Última atualização: Fanfic Finalizada

Capítulo Único

8 DE MAIO DE 2010, 23:39

- Oi, linda. – disse a voz que lhe tirou dos seus pensamentos e fez com que afastasse os olhos do fundo do copo, de onde tentava puxar uma pedra de gelo para cima usando apenas o canudinho. levantou os olhos para o homem que agora estava ao seu lado apoiado no balcão.
Ele tinha ombros largos, olhos claros e um rosto que parecia desenhado a mão. Aliás, nem isso, porque passara anos fazendo aulas de desenho e não conseguiria desenhar aquele maxilar nem que sua vida dependesse disso.
- Oi. – ela disse apenas, e do mais completo nada, o homem propôs numa voz mansa:
- O que você diz de eu e você embora desse lugar? – e abriu um sorriso maroto como se aquela pergunta não fosse descaradamente repentina.
franziu o cenho.
- Eu digo “não, obrigada”.
O rapaz pareceu inabalável:
- Você tem certeza?
- Eu tenho certeza. – confirmou, voltando sua atenção para o copo à sua frente. Não imaginava que fosse possível voltar a achar um copo tão interessante depois de já ter terminado de beber o álcool que viera nele, mas aquele homem estava provando o contrário.
- Ah, vamos lá. – ele insistiu, inclinando mais o corpo sobre o balcão, buscando o olhar dela mais uma vez. E provocou: – Você sabe que quer...
- Como é que é? – ela quase gritou.
Finalmente ele conseguira chamar sua atenção. Seus olhos, duros de fúrias, agora encaravam o desconhecido, em choque.
- Qual o problema de passar uma noite com um desconhecido bonito que vai – e isso eu garanto – te dar a melhor noite da sua vida?
- Não tem absolutamente nada de errado com isso. – respondeu, invocada, levantando-se do banco. O resultado não foi exatamente o esperado, já que o banco era bem alto, quase da altura do balcão, e sua pouca estatura não era lá muito intimidadora.
- Então…
- Mas não é esse o cenário. – ela interrompeu. – A situação aqui é: sim, você é bonito. Mas também não é tão atraente quanto pensa, sinto muito te dar essa notícia. Então, se você quer um conselho pra próxima vez que for tentar levar uma garota pra cama: pelo menos seja legal. Não tô dizendo pra trazer um buquê de flores nem nada, mas isso aqui – disse, apontando para o espaço entre os dois – não vai te levar a lugar nenhum.
O boneco Ken humano ouviu o discurso todo em silêncio, encarando-a com uma cara emburrada de criança mimada. Mas então ele sorriu presunçoso, aproximou-se dela e disse tranquilamente:
- Bom, é aí que você se engana.
E o pior é que ele tinha razão. Ela o olhou mais uma vez, de cima a baixo, com seus sapatos caros, sua camisa apertada o suficiente para delinear seus músculos e seus olhos azul-piscina, e soube que, infelizmente, centenas de garotas só naquele quarteirão teriam dado tudo para ficar com um cara como ele – apesar da babaquice. Ora, ela mesma já fora essa garota antes.
Então assentiu lentamente com a cabeça e concordou:
- Isso provavelmente é verdade. Também é triste. – acrescentou. – Mas boa sorte com isso.
- Obrigado. – ele devolveu, arrogante, antes de virar as costas e sumir no meio da multidão.
E ela voltou a se ver sozinha com aquele copo vazio. Levantou a mão para o garçom, gesticulando que queria mais um.
Seu celular estava sobre o balcão, a tela virada para baixo. Ela o virou para cima e viu que tinha recebido mais três ligações. Uma de Andrea e duas de Lucien. Já sabia o que eles queriam e não tinha plano nenhum de retornar. A única coisa que queria no momento (e pra falar a verdade, no fundo nem queria tanto assim) era ficar sozinha e não ter que explicar para ninguém como foi seu dia e por que não tinha dado as caras.
Mas ficar sozinha era algo que estava se provando difícil aquela noite, porque assim que o bartender substituiu seu copo vazio por um cheio, alguém se sentou no banco ao lado dela.
podia sentir o olhar do homem sobre si. Ele estava sentado de lado no banco, virado na direção dela, e a mulher acabou por ceder e girar o rosto para olhá-lo.
Ele era até bonito, também, mas não daquele jeito comprado. De um jeito carismático e espontâneo que até faz a pessoa parecer familiar, e seu rosto exibia um sorriso charmoso e interessado de uma maneira muito mais genuína que o embuste que a abordara antes.
- Eu combinei comigo mesmo que se você fizesse isso, eu ia tomar coragem pra vir falar com você. – ele confessou.
- Isso o quê?
- Pedir mais um drink.
olhou para o copo à sua frente que acabara de lhe ser entregue.
- Bom, é o que as pessoas geralmente fazem, num bar, quando a bebida delas acaba... – zombou, cedendo um sorriso depois.
O homem a olhava de um jeito divertido, intrigado.
- Eu sei. Então você já tá fazendo isso há muito tempo?
- Pedindo mais drinks? – ela confirmou. – Há um bom tempo, sim. – e sorriu, antes de dar um gole grande na nova bebida frutada.
- Então… qual é o seu motivo? – ele perguntou, apontando para o copo em suas mãos.
- Ah. – riu de leve. – Você não quer saber meu motivo.
- Vamos lá, quero sim. O que te trouxe até aqui?
- Você quer dizer aqui enchendo a cara ou aqui nessa cidadezinha de merda onde trabalho duro não importa e você só consegue o que quer se estiver disposta a tirar a roupa por isso? – ela perguntou num fluxo rápido e sarcástico, tomando outro gole.
O sorriso charmoso no rosto dele cresceu, e ele riu fazendo que sim com a cabeça, como se compreendesse.
- Bom, eu quis dizer só “aqui enchendo a cara”. Mas tudo bem. Então pelo visto você não é de LA.
- Não, não sou. – ela respondeu, suspirando fundo. Não detestava a cidade tanto assim. Não detestava a cidade nem um pouco, para falar a verdade. Só estava tendo um dia muito ruim, e em horas como essa a gente busca qualquer um para culpar.
- De onde você é?
- Flórida.
Imediatamente, o rosto dele se iluminou quando faz quando você subitamente entende alguma coisa.
- Eu sei quem você é. – ele disse.
franziu o cenho. Aquilo era impossível.
- Não sabe. Nunca estive em nada grande.
Ele fez cara de confuso.
- O quê? Não. – e explicou: - Você é irmã do .
A mulher virou o rosto para ele num movimento rápido.
- Sou. . – o entendimento se espalhou pelo rosto dela também e ela constatou: – Você toca com ele. – fez que sim com a cabeça.
- .
- Eu lembro de você. Tá bem melhor agora do que com aquele cabelinho lambido de alguns anos atrás.
Ele riu.
- Queria poder te zoar de volta, mas você sempre esteve linda nas as poucas fotos que vi de você.
Olharam-se por um segundo e ela desviou o rosto sorrindo um pouco constrangida.
- Como ele tá? – indagou.
- Seu irmão? Você não tem falado com ele?
- Não... Não muito. – ela respondeu, balançando a cabeça para os lados. – Meu pai ligou dizendo que ele vinha, – explicou – e depois o mandou uma mensagem dizendo que tinha chegado, pra gente fazer alguma coisa algum dia... Mas o meu apartamento é pequeno demais pra receber visita e depois ele não me procurou mais. – os dois ficaram em silêncio durante alguns segundos, até que ela admitiu: – Nós só somos irmãos, não somos amigos. Nunca fomos. A gente não tem muito em comum além de pai e mãe. – disse, rindo de leve.
- É, ele já disse isso antes... – comentou sem querer entrar em detalhes. E buscando um motivo para desviar dos comentários que costumava fazer sobre a irmã, insistiu, apontando com a cabeça para o copo na mão dela: – Você não quer mesmo me contar qual é o seu motivo?
- Não. – respondeu imediatamente, sem olhar para ele, e deu mais um gole. – Mas eu já tô ficando bêbada, então provavelmente vou acabar te contando, sim.
Ele riu de novo. Ela não parecia estar tão ruim assim.
- O quão bêbada você tá?
se virou de lado no banco alto, ficando de frente para ele, e inclinou um pouco o rosto para frente para ficar mais próxima dele.
- Minha maquiagem ainda tá no lugar? – sussurrou, permitindo que ele sentisse o cheio de fruta e vodca no seu hálito quente.
- Perfeitamente. – assentiu.
- Então nem tanto. Só um pouquinho. – sussurrou, erguendo a mão e mostrando seu dedo polegar e o indicador a alguns centímetros um do outro.
E num golpe de coragem, sem tirar os olhos dela, provavelmente encorajado pelas muitas cervejas que já tinha tomado, pela guarda baixa dela e pela luz avermelhada que a deixava tão linda, perguntou:
- Você está tão bêbada que seria errado da minha parte perguntar se você quer ir embora daqui comigo?
Nem ele próprio acreditou muito que tinha dito aquelas palavras. Mas acreditou e o olhou dos pés à cabeça durante alguns segundos que fizeram o estômago dele esfriar de nervoso. Até que ela disse baixo, como se fosse mais para si mesma:
- Bom... Você também é um cara bonito que só quer me comer, mas pelo menos é educado. Por que não? – ela falou meio embolado e tão baixo que ele não teve certeza se tinha ouvido direito, mas antes que tivesse tempo de tentar entender ela virou o resto do copo na boca, deixou-o sobre o balcão e pegou a bolsa que estava no banco ao lado, e isso foi resposta suficiente para ele.
Saíram de lá num clima um pouco esquisito, de álcool, sorrisos contidos e gosto de “eu não acredito que tô fazendo isso”, e a guiou até um Chevrolet veja preto bem velho. Quando avistou o carro, ela riu:
- Esse é o carro do meu irmão? Ele não vendeu isso até hoje? – perguntou, acelerando o passo em direção a ele. fez que sim com a cabeça, rindo. – Ele costumava me buscar na escola com esse carro, e olha que naquela época ele já era fodido!
- O ama esse negócio. Não pode saber nunca que eu tô dirigindo depois de beber.
Os olhos dela brilharam no maior sorriso que dera até então naquela noite e ela fez que sim com a cabeça enquanto levava o indicador à boca num sinal de silêncio. Sorriram, ambos, para o primeiro momento de cumplicidade que jamais compartilharam.
- Que nostalgia, faz anos que não entro nele. – Gabriellla disse depois de se sentar no banco do passageiro e fechar a porta.
virou o rosto para ela, o cenho levemente franzido.
- Há quanto tempo vocês não se veem?
suspirou, forçando a memória.
- Como eu não fui pra casa no Natal passado... Já tem tipo um ano e meio.
- Muito tempo. – ele comentou, dando partida no carro. Mais uma vez, sentiu que seria melhor se guardassem aquele assunto para outro momento, então enquanto saía do estacionamento, respirou fundo e perguntou: – Sua casa ou a minha?
A mulher virou o rosto para ele e estalou a língua.
- Bom, já que você provavelmente vai querer ir embora antes de eu acordar e é você que tá dirigindo, vou dizer a minha. – ponderou. – Quer dizer, se você não se importar de ficar um apartamento minúsculo de dois cômodos e praticamente nenhuma circulação de ar. – ela disse e encolheu os ombros, como se aquilo a envergonhasse.
- Não me importo nem um pouquinho. – ele sorriu doce.
- Ótimo. Então vira a esquerda aqui e segue até o final da avenida.
Ele obedeceu e eles ficaram um tempo sem dizer nada enquanto ela não dava a próxima direção.
Por algum motivo estranho – já que não o conhecia tão bem assim, só lembrava de vê-lo de relance algumas vezes ou ouvir seu irmão falar sobre ele – a mulher se sentiu um pouco mais à vontade perto dele, agora que sentia que o conhecia, comparado a todos os desconhecidos que tinha visto aquela noite. Por isso, ela se inclinou na direção dele e dividiu:
- Você quer saber meu motivo? – perguntou baixo.
- Quero. – o outro devolveu imediatamente, sem tirar os olhos da rua à sua frente.
- Hoje é meu aniversário.
Ele virou o rosto para encará-la e tentar ler sua expressão.
- Você detesta seu aniversário? – chutou. Ela definitivamente não parecia estar comemorando nada.
- Eu amo meu aniversário. – respondeu. a encarou com olhos apertados, tentando entendê-la. – É minha data preferida, comemorar meu aniversário é a coisa que eu mais gosto no mundo!
Ele respirou fundo, ainda com o rosto contraído, antes de dizer:
- Desculpa, mas isso não faz sentido nenhum pra mim.
- Eu sou atriz. – ela disse, e se lembrou que em algum lugar do seu cérebro, ele já sabia daquilo. Ela acrescentou, rolando os olhos para trás: – Eu sei, eu sei... Todas são.
- Eu não pensei isso. – ele falou no mesmo instante, e pareceu muito sincero.
olhou nos olhos dele e seu interior se aqueceu um pouco. Ela apontou a rua na qual ele devia virar e explicou:
- Eu tinha uma audição hoje. Pra um papel que queria muito. E foi um desastre. Eu fui... Realmente horrível. – balançou a cabeça para os lados num desabafo triste. – Eu tinha marcado uma comemoração do meu aniversário num bar, mas fiquei muito chateada e simplesmente não fui. Deixei todo mundo esperando. Acho que... Eles ficaram bravos, não entenderam nada.
olhou para ela de relance e achou que ela parecia chateada por ter passado seu aniversário sozinha, mas também um pouco envergonhada de ter feito aquilo.
- Ei, você não sabe. – ele disse. – Depois você explica pros seus amigos. Eles vão entender. E também, você nem sabe se foi mal mesmo no teste.
- Acho que não tenho chance. Não sou “magra o suficiente”.
Ele a olhou inteira, incrédulo.
- Te disseram que você era gorda? – perguntou lentamente, parecendo horrorizado.
- Oh, não, não, não. – ela disse ironicamente. – Não “gorda”. Apenas “não magra o suficiente”.
Ele olhou o corpo da mulher mais uma vez e balançou a cabeça para os lados, dessa vez enchendo o peito numa inspiração forte.
- Não entendo a necessidade das pessoas de tentar fazer as outras se sentirem mal por ser quem elas são... – suspirou. – Mas de qualquer forma, posso ser honesto? – indagou, olhando novamente para ela, que fez que sim com a cabeça. – E eu não tô dizendo isso só pra te levar pra cama, porque, bom, acho que já estou literalmente no caminho certo. – ele sorriu um sorriso que transbordava um charme malicioso e falou num tom quente e devagar: – Mas você realmente devia ser satisfeita com o seu corpo.
sorriu, sentindo-se desejada daquele jeito gostoso que faz o corpo esquentar. E enquanto apontava o prédio em que morava, já tirava o cinto de segurança, virando-se de lado no banco do carro. Assim que freou, ela lançou o corpo contra o dele, puxando-o para um beijo que fez seu corpo se arrepiar e que se repetiria por muitas e muitas horas.


8 DE MAIO DE 2011, 22:12

“Oi.” Ele disse apenas, e ficou um tempo em silêncio. “Sou eu...” Durante mais alguns segundos, tudo que se ouviu foi sua respiração. . Você ainda... Reconheceria minha voz se eu não dissesse...? Faz tanto tempo que você não a ouve...”
Deixou a voz morrer enquanto dava alguns passos para trás na grama úmida. Parou quando sentiu as costas baterem contra uma árvore e se encostou nela, deixando o corpo escorregar até o chão.
“Eu sempre achei essa ideia de casa toda de vidro estúpida. Dá pra ver tudo! Pra que eu vou querer viver numa casa assim? Eu não entendo... Mas você sempre gostou, né?
Tô vendo a sua sala de estar do tamanho do meu apartamento, dá pra ouvir a música abafada e ver a luz amarelada. Tá cheio de pessoas, até reconheço algumas delas. Eu tô vendo você, tô vendo todos os seus amigos bebendo e se divertindo. Tô vendo o Fred sentado no seu sofá e eu sei que você transou com ele, cara! Porra, ... Eu sei que você pode dormir com quem você quiser agora, mas, sei lá, para de dormir com os meus amigos antigos, cara...
E com os novos também! O chamou um baixista pra tocar com a gente, e o cara não precisou nem de duas horas pra começar a falar de você! Tipo, porra! Parece que você escolhe a dedo as pessoas com quem trepa pra que eu fique sabendo! Você não faz isso, eu sei, eu sei! Mas às vezes... Parece. E eu queria que você... Ah, sei lá! Você podia, por favor... Parar de dormir com os meus amigos?”
Pediu sincero.
respirou fundo mais uma vez e tirou um cigarro do bolso. Levou o isqueiro à boca e viu a fumaça nascer na frente de seu rosto ao mesmo tempo em que alguém acendia as luzes no andar de cima, iluminando o quarto de dormir. Era ela, sozinha, parada em frente ao espelho. Ajeitou o vestido, mexeu nos cabelos, posou durante alguns segundos com a mão na cintura.
“Você tá linda. Deixa de paranoia. Sai desse quarto, desce e vai se divertir com os seus amigos bizarros. Aquele do apelido esquisito, Donny? Donut? Tá lá embaixo desenhando de canetinha na sua parede de vidro. Vai lá conferir se não é caneta permanente.”
E para sua surpresa, como se o ouvisse, ela deu as costas para o espelho, apagou as luzes e saiu do quarto. Ele sorriu.
“Me atende. Eu preciso falar com você. Eu... Planejei várias coisas terríveis pra te dizer, mas no fim das contas só quero dizer que sinto sua falta. O que não faz muito sentido, eu sei. A gente nunca... foi muito bom juntos, né, ? Você lembra de quando a gente se conheceu? A gente estava no carro, indo pra sua casa, e tudo que eu conseguia pensar era em como eu convenci uma mulher tão linda a ir embora comigo. Depois que a gente transou, eu levantei e já fui vestindo minha roupa. Não era porque eu não queria ficar, era só porque você já tinha dito, indiretamente, né, que não queria que eu tivesse lá quando você acordasse. Pensei que você tivesse me achado entediante. Mas aí você me ligou alguns dias depois. Em plena terça-feira. Eu lembro porque era o dia que eu pegava o turno da noite no restaurante. Você me ligou e me perguntou se podia fazer uma festa de aniversário pra mim, já que tinha perdido a chance de comemorar a sua. Eu pensei que você fosse doida, não entendi nada, mas aceitei porque queria te ver de novo. O sempre dizia que a irmã dele era fútil e egoísta e eu só entendi o que ele queria dizer muitos meses depois – mas eu me lembro de naquele dia pensar que ele só dizia aquelas coisas por implicância de irmão, porque eu te achei inesperadamente original. De um jeito tão... refrescante.
Você ainda não morava nessa mansão metida a besta de parede de vidro na parte cara da cidade. Você morava num apartamento de dois cômodos com vista praquele parque esquisito onde a gente via aqueles adolescentes indo fumar escondido, lembra? Eu gostava de lá. Tinha... Personalidade. Eu gostava de ver os seus rabiscos e pinturas sem moldura pendurados na parede, e não me importava que o fogão, a escrivaninha e a sua cama ficassem no mesmo cômodo.
Você me deu a mão quando eu cheguei e eu nem acreditei quando vi que você tinha enchido aquele apartamento de pessoas que eu não conhecia pra comemorar o meu aniversário. Eu devia conhecer umas quatro pessoas ali dentro, mas você saiu me apresentando um por um. Todos os seus amigos loucos que eu nunca entendi. Os atores, os hippies atrasados, os cientologistas, os performers. Todo mundo cantou parabéns e você cortou aquele bolo todo chique de confeitaria, que você comprou com sei lá que dinheiro naquela época, e eu tentei forçar um sorriso no meio daquela loucura toda. E eu bebi, bebi e bebi, e você sabe por quê? Porque me senti tão deslocado e ultrapassado! Eu... Eu nem gosto de comemorar meu aniversário. A verdade é que eu só tava ali porque queria ficar perto de você, .
Você me mostrou tudo que tinha pra mostrar naquele apartamento. Eram só 30m², mas eu senti que você estava me mostrando sua vida inteira. Mas a sua vida é muito mais que aquilo. Eu sei que isso é óbvio, a vida de todo mundo é muito mais que dois cômodos, eu sei. Mas é que a sua... A sua muda todo dia. Mudam os seus planos, mudam seus gostos, mudam as pessoas que você gosta, desgosta e as que quer impressionar. Quando eu percebi isso, comecei a achar que seu irmão tinha razão. Hoje eu não sei se ele tem razão, só acho é que nunca vou te entender, ou conseguir te acompanhar. Passei quase um ano tentando ser a pessoa que eu pensava que você queria que eu fosse, você... Você enxergava isso?
Eu acordei no dia seguinte e olhei você apagada do meu lado, ainda meio vestida. Você tinha tirado o sutiã por baixo do vestido antes de deitar, mas não os sapatos. Quem faz isso, ? Fiquei deitado te olhando, rindo de todas as coisas sobre você que eu não conseguia entender e até então elas ainda não eram dolorosas, eram lindas. Seu cabelo ainda tava comprido, e ele tava espalhado pela cama toda. Você tinha cara de arte. Linda, mas também muito confusa. Você acendeu uma fogueira dentro de mim e me fez sentir um milhão de coisas. Você sabe quantas músicas eu já escrevi sobre você, ? Dezessete. E essas são só aquelas que eu consegui traduzir em palavras. Tem coisa... Tem coisa que você mexeu dentro de mim que eu nem sei dizer.
E eu nem sei se me apaixonei por você ou se foi pela ideia que eu tinha de você. Porque você era essa mulher linda, talentosa, comunicativa, cheia de planos glamorosos. Igual essa festa aí. Uma festa bem com cara de Los Angeles, do jeito que você sempre quis. Mas essa festa não é minha. Simplesmente não é minha cara. Minha vida não é um filme. Eu não dirijo um carro caríssimo, não sigo roteiro, não tenho milhões de fãs. A sua talvez seja. Talvez seja por isso que Hollywood é tão sua cara. Mas a minha... Não é. Daqui dá pra ver o letreiro, lá no fundo, e a cidade toda iluminada, e isso tudo sinceramente... Não significa nada pra mim.”

respirou fundo mais uma vez, apoiando uma mão no chão pra se levantar.
“Então acho que o que eu tô tentando dizer... É adeus. Tchau, srta. Hollywood.”
Ele sorriu melancólico, ainda observando a casa. Bateu a mão suja de terra na calça antes de se abaixar pra pegar as pontas de cigarro que largara ali. Enfiou-as no bolso porque sabia que elas não se encaixavam naquele cenário de filme que era a vida dela. Naquele instante, ouviu um carro se aproximar atrás de si, e buzinou de trás do volante. deu alguns passos em direção ao carro, ainda virado para a casa.
“Eu costumava pensar que eu queria poder voltar no tempo e congelá-lo quando sua vida ainda tinha lugar pra nós dois. Mas... Acho que a verdade é que nunca teve. Não foi um contrato de vários dígitos que mudou isso. E eu não vou desperdiçar meu tempo, minha cabeça ou meu peito tentando entender por que... Por que as coisas aconteceram do jeito que aconteceram. Acho que você vai sentir minha falta um dia. E talvez eu sinta a sua também. Mas um dia, , quando menos espera... A gente supera.”
buzinou mais uma vez e colocou a cabeça pra fora do carro velho.
- Anda logo! Para de espionar minha irmã se você não vai tocar a campainha, seu psicopata!
correu em direção ao carro, rindo. Abriu a porta do carro do passageiro e olhou para dentro, vendo o banco de trás abarrotado de malas, mochilas a cases de instrumentos.
- Você trouxe a minha guitarra?
franziu o cenho, indignado com a pergunta.
- É claro que eu trouxe, animal.
- E a minha...
- Eu trouxe tudo, . – ele interrompeu.
concordou com a cabeça e se afastou novamente, apoiando os braços sobre o carro. Olhou para a casa de vidro uma última vez antes de terminar a ligação.
“Divirta-se nessa cidade maluca. Tenho certeza que você tá feliz. E... Ah, e é isso que importa. Mas pra mim já deu. Eu não tenho muito dinheiro, não gosto dessa cidade e ninguém aqui sabe meu nome... Mas eu só queria dizer... Vá se foder, LA.”




Fim



Nota da autora: Oi, gente! Espero que gostem! :) Escrevi super correndo, mas amo essa música de paixão e essa música, pra mim, já tinha a hitória todinha dentro dela! Se tiverem interesse, tem outra fic minha nesse ficstape: Happy. Muito obrigada por terem lido!







Outras Fanfics:
Two is Better Than One - McFly/Finalizadas
Fuel to the Fire - McFly/Em Andamento
180 Dias de Inverno - McFly/Finalizadas (short)
Reminisce - McFly/Finalizadas (short)
What Lies Beneath - McFly/Finalizadas
The Red String of Fate - Especial de Mitologia (short)
Um Colar de Lágrimas - Especial de Setembro (short)


Nota da beta: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


comments powered by Disqus