Capítulo único
“Ninguém nunca te disse como ser tão imperfeito, você tem tão pouca chance de alcançar o seu destino! É fácil fazer parte de um mundo tão pequeno onde amigos invisíveis nunca ligam outra vez. Talvez, até porque ninguém ligue pra você!”
’ pov:
Meus pais amavam , isso eu não tenho a menor dúvida! Eles cuidavam dele durante todo o dia enquanto eu trabalhava às vezes um plantão dobrado, triplicado. Eu era enfermeiro então eu trabalhava 24/7 basicamente. Meu sonho desde a infância sempre fora ser médico, mas o destino quis que eu passasse para entrar apenas em enfermagem e continuasse tentando medicina enquanto fazia o curso.
Mas precisei continuar sendo enfermeiro quando nasceu. Meus pais quiseram me deserdar (não que eles tivessem alguma fortuna ou herança valiosa) quando engravidou. Nós tínhamos dezenove anos e eu estava terminando o segundo ano da faculdade. Eu não trabalhava, cantava em bares e por “sorte” havia juntado uma grana que deu para comprarmos o enxoval, carrinho, berço e fraldas.
Ela não fazia faculdade, dizia ainda não ter se encontrado e preferia pensar antes de ingressar numa faculdade para “não perder tempo à toa". Eu ri pelo nariz enquanto ouvia a voz dela repetir a frase na minha cabeça, enquanto tomava o café da manhã durante os quinze minutos que tinha.
Meus pais detestavam , eles a achavam folgada, desajuizada e imatura demais. De acordo com eles, ela não era mulher pra mim. Mas naquela época, eu era jovem demais, ela havia me conquistado com seu jeitinho livre e atrapalhado, sempre muito carinhosa e com sua fala mansa, suas declarações exageradas de amor…
Meus pais também nunca acreditaram muito em mim (e na gente, eu e como um casal), eles me achavam sem pulso, me achavam sem foco, achavam que eu pensava baixo demais e que me contentava com muito pouco. Nunca acreditaram que um dia eu fosse capaz de me tornar médico, e com o passar do tempo eu também passei a acreditar.
Eu tinha muitos “amigos” da época da faculdade, amigos esses que depois que eu e viramos pais sumiram e mal quiseram saber do bebê quando ele nasceu e nunca me estenderam a mão quando precisei de algum deles.
Alguns dias antes de fazer um ano, foi embora. Arrumou suas coisas, deixou uma longa carta, pegou o restante do dinheiro no banco e sumiu. Eu nunca mais tive notícias concretas dela.
Na carta ela dizia o quanto amava e eu, mas que aquela vida não era para ela! Que ela nunca quisera ser mãe, especialmente tão nova e com tanta coisa ainda para ser vivida, um mundo para conhecer. Alegava que estava se sentindo presa a mim e a , e que tudo aquilo que estávamos construindo, aos trancos e barrancos, era muito bonito e parecia até muito poético, mas que parecia uma grande prisão e a estava sufocando. Ela dizia também que sabia que no fundo, no fundo, seria um alívio a partida dela, especialmente para os meus pais. As brigas constantes estavam fazendo com que ela ainda me amasse, mas não gostava mais de mim.
Enquanto eu verificava a pulsação de mais um paciente, me lembrava da letra bonita dela escrita naquela folha de papel sulfite. Apesar de ser taxado como fraco e incapaz, raras vezes na vida eu havia chorado, mas naquele dia eu me debulhei em lágrimas. Chorei como um bebê, e , tadinho, tentava me consolar do jeitinho dele. Tão inocente, não entendia nada, mal sabia…
***
’s pov:
“Faz muito pouco tempo aprendi a aceitar, quem é dono da verdade não é dono de ninguém! Só não se esqueça que atrás do veneno das palavras, sobra só o desespero de ver tudo mudar. Talvez, até, porque ninguém mude por você…”
Será que ele já estava para voltar do trabalho? Ou será que iria passar a noite toda lá? Já era o quarto dia seguido que eu aparecia lá e não conseguia ver . Eu não tinha coragem de bater na porta de meus ex-sogros depois de quatro anos “desaparecida”, se eles já me odiavam o suficiente antes disso tudo, imagina agora? Eles jamais me deixariam entrar e ver meu filho.
Há um ano eu contratei um detetive particular para descobrir o paradeiro de e , saber onde moravam, como ele estava, o que andava fazendo, pois eu precisava sondar o terreno antes de voltar e tentar reconquistar tudo que um dia deixei para trás. Descobri que eles ainda moravam no mesmo lugar, que ainda não frequentava a escola, ele ficava com os avós o tempo todo e que havia se formado em enfermagem e trabalhava exaustivamente para cuidar dele e de .
Acendi um cigarro me escorando na parede, meus pés doíam pelo tamanho dos saltos que eu usava. Nada havia mudado no fundo, dentro de mim. Eu ainda gostava de usar o mesmo estilo de roupa, de sapatos, eu ainda fumava e gostava de beber minha cerveja, eu ainda gostava de cantar e sonhava em viver disso. Ainda amava a liberdade de poder ser quem eu era sem nenhuma amarra. Mas eu me dei conta que nada daquilo que eu almejava conquistar quando deixei e para trás me preenchia, eu passava noites e noites me perguntando como eles estariam aqui sem mim? Como ele cresceria? O que havia dito para ele? Várias e várias perguntas me atormentavam dia e noite. E eu criei coragem de voltar depois que juntei uma boa grana e consegui comprar um bar/restaurante na cidade onde morávamos.
E então há quatro dias eu esperava por … até que hoje, o dia finalmente chegou.
desceu do carro e foi em direção ao portão da casa, que por sinal parecia estar mais nova, deveria ter sido reformada. Que bom!
- ! - Eu gritei do outro lado da rua enquanto corria entre os carros que passavam.
Ele olhou para trás me vislumbrando. Os olhos se arregalaram, ficou pálido, e eu então parei frente a ele, ofegante.
- ! Finalmente! Meu Deus! Eu esperei quatro dias por você! Até a noite, e você não aparecia, daí eu desistia e voltava no dia seguinte. - Coloquei as mãos no peito e suspirei forte. - Como é bom ver você !
***
’ pov:
“Se você quer que eu feche os olhos pra alguém que foi viver algum dia lá fora, e, nesse dia, se o mundo acabar, não vou ligar pra aquilo que eu não fiz!”
Ela estava ali diante de mim como se fosse um fantasma, ou um fruto da minha cabeça cansada, de mais uma noite virado. Um delírio. É, era isso! Um mero delírio. Eu precisava de um banho quente e dormir.
Virei-me novamente para o portão destrancando-o e ignorando aquele delírio falante ali ao meu lado. Eu estava muito cansado, fazia semanas eu não conseguia descansar, então estava delirando, logo logo assim que eu me deitasse, aquilo acabaria.
- ? Estou falando com você! Não me ignore, por favor! Precisamos conversar, eu - pausei - quero ver meu filho!
- MEU FILHO, ! MEU FILHO! - Gritei enquanto batia com força no meu peito num acesso de fúria. - O é meu filho! Só meu!
fechou os olhos, aparentemente assustada. Eu respirei fundo. Aquilo não podia ser real.
- Me desculpe! Eu deveria ter tentado uma aproximação antes!
- Você deveria ter ficado onde estava! Aonde quer que fosse! Durante muito tempo eu quis que você voltasse, durante anos eu precisei que voltasse, precisei de você sendo mãe, esposa! Mas hoje? Hoje ninguém aqui precisa de você! NINGUÉM, !
- Calma ! - Ela segurou meu braço.
Eu me soltei bruscamente.
- Você não vai vê-lo! - Minha cabeça latejava, Deus, como eu estava cansado. - Eu estou exausto, ! Preciso entrar, volte para a sua vida! Nada mais aqui te pertence.
- Vocês são a minha família, ! - Os olhos dela marejaram.
- Ah somos, ? Não me diga! - Ironizei passando as mãos pela têmpora.
- São ! Vocês sempre foram a minha família! Eu cometi uma porrada de erros graves! Não vou me anular, jamais. Mas eu sou humana! Eu cometo erros e me arrependo também! Eu quero ver meu filho, eu já perdi quatro anos da vida dele!
- Porque você quis, !
- Porque eu era imatura ! Eu não estava preparada, eu me desesperei e fugi! Mas eu voltei! Tô aqui! Quero reparar todos os meus erros!
- Tarde demais ! Tarde demais!
Nós dois ficamos em silêncio, nos encarando. Ela continuava igualzinha há quatro anos. Os mesmos olhos intensos, os mesmos cabelos loiros, só que ainda mais bonita. Por um milésimo de segundo eu quis abraçá-la com força. E como se lesse meus pensamentos, ela o fez.
Puxou-me de encontro a ela, me abraçando com força, envolvendo os braços em volta de meu pescoço. E eu fiquei imóvel, sentindo o cheiro que emanava de seus cabelos enquanto ela chorava molhando minha camiseta.
Por fim, eu a envolvi brevemente em meus braços fechando meus olhos.
- Você acha que ela é essencial, mas você só está lembrando das coisas boas. Da próxima vez que lembrar dela, lembra direito.
Ouvi a voz de minha mãe ecoar de dentro da garagem e nós nos soltamos devagar.
As duas se encararam.
- Bom dia, dona Mercedes! Eu só quero ver o meu filho e espero que a senhora não se oponha!
Minha mãe deu de ombros e me fitou.
- Ele está dormindo agora e não acho justo acordá-lo a essa hora! Volta depois, caso o autorize.
Eu arregalei meus olhos e também com a resposta de minha mãe.
- tem todo o direito de ver e conviver com a mãe, eu tenho plena consciência disso! Não sou tão monstruosa como vocês pensam, mas olha, ! - Ela pausou suspirando. - merece ser feliz também, e você o causou muito mal! Não pense que pode voltar assim e achar que pode reconstruir o coração do meu filho com essas palavras doces, que você não pode!
E assim ela entrou em casa.
- Olha , minha mãe tem razão! precisa conhecer e conviver com você, mas eu não! - Engoli seco. - Eu e você somos pais dele e vamos precisar conviver por causa disso, mas apenas isso!
balançou a cabeça em negativa.
- Mas eu te amo!
- Não ama, ! Me desculpe, mas você não ama! Você ama a liberdade e você mesma! Olha, não é por nada, mas quando eu precisei de você e dessa substância entorpecente que você chama de amor, você sumiu, se afastou e não me procurou mais. Achei que o mundo fosse acabar, porque eu não ia mais sustentar o meu vício. Me enganei. Sua droga era boa, mas também era fraquinha demais.
Ela fechou os olhos, deixando algumas lágrimas escorrerem. Eu respirei fundo, terminei de abrir o portão e a fitei.
- Eu deveria mesmo te deixar em paz, como você disse, sua vida tá em ordem. Você tá cansado de bagunça e eu tô cansada de sempre ser a que bagunça.
- Volte mais tarde? Hoje tenho o resto do dia de folga, volta mais tarde para ver seu filho! Bom dia, !
Voltei para dentro do meu carro, fechei a porta e adentrei o carro na garagem sob o olhar atento de minha mãe pela janela. Deitei a cabeça no volante, deixando minhas dores me invadirem, físicas e mentais. E chorei. Chorei por todas as coisas que podíamos ter sido e não fomos.
’ pov:
Meus pais amavam , isso eu não tenho a menor dúvida! Eles cuidavam dele durante todo o dia enquanto eu trabalhava às vezes um plantão dobrado, triplicado. Eu era enfermeiro então eu trabalhava 24/7 basicamente. Meu sonho desde a infância sempre fora ser médico, mas o destino quis que eu passasse para entrar apenas em enfermagem e continuasse tentando medicina enquanto fazia o curso.
Mas precisei continuar sendo enfermeiro quando nasceu. Meus pais quiseram me deserdar (não que eles tivessem alguma fortuna ou herança valiosa) quando engravidou. Nós tínhamos dezenove anos e eu estava terminando o segundo ano da faculdade. Eu não trabalhava, cantava em bares e por “sorte” havia juntado uma grana que deu para comprarmos o enxoval, carrinho, berço e fraldas.
Ela não fazia faculdade, dizia ainda não ter se encontrado e preferia pensar antes de ingressar numa faculdade para “não perder tempo à toa". Eu ri pelo nariz enquanto ouvia a voz dela repetir a frase na minha cabeça, enquanto tomava o café da manhã durante os quinze minutos que tinha.
Meus pais detestavam , eles a achavam folgada, desajuizada e imatura demais. De acordo com eles, ela não era mulher pra mim. Mas naquela época, eu era jovem demais, ela havia me conquistado com seu jeitinho livre e atrapalhado, sempre muito carinhosa e com sua fala mansa, suas declarações exageradas de amor…
Meus pais também nunca acreditaram muito em mim (e na gente, eu e como um casal), eles me achavam sem pulso, me achavam sem foco, achavam que eu pensava baixo demais e que me contentava com muito pouco. Nunca acreditaram que um dia eu fosse capaz de me tornar médico, e com o passar do tempo eu também passei a acreditar.
Eu tinha muitos “amigos” da época da faculdade, amigos esses que depois que eu e viramos pais sumiram e mal quiseram saber do bebê quando ele nasceu e nunca me estenderam a mão quando precisei de algum deles.
Alguns dias antes de fazer um ano, foi embora. Arrumou suas coisas, deixou uma longa carta, pegou o restante do dinheiro no banco e sumiu. Eu nunca mais tive notícias concretas dela.
Na carta ela dizia o quanto amava e eu, mas que aquela vida não era para ela! Que ela nunca quisera ser mãe, especialmente tão nova e com tanta coisa ainda para ser vivida, um mundo para conhecer. Alegava que estava se sentindo presa a mim e a , e que tudo aquilo que estávamos construindo, aos trancos e barrancos, era muito bonito e parecia até muito poético, mas que parecia uma grande prisão e a estava sufocando. Ela dizia também que sabia que no fundo, no fundo, seria um alívio a partida dela, especialmente para os meus pais. As brigas constantes estavam fazendo com que ela ainda me amasse, mas não gostava mais de mim.
Enquanto eu verificava a pulsação de mais um paciente, me lembrava da letra bonita dela escrita naquela folha de papel sulfite. Apesar de ser taxado como fraco e incapaz, raras vezes na vida eu havia chorado, mas naquele dia eu me debulhei em lágrimas. Chorei como um bebê, e , tadinho, tentava me consolar do jeitinho dele. Tão inocente, não entendia nada, mal sabia…
***
’s pov:
“Faz muito pouco tempo aprendi a aceitar, quem é dono da verdade não é dono de ninguém! Só não se esqueça que atrás do veneno das palavras, sobra só o desespero de ver tudo mudar. Talvez, até, porque ninguém mude por você…”
Será que ele já estava para voltar do trabalho? Ou será que iria passar a noite toda lá? Já era o quarto dia seguido que eu aparecia lá e não conseguia ver . Eu não tinha coragem de bater na porta de meus ex-sogros depois de quatro anos “desaparecida”, se eles já me odiavam o suficiente antes disso tudo, imagina agora? Eles jamais me deixariam entrar e ver meu filho.
Há um ano eu contratei um detetive particular para descobrir o paradeiro de e , saber onde moravam, como ele estava, o que andava fazendo, pois eu precisava sondar o terreno antes de voltar e tentar reconquistar tudo que um dia deixei para trás. Descobri que eles ainda moravam no mesmo lugar, que ainda não frequentava a escola, ele ficava com os avós o tempo todo e que havia se formado em enfermagem e trabalhava exaustivamente para cuidar dele e de .
Acendi um cigarro me escorando na parede, meus pés doíam pelo tamanho dos saltos que eu usava. Nada havia mudado no fundo, dentro de mim. Eu ainda gostava de usar o mesmo estilo de roupa, de sapatos, eu ainda fumava e gostava de beber minha cerveja, eu ainda gostava de cantar e sonhava em viver disso. Ainda amava a liberdade de poder ser quem eu era sem nenhuma amarra. Mas eu me dei conta que nada daquilo que eu almejava conquistar quando deixei e para trás me preenchia, eu passava noites e noites me perguntando como eles estariam aqui sem mim? Como ele cresceria? O que havia dito para ele? Várias e várias perguntas me atormentavam dia e noite. E eu criei coragem de voltar depois que juntei uma boa grana e consegui comprar um bar/restaurante na cidade onde morávamos.
E então há quatro dias eu esperava por … até que hoje, o dia finalmente chegou.
desceu do carro e foi em direção ao portão da casa, que por sinal parecia estar mais nova, deveria ter sido reformada. Que bom!
- ! - Eu gritei do outro lado da rua enquanto corria entre os carros que passavam.
Ele olhou para trás me vislumbrando. Os olhos se arregalaram, ficou pálido, e eu então parei frente a ele, ofegante.
- ! Finalmente! Meu Deus! Eu esperei quatro dias por você! Até a noite, e você não aparecia, daí eu desistia e voltava no dia seguinte. - Coloquei as mãos no peito e suspirei forte. - Como é bom ver você !
***
’ pov:
“Se você quer que eu feche os olhos pra alguém que foi viver algum dia lá fora, e, nesse dia, se o mundo acabar, não vou ligar pra aquilo que eu não fiz!”
Ela estava ali diante de mim como se fosse um fantasma, ou um fruto da minha cabeça cansada, de mais uma noite virado. Um delírio. É, era isso! Um mero delírio. Eu precisava de um banho quente e dormir.
Virei-me novamente para o portão destrancando-o e ignorando aquele delírio falante ali ao meu lado. Eu estava muito cansado, fazia semanas eu não conseguia descansar, então estava delirando, logo logo assim que eu me deitasse, aquilo acabaria.
- ? Estou falando com você! Não me ignore, por favor! Precisamos conversar, eu - pausei - quero ver meu filho!
- MEU FILHO, ! MEU FILHO! - Gritei enquanto batia com força no meu peito num acesso de fúria. - O é meu filho! Só meu!
fechou os olhos, aparentemente assustada. Eu respirei fundo. Aquilo não podia ser real.
- Me desculpe! Eu deveria ter tentado uma aproximação antes!
- Você deveria ter ficado onde estava! Aonde quer que fosse! Durante muito tempo eu quis que você voltasse, durante anos eu precisei que voltasse, precisei de você sendo mãe, esposa! Mas hoje? Hoje ninguém aqui precisa de você! NINGUÉM, !
- Calma ! - Ela segurou meu braço.
Eu me soltei bruscamente.
- Você não vai vê-lo! - Minha cabeça latejava, Deus, como eu estava cansado. - Eu estou exausto, ! Preciso entrar, volte para a sua vida! Nada mais aqui te pertence.
- Vocês são a minha família, ! - Os olhos dela marejaram.
- Ah somos, ? Não me diga! - Ironizei passando as mãos pela têmpora.
- São ! Vocês sempre foram a minha família! Eu cometi uma porrada de erros graves! Não vou me anular, jamais. Mas eu sou humana! Eu cometo erros e me arrependo também! Eu quero ver meu filho, eu já perdi quatro anos da vida dele!
- Porque você quis, !
- Porque eu era imatura ! Eu não estava preparada, eu me desesperei e fugi! Mas eu voltei! Tô aqui! Quero reparar todos os meus erros!
- Tarde demais ! Tarde demais!
Nós dois ficamos em silêncio, nos encarando. Ela continuava igualzinha há quatro anos. Os mesmos olhos intensos, os mesmos cabelos loiros, só que ainda mais bonita. Por um milésimo de segundo eu quis abraçá-la com força. E como se lesse meus pensamentos, ela o fez.
Puxou-me de encontro a ela, me abraçando com força, envolvendo os braços em volta de meu pescoço. E eu fiquei imóvel, sentindo o cheiro que emanava de seus cabelos enquanto ela chorava molhando minha camiseta.
Por fim, eu a envolvi brevemente em meus braços fechando meus olhos.
- Você acha que ela é essencial, mas você só está lembrando das coisas boas. Da próxima vez que lembrar dela, lembra direito.
Ouvi a voz de minha mãe ecoar de dentro da garagem e nós nos soltamos devagar.
As duas se encararam.
- Bom dia, dona Mercedes! Eu só quero ver o meu filho e espero que a senhora não se oponha!
Minha mãe deu de ombros e me fitou.
- Ele está dormindo agora e não acho justo acordá-lo a essa hora! Volta depois, caso o autorize.
Eu arregalei meus olhos e também com a resposta de minha mãe.
- tem todo o direito de ver e conviver com a mãe, eu tenho plena consciência disso! Não sou tão monstruosa como vocês pensam, mas olha, ! - Ela pausou suspirando. - merece ser feliz também, e você o causou muito mal! Não pense que pode voltar assim e achar que pode reconstruir o coração do meu filho com essas palavras doces, que você não pode!
E assim ela entrou em casa.
- Olha , minha mãe tem razão! precisa conhecer e conviver com você, mas eu não! - Engoli seco. - Eu e você somos pais dele e vamos precisar conviver por causa disso, mas apenas isso!
balançou a cabeça em negativa.
- Mas eu te amo!
- Não ama, ! Me desculpe, mas você não ama! Você ama a liberdade e você mesma! Olha, não é por nada, mas quando eu precisei de você e dessa substância entorpecente que você chama de amor, você sumiu, se afastou e não me procurou mais. Achei que o mundo fosse acabar, porque eu não ia mais sustentar o meu vício. Me enganei. Sua droga era boa, mas também era fraquinha demais.
Ela fechou os olhos, deixando algumas lágrimas escorrerem. Eu respirei fundo, terminei de abrir o portão e a fitei.
- Eu deveria mesmo te deixar em paz, como você disse, sua vida tá em ordem. Você tá cansado de bagunça e eu tô cansada de sempre ser a que bagunça.
- Volte mais tarde? Hoje tenho o resto do dia de folga, volta mais tarde para ver seu filho! Bom dia, !
Voltei para dentro do meu carro, fechei a porta e adentrei o carro na garagem sob o olhar atento de minha mãe pela janela. Deitei a cabeça no volante, deixando minhas dores me invadirem, físicas e mentais. E chorei. Chorei por todas as coisas que podíamos ter sido e não fomos.
Fim.
Nota da autora: Oieee! Espero que tenham gostado! Qualquer coisa me chama no twitter que eu tenho mais de 20 fanfics no site! É @royaldimarco
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.