Capítulo Único
Fechei a porta atrás de mim ao entrar no apartamento escuro, vendo que a TV estava ligada em algum programa de culinária. Foi inevitável não sorrir ao me aproximar do sofá e ver que era que tinha dormido assistindo e que ainda estava com o cabelo na tigela de pipoca. Minha melhor amiga tinha doutorado em dormir enquanto assistia.
- Típico... – murmurei, pegando o controle para desligar a televisão.
Dei a volta no sofá e tirei o celular do bolso para tirar uma foto dela toda descabelada e ainda com a cara amassada no travesseiro, e só depois peguei no colo, tentando não acordá-la. O brilho dos postes lá fora que entrava pela porta da varanda e as janelas do corredor permitiam que eu me guiasse pelo apartamento e também me permitiu ver o Cocker Spainel que já vinha correndo na minha direção e que tentava lamber o pé de .
- Brincar agora não, Lady – ralhei, esperando que ela saísse da frente, mas Lady apenas começou a abanar o rabo. – Lady!
E então ela começou a latir e saltitar na minha frente, me impedindo de passar. Eu não suportava essa cadela, ela definitivamente não ia com a minha cara. Tentei passar, mas Lady entrou na minha frente.
- Eu te dou o pacote de biscoito canino todo se você me deixar passar – prometi, tentando convencê-la.
O latido começou a ficar mais alto e do nada acordou assustada, agitando os braços e pernas, me assustando um pouco. Lady decidiu que esse era o momento para girar ao meu redor e, juntando tudo, acabei caindo com no colo e tudo.
- Outch – ela choramingou, alisando atrás da cabeça onde tinha batido na parede. – O que foi isso, ?
- Eu tentando te levar para o quarto e essa afobada entrando no caminho – fiz uma careta, alisando meu braço.
- Eu pedi para a Lady me acordar quando você chegasse – explicou, buscando a cadela. - Você tá bem, chuchu? O Tio te machucou?
Fui obrigado a revirar os olhos.
- Acredite, ela causou mais dano a mim do que eu a ela – e isso era verdade já que meu braço estava latejando por ter batido na mesinha do corredor.
- Deixa de drama, vai – sorriu para mim. – Que horas são?
Olhei para o relógio no meu pulso.
- Onze e meia – respondi, levantando do chão.
- Você voltou cedo – comentou, levantando também.
E eu realmente havia voltado. Eu estava conversando com uma colega de academia de há umas três semanas e hoje ela finalmente teve tempo para sair comigo, mas ficou claro que apesar de até nos darmos bem conversando por mensagem, pessoalmente não rolou química alguma e a conversa foi tão chata que passamos a maior parte do tempo dançando e nos beijando para não termos que falar muito.
- As coisas não deram muito certo com a Patrícia. Nós ficamos, foi legal, mas não rolou nenhuma química mais forte – expliquei, dando de ombros enquanto seguia até meu quarto.
- Poxa, . Pior que você tinha gostado dela, né? – me seguiu até o quarto, se jogando na minha cama.
- Tinha, mas não tinha me apaixonado – dei de ombros, indiferente.
Para ser sincero, todas as garotas com quem eu saía ultimamente não pareciam boas o suficiente e mesmo quando eram, aquelas que era uma combinação perfeita entre sexy, inteligente, divertida e nerd, ainda faltava alguma coisa. Era enlouquecedor e bem frustrante, sem contar que eu não fazia ideia do que faltava, o que só piorava as coisas, mas o problema era meu. Tinha alguma coisa me impedindo. Eu definitivamente estava cansando de procurar por amor.
- Mas mesmo assim, eu sei que você pensou que dessa vez ia.
- Ela era legal, mas não acho que vou sofrer enrolado num edredom com um pote de sorvete igual você fez, só porque não rolou – provoquei, relembrando de um dos casinhos de e de como ela tinha ficado arrasada depois dele ter a dispensado depois de duas semanas.
- Vai se foder, ! – ela riu, arremessando um travesseiro em mim. – Eu não fiquei assim! Eu só estava na TPM.
- Sua TPM durou quase um mês? – olhei-a por cima do ombro, desabotoando minha camisa de botões e jogando no chão.
- Algumas TPM’s duram mais que outras, okay? – retrucou, fechando a cara.
- Se você diz... – ri, tirando os sapatos.
Depois de tirar a calça, me larguei na cama em cima de , que resmungou e começou a me xingar de coisas que eu não conseguia ouvir pois a boca dela estava esmagada contra minhas costas.
- Sai de cima de mim, filho da Tia Nora – ela choramingou, beliscando meus braços, o que me fez rir mais ainda.
- Eu to confortável aqui, . Você não tá? – abri os braços, me esparramando ainda mais.
- Eu vou chutar suas bolas quando eu sair daqui – ameaçou e logo em seguida senti coisas pontudas afundarem nas minhas costas
– Puta que pariu, !
Saí de cima dela rapidinho e caí ao seu lado na cama enquanto ela morria de rir.
- Você me mordeu? – perguntei retoricamente, fazendo careta.
- Mordi! – confessou, sorrindo orgulhosa.
Virei o rosto para olhá-la, tentando parecer indignado por sua satisfação ao me ver com dor, mas ela estava tão perto que apenas encarei seu olhar castanho que eu tanto adorava por ser sempre brilhante e seu sorriso enorme e lindo que deixava seus lábios ainda mais bonitos e totalmente beijáveis. Pera. O quê? Beijáveis? Desde quando os lábios da minha melhor amiga desde os cinco anos de idade eram beijáveis? Quer dizer, eles eram. era maravilhosa, mas não para mim, não nesse sentido pelo menos.
- Por que você tá me olhando estranho? – ela franziu a testa, sentando na cama.
- Porque você é estranha – respondi.
- Você é estranho – balançou a cabeça. – Ei, vamo terminar a maratona de Harry Potter, pelo amor de Odin, ! Você só faz me enrolar.
- Vamo, ué! Sempre que eu te chamo você dorme antes da metade do filme, .
- Porque você só inventa de assistir às duas da manhã, idiota! – ela gritou, colocando as mãos na cintura de modo autoritário.
- Porque é quando nós dois temos tempo ao mesmo tempo, maluca! – retruquei, gritando também.
- Não é minha culpa se conciliar estágio com faculdade esteja me matando! – ela continuou gritando.
- Não to dizendo que é sua culpa! – também continuei gritando.
- Para de gritar! – ela pediu, ainda gritando. – Faz mal para o bebê.
- Que bebê, ? – arregalei os olhos, já assustado.
- Eu! – respondeu baixinho, abrindo um sorriso que podia ser considerado meigo.
Primeiro a olhei como se não acreditasse que ela tinha realmente falado aquilo, depois só comecei a rir porque ela era ridícula. sempre começava essas briguinhas idiotas que acabavam em risos, por isso eu sempre fazia questão de deixar para lá.
- Puta que pariu, você é ridícula demais para ser minha amiga – ri, levantando da cama para sair do quarto e ir para a sala.
- ! – gritou e ouvi um baque e em seguida um choramingo, o que me fez ter certeza que ela tinha caído da cama.
Segurei o riso porque isso era tão comum que eu nem me preocupava mais.
- É meia-noite e dois, ! – ouvi sua voz gritando mais perto e quando senti ela já estava pulando nas minhas costas. – Feliz aniversário, meu pedacinho delicioso de decepção.
- Nossa, você tá comendo o que pra pesar assim? – impliquei, segurando em suas coxas para não deixá-la cair.
- Poxa, eu te dando o seu primeiro parabéns dos 22 anos na hora exata do seu nascimento e você vem falar do meu peso? – ela ficou indignada, o que me fez rir. – Vai se foder, . Você não merece meus parabéns e nem o bolo que eu fiz.
E dito isso, ela pulou das minhas costas e foi dando meia-volta até seu quarto, mas a impedi, a puxando pela cintura.
- Eu tava brincando, meu amor – beijei sua bochecha, mas ela continuou emburrada. – Muito obrigado, viu? Eu odeio ficar mais velho, mas ter uma felicitação maravilhosa como essa sua até vale a pena.
Continuei beijando sua bochecha e a cada beijo, sentia que ela estava prestes a sorrir.
- Você fala isso para todas, idiota – ela murmurou, segurando o riso.
- Só para você, prometo – sorri, dando um último beijo demorado em sua bochecha. – Agora vai, me mostra esse bolo que você fez e vamo tentar terminar de assistir Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban pela quarta vez.
Com um sorriso infantil, se soltou de mim e foi correndo até a cozinha. Minha melhor amiga era uma graça, isso ninguém podia negar. Ela era provavelmente a única pessoa que conseguia fazer birra pra o meu lado e ainda conseguir o que quisesse.
Passei por Lady na sala e fiz uma careta para ela, mas a cadela me respondeu com o que parecia um sorriso. Como o pen drive com o filme já estava na TV, só fiz mudar até aparecer a pasta para escolhermos os filmes.
- Eu só fiz bolo de caneca mesmo, tá? E a louça pra lavar tá te esperando porque eu fiz as unhas quando cheguei da faculdade, não vou chegar nem perto de lá – ela avisou, voltando com o bolo em uma tigela de sopa toda coberta por chocolate e granulado colorido com uma velinha pequena e que eu conhecia por ser uma das velas aromáticas dela.
- O aniversário é meu e eu tenho que lavar a louça? – suspirei, fazendo uma careta. Eu odiava lavar a louça.
- É seu aniversário, mas não quer dizer que você é aleijado, então é bem capaz de lavar os pratos – ela sorriu, caindo no sofá ao meu lado, escorando suas costas no meu ombro. – Vai, apaga a vela.
Ri quando ela acendeu a vela com o isqueiro e o cheiro de cereja logo dominou a sala, mas apaguei a vela com um sopro.
- Agora morde o bolo – tirou a vela e colocou de lado, erguendo a tigela para que eu mordesse o bolo.
- Você vai enfiar minha cara aí dentro – semicerrei os olhos.
- Não vou, não! Onde já se viu estragar um bolo desses com sua cara?
- Eu te mato de cócegas se você fizer isso – alertei e me abaixei para morder o bolo.
Como eu previa, ela empurrou a tigela na minha cara e eu senti a cobertura grudar na minha barba, sobrancelha e nos meus cílios e só não xinguei porque estava ocupado lambendo o chocolate da minha boca.
- Eu vou te matar, você sabe, né? – ameacei, já deixando o bolo de lado.
- É tradição, ! – ela se encolheu no sofá, se cobrindo com um travesseiro.
- Não dou a mínima – puxei o travesseiro de cima dela e, com um gritinho, levantou já pronta para correr, mas fui mais rápido.
Segurei na perna dela e caiu no chão, então corri para cima dela, prendendo seu corpo embaixo do meu e suas pernas entre as minhas enquanto eu fazia cócegas em sua cintura. Ela começou a rir descontrolada, gritando e esperneando. Eu tinha certeza que daqui a pouco receberíamos reclamação pelo barulho, mas pouco ligava já que também estava morrendo de rir.
- ... Para... Por... Favor... – ela pedia quase sem conseguir formar a frase por estar sem ar. – , para!
E eu só parei para segurar seus braços ao lado de seu corpo enquanto passava o rosto no dela para passar nela o chocolate que tinha ficado em mim, mas ela parecia rir ainda mais agora.
- Sua barba faz cócegas, ! Eu to quase fazendo xixi nas calças e vou te colocar pra lavar a calcinha – ela soltou um gritinho no meio do riso.
Não dei a mínima e continuei esfregando o rosto no dela até que meus lábios acabaram batendo nos dela e nós dois paramos de rir. ficou me olhando surpresa, eu fiquei a olhando confuso. Nossos lábios estavam melados de chocolate e eu tive vontade de provar o chocolate no dela só para ver se realmente era tão bom quanto eu achava, mas eu não estava pensando no chocolate e isso me assustou. Era a segunda vez que eu pensava em beijar hoje. O que diabos tinha me dado?
Saí do meu transe quando senti me empurrar para o lado e levantar correndo.
- Não faz mais cosquinha, por favor – ela implorou, toda descabelada.
Ri automaticamente mesmo que ainda estivesse pensando no porquê de eu estar pensando em beijá-la.
- Não faço. O que é seu tá guardado – pisquei para ela. – Vem, vamos assistir logo esse filme.
Depois de lavarmos o rosto, voltamos para o sofá e comemos o bolo desfigurado enquanto assistíamos deitados no sofá. De maneira impressionante conseguiu se manter acordada até o final, mas bastou o quarto filme começar que ela caiu no sono e por estar tão cansado quanto ela, nem levantei para levá-la até seu quarto e ir para o meu, apenas passei um braço por sua cintura para que ela não caísse no chão e acabei dormindo também enquanto me questionava o que estava dando em mim.
- Neném, onde você tá? – perguntou.
Coloquei o celular entre a orelha e o ombro enquanto colocava as sacolas do supermercado no porta-malas.
- Tô saindo do mercado. Não me diz que precisa de alguma coisa... – se pudesse, eu cruzaria os dedos para que ela não precisasse e não me fizesse voltar lá.
- Não preciso não, mas queria te falar uma coisa... – ela mudou a voz, forçando um tom fofinho.
Eu normalmente odiava essa vozinha dela, mas no momento estava achando uma graça.
- O quê...? – fechei o porta-malas e me escorei na porta esperando pela bomba.
- Adivinha, adivinha, adivinha! – ela se animou, ainda com o tom de voz fofo.
- Adivinhar, ? Eu sou péssimo nisso – sorri, fechando os olhos. – Conta logo, vai.
- Vamos aumentar a família, neném!
Soltei um longo suspiro.
- Mais um cachorro? – choraminguei.
Nos últimos seis meses tínhamos cuidado de sete cachorros, doze gatos e até de um cágado. Eu não me importava muito, gostava de animais, mas eles reviravam a casa.
- É seu presente de aniversário, !
- Eu queria um Xbox novo de presente.
- Eu ainda não to alugando minhas partes de senhorita na esquina da rua pra poder comprar isso, – ela falou e tive certeza de que estava revirando os olhos. – Ele é um vira-lata muito lindo que foi resgatado de um lixão e eu já dei até nome pra te poupar de escolher.
Revirei os olhos. Até parece que foi pra me ajudar. Ela adorava colocar nome em tudo.
- E qual é o nome dele, hein?
- Tramp! A Lady agora tem o Tramp. A dama e o vagabundo, vai ser lindo! Eles vão ser amiguinhos e quem sabe até dividam o espaguete, awn, ia ser muito fofo, né? – falou com voz manhosa, com certeza idealizando a cena. – Será que tem espaguete pra cachorro?
- Eu não acredito que você me deu um cachorro só para ele fazer par com a Lady – gargalhei.
- Cachorrinhas precisam de amor também, viu? – retrucou. – Mas foi por você mesmo. E era pra ser surpresa o presente, mas como o Tramp já comeu sua chinela, pensei que você quisesse aproveitar que está no mercado pra comprar outra.
- Eu não acredito nisso, !
- Compra logo e vem para casa conhecer seu novo filhinho – ela falou com a mesma voz fofa e depois de fazer barulho de beijo, desligou na minha cara.
- Eu amo te odiar, ... – balancei a cabeça e já dei meia-volta até o supermercado.
Depois de comprar a maldita chinela, entrei no carro, liguei o som e fui dirigindo pelas ruas iluminadas pelos postes. Não demorou muito até estacionar na minha vaga no estacionamento do prédio e depois de tirar as sacolas, subi até o quinto andar onde era o apartamento que eu dividia com .
Fiz um malabarismo enorme para conseguir abrir a porta e quando finalmente abri, tudo estava escuro, o que era estranho. Deixei as compras no chão e tateei a parede em busca do interruptor. Na mesma hora que as luzes acenderam, meia dúzia de gente brotou por trás da mesa, da varanda e por trás do sofá.
- Surpresa! – gritaram em um coro bem desafinado.
- Feliz vinte e dois anos, ! – gritou, vindo me abraçar. – Não acredito que meu filhote tá crescendo. Eu troquei sua fralda, sabia?
Caí na risada.
- , você só é três anos mais velha que eu. Trocou minha fralda porque minha mãe deixava você me usar como boneco – ri, mas beijei a bochecha dela. – Mas obrigado.
- Mesmo assim, ainda me sinto idosa – ela piscou, se afastando.
- Feliz aniversário, meu garoto! – pulou em cima de mim com um sorriso no rosto. – Eu queria sair de dentro do bolo, mas a esqueceu de encomendar.
- Obrigado, – ri, deitando a cabeça por cima da dele quando o mesmo colocou a cabeça no meu ombro. – Deixo você sair dessas roupas lá no meu quarto.
- Opa, vamo lá – ele riu, arqueando as sobrancelhas sugestivamente.
- Deixem o sexo selvagem para depois da festa e quando eu estiver dormindo e com meus abafadores, tá? – apareceu com um sorriso no rosto e envolveu os braços ao redor do meu pescoço, estalando um beijo demorado na minha bochecha. – Eu sei que eu fui a primeira a te dar parabéns, mas to dizendo de novo. Feliz vida, neném.
- Obrigada, neném – sorri, usando o apelido que ela insistia em usar comigo. – Então, cadê meu Tramp?
- Ele é tão lindo! – os olhos dela brilharam e já me puxou pela mão, ignorando as pessoas que tentavam falar comigo.
abriu a porta do quarto e Lady logo pulou nela, depois um cachorro preto com uma mancha branca ao redor do olho se juntou a Lady, balançando o rabo todo animado.
- Tramp, esse é o seu papai – ela apontou de mim para Tramp e ele se aproximou de mim animado, mas tímido.
- Oi, cara – me abaixei para fazer carinho no cachorro e ele logo começou a me lamber.
- Não é fofo? – sorriu.
E ele até era. Não parecia ser afobado como Lady era, parecia ser calminho, mas animado, assim como eu, então se continuasse assim, poderíamos nos tornar muito bons amigos.
- É sim, – sorri e olhei para ela. – Obrigado.
- Vamos voltar para a sua festa? – ela perguntou, soltando um beijo para os cachorros.
- Não destruam o meu quarto, beleza? – avisei para Lady e Tramp, depois saí com e fechei a porta.
- Eu pensei que a festa seria no pub esse fim de semana – arqueei uma sobrancelha para ela.
- E vai ser, mas eu não consigo não fazer alguma coisa no seu aniversário oficial, então chamei esses seis só para zoar mesmo – deu de ombros, entrelaçando o braço no meu.
- Já posso roubar ele pra dar meus parabéns? – Isabelle perguntou quando voltamos para a sala.
- Opa, é todo seu! – riu, me soltando.
- Ela vive me dando para o pessoal, é incrível – ri e me voltei para Isabelle.
- Você já é todo dado, garoto – ela riu, beijando minha bochecha. – Feliz aniversário!
- Obrigado – sorri, a abraçando de lado. – Você tá bem?
- Tô ótima! – assentiu. – Terminei com o Afonso.
- Sério? – fingi surpresa. O namoro dos dois era tão ioiô que não era surpresa quando um dos dois aparecia falando ter terminado.
- Sim, não dava mais para gente – ela deu de ombros. – Mas eu to super de boa.
Olhei por cima do ombro de Isabelle para o resto do pessoal, vendo que só os íntimos tinham vindo mesmo e eu gostava assim, mas meu olhar se fixou na varanda onde tava falando com Pietro, um antigo crush dela.
- Ah, que ótimo então, Isabelle – sorri para ela, mas voltei a olhar para onde e Pietro estavam.
Ele se aproximou mais dela e falou algo que a fez rir e quando ela se aproximou também, aquilo me incomodou um tantinho. Por que isso tava me incomodando? Eu normalmente riria e zoaria por minha melhor amiga estar flertando com algum amigo meu, mas isso estava me incomodando um pouco e eu não fazia ideia do porquê. Que droga!
- Mas sabe, agora que eu to solteira e você também... – Isabelle colocou a mão no meu braço e umedeceu os lábios carnudos e rosados. – A gente podia sair, sabe?
Alternei o olhar entre Isabelle e , ainda tentando descobrir o que diabos estava realmente dando em mim.
- Claro, claro... – concordei sem nem ter escutado direito o que ela tinha falado.
- Oh, gente, vamos animar isso aqui, por favor – falou. – Fazer casalzinho logo no começo da festa? Faz a rodinha, vamos brincar com um aplicativo que eu tenho. O jogo é uma mistura de “Eu nunca, atreva-se e devil drink”.
- Você é um estraga-esquemas, – Isabelle riu, me puxando para o centro da sala.
- Gostei, gostei – aprovou, vindo sentar perto de mim.
- Já temos as belezinhas também – sentou na roda e colocou as garrafas de tequila e vodka no meio.
- Posso começar? – perguntou, olhando para todos ao redor.
- Pode sim – Pietro falou.
- , beba se não souber qual foi o clube que ganhou a última Champions League – leu, depois olhou sugestivo pra ela.
- Foi o Real, né? – ela fez uma careta.
- Foi – falei, rindo da cara dela por saber que ela detestava o time.
- , beba se não souber os nomes dos filmes de Star Wars – Isabelle leu, pegando o celular da mão de .
- São tantos, socorro – riu. – Tem Star Wars, Star Wars: O Império Contra-Ataca, Star Wars: O Retorno de Jedi, Star Wars: Espisódio I – A Ameaça Fantasma, Star Wars: Episódio II – Ataque dos Clones, Star Wars: Episódio III – A Vingança dos Sith...
- Tá bom, tá bom, entendemos que você sabe – riu.
- Essa é a minha garota! – pisquei para e ela riu, soprando um beijo pra mim.
- Pietro, atreva-se a beber um copinho de vinagre – peguei o celular e li o que dizia.
- Credo – ele fez uma careta e encheu seu copo de vodka. – Prefiro tomar isso mesmo.
- Isabelle, atreva-se a dizer o último filme do Brad Pitt – leu, olhando para a loira.
- Ah, gente, ele é meu crush – Isabelle revirou os olhos. – Foi War Machine.
- , atreva-se a dizer quantos filmes tem de Missão Impossível – Pietro pegou o celular e leu.
- Eu realmente perdi a conta depois do quarto – ri e enchi meu copo de tequila.
- , beba se você não subir e descer as escadas correndo – eu li de novo.
- Eu vou beber mesmo porque levantar daqui não dá para mim – ele riu e já bebeu o que tinha em seu copo.
- , atreva-se a dançar com a pessoa a sua direita. Escolha a musica no modo aleatório – Isabelle leu e já olhou de para mim.
- Vamos rebolar essa bundinha, neném? – riu e levantou do chão, estendendo a mão para mim.
- Que preguiça, ... – fiz uma careta, mas segurei a mão dela e levantei.
- Eu já to colocando a musica, pera... – avisou. – Prontinho.
Quando ele aumentou o volume no máximo, a musica ‘Como não me apaixonar’ começou a tocar e arqueei as sobrancelhas, olhando para . Eu não era lá fã de sertanejo, mas dessa dupla eu gostava.
- Como dança isso? – ela perguntou, colocando uma mão no meu ombro.
- Não sei, vamos só ficar rodando pela sala – sugeri, colocando uma mão na cintura dela e segurando sua outra mão.
- Gente, enviaram um carro de telemensagem para alguém aqui do lado, socorro – começou a rir, olhando pela janela. – Venham olhar isso, pelo amor de Deus.
- Jura? Preciso ver isso – já ia sair correndo, mas impediu.
- Não, terminem a dança primeiro – ele sorriu maldoso.
- A gente dança depois... – falei, também doido pra ver quem estava passando vergonha.
- Não, já começaram, então terminem – Isabelle riu e correu para a varanda com o pessoal, pegando a chave e nos trancando aqui dentro.
- Eu odeio eles – resmungou.
- Eu também – bufei, encostando a bochecha na dela enquanto a musica tocava. – E aí, tava falando o que com o Pietro?
- Ah, nada demais – deu de ombros, seguindo meu passo enquanto andávamos. – Ele tava dando em cima de mim, mas ele não é meu tipo.
- Ah, não? – estreitei os olhos. – Você era afim dele.
- Era, verbo passado. Foi só crush de momento.
- Sei... – sorri com desdém. – Ele parece seu tipo.
- Não é não! – respondeu convicta. – Eu tenho um gosto bem específico.
- E qual tipo é esse? – insisti.
- Para de falar demais, ! – ela ralhou, voltando a me olhar.
Eu ri porque amava o jeito dela falar meu nome quando queria ralhar comigo. Fiz de conta que fechei um zíper na boca e fiquei calado. Ela segurou o olhar no meu, tentando continuar com o olhar severo, mas seus olhos castanhos brilhavam tanto que era impossível ela parecer severa e eu simplesmente adorava isso. Abri um sorrisinho de lado e arqueei a sobrancelha, tentando fazê-la sorrir.
- Para de tentar me fazer sorrir, ! – ela reclamou, virando o rosto.
Apenas ri e a segurei pela mão, afastando nossos corpos. Ergui nossas mãos e fiz girar antes de puxá-la para perto. O sorriso que ela estava segurando logo surgiu e eu fui obrigado a sorrir também.
E era a exata pessoa
E hoje eu na boa começo a gostar
Do seu olhar do sorriso lindo
Do jeito de falar
Eu tentei arduamente não associar a musica que estava tocando ao que eu estava sentindo por no momento. O que eu estava sentindo por ? Eu não tinha sentimentos mais fortes que amizades por ela. O que diabos estava dando em mim? Ela era só . Ela tinha o mesmo sorriso de sempre, o mesmo olhar de sempre e falava do mesmo jeito de sempre, mas por que parecia tão diferente? O que estava diferente nela?
Muda a voz pede pra adivinhar
E no meu aniversário,
Virou meia noite é a primeira a lembrar
E as minhas melhores risadas
Somente você consegue arrancar
Como não me apaixonar
Minha cabeça estava quase o meme da Nazaré com cálculos matemáticos porque eu estava realmente confuso no momento. Por que aquela musica parecia tanto com o que eu tava passando?
- Gente, isso foi hilário! – a porta da varanda abriu e Pietro voltou morrendo de rir. – A menina ficou tão envergonhada nesse mundo que dava para ver a cara vermelha dela daqui.
- Eu tive dó dela, tadinha – Isabelle riu também. – Passei por algo parecido na escola. Não é legal.
- Vocês não nos deixaram ver, né... – reclamou, encostando o queixo no meu ombro.
- Desculpa, linda – riu e beijou a cabeça dela ao passar por a gente.
- Já podem parar, vamos continuar com isso – falou, voltando a sentar no chão.
- Depois que a gente perde a diversão, vocês deixam, né? – reclamei, ficando mais que feliz em me afastar de .
A brincadeira continuou por algum tempo até que a maioria ficou bêbado demais para conseguir e resolveram só conversar. Eu ainda estava meio confuso por tudo aquilo de quando estava dançando comigo, então estava mais quieto.
- Ei, que foi?
Olhei para o lado ao ver se aproximar.
- Por quê? – perguntei, tomando um gole da minha bebida.
- Você tá estranho, menino – ele cruzou os braços.
- Eu to confuso, – admiti, virando para ele.
- Por quê?
- A parece diferente para você? – olhei dele para ela, que estava conversando com Isabelle.
- Não – falou, olhando para ela. – Ela parece diferente para você?
- Um pouco... – talvez muito.
- Diferente como? – perguntou, parecendo interessado.
- Ela faz eu me sentir diferente quando to perto dela agora. Eu não me sentia assim antes. Eu gosto de ver ela sorrindo. Eu sempre gostei, mas agora gosto mais. É muito estranho porque eu quero fazer ela sorrir sempre. Me dá uma sensação gostosinha – passei a mão pelo cabelo. – Mas eu não sei o que é isso! Não sei por que tá diferente se nós continuamos os mesmo. Tem certeza que você não notou nada diferente nela?
Olhei para , mas ele estava me encarando como se estivesse vendo uma espécie rara de animal.
- Que foi? – perguntei.
- Cara, você tá gostando dela? – franziu a testa.
- É claro que eu gosto dela, . Ela é minha melhor amiga – revirei os olhos.
- Não, não. Você tá apaixonado por ela, ?
- Quê? – arregalei os olhos.
- Bom, tá parecendo. Eu fiquei assim com a quando comecei a gostar dela – deu de ombros. – Você tá se apaixonando pela ?
- Claro que não! Ela é minha melhor amiga, nem faz meu tipo... – fiz uma careta sem nem saber o que pensar disso.
- Ah, não? – sorriu malicioso. – Você gosta de garotas divertidas, que te provoquem, que sejam sexy, mas ainda uma boa nerd e ótima para conversar. Parece familiar?
Arregalei meus olhos mais ainda.
- Eu a conheço minha vida toda, cara! Por que isso agora?
- Vai saber – ele riu, batendo no meu ombro. – Você se meteu em uma fria, colega.
- Deve ter outra explicação – rebati, me negando a aceitar que eu estava apaixonado por ela.
- Cara, essa é a mais lógica – deu de ombros. – Se você me apresentar outra teoria, eu super aceito, mas realmente não sei. Quando isso começou?
- Comecei a notar ontem quando me deu vontade de beijar ela, mas não deve ser nada demais.
- , a Ise e o Pietro já tão indo e podem nos dar carona. Vamos? – gritou, correndo até nós.
- Vamos sim – ele falou, beijando a testa dela. – Até sábado, . Pensa no que eu falei.
Voltei para sala para me despedir do pessoal e quando todos foram embora, e eu fomos dar uma arrumadinha na bagunça que tinham deixado. Jogamos fora as caixas de bebida, os pratinhos do bolo e terminamos de comer as coxinhas antes de jogar fora as bandejas de papelão também. Depois disso, fomos cada um para o seu quarto. Ela foi dormir, mas eu sabia que com tanta coisa na cabeça, eu estava longe de conseguir isso.
- !
Suspirei, terminando de subir minha calça de moletom.
- Que é? – gritei de volta.
- Vem cá, corre!
Fechei a porta do guarda-roupa e atravessei o corredor até o quarto de que era de frente para o meu.
- Que foi? – me escorei na porta, cruzando os braços.
- Dorme de conchinha comigo? – ela fez um biquinho infantil.
- Como é? – não consegui conter o riso.
- A me deixou carente depois de falar que ela e o sempre dormiam assim – ela manteve a voz manhosa. – Vem ser minha conchinha, .
- Não vou dormir de conchinha com você, – neguei, ainda rindo. – Você peida, .
- Até parece que você é entupido, ! – retrucou.
- Não.
- Por favor! – ela choramingou, agarrando o travesseiro. – Eu lavo os pratos de manhã.
Estreitei os olhos, realmente cogitando a ideia agora. Eu odiava lavar a louça e o pessoal tinha deixado uma pilha enorme de pratos sujos que eu teria que lavar porque terças-feiras são um dos meus dias de lavar.
- Tá – bufei.
- Eu sabia que tinha um motivo pra você ser meu amigo, menino ! – ela abriu um sorriso enorme.
Voltei ao meu quarto só para pegar meu travesseiro e apagar a luz, depois fui para o quarto de e deitei na cama ao lado dela.
- E aí, como vai ser? – perguntei de má vontade.
- Vira de costas para mim – ela instruiu.
- Eu pensei que eu ia fazer a conchinha!
- Não mesmo – balançou a cabeça. – Eu gosto de agarrar coisas quando durmo, não de ser agarrada.
- Eu te odeio muito, você sabe né? – suspirei, mas virei de costas para ela.
- Você me ama, isso sim.
chegou pertinho de mim e jogou uma perna por cima da minha cintura, depois um braço por baixo do meu braço e ainda encostou a cabeça no meu ombro.
- Nossa, é muito gostosinho dormir assim com você – ela praticamente ronronou.
Soltei um riso nasalado.
- E a luz? – perguntei. – Eu não vou apagar não.
- Poxa, . Você tá mais perto da porta.
- Se eu tiver que levantar, você lava a louça do almoço também.
- Eu te odeio – ela resmungou e foi apagar a luz.
Quando ela voltou e se enroscou em mim de novo, belisquei de leve sua coxa pra implicar, mas recebi um chute como retaliação e resolvi ficar quieto. Eu estava cansado e precisava acordar cedo pra o trabalho, mas não consegui dormir nem tão cedo.
A respiração quente dela batia no meu pescoço, sem contar no cheiro e no contato. O que havia sugerido estava na minha cabeça e, por mais que eu odiasse e não fizesse ideia de como tinha acontecido, a cada segundo isso se tornava mais claro.
- ? – ela murmurou, parecendo sonolenta.
- Oi – respondi.
- Obrigada por dormir comigo – falou, beijando meu ombro.
E foi com aquele beijo no meu ombro, e que fez minha pele formigar, que eu tive certeza e toda a incerteza ficou definitivamente para trás.
Eu estava apaixonado por .
- Quem vai comigo pegar os clones? – perguntou, levantando da mesa.
- Eu te ajudo – me voluntariei, indo com ela.
Sábado tinha chegado quase se arrastando e eu tinha feito o impossível pra evitar durante esse meio tempo. Eu ainda estava confuso com os recém descobertos sentimentos por ela. Na verdade eu ainda nem sabia se estava realmente apaixonado por ela. Aquilo era confuso demais! Mas de qualquer forma, acabei me afastando e a semana corrida ajudou. Hoje mesmo, agora, inclusive, eu ainda estava fugindo dela.
Já havia levado Isabelle pra dançar duas vezes, ido ao bar sempre que alguém pedia alguma coisa, ido ao banheiro mesmo sem precisar e tirado outras duas meninas para dançar mesmo que meio aleatoriamente, isso só para não ficar perto de e eu sabia que estava sendo idiota por isso, mas eu não sabia o que fazer.
- Você tá muito calado, – comentou, me olhando por cima do ombro.
- Muita coisa na cabeça – falei vagamente.
- É por que você tá gostando da ? – perguntou, chegando até o balcão do bar.
- Até você manjou isso? – fiz uma careta.
- O me contou – abriu um sorrisinho culpado. – Fala com ela!
- Claro que não! Não quero as coisas estranhas entre a gente.
revirou os olhos.
- , é da que a gente tá falando. Ela é tão de boa com isso e vocês são tão amigos que duvido que ficaria estranho entre vocês – ela falou, acenando para o barman. – Dois clones de cerveja, por favor.
- Mas eu tenho medo que eu fique estranho! Eu já to – suspirei, coçando a barba.
- Você tá estranho porque isso é novidade e você não sabe como agir – deu de ombros. – Mas eu tenho certeza que falar para a iria ajudar. Sério, fala com ela.
- Não! – cruzei os braços, determinado. – Falar o quê? “Oi, . Olha, to apaixonadinho por você, e aí, quer dar uns beijos?”
- Assim não, idiota!
- Talvez se eu não pensar muito, isso pare.
- Não é assim tão fácil.
Nessa hora o garçom chegou com os baldes de cerveja e entreguei a notinha para ele acrescentar na mesa, depois já peguei e fui andando na frente de .
- Não me ignora, ! – reclamou. – Fala pra ela.
- Tá bom, , tá bom... – suspirei.
- Eu sou mais velha que você, me respeita! Nem vem com esse desdém pro meu lado.
- Você é três anos mais velha que eu – lembrei.
- Mesmo assim – ela sorriu, esbarrando o ombro no meu. – Mas agora é sério, . Fala para ela. Talvez ela tenha algo pra te dizer também.
Franzi a testa e estava prestes a perguntar o que isso significava, mas chegamos até a mesa. Coloquei um dos baldes na mesa e sentei ao lado de .
- Você contou pra ? – arqueei uma sobrancelha pra ele.
- Só porque eu pensei que poderia te ajudar – se defendeu.
- Posso falar com você, ? – perguntou, não parecendo muito feliz. – Isso não foi um pedido.
- Claro... – fiz uma careta descontente, mas levantei do banco.
Passei na frente dela para a saída do pub e fui para um lugar mais calmo e com menos gente.
- E aí? – perguntei.
- Você tá me evitando. O que foi?
- Não to te evitando – menti.
- Claro que está! – retrucou. – Eu pensei que estava só meio paranoica, mas a Ise veio perguntar se a gente tinha brigado.
Dei as costas para ela e caminhei uns passos mais para frente.
- É coisa da cabeça de vocês, . A semana só foi corrida... – voltei a enrolar.
- Meu pau que é coisa da minha cabeça! – ela reclamou. – O que diabos tá acontecendo com você, ? Você tá muito estranho comigo a semana inteira! – falou, vindo atrás de mim. – É por que eu peidei enquanto dormia? Porque se for isso, é a maior besteira. Você às vezes tem CC e eu sou obrigada a aguentar! Eu não vou te fazer dormir comigo de novo. Eu só tava carente! Eu prefiro dormir com meu travesseiro.
Eu sabia que não era hora pra rir, mas não me segurei. Era muito engraçado que ela achasse que esse era o motivo.
- Não foi por isso, – garanti, ainda de costas para ela. – Antes fosse isso.
- E o que foi? – ela perguntou e ouvi seus passos se aproximando de mim. – Eu não me lembro de ter feito nada demais com você. Eu to muito grudenta? Porque se for isso você pode falar também. Eu sei que eu sou uma carente eterna, mas você não precisa tá me aturando sempre porque eu sei que eu passo dos limites e...
Antes que pudesse terminar o monólogo, virei rapidamente e, sem pensar muito, me aproximei dela, segurei seu rosto entre as mãos e a beijei. Ela arregalou os olhos e suas mãos que não paravam de gesticular, caíram ao lado de seu corpo. Os olhos dela fecharam e os meus também e nem sei ao certo quanto tempo ficamos ali, só com os lábios juntos. Me afastei lentamente e quando abri os olhos, os dela ainda estavam fechados.
- É por isso que eu to estranho, . Porque eu to apaixonado por você e eu não vi isso acontecendo. Só percebi porque o levantou a hipótese, senão eu ainda estaria louco procurando o que mudou em você pra que do nada eu começasse a gostar do seu olhar, do seu sorriso lindo e até do seu jeito de falar. Foi estranho e eu fiquei confuso. Eu ainda to e por isso eu precisei te evitar pra poder clarear as ideias. – desabafei, abrindo os braços. – E eu não queria estragar nossa amizade e pensei que se ignorasse, talvez eu descobrisse que era coisa da minha cabeça, mas a insistiu pra eu te falar e minha cabeça tá a mil e você tá tão linda hoje que eu não aguentei!
ainda parecia estar em choque, ela nem piscava. Eu não a culpava. Era informação demais até para mim.
- Eu não quero que a nossa amizade fique estranha, tá? Então ignora isso, por favor – suspirei, deixando meus ombros caírem. – Eu vou para casa, preciso... Só preciso. Depois eu acerto a conta com vocês.
Dei as costas para ela mais uma vez e depois atravessei a rua até onde meu carro estava estacionado. Assim que liguei o motor, olhei para o lado e vi olhando para cá. Desviei o olhar e manobrei para sair da vaga, pronto para ir embora.
- ! – ouvi gritar.
Mas eu não parei para saber o que ela queria. Só precisava de um tempo depois de tudo isso.
Eu tinha acabado na praia ao invés de ter ido para casa. Agora era quase cinco da manhã e o sol estava nascendo no horizonte. Meu celular estava largado ao meu lado e eu já tinha ignorado tantas ligações e mensagens que havia perdido a conta.
Eu já havia me apaixonado antes e com certeza me apaixonaria depois, mas nenhuma das vezes eu tinha me sentido tão confuso quanto estava agora. Provavelmente o motivo de tanta confusão fosse ser minha melhor amiga e talvez o problema maior fosse eu conhecê-la tão bem, quase até melhor que ela mesma, mas ainda não ter ideia do que ela faria com essa informação.
- Aí está você!
Estreitei os olhos, incrédulo ao ouvir a voz de . Virei para o lado, vendo que ela vinha em minha direção com os saltos na mão. Ela se largou ao meu lado e me olhou com um misto de raiva e alguma coisa.
- Como você me achou? – perguntei.
- O me ajudou a rastrear seu celular. A propósito, expecto patronum é uma senha óbvia – ela sorriu.
- Expecto patronum é uma ótima senha – rebati, sorrindo um pouco.
- Vamos conversar, – ela virou para mim, encolhendo as pernas. – Eu entendo sua confusão, sério. Lembra de quando você começou a sair com a Perua?
- É Perrie, – corrigi, sorrindo mais agora.
- Tudo a mesma coisa – ela deu de ombros. – Então, eu não gostava disso. De ver vocês juntos. Eu nem sabia o porquê! Ela era ótima e vocês eram fofos, mas me incomodava. Eu pensei que fosse ciúmes de amigos, coisa normal, mas depois eu percebi que talvez eu estivesse só com ciúmes porque eu queria estar no lugar dela.
Minhas sobrancelhas provavelmente chegaram na nuca e meus olhos se tornaram duas bolas de futebol de tão surpreso que eu fiquei com a confissão dela.
- E realmente estava com ciúmes porque queria estar no lugar dela. Foi estranho e muito confuso descobrir que tava realmente gostando de você assim. Quem em sã consciência gostaria? Com certeza eu não, afinal, te conheço há dezessete anos e sei cada mania sua que qualquer namorada ficaria com nojinho – ela continuou. – E foi ainda mais terrível perceber isso porque você tava ficando sério com a Perrie. A única que sabia era a e ela me ajudou muito. Eu te superei. Eventualmente o sentimento desapareceu, mas eu tive várias recaídas durante o processo, até depois, e ainda tenho! Se eu não consigo esquecer cara babaca tão fácil, imagina superar o que eu sentia por você quando você é todo maravilhoso comigo!
Eu, no momento, provavelmente estava com a maior cara de peixe morto, assim como tinha ficado com a minha declaração antes. Como assim ela também tinha gostado de mim? Agora não gostava mais, era isso?
- ... – tentei falar, mas ela me interrompeu.
- Ainda não terminei, espera – falou. – E você dizendo tudo aquilo ontem e me beijando foi um momento de recaída. Você não pode chegar lá e oferecer uma dose de tequila para um alcoólatra que ainda tá começando a parar de beber, . Eu agora também fiquei confusa.
Fiquei só encarando e ela me encarando de volta, nós dois perdidinhos. Fazia menos de uma semana que eu havia descoberto estar apaixonado por ela e, na mesma semana, ainda descobri que ela tinha se apaixonado por mim antes, mas no momento não sabia mais o que sentir. Por que éramos tão complicados?
- O que a gente faz agora? – perguntei.
- Quer tentar me beijar para gente ver no que dá? – deu de ombros, parecendo insegura com a sugestão.
- Tá... – falei, tão seguro quanto ela. – No três?
Ela assentiu.
- 1...
Ela contou e se arrumou na areia, se ajoelhando e chegando mais perto de mim.
- 2...
Contei dessa vez, também me ajoelhando para ficar mais perto dela. Coloquei a mão em sua cintura e fixei o olhar no dela.
- 3! – ela contou.
Mas na hora que nos aproximamos para beijar e nos olhamos assim de perto, desatamos a rir.
- Isso é muito estranho, socorro! – ela riu, segurando nos meus ombros.
- Demais! – concordei, rindo junto.
- Contar não dá certo – disse, ainda parando de rir.
Uma brisa mais forte fez com que o cabelo dela voasse para frente do seu rosto e a fizesse rir ainda mais. Ela era literalmente dessas que ria com o vento batendo na cara. sempre dizia que fazia cócegas. Quando a brisa acalmou, afastei delicadamente uma mecha que estava em seu rosto para trás da orelha e outra que havia ficado mais ou menos presa entre seus lábios.
Coloquei a mão na bochecha dela e, usando o polegar daquela mesma mão, afastei os fios de seus lábios e meu olhar se fixou lá. O riso dela parou e quando voltei a olhar para ela, estava olhando para mim. Aproximei minha boca da dela e, sem contagem alguma, nos beijamos. Dessa vez ninguém riu.
Suas mãos pareciam hesitantes, mas foi só eu segurar em sua cintura e a trazer para mais perto que elas logo encontraram um rumo. Enquanto uma se enfiou nos meus cabelos, a outra ela manteve no meu ombro. Os lábios dela eram macios e ela tava com gosto de cereja na boca, provavelmente de pastilha. E, cara, ela beijava demais! Bem que meus amigos haviam falado.
- Nada mal, – ela sorriu contra os meus lábios, finalizando o beijo com um selinho.
- Um pouquinho mais de prática e você chega lá – zombei, apertando a cintura dela.
- Idiota! – riu, estalando o dedo na minha testa. – E agora?
Dei de ombros.
- Quer sair comigo hoje à noite?
- Tipo um encontro?
- Aham.
- Tá – sorriu. – Mas, ei, vamo logo prometer que se não der certo, a gente não vai perder nossa amizade. Eu não te aturei por dezessete anos pra depois te perder só porque resolvemos beijar na boca.
- Fechado! – ri, mais que concordando.
- Você me pega às oito na porta do meu quarto? – arqueou as sobrancelhas, ainda sorrindo.
- Te pego a noite toda se deixar – brinquei, beijando o pescoço dela rapidamente.
- Muito babaca mesmo, puta que pariu – ela riu alto. – Agora eu to cansada. Você vai me pagar uma tapioca de café da manhã, viu? Fiquei com fome depois de te procurar a madrugada inteira.
- Eu pago – sorri, voltando a deitar na areia e puxei ela comigo, fazendo se deitar ao meu lado.
- Mandando ver, no vício da batida querendo se envolver no estilo diferente que prende e dá prazer... – ouvi ela cantarolar enquanto olhava para o céu e comecei a rir.
- Sério que você tá cantando isso agora?
- Tá na minha cabeça, ué – ela riu, escondendo o rosto na curva do meu pescoço.
Continuei a rir e beijei o topo da cabeça dela.
- Como eu me apaixonei por você, hein? – perguntei num tom risonho e recebi um beliscão como resposta.
Mas para ser sincero, a pergunta que eu deveria fazer era: Como não me apaixonar?
- Típico... – murmurei, pegando o controle para desligar a televisão.
Dei a volta no sofá e tirei o celular do bolso para tirar uma foto dela toda descabelada e ainda com a cara amassada no travesseiro, e só depois peguei no colo, tentando não acordá-la. O brilho dos postes lá fora que entrava pela porta da varanda e as janelas do corredor permitiam que eu me guiasse pelo apartamento e também me permitiu ver o Cocker Spainel que já vinha correndo na minha direção e que tentava lamber o pé de .
- Brincar agora não, Lady – ralhei, esperando que ela saísse da frente, mas Lady apenas começou a abanar o rabo. – Lady!
E então ela começou a latir e saltitar na minha frente, me impedindo de passar. Eu não suportava essa cadela, ela definitivamente não ia com a minha cara. Tentei passar, mas Lady entrou na minha frente.
- Eu te dou o pacote de biscoito canino todo se você me deixar passar – prometi, tentando convencê-la.
O latido começou a ficar mais alto e do nada acordou assustada, agitando os braços e pernas, me assustando um pouco. Lady decidiu que esse era o momento para girar ao meu redor e, juntando tudo, acabei caindo com no colo e tudo.
- Outch – ela choramingou, alisando atrás da cabeça onde tinha batido na parede. – O que foi isso, ?
- Eu tentando te levar para o quarto e essa afobada entrando no caminho – fiz uma careta, alisando meu braço.
- Eu pedi para a Lady me acordar quando você chegasse – explicou, buscando a cadela. - Você tá bem, chuchu? O Tio te machucou?
Fui obrigado a revirar os olhos.
- Acredite, ela causou mais dano a mim do que eu a ela – e isso era verdade já que meu braço estava latejando por ter batido na mesinha do corredor.
- Deixa de drama, vai – sorriu para mim. – Que horas são?
Olhei para o relógio no meu pulso.
- Onze e meia – respondi, levantando do chão.
- Você voltou cedo – comentou, levantando também.
E eu realmente havia voltado. Eu estava conversando com uma colega de academia de há umas três semanas e hoje ela finalmente teve tempo para sair comigo, mas ficou claro que apesar de até nos darmos bem conversando por mensagem, pessoalmente não rolou química alguma e a conversa foi tão chata que passamos a maior parte do tempo dançando e nos beijando para não termos que falar muito.
- As coisas não deram muito certo com a Patrícia. Nós ficamos, foi legal, mas não rolou nenhuma química mais forte – expliquei, dando de ombros enquanto seguia até meu quarto.
- Poxa, . Pior que você tinha gostado dela, né? – me seguiu até o quarto, se jogando na minha cama.
- Tinha, mas não tinha me apaixonado – dei de ombros, indiferente.
Para ser sincero, todas as garotas com quem eu saía ultimamente não pareciam boas o suficiente e mesmo quando eram, aquelas que era uma combinação perfeita entre sexy, inteligente, divertida e nerd, ainda faltava alguma coisa. Era enlouquecedor e bem frustrante, sem contar que eu não fazia ideia do que faltava, o que só piorava as coisas, mas o problema era meu. Tinha alguma coisa me impedindo. Eu definitivamente estava cansando de procurar por amor.
- Mas mesmo assim, eu sei que você pensou que dessa vez ia.
- Ela era legal, mas não acho que vou sofrer enrolado num edredom com um pote de sorvete igual você fez, só porque não rolou – provoquei, relembrando de um dos casinhos de e de como ela tinha ficado arrasada depois dele ter a dispensado depois de duas semanas.
- Vai se foder, ! – ela riu, arremessando um travesseiro em mim. – Eu não fiquei assim! Eu só estava na TPM.
- Sua TPM durou quase um mês? – olhei-a por cima do ombro, desabotoando minha camisa de botões e jogando no chão.
- Algumas TPM’s duram mais que outras, okay? – retrucou, fechando a cara.
- Se você diz... – ri, tirando os sapatos.
Depois de tirar a calça, me larguei na cama em cima de , que resmungou e começou a me xingar de coisas que eu não conseguia ouvir pois a boca dela estava esmagada contra minhas costas.
- Sai de cima de mim, filho da Tia Nora – ela choramingou, beliscando meus braços, o que me fez rir mais ainda.
- Eu to confortável aqui, . Você não tá? – abri os braços, me esparramando ainda mais.
- Eu vou chutar suas bolas quando eu sair daqui – ameaçou e logo em seguida senti coisas pontudas afundarem nas minhas costas
– Puta que pariu, !
Saí de cima dela rapidinho e caí ao seu lado na cama enquanto ela morria de rir.
- Você me mordeu? – perguntei retoricamente, fazendo careta.
- Mordi! – confessou, sorrindo orgulhosa.
Virei o rosto para olhá-la, tentando parecer indignado por sua satisfação ao me ver com dor, mas ela estava tão perto que apenas encarei seu olhar castanho que eu tanto adorava por ser sempre brilhante e seu sorriso enorme e lindo que deixava seus lábios ainda mais bonitos e totalmente beijáveis. Pera. O quê? Beijáveis? Desde quando os lábios da minha melhor amiga desde os cinco anos de idade eram beijáveis? Quer dizer, eles eram. era maravilhosa, mas não para mim, não nesse sentido pelo menos.
- Por que você tá me olhando estranho? – ela franziu a testa, sentando na cama.
- Porque você é estranha – respondi.
- Você é estranho – balançou a cabeça. – Ei, vamo terminar a maratona de Harry Potter, pelo amor de Odin, ! Você só faz me enrolar.
- Vamo, ué! Sempre que eu te chamo você dorme antes da metade do filme, .
- Porque você só inventa de assistir às duas da manhã, idiota! – ela gritou, colocando as mãos na cintura de modo autoritário.
- Porque é quando nós dois temos tempo ao mesmo tempo, maluca! – retruquei, gritando também.
- Não é minha culpa se conciliar estágio com faculdade esteja me matando! – ela continuou gritando.
- Não to dizendo que é sua culpa! – também continuei gritando.
- Para de gritar! – ela pediu, ainda gritando. – Faz mal para o bebê.
- Que bebê, ? – arregalei os olhos, já assustado.
- Eu! – respondeu baixinho, abrindo um sorriso que podia ser considerado meigo.
Primeiro a olhei como se não acreditasse que ela tinha realmente falado aquilo, depois só comecei a rir porque ela era ridícula. sempre começava essas briguinhas idiotas que acabavam em risos, por isso eu sempre fazia questão de deixar para lá.
- Puta que pariu, você é ridícula demais para ser minha amiga – ri, levantando da cama para sair do quarto e ir para a sala.
- ! – gritou e ouvi um baque e em seguida um choramingo, o que me fez ter certeza que ela tinha caído da cama.
Segurei o riso porque isso era tão comum que eu nem me preocupava mais.
- É meia-noite e dois, ! – ouvi sua voz gritando mais perto e quando senti ela já estava pulando nas minhas costas. – Feliz aniversário, meu pedacinho delicioso de decepção.
- Nossa, você tá comendo o que pra pesar assim? – impliquei, segurando em suas coxas para não deixá-la cair.
- Poxa, eu te dando o seu primeiro parabéns dos 22 anos na hora exata do seu nascimento e você vem falar do meu peso? – ela ficou indignada, o que me fez rir. – Vai se foder, . Você não merece meus parabéns e nem o bolo que eu fiz.
E dito isso, ela pulou das minhas costas e foi dando meia-volta até seu quarto, mas a impedi, a puxando pela cintura.
- Eu tava brincando, meu amor – beijei sua bochecha, mas ela continuou emburrada. – Muito obrigado, viu? Eu odeio ficar mais velho, mas ter uma felicitação maravilhosa como essa sua até vale a pena.
Continuei beijando sua bochecha e a cada beijo, sentia que ela estava prestes a sorrir.
- Você fala isso para todas, idiota – ela murmurou, segurando o riso.
- Só para você, prometo – sorri, dando um último beijo demorado em sua bochecha. – Agora vai, me mostra esse bolo que você fez e vamo tentar terminar de assistir Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban pela quarta vez.
Com um sorriso infantil, se soltou de mim e foi correndo até a cozinha. Minha melhor amiga era uma graça, isso ninguém podia negar. Ela era provavelmente a única pessoa que conseguia fazer birra pra o meu lado e ainda conseguir o que quisesse.
Passei por Lady na sala e fiz uma careta para ela, mas a cadela me respondeu com o que parecia um sorriso. Como o pen drive com o filme já estava na TV, só fiz mudar até aparecer a pasta para escolhermos os filmes.
- Eu só fiz bolo de caneca mesmo, tá? E a louça pra lavar tá te esperando porque eu fiz as unhas quando cheguei da faculdade, não vou chegar nem perto de lá – ela avisou, voltando com o bolo em uma tigela de sopa toda coberta por chocolate e granulado colorido com uma velinha pequena e que eu conhecia por ser uma das velas aromáticas dela.
- O aniversário é meu e eu tenho que lavar a louça? – suspirei, fazendo uma careta. Eu odiava lavar a louça.
- É seu aniversário, mas não quer dizer que você é aleijado, então é bem capaz de lavar os pratos – ela sorriu, caindo no sofá ao meu lado, escorando suas costas no meu ombro. – Vai, apaga a vela.
Ri quando ela acendeu a vela com o isqueiro e o cheiro de cereja logo dominou a sala, mas apaguei a vela com um sopro.
- Agora morde o bolo – tirou a vela e colocou de lado, erguendo a tigela para que eu mordesse o bolo.
- Você vai enfiar minha cara aí dentro – semicerrei os olhos.
- Não vou, não! Onde já se viu estragar um bolo desses com sua cara?
- Eu te mato de cócegas se você fizer isso – alertei e me abaixei para morder o bolo.
Como eu previa, ela empurrou a tigela na minha cara e eu senti a cobertura grudar na minha barba, sobrancelha e nos meus cílios e só não xinguei porque estava ocupado lambendo o chocolate da minha boca.
- Eu vou te matar, você sabe, né? – ameacei, já deixando o bolo de lado.
- É tradição, ! – ela se encolheu no sofá, se cobrindo com um travesseiro.
- Não dou a mínima – puxei o travesseiro de cima dela e, com um gritinho, levantou já pronta para correr, mas fui mais rápido.
Segurei na perna dela e caiu no chão, então corri para cima dela, prendendo seu corpo embaixo do meu e suas pernas entre as minhas enquanto eu fazia cócegas em sua cintura. Ela começou a rir descontrolada, gritando e esperneando. Eu tinha certeza que daqui a pouco receberíamos reclamação pelo barulho, mas pouco ligava já que também estava morrendo de rir.
- ... Para... Por... Favor... – ela pedia quase sem conseguir formar a frase por estar sem ar. – , para!
E eu só parei para segurar seus braços ao lado de seu corpo enquanto passava o rosto no dela para passar nela o chocolate que tinha ficado em mim, mas ela parecia rir ainda mais agora.
- Sua barba faz cócegas, ! Eu to quase fazendo xixi nas calças e vou te colocar pra lavar a calcinha – ela soltou um gritinho no meio do riso.
Não dei a mínima e continuei esfregando o rosto no dela até que meus lábios acabaram batendo nos dela e nós dois paramos de rir. ficou me olhando surpresa, eu fiquei a olhando confuso. Nossos lábios estavam melados de chocolate e eu tive vontade de provar o chocolate no dela só para ver se realmente era tão bom quanto eu achava, mas eu não estava pensando no chocolate e isso me assustou. Era a segunda vez que eu pensava em beijar hoje. O que diabos tinha me dado?
Saí do meu transe quando senti me empurrar para o lado e levantar correndo.
- Não faz mais cosquinha, por favor – ela implorou, toda descabelada.
Ri automaticamente mesmo que ainda estivesse pensando no porquê de eu estar pensando em beijá-la.
- Não faço. O que é seu tá guardado – pisquei para ela. – Vem, vamos assistir logo esse filme.
Depois de lavarmos o rosto, voltamos para o sofá e comemos o bolo desfigurado enquanto assistíamos deitados no sofá. De maneira impressionante conseguiu se manter acordada até o final, mas bastou o quarto filme começar que ela caiu no sono e por estar tão cansado quanto ela, nem levantei para levá-la até seu quarto e ir para o meu, apenas passei um braço por sua cintura para que ela não caísse no chão e acabei dormindo também enquanto me questionava o que estava dando em mim.
- Neném, onde você tá? – perguntou.
Coloquei o celular entre a orelha e o ombro enquanto colocava as sacolas do supermercado no porta-malas.
- Tô saindo do mercado. Não me diz que precisa de alguma coisa... – se pudesse, eu cruzaria os dedos para que ela não precisasse e não me fizesse voltar lá.
- Não preciso não, mas queria te falar uma coisa... – ela mudou a voz, forçando um tom fofinho.
Eu normalmente odiava essa vozinha dela, mas no momento estava achando uma graça.
- O quê...? – fechei o porta-malas e me escorei na porta esperando pela bomba.
- Adivinha, adivinha, adivinha! – ela se animou, ainda com o tom de voz fofo.
- Adivinhar, ? Eu sou péssimo nisso – sorri, fechando os olhos. – Conta logo, vai.
- Vamos aumentar a família, neném!
Soltei um longo suspiro.
- Mais um cachorro? – choraminguei.
Nos últimos seis meses tínhamos cuidado de sete cachorros, doze gatos e até de um cágado. Eu não me importava muito, gostava de animais, mas eles reviravam a casa.
- É seu presente de aniversário, !
- Eu queria um Xbox novo de presente.
- Eu ainda não to alugando minhas partes de senhorita na esquina da rua pra poder comprar isso, – ela falou e tive certeza de que estava revirando os olhos. – Ele é um vira-lata muito lindo que foi resgatado de um lixão e eu já dei até nome pra te poupar de escolher.
Revirei os olhos. Até parece que foi pra me ajudar. Ela adorava colocar nome em tudo.
- E qual é o nome dele, hein?
- Tramp! A Lady agora tem o Tramp. A dama e o vagabundo, vai ser lindo! Eles vão ser amiguinhos e quem sabe até dividam o espaguete, awn, ia ser muito fofo, né? – falou com voz manhosa, com certeza idealizando a cena. – Será que tem espaguete pra cachorro?
- Eu não acredito que você me deu um cachorro só para ele fazer par com a Lady – gargalhei.
- Cachorrinhas precisam de amor também, viu? – retrucou. – Mas foi por você mesmo. E era pra ser surpresa o presente, mas como o Tramp já comeu sua chinela, pensei que você quisesse aproveitar que está no mercado pra comprar outra.
- Eu não acredito nisso, !
- Compra logo e vem para casa conhecer seu novo filhinho – ela falou com a mesma voz fofa e depois de fazer barulho de beijo, desligou na minha cara.
- Eu amo te odiar, ... – balancei a cabeça e já dei meia-volta até o supermercado.
Depois de comprar a maldita chinela, entrei no carro, liguei o som e fui dirigindo pelas ruas iluminadas pelos postes. Não demorou muito até estacionar na minha vaga no estacionamento do prédio e depois de tirar as sacolas, subi até o quinto andar onde era o apartamento que eu dividia com .
Fiz um malabarismo enorme para conseguir abrir a porta e quando finalmente abri, tudo estava escuro, o que era estranho. Deixei as compras no chão e tateei a parede em busca do interruptor. Na mesma hora que as luzes acenderam, meia dúzia de gente brotou por trás da mesa, da varanda e por trás do sofá.
- Surpresa! – gritaram em um coro bem desafinado.
- Feliz vinte e dois anos, ! – gritou, vindo me abraçar. – Não acredito que meu filhote tá crescendo. Eu troquei sua fralda, sabia?
Caí na risada.
- , você só é três anos mais velha que eu. Trocou minha fralda porque minha mãe deixava você me usar como boneco – ri, mas beijei a bochecha dela. – Mas obrigado.
- Mesmo assim, ainda me sinto idosa – ela piscou, se afastando.
- Feliz aniversário, meu garoto! – pulou em cima de mim com um sorriso no rosto. – Eu queria sair de dentro do bolo, mas a esqueceu de encomendar.
- Obrigado, – ri, deitando a cabeça por cima da dele quando o mesmo colocou a cabeça no meu ombro. – Deixo você sair dessas roupas lá no meu quarto.
- Opa, vamo lá – ele riu, arqueando as sobrancelhas sugestivamente.
- Deixem o sexo selvagem para depois da festa e quando eu estiver dormindo e com meus abafadores, tá? – apareceu com um sorriso no rosto e envolveu os braços ao redor do meu pescoço, estalando um beijo demorado na minha bochecha. – Eu sei que eu fui a primeira a te dar parabéns, mas to dizendo de novo. Feliz vida, neném.
- Obrigada, neném – sorri, usando o apelido que ela insistia em usar comigo. – Então, cadê meu Tramp?
- Ele é tão lindo! – os olhos dela brilharam e já me puxou pela mão, ignorando as pessoas que tentavam falar comigo.
abriu a porta do quarto e Lady logo pulou nela, depois um cachorro preto com uma mancha branca ao redor do olho se juntou a Lady, balançando o rabo todo animado.
- Tramp, esse é o seu papai – ela apontou de mim para Tramp e ele se aproximou de mim animado, mas tímido.
- Oi, cara – me abaixei para fazer carinho no cachorro e ele logo começou a me lamber.
- Não é fofo? – sorriu.
E ele até era. Não parecia ser afobado como Lady era, parecia ser calminho, mas animado, assim como eu, então se continuasse assim, poderíamos nos tornar muito bons amigos.
- É sim, – sorri e olhei para ela. – Obrigado.
- Vamos voltar para a sua festa? – ela perguntou, soltando um beijo para os cachorros.
- Não destruam o meu quarto, beleza? – avisei para Lady e Tramp, depois saí com e fechei a porta.
- Eu pensei que a festa seria no pub esse fim de semana – arqueei uma sobrancelha para ela.
- E vai ser, mas eu não consigo não fazer alguma coisa no seu aniversário oficial, então chamei esses seis só para zoar mesmo – deu de ombros, entrelaçando o braço no meu.
- Já posso roubar ele pra dar meus parabéns? – Isabelle perguntou quando voltamos para a sala.
- Opa, é todo seu! – riu, me soltando.
- Ela vive me dando para o pessoal, é incrível – ri e me voltei para Isabelle.
- Você já é todo dado, garoto – ela riu, beijando minha bochecha. – Feliz aniversário!
- Obrigado – sorri, a abraçando de lado. – Você tá bem?
- Tô ótima! – assentiu. – Terminei com o Afonso.
- Sério? – fingi surpresa. O namoro dos dois era tão ioiô que não era surpresa quando um dos dois aparecia falando ter terminado.
- Sim, não dava mais para gente – ela deu de ombros. – Mas eu to super de boa.
Olhei por cima do ombro de Isabelle para o resto do pessoal, vendo que só os íntimos tinham vindo mesmo e eu gostava assim, mas meu olhar se fixou na varanda onde tava falando com Pietro, um antigo crush dela.
- Ah, que ótimo então, Isabelle – sorri para ela, mas voltei a olhar para onde e Pietro estavam.
Ele se aproximou mais dela e falou algo que a fez rir e quando ela se aproximou também, aquilo me incomodou um tantinho. Por que isso tava me incomodando? Eu normalmente riria e zoaria por minha melhor amiga estar flertando com algum amigo meu, mas isso estava me incomodando um pouco e eu não fazia ideia do porquê. Que droga!
- Mas sabe, agora que eu to solteira e você também... – Isabelle colocou a mão no meu braço e umedeceu os lábios carnudos e rosados. – A gente podia sair, sabe?
Alternei o olhar entre Isabelle e , ainda tentando descobrir o que diabos estava realmente dando em mim.
- Claro, claro... – concordei sem nem ter escutado direito o que ela tinha falado.
- Oh, gente, vamos animar isso aqui, por favor – falou. – Fazer casalzinho logo no começo da festa? Faz a rodinha, vamos brincar com um aplicativo que eu tenho. O jogo é uma mistura de “Eu nunca, atreva-se e devil drink”.
- Você é um estraga-esquemas, – Isabelle riu, me puxando para o centro da sala.
- Gostei, gostei – aprovou, vindo sentar perto de mim.
- Já temos as belezinhas também – sentou na roda e colocou as garrafas de tequila e vodka no meio.
- Posso começar? – perguntou, olhando para todos ao redor.
- Pode sim – Pietro falou.
- , beba se não souber qual foi o clube que ganhou a última Champions League – leu, depois olhou sugestivo pra ela.
- Foi o Real, né? – ela fez uma careta.
- Foi – falei, rindo da cara dela por saber que ela detestava o time.
- , beba se não souber os nomes dos filmes de Star Wars – Isabelle leu, pegando o celular da mão de .
- São tantos, socorro – riu. – Tem Star Wars, Star Wars: O Império Contra-Ataca, Star Wars: O Retorno de Jedi, Star Wars: Espisódio I – A Ameaça Fantasma, Star Wars: Episódio II – Ataque dos Clones, Star Wars: Episódio III – A Vingança dos Sith...
- Tá bom, tá bom, entendemos que você sabe – riu.
- Essa é a minha garota! – pisquei para e ela riu, soprando um beijo pra mim.
- Pietro, atreva-se a beber um copinho de vinagre – peguei o celular e li o que dizia.
- Credo – ele fez uma careta e encheu seu copo de vodka. – Prefiro tomar isso mesmo.
- Isabelle, atreva-se a dizer o último filme do Brad Pitt – leu, olhando para a loira.
- Ah, gente, ele é meu crush – Isabelle revirou os olhos. – Foi War Machine.
- , atreva-se a dizer quantos filmes tem de Missão Impossível – Pietro pegou o celular e leu.
- Eu realmente perdi a conta depois do quarto – ri e enchi meu copo de tequila.
- , beba se você não subir e descer as escadas correndo – eu li de novo.
- Eu vou beber mesmo porque levantar daqui não dá para mim – ele riu e já bebeu o que tinha em seu copo.
- , atreva-se a dançar com a pessoa a sua direita. Escolha a musica no modo aleatório – Isabelle leu e já olhou de para mim.
- Vamos rebolar essa bundinha, neném? – riu e levantou do chão, estendendo a mão para mim.
- Que preguiça, ... – fiz uma careta, mas segurei a mão dela e levantei.
- Eu já to colocando a musica, pera... – avisou. – Prontinho.
Quando ele aumentou o volume no máximo, a musica ‘Como não me apaixonar’ começou a tocar e arqueei as sobrancelhas, olhando para . Eu não era lá fã de sertanejo, mas dessa dupla eu gostava.
- Como dança isso? – ela perguntou, colocando uma mão no meu ombro.
- Não sei, vamos só ficar rodando pela sala – sugeri, colocando uma mão na cintura dela e segurando sua outra mão.
- Gente, enviaram um carro de telemensagem para alguém aqui do lado, socorro – começou a rir, olhando pela janela. – Venham olhar isso, pelo amor de Deus.
- Jura? Preciso ver isso – já ia sair correndo, mas impediu.
- Não, terminem a dança primeiro – ele sorriu maldoso.
- A gente dança depois... – falei, também doido pra ver quem estava passando vergonha.
- Não, já começaram, então terminem – Isabelle riu e correu para a varanda com o pessoal, pegando a chave e nos trancando aqui dentro.
- Eu odeio eles – resmungou.
- Eu também – bufei, encostando a bochecha na dela enquanto a musica tocava. – E aí, tava falando o que com o Pietro?
- Ah, nada demais – deu de ombros, seguindo meu passo enquanto andávamos. – Ele tava dando em cima de mim, mas ele não é meu tipo.
- Ah, não? – estreitei os olhos. – Você era afim dele.
- Era, verbo passado. Foi só crush de momento.
- Sei... – sorri com desdém. – Ele parece seu tipo.
- Não é não! – respondeu convicta. – Eu tenho um gosto bem específico.
- E qual tipo é esse? – insisti.
- Para de falar demais, ! – ela ralhou, voltando a me olhar.
Eu ri porque amava o jeito dela falar meu nome quando queria ralhar comigo. Fiz de conta que fechei um zíper na boca e fiquei calado. Ela segurou o olhar no meu, tentando continuar com o olhar severo, mas seus olhos castanhos brilhavam tanto que era impossível ela parecer severa e eu simplesmente adorava isso. Abri um sorrisinho de lado e arqueei a sobrancelha, tentando fazê-la sorrir.
- Para de tentar me fazer sorrir, ! – ela reclamou, virando o rosto.
Apenas ri e a segurei pela mão, afastando nossos corpos. Ergui nossas mãos e fiz girar antes de puxá-la para perto. O sorriso que ela estava segurando logo surgiu e eu fui obrigado a sorrir também.
E era a exata pessoa
E hoje eu na boa começo a gostar
Do seu olhar do sorriso lindo
Do jeito de falar
Eu tentei arduamente não associar a musica que estava tocando ao que eu estava sentindo por no momento. O que eu estava sentindo por ? Eu não tinha sentimentos mais fortes que amizades por ela. O que diabos estava dando em mim? Ela era só . Ela tinha o mesmo sorriso de sempre, o mesmo olhar de sempre e falava do mesmo jeito de sempre, mas por que parecia tão diferente? O que estava diferente nela?
Muda a voz pede pra adivinhar
E no meu aniversário,
Virou meia noite é a primeira a lembrar
E as minhas melhores risadas
Somente você consegue arrancar
Como não me apaixonar
Minha cabeça estava quase o meme da Nazaré com cálculos matemáticos porque eu estava realmente confuso no momento. Por que aquela musica parecia tanto com o que eu tava passando?
- Gente, isso foi hilário! – a porta da varanda abriu e Pietro voltou morrendo de rir. – A menina ficou tão envergonhada nesse mundo que dava para ver a cara vermelha dela daqui.
- Eu tive dó dela, tadinha – Isabelle riu também. – Passei por algo parecido na escola. Não é legal.
- Vocês não nos deixaram ver, né... – reclamou, encostando o queixo no meu ombro.
- Desculpa, linda – riu e beijou a cabeça dela ao passar por a gente.
- Já podem parar, vamos continuar com isso – falou, voltando a sentar no chão.
- Depois que a gente perde a diversão, vocês deixam, né? – reclamei, ficando mais que feliz em me afastar de .
A brincadeira continuou por algum tempo até que a maioria ficou bêbado demais para conseguir e resolveram só conversar. Eu ainda estava meio confuso por tudo aquilo de quando estava dançando comigo, então estava mais quieto.
- Ei, que foi?
Olhei para o lado ao ver se aproximar.
- Por quê? – perguntei, tomando um gole da minha bebida.
- Você tá estranho, menino – ele cruzou os braços.
- Eu to confuso, – admiti, virando para ele.
- Por quê?
- A parece diferente para você? – olhei dele para ela, que estava conversando com Isabelle.
- Não – falou, olhando para ela. – Ela parece diferente para você?
- Um pouco... – talvez muito.
- Diferente como? – perguntou, parecendo interessado.
- Ela faz eu me sentir diferente quando to perto dela agora. Eu não me sentia assim antes. Eu gosto de ver ela sorrindo. Eu sempre gostei, mas agora gosto mais. É muito estranho porque eu quero fazer ela sorrir sempre. Me dá uma sensação gostosinha – passei a mão pelo cabelo. – Mas eu não sei o que é isso! Não sei por que tá diferente se nós continuamos os mesmo. Tem certeza que você não notou nada diferente nela?
Olhei para , mas ele estava me encarando como se estivesse vendo uma espécie rara de animal.
- Que foi? – perguntei.
- Cara, você tá gostando dela? – franziu a testa.
- É claro que eu gosto dela, . Ela é minha melhor amiga – revirei os olhos.
- Não, não. Você tá apaixonado por ela, ?
- Quê? – arregalei os olhos.
- Bom, tá parecendo. Eu fiquei assim com a quando comecei a gostar dela – deu de ombros. – Você tá se apaixonando pela ?
- Claro que não! Ela é minha melhor amiga, nem faz meu tipo... – fiz uma careta sem nem saber o que pensar disso.
- Ah, não? – sorriu malicioso. – Você gosta de garotas divertidas, que te provoquem, que sejam sexy, mas ainda uma boa nerd e ótima para conversar. Parece familiar?
Arregalei meus olhos mais ainda.
- Eu a conheço minha vida toda, cara! Por que isso agora?
- Vai saber – ele riu, batendo no meu ombro. – Você se meteu em uma fria, colega.
- Deve ter outra explicação – rebati, me negando a aceitar que eu estava apaixonado por ela.
- Cara, essa é a mais lógica – deu de ombros. – Se você me apresentar outra teoria, eu super aceito, mas realmente não sei. Quando isso começou?
- Comecei a notar ontem quando me deu vontade de beijar ela, mas não deve ser nada demais.
- , a Ise e o Pietro já tão indo e podem nos dar carona. Vamos? – gritou, correndo até nós.
- Vamos sim – ele falou, beijando a testa dela. – Até sábado, . Pensa no que eu falei.
Voltei para sala para me despedir do pessoal e quando todos foram embora, e eu fomos dar uma arrumadinha na bagunça que tinham deixado. Jogamos fora as caixas de bebida, os pratinhos do bolo e terminamos de comer as coxinhas antes de jogar fora as bandejas de papelão também. Depois disso, fomos cada um para o seu quarto. Ela foi dormir, mas eu sabia que com tanta coisa na cabeça, eu estava longe de conseguir isso.
- !
Suspirei, terminando de subir minha calça de moletom.
- Que é? – gritei de volta.
- Vem cá, corre!
Fechei a porta do guarda-roupa e atravessei o corredor até o quarto de que era de frente para o meu.
- Que foi? – me escorei na porta, cruzando os braços.
- Dorme de conchinha comigo? – ela fez um biquinho infantil.
- Como é? – não consegui conter o riso.
- A me deixou carente depois de falar que ela e o sempre dormiam assim – ela manteve a voz manhosa. – Vem ser minha conchinha, .
- Não vou dormir de conchinha com você, – neguei, ainda rindo. – Você peida, .
- Até parece que você é entupido, ! – retrucou.
- Não.
- Por favor! – ela choramingou, agarrando o travesseiro. – Eu lavo os pratos de manhã.
Estreitei os olhos, realmente cogitando a ideia agora. Eu odiava lavar a louça e o pessoal tinha deixado uma pilha enorme de pratos sujos que eu teria que lavar porque terças-feiras são um dos meus dias de lavar.
- Tá – bufei.
- Eu sabia que tinha um motivo pra você ser meu amigo, menino ! – ela abriu um sorriso enorme.
Voltei ao meu quarto só para pegar meu travesseiro e apagar a luz, depois fui para o quarto de e deitei na cama ao lado dela.
- E aí, como vai ser? – perguntei de má vontade.
- Vira de costas para mim – ela instruiu.
- Eu pensei que eu ia fazer a conchinha!
- Não mesmo – balançou a cabeça. – Eu gosto de agarrar coisas quando durmo, não de ser agarrada.
- Eu te odeio muito, você sabe né? – suspirei, mas virei de costas para ela.
- Você me ama, isso sim.
chegou pertinho de mim e jogou uma perna por cima da minha cintura, depois um braço por baixo do meu braço e ainda encostou a cabeça no meu ombro.
- Nossa, é muito gostosinho dormir assim com você – ela praticamente ronronou.
Soltei um riso nasalado.
- E a luz? – perguntei. – Eu não vou apagar não.
- Poxa, . Você tá mais perto da porta.
- Se eu tiver que levantar, você lava a louça do almoço também.
- Eu te odeio – ela resmungou e foi apagar a luz.
Quando ela voltou e se enroscou em mim de novo, belisquei de leve sua coxa pra implicar, mas recebi um chute como retaliação e resolvi ficar quieto. Eu estava cansado e precisava acordar cedo pra o trabalho, mas não consegui dormir nem tão cedo.
A respiração quente dela batia no meu pescoço, sem contar no cheiro e no contato. O que havia sugerido estava na minha cabeça e, por mais que eu odiasse e não fizesse ideia de como tinha acontecido, a cada segundo isso se tornava mais claro.
- ? – ela murmurou, parecendo sonolenta.
- Oi – respondi.
- Obrigada por dormir comigo – falou, beijando meu ombro.
E foi com aquele beijo no meu ombro, e que fez minha pele formigar, que eu tive certeza e toda a incerteza ficou definitivamente para trás.
Eu estava apaixonado por .
- Quem vai comigo pegar os clones? – perguntou, levantando da mesa.
- Eu te ajudo – me voluntariei, indo com ela.
Sábado tinha chegado quase se arrastando e eu tinha feito o impossível pra evitar durante esse meio tempo. Eu ainda estava confuso com os recém descobertos sentimentos por ela. Na verdade eu ainda nem sabia se estava realmente apaixonado por ela. Aquilo era confuso demais! Mas de qualquer forma, acabei me afastando e a semana corrida ajudou. Hoje mesmo, agora, inclusive, eu ainda estava fugindo dela.
Já havia levado Isabelle pra dançar duas vezes, ido ao bar sempre que alguém pedia alguma coisa, ido ao banheiro mesmo sem precisar e tirado outras duas meninas para dançar mesmo que meio aleatoriamente, isso só para não ficar perto de e eu sabia que estava sendo idiota por isso, mas eu não sabia o que fazer.
- Você tá muito calado, – comentou, me olhando por cima do ombro.
- Muita coisa na cabeça – falei vagamente.
- É por que você tá gostando da ? – perguntou, chegando até o balcão do bar.
- Até você manjou isso? – fiz uma careta.
- O me contou – abriu um sorrisinho culpado. – Fala com ela!
- Claro que não! Não quero as coisas estranhas entre a gente.
revirou os olhos.
- , é da que a gente tá falando. Ela é tão de boa com isso e vocês são tão amigos que duvido que ficaria estranho entre vocês – ela falou, acenando para o barman. – Dois clones de cerveja, por favor.
- Mas eu tenho medo que eu fique estranho! Eu já to – suspirei, coçando a barba.
- Você tá estranho porque isso é novidade e você não sabe como agir – deu de ombros. – Mas eu tenho certeza que falar para a iria ajudar. Sério, fala com ela.
- Não! – cruzei os braços, determinado. – Falar o quê? “Oi, . Olha, to apaixonadinho por você, e aí, quer dar uns beijos?”
- Assim não, idiota!
- Talvez se eu não pensar muito, isso pare.
- Não é assim tão fácil.
Nessa hora o garçom chegou com os baldes de cerveja e entreguei a notinha para ele acrescentar na mesa, depois já peguei e fui andando na frente de .
- Não me ignora, ! – reclamou. – Fala pra ela.
- Tá bom, , tá bom... – suspirei.
- Eu sou mais velha que você, me respeita! Nem vem com esse desdém pro meu lado.
- Você é três anos mais velha que eu – lembrei.
- Mesmo assim – ela sorriu, esbarrando o ombro no meu. – Mas agora é sério, . Fala para ela. Talvez ela tenha algo pra te dizer também.
Franzi a testa e estava prestes a perguntar o que isso significava, mas chegamos até a mesa. Coloquei um dos baldes na mesa e sentei ao lado de .
- Você contou pra ? – arqueei uma sobrancelha pra ele.
- Só porque eu pensei que poderia te ajudar – se defendeu.
- Posso falar com você, ? – perguntou, não parecendo muito feliz. – Isso não foi um pedido.
- Claro... – fiz uma careta descontente, mas levantei do banco.
Passei na frente dela para a saída do pub e fui para um lugar mais calmo e com menos gente.
- E aí? – perguntei.
- Você tá me evitando. O que foi?
- Não to te evitando – menti.
- Claro que está! – retrucou. – Eu pensei que estava só meio paranoica, mas a Ise veio perguntar se a gente tinha brigado.
Dei as costas para ela e caminhei uns passos mais para frente.
- É coisa da cabeça de vocês, . A semana só foi corrida... – voltei a enrolar.
- Meu pau que é coisa da minha cabeça! – ela reclamou. – O que diabos tá acontecendo com você, ? Você tá muito estranho comigo a semana inteira! – falou, vindo atrás de mim. – É por que eu peidei enquanto dormia? Porque se for isso, é a maior besteira. Você às vezes tem CC e eu sou obrigada a aguentar! Eu não vou te fazer dormir comigo de novo. Eu só tava carente! Eu prefiro dormir com meu travesseiro.
Eu sabia que não era hora pra rir, mas não me segurei. Era muito engraçado que ela achasse que esse era o motivo.
- Não foi por isso, – garanti, ainda de costas para ela. – Antes fosse isso.
- E o que foi? – ela perguntou e ouvi seus passos se aproximando de mim. – Eu não me lembro de ter feito nada demais com você. Eu to muito grudenta? Porque se for isso você pode falar também. Eu sei que eu sou uma carente eterna, mas você não precisa tá me aturando sempre porque eu sei que eu passo dos limites e...
Antes que pudesse terminar o monólogo, virei rapidamente e, sem pensar muito, me aproximei dela, segurei seu rosto entre as mãos e a beijei. Ela arregalou os olhos e suas mãos que não paravam de gesticular, caíram ao lado de seu corpo. Os olhos dela fecharam e os meus também e nem sei ao certo quanto tempo ficamos ali, só com os lábios juntos. Me afastei lentamente e quando abri os olhos, os dela ainda estavam fechados.
- É por isso que eu to estranho, . Porque eu to apaixonado por você e eu não vi isso acontecendo. Só percebi porque o levantou a hipótese, senão eu ainda estaria louco procurando o que mudou em você pra que do nada eu começasse a gostar do seu olhar, do seu sorriso lindo e até do seu jeito de falar. Foi estranho e eu fiquei confuso. Eu ainda to e por isso eu precisei te evitar pra poder clarear as ideias. – desabafei, abrindo os braços. – E eu não queria estragar nossa amizade e pensei que se ignorasse, talvez eu descobrisse que era coisa da minha cabeça, mas a insistiu pra eu te falar e minha cabeça tá a mil e você tá tão linda hoje que eu não aguentei!
ainda parecia estar em choque, ela nem piscava. Eu não a culpava. Era informação demais até para mim.
- Eu não quero que a nossa amizade fique estranha, tá? Então ignora isso, por favor – suspirei, deixando meus ombros caírem. – Eu vou para casa, preciso... Só preciso. Depois eu acerto a conta com vocês.
Dei as costas para ela mais uma vez e depois atravessei a rua até onde meu carro estava estacionado. Assim que liguei o motor, olhei para o lado e vi olhando para cá. Desviei o olhar e manobrei para sair da vaga, pronto para ir embora.
- ! – ouvi gritar.
Mas eu não parei para saber o que ela queria. Só precisava de um tempo depois de tudo isso.
Eu tinha acabado na praia ao invés de ter ido para casa. Agora era quase cinco da manhã e o sol estava nascendo no horizonte. Meu celular estava largado ao meu lado e eu já tinha ignorado tantas ligações e mensagens que havia perdido a conta.
Eu já havia me apaixonado antes e com certeza me apaixonaria depois, mas nenhuma das vezes eu tinha me sentido tão confuso quanto estava agora. Provavelmente o motivo de tanta confusão fosse ser minha melhor amiga e talvez o problema maior fosse eu conhecê-la tão bem, quase até melhor que ela mesma, mas ainda não ter ideia do que ela faria com essa informação.
- Aí está você!
Estreitei os olhos, incrédulo ao ouvir a voz de . Virei para o lado, vendo que ela vinha em minha direção com os saltos na mão. Ela se largou ao meu lado e me olhou com um misto de raiva e alguma coisa.
- Como você me achou? – perguntei.
- O me ajudou a rastrear seu celular. A propósito, expecto patronum é uma senha óbvia – ela sorriu.
- Expecto patronum é uma ótima senha – rebati, sorrindo um pouco.
- Vamos conversar, – ela virou para mim, encolhendo as pernas. – Eu entendo sua confusão, sério. Lembra de quando você começou a sair com a Perua?
- É Perrie, – corrigi, sorrindo mais agora.
- Tudo a mesma coisa – ela deu de ombros. – Então, eu não gostava disso. De ver vocês juntos. Eu nem sabia o porquê! Ela era ótima e vocês eram fofos, mas me incomodava. Eu pensei que fosse ciúmes de amigos, coisa normal, mas depois eu percebi que talvez eu estivesse só com ciúmes porque eu queria estar no lugar dela.
Minhas sobrancelhas provavelmente chegaram na nuca e meus olhos se tornaram duas bolas de futebol de tão surpreso que eu fiquei com a confissão dela.
- E realmente estava com ciúmes porque queria estar no lugar dela. Foi estranho e muito confuso descobrir que tava realmente gostando de você assim. Quem em sã consciência gostaria? Com certeza eu não, afinal, te conheço há dezessete anos e sei cada mania sua que qualquer namorada ficaria com nojinho – ela continuou. – E foi ainda mais terrível perceber isso porque você tava ficando sério com a Perrie. A única que sabia era a e ela me ajudou muito. Eu te superei. Eventualmente o sentimento desapareceu, mas eu tive várias recaídas durante o processo, até depois, e ainda tenho! Se eu não consigo esquecer cara babaca tão fácil, imagina superar o que eu sentia por você quando você é todo maravilhoso comigo!
Eu, no momento, provavelmente estava com a maior cara de peixe morto, assim como tinha ficado com a minha declaração antes. Como assim ela também tinha gostado de mim? Agora não gostava mais, era isso?
- ... – tentei falar, mas ela me interrompeu.
- Ainda não terminei, espera – falou. – E você dizendo tudo aquilo ontem e me beijando foi um momento de recaída. Você não pode chegar lá e oferecer uma dose de tequila para um alcoólatra que ainda tá começando a parar de beber, . Eu agora também fiquei confusa.
Fiquei só encarando e ela me encarando de volta, nós dois perdidinhos. Fazia menos de uma semana que eu havia descoberto estar apaixonado por ela e, na mesma semana, ainda descobri que ela tinha se apaixonado por mim antes, mas no momento não sabia mais o que sentir. Por que éramos tão complicados?
- O que a gente faz agora? – perguntei.
- Quer tentar me beijar para gente ver no que dá? – deu de ombros, parecendo insegura com a sugestão.
- Tá... – falei, tão seguro quanto ela. – No três?
Ela assentiu.
- 1...
Ela contou e se arrumou na areia, se ajoelhando e chegando mais perto de mim.
- 2...
Contei dessa vez, também me ajoelhando para ficar mais perto dela. Coloquei a mão em sua cintura e fixei o olhar no dela.
- 3! – ela contou.
Mas na hora que nos aproximamos para beijar e nos olhamos assim de perto, desatamos a rir.
- Isso é muito estranho, socorro! – ela riu, segurando nos meus ombros.
- Demais! – concordei, rindo junto.
- Contar não dá certo – disse, ainda parando de rir.
Uma brisa mais forte fez com que o cabelo dela voasse para frente do seu rosto e a fizesse rir ainda mais. Ela era literalmente dessas que ria com o vento batendo na cara. sempre dizia que fazia cócegas. Quando a brisa acalmou, afastei delicadamente uma mecha que estava em seu rosto para trás da orelha e outra que havia ficado mais ou menos presa entre seus lábios.
Coloquei a mão na bochecha dela e, usando o polegar daquela mesma mão, afastei os fios de seus lábios e meu olhar se fixou lá. O riso dela parou e quando voltei a olhar para ela, estava olhando para mim. Aproximei minha boca da dela e, sem contagem alguma, nos beijamos. Dessa vez ninguém riu.
Suas mãos pareciam hesitantes, mas foi só eu segurar em sua cintura e a trazer para mais perto que elas logo encontraram um rumo. Enquanto uma se enfiou nos meus cabelos, a outra ela manteve no meu ombro. Os lábios dela eram macios e ela tava com gosto de cereja na boca, provavelmente de pastilha. E, cara, ela beijava demais! Bem que meus amigos haviam falado.
- Nada mal, – ela sorriu contra os meus lábios, finalizando o beijo com um selinho.
- Um pouquinho mais de prática e você chega lá – zombei, apertando a cintura dela.
- Idiota! – riu, estalando o dedo na minha testa. – E agora?
Dei de ombros.
- Quer sair comigo hoje à noite?
- Tipo um encontro?
- Aham.
- Tá – sorriu. – Mas, ei, vamo logo prometer que se não der certo, a gente não vai perder nossa amizade. Eu não te aturei por dezessete anos pra depois te perder só porque resolvemos beijar na boca.
- Fechado! – ri, mais que concordando.
- Você me pega às oito na porta do meu quarto? – arqueou as sobrancelhas, ainda sorrindo.
- Te pego a noite toda se deixar – brinquei, beijando o pescoço dela rapidamente.
- Muito babaca mesmo, puta que pariu – ela riu alto. – Agora eu to cansada. Você vai me pagar uma tapioca de café da manhã, viu? Fiquei com fome depois de te procurar a madrugada inteira.
- Eu pago – sorri, voltando a deitar na areia e puxei ela comigo, fazendo se deitar ao meu lado.
- Mandando ver, no vício da batida querendo se envolver no estilo diferente que prende e dá prazer... – ouvi ela cantarolar enquanto olhava para o céu e comecei a rir.
- Sério que você tá cantando isso agora?
- Tá na minha cabeça, ué – ela riu, escondendo o rosto na curva do meu pescoço.
Continuei a rir e beijei o topo da cabeça dela.
- Como eu me apaixonei por você, hein? – perguntei num tom risonho e recebi um beliscão como resposta.
Mas para ser sincero, a pergunta que eu deveria fazer era: Como não me apaixonar?
Fim.
Nota da autora: Essa musica é super xodó e eu amo ela com todo meu coração, então me esforcei ao máximo para fazer bonito, portanto espero que vocês tenham gostado tanto quanto eu! Não deixem de comentar. Beijos!
Nota da beta: Ahhhh que amorzão!!!! Eu quero um melhor amigo assim, quero me apaixonar assim, quero ser essa pp, socorro!! Amei a fic, ficou tão perfeita e fez tanto jus a música. Parabéns, Dany!! Xx-A
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Nota da beta: Ahhhh que amorzão!!!! Eu quero um melhor amigo assim, quero me apaixonar assim, quero ser essa pp, socorro!! Amei a fic, ficou tão perfeita e fez tanto jus a música. Parabéns, Dany!! Xx-A