FFOBS - 06. Back to the Start, por Thaay Marques

Finalizada em: 27/10/2019

Parte I - Infância

When we were growing up you always looked like you were having such fun
Enquanto crescíamos você sempre parecia estar se divertindo tanto
You always were and you always will be the taller and the prettier one
Você sempre foi e sempre será a mais alta e mais bonita
People seem to love you
As pessoas pareciam te amar


A vida é feita de perdas e acréscimos. Idas e vindas. Alegrias e tristezas.
Jenkins nasceu com o peso da perda, tendo que aprender a lidar com um sentimento sem ao menos ter aprendido a pronunciar o alfabeto. Não teve oportunidade de ter lembranças com sua mãe, apenas de outras pessoas que estiveram com ela em vida.
O seu pai estava lhe criando com todo amor e carinho, dividindo-se entre ela e seu trabalho. E a família da melhor amiga de sua mãe, e que morava na casa ao lado, também ajudava no que podia. A menina passava boa parte dos seus dias na companhia da melhor amiga Fitzby. Adoravam brincar de bonecas, comer os biscoitos feitos pela mãe da melhor amiga enquanto assistiam seus desenhos favoritos e se balançar no balanço de pneu que ficava no quintal de . Eram inseparáveis. tinha a aparência de uma boneca de porcelana. Pele clara, cabelos loiros e olhos azuis, todos que conheceram sua mãe atestavam que ela era versão criança. Uma cópia perfeita. Enquanto possuía cabelos castanhos e olhos de mesma cor, pele morena e costumava ser mais alta que a melhor amiga, mesmo tendo a mesma idade.
Toda sexta-feira era o dia de levar o seu brinquedo para a escola, o dia preferido de todos os alunos, inclusive e que estavam com suas bonecas preferidas. As meninas estavam na sala de aula, sentadas sob um tapete de amarelinhas coloridas. Elas escovavam os cabelos das bonecas com todo cuidado enquanto riam e fingiam ser a mãe delas. Estavam tão absortas em seu mundo da imaginação que não perceberam a chegada de mais duas meninas, coleguinhas. Todas também seguravam suas bonecas e outras escovas com uma expressão de ansiedade, complementadas por sorrisinhos infantis.
- Você quer brincar com a gente? - Perguntou uma das menininhas, chamando a atenção de e que pararam de escovar as madeixas das bonecas, olhando para as meninas.
abriu um sorriso enorme e confirmou com um gesto de cabeça.
franziu a testa enquanto encarava rosto por rosto, uma expressão que demonstrava não ter gostado da presença delas.
As meninas se acomodaram próximas a , de uma forma que impedia de interagir com elas, excluindo-a da brincadeira.
- Vem pra cá - Chamou segurando a mãozinha de para o espaço vago mais próximo dela. As duas sorriram enquanto as outras meninas encaravam a menininha loira de cara feia.
- Só queremos brincar com ! - Anunciou uma das meninas fazendo uma expressão emburrada.
Os olhos de azuis de se encheram de lágrimas, magoada com a rejeição.
- Mas ela também minha amiga. - Falou num tom doce enquanto jogava um de seus bracinhos nos ombros da melhor amiga.
- Ela é chata! Você é mais legal! - Disse a menininha ruiva enfática enquanto voltava sua atenção para sua boneca. As outras meninas riram.
abriu a boca mas não soube o que dizer.
começou a chorar, levantou, largando sua boneca no chão e se afastou delas, saindo da classe.

♥♥♥

O céu estava lindo, totalmente azul com algumas nuvens em formatos que lembram bichinhos e que animavam . Ela estava sentada em um banco de madeira no pátio da escola, sua lancheira da Branca de Neve estava aberta em seu colo. Os seus olhinhos focados no céu, sorrindo ao adivinhar qual nuvem parecem com o quê. Outros coleguinhas da turma corriam pelo pátio, brincavam de bola, riam e gritavam. A expressão da menininha revelava pura alegria enquanto mordia o sanduíche com geléia de morango.
Sentiu a presença de outra pessoa se sentando ao seu lado, fazendo com que sorriso em seu rosto fosse substituído por um bico. A expressão emburrada enquanto voltava sua atenção para o céu.
estava com uma expressão triste enquanto sentava ao lado da melhor amiga e abria sua lancheira da Bela Adormecida. Pegou o embrulho do sanduíche, abrindo-o e virou na direção da amiga, vendo-a afastar alguns centímetros no banco.
- ? - Chamou-a numa voz baixa enquanto via a amiga, ignorando-a enquanto prestava a atenção no céu azul.
Ela tentou novamente e recebeu o silêncio como resposta. Se aproximou, cobrindo novamente a distância entre elas e se afastou novamente, parando na beirada do banco.
Soltou um suspiro triste e estendeu o seu sanduíche intocado.
olhou para baixo, fitando o sanduíche na mão da melhor amiga e sorriu, pegando-o. Guardou-o em sua lancheira e continuou comendo o seu próprio. Recuou o corpo novamente, ficando próxima da amiga.
sorriu aliviada, pegando o seu suco e bebendo do canudinho.


Parte II - Adolescência

They gravitate towards you
Elas gravitavam em volta de você
That's why I started to hate you so much
Foi por isso que comecei a te odiar tanto
And I just completely ignored you
E eu te ignorei completamente


Matemática não era a praia de , em compensação dominava os números com maestria. Estavam com suas carteiras agrupadas, cabeças baixas e concentração enquanto trocavam as ideias sussurradas. A questão dois do teste estava realmente complicada, rabiscando e apagando mil vezes os cálculos, fazendo com que marcasse o papel.
- Boa tarde, diretora! - Cumprimentou o professor, chamando a atenção dos alunos e distraindo-os por alguns instantes dos cálculos.
- Boa tarde! - Repetiram todos em uníssono.
A mulher de cabelos vermelhos presos em um coque no topo da cabeça, sorriu e fez um aceno de cabeça. Estava posicionada em frente ao quadro de giz, vestindo um terninho preto.
- Gostaria de informar que temos um novo aluno. Espero que recebam o colega bem! - Disse num tom simpático enquanto olhava em direção à porta.
Os sussurros de surpresa poderiam ser ouvidos.
- Pode entrar, querido. - Chamou-a.
Um menino alto de cabelos ruivos e pele pintada de sardas entrou vestindo o uniforme da escola, uma mochila pendurada em um de seus ombros. Sua expressão era tensa.
- Esse é o professor de matemática John. Esse é o . - Apresentou-os.
O jovem professor apertou a mão do rapaz, explicou para ele e a diretora sobre o que estavam fazendo.
A diretora saiu da sala.
- Você pode escolher uma das duplas para fazer o trabalho. - Indicou o professor enquanto sentava em sua cadeira, voltando sua atenção para o celular.
engoliu em seco enquanto ouvia os sussurros de seus novos colegas enquanto criava coragem para olhar rosto por rosto, percebeu que ninguém tinha inclinação em convidá-lo para a atividade.
Caminhou resignado para o fundo da sala, parando abruptamente ao ouvir uma voz doce.
- Pode fazer com a gente! - Anunciou acenando amigavelmente atraindo a atenção de um e .
sussurrou um como assim surpresa.
sorriu forçado e seguiu até as meninas, puxando uma cadeira vazia e sentando ao lado de .
- Seja bem vindo, . Somos - Apontou simpática para si mesma e em seguida para a amiga. - e essa é .
forçou um sorriso, antes de soltar um suspiro chateado.
Deveria ter se acostumado com as atitudes de sua melhor amiga. Ela sempre tomava as atitudes, todas as vezes que abria a boca as pessoas costumavam parar para ouvi-la com muita atenção enquanto tinha que repetir duas ou três vezes até que ouvissem, quando respondiam. A melhor amiga irradiava uma aura tão difícil de descrever, mas que conseguia atrair a atenção de qualquer pessoa. Era assim desde a infância. O grupo de amigos era sempre dela, vinha no pacote porque todos sabiam que onde estivesse, a melhor amiga estaria. Talvez, tenha sido por isso que aprendeu a outra face do amor: o ódio.
Graças a essa descoberta, tudo que acreditava ser maravilhoso em tornou-se detestável.
Odiava o fato da amiga apresentá-la, sem deixá-la ao menos dizer o próprio nome. Odiava que todos fossem obrigados a conviver com ela porque pedia.
Odiava o fato de ser amiga de todo mundo. Odiava tudo isso, mas a amava.

♥♥♥


- Que gato! - Observou enquanto estava concentrada em cada movimento do vizinho do outro lado da rua. Encheu a boca de jujubas sentindo ficarem grudadas em seus dentes.
estava trançando as madeixas loiras da amiga, virou seu olhar na direção do vizinho e sorriu de lado.
- Tem idade para ser nosso pai! - Lembrou rindo em seguida.
revirou os olhos ainda devorando as jujubas. Sentia o leve movimentar seus cabelos enquanto a amiga fazia o penteado.
Era final de tarde, estavam sentadas na escada de entrada da varanda da casa de . Jogando conversa fora enquanto comiam doces e observavam a rotina dos vizinhos, principalmente, o jovem solteiro que havia se mudado para a casa do outro lado da rua.
- Meu pai não tem 25 anos. - Debochou olhando para a amiga e rindo.
- Como você sabe a idade dele? - Perguntou chocada prendendo a ponta da trança e olhando para o sorriso convencido da amiga.
Ela deu de ombros, acenando descaradamente para o rapaz que aparava a grama com um cortador enquanto usava apenas bermuda jeans. Ele acenou de volta com um sorrisinho sedutor no rosto.
- Conversamos algumas vezes. - Respondeu dando de ombros e voltando a mastigar as jujubas.
franziu a testa e suspirou.
- E você não me disse nada? - Perguntou magoada.
virou na direção da amiga e deu de ombros.
- Quase não temos nos falado. - Deu de ombros novamente, como se fosse algo sem importância, mas na verdade, era muito mais que isso.
- Eu sou sua melhor amiga! Como você vira amiga de um cara mais velho e não me diz nada? - Insistiu magoada enquanto olhava atentamente o rosto da melhor amiga.
Noah era algo secreto de . Queria que continuasse sendo, não arriscaria perder mais um para o brilho de .
- Você só tem tido tempo para o Clube de Debates ou ou sua nova amiguinha Anna. - Soltou irritada enquanto fechava o saco de jujubas e se levantava, espreguiçando-se.
- Você poderia entrar para o grupo. - Sugeriu com um sorriso doce.
revirou os olhos e bufou indignada.
- Entendi. Então, para ter o direito de passar um tempo com minha melhor amiga, preciso fazer todas as mesmas coisas que ela? - Debochou e subiu para a varanda.
observou-a ainda sentada, a nuca começando a doer por ficar muito tempo olhando para cima.
- Não, ! É só que eu gostava quando fazíamos tudo juntas e… - Parou abruptamente, sendo cortada pela outra.
- E tem que ser só o que você gosta?
- Não! Podemos fazer o que você gostar também! - Sugeriu levantando-se, massageando a nuca dolorida. Abriu um sorriso doce que costumava conquistar as pessoas.
- Vou pensar no seu caso. - Soltou debochada, seguindo até a porta de entrada da sua casa.
- Espera! Preciso te contar algo! - Falou num tom sério enquanto se aproximava da amiga, segurando-a pelo braço.
lançou um olhar gélido para seu próprio braço e em seguida, para a mão da amiga que a segurava. A jovem soltou seu braço intimidada.
- Desembucha. - Ordenou seca abrindo a porta e encostando no batente.
encarou seus próprios pés e mordeu o lábio inferior, as bochechas ficando rosada. Ficou por longos minutos em silêncio enquanto bufou impaciente.
- Eu gosto do . - Soltou cobrindo o rosto com as mãos numa mistura de vergonha e expectativa.
soltou o ar dos pulmões entediada.
- E o céu é azul. - Debochou abrindo um sorriso de canto, mas que escondia a dor em seu coração.
olhou-a surpresa com sua reação.
- Você não vai dizer nada? - Dizer o quê?
- Agir com surpresa… ter alguma reação! Chora, rir, qualquer coisa! - Falou ela num tom irritado enquanto encarava a amiga.
- Eu sempre tive certeza que você gostava dele ou você acha que ele tinha interesse de ser meu melhor amigo?
franziu a testa confusa.
- Estava tão na cara assim? – deu de ombros.
- Bom, sinto te informar mas ele está afim de outra pessoa. - Revelou a mentira descarada. Bastaria uma conversa entre os dois e tudo de ruim poderia acontecer com . A questão é que ela não queria ter que perder sua melhor amiga para um namorado. No fundo, se arrependeria de tudo isso, mas a culpa também era da amiga que parecia se importar com a amizade delas cada vez menos.
abriu a boca três vezes e não pronunciou uma palavra sequer. Talvez, estivesse surpresa ou até mesmo, magoada com a nova informação.
- Vai começar o meu programa favorito! Depois nos falamos! - Anunciou apressadamente, dando uma desculpa para abandonar a amiga que estava surpresa com a situação.
A jovem entrou em casa, grudou suas costas a madeira da porta e soltou um suspiro de tristeza. Manter a amizade estava sendo mais difícil do que parecia.

♥♥♥


e caminhavam em silêncio, lado a lado, as mãos segurando as alças de suas mochilas enquanto seguiam o percurso para suas casas. não retornava com eles naquele dia, pois costumava ser o dia do clube de Debates. Ambos estavam com a expressão séria, pensamentos bem distante de onde estavam naquele momento.
- - Ele chamou fazendo um barulho com a garganta numa tentativa de evitar a rouquidão do silêncio.
A jovem olhou-o com uma expressão meio aérea.
- Você vai ao baile? - Perguntou ele com um sorriso tímido.
Ela arregalou os olhos surpresa, o coração acelerado pelo momento.
- Hãm… não. - Respondeu dando de ombros num gesto de pouco caso, mas que dizia totalmente o oposto do que ela desejava profundamente.
- E a ? Você sabe se ela aceitou ir com alguém? - Perguntou ele com o rosto levemente ruborizado.
Fazia dois anos que eles desenvolveram uma amizade. No início achava ele uma gracinha com os cabelos ruivos encaracolados e as sardas douradas que salpicavam cada centímetro de sua pele. Dono de uma gentileza infinita e que tratava as amigas com muito carinho, mas com o tempo, a jovem percebeu que a maior parte era direcionada para a melhor amiga.
Estava mais do que palpável a aura de sentimentos que um nutria pelo outro, fazendo com que ela se sentisse excluída. poderia ser comparada com um imã que sua força atrai todos ao seu redor enquanto se sentia um zumbi fedorento que parecia manter as pessoas o mais longe possível.
Suspirou triste com o rumo de seus pensamentos.
- Acho que sim.
A expressão do jovem mudou drasticamente para decepção fazendo com que se arrependesse -só um pouquinho- sobre o que havia dito.

♥♥♥


O quarto de paredes rosa pink com pôsteres colados estava acolhedor para as jovens que ouviam alguma música pop. se admirava no espelho enorme que ficava num dos cantos do quarto. Trocava de posição, fazia caras e bocas com o vestido de baile rosa esticado em frente ao seu corpo. Segurou-o com uma das
mãos e com a outra, segurou suas madeixas castanhas no topo da cabeça pensando sobre o que combinaria para a ocasião.
Enquanto isso, estava esparramada na cama com uma revista teen nas mãos. Sua expressão era de pura concentração enquanto fazia algum teste para saber qual membro do BTS era o seu par ideal.
Naquele exato momento poderiam dizer que eram apenas melhores amigas curtindo umas horas juntas, mas, havia algo mais. A sensação era de que um muro estava sendo erguido a cada instante e talvez, somente fosse capaz de perceber.
- É novo? Nunca vi no seu armário. - Soltou num tom doce, mas o seu olhar era perspicaz.
- Ah, é sim. - Respondeu com um sorriso sem graça e completou: - Comprei com a Anna ontem.
suspirou chateada.
- Ontem quando você estava no clube de Debates? - Perguntou irônica.
- Ela queria companhia para escolher o dela, aceitei ir junto e acabei não deixando essa belezinha escapar! - Explicou com um rápido olhar de desculpas, mas depois se distraiu novamente com seu reflexo no espelho.
A melhor estava com uma expressão de tristeza.
- E o que você achou? - Perguntou num tom inocente mas os seus olhos castanhos revelavam a expectativa.
Almas feridas costumam buscar satisfação ao causar ferimentos naqueles que lhe trouxeram a dor e com não foi diferente.
Ela largou a revista no colchão, ergueu-se e inspecionou a amiga da cabeça aos pés, uma expressão crítica e o dedo indicador de uma das mãos, descansando em seu queixo.
Forçou um falso suspiro e forçou uma expressão sem graça.
- Não sei… acho que te deixou com o quadril largo demais. - Farpou no ponto que sabia que a amiga ficaria paranóica.
parecia uma fada com aquele vestido e tão linda que a vontade era de protegê-la em um potinho, mas a dor de estava sendo muito maior do que qualquer sentimento bondoso que tivesse em relação à melhor amiga. Desde
pequenas haviam prometido que escolheriam juntas os seus vestidos e a amiga quebrou o juramento.
- Mas eu achei que havia ficado perfeito! - Comentou em um muxoxo enquanto olhava para seu reflexo novamente no espelho. Uma expressão triste em seu rosto.
- Pode ter sido o espelho. Você sabe que existem boatos sobre os espelhos serem colocados de uma forma que escondam todas as imperfeições! - Levantou a possibilidade dando de ombros.
suspirou derrotada e virou-se para a amiga, uma repentina expressão de ansiedade.
- Podemos trocar o meu vestido e aproveitar para comprar o seu! O que acha? Confio muito na sua opinião. - Falou num tom animado enquanto unia as palmas da mão e lançava aquele olhar castanho doce que vivia amolecendo todos os corações da cidade.
- Não parece já que foi comprar com a Anna e além do mais, eu não vou ao baile. - Respondeu dando de ombros enquanto seguia para a porta do quarto, parando com a mão na maçaneta.
- Como assim, ? Você sempre esteve muito animada! - Perguntou elevando o tom de voz, a testa franzida pela surpresa.
- Isso tudo é palhaçada! - Deu de ombros.
- Pensei que iríamos todos juntos. - riu forçadamente, o olhar puro deboche.
- Juntos quem? Você e ? Porque bailes são para casais de dois e não, casais de três. Fora que ele estava disposto a te convidar, não parecia ter tido esse mesmo pensamento generoso. - Soltou num tom debochado.
A expressão da melhor amiga era de tristeza.
- Ele iria me convidar? - Perguntou surpresa. bufou e virou as costas para sair do quarto.

♥♥♥


sentia-se feliz aquela noite. Estava sozinha em casa se empanturrando de torradas com geléia e assistindo a primeira temporada de Good Girls. Adorava os momentos em que estava curtindo a própria companhia e dos personagens de algum livro ou série. O seu pai estava cobrindo o turno de um colega, então estaria tranquila até a manhã do dia seguinte. Não via desde a noite do vestido de baile e achava que era melhor assim. Se manter longe dela estava sendo muito bom.
Pegou outra torrada coberta de geléia levando-a até a boca. Estava estirada confortavelmente no sofá da sala escura. Repentinamente, o som da campainha pôde ser ouvida. Xingou baixinho enquanto pausava o episódio e seguia até a porta. Verificou quem era pelo olho mágico e respirou fundo, abrindo a porta.
- Amiga, amiga… - Repetia num tom animado enquanto se lançava sobre a jovem, abraçando-a fortemente. Soltou um gritinho de animação.
revirou os olhos, se soltou gentilmente e observou a jovem.
- Promete que não vai se magoar? - Perguntou numa voz temerosa.
- Sobre?
- O baile!
- Eu não vou. - Deu de ombros.
- Claro que vai! Iremos eu, você e o ! - Falou num tom determinado.
- Não.
- Sim.
Ela bufou impaciente.
- Eu não irei, . Já te expliquei isso.
Ela não precisava confirmar para a escola inteira que era uma rejeitada que vivia debaixo das asas da bondosa e adorável .
- concordou!
- E daí? Sabemos que ele quer ir com uma pessoa e ela não sou eu. - Declarou de forma óbvia, revirando os olhos e cruzando os braços.
- Eu preciso de você lá! Você é minha melhor amiga! - Falou num tom doce enquanto tinha uma expressão triste. Agarrou as mãos da amiga e encarou-a triste.
- Eu sei, mas isso não quer dizer que seja obrigada a continuar fazendo o que não quero para agradar a doce e bondosa ! - Soltou num tom venenoso.
No mesmo instante, soltou as mãos da amiga e encarou-a com um olhar irritado.
- Nunca te obriguei a nada! - Declaro determinada, empinando o nariz mas, que mudou a expressão minutos depois ao lembrar que estava fazendo isso minutos atrás.
- Toda a minha vida sempre fiz o que você queria, porque não queria enfrentar a realidade sozinha. Você é a mais bonita, mais alta, carismática, bondosa e que todo mundo quer ser amiga. Eu sou quem? - Perguntou num tom irritado. Continuou: - A condição para alguém ter sua amizade. Ou aceita a pobrezinha da ou não pode ser meu amigo! Uma atitude legal? Legal! Mas machuca! Não quero ter amigos por causa de você! Quero ter pessoas ao meu redor que me amam de verdade! - Finalizou bufando irritada, os olhos ardendo com as lágrimas que queriam aparecer por conta de tudo aquilo que vinha guardando dentro de si.
- Eu não sabia que se sentia assim. - Sussurrou de forma triste, encarando os olhos da amiga.
- E você alguma vez me perguntou como sentia?
- Eu sou uma péssima amiga! - Chorou cobrindo o rosto com as mãos. Sentia o peso de tudo que acreditava ser o certo sob seus ombros. Amava de todo coração e até aquela noite, acreditava estar ajudando-a a seguir seu próprio caminho.
- Sim, você é e poderia fazer o grande favor de me esquecer! - Soltou irritada.
Os sentimentos de raiva foram substituídos por tristeza e arrependimento ao ver secar as lágrimas e encará-la com o olhar mais frio do mundo. Se funcionasse, poderia ter congelado-a dos pés à cabeça.
- Será um grande alívio, afinal, estou cansada de viver pensando em você. Respondeu num tom sem emoção. Olhou-a uma última vez dos pés a cabeça e saiu, batendo a porta atrás de si.
sentiu-se prestes a desmoronar. A escuridão parecia lhe envolver enquanto a dor da segunda maior perda da sua vida lhe massacrava com todas as forças. Esperava ter seguido pelo rumo certo, mas sabia que não.

♥♥♥


- O que aconteceu entre vocês? - Perguntou num tom exigente enquanto estava de terno em pé a porta de entrada da casa de .
- Está na casa errada, princípe. - Falou ignorando a perguntando enquanto começava a fechar a porta na cara dele.
Ele pôs o pé entre a porta e o batente, impedindo que fosse fechada e recebendo um olhar irritado de .
sempre se questionou sobre a forma que a amizade de e funcionava. Personalidades e atitudes tão opostas. Enquanto parecia não ligar para o que diziam ou faziam contra ela, era totalmente o contrário, se ressentia por tudo e usava das mesmas artimanhas para causar o mesmo nas pessoas. Sempre gostou dos momentos em trio, mas foi difícil não resistir ao jeito doce que tinha em ver o mundo e de todo carinho, cuidado que tinha por sua melhor amiga.
E dias atrás, quando apareceu em sua porta com o rosto vermelho pelas lágrimas ele soube que algo estava errado. Ela não quis dizer o que tinha acontecido, apenas aceitou tomar um sorvete de morango com ele e conversar sobre amenidades. Mesmo que ela tentasse agir normalmente, abrindo seu estonteante sorriso para disfarçar a tristeza, ele conseguia ver que a felicidade não se refletia em seus olhos.
Tentou evitar tirar satisfações com , mas o amor que nutria por sua flor era maior do que o pedido de não se intrometer.
- Ela não merece sofrer por você! - Soltou num tom de indignação.
- Ah, faça-me o favor! Você sempre quis tê-la, agora que conseguiu vem me encher a paciência? - Falou num tom debochado enquanto cruzava os braços.
- Independente do que sinto por ela, prefiro vê-la feliz mesmo que sem mim. Ela ama você mais do que qualquer coisa no mundo. - Falou ele num tom mais calmo, as mãos escondidas nos bolsos da calça social.
engoliu em seco.
- Acho melhor você ir ou vai se atrasar.
Ele confirmou com um gesto de cabeça, lançando um olhar de pena e virou-se, seguido em direção a casa de .
E pela primeira vez, depois de dias, chorou.


Parte III - Adulto

I don't know why I felt the need to keep it up for oh so long
Não sei por que tive que continuar com isso por tanto tempo
It's all my fault I'm sorry you did absolutely nothing wrong
É tudo culpa minha, desculpe, você não fez absolutamente nada de errado
I don't know why I felt the need to drag it out for all these years
Não sei por que tive que continuar com isso por todos esses anos


Perdas.
Quantas perdas ainda teria que suportar em sua vida?
Nos primeiros segundos de vida, teve a experiência com a perda e depois na adolescência, perdeu a sua melhor amiga. Agora, perdeu o seu pai. O homem lhe criou com todo amor, carinho e atenção. Esteve ao seu lado durante toda sua vida e agora, estava sozinha. Não tinha contato com a família materna de sua mãe que rejeitou-a pela culpa da morte dela. A família de seu pai morava em outro país, longe demais para receberem visitas e falta de dinheiro para bancar os custos da viagem. Ele sempre esteve ao seu lado, em todos os momentos e era uma das pessoas que a mulher mais amou em sua vida. Foi por ele que optou não fazer faculdade. Sem ele, não tinha mais nada, a sensação era que sua vida tinha se acabado naquele ponto.
Agarrou com mais força as suas pernas, o corpo encolhido no corredor do hospital. A cabeça escondida enquanto derramava as lágrimas, muitos soluços que quase lhe roubavam os pulmões. Queria ter forças para continuar, mas não teria. Não sabia de onde tirar. E a dor de ter chegado tarde demais. Cobriu o rosto com as mãos, encostando as costas na parede atrás de si. A dor da culpa massacrando cada centímetro de seu corpo.
A imagem de seu pai caído na cozinha, o bule de café quebrado no chão. Ele estava desacordado durante todo o trajeto até o hospital. Os paramédicos fazendo a massagem cardíaca, o corpo do pai se movimentando com a força do choque elétrico do aparelho. A sirene da ambulância soando sem parar enquanto seguiam em alta velocidade até o hospital mais próximo. E depois disso, recebeu a pior notícia da sua vida: a morte do seu pai.
- ? - Chamou-a uma voz familiar que enrijeceu seu corpo por completo naquele instante.
Ela levantou a cabeça, secando as lágrimas e observou depois de anos a ex-melhor amiga. Depois do fim da amizade, parecia que tudo estava colaborando para mantê-las afastadas. e começaram a namorar, ambos passaram para faculdades enquanto mentiu sobre sua aprovação por não querer ficar longe do seu pai. Eles foram embora da cidade enquanto ela permaneceu. Arranjou um emprego de recepcionista em um consultório dentário e nas horas vagas, estudava alemão ou lia livros. Estava satisfeita com a vida tranquila. Tinha a presença do seu pai todos os dias, passavam um tempo juntos. Ela gostava de sua vida.
- ? - Falou surpresa.
Observou a mulher com atenção. Continuava mais alta que , os cabelos castanhos estavam curtos na altura das bochechas dando um ar elegante. Vestia jeans e camiseta, tinha uma bolsa pendurada em seu ombro e uma câmera fotográfica profissional pendurada em seu pescoço.
- Está tudo bem? Estava cobrindo uma matéria aqui no hospital e te vi. - Explicou com uma expressão preocupada.
começou a tentar secar as lágrimas enquanto o choro queria irromper novamente por sua garganta.
- Ele se foi. - Disse entre soluços enquanto mais lágrimas escorriam por seu rosto.
Não precisou ser dada mais explicações pois, a mulher compreendeu exatamente o que foi dito. Lágrimas encheram os seus olhos castanhos e ela envolveu
-inesperadamente- em seus braços, fortemente. A jovem balbuciava palavras desconexas mas, que para si mesma faziam todo sentido. Tentava pôr para a fora a dor alucinante que lhe machucava profundamente.
- Só tínhamos um ao outro. - Sussurrou enquanto sentia mais algumas lágrimas escorrerem por seu rosto que descansava em um dos ombros de .
- Você não está sozinha. Tem a mim, meus pais, . - Disse num tom reconfortante, livre de qualquer mágoa.
negou com um gesto de cabeça, sem sair dos braços da mulher.
- Não, você não está! - Repete num tom firme.
se afasta numa distância que permaneciam próximas e olha nos olhos de , lágrimas banhando seu rosto.
- Você é minha melhor amiga, minha irmã de coração. - Confessou num sussurro enquanto secava algumas lágrimas.
- E tudo o que eu fiz? - Perguntou.
Recebendo um leve sorriso como resposta.
- Éramos apenas duas meninas bobas - Falou dando de ombros.
negou com um gesto de cabeça.
- A culpa é somente minha. Você não estava errada. franziu a testa surpresa, não esperava as palavras.
- Ambas temos culpa nisso. - negou novamente - Eu peguei pesado com você. Fui egoísta e te machuquei para doer como doía em mim. Você sempre foi a mais bonita e ainda mais alta que eu! - Ela deu uma risada triste e continuou: - As pessoas adoravam esse seu jeito doce. Pareciam abelhas ao seu redor, querendo um pouco do seu mel e eu não queria que me tirassem o doce. O seu amor sempre foi importante para mim. - Confessou, admitindo o que custou a perceber durante toda sua vida.
secou algumas lágrimas enquanto ajeitava a bolsa no ombro.
- Eu juro que tentei entender tudo que aconteceu, mas não aguentava mais as nossas brigas. Parecia que tudo que eu fazia te machucava! - Confessou.
pegou uma das mãos da amiga, apertou-a.
- Será que você poderia do fundo do seu coração, tentar esquecer tudo? Podemos voltar ao início? - Perguntou enquanto secava algumas lágrimas.
respirou fundo, olhou para o teto enquanto secava o rosto com a mão livre e encarou a amiga novamente. Segurou a mão dela com as duas, sentindo que estava gelada.
- Sim, podemos. Você não está sozinha!.


And if it's not too late
E se não for muito tarde
Could you please find it deep within your heart
Será que você poderia do fundo do seu coração
To try and go back go back to the start
Tentar e voltar, voltar ao início
Go back to the start
Voltar ao início


Continua...



Nota da autora: Sem nota.



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Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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