Prólogo
Veja bem, naquela época eu estava no começo da minha carreira, com meus quinze anos e meus poucos amigos da escola. Mas naquela época eu já sabia o necessário para conseguir alguns trabalhos e descolar uma grana para fazer o que eu queria.
Não era lá grande coisa, mas quando você tem quinze anos e está trabalhando por conta própria, se você consegue cem reais, já é uma bolada de dinheiro que tem na sua mão. Você se sente a pessoa mais rica. E não era bem assim que eu sentia, eu guardava o dinheiro. Eu sabia que um dia eu me daria muito mal. E ainda bem que guardei.
E eu ainda tinha duas irmãs mais novas, bem, um ano mais novas apenas, e elas significavam tudo para mim, mesmo que eu tenha esse jeito horrível de ser. Mas nessa época tinha uma pessoa que me tirava do sério, a melhor amiga delas, .
tinha catorze anos e era a menina mais normal que eu já tinha conhecido. Cabelos? Okay. Corpo? Okay; Atitude? É, ela não interferia nada do que estava acontecendo, o que me deixava cada vez mais encantado por ela. Mediana em tudo, e tinha lá algumas coisas que te conquistavam. Mas o que eu mais gostava dela era que ela não se forçava para ser igual as outras meninas e sim diferente. Vestido e allstar, maquiagem escura. Depois usava rosa, com rosa e mais rosa. Ela tinha vários estilos, não um só. Eu nunca entendi. Mas se era a forma de mostrar que ela não se tornaria mais um robô para a sociedade então tudo bem.
Não posso dizer que o sorriso dela era o mais lindo de todos, que ela era a menina mais bonita que eu já havia visto. Você já vu a Scarlet Johanson? Aquela mulher é uma deusa de bela. Ninguém pode ser comparada a ela. Mas eu realmente gostava de .
E tudo isso começou quando o primeiro namorado de terminou com ela, um ano depois que comecei a trabalhar com análise de sistemas. Ela tinha dezessete e eu dezoito. Eu tinha começado a faculdade de computação e de sistemas. Sim, eu fazia duas faculdades ao mesmo tempo. Meus pais pagavam uma e nem faziam ideia de que, com o meu salário, eu estava pagando outra faculdade.
Bem, o caso foi que em uma brincadeira com minhas irmãs, teve que entrar em meu quarto e que queria tanto que fosse naquele meu momento mais íntimo comigo mesmo, mas não foi. Eu estava tentando hackear a empresa que eu estava trabalhando. É, também não sei como eu vivia fazendo duas faculdades e trabalhando.
Deveria ser simples, mas no momento que viu aquilo ela tinha virado uma testemunha sobre o que estava acontecendo.
-, o que você está fazendo? - disse com seus olhos enormes, como se fosse a Chapeuzinho Vermelho prestes a ser abocanhada pelo Lobo Mau. A criptografia apenas rolava pelo computador, deixando-a alucinada.
-, você não deveria estar aqui. - tentei ser ríspido, mas aquilo não funcionava para mim. Sempre fui introspectivo, daquela pessoa que nunca falou além do necessário. Eu simplesmente não sabia agir. - Eu estou trabalhando.
-Calma! - ela começou a rir. A rir. Ela nem poderia imaginar o que aconteceria se soubesse o que eu realmente estava fazendo ali. - Não é como se eu tivesse pego você vendo pornô. - ela começou a gargalhar. Eu fiquei ruborizado, mesmo acompanhando ela até a saída do meu quarto. - Pode deixar princesa, da próxima vez eu te chamo para fazer um boneco de neve. - o sorriso dela estava estampado de um canto da boca ao outro.
- Você é uma pessoa boa , seu único defeito é ficar sozinho. - foi a última coisa que falou antes que eu batesse a minha porta na cara dela.
Quando você não conhece uma pessoa sempre espera o melhor dela. É a lógica do ser humano. Nós ou esperamos que essa pessoa seja horrível para despejarmos nosso ódio gratuito ou esperamos que ela seja a melhor pessoa do mundo, a pessoa que nunca comete erros. Mas todo mundo comete, e é o tempo todo.
Fazemos escolhas para nos sentirmos parte de um sistema, ou para mostrar que não estamos tão por dentro desse sistema. Talvez a maioria das escolhas não seja correta, mas algumas são necessárias. São como guerras que travamos dentro de nossas mentes, não são corretas, mas são necessárias para combatermos o embate de perguntas que ficamos por responder.
Às vezes eu acabo achando que penso muito sobre um assunto, como estou fazendo agora. Mas dessa vez eu resolvi contar pra alguém, nem que eu tivesse que criar alguém para fazer isso. Mas eu fiz algo muito antiético, agora não tem mais volta.
1
Eu posso não ter sido um irmão presente, mas eu prezava pela integridade das minhas irmãs. E quando li o que haviam mandado para Jess eu não sabia muito bem como reagir. Um cara havia passado dos limites com ela pela rede social, mandando fotos que ninguém, repito, ninguém quer ver. Então eu intervi pela primeira vez, de um jeito bem simples.
Criei um ID falso, um e-mail falso e mandei para ele um e-mail com tudo arquivado. Sem contar que nunca conseguiria arquivar aquele e-mail, pois deixaria de existir como data assim que ele mudasse de tela. Eu não queria fazer algo com o cara, só queria mostrar que poderia fazer.
Comecei então o perseguir pela rede social. Descobri a senha dele e fui vendo com mais quantas meninas ele estava fazendo aquilo e eram muitas. Não sei nem porque ele fazia aquilo, digamos que, ele não era tudo aquilo que achava que era, para mandar essas fotos para meninas. Fui arquivando tudo, desde imagens até os sites que ele entrava pelo Tor. Cada vez mais arquivos conseguia dele. Até juntar coisa o suficiente para mandar anonimamente para a polícia. E foi a primeira vez que me senti um alguém. O dia em que eu mandei um babaca pra cadeia por mandar fotos de suas partes íntimas para meninas menores de idade.
Era uma sensação incrível saber daquilo, acho que você nunca me entenderá. Mas depois disso eu parei. Tive medo da polícia rastrear meu número e saber como eu havia obtido aquelas informações. Do jeito que as leis são, eu provavelmente iria preso por ter invadido informações pessoais.
Jess até parecia mais feliz depois disso. Parece que parar de receber mensagens e fotos daquele cara foi um alívio para ela. E o que mais ecoava na minha mente era dizendo que eu era uma pessoa boa.
Mas não demorou muito e eu acabei por não honrar minhas palavras de não fazer mais isso. Um dia eu tinha estava na cozinha quando vejo um vulto passando no jardim. Não que eu me ache forte, corajoso, afinal, só consigo passar isso pelo conforto do meu computador, mas achei que tinha alguém invadindo a nossa casa, então peguei a primeira arma branca que vi na frente e fui seguindo o vulto.
Eu estava certo, estávamos sendo invadidos.
Destranquei a porta e fui atrás do vulto sem fazer muito barulho. As vezes era só algum jovem da minha idade que estava meio drogado já, indo para a casa. Então comecei a seguir o vulto, até que ele deu meia volta, correndo em minha direção. Eu tinha uma chance de acertar o vulto. Uma chance de espantá-lo dali.
Assim que senti que estava próximo o suficiente de mim eu pulei para o seu campo de visão, enfiando uma faca em seu braço. Mas errei, e a faca raspou na pele. Ainda bem.
-Credo ! - Era a voz de .- Tá querendo me matar é?
-Não. Eu estava na cozinha e achei que você fosse tentar roubar a casa. - minha voz sempre teve o mesmo tom e sempre foi calma. Talvez achasse que eu era um sociopata. Talvez ela tivesse razão. - Então peguei a primeira faca que vi…
-Mas sou eu! - ela exclamava baixo. Juro que não sei como ela conseguia. - Agora me ajuda a fazer um curativo.
Ficamos mais de quinze minutos em absoluto silêncio. Ela sentada na minha cama, e eu sentado na minha cadeira, observando cada movimento que ela fazia. Não parecia bem, agora que existia luz. Existiam roxos em vários pontos dos braços e pernas, a boca também parecia machucada.
-, desculpa a pergunta…- eu nem tinha acreditado que tinha quebrado o silêncio. - Mas, quem fez isso com você?
começou a chorar. Eu não sabia o que fazer, aliás, nunca soube o que fazer quando uma pessoa começava a chorar. Nessas horas eu queria saber ler a mente das pessoas para saber tudo o que se passa e para saber qual seria a forma efetiva de acalmá-la. Dei um copo com água para ela, sentei do seu lado na cama e depositei a mão em seu ombro. Acho que minha mãe faria isso para acalmar as minhas irmãs.
- Luke. - também conhecido como o namorado dela – Eu estava na casa dele. A gente brigou feio, e acho que você já viu o resto da história.
A verdade é que Luke era um babaca metido a bad boy. De longe, o pior namorado de já teve. Luke estava começando a vida de alcoólatra que acabaria com ele vinte anos depois. Nessa época fumava, bebia e parecia um hipster alternativo ambulante. Cuspia poemas sem sentido, tentava parecer intelectual, mas, na verdade, era um grande nada.
-Você quer gelo? - não queria forçá-la a falar nada. Sou daquelas pessoas que pensam que se a pessoa quer falar algo ela falará, sem que você precise forçá-la. Mas claro que em situações assim isso não ocorre. - Gelo, chocolate e passar a noite aqui? Posso acordar minhas irmãs. Sério , não vale a pena você ficar com esse cara se ele abusa de você assim.- puxei ela mais perto de mim pelo ombro, ela simplesmente se encaixou em meu peito, chorando baixinho. - , você é uma irmã pra mim. Eu vou te proteger desse filho de uma puta. Mas primeiro vamos cuidar de você. - ela começou a chorar ainda mais.
Eu só conseguia imaginar a magnitude do que estava acontecendo. Mas fazia mais de um ano que estava com esse cara. Os pais dela não tinham nem tempo de ficar com ela, e seu interesse pelos namorados era ainda menor. Ela sempre passou mais tempo em minha casa do que na casa dela, já que os pais nunca estavam lá.
-, ele quase me matou. - falou depois de muito tempo. - Ele, bem, disse que já estava na hora de mostrar se eu amava ele... Bem... Deixando ele nadar por entre minhas águas. Nossa, não consigo falar sobre isso com você sem ficar constrangida.
-Mas você…
-Não, nunca. Não quero ir pra cama com qualquer um. Não com Luke. Não vale a pena fazer nada por ele. Enfim, eu disse não. Ele não aceitou, começou a me apertar, eu comecei a me contorcer. Me senti sufocada dentro de um filme horrível, onde eu era a protagonista que todo mundo assistia mas não ajudava. Eu fiquei agonizada. Então fugi dele, cheguei até aqui e ia tentar acordar Jessica. Mas não precisava, até que você me ataca e bem, estamos aqui.
-, você está mesmo bem?
-Estou , mas não quero incomodar mais. Você estava trabalhando, não estava?
-Na verdade não. Mas eu posso dar um jeito de acabar com o Luke. Sem chamar isso de vingança. - eu sorri para ela como um cúmplice, e ela retribuiu. Era assim que a nossa amizade funcionava, das poucas vezes que conversamos. - Vamos usar o que eu estava fazendo para isso.
Ficamos até o amanhecer conversando sobre hackers e dados confidenciais que conseguimos apenas com um e-mail e senha para uma rede social. ficou maravilhada com o que eu sabia, mas acho que aquilo não era bom. Eu comecei a ir mais profundamente em arquivos e histórico, procurando os maiores podres dele, e quando volto a olhar para ela, estava dormindo em minha cama.
É, no fundo, fiquei feliz em saber que era na minha cama que ela estava, e não na de Luke.
Agora você deve estar pensando que eu sou o maior maníaco de todos, que estava usando meios para me aproximar de , mas eu não sou e não estava. Eu estava era aliviado de que nada tinha acontecido com ela. E um pouco feliz também.
Deixei ela dormindo e saí do quarto, dando de cara com minhas irmãs. Elas estavam à espreita, só esperando o momento de dar o bote. Já sabendo das mil perguntas que me fariam sobre a madrugada, puxei as duas para a escada.
- Jessica, Julia, falem baixo. acabou de dormir. - meus olhos estavam fundos, exaustos, mas eu estava feliz com o que tinha conseguido com Luke.
-Eu sei. Luke ligou pra mim umas quinhentas vezes sabe? - Jess falava como se fosse uma autoridade. Eu achava graça, adorava. - Como ela está?
- Machucada, literalmente. Mas parece melhor agora. O nervosismo passou.
-, ela contou o que aconteceu pra você?
-Disse que eles brigaram, que Luke foi um escroto. Nada que vocês não tenham escutado.
-Mas ela nunca apareceu aqui depois da briga. - Julia tentava tirar de mim alguma informação, mas esse era o problema, eu nunca passaria nada. - Ela está muito ferida?
-Acho que não. Acho que ela está mais ferida psicologicamente. Mas fisicamente ela não está bem. Deixem ela acordar e veremos o que precisamos fazer.
Acho que aquela foi a tarde mais agonizante de todas. Ninguém queria acordar , mas todos queriam resolver logo aquela situação.
Eu comecei a passar para um CD todos os dados que tinha pego de Luke, e faria a mesma coisa que fiz com o rapaz que mandava aquelas fotos para minha irmã. Mas queria provas físicas, queria esfregar na cara dele que eu sabia o que ele tinha feito e que não deixaria barato. Só um covarde faria o que ele fez.
Estava tão absorto em meus pensamentos que nem percebi quando acordou. Ela levantou de súbito, levando uma mão ao coração e com os olhos desesperados. Logo corri para a cama, sentando do seu lado para acalmá-la.
-, o que aconteceu? - ela parecia muito perdida. - Quer dizer, depois que eu cheguei aqui.
-Você dormiu. Pediu para não acordar as minhas irmãs e dormiu feito pedra na minha cama. - foi quando ela notou minha expressão exausta. Eu não estava acostumado a passar tanto tempo sem dormir, mas não iria conseguir sem terminar aquilo. - Está melhor?
-Sim. Você contou para alguém?
-Elas já sabem. , acho melhor você ficar com elas. Elas vão saber te amparar melhor.
-Ah sim, esqueci que você não gosta disso. - ela estava envergonhada, dava para ver pelas bochechas que ficavam cada vez mais vermelhas. - Desculpa por tudo . E Obrigada. Eu sempre soube que você era uma pessoa boa.
Ela saiu do meu quarto rindo, e escutei o burburinho que minhas irmãs estavam fazendo com ela, querendo saber tudo aquilo que tinha acontecido. Mas acabou que ela não fez o que qualquer mulher deve fazer: ir para a delegacia da mulher e denunciar esses covardes que forçam a fazer coisas que elas não querem.
Acho que é muito difícil você entender tudo isso. Deve ficar se perguntando como eu posso ser assim? Como eu posso deixar tudo acontecer daquela forma? Mas você já sabe, eu já confirmei, não sou uma pessoa sã. Mas quando se tem duas irmãs como as minhas, você acaba escutando aquilo que elas pensam, e eu comecei a me perguntar o que estaria errado no que elas estavam falando. Elas estavam certas.
A presença de me deixava melhor, me alegrava. Mesmo que só visse ela pelos três segundos que leva para você atravessar a sala e ir para a cozinha. Mas era bom ver que ela já estava bem. E isso durou mais uns três dias.
Alguém deu umas cinco batidas na porta do meu quarto.
-Elsa? Você quer brincar na neveeeee? - era a voz de , gozando da minha cara. - ? Estou atrapalhando?
-Não. - sorri e ela retribuiu. - O que foi?
-Você pode ir comigo até em casa? Preciso pegar umas roupas. Tenho medo de Luke estar lá. Por favor, irei me sentir mais à vontade se você for comigo.
A sua voz era doce, açucarada. Daquelas vozes que se fossem olhares, seriam como os olhos do gato do Sherek. É, eu também vejo filme bosta e jogo umas referências assim. Mas continuando, não tinha como negar.
Caminhamos em silêncio, talvez a minha maior virtude, mas eu resolvi quebrar o silêncio assim que entramos na casa dela.
-, ele te forçou a fazer alguma coisa?
-Para de ser preocupado. - ela abafou o sorriso. - Não, ele só me bateu mesmo. Nossa, ele me bateu. Que cretino.
-Cretino é pouco. - eu respondi.
Aquele lugar era completamente novo para mim, mas era uma casa que eu nunca imaginaria para . Sempre imaginei algo que beirasse a vintage e moderno, como se uma casa do Tumblr tivesse tomado vida. Mas aquela casa era tão comum quanto ela.
Sabe qual a coisa mais engraçada sobre as coisas comuns? Só sentimos falta delas quando elas não são mais comuns. Hoje eu sinto falta daquela casa. E principalmente da .
10
Embora a história não seja sobre mim, eu preciso te contar o que aconteceu comigo depois daquilo. Eu continuei estudando e saí de casa. Me formei em uma das faculdades, a outra eu tinha dependências enfiadas até pelo meu rabo. Desculpe, tentarei não usar mais palavrões. Mas, se você é uma criação minha, por que eu me preocupo?
Depois do caso do Luke, arrumou outro namorado. Mas agora eu só sabia disso por alguns e-mails que ela me mandava e por ter hackeado a conta dos dois em suas redes sociais. Eu não aprendi com meus erros. Já tinha se tornado um vício.
Foi nessa época que conheci Chris e , dois caras da empresa que eu estava começando a crescer. Chris cuidava dos negócios, era o CEO mais chato de todos. Eles tinham a minha idade, mas ao contrário de mim, saíam sempre que podiam para encher a cara de álcool e nicotina. Super novos e já estavam assim. Eu fiquei pior.
Julia foi morar praticamente do outro lado do país, e Jessica começou a dividir um apartamento com . Jess estudava economia, estudava computação. Devo confessar que senti um orgulho ao saber o que estava querendo fazer quando se formasse. Mas isso é segredo, vai que um dia você conhece ela pessoalmente. Deixe ela contar as suas conquistas para você.
Assim, a maior parte do tempo ficava nós e elas sentados, jogando conversa fora e discutindo aquilo que viesse na cabeça. Falávamos sobre tudo, de porque o Jake andava sem camisa até sobre a bipolaridade política que estávamos sofrendo e as consequências disso na nossa vida e nosso bem estar.
Acho que éramos os jovens mais chatos daquele lugar.
Nesse meio tempo eu desenvolvi uma paixonite por , devo confessar. Comecei a aplaudir qualquer merda que ela fazia, porque merda dela era bonita, deveria ser aplaudida. Tudo me fazia querer arrumar uma desculpa para ficar com ela, e foi assim que eu arrumei um estágio para ela no meu serviço. Não porque eu queria ela como Luke quis, mas sim porque ela era incrivelmente boa, e nessa época eu achava que era ainda mais.
Um cara apaixonado as vezes é que nem uma moça apaixonada: só faz merda, se ilude e quebra a cara no final. Acontece às vezes. Temos que superar e seguir em frente.
Você discorda? Bem, existem milhares de pessoas no mundo, e algumas delas acabam ficando não só com esse sorriso bobo, mas acabamos deixando nossas expectativas muito altas e no final nos desapontamos pela pessoa não ser da forma como sempre sonhamos que ela fosse. É a vida, aprendemos depois a lidar com isso sem nos desapontarmos.
Mas quando você tem uma pessoa como ela, acaba romantizando muito a pessoa amada, e é aí que tudo começa a dar errado. Certo? Certo.
Eu sempre tentei fazer com que terminasse os relacionamentos dela, sempre soltei algo por algum e-mail aleatório, e mesmo que o cara não estivesse traindo ela, eu tentava montar uma prova de que ele estava. Esse é o problema de deixar todas as suas informações abertas na internet, é tão fácil e simples de adquiri-las e modificá-las.
Claro que eu me sentia mal, pessoa que eu criei na minha mente, mas eu não fazia nenhum movimento. Eu não conseguia nem dar uma indireta sobre nada. E cada vez ficava mais complicado, e cada relacionamento dela ficava mais extenso. Era difícil reunir coragem para tentar fazer com que tudo aquilo desse errado. Não era certo. Eu estava sendo consumido por um outro cara, um outro eu.
Mas alguma coisa mudou desde o dia em que eu resolvi sair com os caras para um bar, e, enquanto eles chegaram mais bêbados do que os caras que embalam quatro dias do carnaval, eu estava mais tranquilo. Eu estava bem alcoolizado, mas menos que eles.
O fato foi que chegamos em casa e tinha alguém lá dentro, a porta estava destrancada, mas não havia sinal de arrombamento. Ninguém tinha as chaves além de nós, nenhum tinha namorada para isso.
Abrimos a porta com um celular em mãos, prontos para ligar para a polícia, se fosse o caso, mas, se tudo desse certo, teríamos sido apenas roubados, mas nossa vida estaria intacta. Mas imagine três marmanjos entrando em casa morrendo de medo de acontecer alguma coisa com a vida deles. Éramos nós.
A cada passo que dávamos, ficávamos com o coração mais acelerado. Não ouvimos os passos de ninguém, mas isso não queria dizer que não tinha ninguém em casa. Já vi muitos filmes de ação que podem comprovar a minha teoria. Percebemos que quem quer que tivesse entrado, tinha ido para o meu quarto, e fomos os três, a respiração falha e os corações na boca. Ao abrir minha porta encontro deitada, poderia dizer até que tinha desmaiado de tanto sono. Ela ocupava minha cama toda.
-Nossa, era só a sua amiga maluca.- suspirou aliviado.- , você tem que pedir pra ela parar de arrombar a casa assim. Sério, um dia eu ainda prendo ela por isso.
-Só não faz nada porque acha ela bonita, né?- Chris disse rindo de . Eu não sabia o que falar. Quer dizer, Chris estava certo, mas toda vez que aparece assim é porque tem algo muito errado acontecendo.
Sentei do lado dela na cama, e delicadamente fui chacoalhando ela, até ela finalmente acordar.
-, como você entrou aqui?- ela ainda recuperava a consciência enquanto eu perguntava.
-Simples, vocês precisam trocar a fechadura da porta de vocês, é muito fácil arrombar aquilo. - ela me olhou séria. - Se vocês não trocarem vai ser muito de boa para alguém entrar e roubar. - ela aproximou e encostou a cabeça em mim. - E da próxima vez avisa sua irmã de que ela divide um apartamento e que não é pra ela ficar fazendo coisinhas com o namorado dela na sala, na cozinha…
-Ei, eu não preciso saber onde minha irmã está…
-Desculpa, não quis ser rude. Eu não tinha mais pra onde ir, acabei por vir aqui. Você não tava. Eu tava tão cansada, . Então lembrei de um truque que aprendi quando era pequena, e tive sorte de conseguir realizar com tamanha maestria.
-Tamanha maestria?- ela riu também. Eu não conseguiria ficar bravo com ela. - Você deixou três marmanjos morrendo de medo. Mas da próxima vez me liga antes de fazer algo assim.
-Estraguei a sua noite?
-Deixou ela melhor. Não passarei sozinho agora. - eu sorri e ela retribuiu o sorriso. Sério, eu não posso culpar o álcool, mas aquilo foi horrível, agora que estou te contando.
-Então quer dizer que o senhor finalmente saiu para beber! Isso merece outra comemoração.
-Não acorda os caras . Amanhã todo mundo precisa trabalhar. Até você. Que tal você voltar pra aquela posição de sono, fechar os olhinhos e descansar?
-Você me acordou e vai ter que me aguentar agora. Sem contar que você não parece que está com sono. Nem que bebeu o suficiente. Anda, vamos comemorar. - ela puxou meu braço levantando da cama e me arrastando até a geladeira. Nunca esteve em casa, mas se sentia tão à vontade que parecia que passava mais tempo aqui do que em qualquer lugar.
Não era de se esperar que estivéssemos sem bebidas, afinal, eu praticamente não bebia e os caras só bebiam fora de casa. Tinha umas cervejas, não algo mais forte. E não, eu não queria embebedar ela. Eu nunca quis fazer nada disso que você pode ter pensado.
-Cerveja? É, serve. - ela me entregou uma lata e abriu outra.
-O que vamos comemorar?- eu sorri e tentava parecer alguém que não era. Que ridículo.
-Que tal comemorar que estamos vivos e estamos bem?- ela sorriu, tomando outro gole.
E o que eu vou te contar a seguir pode ter sido modificado por minha mente traiçoeira alcoolizada, mas chegou mais perto de mim dançando alguma coisa em sua mente. Ela sorria e parecia estar sob efeito de alguma droga. Mas seria difícil algo assim, até onde eu sabia ela bebia e fumava cigarro e as vezes maconha. Não sabia se ela estava consumindo algo além disso.
Foi se aproximando mais, movimentando seu corpo bem próximo ao meu. Eu, como toda pessoa que odiava aglomeração de pessoas, não sabia nem dançar com os dedos. Bem ridículo, eu sei. Mas minha mente não estava cem por cento, eu não sabia direito se era certo o que eu estava fazendo. Mas eu queria fazer aquilo.
Desejei aquilo por tanto tempo que não acreditava no que estava acontecendo. Eu era desengonçado, ao contrário da minha parceira de dança, ela ria da situação mas continuava ali, criando aquele clima, ou criando um clima fictício para mim. Até que ela se aproximou e eu não pensei duas vezes, a puxei pela cintura e beijei, ela continuou e ficamos pelo menos uns vinte segundos nos beijando, até que nós percebemos o que tínhamos feito. Sim, um beijo e eu já me sentia sujo porque só consegui o beijo pelo nível alcoólico que nos encontrávamos.
-Você dorme na minha cama, eu durmo aqui na sala.- eu disse, já indo para meu quarto buscar um travesseiro e uma manta.
-Não, dorme lá comigo. - ela fazia a mesma voz. Por que eu tinha aceitado beber mais? Misturar mais as bebidas? - Quer dizer, eu durmo no chão e você na cama. Sério , não precisa ser assim. Eu não quero incomodar.
-, você já quebrou todos os protocolos. Todos. Em uma noite.
-Desculpa .
-Não se desculpe. Faça tudo, menos se desculpar por um beijo. Não foi nada de mais. - eu deveria ganhar o troféu de mais otário, por terminar daquele jeito. Você sabe que eu poderia terminar tudo bem, e nós até poderíamos ter um caso sóbrios, mais pra frente. - Tá certo, vamos arrumar o quarto então.
-Você fala isso como se a gente fosse fazer coisa pior que se beijar.
-…
-Ai, não tá aqui quem disse isso. Mas, ?
-Oi.
-Você beija bem. - Como alguém fala isso e consegue voltar a dormir?
Eu tive que ficar acordado. Tinha acontecido muita coisa naquele dia para que eu conseguisse dormir. Mas eu nem sei se realmente queria dormir. Tinha medo de ser como aquela música brasileira que o cara acorda sem saber se era um sonho. Então recorri a minha mais recente aquisição: pequenas doses de morfina. É, eu tinha virado esse tipo de pessoa.
Enquanto todo mundo tenta parar de consumir álcool, eu consumia a substância química que ajudava essas pessoas a parar de beber ou consumir ópio. Mas sério, morfina me deixava ainda mais ligadão, coisa que eu precisaria para passar o próximo dia, mas também me deixava um pouco mais feliz, não só a morfina, mas tudo o que tinha acontecido. Não era pra ser assim, mas aconteceu. Só espero que ninguém saiba.
-Bom dia sol! Bom dia vida!- tinha um jeito muito estranho e engraçado de acordar. Ela aprendeu isso em algum desenho e nunca mais parou. - Bom dia . - ela sorriu e sentou na cama onde eu estava. Parecia um sonho. - Pronto para mais um dia de trabalho? - eu só grunhi, e fiquei de costas, fazendo manha mesmo. - Anda, pelo menos você vai receber no final do dia. - eu grunhi de novo, mas ela me puxou, literalmente, da cama.
Contra minha vontade vesti o uniforme da empresa, enquanto ela saía do quarto e, pelas palavras dela, faria o melhor café que já tomamos.
Me pergunto quando que virou essa pessoa que aparece de surpresa na casa dos outros e faz tudo aquilo que fez na noite passada. Como eu não fui percebendo esse comportamento dela? Não que eu seja tão mais velho que ela, já que ela tem a idade das minhas irmãs. E é a melhor amiga delas, eu não posso fazer isso.
Na cozinha fui abordado por , sendo o babaca de sempre. As vezes eu não entendo como eu posso ser amigo dele. Quando estamos só nós, caras, ele é a melhor pessoa do mundo, mas é só aparecer um par de peitos que ele vira o maior babaca de todos.
-E aí , a noite foi boa?- ele falou alto o suficiente para escutar.
- foi incrível ontem. - ela respondeu por mim piscando. Eu olhei confuso pra ela, mas ela continuou. - Ele realmente sabe como tratar uma mulher. - mostrou a língua para e voltou a comer.
-Ah, isso aê mano!- disse, levantando a mão para um hi-five que, claro, deixei passar. Não queria compactuar com aquilo. Ele me observou por alguns poucos segundos, mas ele é aquele tipo de cara que quando tem alguém mais interessante, é para essa pessoa que ele vai. - Então me conte, querida e estimada , desde quando é tão amiga do ?
-Acho que desde sempre, caro e estimado . Eu cresci com ele, basicamente.
-Cresceu? Olha só que fato interessante, Chris. E senhor , porque nunca nos contou isso?
-Porque não era necessário?
-Não era necessário avisar que você conhecia a estagiária que estava indicando?- era muito babaca. Já até perdi as contas de quantas vezes eu falei isso para você. Mas só pra afirmar, caso você não tenha entendido ainda: era o rei dos babacas.
-Eu disse que ela era boa no que fazia, certo? E eu errei nisso? Até onde eu sei vocês estão querendo contratar ela.
-Me contratar? - parecia surpresa.
- Bem, você já é contratada, mas querem te dar um cargo de verdade. - Chris disse olhando para o café. Nossa conversa ficava cada vez mais afobada, com tanta coisa sendo dita nas entrelinhas.
-Mas isso é incrível! - parecia estar muito animada com tudo aquilo. - Nem sei como agradecer meninos, de verdade.
-Que tal saindo conosco na próxima sexta? - quem tinha falado, fazendo até Chris olhar para ele tentando entender o que o nosso amigo queria. sorriu e já sabíamos qual seria a resposta.
A semana passou tranquilamente. seria contratada assim que o contrato como estagiária terminasse, o que demoraria um pouco para acontecer, mas, mesmo assim, ela estava super animada com a notícia. Mas sem querer ser baba ovo dela, ela era a melhor estagiária que tínhamos lá na empresa. Ela se daria muito bem com a segurança digital, e se continuasse da forma que estava, com certeza aquelas empresas enormes iriam disputá-la.
Eu sempre tive orgulho das minhas irmãs, elas sempre eram as primeiras em tudo, seja em esportes ou conhecimento, Jess e Julie sempre foram muito boas em tudo o que faziam. Chegava até a rolar um ciúmes meu por causa disso. Mas hoje eu as vejo como meus maiores orgulhos. Jessica estava se dando super bem em seu trabalho e terminando a faculdade. Namorava um cara centrado, que ajudava muito ela a se concentrar em seus objetivos. Sei lá, eu não gostava dele no começo, mas ele é tão bom para ela que acabei gostando dele. Julia, pelo o que me contava por e-mails, estava sempre cheia de serviço para fazer, o que não deixava ela passar os feriados na nossa casa.
Bem, não sou tão mais velho, como já te disse, mas as vezes eu lembro delas adolescentes e de como elas eram e como elas estão e eu viro aquele irmão babão que ama tanto elas. As vezes eu até tenho algum sentimento por outras pessoas. Não só uma obsessão pela .
Até que estávamos animados para sair, tinha sido uma semana bem puxada, e ficamos esperando por esse dia desde a hora que a sorriu como resposta. Sim, vinte e quatro anos nas costas, cada um de nós, mas tão imbecis quanto moleques de dezesseis anos.
Mas quando apareceu e sentou do nosso lado no bar, parece que tudo se iluminou. Os três bobões rindo que nem idiotas de qualquer coisa que a menina falava. Vocês acham que só as mulheres fazem isso? Bem, no jogo da conquista vale tudo.
estava linda usando uma blusa amarela e uma calça jeans. Ela começou pedindo uma cerveja, e logo já estava mais enturmada com meus amigos. Eu nunca imaginei que um dia estaríamos bebendo juntos, pra você ter uma ideia. Mas hoje eu não queria que ela ficasse bêbada, eu queria tentar o que aconteceu naquela outra noite, mas dessa vez com ela sóbria o suficiente.
Ela foi dançar, e nós entramos na onda, todos com os dois pés esquerdos na pista de dança, enquanto ela acabava com qualquer chance de qualquer um de nós chegar perto com uma indireta para algo. Mas em determinado momento eu cansei disso, e junto com Chris fomos procurar um lugar pra ficar em paz com as nossas bebidas. E quando voltamos a nossa atenção para ela, algo muito inusitado acontece.
Ela estava beijando alguém. Quer dizer, beijando era pouco para o que estavam fazendo. Parecia que o cara iria sugar todo o rosto dela para dentro da boca dele. Mas o que mais me espantava não era isso, e sim o fato de que esse cara era .
Nem acreditamos naquela cena, mas deixamos para lá, ou melhor, eu deixei para lá. era um babaca, mas eu conhecia o babaca. Ele era bom com as namoradas, o filho da puta. Então nem tinha muito o que falar, mas sim deixar acontecer. Uma hora alguma coisa aconteceria. Eu só não sabia o que.
11
Eu voltei para o estado natural das coisas. Enquanto a maioria das pessoas se relacionavam, eu ficava trancado no meu quarto, cada vez mais imerso em descobrir cada vez mais sobre aquilo que me cercava no trabalho. Cada informação que vazasse poderia ser valiosa, e já era hora de começar a tomar extremo cuidado com o que eu fazia.
E com isso eu comecei a entrar cada vez mais no buraco da morfina. Eu tentava consumir quase todo dia, o que, parando para pensar, era algo horrível. Mas eu ficava bem, mesmo que depois de uma hora bem começasse a bater uma depressão. Mas aí já era hora de usar outra droga, e assim ia.
Isso não quer dizer que cheguei ao fundo do poço, que virei uma pessoa viciada que não queria saber mais de nada. Eu trabalhava, fazia tudo como sempre fiz, mas agora eu dedicava um tempo para consumir aqueles químicos. Era só isso, não me olhe com essa expressão de reprovação. Todo mundo comete erros. Eu cometi ao começar a me tornar dependente disso.
Também não significava que eu tinha parado de falar com meus amigos. Minha vida seguiu normal, por incrível que pareça. Eu fazia meu trabalho e a noite eu passava horas pensando se eu poderia ser como um daqueles Anonymous, vestir uma máscara do Verdetta e fazer justiça na internet. Mas ao mesmo tempo não sabia se isso seria bom. Então eu continuava fazendo isso para quem era próximo de mim.
e ficavam cada vez mais unidos, e era bonito ver os dois juntos, como um casal. era atencioso, parou com as loucuras de entrar escondida em casa. Afinal, como namorada, agora ela tinha uma chave de casa. E ela passava mais tempo ainda conosco.
Isso foi algo que eu demorei para perceber, mas ela não troca o tempo que passa conosco por um tempo a sós com . Ela passou a participar dos nossos campeonatos de jogos, de discussões inúteis e passou até a ajudar com questões amorosas.
tinha virado a melhor amiga com uma facilidade muito grande. Ela parecia estar mais viva agora, e eu não poderia dizer que ela tinha se tornado mais querida por todos. Mas algumas coisas começaram a desandar.
A primeira foi que ela só teria ficado com para conseguir um cargo. Que era uma vadia que dormia com quem fosse preciso para arrumar um emprego. Era o que todo mundo no escritório falava, e eu sempre fugia dessa discussão. Nessas horas é melhor não falar nada, tudo o que sair da sua boca pode ser usado contra você.
Com isso, o chefe de começou a ser ainda mais ríspido com ele. O que acarretou em várias discussões em casa onde Chris e eu normalmente inventávamos qualquer desculpa para fugir daquilo. Eu tive que lidar com as brigas dos meus pais, mas de amigos eu não ligo.
Até que na volta encontramos uma saindo com o rosto todo inchado de tanto que chorou. Eu fiz um sinal para Chris correr e ver como estava, afinal, amigo é pra isso. E fui em direção de .
-O que aconteceu?- eu a puxei pra perto de mim.
-Nada , nada. - ela parecia estar muito nervosa. Lágrimas caiam de seu rosto, então resolvi começar a enxugar.
-, é um cara bom.
-Eu sei. Será que é esse o meu problema? Finalmente um cara que não me trai ou me bate. Mas sempre tem que dar alguma merda né?
-Mas relacionamento é assim. E olha, melhor vocês brigarem, isso significa que vocês se importam um com o outro. - eu já nem sabia o que falar, estava apenas cuspindo coisas que já escutei várias vezes as pessoas falando para outras quando um relacionamento acaba. Talvez colasse.
-Eu só queria que tudo fosse diferente. - ela bufou e eu voltei a prestar atenção nela. - Sabe? Desde aquele dia eu sabia que eu tinha feito a escolha errada.
-Escolha errada?
-Sim, aquele dia que eu fui tentar acordar a Jessica. Eu deveria ter corrido para você. - ela começou a chorar ainda mais. Eu não sabia o que fazer, estava começando a ficar desesperado. - Mas eu fiz uma escolha boa aquele dia.
-Fez?
-Sim, eu escolhi que, depois daquele dia, eu estudaria para fazer com que pessoas como você não invadissem mais os dados pessoais de ninguém. Por mais que Luke tivesse merecido.
- É mesmo? - eu ri e ela me acompanhou. - E você está conseguindo fazer isso?
-Não. Você é uma pessoa difícil de decifrar.
-Sou?
-Pare de me responder monossilabicamente!- eu ri dela, e ela já parecia ficar mais calma. - Eu nunca consegui saber o que passa nessa cabeça oca que você tem. Tentei várias vezes, mas não consigo entender. - eu tinha uma interrogação estampada na cara. Como assim ela tentou? Quando?- Aquele dia que eu apareci, não foi só por causa da Jess. Eu queria te agradecer. Eu não tava bem, tinha misturado remédio com vodca, o que parece ser algo que eu nunca mais irei fazer na minha vida. Mas posso te dizer uma coisa? - eu assenti- Aquilo significou algo pra mim.
E foi nesse momento que eu me vi naquela música da Maysa. Meu mundo caiu. Se ela estava falando sobre o que eu pensava que ela estivesse falando, bem, aquilo tinha significado muito para mim. Tinha significado tudo. Mas enquanto minha mente fervilhava com essa informação, nada saía da minha boca.
-Ótimo, agora você fica quieto. Realmente não foi nada pra você né? Não que eu ligue agora. Não foi por essa briga que eu terminarei com . No fundo, ele é muito bom pra mim, mesmo que eu faça ele passar por uns perrengues na empresa.
Eu não sabia o que falar. Naquele momento eu poderia dizer que eu olhava para os dois como se eu pudesse fazer tudo aquilo que ele faz para ela e de que já fiz. Que eu queria muito poder levá-la um dia para sair, se eu tivesse toda a coragem e que eu acabo me perdendo em pensamentos toda vez que vejo os dois se beijando. Mas eu não falaria isso. era meu melhor amigo, ela namorava e isso nem importava. Eu não era o namorado. Eu não tomei iniciativa nenhuma. E quanto tomei, voltei para o início do jogo.
-, você deveria subir.- eu disse firmemente. - Você deveria subir e terminar de falar com sobre qualquer que seja esse assunto. É melhor fazer isso agora do que deixar para depois.
Ela me abraçou e depois se desculpou por isso, lembrando do meu código. Sério, ela estipulou um código e agora tinha que se desculpar com qualquer que fosse o contato que tivesse comigo. Olha como eu deixei a menina.
-Sabe , antes de entrar, eu preciso falar com você. Tem algo que eu preciso dizer.
Mas ela não disse. No momento seguinte abriu a porta e disse que escutou a voz dela. Eles se abraçaram, voltaram a olhar um para a cara do outro sem sentir um ódio em seus corações e terminaram de resolver todos os assuntos pendentes.
O que martelava na minha cabeça era o simples fato de que eu poderia ser o namorado dela. Quer dizer, eu poderia pelo menos ser um ex dela. Mas muita coisa sempre vai me impedir. A maior delas é que é uma irmã para mim, e por mais que eu tenha esse amor platônico por ela, a minha conclusão é que só tenho porque eu não podia criar isso embaçado nas minhas irmãs. Mas minha psicóloga deve saber os reais motivos disso. O fato era: eu não estava com . E a partir daquela noite eu faria de tudo para mudar isso.
Eu também não sabia o que ela queria me contar, e passamos quase uma semana sem conseguir nos falar direito para tirarmos essa história a limpo. Mas eu não sei como tinha sido a semana de , a minha seguiu como sempre, trabalho, morfina, trabalho, morfina, ideia de justiceiro. Eu precisava mudar.
Eu comecei a piorar. A depressão foi surgindo e a morfina agora não me remetia a felicidade, e sim a mais tempo do meu dia sofrendo por essa doença. Mas todo mundo sabe como tratam a depressão dos outros. Dizem que não é nada, que vai passar, que é só eu não me preocupar com o que me aflige. Mas na verdade é tratado com remédios e sessões psiquiátricas.
Cheguei ao estágio deplorável de trabalhar e ficar trancado no meu quarto só consumindo essas drogas deitado na cama. Tudo que acontecia em minha volta não fazia sentido para mim. A pior parte foi começar a ser um stalker dela.
Ler o que os dois trocavam de e-mails e mensagens em redes sociais, saber o que os dois não mostravam um para o outro. Comecei a pesquisar a fundo sobre o meu amigo, descobrindo coisas sobre o passado dele que ele nunca me contaria. Como o diploma falso de analise de sistemas.
Mas Smith era um cara muito bom para que eu encontrasse algo para incriminá-lo. E eu nunca faria ele terminar com porque seria muita sacanagem com ela. E sempre que eu começava a elaborar planos, a voz dela aparecia em minha mente dizendo que teve muita sorte em ter um namorado como nesse momento. E isso me desmotivava. Eu não queria ela sofrendo. E eu sabia que ela ficaria com outra pessoa e não comigo.
Tinha que ir mais fundo sobre . Ele era um babaca quando era solteiro, então alguma cosia seria boa o suficiente para incriminá-lo. Eu só não imaginava o que seria. Encontrei vários e-mails dele com o vice- presidente da empresa. Todos eles confirmavam que ganharia um aumento muito gordo se fizesse ficar na empresa. Então responde que a única forma de fazer isso seria com ela se envolvendo com alguém.
Mas eu nunca imaginei que ele faria isso. Continuei lendo os e-mails até encontrar um dizendo que ele tinha se apaixonado pela menina, e isso seria uma coisa boa mas também ruim. Se desse errado ela estaria fora dali. Livre para o mundo de corporações importantes, sem ajudar a empresa a crescer.
Pra você ver como tinha se tornado uma pessoa importante nesse meio. Ela estava sendo muito disputada, já havia recebido milhões de ofertas de empregos melhores. Empregos que eu aceitaria numa boa por ser algo bem melhor do que trabalhar naquela empresa, e isso foi antes de sair com . Eu não entendia o que mantinha ela lá.
Depois de mais um dia de trabalho, e de não conseguir falar com , eu tinha chego no meu limite de burrice, e resolvi comprar algumas bebidas bem fortes para tomar. Hoje eu não queria ingerir morfina, por mais que meu corpo pedisse.
Deitei na minha cama e já tinha dado uns três goles na garrafa quando a porta do meu quarto abre e se projeta em cima de mim, rindo. Ela me abraçou e me empurrou para o lado, deitando junto comigo naquela cama minúscula.
-Só ficaremos nós dois hoje. - ela anunciou feliz. - Então escolhi filmes, comidas e pelo jeito você já tem as bebidas. - ela riu, animada com o que deveria ter planejando. - Então, o que você quer fazer?
Se eu fosse um cara filho de uma puta, eu teria abusado dela. Era o meu ápice, estávamos sozinhos. E eu não poderia falar nada por ela estar namorando o meu melhor amigo. Aquilo que me enlouquecia. Era só um amigo meu, e não eu.
-Que tal ver esses filmes aí? O que você escolheu?
-Os seus preferidos. Alguns zumbis, muito suspense e muita ficção científica. - ela sorriu me puxando para a sala. Eu me deixava levar, as vezes era o que eu poderia fazer.
Não tinha nem o que escolher, o veredito era assistir a todos os filmes que ela tinha alugado. Todos os sete filmes. Parecia que faríamos uma maratona com quase todos os filmes do Harry Potter.
Lá para a metade do segundo filme da lista, já começava a ficar desconfortável com o silêncio gerado, e começou a falar, com a desculpa de que já tinha assistido esse filme tantas vezes que até ela já sabia as fala de cor.
-, você acha que e eu poderíamos dar certo?
-Dar certo como?
-De casarmos.
-Casar com ? Bem, eu brincaria primeiro dizendo que isso pode ser a pior coisa que você poderia fazer na vida. Segunda coisa, a primeira é gerar um filho com ele. - eu ri e ela riu, mesmo dando um soco em meu braço depois. - Mas vocês dois se dão bem. Quer dizer, vocês brigam mas sempre estão juntos, o que eu emendo com: O que diabos e Chris estão fazendo que não estão em casa?
-Ao que eu sei, os dois foram viajar a negócios. Mas não me pergunte, eu não sei de nada. - ela ficou um pouco pensativa. - Às vezes eles quem estão tendo um caso e não sabemos.
-Não, Chris não colocaria chifres em ninguém.
-Mas sim?
-Ele também não, mas Chris é muito mais competente em alguns sentidos que passa longe.
Ela riu, fazendo mais insinuações. Desmenti todas, mesmo que fazendo algumas piadas sobre os dois juntos. Mas aquilo não era a única coisa que gostaria de conversar.
Era complicado falar sobre qualquer outro assunto, ela não parecia estar bem, mas, como todo bom amigo, eu não fazia ideia do que era. Isso era um problema. Dividíamos momentos bons e ruins mas não contávamos nossos momentos bons e ruins com outras pessoas. Então eu sabia dela apenas aquela pequena parcela da vida dela que ela passava comigo.
Eu não sabia o que ela fazia com , se ela andava com outra amiga além de Jess. Era bem difícil saber disso sem que eu não me sentisse mal. Queria poder saber de uma parcela maior da vida dela, queria poder participar dessa parcela maior.
-Ei, vai dar tudo certo. Quer dizer, se você acha que está pronta pra casar e toda essa balela. - eu coloquei a mão em seu ombro, mas ela logo emendou em um abraço. - Se isso é o certo, vai em frente. Acho que isso é uma daquelas coisas que você vai ter que tentar pra ver se da certo.
-Você tem razão.
Sabe aquele silêncio ensurdecedor? Que na sua mente um turbilhão de palavras passam em menos de um segundo, junto com imagens e um monte de talvez vagando em sua mente enquanto cada segundo passa, cada segundo pensando parece ser perdido pelo tanto de coisa que você poderia falar e mudar em menos de um segundo.
Mas parecia que não era só eu, parecia muito preocupada. O que me fez começar a imaginar que tinha proposto mas ela não sabia se deveria aceitar. Mesmo que as coisas tivessem andando um pouco rápido, nunca vi chegar tão longe em um relacionamento para saber como ele lidaria com isso. Era um ponto escuro.
Sabe, a gente sempre se preocupa com isso. Família, filhos, uma carreira boa em que você seja feliz. A casa perfeita, normalmente com cachorros e gatos zanzando por ela. Um cômodo diferente, inusitado, só para você e sua cônjuge passarem o tempo, e depois os filhos usarem também.
Ou o contrário. Imaginamos nossa vida livre de crianças, sem alguém ao nosso lado. E isso também é bom. Não sei, eu nunca me imaginei com alguém ao meu lado, e que nós faríamos aquele estilo de casal perfeito. Pra mim eu seria eu para o resto da vida. O tiozão que vive trancado, que tem o dinheiro dele e que, na crise de meia idade, compraria um conversível e viajaria para fora. Nunca me vi como alguém do parágrafo anterior. Mas eu me pergunto se era aquilo que sonhava.
estava tão absorta em pensamentos que nem tinha percebido que o filme tinha acabado, só foi voltar para o nosso plano terreno quando eu me levantei para tirar o filme do aparelho de DVD. Ela tinha até se assustado, o que me fez rir dela. E consequentemente, me fez receber uma almofada nas costas.
-, por que você tá usando morfina?- ela perguntou como se aquilo fosse a coisa mais comum do mundo. Mas o que me pegou de surpresa não foi a forma como ela falou, mas sim: como ela sabia?
- Eu não uso. - menti, claro.
-Usa sim, aquele dia que eu invadi a casa de vocês acabei por encontrar um pote cheio de pílulas de morfina. Pra que você tá usando isso? Quer dizer, tá tentando parar de beber? Você sabe que isso causa dependência né? E que pra se livrar dela você vai sofrer muito?
-Sei , sei de tudo isso. Mas isso só cabe a mim.
-Não somos amigos? O que tá acontecendo ?
-Nada.
-Não é nada quando você fica dependente de algo químico. Anda, me fala. O que está acontecendo? Você fica mais trancado no quarto agora do que quando te conheci.
-, não é nada. Agora você quer assistir Cosmos ou Video Games?
-Você é impossível. Quando vai deixar eu entrar? Primeiro daquela vez que você me mostra tudo para ferrar um ex-namorado, mas nunca foi nada de mais. Depois, mesmo estando praticamente sóbrio me beija, mas não é nada de mais. Agora tem essa, mas não é nada de mais. Caralho , será que você percebe que não tem amizade com ninguém? Ninguém sabe quem você é, o que você quer fazer, quais são seus sonhos… Deixa pelo menos uma pessoa participar ativamente da sua vida. Uma pessoa te ajudar.
-Isso é muito perigoso . Acho melhor você ir embora, sério.
-Não vou. Não é perigoso. Perigoso é eu te deixar sozinho e você começar a consumir as pílulas. Vai ter que me obrigar. - ela ficou parada na minha frente de braços cruzados, como uma criança mimada.
Ela tinha razão, mas era perigoso. Quer dizer, ninguém sofreria um perigo real, mas eu me conhecia. Já eram no mínimo sete anos acompanhando o que minhas irmãs e ela estavam recebendo, eu não aguentaria ver de mais ninguém. Tinha se tornado uma espécie de modo de viver.
-Você fica. - cedi, sentando no sofá e pegando o controle remoto. Algum controle eu tinha que ter nas mãos. - Mas não tocamos mais nesse assunto.
-Tocamos sim. Eu me preocupo com você , desde sempre. Você podia me contar o que está te deixando assim. É o trabalho? - eu fiquei quieto, dando play no filme. Na verdade, eu não queria contar para ela.
-É um pouco de tudo. Tem gente que lida bem com esse tipo de coisa, e eu sou uma das pessoas que não consegue. Mas é sério, vamos mudar de assunto?
-Não até você me contar com o que você não lida bem.
-Com tudo. Está feliz? Até com isso eu não sei lidar. Você é uma das pessoas que me conhece a mais tempo e mesmo assim não sabe direito quem eu sou. As vezes incomoda o fato de que eu poderia ter levado uma vida normal como pessoas normais, mas eu me fechei pra tudo. - pronto, soltei meia verdade. Mas ainda tinha mentiras no meio de tudo o que eu falei. Na verdade, não queria que ninguém soubesse como eu sou.
-…
-Então assim, me deixa sozinho. Sério. Eu preciso de tempo e silêncio pra pensar. - e falando isso eu entrei no meu quarto e tranquei a porta, coisa que nunca tinha feito na minha vida.
Mas realmente não dava mais, eu já tinha detestado tudo no momento em que ela apareceu no meu quarto perguntando o que eu estava fazendo. Eu sempre imaginei que seríamos aquele tipo de amigos que não se falam todo dia por não precisarem dessa dependência, mas eu estava errado.
Eu tinha uma dependência pior do que a morfina. Eu precisava saber o que acontecia com ela quando não estava, e para isso eu quebrei o código de conduta da empresa e consegui logar no e-mail tanto dela quanto de . Eu já nem sabia mais se ela estava aqui em casa.
Então eu li algo que eu não queria ter lido. Eu descobri algo que me quebrou por completo, mas quebraria muito mais. Não sabia mais se mostrava ou não para ela, não sabia se valeria a pena nunca mais poder falar com ela se eu mostrasse aquilo.
Sério, se um dia você pensar em trocar mensagens daquela forma, use formas criativas. Deixar quase que em aberto é tão fácil de descobrir se você está traindo alguém ou não. Ou se você apenas está mentindo para alguém ou não.
Tive um baque, mas aquela poderia ser a hora perfeita. Eu poderia falar coisas que sempre quis, eu poderia ser livre por dois belos minutos e me abrir com ela. Mas eu não confiava em mim. Eu tive tantas oportunidades antes que não sei mais se aquele momento era um.
Nesse momento eu escutei alguém chorando baixinho. Destranquei a porta do quarto e fui em direção de . Ela parecia cansada, olhando agora. Tinha olheiras, um olhar pesado, o rosto parecia inchado. Nunca tinha visto ela tão acabada daquela forma. Ela sempre parecia bem.
-, o que foi?- eu sentei do seu lado e tentei me aproximar.
-Ninguém merece ficar sozinho . Principalmente alguém como você.
-Não é por isso que você está assim, né? - ela apenas balançou a cabeça. - O que aconteceu?
-O que não aconteceu, você quis dizer. Eu sei por que não está aqui, aliás, graças a você eu sei disso. - eu não sabia nem como reagir. - Ele está…
-É.
-Você sabia também?
-Descobri da mesma forma que você. Sinto muito, . Sinto muito mesmo.
-Eu não dou certo com nenhum namorado né? Se eu não me conhecesse, diria que daria um tempo nessa coisa de relacionamento. - ela riu. Como alguém ri em uma situação como essa? - Ninguém merece ficar sozinho .
Eu abracei ela, enquanto ela terminava de se acalmar. Sugeri então que fossemos caminhar, dar uma volta para esfriar a cabeça. Talvez comer algo e mudar de ambiente era tudo que ela precisava.
-Sabe o que eu acho graça?- ela começou a falar enquanto andávamos pelas ruas da cidade. - Você sempre está por perto quando eu termino com alguém. Quer dizer, não que você seja o causador, ou que eu corra pra você quando tudo acaba. Mas eu sempre acabo aparecendo de alguma forma, sempre muito mal e você sempre me ampara.
-Acho que é pra isso que amigos servem. - eu dei de ombros, coisa que ficou muito comum depois de começar a andar com ela. Ô menina que fazia isso sempre.
-Amigos servem pra tudo . Acho que só você ainda não aprendeu isso. - ela me abraçou pela cintura, o que resultou em meu braço ir para o ombro dela. Devo confessar, aquilo era bom. - O que acha de comer pizza e depois voltar para aquele documentário chato de que você tanto gosta?
-Ei! Cosmos não é tão chato assim. - ela me olhou com reprovação e riu. Tive que concordar, era chato. Mas eu gostava. - Mas é um bom plano.
Agora você deve estar se perguntando o que raios eu fiz de tão ruim, que eu falei no começo. Mas eu fiz uma das maiores merdas da minha vida, uma que eu nunca vou conseguir recuperar. E bem, acho que já está na hora de começar a contar.
100
teve a ideia brilhante para ser o mais romântico de todos, mas claro que ele tinha que cantar a mulher que tinha contratado para preparar todo o local para e ele terem o mais romântico jantar a luz de velas, com direito a um pedido nada convencional. Mas minha amiga não esperou isso e terminou com antes de tudo acontecer. Mas naquele dia achamos que ele estava fazendo o que qualquer babaca que some com outra mulher em um final de semana faria.
Eu resolvi pesquisar algumas coisas sobre alguns donos da empresa. Era bom saber o que acontecia com eles, pois cada coisa que poderia dar errado poderia resultar na empresa falindo. Todo o meu futuro nas mãos de merdinhas que torravam seu dinheiro com festas e mulheres da vida. Qualquer coisa que saísse na imprensa poderia acarretar em uma péssima imagem para meu emprego.
Até aquele momento eu não tinha feito nada de mais, não precisei invadir nenhum sistema para isso. Até que encontrei algumas coisas um pouco perigosas, que é melhor nem te contar, vai que conseguem te incriminar. Mas digamos que fazia um tempo que a empresa estava nadando em merda, e isso levou algumas pessoas dentro da empresa a começar um esquema.
Nada tinha saído na mídia, mas em algumas reportagens, era possível ler nas entrelinhas que alguma coisa daria errado e em breve encontrariam um erro com a nossa empresa, algo que daria muito errado e serviria como a polêmica do momento na televisão.
Comecei a tentar invadir alguns arquivos, tudo o que eu precisava era algumas informações pessoais deles, informações de quem conhecia eles. Coisas que poderia saber. Mas que se dane, eu já iria no mínimo ser preso e demitido, então já valia a pena fazer de tudo. Tive que invadir não a conta individual de , e sim a conta que ele tinha pela empresa.
E vou poupar você dos detalhes, sério, são horas silenciosas olhando para dados na tela do computador. Não tem nada legal nisso. Ainda mais quando você começa a quebrar dados sigilosos de uma empresa com a que trabalhávamos.
Depois de horas descobrindo pontos cegos em contas, histórias, aumentos, eu tinha dados suficientes para comprovar a fraude que tudo aquilo tinha se tornado. Eu tinha em mãos todos os documentos que afirmariam a ruína que a empresa tinha se tornado. Mas eu fui além. Comecei a olhar no que cada um dos funcionários tinha em seus e-mails da empresa. Comecei a ler tudo aquilo que cada um mostrava nas redes sociais.
Eu comecei a ficar maluco com tanta informação. Minha cabeça girava e as drogas que eu estava consumindo não eram suficientes para me deixar acordado. Tudo não fazia sentido. Era uma grande incógnita entender o mundo. Eu sempre pensava em como o mundo era formado por grandes corporações e toda aquela baboseira hollywoodiana que fazia sentido, mesmo sendo cinematográfica. A única diferença é que não eram apenas homens brancos dessa mistura americana-européia, mas também asiáticos. Claro, não dá pra acreditar que todos os caras de lá são brancos, loiros de olhos azuis. Não.
Minha cabeça girava cada vez mais, e a cada giro mais morfina era ingerida e eu comecei a sair de mim. Talvez eu nunca tivesse consumido tanto, mas eu fiquei eufórico. E não um eufórico bom, eu comecei a gritar e pular e parecia estar muito maluco. Foi quando Chris entrou no quarto e tentou me segurar, amarrando meus braços, mas ele não conseguia.
-Que porra é essa ? - eu escutava a voz dele ao longe, e estava tão desesperado.
Chris olhou para a tela do meu computador e tentou entender o que eu estava fazendo. Mas quando percebeu de quem eram os dados que eu estava lendo, ele também começou a ter um surto. Ele poderia ser considerado um cúmplice. Do jeito que as coisas eram, ele seria.
-Chris, vai embora! Deixa que eu resolvo isso. - eu não conseguia falar em um tom normal, tudo saía gritado e eu me assustava. - Vai embora!
Chris conseguiu me derrubar, e me prender para que pelo menos eu ficasse parado por um tempo. Ele estava fora de órbita, não sabia muito bem o que falar, muito menos entendia o que estava acontecendo. Foi bem complicado.
-, você tem ideia do que fez?
-Sim. Vou ser preso, certeza.
-Isso é o mínimo. Todo mundo pode te processar. Caramba , o que você tinha na cabeça pra fazer isso? Qualquer pessoa sabe que você pega os dados da companhia rival sua, não da sua própria empresa. Caralho , que merda. O que é isso?- ele tinha encontrado o pote com as pílulas de morfina. - Já chega! Já aguentei muito de você com essa coisa de ficar trancado no quarto. Mas isso daqui não. Olha onde você chegou. - e começou a digitar algum número no celular.
Não sei o que aconteceu, mas eu só sei que dormi, e quando acordei Jessica e estavam no meu quarto. As duas assustadas. Chris estava parado na porta do quarto, conversando com elas.
-Finalmente acordou!- Chris disse, fazendo as duas olharem para mim.
-É. O que aconteceu?- eu estava voltando a ter os sentidos normais, mas eu ainda estava um pouco tonto.
-Você teve um surto. - foi seca comigo. Eu sentia o quão desapontada ela estava. - E, bem, você sabe como surtos são.
-, o que está acontecendo? Chris me contou que faz mais de meses que está trancado dentro desse quarto. - Jess olhava para mim preocupada. Nunca a vi dessa forma. Comecei a ficar desapontado comigo. - O que foi?
-Não responda nada. Eu cansei das suas respostas. - me cortou, ela estava brava. - Ou você fala pra sua irmã o que está acontecendo, ou… Ai, você não é mais criança. - ela bufou.
-Mas não aconteceu nada gente. Eu só exagerei. Em tudo.
-Exagerou? Isso foi o mínimo . A gente devia te internar. - Chris estava quase que da mesma forma que . Me sentia ouvindo esporro dos meus pais. - O que você fez vai contra o senso de tudo. Sério. O que você tinha na cabeça?
-É, , o que você estava pensando?- Jess dizia calmamente enquanto segurava a minha mão.
-Eu não estava pensando. Eu fiquei maluco com tudo aquilo. Vocês não tem ideia do que eu descobri. E eu não quero nem pensar no que vai acontecer se descobrirem. - a minha cabeça latejava, eu não estava aguentando de dor.
-Não sei o que podemos te dar. Você tomou quase o pote inteiro de morfina. - Jess tentava me amparar, eu via em seus olhos isso. Ou, pelo menos, eu queria acreditar nisso. - Teoricamente daqui a pouco você vai começar a tremer. Se isso começar a acontecer então te levaremos para o hospital. Antes disso dá para ser controlado.
e Chris saíram do quarto, deixando apenas minha irmã e eu para continuar a conversa. Não sei se eles estavam muito bravos, mas foi a pior conversa que eu tive na vida. Claro que depois disso eu procurei um grupo de ajuda, até me libertar da morfina, mas isso levou anos da minha vida.
Jessica disse várias coisas, como estava decepcionada por já saber disso a muito tempo, em como não poderia confiar em mim. Eu não conseguia falar nada. Tinha sido um erro ligar o computador noites atrás e pesquisar sobre a empresa. Eu tinha feito péssimas escolhas na minha vida. Sério, acho que se eu fiz três boas, foram muitas.
Eu senti aquela decepção de ter falhado como irmão mais velho. Claro que ninguém nunca cobrou isso de mim, mas eu me cobrava, eu tentava ser a melhor pessoa para minhas irmãs. E pelo jeito eu não fui.
Acho que essa é a história mais sem pé nem cabeça que você já deve ter escutado de alguém, mas acredite, depois daquilo eu virei uma pessoa melhor.
A primeira pessoa a sair for . Ela disse que não aguentava mais trabalhar no mesmo ambiente que nós três. Depois Chris saiu, tinha recebido uma proposta melhor. E eu por último. Fiquei bons meses sem um emprego fixo, mas Chris me ajudou bastante e hoje eu faço a mesma coisa que antes, mas em uma empresa limpa.
foi demitido algum tempo depois que eu saí. Ele teve problemas com alguns dados dele sendo divulgados e caindo na mídia, o que o fez mudar totalmente de rumo. Mas ele se afastou de nós e eu acabei perdendo o contato.
Jessica sempre encontra uma desculpa para passar um tempo comigo, mas, no fundo, eu sei que ela não quer que eu tenha outro colapso. E era legal até ter que passar esse tempo com ela. Acabei descobrindo muito mais sobre o seu noivo, sobre o casamento. Era divertido ver como ela era tão diferente de mim. Mas eu estava feliz.
101
Enquanto os artistas que ficam nessa vão para a reabilitação, você, no máximo, vai ficar internado. Não é glamoroso como você viu em filmes, não é legal como você vê os artistas fazendo. Mas a vida é sua.
Acho que já tinha se passado um ano, Jessica estava com os preparativos finais para o casamento. Eu seria um padrinho, e estava feliz de já ter meu terno em mãos. Sabe, uma coisa muito boa é saber que a sua irmã encontrou alguém bom o suficiente para levá-la para o altar. É uma felicidade que toma conta do seu corpo, é algo muito bom.
Eu tinha saído para comprar comida, uma quase meditação diária ir até um restaurante e comprar para viagem. Era um dos pequenos prazeres que eu tinha em estar ali, mesmo que sozinho.
-? - ouvi uma voz familiar me chamando.
-!- parei para abraçá-la. - Quanto tempo! Como você está?
-Estou bem. E você? Soube que está bem melhor agora heim. - ela sorriu e me abraçou de novo. Mas dessa vez ela estava mais bonita que a Johanson. - Você tá ocupado?
-Não. O que foi?
-Não quer ir em algum lugar comigo? Vai ser legal. E pode ter bolo. Vamos.
-Tudo bem. Mas você precisa prometer que vai me ligar da próxima vez. E combinar como pessoas normais.
-Qual a graça de ser normal, moço? - ela riu enquanto enganchava em meu braço. - Vem, tem um lugar que eu queria muito ver.
Pegamos metrô e depois de quinze minutos estávamos no local que ela queria. Era tipo aqueles bares que tocam bandas ou muito velhas para serem lembradas ou muito novas para serem reconhecidas. Entramos e sentamos em uma mesa ao fundo.
Pedimos duas cervejas e começamos a relembrar histórias da nossa infância, a saber como cada um estava agora. Até que ela me cutucou e apontou a um cara no palco.
Ele parecia já ter uns quarenta anos, estava acabado e lembrava um Elvis Presley no final da vida com a roupa que usava. Mas assim que vi o rosto dele entendi o que queria. Era Luke.
-Luke, o primeiro dos muitos erros. - disse, dando um gole na cerveja. - Acho que eu deveria ser mais como você e não ligar muito da solidão. - confesso que doeu, mas eu entendia .
-Está dizendo que vai parar de procurar um cara? - olhei sugestivamente para ela.
-Não, estou dizendo que só vou aceitar sair com ele se eu achar que vale a pena.
Ficamos alguns minutos em silêncio, e mesmo assim minha cabeça fervia de ideias e palavras que eu queria tanto poder dizer a ela. Não sabia muito bem o que dizer, ou como dizer. Mas aquela era minha última chance.
-, preciso te contar uma coisa. Durante muito tempo eu vi você com esses caras, e isso me corroía. Eu já tentei te falar isso milhões de vezes, mas eu nunca consegui. Eu fiz mais do que eles já fizeram para você, e eu faria tudo por você. Você nunca percebeu isso? - estava atônita tentando compreender tudo aquilo que eu estava falando. Eu não conseguia escutar mais nada, só as batidas do meu coração. - Eu sempre estive aqui com você, mas quando te vi com não consegui acreditar. Não dava para aceitar que eu tinha te perdido para ele. Mas então tudo aquilo aconteceu e você já sabe como isso terminou. Eu só queria que o tempo voltasse para arrumar tudo isso.
-… - ela tentou me interromper, mas eu não deixei. Eu precisava falar.
- Eu tenho três palavras que eu sempre quis te dizer. - ela me olhou curiosa, mas eu já estava arrependido de ter começado a falar. Valeria a pena ter contado tudo isso a ela? Valeria a pena me abrir dessa forma para ela. - , estar apaixonado por você é pouco. Eu te amo.
F I M
Não se esqueçam de comentar aqui embaixo, okay lindas? Xx-A
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