Capítulo Único
“Marlene Teves iniciou um vídeo”.
“Marlene Teves está ao vivo”.
Essas foram as notificações que pipocaram no canto superior da tela do tablet de , enquanto essa enviava os últimos e-mails do dia. O cansaço e frustração que começavam a acumular foram canalizados para fora em forma de um suspiro.
— Deveria descansar. — , que estava no banco ao lado, comentou. — O horário do expediente já acabou. Sabe, não vai fazer diferença se os caras receberem os e-mails agora ou duas da manhã. Eles vão ver só amanhã.
— Eu sei, mas queria começar o dia tranquilo amanhã. Sem pendências. Dormir tranquila.
viu o namorado sorrir doce e em seguida fazer um carinho gostoso em sua bochecha. Os olhos automaticamente se fecharam para sentir o toque. Então a mão quente de foi um pouco para o lado, brincando com algumas mechas de cabelo e posicionando alguns fios rebeldes dela para trás da orelha.
— Nós dois sabemos que, mesmo sem pendências, você quase nunca dorme tranquila — brincou e a mulher sabia que ele tinha razão. — Vou buscar comida para nós.
— Não íamos esperar pela comida do avião? — Franziu o cenho, recebendo uma negativa. — Pois então compre o que estiver mais barato.
— Nah! — balançou um braço no ar em gesto para que ela não se preocupasse. — O mais barato já vai sair mais caro. Se vamos gastar, vai ser para valer. — Sorriu grande, arrancando um rolar de olhos de .
— Idiota. Sabe quanto dinheiro dá no final se convertermos para o real?
— Quem converte não se diverte! — o homem cantarolou e não conseguiu esconder o sorriso. — Não era esse o seu lema quando chegamos ao Canadá, mozi?
— Idiota. — Ela cruzou os braços com cuidado para não esbarrar no tablet ainda sobre as pernas cruzadas.
— A vida é uma só — afinava a voz para fazer uma imitação barata dela. — Dinheiro é papel! — Fingiu dar uma jogada de cabelo. — E enfim o “quem converte não se diverte”. Se tem alguma coisa que aprendi bem com você, além de fazer um oral de sucesso, foram essas lições, .
A mulher o encarou mortalmente, crispando os lábios. Aquelas não eram as melhores informações para serem ditas em alto e bom som no meio de um aeroporto.
— Some daqui. Agora!
prontamente a atendeu. Sozinha, deslizou os dedos pela notificação recebida anteriormente. Incerta, ponderou se ela queria mesmo ver tudo aquilo. Em breve, , ela e os amigos estariam juntos outra vez, a saudade já não deveria ser mais um fator a sugá-la todos os dias. Desde que passaram no processo seletivo para as vagas de Comunicação em uma rede de televisão aberta do Canadá, os contatos com os amigos no Brasil ficaram ainda mais estremecidos.
“Você está assistindo a Marlene Teves”.
“_ entrou no chat”.
Do grupo de amigos, todos eram bem comunicativos e espontâneos. Enquanto a maioria fora para o lado da comunicação, como e ela, Marlene queria Direito. No entanto, foi no meio do curso que ela acabou fazendo parcerias com empresas locais do bairro para conseguir cupons de descontos aos amigos. As promoções acabaram trazendo um dinheiro a mais e fazendo-a criar gosto pela exposição, pelo menos mais a ficar sentada, lendo o Vade Mecum. Hoje, acumulando um pouco mais de dez mil seguidores, Marlene conseguia engajamentos tão expressivos quanto quem apresentava centenas de mil. Se queria saber algo dos amigos, Marlene era o pote de ouro no fim do arco-íris para tal coisa.
Do outro lado da tela, o grupo estava feliz, passando o tempo com alguns jogos de tabuleiro, alguns claramente mais bêbados do que outros, mas a conexão ainda existia. A espectadora não conseguiu não soltar um riso ao acompanhar os amigos roubarem algumas notas de dinheiro falso do Banco Imobiliário de outro jogador que estava no banheiro. O coração da mulher palpitou pesaroso, comprimido e dividido por uma culpa que não deveria existir, contudo insistia em trazer para si. A ausência do casal no Brasil parecia afetá-la mais do que os amigos. Esse pensamento causava estardalhaços em sua mente. Os amigos tinham uma energia surreal. Estar ali, sentada em um banco de aeroporto ao mesmo tempo em que os demais festejavam até cair trazia um amargor na boca. A química era tão boa... Tão grande, que atravessava o continente e a fazia perder o ar. Ela também queria fazer parte daquilo. Ela queria se sentir incluída naquele mar de carinhos.
Uma sacola do Subway foi balançada em frente à cabeça de , obrigando-a a levantar o rosto. havia sido rápido.
— O que houve com o “Se vamos gastar, vai ser para valer”? — Levantou as sobrancelhas de leve, tentando se livrar dos pensamentos melancólicos.
— Quase tudo custava a mesma coisa. Entre comer um pão torrado na chapa e um sanduíche de trinta centímetros custando o mesmo valor, a resposta me pareceu óbvia.
— Boa escolha! — replicou quase no mesmo instante, removendo o casaco do namorado no banco ao lado para que esse pudesse se sentar.
Enquanto se acomodava, os olhos de recaíram sobre a tela do tablet da mulher.
— Está vendo a Marlene? Qual é a boa de hoje? — indagou, passando o lanche a com uma mão, já desmanchando a embalagem do próprio sanduíche no colo com a outra.
— Noite de jogos — suspirou. — Nesse meio tempo, João foi ao banheiro e o Felipe já tomou iniciativa para roubar a fortuna dele.
gargalhou, desferindo um tapa na própria coxa.
— Cara, que saudade deles! João sempre foi vacilão. — Foi a vez de rir pela inversão de valores. Entretanto, não estava errado. O amigo parecia não aprender com os erros das outras noites. — Mal posso esperar para estarmos reunidos outra vez.
se encolheu um pouco, mas tão pouco que o ato passou despercebido pelo outro, que se lambuzava com a dúzia de molhos que optara por adicionar no pão. Ao mesmo tempo em que ela desejava com todas as forças voltar para aquilo que eles já foram no ensino médio e na faculdade, uma parte dela insistia que era injusto e ela não era merecedora. Afinal, ela escolheu deixar tudo aquilo.
Sentia-se tão fora da caixa.
— O que eles falaram sobre a nossa volta ao Brasil?
Boca cheia. Molho no canto dos lábios. Definitivamente, aquele era o homem que ela escolheu amar.
— Ainda não avisei ninguém sobre o nosso retorno. — Os ombros dela desceram um pouco, sabendo que o combinado era ela contar as novidades. — Não quero gerar expectativas. — O olhar triste foi da tela que exibia a festa para o rosto do namorado.
— Por quê?
— , nós não sabemos como vai ser a chegada. Viagens são sempre cansativas. Vai ter o problemão da mudança ainda e não vamos parar de trabalhar em nenhum desses momentos. Não quero gerar expectativas e no final, não conseguir ver ninguém, pois estava ocupada dando as pontas no trabalho. Eu sou a maior furona desde sempre e nada disso mudou com a nossa vida no Canadá.
Ele encarou a namorada com compaixão. Mesmo com o braço do banco entre eles, esticou o braço para puxá-la para mais perto, abraçando-a de lado e instantaneamente sentiu uma cabeça se aninhar ao ombro. Se havia algo que ele admirava em , era a força de vontade e persistência. Eles se conheciam desde o colegial. Ficaram juntos de verdade na metade da faculdade e, diferente dele, a namorada foi do tipo das pessoas que precisaram crescer mais cedo.
teve uma vida mais humilde, se comparada com a condição financeira dos demais alunos da escola particular que frequentaram. Além de ter que abrir mão de muitas viagens de turma organizadas pela escola para aliviar para os pais na mensalidade, precisou crescer sem a companhia deles. Os sogros sempre deram o sangue para garantir uma melhor educação e formação para a e isso custou todo o acompanhamento no crescimento dela, a transformação de menina para garota e a de garota para mulher. Como se não fosse o bastante para fazê-lo admirá-la, ela sempre foi compreensiva e nunca culpou os pais.
— Está tudo bem. — Estreitou ainda mais o contato. — Deveríamos ligar para eles agora? — Ainda com a cabeça encostada, negou, fazendo manha. — Ok. Contamos quando estivermos mais bem instalados no apê. Ou quando for a hora certa.
— Obrigada — disse baixinho, virando-se para acariciá-lo pelo pescoço com o nariz, sentindo-o se arrepiar.
✨
— Droga de caixa! Inferno de vida! — a mulher praguejava com o rosto vermelho, dando pequenos chutes com o peito do pé no papelão. Não bastasse a diferença exorbitante entre o clima de São Paulo com a do Canadá, obrigando o casal a tirar todos os casacos e carregar à mão, a caixinha onde guardava os principais pertences que ganhara no Canadá resolveu ceder faltando poucos andares para chegarem ao apartamento alugado. , que vinha em seguida, com a própria caixa intacta, ria tanto a ponto de escorrer lágrimas.
— Coitada da caixa, mozi! Ela não fez nada para você!
— Ela... — fechou as mãos em punho com força. — Ela só tinha uma merda de obrigação que era guardar as minhas coisas, mas nem isso! — Risos de ecoaram pelo corredor do prédio outra vez. A mudança de ares já estava afetando a mulher. Não era um elemento palpável, mas havia algo no ar do Brasil que os deixava mais efervescentes, com os sentimentos transbordando.
— Se controla, mulher!
Possessa, foi girando a maçaneta do apartamento novo, apressada, sem cerimônias por ser a primeira vez que pisariam no novo lar. Cega pela irritação, ela só se deu conta da movimentação anormal dentro do cômodo da sala quando gritos uníssonos se fizeram ser ouvidos:
— Surpresa!
sentiu os pés perderem o chão. Estática, de olhos arregalados, ela se virou em direção às vozes, tremendo, sem saber o que fazer.
— Ah, não! — A voz ficou falha instantaneamente e os olhos ficaram turvos. — Mentira que vocês fizeram isso! — Bateu os pés feito uma criança que havia sido enganada pela mãe sobre na volta comprarem. Os olhos úmidos e brilhantes passearam por cada rosto e semblante de expectativa ali. Todos ali. — Gente... — a fala morreu embargada pelo pré-choro. — Obrigada?
Havia balões espalhados pelo chão, bebidas e lanches em uma mesa improvisada, visto que o mobiliário ainda não havia sido adquirido e uma cartolina bem mequetrefe com uma mensagem de “Bem-Vindos” em canetinhas coloridas. O vermelho estava falhado, mas não importava no momento.
Os batimentos de foram às alturas.
— Quando foi que vocês... — embasbacada, tentou reagir.
— , sua bobinha! — Marlene se adiantou, sacando o celular, pronta para registrar “O” reencontro. — Não acredito que quis fazer a linha de tímida, ! — Aproximou-se para um abraço apertado. — Somos amigos! Independente do tempo que fiquemos sem nos falar, a gente continua e vai à mesma coisa na próxima vez que nos encontrarmos. Amizade é isso, né? — Deu um risinho e apertou mais as costas da amiga. Sem quebrar o contato, buscou os olhos do namorado, que também era cumprimentado pelos demais.
parecia brilhar.
Quando os olhares se chocaram, nenhuma palavra foi dita. Ele apenas deu o melhor dos sorrisos e isso foi o suficiente para arrancar um frio na barriga dela que insistia em aparecer quando estava com ele.
— Obrigada — sibilou.
sabia dos temores da namorada. Eles eram um casal no final das contas. Conversavam bastante, embora soubesse que não compartilhava sempre todas as preocupações. Era fácil para ele ligar um ponto com o outro. conhecia bem a mulher que ele escolheu amar: a que pensava demais, preocupava-se demais e cuidava demais. tentava poupar os outros demais e acabava não percebendo que se sobrecarregava demais. Tudo demais. Ela tinha um emocional frágil e eles ainda estavam trabalhando para amenizar isso.
O importante era darem um passo de cada vez.
Sem correr.
Eles tinham tempo.
Por fim, quando novas dificuldades aparecessem, ele sabia que poderia ligar para os amigos.
“Marlene Teves está ao vivo”.
Essas foram as notificações que pipocaram no canto superior da tela do tablet de , enquanto essa enviava os últimos e-mails do dia. O cansaço e frustração que começavam a acumular foram canalizados para fora em forma de um suspiro.
— Deveria descansar. — , que estava no banco ao lado, comentou. — O horário do expediente já acabou. Sabe, não vai fazer diferença se os caras receberem os e-mails agora ou duas da manhã. Eles vão ver só amanhã.
— Eu sei, mas queria começar o dia tranquilo amanhã. Sem pendências. Dormir tranquila.
viu o namorado sorrir doce e em seguida fazer um carinho gostoso em sua bochecha. Os olhos automaticamente se fecharam para sentir o toque. Então a mão quente de foi um pouco para o lado, brincando com algumas mechas de cabelo e posicionando alguns fios rebeldes dela para trás da orelha.
— Nós dois sabemos que, mesmo sem pendências, você quase nunca dorme tranquila — brincou e a mulher sabia que ele tinha razão. — Vou buscar comida para nós.
— Não íamos esperar pela comida do avião? — Franziu o cenho, recebendo uma negativa. — Pois então compre o que estiver mais barato.
— Nah! — balançou um braço no ar em gesto para que ela não se preocupasse. — O mais barato já vai sair mais caro. Se vamos gastar, vai ser para valer. — Sorriu grande, arrancando um rolar de olhos de .
— Idiota. Sabe quanto dinheiro dá no final se convertermos para o real?
— Quem converte não se diverte! — o homem cantarolou e não conseguiu esconder o sorriso. — Não era esse o seu lema quando chegamos ao Canadá, mozi?
— Idiota. — Ela cruzou os braços com cuidado para não esbarrar no tablet ainda sobre as pernas cruzadas.
— A vida é uma só — afinava a voz para fazer uma imitação barata dela. — Dinheiro é papel! — Fingiu dar uma jogada de cabelo. — E enfim o “quem converte não se diverte”. Se tem alguma coisa que aprendi bem com você, além de fazer um oral de sucesso, foram essas lições, .
A mulher o encarou mortalmente, crispando os lábios. Aquelas não eram as melhores informações para serem ditas em alto e bom som no meio de um aeroporto.
— Some daqui. Agora!
prontamente a atendeu. Sozinha, deslizou os dedos pela notificação recebida anteriormente. Incerta, ponderou se ela queria mesmo ver tudo aquilo. Em breve, , ela e os amigos estariam juntos outra vez, a saudade já não deveria ser mais um fator a sugá-la todos os dias. Desde que passaram no processo seletivo para as vagas de Comunicação em uma rede de televisão aberta do Canadá, os contatos com os amigos no Brasil ficaram ainda mais estremecidos.
“Você está assistindo a Marlene Teves”.
“_ entrou no chat”.
Do grupo de amigos, todos eram bem comunicativos e espontâneos. Enquanto a maioria fora para o lado da comunicação, como e ela, Marlene queria Direito. No entanto, foi no meio do curso que ela acabou fazendo parcerias com empresas locais do bairro para conseguir cupons de descontos aos amigos. As promoções acabaram trazendo um dinheiro a mais e fazendo-a criar gosto pela exposição, pelo menos mais a ficar sentada, lendo o Vade Mecum. Hoje, acumulando um pouco mais de dez mil seguidores, Marlene conseguia engajamentos tão expressivos quanto quem apresentava centenas de mil. Se queria saber algo dos amigos, Marlene era o pote de ouro no fim do arco-íris para tal coisa.
Do outro lado da tela, o grupo estava feliz, passando o tempo com alguns jogos de tabuleiro, alguns claramente mais bêbados do que outros, mas a conexão ainda existia. A espectadora não conseguiu não soltar um riso ao acompanhar os amigos roubarem algumas notas de dinheiro falso do Banco Imobiliário de outro jogador que estava no banheiro. O coração da mulher palpitou pesaroso, comprimido e dividido por uma culpa que não deveria existir, contudo insistia em trazer para si. A ausência do casal no Brasil parecia afetá-la mais do que os amigos. Esse pensamento causava estardalhaços em sua mente. Os amigos tinham uma energia surreal. Estar ali, sentada em um banco de aeroporto ao mesmo tempo em que os demais festejavam até cair trazia um amargor na boca. A química era tão boa... Tão grande, que atravessava o continente e a fazia perder o ar. Ela também queria fazer parte daquilo. Ela queria se sentir incluída naquele mar de carinhos.
Uma sacola do Subway foi balançada em frente à cabeça de , obrigando-a a levantar o rosto. havia sido rápido.
— O que houve com o “Se vamos gastar, vai ser para valer”? — Levantou as sobrancelhas de leve, tentando se livrar dos pensamentos melancólicos.
— Quase tudo custava a mesma coisa. Entre comer um pão torrado na chapa e um sanduíche de trinta centímetros custando o mesmo valor, a resposta me pareceu óbvia.
— Boa escolha! — replicou quase no mesmo instante, removendo o casaco do namorado no banco ao lado para que esse pudesse se sentar.
Enquanto se acomodava, os olhos de recaíram sobre a tela do tablet da mulher.
— Está vendo a Marlene? Qual é a boa de hoje? — indagou, passando o lanche a com uma mão, já desmanchando a embalagem do próprio sanduíche no colo com a outra.
— Noite de jogos — suspirou. — Nesse meio tempo, João foi ao banheiro e o Felipe já tomou iniciativa para roubar a fortuna dele.
gargalhou, desferindo um tapa na própria coxa.
— Cara, que saudade deles! João sempre foi vacilão. — Foi a vez de rir pela inversão de valores. Entretanto, não estava errado. O amigo parecia não aprender com os erros das outras noites. — Mal posso esperar para estarmos reunidos outra vez.
se encolheu um pouco, mas tão pouco que o ato passou despercebido pelo outro, que se lambuzava com a dúzia de molhos que optara por adicionar no pão. Ao mesmo tempo em que ela desejava com todas as forças voltar para aquilo que eles já foram no ensino médio e na faculdade, uma parte dela insistia que era injusto e ela não era merecedora. Afinal, ela escolheu deixar tudo aquilo.
Sentia-se tão fora da caixa.
— O que eles falaram sobre a nossa volta ao Brasil?
Boca cheia. Molho no canto dos lábios. Definitivamente, aquele era o homem que ela escolheu amar.
— Ainda não avisei ninguém sobre o nosso retorno. — Os ombros dela desceram um pouco, sabendo que o combinado era ela contar as novidades. — Não quero gerar expectativas. — O olhar triste foi da tela que exibia a festa para o rosto do namorado.
— Por quê?
— , nós não sabemos como vai ser a chegada. Viagens são sempre cansativas. Vai ter o problemão da mudança ainda e não vamos parar de trabalhar em nenhum desses momentos. Não quero gerar expectativas e no final, não conseguir ver ninguém, pois estava ocupada dando as pontas no trabalho. Eu sou a maior furona desde sempre e nada disso mudou com a nossa vida no Canadá.
Ele encarou a namorada com compaixão. Mesmo com o braço do banco entre eles, esticou o braço para puxá-la para mais perto, abraçando-a de lado e instantaneamente sentiu uma cabeça se aninhar ao ombro. Se havia algo que ele admirava em , era a força de vontade e persistência. Eles se conheciam desde o colegial. Ficaram juntos de verdade na metade da faculdade e, diferente dele, a namorada foi do tipo das pessoas que precisaram crescer mais cedo.
teve uma vida mais humilde, se comparada com a condição financeira dos demais alunos da escola particular que frequentaram. Além de ter que abrir mão de muitas viagens de turma organizadas pela escola para aliviar para os pais na mensalidade, precisou crescer sem a companhia deles. Os sogros sempre deram o sangue para garantir uma melhor educação e formação para a e isso custou todo o acompanhamento no crescimento dela, a transformação de menina para garota e a de garota para mulher. Como se não fosse o bastante para fazê-lo admirá-la, ela sempre foi compreensiva e nunca culpou os pais.
— Está tudo bem. — Estreitou ainda mais o contato. — Deveríamos ligar para eles agora? — Ainda com a cabeça encostada, negou, fazendo manha. — Ok. Contamos quando estivermos mais bem instalados no apê. Ou quando for a hora certa.
— Obrigada — disse baixinho, virando-se para acariciá-lo pelo pescoço com o nariz, sentindo-o se arrepiar.
— Droga de caixa! Inferno de vida! — a mulher praguejava com o rosto vermelho, dando pequenos chutes com o peito do pé no papelão. Não bastasse a diferença exorbitante entre o clima de São Paulo com a do Canadá, obrigando o casal a tirar todos os casacos e carregar à mão, a caixinha onde guardava os principais pertences que ganhara no Canadá resolveu ceder faltando poucos andares para chegarem ao apartamento alugado. , que vinha em seguida, com a própria caixa intacta, ria tanto a ponto de escorrer lágrimas.
— Coitada da caixa, mozi! Ela não fez nada para você!
— Ela... — fechou as mãos em punho com força. — Ela só tinha uma merda de obrigação que era guardar as minhas coisas, mas nem isso! — Risos de ecoaram pelo corredor do prédio outra vez. A mudança de ares já estava afetando a mulher. Não era um elemento palpável, mas havia algo no ar do Brasil que os deixava mais efervescentes, com os sentimentos transbordando.
— Se controla, mulher!
Possessa, foi girando a maçaneta do apartamento novo, apressada, sem cerimônias por ser a primeira vez que pisariam no novo lar. Cega pela irritação, ela só se deu conta da movimentação anormal dentro do cômodo da sala quando gritos uníssonos se fizeram ser ouvidos:
— Surpresa!
sentiu os pés perderem o chão. Estática, de olhos arregalados, ela se virou em direção às vozes, tremendo, sem saber o que fazer.
— Ah, não! — A voz ficou falha instantaneamente e os olhos ficaram turvos. — Mentira que vocês fizeram isso! — Bateu os pés feito uma criança que havia sido enganada pela mãe sobre na volta comprarem. Os olhos úmidos e brilhantes passearam por cada rosto e semblante de expectativa ali. Todos ali. — Gente... — a fala morreu embargada pelo pré-choro. — Obrigada?
Havia balões espalhados pelo chão, bebidas e lanches em uma mesa improvisada, visto que o mobiliário ainda não havia sido adquirido e uma cartolina bem mequetrefe com uma mensagem de “Bem-Vindos” em canetinhas coloridas. O vermelho estava falhado, mas não importava no momento.
Os batimentos de foram às alturas.
— Quando foi que vocês... — embasbacada, tentou reagir.
— , sua bobinha! — Marlene se adiantou, sacando o celular, pronta para registrar “O” reencontro. — Não acredito que quis fazer a linha de tímida, ! — Aproximou-se para um abraço apertado. — Somos amigos! Independente do tempo que fiquemos sem nos falar, a gente continua e vai à mesma coisa na próxima vez que nos encontrarmos. Amizade é isso, né? — Deu um risinho e apertou mais as costas da amiga. Sem quebrar o contato, buscou os olhos do namorado, que também era cumprimentado pelos demais.
parecia brilhar.
Quando os olhares se chocaram, nenhuma palavra foi dita. Ele apenas deu o melhor dos sorrisos e isso foi o suficiente para arrancar um frio na barriga dela que insistia em aparecer quando estava com ele.
— Obrigada — sibilou.
sabia dos temores da namorada. Eles eram um casal no final das contas. Conversavam bastante, embora soubesse que não compartilhava sempre todas as preocupações. Era fácil para ele ligar um ponto com o outro. conhecia bem a mulher que ele escolheu amar: a que pensava demais, preocupava-se demais e cuidava demais. tentava poupar os outros demais e acabava não percebendo que se sobrecarregava demais. Tudo demais. Ela tinha um emocional frágil e eles ainda estavam trabalhando para amenizar isso.
O importante era darem um passo de cada vez.
Sem correr.
Eles tinham tempo.
Por fim, quando novas dificuldades aparecessem, ele sabia que poderia ligar para os amigos.
FIM
Nota da autora: Oieeeee! Se você está lendo isso, obrigada por chegar até aqui. <3 Às vezes, a gente se pega pensando demais e não percebe. Somos todos incríveis da nossa forma. Valorize-se! Aproveite tudo que é dado. Você é importante, ocupa um lugar importante no mundo e, principalmente, na vida de alguém. Eu tenho certeza. Crie memórias incríveis, mas não viva só delas. Viva por elas. Obrigada pela leitura e por me acompanhar até aqui <3 Fique bem!
Beijos,
Ale.
Outras Fanfics:
Universo Harry Potter:
→ Felicitatem Momentaneum (Principais interativos)
→ Finally Champion (Olívio Wood é o principal)
→ Finally the Refreshments (Sequência de Finally Champion — restrita)
Ficstapes:
→ 04. Bigger
→ 05. Mobile
→ 09. I Don't Have To Try
→ 10. Fuego (Restrita)
Nota da beta: Nossa, que coisa mais linda! Eu amei a mensagem que você passou com essa história. Fiquei emocionada aqui. Ale, eu amo a sua escrita. É sempre tão leve e gostosinha de ler! Parabéns, meu bem. ♥
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Beijos,
Ale.
Outras Fanfics:
Universo Harry Potter:
→ Felicitatem Momentaneum (Principais interativos)
→ Finally Champion (Olívio Wood é o principal)
→ Finally the Refreshments (Sequência de Finally Champion — restrita)
Ficstapes:
→ 04. Bigger
→ 05. Mobile
→ 09. I Don't Have To Try
→ 10. Fuego (Restrita)
Nota da beta: Nossa, que coisa mais linda! Eu amei a mensagem que você passou com essa história. Fiquei emocionada aqui. Ale, eu amo a sua escrita. É sempre tão leve e gostosinha de ler! Parabéns, meu bem. ♥
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