois tiros friamente a queima-roupa! — tossia forte, expelindo cada vez mais sangue.
— Eu sei, mas agora fique quietinho, poupe as suas forças.
Fui arrancada de seus braços por alguns paramédicos, que já faziam o procedimento padrão para um baleado e o levaram, sem me dar ao menos uma esperança de vê-lo com vida novamente.
Eu e mais alguns amigos de ficamos esperando por notícias dele durantes horas, tudo que sabíamos é que ele estava passando por uma cirurgia difícil, o que fazia nossa apreensão aumentar.
— Quem está acompanhando o paciente…
— Sou eu. — Me levantei da cadeira, na sala de espera, sem ao menos esperar o médico pronunciar o nome de . — Como ele tá, doutor?
— Bem, ele perdeu bastante sangue pelo tiro que levou em seu lado direito do abdômen, a cirurgia para a retirada da bala foi muito complicada, mas obtivemos sucesso. O outro tiro passou de raspão em sua perna direita, por isso não causou nenhum dano grave, apenas o acarretará uma cicatriz, assim como em seu abdômen. — Eu assenti a tudo que o médico disse, mas ainda não estava totalmente aliviada. — Agora ele precisará de repouso absoluto e de alguns medicamentos. Também ficará alguns dias internado para observação e curativos diários.
— Mas ele irá sobreviver?
— Ao que tudo indica, sim, mas precisamos mantê-lo em observação. No geral, está tudo estabilizado. — O médico disse simples. — Sei que você quer vê-lo, mas ainda é muito recente para receber visitas. Creio que você entenderá.
— Por favor, doutor, acabamos de descobrir que teremos um filho, eu estou numa pilha de nervos.
— Então você precisa ser examinada agora, sofreu um grande estresse e isso não faz bem ao bebê. — Ele chamou um dos enfermeiros, que se aproximou. — Esta moça está grávida e acabou de passar por uma situação muito estressante, leve-a para fazer uma bateria completa de exames, quero saber de tudo e dê um calmante a ela, dá para se notar de longe o quanto ela está se tremendo.
— Muito obrigada, doutor. É muita generosidade sua. — Ele sorriu um pouco.
— Agora, se me der licença, preciso ver outros pacientes.
— Claro. Obrigada, mais uma vez, por tudo. — Apertei sua mão e ele saiu, entrando em outro corredor.
— Vamos? — O enfermeiro perguntou, me fazendo o acompanhar até uma sala muito clara e limpa.
Depois de relaxar tanto a ponto de dormir, olhei ao meu redor e vi sentada na poltrona, folheando uma revista de moda.
— Odeio essas roupas de revistas, precisamos mesmo esconder tanto assim o nosso corpo? — Ela disse, deixando o objeto de lado e me olhando preocupada — Você tá bem? — Fechei meus olhos para não encará-la, estava com muita raiva ainda e eu não queria falar com ela. — Sei que tá brava, mas me perdoa, tinha ameaçado você e Nico, por isso o contei sobre . Eu fiquei com medo do que ele poderia fazer com vocês.
— — eu abri meus olhos e ela se aproximou — É verdade?
— Não mentiria sobre um assunto tão sério, eu tive muito medo mesmo, você sabe o quanto é maluco! — Ela suspirou forte — Me arrependo muito de ter me envolvido com ele, a única parte boa disso foi o Nico. Mas ainda bem que ele foi preso e desta vez, vai ser difícil de sair de lá.
— Tudo bem, obrigada por ter tentado nos proteger, sua inconsequente. — Eu segurei em suas mãos e ela riu, rolando os olhos. — Mas você precisa viver uma vida diferente da que leva, . Proteja Nico com todas as suas forças, o nosso território é um lugar perigoso de se viver e ele é um menino muito bom, não deixe que ele se desvie e fique como o pai.
— Eu sei. — Ela puxou suas mãos delicadamente e ficou andando pelo quarto. — Hoje eu realmente pensei em mudar as minhas atitudes e cuidar do meu filho. Quero mudar de bairro.
— O que?
— , entenda, eu não vejo futuro para o meu filho se continuarmos por lá. E eu não tenho problemas com a vizinhança, pelo contrário, eu gosto de todos, mas chegou a hora de parar de ser egoísta e pensar mais em Nico. — Continuei a olhando, ainda incrédula. Estava surpresa, nunca vi falando tão sério. — Eu não condeno a vida que os outros levam — eu assenti — Mas não quero isso para o meu filho.
— Eu te entendo. E se você acha que tá fazendo o melhor para ele, siga com esse pensamento até o fim. — Nós sorrimos e ela veio me abraçar, emocionada. — Sentirei sua falta.
— É, eu também. Não vou ter mais uma chata gritando comigo.
— Pois é, se livrou de uma mulher que só gritava contigo porque se importa. — Eu disse emocionada e ela me apertou no abraço — Eu sempre irei me preocupar com você e Nico, eu amo vocês.
— Ora, ora, a bela adormecida acordou. — Eu ouvi a voz do médico e cocei os meus olhos, me espreguiçando. — Se sente melhor? Mais relaxada?
— Sim, obrigada por ter me ajudado ontem — ele abanou uma das mãos e sorriu, escrevendo algo em sua prancheta — Eu ainda tenho que ficar aqui?
— Não mais, só mantivemos você por aqui para não afetar o bebê, já que estava muito nervosa. — Eu assenti — Mas os exames foram feitos e os resultados são bons, mas você precisa de alguns medicamentos, está com uma leve anemia.
— Isso prejudica o bebê? — Eu me sentei na cama.
— De certa forma, o desnutre também, mas como eu disse é uma anemia leve, melhorando a alimentação e tomando algumas vitaminas, você ficará melhor.
— Bem, então eu seguirei as suas recomendações. — Eu sorri fraco e o médico assentiu.
— A sua bebê também está bem, crescendo e se formando conforme deveria mesmo, é uma linda menina.
— O que? Já deu para ver o sexo?
— Sim, o enfermeiro obstetra não te disse? — Neguei com a cabeça e o médico parecia mais surpreso que eu. — Com quantas semanas de gestação você acha que está?
— Não sei, imaginei 4 ou 5, eu não entendo bem disso.
— Errado, você está com 14 semanas, 4 meses de gestação.
— Mas já? — Eu tentei normalizar a minha respiração. — O meu ciclo vinha normalmente.
— Não é muito comum, mas acontece. — O médico me deu um papel — Aqui está tudo que você precisa para ter uma gravidez saudável.
— Obrigada, doutor. — Eu disse, enquanto lia a receita. — Eu já posso ver ?
— Sim, a sua estadia por aqui acabou e ele já está acordado, querendo te ver. — Eu sorri satisfeita — Venha, eu te acompanho até o quarto dele.
Segui o médico, passando por mais algumas salas e quartos, e conseguia ver o olhar superior de algumas pessoas, já que o hospital não era frequentado por pessoas como eu, de classe mais baixa, mas mantive a minha postura e continuei o caminho, sem me deixar ser afetada pelos olhares curiosos e maldosos.
— Ainda está sentindo dor? — O médico perguntou, enquanto entrava no quarto e apenas mexeu a cabeça, nos olhando.
— Um pouco, mas não tão forte. — Ele tentou se sentar, porém a dor o impediu.
— Permaneça deitado, sem fazer esforços. Mais tarde eu voltarei para ver como está o seu curativo.
— Obrigado, doutor. — O médico sorriu assentindo e saiu, nos deixando a sós. — Não vai me dar um abraço?
— Tô com medo de te machucar. — Eu disse receosa e ele riu fraco, me chamando com as mãos. O abracei cuidadosamente e suspirei aliviada por vê-lo bem. — Depois de ontem à noite, é uma benção que você esteja aqui agora e bem.
— Tem razão — eu me afastei para o olhar, segurando em suas mãos. — E você, como tá se sentindo? Eu soube que te levaram para um quarto.
— Eu fiquei muito nervosa e eles me deixaram em observação, por causa do bebê.
— Não consegui chegar a tempo com o seu calmante ontem, né?! — Ele riu e eu dei uma tapinha em seu braço. — Eu sou um doente, você não devia bater em mim. — Ele fez cara de choro e eu dei outro tapa nele. — Ah meu Deus! Você acertou o local operado, tá doendo muito. — Reclamou e eu me desesperei.
— Desculpa amor, eu não devia… — Fui interrompida por sua risada um tanto alta e a minha raiva estampou em minha face, tenho certeza. — Você é ridículo!
— Ah, não fica brava, eu só tô tentando te divertir um pouco, sei que o clima aqui é meio tenso. — Ele disse tentando me puxar, mas eu me afastei — Desculpa amor, vem aqui, vem.
— Assim você assusta a sua filha também. — Eu me aproximei dele, ainda emburrada.
— Como assim filha? É uma menina? — Perguntou incrédulo e eu assenti, rindo de sua expressão — Como deu para saber assim tão cedo?
— Estou com 4 meses de gestação, . — Eu disse simples, mas ele parecia meio desnorteado. — Tá tudo bem?
— Eu tô surpreso, só isso. — Ele começou um choro baixo, tentando esconder seu rosto. — Quer dizer, eu vou ser pai de uma garotinha
— Amor, não precisa ter vergonha de chorar — eu tirei seus braços de cima do seu rosto e beijei sua bochecha, molhada pelas lágrimas — É da nossa filha que estamos falando, é algo realmente emocionante. Quando foi que imaginamos isso?
— Em mil anos, jamais pensaríamos nisso — ele disse com a voz embargada.
— Isso só torna a experiência mais incrível! — me olhou, ainda chorando — Estamos sendo mesmo abençoados.
— Sim, nós estamos. Apesar de eu estar aqui acamado.
— Mas olha pelo lado bom, você sobreviveu, só precisa ter uma boa recuperação. — Ele sorriu para mim e assentiu.
— Você tem razão. — Eu selei nossos lábios — Sabe, eu estava pensando, acho melhor nos mudarmos, precisamos fazer isso. Ainda mais agora pensando em nossa filha.
— foi preso.
— Infelizmente, isso não nos mantém em segurança, amor. Eu ergui as sobrancelhas, bufando. — Sei que é uma decisão difícil, mas a gangue do pode tentar terminar o que ele começou e talvez para se vingar, tente fazer algo com você e com a nossa bebê e eu seria incapaz de me perdoar se algo assim acontecesse a vocês.
— Eu entendo — mais uma vez, selei nossos lábios.
— O que foi? — perguntou preocupado.
— Eu sabia que se vingaria de você — passei as mãos pelo rosto — Acho que agora me arrependo por não ter te deixado acabar com ele naquela noite que…
— Hey amor, calma — segurou em minha nuca, delicadamente, me fazendo olhar em seus olhos. — Nós iremos nos mudar e ficaremos bem. Eu já falei com o meu tio e…
— Hey, você já tinha decidido se mudar e não falou nada comigo? — Me surpreendi e ele me olhou com carinho. — Eu sempre digo que espero de você amor, parceria e fidelidade, e você me esconde algo assim?
— , por saber que você me ama e me quer por perto, imaginei que você fosse comigo. — Respirei fundo — Eu quis conhecer primeiro o lugar para ter certeza que você se sentiria confortável lá.
— E como é o lugar?
— É uma antiga casa do meu tio, fica a algumas horas daqui e é perto de algumas lojas de conveniência, acho que vai ser bom para nós três. — Eu assenti, suspirando fortemente.
— Tudo bem, eu faço as nossas malas.
— Não quero te sobrecarregar, espera eu sair daqui e…
— Você vai demorar um pouco para sair daqui, , e durante esse tempo eu estarei fazendo as nossas malas, com calma. — Ele concordou, a contragosto — também vai se mudar.
— Para onde essa louca vai levar Nico?
— Eu não sei, mas eu nunca a vi tão decidida. — parecia surpreso — Eu só quero que eles fiquem bem.
— Tenho certeza que eles ficarão. — Eu sorri, aproximando o meu rosto dele. O dei um beijo mais prolongado. — Sei que tudo isso parece loucura, mas vamos ficar bem.
— Eu sei que vamos.
— É, vai dar tudo certo, confie em mim — ele me olhou nos olhos e eu balancei a cabeça positivamente.
— Eu confio — sorri para ele — E sei que você fará o possível para termos uma vida melhor daqui pra frente. — O respondi firmemente e ele sorriu, me fazendo encarar os seus lábios e, por mais uma vez, eu o beijei.
— Sim, até o fim dos meus dias.
— , eu…
— Não — o interrompi mais que depressa — Eu realmente não quero estresse agora, tô cansada.
— Pelo menos quer a minha ajuda? — Perguntou, apontando para as compras e sorrindo de lado.
— Eu agradeço a gentileza, mas eu aguento levar isto pra casa. — Sacudi as sacolas e ele assentiu.
— Tudo bem, eu vejo você por aí — ele ficou parado me olhando e eu balancei a cabeça, me retirando de sua presença, rapidamente.
Infelizmente, todas as vezes que eu saio de casa, tenho que encarar a face do meu ex-namorado e ainda sou obrigada a conviver com suas investidas falhas de reatar o nosso relacionamento, que foi um dos piores que eu já tive. sabe que a gangue de é a maior do nosso bairro, mas ele teima em querer dominar a nossa área, e talvez se dê mal nessa tentativa. Eu não quero estar por perto quando isso acontecer.
Continuei a caminhar sobre o meu salto alto e grosso, a passos largos, sentindo o olhar de e de seus parceiros cobiçando os meus atributos naturais, muito bem valorizados pela saia jeans curta e blusa verde generosamente decotada, que eu usava com gosto. Balancei o meu cabelo, deixando o vento soprar sobre a minha nuca, o calor estava terrível. Encontrei minha irmã deitada na nossa velha espreguiçadeira, tomando banho de mangueira no quintal, com seu biquíni cavado de cor rosa e chamando atenção da vizinhança, pelas suas belas curvas expostas. Não que isso seja um problema para ela, que adora chamar atenção, principalmente por sua beleza incomum.
— Depois não reclame quando passar por aqui te perturbando, você sabe o quanto ele é doente! — Eu a avisei, enquanto abria o portão e ela continuou fazendo pose.
— Eu não vou esconder a minha beleza só porque é louco, ele precisa saber que não sou propriedade dele. — Ela riu, se banhando novamente. — Você sabe que aquele traste vive me perseguindo, mas eu não quero mais nada com ele.
— é um babaca, mas é o pai do seu filho, o problema é que ele só se lembra disso quando joga na nossa cara que paga pensão alimentícia. — Eu bufei irritada com a situação, era sempre assim. — E a pior parte é que nós duas sabemos que, sem a grana dele, não temos como cuidar do Nico. — rolou os olhos despreocupada e eu entrei em casa, logo guardando as compras.
Reparei que a casa ainda estava em ordem, minha irmã é uma bagunceira, mas conseguiu manter a organização do local enquanto eu me mantive longe. Um ponto positivo para aquela inconsequente.
— — ouvi me chamar com a voz um pouco alterada — Socorro, ! — Corri até o quintal, encontrando puxando o cabelo da minha irmã, enquanto ela tentava se soltar dando alguns golpes nele.
— Solta ela agora, ou teremos um grande problema aqui! — Eu o ordenei, tentando afastá-lo da minha irmã, mas ele fez força contra mim, me empurrando com certa violência. — Você me ouviu, desgraçado?! — O soquei com toda força que eu possuo.
— Está precisando de ajuda, ? — apareceu no meu portão. Como temos apenas um cercado enferrujado em volta da casa, tudo que acontecia no quintal era visto pela vizinhança.
— Você acha mesmo que eu tenho medo desse panaca? — me perguntou, rindo de , que entrou no quintal, o socando no rosto. — Man, você tá implorando por uma surra — soltou minha irmã e focou apenas em meu ex.
— Liga para , agora! — me pediu desesperada e eu a olhei, furiosa.
— A culpa dessa merda toda é sua! — Eu disse, tirando o meu celular do bolso e ligando para o meu namorado. Não acho que tenha que realmente se isolar por causa de , ela não o deve nada, nem mesmo são namorados. Porém minha irmã continua se envolvendo com ele casualmente e o provoca sempre que pode, e isso definitivamente me irrita, porque eu sempre sou obrigada a me intrometer em suas brigas, antes que saia morte dali. — , preciso que você venha até aqui o mais rápido que puder.
— Chego aí em dois minutos. — Respondeu com certa urgência e finalizou a chamada.
Percebia o quanto estava golpeando , e por mais que eu odeie quando ele fica me perturbando com seus papos de ainda estar apaixonado por mim, insistindo para voltarmos, mesmo sabendo que eu tenho um novo namorado, eu não queria que ele fosse morto, ainda mais à sangue frio. é capaz de tudo e eu odeio o fato de ele ser o pai de um anjinho como o Nico, o meu sobrinho não merecia um pai como ele. Mas é uma louca, que nunca pensa nas consequências de seus atos, apenas quando já está pagando pelo que fez.
O ônibus que todos os dias leva e traz Nico da escola, parou em frente à nossa casa e o menino viu a cena do pai batendo em .
— , leva o menino para dentro de casa, sua inconsequente! — Eu a ordenei. Vi saindo de seu carro e suspirei aliviada, ele logo apartou a briga e mandou que não aparecesse mais na casa, a menos que fosse visitar Nico e levar a pensão dele.
— Agora vaza daqui, seu frouxo! — Ele disse a , que não contestou. Se estivesse em seu comum estado até o faria, mas arrebentado do jeito que já estava, eu duvido que ele ansiasse por outra surra. — Ainda não acredito que você namorou com esse babaca metido a gangster — me deu um beijo rápido e se sentou na pequena escada que dá acesso à porta de entrada da casa.
— Não vamos falar sobre isso agora. — Eu fechei a passagem de água da mangueira que deixou desperdiçando.
— Você parece bem estressada hoje. — Eu me sentei ao lado do meu namorado e ele passou seu braço pelas minhas costas, me apertando em um abraço de lado. — O que tá te deixando assim?
— A falta de grana, a arrumando sempre algum problema, o que toda semana vem nos perturbar, que não me deixa em paz… Eu só tô cansada disso tudo.
— Tem certeza que não quer morar comigo? — Eu o olhei, sorrindo de lado. Sabia que estava tentando me poupar de todo o estresse que vivo, mas eu preciso encarar todas as situações da minha vida, sendo elas boas ou ruins.
— Não posso abandonar o meu sobrinho — ele concordou com a cabeça — A minha irmã é uma boa mãe, mas não mede as consequências de nada do que faz e o menino tá sempre sujeito às suas loucuras. Eu preciso estar aqui para ele, tenho que protegê-lo.
— A sua ligação com ele é bem forte, né?! — Eu assenti, respirando fundo e sorriu para mim, tirando um bolo de dinheiro de sua carteira. — Toma, vai ajudar vocês por alguns meses e…
— Não, eu jamais aceitaria esse dinheiro. — Ele continuou insistindo, mas eu arduamente negava. — Eu já disse que não, .
— , você sabe que eu tenho condições de te dar uma vida melhor, por que não vem comigo?
— Eu não quero o seu dinheiro, , eu gosto de você e ponto. Não quero nada além do seu amor, parceria e fidelidade. — Cruzei meus braços. — Além do mais, você tem uma festa planejada para o fim de semana, não precisa gastar seu dinheiro comigo.
— , é pelo seu sobrinho que eu digo para você pegar essa grana — eu desacelerei um pouco a minha respiração e o encarei, ele apertou o meu nariz e sorriu fofo. — E sobre a festa, já tá tudo resolvido.
— Você tá apelando usando o meu sobrinho como desculpa — eu dei uma tapinha em seu peito e ele riu fraco, me envolvendo em um abraço apertado. — Eu trabalho muito para receber o é meu por direito, honestamente, . Sei que tá tentando me ajudar, mas eu não quero o seu dinheiro, ele é muito sujo.
— Eu te entendo, amor, mas esse dinheiro eu recebi com honestidade, acredite em mim. Tenho feito alguns trabalhos temporários na empresa do meu tio, eu saí da liderança da gangue e para falar a verdade, não estou mais andando com os caras. — Eu arregalei os olhos, surpresa e ele riu mais alto, me entregando o dinheiro. Suspirei mais forte, escondendo as notas no sutiã, não queria ter que aceitar, mas a situação me leva a isso. — Eu tô desprotegido agora, então ninguém pode saber disso.
— Claro, eu entendo — ele assentiu. — Mas estou muito orgulhosa de você. — Pulei em seu colo e ele me olhou intensamente, segurei seu rosto e o beijei empolgada. — Sei que você viveu tempos difíceis, mas, a partir de agora, você levará uma vida digna.
— Depois de três prisões, finalmente, terei a vida normal que pedi a Deus. — Ele disse, ainda me olhando nos olhos e eu sorri orgulhosa, o beijando novamente. Conseguia ver o brilho no olhar de e sabia o quanto ele estava satisfeito com a nova fase que se iniciara em sua vida.
Sexta-feira, 20h20; dia da festa.
— , você tá bem? — me perguntou, enquanto eu saía do banheiro que fica no corredor do segundo andar de sua casa. — Hoje você parece meio desnorteada.
— Tá tudo bem, eu só tô um pouco enjoada, mas isso é o que a bebida faz, né?! — Eu o olhei, forçando um sorriso. — Vamos voltar pra festa, ainda quero dançar mais.
— Assim é que se fala. — Ele se aproximou de mim, cambaleando e derrubando um pouco da bebida, que carregava em mãos, sobre alguns convidados que estavam no andar debaixo. Rimos baixo e nos escondemos no quarto dele, durante um tempo. — Isso é loucura!
— O que?
— Eu. Você. Nós.
— Vós — eu disse em tom de brincadeira, o fazendo rir mais alto.
— Falando sério agora, eu nunca imaginei que a gente daria tão certo. — Eu assenti, lembrando de quando nos conhecemos.
Flashback On:
Retornando do trabalho, eu caminhava pela minha rua, sendo encarada por pessoas que eu nunca nem vi por ali e estranhei a movimentação, mas deixei passar, estava cansada demais para me importar com besteira.
O dia no escritório foi bem puxado, era sempre assim quando havia reuniões dos diretores.
Eu só precisava relaxar um pouco.
Cheguei à frente da minha casa, avistando pessoas desconhecidas e da vizinhança dançando loucamente ao som de Soldier em meu quintal e jogando algumas bebidas uns aos outros. Fiquei boquiaberta e furiosa, já sabendo do que se tratava e de quem havia organizado, pelas minhas costas, a festa, mas me controlei ao máximo para não começar a gritar descontroladamente.
Enquanto eu procurava por , vi duas meninas rebolando em cima da mesa central, que fica na sala e mais alguns bêbados que estavam caídos sobre o nosso sofá, as aplaudindo. Fui para o meu quarto e expulsei os casais ousados que estavam de saliência na minha cama, voltei à sala dando de cara com e outro cara brigando, e o pior, na frente de Nico.
Não importa quem você seja, se escandalizar na frente do meu sobrinho, vai arrumar um problema dos grandes comigo!
— Hey, vocês dois — dei uma tapa bem forte nas costas dos marmanjos — Não percebem que tem uma criança aqui na casa os observando? — Os perguntei, descansando uma das mãos na cintura. — Qual é o problema de vocês?
— E-e-esse cara… — apontou para o homem, me fazendo o encarar.
— O que tem ele? — Eu arqueei uma sobrancelha, recebendo um olhar tão intenso que me desestabilizou por alguns segundos. Respirei fundo, tentando manter a mesma firmeza de antes.
— Ficou olhando para o seu bumbum e eu não gostei disso. — reclamou, me fazendo revirar os olhos, impaciente. Estava tão bêbado que mal conseguia falar. — E ainda continua olhando? Ah, você quer mesmo apanhar. — Ele tentou avançar no homem, mas eu o empurrei e o mesmo caiu no chão, e por ali ficou.
— Então você é a irmã da ? — O homem perguntou, mas o ignorei, enquanto eu ordenava Nico a se trancar em meu quarto. — Muito prazer, eu sou e...
— Escuta aqui, cara — eu apontei o dedo indicador para ele, chegando a encostar em seu peito, mas logo desviei minha atenção a , que havia entrado na casa completamente alterado, com certeza por alguma droga misturada com o alchool. Ele estava ameaçando todos os convidados, nos deixando apavorados e eu percebi que o homem, com quem eu acabara de falar, fez sinal a alguns de seus amigos para conter meu ex-cunhado.
— Quem é esse?
— Infelizmente, o louco que meu sobrinho chama de pai. — Eu disse preocupada, mas também aliviada por Nico estar em meu quarto naquele momento. Mas, foi nesse exato momento que apontou uma arma para mim. — Mas que droga você tá fazendo, cara?! — Eu levantei as mãos, em sinal de rendição e o meu coração disparou.
— Se não largar essa arma agora e vazar daqui, você vai sentir da pior maneira o furo que eu vou fazer em seu crânio! — o ameaçou, agora apontando sua arma para a cabeça de , que não se rendeu. — Eu não tô pra brincadeira, cara, então não testa a minha paciência.
— Quem você pensa que é pra…
— Sou o dono desse território — disse visivelmente alterado, se referindo ao nosso bairro. A gangue dele já havia dominado toda área. — Por isso, eu vou te falar pela segunda vez, e peça a Deus que não haja a terceira; larga essa merda e vaza daqui.
— Você é metidinho a gangster, mas não passa de um filhinho de papai revoltado com a vida — disse provocativo, rindo alto sem humor algum e engatilhou a arma, já a encostando na cabeça do outro.
— Não, por favor — eu pedi, tentando o segurar, mas ele continuou apontando a arma para — Ele é um ser desprezível, mas é o pai do meu sobrinho e o menino o ama mais que tudo. — Eu o encarei, enojada e ele me olhou, de olhos arregalados, abaixando a arma. Seus olhos pareciam perdidos, era visível que ele não sabia o que fazer.
— Ele pode ir — falou, deixando os seus parceiros confusos e até mesmo furiosos — Mas, que fique claro que eu só livrei a sua cara porque a irmã da me pediu em consideração a criança. Na próxima vez…
— Não terá próxima vez. — num tom firme e olhou de para mim, logo saindo raivoso, o que me deixou preocupada. O conhecendo bem, sei que ele não deixaria ficar por isso mesmo a vergonha que passou, ainda mais diante dos convidados.
pareceu não se importar com isso, mas quando algo é relacionado ao pai do meu sobrinho, o assunto sempre é sério. Sério até demais.
— Você não devia ter feito isso — se virou para mim, guardando sua arma e me olhando curioso — é perigoso.
— Eu sei, ele quase te matou, não é mesmo?! — Eu respirei fundo, engolindo as palavras de em seco, era a verdade e eu não podia fazer nada quanto a isso. — Olha, me desculpa por ter estragado a diversão da galera, mas eu não podia deixar aquele cara entrar aqui e ameaçar a minha turma, não no meu território.
— Só que este aqui é o meu território, minha casa e sou eu quem mando aqui, entendeu? — Eu disse irritada, já estava cansada dessa briguinha idiota de gangues querendo conquistar o seu espaço.
— Eu não podia deixar que ele te machucasse. Eu jamais aceitaria algo assim, ainda mais com você! — O encarei, um tanto surpresa com a intensidade em suas palavras e ele riu fraco, parecia tentar se acalmar.
— Eu — ele ergueu as sobrancelhas, esperando ansioso pelas minhas próximas palavras — Entendo e te agradeço. Aliás, desculpa por…
— Por favor, não se desculpe por nada, você é a maior vítima dessa história. — Eu concordei com a cabeça e ele respirou fundo — Eu não quero que pense que tô me aproveitando do momento, mas será que você pode…
— Te passar o meu número? — Eu rolei os olhos, esperando pela confirmação dele e o mesmo assentiu. — Ah claro, não poderia ser diferente vindo de…
— vêm me falando sobre você há algum tempo — ele me interrompeu com serenidade na voz, me olhando de um jeito fofo — E desde então, eu tenho me interessado por você.
— Bem — eu confesso que me senti afetada por seu jeito meio desajeitado ao falar comigo, mas sem deixar transparecer. — Eu posso até te passar o meu número, mas por gratidão ao que você acabara de fazer por mim. — Eu disse em um tom superior, erguendo as sobrancelhas e mexendo no cabelo. — E é bom que você não seja mais um babaca, eu tô cansada de babacas!
— Ah não, eu sou moderno à moda antiga. — Ele disse confiante e eu ri por um curto tempo, o fazendo me acompanhar.
— Tudo bem — tirei uma caneta preta da minha bolsa e escrevi meu número em sua mão. — Prontinho. Agora se me der licença, eu preciso expulsar todos vocês da minha casa.
— O que?
— A FESTA ACABOU, CAMBADA! SAIAM TODOS DAQUI, SEM DEIXAR UM SÓ RASTRO DE VOCÊS PARA TRÁS. — Eu gritei, fazendo alguns reclamarem, inclusive , que já estava se tornando um só corpo com um de nossos vizinhos. — Onde é que você estava, garota? Eu quase fui morta pelo . — Se não fosse o seu amigo pra me ajudar, eu nem sei.
— , deixa de ser chata e dramática. — Eu fiquei boquiaberta com a atitude dela em ignorar a minha quase morte — Você ficou bem, nada de pior te aconteceu e ainda tá cedo pra acabar com a festa.
— Eu trabalhei muito hoje, tô cansada. E Nico tem aula amanhã cedo. — Ela revirou os olhos. — Não tente argumentar nada ou eu expulso você também.
— Que merda, ! — Ela disse irritada, pedindo aos convidados para se retirar.
— Hum, você ainda não foi — olhei para , sendo surpreendida por ele, que tirou uma foto minha. — Me deixa ver essa foto — ele me mostrou a imagem e eu puxei o celular de sua mão, logo a apagando — Deixa que eu mesma faço isso. — Dei algumas batidinhas no rosto, como se isso realmente fosse realçar a minha maquiagem depois de um longo dia de trabalho, e sorri para a câmera.
— Então é verdade. — Ele disse de repente e eu o entreguei o celular.
— O que é verdade? — Perguntei, o vendo encarar a tela do aparelho.
— O que a sua irmã falou sobre o seu sorriso, é encantador. — Eu franzi a testa, mas não deixando de dar razão a ele. — Bem, eu vou indo, mas a gente se fala.
— Tudo bem, até qualquer dia. — Ele saiu assentindo e eu vi me olhando com cara de tédio. — Que foi, garota?
— Devia estar me agradecendo por conhecer alguém legal como , depois de ter ficado com o idiota do . Mas não, você faz essa cena ridícula de mandar todo mundo ir embora e ainda me mete nisso. — Rolei os olhos, não estava com paciência para os drama da minha irmã.
— — ela me encarou de braços cruzados e sobrancelhas arqueadas — Vou para o meu quarto agora e só sairei de lá amanhã pela manhã, para trabalhar. É melhor que esta casa esteja um brinco até a hora que eu for sair, caso contrário, teremos um problema.
Deixei ela reclamando da vida na sala e fui para o meu quarto, vendo Nico dormindo em minha cama. Tomei um banho rápido e me aninhei a ele, também me entregando ao sono.
Flashback Off.
— Eu fiquei com tanta raiva da minha irmã naquele dia, você não tem noção.
— Eu lembro do quanto você ficou irritada — ele riu fraco, tirando a sua jaqueta e me puxando contra o seu corpo, em uma pegada bem ousada. Começou a beijar meu pescoço e a subir a barra do meu vestido completamente dourado e brilhante, porém quando transferiu seus beijos para minha boca, o empurrei rapidamente e corri, mais uma vez, para o banheiro. Não queria sujar o banheiro do seu quarto, mas os enjoos estavam fortíssimos. — , o que tá acontecendo contigo?
— Eu não sei direito, acho que é só a bebida fazendo seu efeito. — Lavei a minha boca, logo depois de usar o enxaguante bucal. Sei que é errado fazer isso, mas que líquido horrível para fazer a minha língua arder. — O estranho é que têm acontecido com frequência nas últimas semanas.
— Então não é só por causa da bebida. — me olhou desconfiado e eu saí do banheiro, me sentando em sua cama.
— Eu já tô bem, podemos continuar de onde paramos e…
— Não, , você não tá bem. — Ele se esquivou do meu abraço e tirou uma bolsa branca de dentro da sua gaveta. — Toma. Eu comprei para você ontem à tarde, só não esperava que fosse usar agora. — Me entregou o objeto e eu me surpreendi com o que vi.
— Testes de gravidez, ? — Ele suspirou, escorando as costas e um dos pés na parede, cruzando os braços. — Você acha que eu tô…
— Grávida? Sim, você tá estranha há dias, pensa que eu não te observo? Pensa que eu não me preocupo contigo? — Eu acharia muito fofo da parte dele a sua preocupação comigo, se a situação não fosse amedrontadora para mim.
— — eu o olhei chorosa e ele se aproximou de mim, sentando ao meu lado.
— Não precisa ter medo de nada, amor. Se você não estiver grávida, nós ficaremos com a consciência tranquila, mas se você realmente estiver, então nós iremos tomar os devidos cuidados e vai dar tudo certo. — Ele me deu um abraço muito reconfortante e eu tomei um pouco de coragem para levantar e fazer os testes.
Levei a sacola para o banheiro, já fechando a porta quando a segurou, me fazendo o olhar, curiosa.
— Não quer que eu fique contigo? — Ele ergueu as sobrancelhas, ansioso pela resposta. Estava meio desajeitado. — Eu posso… Sei lá, segurar a sua mão ou segurar seu cabelo ou… Eu não sei, só quero te apoiar. — Ele deu de ombros, suspirando forte. Parecia mesmo preocupado.
— Eu agradeço, amor — me aproximei dele novamente, acariciando o seu rosto. — Mas sinto que preciso fazer isso sozinha, entende? — Eu forcei um meio sorriso, selando nossos lábios e ele assentiu, ainda apreensivo.
Fechei a porta do banheiro, sem trancá-la e fiz todo o procedimento indicado pela embalagem do produto.
Esperei o tempo necessário e me torturei com pensamentos que me vinham, caso o resultado fosse positivo, pensei muito em como faria para criar a criança, pensei na condição de , agora que está limpo e fora da gangue, talvez correndo perigo de vida, pensei em mim e no bebê e pensei em e Nico, que correm tanto perigo quanto nós…
Minha mente não parava de rodar em pensamentos desnecessários, mas eu não conseguia os controlar.
Eu finalmente tive a coragem de olhar para todos os resultados e cada um deles deu positivo, senti como se um buraco se abrisse debaixo dos meus pés e eu escorei na parede, deslizando as costas até cair no chão, ainda segurando os testes nas mãos.
Desatei a chorar fortemente, não queria assustar , mas dentro de mim, o medo era o maior que eu já senti em toda a minha vida. O que seria do bebê? O que seria de nós? O que seria da nossa família?
— , você tá aí por muito tempo, qual foi o resultado? — perguntou, demonstrando apreensão em seu tom de voz, mas eu não o respondi. Tudo que eu conseguia era apenas chorar e chorar. — — ele abriu a porta com certa agressividade, talvez por achar que eu havia trancado a mesma, e invadiu o banheiro, me encontrando encolhida no canto da parede, soluçando de tanto chorar. — Meu Deus, ! Pelo seu estado, o resultado foi positivo.
— Sim — eu o respondi, com a voz embargada e o abraçando muito forte. — Eu não sei o que fazer agora. Eu…
— Calma — ele me interrompeu, ainda me consolando. Eu sentia fraqueza em meu corpo devido aos enjoos fortíssimos e a tudo que coloquei para fora, durante todos esses dias, e pelo tanto de lágrimas que eu não conseguia controlar. — Nós vamos dar um jeito, sem desespero, por favor.
— Eu tô tentando me controlar, mas tudo que sinto agora é preocupação e medo. — Ele assentiu, passando suas mãos sobre o meu rosto, na tentativa de secar algumas lágrimas. — Como iremos proteger essa criança? Como iremos nos proteger? Corremos tantos riscos agora e eu não quero perder nenhum de vocês!
— Hey amor, você precisa se acalmar, vem — me ajudou a levantar e me levou até sua cama. — Vou agora até a farmácia para comprar algum calmante que uma grávida possa tomar, você não pode ficar nervosa assim.
— Não, eu não quero ficar sozinha.
— Eu vou chamar a sua irmã e ela vai cuidar de você, ok?
— Estamos falando de , , ela não cuida nem dela mesma. — Eu disse, rolando os olhos e ele riu fraco.
— Conta a verdade a sua irmã, tenho certeza que ela vai te apoiar. — Assenti compreensiva e ele me cobriu com seu cobertor azul, apesar do calor forte, eu me tremia muito e até sentia uns calafrios. A verdade é que eu estou tão nervosa, que mal consigo parar de tremer. — Eu volto logo. — Ele beijou minha testa e saiu do quarto.
Esperei alguns minutos por minha irmã, conseguia ouvir o som abafado de Party tocando lá embaixo, não queria acabar com a festa dela, já que eu a conheço muito bem e sabia que ela viria reclamando, ainda mais por estar perdendo a sua música favorita.
— me contou que você não tá bem, então eu vim correndo — adentrou o quarto, falando muito alto e me assustando. — Mas é melhor que seja grave, minha música favorita tá tocando e eu saí no meio da dança. — Ela se sentou à minha frente e eu a analisei, toda animada, vestindo seu conjunto de cropped e shorts vermelhos com seu tamanco preto e as tranças longas jogadas para o lado, presas pelo próprio cabelo.
— , acabei de descobrir que tô grávida — ela abriu a boca por alguns segundos e logo sorriu largamente, me fazendo estranhar — Por que tá reagindo assim?
— Porque eu vou ter um sobrinho e tô muito feliz por você. — Ela me abraçou forte e ficou segurando as minhas mãos — Ainda bem que o pai é um cara ajuizado e irá cuidar muito bem de você e do bebê.
— Por falar em pai, a conversa que nós tivemos sobre ter saído da gangue não foi levada adiante, né? Sei que você ainda se encontra com , então eu espero que você tenha mantido o bico fechado. — Ela desviou o olhar para a janela e eu comecei a me alterar — , você contou isso a ele?
— Calma, estresse não faz bem ao bebê. — Eu a ignorei e continuei a encará-la. — Tudo bem, eu confesso, contei a ele anteontem, nos encontramos para… Conversarmos sobre Nico — sabia que estava mentindo, ela só se encontra com por segundas intenções — Então eu acabei falando, mas foi sem querer.
— Sem querer? , tem noção do quanto isso é grave? — Ela fez uma expressão de arrependida, mas era tarde demais, a merda já estava feita. — Agora é torcer para que... — Ouvimos alguns tiros por perto, o som abafado estava bem nítido, e nós arregalamos os nossos olhos, já pensando no pior.
— Garotas — um amigo do meu namorado invadiu o quarto, parecia ofegante — acabou de ser baleado e tá lá na rua.
Corremos juntos até a frente da casa e lá estava ele, estirado no chão, jorrando tanto sangue que eu nem fazia ideia de como ele iria resistir. Fui até e segurei firme em suas mãos.
— Será que alguém pode chamar logo a droga da ambulância? — Eu disse histérica, começando um choro forte.
— Amor — ele me olhou de olhos arregalados e eu chorei ainda mais ao vê-lo assim — Se eu morrer agora, tudo bem, apenas mantenha uma boa saúde e cuide do nosso bebê. — Ele dizia com dificuldade, sua boca também jorrava sangue.
— Por favor, meu amor, não diga isso — Eu apertei ainda mais suas mãos — Você vai ficar bem e criaremos nosso bebê, juntos.
— Foi aquele desgraçado do , ele me deu dois tiros friamente a queima-roupa! — tossia forte, expelindo cada vez mais sangue.
— Eu sei, mas agora fique quietinho, poupe as suas forças.
Fui arrancada de seus braços por alguns paramédicos, que já faziam o procedimento padrão para um baleado e o levaram, sem me dar ao menos uma esperança de vê-lo com vida novamente.
Eu e mais alguns amigos de ficamos esperando por notícias dele durantes horas, tudo que sabíamos é que ele estava passando por uma cirurgia difícil, o que fazia nossa apreensão aumentar.
— Quem está acompanhando o paciente…
— Sou eu. — Me levantei da cadeira, na sala de espera, sem ao menos esperar o médico pronunciar o nome de . — Como ele tá, doutor?
— Bem, ele perdeu bastante sangue pelo tiro que levou em seu lado direito do abdômen, a cirurgia para a retirada da bala foi muito complicada, mas obtivemos sucesso. O outro tiro passou de raspão em sua perna direita, por isso não causou nenhum dano grave, apenas o acarretará uma cicatriz, assim como em seu abdômen. — Eu assenti a tudo que o médico disse, mas ainda não estava totalmente aliviada. — Agora ele precisará de repouso absoluto e de alguns medicamentos. Também ficará alguns dias internado para observação e curativos diários.
— Mas ele irá sobreviver?
— Ao que tudo indica, sim, mas precisamos mantê-lo em observação. No geral, está tudo estabilizado. — O médico disse simples. — Sei que você quer vê-lo, mas ainda é muito recente para receber visitas. Creio que você entenderá.
— Por favor, doutor, acabamos de descobrir que teremos um filho, eu estou numa pilha de nervos.
— Então você precisa ser examinada agora, sofreu um grande estresse e isso não faz bem ao bebê. — Ele chamou um dos enfermeiros, que se aproximou. — Esta moça está grávida e acabou de passar por uma situação muito estressante, leve-a para fazer uma bateria completa de exames, quero saber de tudo e dê um calmante a ela, dá para se notar de longe o quanto ela está se tremendo.
— Muito obrigada, doutor. É muita generosidade sua. — Ele sorriu um pouco.
— Agora, se me der licença, preciso ver outros pacientes.
— Claro. Obrigada, mais uma vez, por tudo. — Apertei sua mão e ele saiu, entrando em outro corredor.
— Vamos? — O enfermeiro perguntou, me fazendo o acompanhar até uma sala muito clara e limpa.
Depois de relaxar tanto a ponto de dormir, olhei ao meu redor e vi sentada na poltrona, folheando uma revista de moda.
— Odeio essas roupas de revistas, precisamos mesmo esconder tanto assim o nosso corpo? — Ela disse, deixando o objeto de lado e me olhando preocupada — Você tá bem? — Fechei meus olhos para não encará-la, estava com muita raiva ainda e eu não queria falar com ela. — Sei que tá brava, mas me perdoa, tinha ameaçado você e Nico, por isso o contei sobre . Eu fiquei com medo do que ele poderia fazer com vocês.
— — eu abri meus olhos e ela se aproximou — É verdade?
— Não mentiria sobre um assunto tão sério, eu tive muito medo mesmo, você sabe o quanto é maluco! — Ela suspirou forte — Me arrependo muito de ter me envolvido com ele, a única parte boa disso foi o Nico. Mas ainda bem que ele foi preso e desta vez, vai ser difícil de sair de lá.
— Tudo bem, obrigada por ter tentado nos proteger, sua inconsequente. — Eu segurei em suas mãos e ela riu, rolando os olhos. — Mas você precisa viver uma vida diferente da que leva, . Proteja Nico com todas as suas forças, o nosso território é um lugar perigoso de se viver e ele é um menino muito bom, não deixe que ele se desvie e fique como o pai.
— Eu sei. — Ela puxou suas mãos delicadamente e ficou andando pelo quarto. — Hoje eu realmente pensei em mudar as minhas atitudes e cuidar do meu filho. Quero mudar de bairro.
— O que?
— , entenda, eu não vejo futuro para o meu filho se continuarmos por lá. E eu não tenho problemas com a vizinhança, pelo contrário, eu gosto de todos, mas chegou a hora de parar de ser egoísta e pensar mais em Nico. — Continuei a olhando, ainda incrédula. Estava surpresa, nunca vi falando tão sério. — Eu não condeno a vida que os outros levam — eu assenti — Mas não quero isso para o meu filho.
— Eu te entendo. E se você acha que tá fazendo o melhor para ele, siga com esse pensamento até o fim. — Nós sorrimos e ela veio me abraçar, emocionada. — Sentirei sua falta.
— É, eu também. Não vou ter mais uma chata gritando comigo.
— Pois é, se livrou de uma mulher que só gritava contigo porque se importa. — Eu disse emocionada e ela me apertou no abraço — Eu sempre irei me preocupar com você e Nico, eu amo vocês.
— Ora, ora, a bela adormecida acordou. — Eu ouvi a voz do médico e cocei os meus olhos, me espreguiçando. — Se sente melhor? Mais relaxada?
— Sim, obrigada por ter me ajudado ontem — ele abanou uma das mãos e sorriu, escrevendo algo em sua prancheta — Eu ainda tenho que ficar aqui?
— Não mais, só mantivemos você por aqui para não afetar o bebê, já que estava muito nervosa. — Eu assenti — Mas os exames foram feitos e os resultados são bons, mas você precisa de alguns medicamentos, está com uma leve anemia.
— Isso prejudica o bebê? — Eu me sentei na cama.
— De certa forma, o desnutre também, mas como eu disse é uma anemia leve, melhorando a alimentação e tomando algumas vitaminas, você ficará melhor.
— Bem, então eu seguirei as suas recomendações. — Eu sorri fraco e o médico assentiu.
— A sua bebê também está bem, crescendo e se formando conforme deveria mesmo, é uma linda menina.
— O que? Já deu para ver o sexo?
— Sim, o enfermeiro obstetra não te disse? — Neguei com a cabeça e o médico parecia mais surpreso que eu. — Com quantas semanas de gestação você acha que está?
— Não sei, imaginei 4 ou 5, eu não entendo bem disso.
— Errado, você está com 14 semanas, 4 meses de gestação.
— Mas já? — Eu tentei normalizar a minha respiração. — O meu ciclo vinha normalmente.
— Não é muito comum, mas acontece. — O médico me deu um papel — Aqui está tudo que você precisa para ter uma gravidez saudável.
— Obrigada, doutor. — Eu disse, enquanto lia a receita. — Eu já posso ver ?
— Sim, a sua estadia por aqui acabou e ele já está acordado, querendo te ver. — Eu sorri satisfeita — Venha, eu te acompanho até o quarto dele.
Segui o médico, passando por mais algumas salas e quartos, e conseguia ver o olhar superior de algumas pessoas, já que o hospital não era frequentado por pessoas como eu, de classe mais baixa, mas mantive a minha postura e continuei o caminho, sem me deixar ser afetada pelos olhares curiosos e maldosos.
— Ainda está sentindo dor? — O médico perguntou, enquanto entrava no quarto e apenas mexeu a cabeça, nos olhando.
— Um pouco, mas não tão forte. — Ele tentou se sentar, porém a dor o impediu.
— Permaneça deitado, sem fazer esforços. Mais tarde eu voltarei para ver como está o seu curativo.
— Obrigado, doutor. — O médico sorriu assentindo e saiu, nos deixando a sós. — Não vai me dar um abraço?
— Tô com medo de te machucar. — Eu disse receosa e ele riu fraco, me chamando com as mãos. O abracei cuidadosamente e suspirei aliviada por vê-lo bem. — Depois de ontem à noite, é uma benção que você esteja aqui agora e bem.
— Tem razão — eu me afastei para o olhar, segurando em suas mãos. — E você, como tá se sentindo? Eu soube que te levaram para um quarto.
— Eu fiquei muito nervosa e eles me deixaram em observação, por causa do bebê.
— Não consegui chegar a tempo com o seu calmante ontem, né?! — Ele riu e eu dei uma tapinha em seu braço. — Eu sou um doente, você não devia bater em mim. — Ele fez cara de choro e eu dei outro tapa nele. — Ah meu Deus! Você acertou o local operado, tá doendo muito. — Reclamou e eu me desesperei.
— Desculpa amor, eu não devia… — Fui interrompida por sua risada um tanto alta e a minha raiva estampou em minha face, tenho certeza. — Você é ridículo!
— Ah, não fica brava, eu só tô tentando te divertir um pouco, sei que o clima aqui é meio tenso. — Ele disse tentando me puxar, mas eu me afastei — Desculpa amor, vem aqui, vem.
— Assim você assusta a sua filha também. — Eu me aproximei dele, ainda emburrada.
— Como assim filha? É uma menina? — Perguntou incrédulo e eu assenti, rindo de sua expressão — Como deu para saber assim tão cedo?
— Estou com 4 meses de gestação, . — Eu disse simples, mas ele parecia meio desnorteado. — Tá tudo bem?
— Eu tô surpreso, só isso. — Ele começou um choro baixo, tentando esconder seu rosto. — Quer dizer, eu vou ser pai de uma garotinha
— Amor, não precisa ter vergonha de chorar — eu tirei seus braços de cima do seu rosto e beijei sua bochecha, molhada pelas lágrimas — É da nossa filha que estamos falando, é algo realmente emocionante. Quando foi que imaginamos isso?
— Em mil anos, jamais pensaríamos nisso — ele disse com a voz embargada.
— Isso só torna a experiência mais incrível! — me olhou, ainda chorando — Estamos sendo mesmo abençoados.
— Sim, nós estamos. Apesar de eu estar aqui acamado.
— Mas olha pelo lado bom, você sobreviveu, só precisa ter uma boa recuperação. — Ele sorriu para mim e assentiu.
— Você tem razão. — Eu selei nossos lábios — Sabe, eu estava pensando, acho melhor nos mudarmos, precisamos fazer isso. Ainda mais agora pensando em nossa filha.
— foi preso.
— Infelizmente, isso não nos mantém em segurança, amor. Eu ergui as sobrancelhas, bufando. — Sei que é uma decisão difícil, mas a gangue do pode tentar terminar o que ele começou e talvez para se vingar, tente fazer algo com você e com a nossa bebê e eu seria incapaz de me perdoar se algo assim acontecesse a vocês.
— Eu entendo — mais uma vez, selei nossos lábios.
— O que foi? — perguntou preocupado.
— Eu sabia que se vingaria de você — passei as mãos pelo rosto — Acho que agora me arrependo por não ter te deixado acabar com ele naquela noite que…
— Hey amor, calma — segurou em minha nuca, delicadamente, me fazendo olhar em seus olhos. — Nós iremos nos mudar e ficaremos bem. Eu já falei com o meu tio e…
— Hey, você já tinha decidido se mudar e não falou nada comigo? — Me surpreendi e ele me olhou com carinho. — Eu sempre digo que espero de você amor, parceria e fidelidade, e você me esconde algo assim?
— , por saber que você me ama e me quer por perto, imaginei que você fosse comigo. — Respirei fundo — Eu quis conhecer primeiro o lugar para ter certeza que você se sentiria confortável lá.
— E como é o lugar?
— É uma antiga casa do meu tio, fica a algumas horas daqui e é perto de algumas lojas de conveniência, acho que vai ser bom para nós três. — Eu assenti, suspirando fortemente.
— Tudo bem, eu faço as nossas malas.
— Não quero te sobrecarregar, espera eu sair daqui e…
— Você vai demorar um pouco para sair daqui, , e durante esse tempo eu estarei fazendo as nossas malas, com calma. — Ele concordou, a contragosto — também vai se mudar.
— Para onde essa louca vai levar Nico?
— Eu não sei, mas eu nunca a vi tão decidida. — parecia surpreso — Eu só quero que eles fiquem bem.
— Tenho certeza que eles ficarão. — Eu sorri, aproximando o meu rosto dele. O dei um beijo mais prolongado. — Sei que tudo isso parece loucura, mas vamos ficar bem.
— Eu sei que vamos.
— É, vai dar tudo certo, confie em mim — ele me olhou nos olhos e eu balancei a cabeça positivamente.
— Eu confio — sorri para ele — E sei que você fará o possível para termos uma vida melhor daqui pra frente. — O respondi firmemente e ele sorriu, me fazendo encarar os seus lábios e, por mais uma vez, eu o beijei.
— Sim, até o fim dos meus dias.
[Fim]
Nota da autora: Primeiramente, eu quero dizer que estou muito feliz e grata por mais esta criação, que eu já amo muito. Lembro que, quando ainda estava no ensino médio, eu escutava muito essa música e quando a vi disponível para o ficstape, quase que imediatamente pedi para escrevê-la... E aqui estamos nós agora.
Escrevi essa fic com muita paixão e carinho e eu espero, de verdade, que vocês apreciem a leitura! 😸💙
A todos, BJoo ❤
Outras Fanfics:
| 02. Because I'm Stupid | 02. Show Me | 03. Do You Know | 04. Black Or White | 08. MAMA | Heavy | It's The Things You Do | Learning Together | MV: Jackpot | Numa Noite de Natal | One Month In Egypt |
Escrevi essa fic com muita paixão e carinho e eu espero, de verdade, que vocês apreciem a leitura! 😸💙
A todos, BJoo ❤
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