06. Don't Leave Me Alone

Finalizada em: 13/03/2023

Capítulo Único

— Já respondeu o e-mail?
— Estou terminando o contrato do musical, ainda não parei para ver isso!
— Tá, assim que terminar, responda o e-mail por favor! O contratante já ligou três vezes, está enchendo o saco por causa da agenda.
— Ele é o alecrim dourado do mainstream por acaso?
— Ronna…
— Tá, tá! Que porre. Preciso de uma cerveja.
— Eu ouvi happy hour depois do trabalho?
— É por isso que eu sou sua sócia, na moral. Te amo, !
— Eu também, mocreia. Termina essa joça logo que eu estou contando os minutos para o sextou!
— Tu bem que poderia responder esse e-mail, hein?
— Eu!? Mas foi você quem fechou com ele!
— É, eu sei! Mas se você acompanhar as mensagens anteriores, dá pra entender qual é o contexto. Vai lá, quebra essa pra mim! Confio totalmente na sua decisão.
— Porra, Ronna… Tenho medo de fazer merda!
— A merda é nossa amiga antiga, cara! Vai com medo mesmo! Nem parece que comeu o pão que o diabo amassou…
— Eu só não quero continuar comendo, né!
— Confie em você mesma que eu também confio, meu chuchu.
— Você é muito manipuladora, cara. As cervejas são por sua conta.
— E você é muito vigarista! Marx teria vergonha de você!
— Às 18h lá em casa. Não se atrase.
— Tá, tá… Sue deve sofrer contigo.
— Eu ouvi isso!
— Tchau, !!!

riu mais uma vez da amiga e parceira de negócios, achando graça em como ela sempre conseguia enrolá-la. Era sempre a mesma história, mas de alguma forma, aquilo acabava dando certo; até porque odiava ligações longas, e esse departamento era todo de Ronna.
Ao abrir uma nova aba no navegador da internet, Noe deu de cara com as notícias e se permitiu saber sobre as fofocas antes de mergulhar de volta ao mundo dos e-mails.
— Meu Deus, gente, a galera mira na harmonização fácil e acerta na reencarnação do belzebu… — ela comentou em voz alta, analisando o rosto modificado de celebridades que, segundo seu ponto de vista, não tinham a mínima necessidade de realizar aquela façanha.
Mas, quem era ela para julgar, não é mesmo?
— Cada um faz o que quer — respondeu a si mesma, dando de ombros, quando ouviu o barulho de chaves na porta. Conferiu o relógio de parede e sorriu, já prevendo quem era.
— Cheguei! — A voz da adolescente invadiu a sala, e mesmo de longe, conseguiu ouvir o som alto saindo dos fones da menina.
— Oi, meu amor! Vem cá me dar um beijo! — sorriu para a filha, que veio a passos largos e logo concedeu o pedido materno. — Como foi seu dia?
— Bom. Recuperei a nota de biologia num teste surpresa — Sue sorriu, mostrando o aparelho ortodôntico na cor lilás, e fez um joínha com a mão, arrancando um sorriso genuíno da mãe.
— Ah, jura? Que ótimo, filha! Arrasou! Foi difícil?
— Não, porque eu estava frustrada e só de raiva estudei bastante sobre células e mitose. O professor até elogiou meu desenho de mitocôndria… — Ela fez cara de convencida e riu, se divertindo com a fala.
— É isso aí, gostei de ver. Fico feliz por você, parabéns! Acho que isso pede um sorvetinho mais tarde, o que acha?
— Sério? Sorvete mais de uma vez na semana?
— É uma ocasião especial, não se acostume. Então, combinado?
— Claro! — Sue exclamou com um pulinho — Que horas?
— Umas 17h, que aí dá tempo de finalizar as coisas aqui no trabalho… E enquanto isso, você também aproveita e estuda mais um pouco.
— Ah, mãe! Sério?
— Sim! Porque em matemática as coisas não estão tão boas, né? Sem reclamação, se não, sem sorvete!
— Isso pode ser considerado maus tratos, sabia? — riu da audácia de Sue. Era mesmo muito sua filha (e tinha um tanto de Ronna também. A convivência é um caminho sem volta…)
— Bom, então que tal você tirar essa roupa, tomar um banho refrescante e esquentar a comida que está pronta na geladeira? Eu termino aqui e a gente almoça junto. Depois cada uma vai se dedicar às suas responsabilidades e mais tarde… sorvete!
— SORVETE! — Sue exclamou alegre, e abraçou a mãe ligeiramente, já se dirigindo para o banheiro, cantarolando a música que ainda tocava de seu celular.
A sombra do sorriso ainda permaneceu nos lábios de quando ela se virou para o laptop — entretanto, sua feição logo mudou ao ver a timeline do twitter aberta.
Def. First Exhibition
ALONE.

2020.10.06 TUE ~ 2020.10.12 MON

#ALONE
#Def_First_Exhibition


— Ai meu Deus — A voz de saiu falha, e o coração deu um salto dentro do peito. Seus dedos logo clicaram no ‘play’, e como num passe de mágica, o homem começou a falar sobre o mais novo projeto de sua carreira.
Obviamente, não conseguiu prestar atenção em nada.
As palmas das mãos suaram, a garganta ficou seca, e ela esqueceu sobre como aquele filho da mãe era bonito.
Até o tom de voz utilizado parecia perfeito com toda a presença e irreverência que o rapaz apresentava.
— Meu Deus… — ela sussurrou, depois que o vídeo acabou. Deixou os dedos deslizarem pela tela, e um filme passou em sua cabeça.
Imagens de uma noite muito conturbada, com um desfecho inesperado, e um tanto especial.
Contudo, o dia seguinte foi a maior queda de salto que ela já vivenciara.
Não deixou telefone, não deixou bilhete.
Nem sequer deixou recado na recepção.
Ela apenas acordou, pegou suas roupas, e, assim, saiu da vida de Def e nunca mais teve qualquer contato com ele. Nesse meio tempo fugiu como pôde de situações e convenções sociais que pudessem proporcionar um reencontro, mas a verdade é que quanto mais o tempo passava, mais percebia que sua fuga nem tinha tanto sentido.
No fundo, ela sabia: era medo de se entregar para algo maior, que não tivesse a retribuição desejada. Estava receosa demais devido às suas próprias experiências amorosas que, junto com as dificuldades da vida, tornavam mais desacreditada de qualquer coisa que parecesse bom demais para ser verdade.
Só havia um grande detalhe nisso: tudo o que viveu com Def foi real.
Tão real e tão bom.
De toda forma, era tarde para se arrepender de qualquer coisa. Quer dizer, que tempo teria para de dedicar a um relacionamento? Isso contando com o fato de que ele estivesse a fim disso também. Em meio às responsabilidades de ser uma mãe solo, independente e deveras profissional, será que havia espaço para o amor na vida de ?
Ou será que ela tinha se convencido de que o amor simplesmente não era para ela?
Essas e outras indagações se perderam no vento, no olhar que acompanha a fumaça da xícara de café fumegante que bebia diariamente.
Não é como se arrependesse totalmente de suas decisões também.
O trabalho decolou, se lançou no mercado de eventos com Ronna, finalmente reformou a sua casa, e conseguiu dar melhores condições para a filha, que agora já era uma adolescente.
era uma pessoa dedicada, decidida, e um tanto sobrecarregada, era verdade. A maternidade era em tempo integral, uma vez que o progenitor de Sue mal assumia seu papel de pai, estando muito mais ausente do que presente na vida da filha.
Por um lado, até preferia assim, já que a cada novidade do ex-marido, ela tinha mais certeza do quão desprezível ele poderia ser. A última notícia vinda dos vizinhos foi que ele se casou novamente, mas estava fazendo com a atual tudo o que fez com ; engravidou a mulher e mal saía de casa, fosse para trabalhar em algum bico ou emprego temporário.
Certas coisas realmente não mudavam, mas se pudesse, se soubesse que seu ex sempre foi essa pessoa, teria feito diferente… Sue não merecia um pai como aqueles. Além disso, mesmo amando sua filha incondicionalmente, era fato que maternar integralmente a deixava cansada, sem tempo de respirar ou pensar em outras configurações nas que ela pudesse relaxar.
Ou pelo menos era assim que ela pensava.
Ronna sempre reclamava sobre o quanto ela fugia de possíveis compromissos ou pessoas legais, que pudessem proporcionar momentos bons ao lado de . Mas a mãe de Sue estava cansada demais — era sempre essa a justificativa.
A questão era: estaria apenas cansada fisicamente, ou aquilo estava mais relacionado ao fato de se cansar, só de pensar na disposição emocional e afetiva para se estar com alguém?
Depois de tantos machucados, só queria ficar em paz.
Contudo, a paz tem muito de uma alegria interna, de bons sentimentos para consigo mesmo.
E no fim das contas, sabia que algumas coisas não estavam bem digeridas dentro de sua própria mente. E talvez, apenas talvez, isso tivesse a ver com uma decisão que tomou naquela fatídica manhã silenciosa, na qual se despediu de Def para nunca mais encontrá-lo até então.
— Cinco anos… Como o tempo passa! — Uma expressão nostálgica desenhou seu rosto, e se permitiu fechar os olhos, lembrando dos momentos que viveu com o artista.
O atropelamento, a conversa, o beijo.
O reencontro, a apresentação, a decepção.
Mais uma conversa, um convencimento e… a entrega.
A entrega aos desejos que pulsaram e incendiaram aquele quarto tão escuro quanto aconchegante.
Naquele momento, não estava nem aí.
Arrepiava só de lembrar dos toques, dos gemidos, dos assuntos trocados e das vezes repetidas, como se não houvesse amanhã…
Mas teve.
O que é bom chega ao fim, como tudo na vida. Pelo menos era disso que ela se convencia ao sair daquele hotel, descabelada, com a maquiagem roubada, e um sorriso desgraçado no rosto.
Estava tão certa de si que disse adeus ao rapaz em completo silêncio, certa de que aquilo era o melhor para os dois. Entretanto, o que começou com um pingo de arrependimento acabou tomando uma parte importante de si. Ela tentava tapar esse buraco com outras distrações; hobbies, trabalho, maternidade, estudos, pessoas, amigos, romances, séries…
Contudo, aquelas memórias estavam guardadas com muito cuidado no fundo de sua mente. E agora, como um passe de mágica, ao ver aquela postagem na página oficial do GOT7, tudo era revivido com facilidade.
suspirou, soltando o ar dos pulmões como se quisesse desfazer de todos aqueles sentimentos que lhe atordoavam.
Apoiou a cabeça nas mãos enquanto fechava os olhos com força, percebendo o inevitável: havia subestimado a parte de si que queria ter deixado um telefone.
Uma mensagem.
Um sinal de vida.
Subestimou a parte de si que não queria ter ido embora.
Abriu os olhos, apoiando o queixo nas mãos e encarando aquela postagem.
— Agora é tarde, querida. Ele está simplesmente do outro lado do mundo e não há nada que possa ser feito.
— Está falando sozinha? — Sue a surpreendeu ao parar ao seu lado, penteando o cabelo molhado.
deu um pequeno sorriso, dando de ombros.
— Você não sabe que eu falo sozinha, meu bem?
— É, eu sei. Você diz que às vezes precisa entrar em reunião com você mesma.
— Exatamente! Às vezes precisamos de uma assembleia na mente para analisar algumas questões da vida, sabe?
Sue fez uma cara engraçada e parou de pentear o cabelo, olhando para a mãe com uma sobrancelha arqueada.
— Às vezes você pensa demais. Eu quase consigo ver a fumaça saindo da sua cabeça… — E fez desenhos no ar com os dedos, tirando risadas da mãe.
— E eu acho que você está convivendo demais com sua tia Ronna. Ela diria exatamente isso!
— Sabe o que ela diria também? Que está na hora do almoço e você está enrolando aí, querendo trabalhar mais um pouco enquanto seu corpo precisa de energias. Vamos? Já está esquentando no microondas.
E assim, Sue saiu andando dali como quem não tivesse acabado de puxar a orelha da própria mãe. sorriu com a atitude da filha e ao se levantar, olhou pela última vez para o laptop.
Mordeu os lábios inferiores e fechou o aparelho, sacolejando a cabeça, tentando colocá-la no lugar.
Mãe e filha se alimentaram bem, trocaram mais palavras, e logo mais seguiram para suas próprias responsabilidades.
teve dificuldades em se concentrar no trabalho; aquela notícia do GOT7 estava assombrando mais do que qualquer coisa. Não tinha conseguido nem fechar a aba do navegador de internet!
Felizmente, com um pouco mais de ódio do que de costume, conseguiu finalizar as tarefas do dia — e finalmente enviou o e-mail que Ronna tinha se negado a mandar, por pura preguiça de lidar com o contratante, mas… se as cervejas eram por conta da amiga, estava valendo a pena, não é?
Pouco depois das 17h, com o frescor do recente banho, desceu com a filha para tomarem sorvete, conforme o combinado.
Sue tagarelou sobre os novos ídolos de kpop e como estava ansiosa para a turnê mundial. Até convenceu a mãe de que comprariam um cofre para juntar moedas para os ingressos, porque no caso, seria um programa de mãe e filha, com custos dobrados e nada baratos.
— Mas ainda não tem data marcada…
— Mãe, você acha que eu vou juntar dinheiro do nada?
— Filha, e se eles só vierem daqui há dois anos?
— Então eu vou ter dinheiro para a pista vip!
riu, ajeitando um fio de cabelo de Sue.
— Vamos torcer para que você não tenha um piripaque de ansiedade até lá, não é?
As risadas das duas foram interrompidas pelo toque de celular da mais velha.
— Oi, amiga!
— Você está aonde?
— Eu estou aqui embaixo tomando um sorvete com a Sue. Já está chegando?
— Querida, eu já estou colocando as cervejas na geladeira! Não me viu passando não?
esbugalhou os olhos, surpresa.
— Pior que não! Eu deixei a chave reserva com você?
— Não, estava embaixo do vasinho de planta, como sempre… Vem logo! Eu trouxe guacamole.
— Nossa, que delícia!
— O quê? — Sue perguntou, terminando o sorvete.
— Sua tia Ronna está lá em casa. Trouxe guacamole.
— Oba! — e se levantou, jogando fora o copinho usado.
— Você acabou de tomar sorvete, Sue!
— E daí? Eu estou em fase de crescimento!
— Não, não! Não quero você passando mal!
— Deixa a menina! — Ronna disse do outro lado da linha.
— Ronna!
— Tá vendo? Tia Ronna deixa! — Sue argumentou e rolou os olhos.
— Se você passar mal, é ela quem vai ao hospital com você. Quero dormir em paz hoje! — disse, apontando o dedo para a filha, logo depois respondendo ao telefone — Estamos subindo, mocreia. Aguenta aí.
— Traz doritos!
(***)
— E então eu disse: “Você realmente acha que eu contabilizei errado? Dê uma olhada no último anexo e confira as informações que você me passou!”. Aí o cara fez isso e ficou com o rabo entre as patas. É mole!? Jogando a responsabilidade para cima de mim? Logo eu, a rainha do excel?
— E aí? — deu uma risada de lado, depois de dar um gole na sua cerveja.
— Aí as coisas fluíram. Ele pediu mil desculpas pelo equívoco, e tudo mais, mas eu segui fria e seca.
— Sério? E amanhã, você não tem reunião com ele?
— Sim, mas aí são outros quinhentos. Hoje é hoje, e eu estava seca por um momento assim com a minha parceira de trabalho! — Ronna sorriu e tintilou sua cerveja na de , arrancando sorrisos da dona da casa.
— Mãe, posso ir na casa da Frida? — Sue apareceu com o celular na altura do ouvido, como se estivesse falando com alguém — O álbum do BTS chegou e eu quero ver!
e Ronna se entreolharam cúmplices e a mãe de Sue encarou o relógio na parede.
— Tá certo, mas você tem que estar aqui no máximo 20:30, entendeu?
— Não pode 21h? — Sue sorriu forçadamente e só arqueou uma sobrancelha — Por favor, mãe!
— Não, Sue. 20:30 tá de bom tamanho! Não insiste!
— Tá bom… — A mais jovem rolou os olhos e curvou a postura, como se sentisse derrotada.
— E se reclamar eu te chamo às 20h hein!
— Ai, tá bom! Não precisa ser carrasca! — E saiu correndo porta a fora, deixando Ronna e sozinhas com pequenas gargalhadas.
— Você sabe, ela é só uma adolescente querendo gritar por garotos famosos… — Ronna pontuou, bebericando sua cerveja.
— Amiga, ela está na casa dos outros, sabe que não gosto que extrapole!
— Tá, beleza, mas você acha que ela vai conseguir ver tudo do álbum novo? Elas vão ficar procurando algum photocard que dê pra ver mais do corpinho dos ídolos!
— Ronna! — ralhou, bebendo cerveja.
— Isso quando não derem a sorte de vazar um nudes deles.
— Ronna!!! — fez cara feia, mas isso não impediu a amiga de continuar falando.
— Ainda mais se for o NCT, são 23 integrantes, sabia? É piroca até dizer chega.
— Veronna! — E deu um tapa no ombro da amiga, que se defendeu com as mãos erguidas.
— O que foi? É só curiosidade, não é nada demais! A gente tinha que ficar acordada até de madrugada pra ver uma piroquinha que fosse, maior tristeza…
— E veja só no que deu… — apontou para a amiga, que riu em contrapartida.
— Eu sou a tia que vai dar o papo reto pra ela, tá?
— Só que ela ainda é uma criança!
— Tá achando que eu vou chegar com um vibrador do tamanho de uma berinjela nas mãos e dizer “Sue, feliz aniversário!”? Tá maluca? É claro que eu sei que ela é uma criança. Uma adolescente, na verdade. Só que essas coisas precisam ser conversadas, de acordo com a idade, claro…
— É, eu sei.
— E eu não estou passando a sua frente não! Fica tranquila, eu estarei aqui se precisar. Só troca essa ideia com ela, quando, você sabe, ela começar a dar os sinais…
— É… eu sei. Já até passou pela minha cabeça que ela tem um crush nessa Frida, sabia?
— Uh, jura? — Ronna fez cara de surpresa e acenou com a cabeça, dando um gole na cerveja.
— Juro. Mas eu não sei, da última vez que conversamos, ela gostava de um garoto da série acima da dela. Não sei o que aconteceu, mas de uns tempos pra cá, ela não fala mais dele. Mas vive falando da Frida!
— Eeeeeeita. E aí?
deu de ombros.
— E aí que pode ser só a euforia de uma grande amizade. Pode ser que ela goste mesmo dessa menina. Eu só não quero que ela seja precoce, sabe?
— Não acho que seja o caso… Sue é bem de boa, acho que ainda está mais na fase de um amor platônico do que sexual, não sei. Mas você sabe que paixonite nessa idade é normal, né?
— É… Eu também fico muito tranquila com os pais da Frida. São gente boa, já conversamos sobre o desafio de se ter uma adolescente dentro de casa e, como a Frida vem aqui também de vez em quando, estamos sempre alerta para caso algo aconteça. Mas o que me deixou mais calma foi a perspectiva deles. A gente sabe que na nossa época era muito mais na crítica e na porrada do que no diálogo. Então tanto eu quanto eles já estabelecemos esse combinado: a gente conversa, sem criar muito alarde, e orienta na medida do possível. Não quero que nada de ruim aconteça nem com ela nem com a Frida, sabe?
— Ah amiga, então relaxa mesmo! Pode ser preocupação demais também, mas isso vem no pacote, né? Meio que não dá para se desgarrar.
— Exato. E eu tô meio farta do que não dá para se desgarrar.
— Ih, que que foi? — Ronna franziu o cenho e virou sua cerveja um só gole, abrindo a tela do laptop, que logo se iluminou com a notícia que mudou o seu dia.
— Isso aqui — e cruzou os braços, vendo o rosto da amiga escrutinar a postagem do twitter, ficando na dúvida.
— Tá, e o que é que tem?
bufou e desceu a tela, clicando no vídeo e colocando em tela cheia, fazendo com que Ronna logo entendesse a cara de insatisfação da amiga.
— Ah…
— Pois é — fechou os olhos e abraçou-se, escutando a voz de Def mais uma vez.
— Ele continua gato, né? — Ronna comentou, virando a cabeça de lado. — Parece que até de cabeça para baixo ele fica charmoso. Que raiva!
— Não é!? — abriu os olhos, indignada. — E aí, eu, que estive cinco anos fugindo da raia, não querendo saber de mais nada, me dei uma rasteira e vi o vídeo. Logo o vídeo que só tem ele, falando de um trabalho solo e um tanto particular. Quando era promoção de outros trabalhos, eu nunca clicava! Eu sempre resisti! Por que fui perder as estribeiras só nesse? Logo nesse? — olhou para o vídeo, e novamente tocou a tela do laptop, como se pudesse tocar Def — É como se ele estivesse falando de algo tão íntimo quanto nossa conversa foi. Ele relata coisas que conversamos, sabe? Isso… Isso é foda de ignorar.
— Então você finalmente está assumindo que talvez tenha sido um erro sumir cinco anos atrás? — Ronna perguntou, também finalizando sua cerveja.
As amigas se entreolharam seriamente, mas cedeu ao cobrir o rosto com as mãos, e Ronna, totalmente eufórica, batia palmas e apontava para .
— Cala a boca!
— Eu sabia!
— Pára, Ronna!
— Pára o cacete! Você sempre se fez de fodona mas eu sempre soube! Você quis viver isso, quis que fosse mais do que uma noite… Por que não deixou nada?
— Porque eu tinha uma vida inteira para restaurar! Eu tinha Sue! Eu tinha nosso projeto! Como eu faria isso com um amor que possivelmente me cegasse de tudo? Eu não queria viver com ele o inferno que vivi com meu ex-marido, cara!
— E por que seria igual?
— E quem me garante que não? Ronna, acorda! A gente era fodida. Hoje em dia estamos menos, bem menos, felizmente. Mas a gente chegou aqui sabendo o preço de cada prego do nosso castelo. Eu não vou permitir que um cara do passado destrua isso.
— Mas gente, você tem tanta certeza de tanta coisa que chega a dar medo!
— Você fala como se fosse super possível ter dado certo… — reclamou, pegando mais duas cervejas na geladeira e oferecendo à Ronna, que suspirou.
— Amiga, você tá viajando. Eu não estou dizendo que vocês sairiam dali casados ou namorando. Mas você não se permitiu viver, entende? Você simplesmente acabou tudo antes de começar! E sabe qual é a merda? Cinco anos depois, você já esteve com outras pessoas que não te fizeram brilhar os olhos como esse cara faz. E adivinha? Pelo visto ele não esqueceu de você também.
— C-Como assim? — gaguejou, quase cuspindo sua bebida.
— Você não se atentou para o que ele disse no fim do vídeo? — Ronna perguntou com a cara mais estranha do mundo — Sério, você só ficou reparando nele, não no que ele dizia?
— Veronna, fala logo! — fugiu da bronca e Ronna bufou, se voltando para o laptop e colocando o vídeo no tempo certo.
Foi ali que o universo de deu uma tremida.
Uma das fotos que aparece na promoção do vídeo é uma pulseira de prata com pingentes de pássaros, voando.
A pulseira estava no chão, sendo entrecortada por luz solar e sombras, e a posição da foto deixava nítido o fundo do local, que não era nada mais, nada menos, do que o quarto em que e Def ficaram da última vez que se viram.
Aquela pulseira, que ela não via há cinco anos, era a única coisa que tinha deixado para trás, e só se dava conta disso, naquele momento.
— Meu Deus — A mão foi na boca de , como quem está prestes a passar mal.
— Era essa sua pulseira perdida, não é?
— Puta que pariu!
— E ele foi lá e tirou uma foto dela, e vai incluir esse registro na exposição dele…
— Puta que pariu!
— Exposição essa que, curiosamente, é intitulada ALONE.
— Puta que pariu mil vezes, Ronna! O que foi que eu fiz?
— Você deu um chá de pepeca no carinha e cinco anos depois ele não superou.
— Ronna!
— A boa notícia é que você também não superou! Veja pelo lado bom!
— Lado bom!? Ronna, isso é… inacreditável! Eu não tinha como adivinhar que ele se sentia assim!
— Claro, você não deixou nada além de uma pulseira…
— Você não está tornando isso fácil!
— E quando foi fácil, amiga? — Ronna riu, bebendo de sua cerveja enquanto via surtar. — Sério, respira fundo, vamos primeiro ficar calma, ok?
— Ok — Noe respondeu, seguindo o conselho.
— Me diz por que você está assim, já que, até então, tinha decidido que não faria nada, que isso não daria em nada… O que está acontecendo?
— Eu não sei! Eu fico toda mole, fico pensando nas coisas, fico ressentida comigo mesmo, pensando nas pessoas com quem me envolvi, e volta e meia me vejo retornando para aquela noite, sabe? Eu não… — estava andando para lá e para cá quando do nada parou. Engoliu a própria saliva e encarou a amiga, com o olhar cansado. — Você vai me fazer dizer em voz alta, não é?
— Quero que você diga para você mesma. Só isso — Ronna sorriu carinhosamente, e suspirou, apoiando a cabeça nas mãos e olhando para o teto.
— Eu estou arrependida. E gostaria de ter uma nova chance.
— Ok então, faça suas malas — Ronna respondeu simplesmente, pegando a cerveja e indo para o closet de , que a olhou com estranheza.
— Você pirou, Ronna? Como assim fazer as malas? A exibição é do outro lado do mundo! Eu não tenho dinheiro! Nem você, nem nossa empresa! A gente não tira férias, inclusive! — retrucou, seguindo a amiga com passos tortos.
— E quem disse que estamos indo de férias? — Ronna perguntou sorridente, tirando a mala de cima do armário — estamos indo a trabalho.
— Como é!? Calma aí, o que que você disse!? — estava ventilando, com certeza. Veronna abriu a mala da amiga e a olhou divertidamente.
— Enquanto você pirava com essa notícia e respondia o e-mail daquele cliente insistente, eu fechei a cobertura de um evento no Café Erolpa. É uma exposição fotográfica do artista Def. Conhece?
estava com o queixo caído, com a cara de quem acabava de ver um fantasma. Ronna se divertiu com a surpresa da amiga e deu mais uns três goles na cerveja, até que fosse capaz de responder algo.
— Você está falando sério?
— Você não acredita mesmo em mim, né? — E sacou o celular, mostrando o contrato do evento, e a assinatura de Def ao final. — Fechamos hoje. Tudo coberto pelo contratante. Estamos indo a trabalho, meu bem. Seremos responsáveis por um pequeno brunch de inauguração. Bacana, né?
— Ai meu Deus, ai meu Deus!!! Ai, meu Deus!!! — berrava de um lado para o outro, sem entender como aquilo tinha acontecido. Estava totalmente histérica, e Ronna só ria das reações.
Depois do susto inicial, a amiga explicou que foi procurada pessoalmente pela equipe de agenciamento de Def, explicando que, a pedido do próprio artista, o evento de estreia deveria ser feito pela empresa de Ronna e , com algumas exigências nada absurdas no contrato.
— Amiga… Seis de outubro é na semana que vem.
— Sim, e nossas passagens foram compradas hoje. Viajamos daqui há três dias para deixar tudo organizado lá. E sim, tem a passagem da Sue, o contratante garantiu que ela também fizesse parte disso, sem custos adicionais.
— Veronna… Isso quer dizer que…
— Que você vai revê-lo! — Ronna exclamou feliz e riu, piscando para a companheira.
— Eu ia dizer que você armou tudo isso pelas minhas costas, mas acho que sua frase é bem melhor que a minha.
— Ah, com certeza! Isso são só detalhes, meu bem! Partiu viajar meio mundo e ver os pombinhos se acertando, que tal? Agora, me diz qual que você prefere: babydoll de rendinha com decotão ou camisola sexy rendinha com roupãozinho de cetim curto?
— Ronna!
— Você tem razão, a camisola facilita as coisas… — disse a amiga, colocando a peça de roupa na mala, arrancando gargalhadas de .
Enquanto arrumavam as coisas, um filme se passava na cabeça de .
Quer dizer que ele mesmo tinha lhe procurado, depois de todo aquele tempo?
De todas as possíveis empresas, a delas tinha sido selecionada, e ela sabia que aquilo não era um acaso — não dessa vez.
Aquilo se tratava de algo intencional, decidido, certeiro.
E pelo vibrar no íntimo de , ela não deixaria que o medo a vencesse dessa vez.
(...)

Seoul, cinco de outubro de 2020.
— Os vasos de planta ficam para aquele lado, e ele foi bem específico quanto ao posicionamento das mensagens. Queremos que as pessoas entrem por aqui, e não por ali, se não elas entram pelo final da exposição, entenderam? Precisa seguir a rigor!
A voz de Ronna soava no local com firmeza e tremia — dessa vez, não tinha a ver com o frio. Apesar da temperatura amena, já tinha se acostumado com tantos casacos e roupas, quanto com a dinâmica do lugar; o Café Erolpa era bem perto da SM Enterteiment, o que deixava Sue empolgadíssima, mas, conforme orientações recebidas da mãe, estavam ali a trabalho, então nada de passeios furtivos e tentativas de surpreender seus ídolos.
estava tentando a todo momento se concentrar em seus afazeres, e felizmente, mesmo com a cabeça distraída, estava conseguindo realizar um bom trabalho. Já tinha se organizado com os detalhes do brunch, da lista de convidados, dos horários e cronograma, e do trio de cordas que acompanharia a inauguração suave e delicada de ALONE.
Entretanto, nada disso era tão surpreendente quanto o fato de não ter visto Def desde que chegou, há dois dias. Estava particularmente ansiosa e não gostaria de apelar para os ansiolíticos naturais — e admitia que isso era tudo orgulho de uma mulher que não queria acreditar sobre o quão nervosa estava por causa de um homem.
No fundo, ela sabia que isso tudo era uma mega balela, porque Deus sabe como foi fácil convencê-la de pegar um avião e ir ver o macho de cinco anos atrás como se nada tivesse acontecido.
Quer dizer… quase nada.
“Não tem como fingir que nada aconteceu, seja sincera.” — ela pensava consigo mesma, enquanto anotava mais um ok no seu checklist.
Ao contrário do que pensava, ela, Ronna e Sue foram muito bem recebidos pela equipe de Def, o que fez seu coração aquecer um pouco. Mesmo com a ausência do artista, ela ficou feliz em ver a filha alegre conhecendo tanta gente que trabalhava com seus ídolos. Sim, GOT7 ainda fazia parte de seu repertório, só que Sue mal imaginava que sua mãe quase tinha sido uma Sra. GOT7. Ou algo do tipo.
De toda maneira, foi conferindo o último item que ouviu um grito fino e expressivo; era o de sua filha. Mais do que imediatamente, largou tudo e saiu correndo, o coração pulando na boca diante do berro de Sue.
Ao chegar no local, ela prendeu a respiração.
Não gostaria de ter corrido tanto, nem de ter despenteado seu cabelo no caminho.
Na verdade, gostaria de estar com uma roupa melhor.
Desabotoar um botão a menos de sua camisa.
Ter passado um batom e um blush na cara.
Ter reforçado o perfume e o rímel.
Mas não.
Estava lá, vendo uma adolescente com a mão na boca, chorando, enquanto recebia um abraço leve de ninguém mais, ninguém menos que Def.
— É você! Meu Deus, é você! — Sue falava, com as mãos trêmulas, e o artista só sorria de sua reação, como quem já estava acostumado a lidar com aquilo.
Mas é claro que estava.
Afinal, ele era mundialmente conhecido, não é mesmo?
— Você deve ser a Sue, certo?
A cabeça da jovem de aparelho se moveu para cima e para baixo, com rapidez, concordando com ele.
— Você tem os olhos da sua mãe.
A boca da mocinha se abriu como um buraco de três metros no chão. Ela olhou do artista para a mãe, perdida.
— C-Como? Como você… Você conhece minha mãe? — ela perguntou, perdida. Def sorriu e deu de ombros.
— Sim, ela está trabalhando comigo nessa exposição. Não é? — Ele lembrou, com muita calma e gentileza. Sue só concordou com um novo menear de cabeça, arrancando algumas risadas das pessoas à sua volta.
— Vocês querem que eu tire uma foto? — Sugeriu a staff da equipe de Def. Sue logo afirmou quase desesperadamente, e, sem mais nem menos, estavam ali no celular dela pelo menos umas dez fotos diferente com .
Enquanto o artista se despedia cordialmente, Sue o cumprimentava com total rendição e nervosismo, ainda tirando risadas dos demais presentes.
Foi quando se virou, que o coração de travou.
Na hora, a secura na garganta se fez, a pulsação disparou, e tudo, tudo o que tinham vivenciado há cinco anos, passava com um filme acelerado na mente de .
O contato visual dos dois, e a visível tensão entre eles foi aos poucos sendo desfeita, à medida que os passos que encurtaram a distância, foram dados.
Uma vez diante entre si, os dois sustentaram o olhar, em silêncio. notou que a respiração de estava entrecortada, e os lábios entrebaertos entregavam o pequeno nervosismo que ele causava nela. Por outro lado, percebeu o pomo-de-adão do rapaz subindo e descendo, como quem ainda não sabe como abordar uma situação.
Afinal de contas, quem ali saberia?
Apesar de tanta coragem de ambas as partes (a dela de viajar meio mundo, a dele de ir atrás depois de tanto), agora pareciam como dois adolescentes perdidos numa história que foi interrompida cedo demais.
Agora, se olhavam como quem jamais quisesse ter partido, e aquilo tinha mais verdade do que muita coisa que vivenciaram nos últimos anos, com outras pessoas.
— Olá — arriscou com um sorriso amarelo, e Def retribuiu com uma feição agradável, sentindo-se nostálgico e confortável ao ouvir o som da voz dela.
— Oi. Como você está? — perguntou educadamente.
— Bem, e você? — ela retribuiu, mostrando os dentes num sorriso mais aberto.
Jeabom ficou alguns instantes gravando as feições dela, sobre como parecia uma mulher muito menos arredia e turrona de anos atrás. Apesar do tempo, estava linda como sempre… Seu olhar, sua fala, seu corpo, sua postura, os cabelos maiores, a aura mais tranquila… o tempo definitivamente tinha lhe feito bem.
não ligava para a forma que a encarava. Ela fazia o mesmo, ao perceber seu jeito tímido, porém não amedrontado, como quem não mais engole as palavras que quer dizer. O rapaz tinha ganhado traços fortes, o olhar mais afiado, os cabelos com um novo corte, ainda que as madeixas fossem longas. E a forma que ele a olhava a deixava em êxtase, como quem pudesse decifrá-la em três segundos, sem dizer uma só palavra.
O momento foi levemente interrompido por Ronna e Sue.
— Com licença, Sr. . É um prazer revê-lo! — ela estendeu a mão para ele, que a cumprimentou com gentileza. — , vou levar Sue para conhecer um pouco mais da cidade e depois vou para o hotel. Você tem coisas a finalizar, certo?
O olhar incisivo da amiga quase fez com que risse descaradamente, mas decidiu apenas morder o lábio inferior e concordar.
— Sim, sem problemas. Me liguem, caso precisarem de algo. Se comporte, Sue. Tá bem?
— Não se preocupe, vou ficar bem, mãe! Estou em Seul! — Sue deu um pequeno gritinho e todos riram ali, incluindo . A timidez alcançou , que apenas prendeu novamente os lábios, dando um abraço na filha.
— Ótimo, qualquer coisa ligue, certo? Se divirta. E Ronna?
— Hm?
— Nada de perseguição aos k-idols. Comporte-se!
— De nada, querida amiga. Cuide-se!
As duas se despediram, saindo do local, e percebeu que outras pessoas já finalizavam suas tarefas também, deixando o local mais vazio. Estava quase tudo pronto para a inauguração, mas ainda restava alguns profissionais aqui e ali, muito concentrados em seus afazeres para prestar atenção no artista e na produtora de eventos.
Se olharam novamente, trocando sorrisos incertos. Tanto para ser dito, para ser feito. Era difícil quebrar aquela tensão, mas a química e o desejo foram maiores do que isso, e o artista rompeu aquele transe com um convite.
— Você já finalizou por hoje?
— Já sim — ela disse, conferindo o relógio, que quase batia 18h.
— Poderia me acompanhar? Eu gostaria de conversar com você.
O revirar na boca do estômago poderia responder por ela, mas sorriu educada, e confirmou com um aceno de cabeça.
— Eu adoraria.
Ambos se olharam novamente, e ele indicou o caminho com a cabeça, indo pelas escadas, sendo seguido por .
(...)

Os passos incertos foram ganhando liberdade diante do espaço. Apesar do pôr-do-sol, o clima estava ficando cada vez mais frio, e sentiu quando seu corpo foi aquecido por uma manta aconchegante e felpuda.
— Obrigada… — ela agradeceu, ainda envergonhada.
— Não por isso — ele retribuiu com a voz levemente rouca, perto do seu ouvido.
Foi impossível não conter um arrepio, e agradeceu por estar bem coberta e não deixar que ele percebesse aquela reação de seu corpo.
Conforme passeavam pelo Elropa, ambos pararam diante da mensagem de abertura da exposição, num lugar onde só eles estavam presentes. Palavras de Def jaziam ali.
“Minha primeira exposição. Fotos que tirei quando me senti só. Tentei incorporar a tristeza e a solidão. Estar solitário não é necessariamente apenas estar sozinho. São fotos que tirei me sentindo sozinho, mas através de uma lente feliz, então acho que haverá uma variedade de fotos. Estou curioso sobre a sensação que você terá ao olhar para a minha exposição. Na esperança de que você possa esquecer um pouco suas dificuldades, decidi abrir esta exposição. Espero poder trazer inspiração e consolo para você na vida.”


— O que é solidão para você, ? — ele quebrou o silêncio, encarando a mensagem.
— É uma tristeza que envelheceu… sem perceber — ela respondeu, levantando o olhar para .
— Você sente solidão? — ele indagou, sem olhá-la.
— Mais do que gostaria, menos do que antes — ela permaneceu olhando-o.
— É ruim ser só?
— É ruim estar só quando se está rodeado de gente… É ruim ser só na solidão. Ser só na solitude, é o que mais almejo. Confesso que não consigo sempre, mas nem acho que seja possível.
— Entendo… — ele retrucou, deixando o olhar baixo. — Você se sentiu só… comigo? — e a olhou, finalmente. — Foi por isso que foi embora?
encheu os pulmões de ar, mas não conseguiu dizer nada. Abriu a boca, e nada saiu de lá. Era doído, era ruim ver algo nos olhos de , como se ele estivesse praticamente convencido da certeza de sua própria pergunta.
respirou fundo, pensativa.
Pensou nas coisas que viveu desde aquele dia, sobre como uma luz no fim do túnel a deu forças para mudar tudo. Conseguiu enxergar que tipo de mudança era capaz de fazer — e fez! Fez por si mesma, pela própria filha, pela própria vida, pelo destino que queria traçar… desabrochou, abriu as asas e alçou vôos sem saber voar.
Não! Mais do que isso: estava pronta, caso caísse.
Não seria um problema, já que o chão era seu amigo. Ela nem estava tão distante dele assim! Mas… E quando se tratava de amor? De outra pessoa?
Será que Def a deixava muito longe do chão, a ponto da queda ser irreversível?
Será que era sobre isso?
Ela, de fato, se sentia sozinha ao seu lado?
Ou será que…
, então, riu.
Ela, enfim, sabia a resposta.
Com os olhos marejados, ela umedeceu os lábios e deu de ombros, analisando cada ponto, cada traço da feição de .
— Muito pelo contrário. Você me fez sentir em casa. Você me fez perceber as minhas potências, e eu tive medo de voar alto com você, e não dar conta da altura. Você me fez sentir tão “não-só” que tive medo quando você partisse. Então, eu o fiz antes que você fizesse.
Def arregalou os olhos, sendo pego de surpresa com aquela resposta. Não esperava que ela fosse tão sincera em tão pouco tempo.
Mas ele estava falando de .
, a menina que foi atropelada por ele, cinco anos atrás. A decidida, aguerrida, brava e… brilhante .
A que o fez acreditar nos encontros e acasos da vida, e a agradecê-los, como se fosse um presente.
Talvez fosse mesmo, um grande presente.
Mesmo depois de anos, algo nunca mudou: a admiração pela pessoa que ela era.
Talvez ele estivesse errado, talvez não fizesse ideia de quem ela de fato fosse, até porque, se tratava de apenas dois dias; duas situações na qual ele teve chance de saber mais dela.
Entretanto, estava ali: o acaso que ele procurou em outros corpos, outras faces, outros lugares, pessoas… Jamais tinha sentido aquela conexão com outrém.
E ali, estavam os dois. Diante da mensagem inicial da exibição de Def, o fotógrafo, o k-idol, o ciclista barbeiro que atropelou a moça num dia de calor, em outro lugar, a milhas e milhas dali.
Começavam uma conversa como se já falassem a mesma língua há tempos… Como se jamais tivessem cessado qualquer contato. Conversavam como velhos conhecidos, velhos amigos, velhos amantes.
Conversavam como quem não aguenta de saudades, mas mantém a polidez para não assustar, para que nada se apresse, se fuja, para que nada se perdesse…
Aquele momento valioso, tão aguardado por ambos, era marcado por silêncios expressivos, olhares confessantes, proximidades longes demais para quem habita uma saudade com nome e sobrenome, tatuada no peito como quelóide, que pulsa em dias mais frios e mudanças de tempo bruscas.
A todo momento, os olhares se entregavam, diziam palavras que não eram pronunciadas. Os corpos se aproximavam inconscientemente, quase como ímãs.
Era certo, era o que deveria ser; era o encontro daquilo que já foi acaso, que já não o é… Não mais.
Def e estavam frente a frente, e, para a surpresa de ambos, foi a primeira a quebrar a barreira invisível; tocou o rosto do homem com delicadeza e carinho.
— Eu sinto muito ter partido sem dizer nada. Me arrependo de não ter tentado ficar, ainda que me fosse muito estranho no momento.
Def fechou os olhos e colocou sua mão em cima da dela. Num movimento sutil, sacou algo do bolso e, com cuidado, enlaçou o pulso de , deixando ali a pulseira que ela tinha perdido, cinco anos atrás.
Ao sentir o gelado do material em sua pele, ela estremeceu levemente, dando um sorriso pequeno.
— Minha pulseira…! — riu, alegre, fazendo Def sorrir minimamente também.
Eles se encararam, ainda num transe, como quem se reconhece conforme se vê, cada vez mais.
— Você, como sempre, me surpreendendo. E isso tudo… é incrível! — estendeu os braços, se referindo à obra do rapaz. — Aqui estamos, de novo. Com esse tema tão forte, tão visceral, você fala sobre tantas dimensões que nos atravessam como seres humanos… Traz um olhar diferenciado sobre a solidão, sobre algo que nos torna únicos, sobre o quanto isso não precisa ser algo propriamente ruim, uma vez que possamos compreender que a solidão é parte essencial de quem somos, junto com outras mil sensações e emoções que nos encontrarão ao longo da vida… Me parece que você teve tempo para se conectar consigo mesmo, não é?
a encarou num misto de admiração e medo.
Como ela conseguia fazer uma leitura tão assertiva de si mesmo, depois de tanto tempo sem se ver, sem trocar uma palavra sequer?
Era isso que ele sentia falta; uma conexão real, tão real quanto possível.
A conexão que ele tinha com .
— Tive tempo o suficiente para entender todas essas nuances, como também respeitar o seu tempo.
— Como assim? — perguntou, perdida.
— Se eu tivesse te procurado antes, você certamente teria negado, fugido… Como fez durante esse tempo. Sim, eu sei que você evitou. Tá tudo bem. Eu sei o porquê. Eu vejo você.
arfou, olhando com quase descrença para o homem.
— Eu me arrependo de não ter feito nada naquela época, Def. Mas eu não troco minha maturidade e tranquilidade mental de antigamente, pela que tenho agora. Espero que você entenda… — deu um passo adiante, novamente envolvendo o rosto dele com suas mãos, olhando em seus olhos. — Eu espero que não seja tarde para algo… novo. Espero que não tenhamos nos encontrado apenas para você me devolver minha pulseira… — ela riu, sem graça. Ele sorriu e fechou os olhos, sentindo o carinho suave das mãos femininas.
— Dizem que quando deixamos algo nosso em algum lugar, quer dizer que não queremos ir embora… — abriu os olhos, segurando a mão de num aperto bom — Ao deixar essa pulseira para trás, você me disse desde o começo que não queria partir. Por isso eu te procurei. Quando era só esse objeto e eu, era solidão. Agora eu entendo isso, e não repudio essa instância tão humana. Eu só não quero ficar sozinho. Para ser mais sincero, sei que eu consigo. Eu só não quero ficar sem você.
Uma lágrima solitária desceu pelo canto do olho de , trazendo à tona todos os sentimentos vividos num passado cuja saudade o tornava mais presente que tudo.
sentia falta daquela noite, daquele tipo de conversa, daquele olhar, daquele carinho. Estava farta de fingir que não.
queria Def, tanto quanto ele a queria.
E apesar da reciprocidade soar como um sonho, era tão real quanto possível; naquela noite, se permitiram traçar caminhos novos em velhos territórios.
Ao deitarem na cama, dois corpos se reconheceram na saudade, no suor, no calor, nos beijos famintos e saudosos, que tanto buscaram em outras bocas, a mesma eletricidade, a mesma faísca, a mesma chama que ali continha.
A facilidade de trazer o êxtase, o prazer em cada toque, os cheiros, as investidas, os olhares presos nos momentos certos, tão certos quanto o sol sob nossas cabeças.
Nem nem Def sabiam como…
Mas descobririam, a partir de um novo dia, como fazer aquilo dar certo.
E, de uma vez por todas, fazer com que a solidão fosse apenas uma escolha, e não um destino inevitável e cruel, de quem não se permite viver.





Fim!



Nota da autora: Oi! Mais uma fic com k-pop que abala meu coração AAA*.
Enfim meu povo, essa é uma continuação de "08.Tomorrow", também escrita por mim. Se quiser, corre lá pra ler pra fazer mais sentido, hehehe.
É um spin-off de uma linda história, que eu amei escrever e tecer na roupagem do got7; mais especificamente, com o Jaebom, que também é o pp de "08.Tomorrow" pra mim.
Amo a forma como esse casal se identifica e eu juro que adoraria ver isso se tornando realidade algum dia HAHAHAHA aquelas, sonhadora sim, iludida também!
E sim, ela é super baseada numa exposição fotográfica que o Jaebom assina como Def, mesmo. ele realmente fala sobre solidão, inclusive, a mensagem de abertura que tem na fic é a mesma que ele traz em sua exposição. Eu dei uma estudada sobre esse trabalho dele e fiquei de cara com a profundidade! Como sempre, um artista múltiplo que nos atravessa e toca com sua genialidade. Se puder, confiram também!

De toda forma, queria agradecer a todos que leram e por favor, não deixe de comentar e conferir o resto do ficstape, que é só sucesso!
Obrigada e até a próxima! ♥


Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


comments powered by Disqus