Capítulo Único
POV
Abro os olhos lentamente ao ouvir o toque estridente da campainha do meu apartamento, me escondendo no lençol antes de me levantar ao escutar o barulho novamente.
“Já vai.” Grito, me olhando no espelho para conferir se meu rosto estava ao menos aceitável e ouço a campainha de novo. “Meu deus, eu disse que já vou!" Me dirijo à porta com passos fortes, mas mudo meu semblante ao ver quem aguardava atrás do olho mágico. “?”
“Esqueceu que eu vinha?” O homem à minha frente dá um sorriso ladino meio tímido e dou passagem para ele adentrar o local, recompondo minhas forças antes de encará-lo novamente. “Eu avisei ontem que iria pegar minhas coisas.”
“Me desculpa, eu…”
“Decidiu dar um cochilo e não acordou mais?” Assenti com a cabeça, sentindo meu rosto esquentar ao lembrar de como ele me conhecia tão bem. Como conhecia todos os meus gostos, desgostos, o que eu fazia para relaxar, o que me deixava irritada e todo o resto. Assim como eu sabia tudo dele. Não era para tanto, depois de cinco anos de relacionamento.
e eu éramos o típico casal perfeito que decidiu se separar para seguir rumos diferentes. Até porque, se fosse por qualquer outro motivo, eu não estaria parada na frente dele sem saber como reagir a uma pergunta tão inesperada, apesar de corriqueira um tempo atrás. Era como se eu estivesse passando por tudo aquilo de novo. O segundo primeiro olhar, minhas mãos suando e minha respiração ofegante novamente. A diferença é que dessa vez eu estava nervosa pela presença do meu ex-namorado, não de um desconhecido que chegou inesperadamente na sala de música da universidade enquanto eu cantava sozinha.
“Em minha defesa, ontem eu fui para uma festa e só voltei de madrugada, então estou morta de cansada.” Fecho a porta e vou para a cozinha, pegando dois copos de água e os pondo sobre a ilha.
“Conheceu muita gente lá?” Ele se apoia na grande superfície de mármore, me fitando antes de beber o líquido transparente.
“Ninguém interessante.” Dou de ombros, apesar de estar ardendo por dentro, observando sua garganta se mexer à medida que ele engolia a água.
“É, não se fazem mais homens como antigamente.”
“Isso foi uma indireta?”
“Ei, foi você quem terminou, eu tenho todo o direito de te mandar indiretas.” Sinto o tom sarcástico em sua voz e fico pensando no que responder, já que ele estava certo. Eu tinha falado para a gente terminar, mas com certeza não foi por parar de sentir algo por ele. “Bom, como você não me respondeu, eu imaginei que estaria dormindo e trouxe isso.” Ele põe uma sacola enorme do que aparentava ser de um restaurante japonês em cima da mesa e tira vários potes de dentro dela.
“Eu só percebi agora que fiquei praticamente o dia todo sem comer e tô morrendo de fome.” Falo ao sentir meu estômago reclamando e nos dirigimos até o sofá para comer, como costumávamos fazer antes.
“Então… como você tá?” Observo seu olhar percorrer todo o cômodo já conhecido antes de parar em mim. “Eu sei que só passou uma semana, mas… você sabe… eu me importo com você.” Pego um sashimi enorme para tentar disfarçar o meu nervosismo e um silêncio ensurdecedor preenche a sala, até eu formular uma frase que não demonstrasse o quão afetada eu havia ficado com aquela pergunta.
“Bem… quer dizer, tá tudo indo bem. E você?” Tento jogar a responsabilidade da resposta para ele e relaxo no sofá, pegando um dos potes ainda cheio de sushi e o botando no meu colo.
“Eu… espera, tem shoyu do lado da sua boca.” Antes que eu pudesse ter qualquer reação, se apressa e limpa a mancha preta no local que havia indicado, fazendo um arrepio se espalhar por todo o meu corpo. Ele continuou com a mão próxima a minha boca, se aproximando cada vez mais, e, por mais que minha cabeça estivesse gritando para eu me afastar, eu não conseguia. Eu não queria me afastar dele.
“Você tá muito perto…” Falo num tom baixo, encarando sua boca, que se aproximava mais a cada movimento.
Então ele fala no mesmo tom, como se tivesse mais gente no local e só nós dois pudéssemos ouvir:
“Você quer que eu me afaste?” Seus olhos fazem o mesmo percurso que os meus e, ao não receber resposta, porque naquele momento eu não tinha capacidade de formular nenhuma, ele une nossos lábios.
me puxa pela cintura, aproximando nossos corpos, mas sou forçada a me afastar ao escutar o baque do pote de sushi no chão.
“Me desculpa, eu não devia ter feito isso.” Ele se levanta imediatamente e eu faço o mesmo, não sendo capaz de desviar o olhar do chão todo sujo de sushi, molho shoyu e wasabi. “…”
“Eu vou pegar algo para limpar isso.” Me afasto da sala antes de deixá-lo terminar a frase, pegando uma luva de limpeza, um saco e panos úmidos, e me dirijo novamente para lá, começando a limpar o chão, ainda incapaz de olhá-lo. “Olha que desperdício.”
“…”
“Não sei por que eles mandam wasabi. Ninguém come esse troço verde.” Tento mudar de assunto enquanto não tirava os olhos da comida, o fazendo apenas quando ele se abaixa e toca na minha mão.
“Ei…”
“Por favor, , não me faz ser grossa com você. Só vai embora.” Finalmente fito seus olhos, que pareciam mais azuis do que nunca, contrastando com os fios pretos que caiam na sua testa.
“Certo, você tem razão.” Ele se levanta e vai até a porta, mas hesita antes de sair. “Eu não peguei minhas coisas.”
“Pode deixar que eu separo e você vem um dia apenas para pegar suas coisas.” Respondo apressada e ele assente com a cabeça, saindo e fechando a porta atrás dele logo em seguida.
Assim que fico sozinha no cômodo me jogo no sofá, a cabeça latejando à medida que eu processava o que havia acabado de acontecer. Eu tinha beijado meu ex-namorado. E eu definitivamente queria mais.
Uma semana depois do fatídico dia do beijo, eu finalmente consigo separar todas as coisas que eram de e decido mandar uma mensagem para ele. Seria a primeira vez que nos falaríamos após tudo o que havia ocorrido e eu não podia estar mais nervosa.
:
“Oi, já separei suas coisas.”
“Se quiser eu deixo na portaria e você só precisa passar lá para pegar.”
:
“Oi!”
“Não precisa, eu subo aí.”
“Tava querendo falar com você sobre o que aconteceu.”
“A mesma hora da semana passada?”
:
“Pode ser.”
Jogo meu celular para o outro lado da cama e bufo, apoiando minha cabeça na parede e me perguntando mentalmente o motivo de ter concordado com aquilo, apesar de no fundo saber que eu queria que ele viesse.
Assim que escuto o toque da campainha me apresso para atender a porta e dou passagem para ele entrar, apontando para duas caixas enormes no canto da sala.
“Suas coisas estão ali. Se quiser eu te ajudo a levar.”
“Eu tenho uma proposta…”
“…”
"Só me escuta. Por que não nos sentamos?” indica até o sofá e eu rio com a ironia dele estar fazendo isso na minha própria casa, mas acabo cedendo e me sento de frente para ele. “Primeiro eu queria pedir desculpa por ter te beijado semana passada. Ainda é meio novo pra mim.”
“Tudo bem, também está sendo novo pra mim.” Dou um sorriso ladino e me acomodo no encosto, aguardando-o continuar.
“Mas eu não quero perder vo… a sua amizade. Independente de namoro ou não, nós sempre fomos próximos, contávamos tudo um para o outro. Eu não queria perder isso.” Ele hesita por um momento e apoia a mão sobre a minha, mas rapidamente a afasta, talvez por ter sentido o mesmo arrepio que eu.
“Eu também não.”
“Então, por que não tentamos?”
“Ser apenas amigos?” assente com a cabeça. A ideia soava meio louca, apesar de tentadora. O término havia sido tão recente e talvez uma tentativa de se reaproximar, mesmo com um objetivo diferente, apenas botasse todo o esforço que eu estava fazendo até agora no lixo. “Não sei se é uma boa ideia. Olha o que aconteceu da outra vez.”
“Eu sei, mas eu acho que é inevitável a gente ficar com vontade de se beijar. Não é como se nós quiséssemos ter terminado.”
“Você falando assim parece que fomos forçados a terminar, mas foi uma escolha nossa…”
“Sua… você começou a falar sobre.”
“Sim, , e você concordou.”
“Concordei, porque se era isso que iria te fazer feliz, era o melhor.”
“Eu…”
“Você tem razão, foi uma péssima ideia ter vindo aqui.” Ele se levanta abruptamente e abre a porta do apartamento, indo em direção às caixas e pegando uma delas. “Vou levar esses últimos vestígios meus da sua vida e assim não vamos mais precisar nos ver.”
“, espera…” Vou atrás dele, que se dirigia até o elevador, apertando no botão para chamá-lo após pôr a caixa ao lado da porta fechada, e entra no apartamento novamente, pegando a outra caixa e fazendo o mesmo. Involuntariamente uma lágrima sai do meu olho, seguida de outra e mais outra.
“E assim cada um segue o seu caminho livre. Não era isso que você queria desde o início?” Ele põe as duas caixas dentro do elevador e me encara, seus olhos marejados, e o semblante sério se alternando com um preocupado.
“Por favor…”
“Eu não faço mais parte da sua vida, . Você deixou isso claro. Espero que você seja feliz com sua nova vida” Estava mesmo acontecendo. Enquanto aquela porta se fechava, quem eu achava que fosse o amor da minha vida iria sumir para sempre. E eu havia causado isso.
“Eu não queria isso.” Um sussurro sai pela minha boca em meio aos vários soluços. A porta já havia se fechado, então nunca chegou a ouvir isso.
Mais uma semana se passou e eu não parava de pensar na proposta de , apesar de achar que já estava tudo perdido. Quem sabe se a gente tentasse ser amigo a amargura que o último encontro havia deixado fosse embora.
“Droga.” Sinto o cheiro de queimado vindo da cozinha e corro para lá, tirando a panela do fogão. Que ótimo, apenas cinco minutos de distração e agora havia queimado toda a minha janta. sempre cozinhava, então eu estava me aventurando ao tentar preparar um risoto, percebendo que não tinha dado certo ao encarar o arroz todo preto na panela. E claro, qual a primeira coisa que você faz depois de cagar seu jantar? Tento achar o melhor ângulo para tirar foto do risoto queimado, adiciono um textinho com ‘lá se vai minha janta🥺” e voilà, um post perfeito para os stories do Instagram. Enquanto fuçava o ifood para tentar achar algo que substituísse o risoto, a notificação de que havia reagido ao meu story aparece na tela e involuntariamente meu dedo toca nela. Será que o emoji de riso significava que estava tudo bem entre a gente? Que a tal proposta ainda estava de pé? Ou que ele só não queria que ficasse um clima estranho? Se eu o chamasse para conversar, será que ele viria? Então eu mandei mensagem para . E ele respondeu. Uma semana depois. Mesmo dia. Mesma hora.
“Oi.” Sorrio ao ver o par de olhos azuis parados na minha frente ao abrir a porta e ele só responde com um aceno com a cabeça. “Obrigada por vir.”
“Ainda dá para sentir o cheiro de queimado.” Ele ri e olha em direção a cozinha.
“Eu acabei me distraindo e não deu muito certo.” Pego outra taça e ponho ao lado da minha, que já estava cheia com vinho branco. “Me acompanha?”
“Claro… se distraindo por quê? Tava conversando com alguém?” Ele se senta de frente para mim na ilha da cozinha enquanto eu enchia sua taça.
“Pensando… em você… em nós… no que você falou.”
“Me desculpa.”
“Por que tá se desculpando? Você não tem…”
“Eu queria ter ficado e te protegido. Odeio te ver tão frágil por… culpa minha.”
“Não foi sua culpa. Você só estava tentando acertar as coisas. Eu não quero me afastar de você, .”
“Então…”
“Eu quero dar uma chance para a nossa amizade.” Trocamos apenas sorrisos animados, já que um abraço aparentava ser um contato muito próximo para duas pessoas que acabaram de terminar.
Várias palavras jogadas e taças viradas depois de algumas horas, continuamos a conversar no sofá da sala. Era engraçado o quanto parecíamos ser apenas velhos amigos falando sobre assuntos aleatórios. Talvez o álcool ajudasse para isso também.
“Você acha que estamos fazendo a coisa certa?” pergunta em meio aos nossos risos, após relembrarmos algumas histórias engraçadas. Por um momento, parei para analisar a frase dita por ele, afinal, soava meio irônico estarmos conversando por horas justamente sobre como não deveríamos conversar por horas sem parar.
“Acho que sim. Funcionamos bem como amigos, não acha?”
“Sim, claro! Como… amigos.” O oceano dos seus olhos penetravam os meus com um semblante confuso. Eu o entendia, porque estava sentindo a mesma coisa. Será que funcionávamos melhor como amigos?
Foi aí que eu percebi. Estávamos perto demais. Havíamos iniciado a conversa mais afastados, até porque amigos não ficam a centímetros de distância um do outro. Não sei se foi a casualidade que a presença de me passava ou se involuntariamente eu havia me aproximado por não conseguir ficar tão longe dele. Eu não o queria longe.
“, eu…” Ele trava, como se não fosse capaz de terminar a frase. Mas a única coisa que eu conseguia reparar era no quanto a boca dele estava próxima da minha. O quanto tudo que havíamos acabado de conversar durante horas estava sendo jogado no lixo à medida que eu me aproximava dele e acabava com toda a distância entre nós.
Depois de um tempo, em que o beijo havia se intensificado, nos afastamos para respirar um pouco e me dei conta do que tinha acabado de fazer.
“Me desculpa… não podemos fazer isso novamente…” Falo com um sorriso envergonhado, mordendo meus lábios em seguida.
“Com certeza.” coça a cabeça, seus olhos se desviando para o cômodo após um tempo me encarando. “Eu devia ir…”
“Por que não… tentamos fazer isso de novo? Próxima semana, mesma hora…”
“Claro… por que não?”
E assim nós fizemos. Toda semana, no mesmo dia, na mesma hora, as mesmas conversas jogadas fora, desde lembranças até a velha reafirmação de que iríamos ser apenas amigos, que terminavam em um beijo. Começamos a teorizar que se a gente se beijasse em todo encontro um dia iríamos nos cansar e assim nos tornaríamos amigos. Às vezes eu pensava que era loucura, mas algo em mim me fazia acreditar nessa teoria. Ou talvez fosse apenas uma desculpa para beijar .
“Vamos, . Você nunca mais saiu para uma festa com a gente.” protesta tentando me puxar para fora da cama enquanto vasculhava meu guarda-roupa. Depois de vários dias em que eu inventava desculpas para não sair com elas com o objetivo único e exclusivo de esquecer , as duas decidiram aparecer de surpresa no meu apartamento para me arrastar para qualquer lugar que fosse. A verdade é que eu não tinha falado nada para elas sobre os encontros semanais, com medo da desaprovação. E também, eu preferia passar três curtas horas conversando com ele do que três longas semanas fingindo que ele… que nós não existíamos.
Acabo cedendo depois de um tempo e fomos para a festa de um amigo de , porque, segundo ela, teria muita gente diferente e eu poderia me interessar por alguém. Adentramos a festa e me surpreendo com o tanto de gente que conseguiu caber naquele cubículo de apartamento e como não tinha nenhum vizinho na porta reclamando.
“Ah droga.” suspira e tenta me virar para a direção oposta da qual estávamos indo, o que só me chamou mais a atenção e me fez olhar diretamente para onde ela não queria que eu olhasse. Eu não fiquei impactada ao ver , eu fiquei impactada ao ver que ele estava conversando com uma garota. Definitivamente era ciúmes, mas não é como se a gente estivesse namorando ainda ou tendo algo. A gente só se pegava todo sábado, às cinco da tarde, depois de conversar como amigos. Porque isso que éramos agora. Apenas amigos.
“Desculpa, eu não sabia que ele viria.” me olha triste, mas eu a conforto. “Se quiser podemos ir para outro canto.” Assinto com a cabeça, mas, antes que eu conseguisse me virar, nos avista e vem em nossa direção.
“… meninas.” Ele faz menção em me abraçar, mas desiste após ver as duas no meu encalço. “Não sabia que você viria. Quer dizer, quando eu te chamei ontem você não parecia muito…”
“Chamou ontem? Vocês estão conversando, por acaso?” olha diretamente para mim e faz o mesmo.
“Eu…”
“Precisamos conversar. As três. Sozinhas.” nos arrasta para um canto mais afastado da festa e eu consigo ouvir a voz de pedindo desculpas se dissipando na multidão. “Pode falar tudo…” E eu falei. Falei que nos beijamos no dia que ele foi pegar as coisas no meu apartamento. Falei da proposta. Do que aconteceu nos encontros. E senti que minha expectativa diminuía a cada frase, pelo olhar que elas me davam. “Tá, só me responde uma coisa? Por que vocês terminaram? Quer dizer, você nunca entrou em detalhes com a gente e nós sempre respeitamos, porque sabíamos que o término foi difícil… mas agora você me conta que tá beijando o seu ex-namorado semanalmente e sinto muito em ser eu quem tenha que te dizer isso, por mais que esteja óbvio, mas…”
“Vocês ainda se amam.” completa o raciocínio de ao mesmo tempo e aguarda por uma resposta minha.
“Não! Eu terminei com ele…”
“Mas isso não significa que você não o ama. Sabe o que eu acho? Que você tem que chamar ele pra conversar.” apoia a mão em meu ombro e prossegue. “Acho que vocês têm que esclarecer tudo.”
“Já ficou claro pra mim. Vocês não viram ele conversando com aquela menina?”
“Não quer dizer nada. , vocês ficaram juntos por mais de cinco anos e você tá querendo desistir porque viu ele conversando com alguém? Nem me responda.” Abro a boca pra falar, mas me interrompe e pega no meu braço, me arrastando pelo tanto de gente até chegarmos aonde estava, conversando com a mesma garota. Ele eu não sei, mas ela com certeza tinha segundas intenções. Ela pigarreia, para chamar a atenção dos dois e sinto os olhos azuis me fitarem.
“Essa é minha colega de trabalho, Julie… essa é a minha…”
“… desculpa, a gente não queria atrapalhar.” Dou um sorriso fraco e me afasto imediatamente dali, ignorando os chamados das duas e deixando com um semblante confuso. Talvez fosse isso. Talvez eu não tenha superado, mas sim, e eu tinha que aceitar isso. Ou melhor, eu tinha que seguir em frente também. Mas como eu vou deixá-lo agora que já acabou?
Sigo para a saída do local, não fazendo ideia para onde ir, mas sou interrompida por uma mão puxando meu braço.
“, espera.” Ouço a voz de e me viro. “Precisamos conversar.” Ele me guia para dentro da festa novamente e até um dos quartos, trancando a porta logo em seguida. “O dono, é meu amigo, tá tudo bem.”
"Tá, mas por que você me chamou até aqui?” Pergunto cruzando os braços e me sentando na cama. Não que eu tivesse o direito de ficar com raiva dele por estar conhecendo pessoas novas.
“Por que falou aquilo?”
“Eu só estava te ajudando a seguir em frente.”
“Espera. Você acha que a Julie e eu…” Ele começa a rir, seu rosto ficando totalmente vermelho após um tempo. “, ela é lésbica.”
“Ah… eu não sabia.” Fico totalmente envergonhada e podia jurar que meu rosto estava vermelho também.
“Ela só estava me mostrando uma garota que ela chamou para sair… você ficou com ciúmes?” senta ao meu lado, dessa vez com o semblante mais sério. Ele não havia acendido a luz do quarto, então a pouca iluminação vinda de fora contrastava bem com seus olhos claros.
“Eu… claro que sim, . Nos beijamos ontem e no outro dia você me aparece com uma mulher super gata numa festa…”
“Que eu te convidei.”
“Que você me convidou, mas não vem ao caso. Como eu ia adivinhar…”
“, eu sempre deixei claro que nunca parei de gostar de você. Por que você acha que eu respondi aquele story mesmo depois da nossa briga? Eu não queria desistir de nós. Mesmo que fosse pra ser só seu amigo.” Ele se aproxima, repousando uma mão sobre a minha e a outra no canto do meu rosto.
“Eu te amo.” Falo impulsivamente, não desviando o olhar do seu, apesar do meu corpo todo estar desejando correr dali. Mas talvez dessa vez ele estivesse completamente errado e eu não devesse escutá-lo. Eu não queria mais escutá-lo.
“Eu te amo tanto. Eu senti tanta falta de dizer isso.” sorri, acariciando minha bochecha e depois descendo para minha boca. “E eu quero tanto te beijar sem ter a culpa de estar estragando algo ou a apreensão de que isso possa acabar a qualquer momento.”
“Por que não vamos para o meu apartamento?” Eu me levanto imediatamente e ele faz o mesmo, indo em direção a porta do quarto com a mão ainda entrelaçada na minha.
“Eu acho uma ótima ideia.” Antes de abrir a porta ele puxa meu corpo, me prensando sobre o seu e unindo nossos lábios, não num beijo nostálgico, até porque havíamos nos beijado ontem, mas num beijo definitivo.
“Sabe, minha cama sentiu muito sua falta nesses dias.” Sorrio entre os beijos e entrelaço minhas mãos atrás de seu pescoço.
“Eu também senti muito a falta dela.” ri, voltando a me beijar, para depois sairmos do quarto e anunciar para e , que esperavam ansiosas atrás da porta, que havíamos voltado.
Mas a questão era essa. Como eu pude tentar fechar a porta sendo que eu sequer tinha o fecho? E com esse fecho nunca tinha sido criado.
Abro os olhos lentamente ao ouvir o toque estridente da campainha do meu apartamento, me escondendo no lençol antes de me levantar ao escutar o barulho novamente.
“Já vai.” Grito, me olhando no espelho para conferir se meu rosto estava ao menos aceitável e ouço a campainha de novo. “Meu deus, eu disse que já vou!" Me dirijo à porta com passos fortes, mas mudo meu semblante ao ver quem aguardava atrás do olho mágico. “?”
“Esqueceu que eu vinha?” O homem à minha frente dá um sorriso ladino meio tímido e dou passagem para ele adentrar o local, recompondo minhas forças antes de encará-lo novamente. “Eu avisei ontem que iria pegar minhas coisas.”
“Me desculpa, eu…”
“Decidiu dar um cochilo e não acordou mais?” Assenti com a cabeça, sentindo meu rosto esquentar ao lembrar de como ele me conhecia tão bem. Como conhecia todos os meus gostos, desgostos, o que eu fazia para relaxar, o que me deixava irritada e todo o resto. Assim como eu sabia tudo dele. Não era para tanto, depois de cinco anos de relacionamento.
e eu éramos o típico casal perfeito que decidiu se separar para seguir rumos diferentes. Até porque, se fosse por qualquer outro motivo, eu não estaria parada na frente dele sem saber como reagir a uma pergunta tão inesperada, apesar de corriqueira um tempo atrás. Era como se eu estivesse passando por tudo aquilo de novo. O segundo primeiro olhar, minhas mãos suando e minha respiração ofegante novamente. A diferença é que dessa vez eu estava nervosa pela presença do meu ex-namorado, não de um desconhecido que chegou inesperadamente na sala de música da universidade enquanto eu cantava sozinha.
“Em minha defesa, ontem eu fui para uma festa e só voltei de madrugada, então estou morta de cansada.” Fecho a porta e vou para a cozinha, pegando dois copos de água e os pondo sobre a ilha.
“Conheceu muita gente lá?” Ele se apoia na grande superfície de mármore, me fitando antes de beber o líquido transparente.
“Ninguém interessante.” Dou de ombros, apesar de estar ardendo por dentro, observando sua garganta se mexer à medida que ele engolia a água.
“É, não se fazem mais homens como antigamente.”
“Isso foi uma indireta?”
“Ei, foi você quem terminou, eu tenho todo o direito de te mandar indiretas.” Sinto o tom sarcástico em sua voz e fico pensando no que responder, já que ele estava certo. Eu tinha falado para a gente terminar, mas com certeza não foi por parar de sentir algo por ele. “Bom, como você não me respondeu, eu imaginei que estaria dormindo e trouxe isso.” Ele põe uma sacola enorme do que aparentava ser de um restaurante japonês em cima da mesa e tira vários potes de dentro dela.
“Eu só percebi agora que fiquei praticamente o dia todo sem comer e tô morrendo de fome.” Falo ao sentir meu estômago reclamando e nos dirigimos até o sofá para comer, como costumávamos fazer antes.
“Então… como você tá?” Observo seu olhar percorrer todo o cômodo já conhecido antes de parar em mim. “Eu sei que só passou uma semana, mas… você sabe… eu me importo com você.” Pego um sashimi enorme para tentar disfarçar o meu nervosismo e um silêncio ensurdecedor preenche a sala, até eu formular uma frase que não demonstrasse o quão afetada eu havia ficado com aquela pergunta.
“Bem… quer dizer, tá tudo indo bem. E você?” Tento jogar a responsabilidade da resposta para ele e relaxo no sofá, pegando um dos potes ainda cheio de sushi e o botando no meu colo.
“Eu… espera, tem shoyu do lado da sua boca.” Antes que eu pudesse ter qualquer reação, se apressa e limpa a mancha preta no local que havia indicado, fazendo um arrepio se espalhar por todo o meu corpo. Ele continuou com a mão próxima a minha boca, se aproximando cada vez mais, e, por mais que minha cabeça estivesse gritando para eu me afastar, eu não conseguia. Eu não queria me afastar dele.
“Você tá muito perto…” Falo num tom baixo, encarando sua boca, que se aproximava mais a cada movimento.
Então ele fala no mesmo tom, como se tivesse mais gente no local e só nós dois pudéssemos ouvir:
“Você quer que eu me afaste?” Seus olhos fazem o mesmo percurso que os meus e, ao não receber resposta, porque naquele momento eu não tinha capacidade de formular nenhuma, ele une nossos lábios.
me puxa pela cintura, aproximando nossos corpos, mas sou forçada a me afastar ao escutar o baque do pote de sushi no chão.
“Me desculpa, eu não devia ter feito isso.” Ele se levanta imediatamente e eu faço o mesmo, não sendo capaz de desviar o olhar do chão todo sujo de sushi, molho shoyu e wasabi. “…”
“Eu vou pegar algo para limpar isso.” Me afasto da sala antes de deixá-lo terminar a frase, pegando uma luva de limpeza, um saco e panos úmidos, e me dirijo novamente para lá, começando a limpar o chão, ainda incapaz de olhá-lo. “Olha que desperdício.”
“…”
“Não sei por que eles mandam wasabi. Ninguém come esse troço verde.” Tento mudar de assunto enquanto não tirava os olhos da comida, o fazendo apenas quando ele se abaixa e toca na minha mão.
“Ei…”
“Por favor, , não me faz ser grossa com você. Só vai embora.” Finalmente fito seus olhos, que pareciam mais azuis do que nunca, contrastando com os fios pretos que caiam na sua testa.
“Certo, você tem razão.” Ele se levanta e vai até a porta, mas hesita antes de sair. “Eu não peguei minhas coisas.”
“Pode deixar que eu separo e você vem um dia apenas para pegar suas coisas.” Respondo apressada e ele assente com a cabeça, saindo e fechando a porta atrás dele logo em seguida.
Assim que fico sozinha no cômodo me jogo no sofá, a cabeça latejando à medida que eu processava o que havia acabado de acontecer. Eu tinha beijado meu ex-namorado. E eu definitivamente queria mais.
Uma semana depois do fatídico dia do beijo, eu finalmente consigo separar todas as coisas que eram de e decido mandar uma mensagem para ele. Seria a primeira vez que nos falaríamos após tudo o que havia ocorrido e eu não podia estar mais nervosa.
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“Oi, já separei suas coisas.”
“Se quiser eu deixo na portaria e você só precisa passar lá para pegar.”
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“Oi!”
“Não precisa, eu subo aí.”
“Tava querendo falar com você sobre o que aconteceu.”
“A mesma hora da semana passada?”
:
“Pode ser.”
Jogo meu celular para o outro lado da cama e bufo, apoiando minha cabeça na parede e me perguntando mentalmente o motivo de ter concordado com aquilo, apesar de no fundo saber que eu queria que ele viesse.
Assim que escuto o toque da campainha me apresso para atender a porta e dou passagem para ele entrar, apontando para duas caixas enormes no canto da sala.
“Suas coisas estão ali. Se quiser eu te ajudo a levar.”
“Eu tenho uma proposta…”
“…”
"Só me escuta. Por que não nos sentamos?” indica até o sofá e eu rio com a ironia dele estar fazendo isso na minha própria casa, mas acabo cedendo e me sento de frente para ele. “Primeiro eu queria pedir desculpa por ter te beijado semana passada. Ainda é meio novo pra mim.”
“Tudo bem, também está sendo novo pra mim.” Dou um sorriso ladino e me acomodo no encosto, aguardando-o continuar.
“Mas eu não quero perder vo… a sua amizade. Independente de namoro ou não, nós sempre fomos próximos, contávamos tudo um para o outro. Eu não queria perder isso.” Ele hesita por um momento e apoia a mão sobre a minha, mas rapidamente a afasta, talvez por ter sentido o mesmo arrepio que eu.
“Eu também não.”
“Então, por que não tentamos?”
“Ser apenas amigos?” assente com a cabeça. A ideia soava meio louca, apesar de tentadora. O término havia sido tão recente e talvez uma tentativa de se reaproximar, mesmo com um objetivo diferente, apenas botasse todo o esforço que eu estava fazendo até agora no lixo. “Não sei se é uma boa ideia. Olha o que aconteceu da outra vez.”
“Eu sei, mas eu acho que é inevitável a gente ficar com vontade de se beijar. Não é como se nós quiséssemos ter terminado.”
“Você falando assim parece que fomos forçados a terminar, mas foi uma escolha nossa…”
“Sua… você começou a falar sobre.”
“Sim, , e você concordou.”
“Concordei, porque se era isso que iria te fazer feliz, era o melhor.”
“Eu…”
“Você tem razão, foi uma péssima ideia ter vindo aqui.” Ele se levanta abruptamente e abre a porta do apartamento, indo em direção às caixas e pegando uma delas. “Vou levar esses últimos vestígios meus da sua vida e assim não vamos mais precisar nos ver.”
“, espera…” Vou atrás dele, que se dirigia até o elevador, apertando no botão para chamá-lo após pôr a caixa ao lado da porta fechada, e entra no apartamento novamente, pegando a outra caixa e fazendo o mesmo. Involuntariamente uma lágrima sai do meu olho, seguida de outra e mais outra.
“E assim cada um segue o seu caminho livre. Não era isso que você queria desde o início?” Ele põe as duas caixas dentro do elevador e me encara, seus olhos marejados, e o semblante sério se alternando com um preocupado.
“Por favor…”
“Eu não faço mais parte da sua vida, . Você deixou isso claro. Espero que você seja feliz com sua nova vida” Estava mesmo acontecendo. Enquanto aquela porta se fechava, quem eu achava que fosse o amor da minha vida iria sumir para sempre. E eu havia causado isso.
“Eu não queria isso.” Um sussurro sai pela minha boca em meio aos vários soluços. A porta já havia se fechado, então nunca chegou a ouvir isso.
Mais uma semana se passou e eu não parava de pensar na proposta de , apesar de achar que já estava tudo perdido. Quem sabe se a gente tentasse ser amigo a amargura que o último encontro havia deixado fosse embora.
“Droga.” Sinto o cheiro de queimado vindo da cozinha e corro para lá, tirando a panela do fogão. Que ótimo, apenas cinco minutos de distração e agora havia queimado toda a minha janta. sempre cozinhava, então eu estava me aventurando ao tentar preparar um risoto, percebendo que não tinha dado certo ao encarar o arroz todo preto na panela. E claro, qual a primeira coisa que você faz depois de cagar seu jantar? Tento achar o melhor ângulo para tirar foto do risoto queimado, adiciono um textinho com ‘lá se vai minha janta🥺” e voilà, um post perfeito para os stories do Instagram. Enquanto fuçava o ifood para tentar achar algo que substituísse o risoto, a notificação de que havia reagido ao meu story aparece na tela e involuntariamente meu dedo toca nela. Será que o emoji de riso significava que estava tudo bem entre a gente? Que a tal proposta ainda estava de pé? Ou que ele só não queria que ficasse um clima estranho? Se eu o chamasse para conversar, será que ele viria? Então eu mandei mensagem para . E ele respondeu. Uma semana depois. Mesmo dia. Mesma hora.
“Oi.” Sorrio ao ver o par de olhos azuis parados na minha frente ao abrir a porta e ele só responde com um aceno com a cabeça. “Obrigada por vir.”
“Ainda dá para sentir o cheiro de queimado.” Ele ri e olha em direção a cozinha.
“Eu acabei me distraindo e não deu muito certo.” Pego outra taça e ponho ao lado da minha, que já estava cheia com vinho branco. “Me acompanha?”
“Claro… se distraindo por quê? Tava conversando com alguém?” Ele se senta de frente para mim na ilha da cozinha enquanto eu enchia sua taça.
“Pensando… em você… em nós… no que você falou.”
“Me desculpa.”
“Por que tá se desculpando? Você não tem…”
“Eu queria ter ficado e te protegido. Odeio te ver tão frágil por… culpa minha.”
“Não foi sua culpa. Você só estava tentando acertar as coisas. Eu não quero me afastar de você, .”
“Então…”
“Eu quero dar uma chance para a nossa amizade.” Trocamos apenas sorrisos animados, já que um abraço aparentava ser um contato muito próximo para duas pessoas que acabaram de terminar.
Várias palavras jogadas e taças viradas depois de algumas horas, continuamos a conversar no sofá da sala. Era engraçado o quanto parecíamos ser apenas velhos amigos falando sobre assuntos aleatórios. Talvez o álcool ajudasse para isso também.
“Você acha que estamos fazendo a coisa certa?” pergunta em meio aos nossos risos, após relembrarmos algumas histórias engraçadas. Por um momento, parei para analisar a frase dita por ele, afinal, soava meio irônico estarmos conversando por horas justamente sobre como não deveríamos conversar por horas sem parar.
“Acho que sim. Funcionamos bem como amigos, não acha?”
“Sim, claro! Como… amigos.” O oceano dos seus olhos penetravam os meus com um semblante confuso. Eu o entendia, porque estava sentindo a mesma coisa. Será que funcionávamos melhor como amigos?
Foi aí que eu percebi. Estávamos perto demais. Havíamos iniciado a conversa mais afastados, até porque amigos não ficam a centímetros de distância um do outro. Não sei se foi a casualidade que a presença de me passava ou se involuntariamente eu havia me aproximado por não conseguir ficar tão longe dele. Eu não o queria longe.
“, eu…” Ele trava, como se não fosse capaz de terminar a frase. Mas a única coisa que eu conseguia reparar era no quanto a boca dele estava próxima da minha. O quanto tudo que havíamos acabado de conversar durante horas estava sendo jogado no lixo à medida que eu me aproximava dele e acabava com toda a distância entre nós.
Depois de um tempo, em que o beijo havia se intensificado, nos afastamos para respirar um pouco e me dei conta do que tinha acabado de fazer.
“Me desculpa… não podemos fazer isso novamente…” Falo com um sorriso envergonhado, mordendo meus lábios em seguida.
“Com certeza.” coça a cabeça, seus olhos se desviando para o cômodo após um tempo me encarando. “Eu devia ir…”
“Por que não… tentamos fazer isso de novo? Próxima semana, mesma hora…”
“Claro… por que não?”
E assim nós fizemos. Toda semana, no mesmo dia, na mesma hora, as mesmas conversas jogadas fora, desde lembranças até a velha reafirmação de que iríamos ser apenas amigos, que terminavam em um beijo. Começamos a teorizar que se a gente se beijasse em todo encontro um dia iríamos nos cansar e assim nos tornaríamos amigos. Às vezes eu pensava que era loucura, mas algo em mim me fazia acreditar nessa teoria. Ou talvez fosse apenas uma desculpa para beijar .
“Vamos, . Você nunca mais saiu para uma festa com a gente.” protesta tentando me puxar para fora da cama enquanto vasculhava meu guarda-roupa. Depois de vários dias em que eu inventava desculpas para não sair com elas com o objetivo único e exclusivo de esquecer , as duas decidiram aparecer de surpresa no meu apartamento para me arrastar para qualquer lugar que fosse. A verdade é que eu não tinha falado nada para elas sobre os encontros semanais, com medo da desaprovação. E também, eu preferia passar três curtas horas conversando com ele do que três longas semanas fingindo que ele… que nós não existíamos.
Acabo cedendo depois de um tempo e fomos para a festa de um amigo de , porque, segundo ela, teria muita gente diferente e eu poderia me interessar por alguém. Adentramos a festa e me surpreendo com o tanto de gente que conseguiu caber naquele cubículo de apartamento e como não tinha nenhum vizinho na porta reclamando.
“Ah droga.” suspira e tenta me virar para a direção oposta da qual estávamos indo, o que só me chamou mais a atenção e me fez olhar diretamente para onde ela não queria que eu olhasse. Eu não fiquei impactada ao ver , eu fiquei impactada ao ver que ele estava conversando com uma garota. Definitivamente era ciúmes, mas não é como se a gente estivesse namorando ainda ou tendo algo. A gente só se pegava todo sábado, às cinco da tarde, depois de conversar como amigos. Porque isso que éramos agora. Apenas amigos.
“Desculpa, eu não sabia que ele viria.” me olha triste, mas eu a conforto. “Se quiser podemos ir para outro canto.” Assinto com a cabeça, mas, antes que eu conseguisse me virar, nos avista e vem em nossa direção.
“… meninas.” Ele faz menção em me abraçar, mas desiste após ver as duas no meu encalço. “Não sabia que você viria. Quer dizer, quando eu te chamei ontem você não parecia muito…”
“Chamou ontem? Vocês estão conversando, por acaso?” olha diretamente para mim e faz o mesmo.
“Eu…”
“Precisamos conversar. As três. Sozinhas.” nos arrasta para um canto mais afastado da festa e eu consigo ouvir a voz de pedindo desculpas se dissipando na multidão. “Pode falar tudo…” E eu falei. Falei que nos beijamos no dia que ele foi pegar as coisas no meu apartamento. Falei da proposta. Do que aconteceu nos encontros. E senti que minha expectativa diminuía a cada frase, pelo olhar que elas me davam. “Tá, só me responde uma coisa? Por que vocês terminaram? Quer dizer, você nunca entrou em detalhes com a gente e nós sempre respeitamos, porque sabíamos que o término foi difícil… mas agora você me conta que tá beijando o seu ex-namorado semanalmente e sinto muito em ser eu quem tenha que te dizer isso, por mais que esteja óbvio, mas…”
“Vocês ainda se amam.” completa o raciocínio de ao mesmo tempo e aguarda por uma resposta minha.
“Não! Eu terminei com ele…”
“Mas isso não significa que você não o ama. Sabe o que eu acho? Que você tem que chamar ele pra conversar.” apoia a mão em meu ombro e prossegue. “Acho que vocês têm que esclarecer tudo.”
“Já ficou claro pra mim. Vocês não viram ele conversando com aquela menina?”
“Não quer dizer nada. , vocês ficaram juntos por mais de cinco anos e você tá querendo desistir porque viu ele conversando com alguém? Nem me responda.” Abro a boca pra falar, mas me interrompe e pega no meu braço, me arrastando pelo tanto de gente até chegarmos aonde estava, conversando com a mesma garota. Ele eu não sei, mas ela com certeza tinha segundas intenções. Ela pigarreia, para chamar a atenção dos dois e sinto os olhos azuis me fitarem.
“Essa é minha colega de trabalho, Julie… essa é a minha…”
“… desculpa, a gente não queria atrapalhar.” Dou um sorriso fraco e me afasto imediatamente dali, ignorando os chamados das duas e deixando com um semblante confuso. Talvez fosse isso. Talvez eu não tenha superado, mas sim, e eu tinha que aceitar isso. Ou melhor, eu tinha que seguir em frente também. Mas como eu vou deixá-lo agora que já acabou?
Sigo para a saída do local, não fazendo ideia para onde ir, mas sou interrompida por uma mão puxando meu braço.
“, espera.” Ouço a voz de e me viro. “Precisamos conversar.” Ele me guia para dentro da festa novamente e até um dos quartos, trancando a porta logo em seguida. “O dono, é meu amigo, tá tudo bem.”
"Tá, mas por que você me chamou até aqui?” Pergunto cruzando os braços e me sentando na cama. Não que eu tivesse o direito de ficar com raiva dele por estar conhecendo pessoas novas.
“Por que falou aquilo?”
“Eu só estava te ajudando a seguir em frente.”
“Espera. Você acha que a Julie e eu…” Ele começa a rir, seu rosto ficando totalmente vermelho após um tempo. “, ela é lésbica.”
“Ah… eu não sabia.” Fico totalmente envergonhada e podia jurar que meu rosto estava vermelho também.
“Ela só estava me mostrando uma garota que ela chamou para sair… você ficou com ciúmes?” senta ao meu lado, dessa vez com o semblante mais sério. Ele não havia acendido a luz do quarto, então a pouca iluminação vinda de fora contrastava bem com seus olhos claros.
“Eu… claro que sim, . Nos beijamos ontem e no outro dia você me aparece com uma mulher super gata numa festa…”
“Que eu te convidei.”
“Que você me convidou, mas não vem ao caso. Como eu ia adivinhar…”
“, eu sempre deixei claro que nunca parei de gostar de você. Por que você acha que eu respondi aquele story mesmo depois da nossa briga? Eu não queria desistir de nós. Mesmo que fosse pra ser só seu amigo.” Ele se aproxima, repousando uma mão sobre a minha e a outra no canto do meu rosto.
“Eu te amo.” Falo impulsivamente, não desviando o olhar do seu, apesar do meu corpo todo estar desejando correr dali. Mas talvez dessa vez ele estivesse completamente errado e eu não devesse escutá-lo. Eu não queria mais escutá-lo.
“Eu te amo tanto. Eu senti tanta falta de dizer isso.” sorri, acariciando minha bochecha e depois descendo para minha boca. “E eu quero tanto te beijar sem ter a culpa de estar estragando algo ou a apreensão de que isso possa acabar a qualquer momento.”
“Por que não vamos para o meu apartamento?” Eu me levanto imediatamente e ele faz o mesmo, indo em direção a porta do quarto com a mão ainda entrelaçada na minha.
“Eu acho uma ótima ideia.” Antes de abrir a porta ele puxa meu corpo, me prensando sobre o seu e unindo nossos lábios, não num beijo nostálgico, até porque havíamos nos beijado ontem, mas num beijo definitivo.
“Sabe, minha cama sentiu muito sua falta nesses dias.” Sorrio entre os beijos e entrelaço minhas mãos atrás de seu pescoço.
“Eu também senti muito a falta dela.” ri, voltando a me beijar, para depois sairmos do quarto e anunciar para e , que esperavam ansiosas atrás da porta, que havíamos voltado.
Mas a questão era essa. Como eu pude tentar fechar a porta sendo que eu sequer tinha o fecho? E com esse fecho nunca tinha sido criado.
FIM
Nota da autora: Oiii! Espero que tenham gostado da fic e comentem🥰🥰
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