Capítulo Único
Aposto que você nunca pensou muito nas possibilidades de um único ato. Nas consequências dele. Nunca pensou no "e se" que não aconteceu.
Relaxa, não te culpo. Eu também nunca pensei.
Por isso vou contar uma sucessão de eventos que desmoronou minha vida, de vários jeitos diferentes. Vou te contar todos os meus "e se". Talvez você sinta pena de mim no final, mas espero que não.
Veja bem, eu e minha família vivíamos super bem na cobertura de um prédio de luxo em Manhattan. Era de se esperar que nossas férias de verão fossem em Dubai, na Disney, em Paris, em uma praia desértica na Tailândia ou, sei lá, fazendo um tour pelas ilhas gregas.
Mas ninguém imaginaria que não, não passávamos as férias assim. Todos os três meses de verão eram gastos em um acampamento de verão para a família em Howdolre, uma cidade minúscula no interior do Texas. Era tão pequena que nem aparecia no mapa. Na verdade, os únicos moradores da cidade eram o pessoal que cuidava do acampamento durante o ano, além dos próprios donos.
O que interessa é que, apesar da viagem ser obrigatória, ninguém reclamava, nem mesmo . Todos nós gostávamos do verão que era passado naquele acampamento. Era sempre no mesmo lugar, mas todo ano tinha algo de diferente para nos receber.
Naquele ano, por exemplo, fomos recebidos com uma tirolesa que percorria todo o perímetro da cidade. Demorava horas para atravessá-la, mas mesmo assim eu e Kyra, minha irmã mais nova de doze anos, andávamos nela quase todos os dias. Ela amava o acampamento por causa da comida. Era muito boa e o cozinheiro era extremamente gentil, principalmente com ela. A verdade é que, se não fosse por Kyra, nós nunca teríamos descoberto aquele pedaço de paraíso. , minha gêmea má, não amava o acampamento exatamente, mas gostava de ir porque havia meninos bonitos.
Um dos melhores amigos de e meu eterno amor de verão, , era o principal motivo que levava a Howdolre todos os anos. era incrível. Três anos mais velho que nós duas, tinha o irmãozinho mais apertável do universo, tocava violão e era muito, muito bonito. Apesar de sermos gêmeas idênticas, aparentemente escolhera a mim, e a relação que eu tinha com , que já não era tão boa antes, piorou.
A bem da verdade, foi que o conheceu primeiro, seis anos antes, na primeira vez em que fomos ao Acampamento de Howdolre. Na época eu tinha a idade que Kyra tem agora e, assim como Kyra, ligava só para a comida e para os animais. O trabalho da paquera era por conta de .
não sabia que ela tinha uma irmã gêmea, na primeira vez em que nos encontramos, durante a madrugada do último dia, quando eu deliberadamente resolvi assaltar a cozinha.
-! –Repreendeu ele, quando me viu comendo as rosquinhas de açúcar do café da manhã que seriam servidas apenas no dia seguinte.
Lancei o sorriso mais meigo que uma garota de doze anos tem a oferecer. Um sorriso cheio de açúcar.
-Eu não sou . – Falei de boca cheia. Pelo modo como ele ficou confuso, estava óbvio que não havia falado de mim para ele, como esperei que ela tivesse feito. Isso me deixou triste. – Meu nome é . Irmã gêmea dela.
-Oh. –Ele exclamou. E depois cerrou os olhos. – Essas rosquinhas... Você não deveria estar comendo. Foi pra isso que você levantou no meio da noite!?
Cerrei os olhos também, o analisando.
-Foi pra isso que você levantou!?
corou. Foi meio que fofo.
-Ok, vou pegar duas, a gente se despede aqui e finge que não aconteceu.
Lancei um olhar superior. Eu sabia que ele era mais velho, e mesmo não sendo a expert em garotos e tudo mais, me senti feliz por um garoto bonito e mais velho estar falando comigo.
Nosso primeiro beijo aconteceu dois anos depois desse fatídico encontro às escuras na cozinha. Foi perfeito, mas foi horrível.
Foi perfeito porque o dia estava lindo. Foi perfeito porque estávamos na beira do lago, enquanto ele dedilhava no violão. Foi perfeito porque aquele foi o primeiro beijo da minha vida. Simplesmente foi perfeito.
Mas foi horrível porque viu. Ela viu tudo.
podia ser bem má quando queria, realmente podia. E não digo malvadinha. Ela era má de verdade. Uma vez ficou com inveja quando uma das amigas de nossa mãe elogiou meus cabelos grandes. Na manhã seguinte, quando acordei, descobri que havia cortado mais de um palmo do meu cabelo enquanto eu dormia, com uma tesoura que encontrou no armário do banheiro. Ela tinha nove anos, agiu por inveja e maldade.
Acho que foi a única vez que se arrependeu de algo que fez comigo, porque ela pagou bem caro por aquele prazer momentâneo de me ver quase careca.
Meus pais a deixaram de castigo. Não por uma semana ou duas. Ela estava de castigo até meu cabelo crescer exatamente onde estava antes de ela corta-lo. Sem presente de natal, ou aniversário, até todo o meu cabelo crescer.
Tive minha própria dose de maldade naquela época, quando jogava na cara dela as coisas que ela não havia ganhado. Ou quando fomos todos pra Disney e ela não. Kyra era pequena demais para se lembrar disso, mas nós duas rimos de até hoje por causa desse episódio.
Eu descobri que gostava de quando tentou repetir o beijo no lago no ano seguinte. Ela sabia que estávamos juntos e mesmo assim tentou beijar . Comentei com minha mãe na semana que voltamos a Nova York e ela ainda não ficou do meu lado nessa história.
- . Pelo amor de Deus, não seja tão infantil. –Falou minha mãe revirando os olhos, enquanto secava um copo e o guardava no armário, fechando a porta com uma força um pouco maior que a necessária. Era aparentemente uma indireta, para mim e ajuda-la com a louça, mas fingi que não notei. Martha estava sendo paga para fazer exatamente isso.
-Infantil? –Balbuciei, surpresa. Olhei para , que sorria diabolicamente. –Ela quase beijou o meu namorado!
- Quase. –Frisou , com uma pontada de desapontamento na voz. Ela o queria. Ela o queria desde o começo e não entendia porque eu era a única a ver isso.
Minha mãe estalou a língua.
- Foi sem querer, . Não seja tão insegura. Aposto que o não tem olhos para nenhuma outra a não ser você.
Grunhi.
- Eu seria muito menos insegura se por um acaso e eu não tivéssemos exatamente a mesma cara! – Falei brava, encarando minha irmã gêmea.
Ao invés de se zangarem comigo, ambas soltaram aquela risadinha que davam sempre que eu usava esse argumento.
- Você é um pouco mais gordinha. – Disse , me fazendo bufar.
- Acho que ele prefere as gordinhas, então.
Eu sabia que ela gostava dele. E quando brigávamos assim, era quase impossível não jogar na cara dela que eu o tinha e ela não. me olhou chateada, mas eu estava tão brava que saí da cozinha pisando duro, sem ter tempo de me sentir arrependida.
e eu nunca nos demos bem. Nunca trocamos roupas. Nunca saímos por ai de carro mexendo com o pessoal da rua. Nunca ficamos até tarde conversando sobre besteiras. A verdade é que nós nunca conversamos, fim. E não é como se eu estivesse me lamentando, , afinal, era a gêmea má.
Mas mesmo assim ela era minha irmã e às vezes eu sentia traindo meu próprio sangue quando beijava . Eu poderia parar de me relacionar com ele, mas ficava triste porque sabia que jamais faria o mesmo por mim se fosse o contrário.
Meu relacionamento com era complicado o bastante por causa da distância. Ele morava em Seattle e eu em Nova York. Era uma distância simplesmente muito grande. Às vezes vinha no Natal ou no Ano Novo, porém não bastava. Eu queria estar com ele por todos os dias da minha vida, não apenas no verão. Amá-lo por quatro verões seguidos e ainda querer mais... Todos os três meses do verão não compensava toda a falta que eu sentia dele pelo resto do ano, mas ele sempre iria ser meu amor de verão, e eu sempre iria amá-lo.
Na última noite no Howdolre daquele ano, fizemos uma fogueira. A família de e a nossa, os e os . Kyra estava bastante animada porque Marcus, o proprietário, prometeu que no ano seguinte a tirolesa ainda estaria ali. E papai prometeu que seu aniversário, apesar de ser em setembro, poderia ser comemorado no acampamento no próximo ano. Kyra e eu passamos quase à noite toda falando de seus treze anos. Finalmente iria se tornar uma adolescente!
- Mas vou ser igual a , não igual a . –Prometeu ela, nos fazendo rir. Até mesmo riu.
- Kyra está animada. – Começou , se sentando no espaço do tronco vazio ao meu lado. –Até eu mal posso esperar!
Dei risada.
- Sim, ela está cem por cento animada. Já escolheu o sabor do bolo e todo o resto.
Ele franziu a face.
- Ouvi um boato de que ela vai pedir a Marcus para enfeitar a tirolesa com pisca pisca.
Encarei .
- Não é um boato.
- O que? –Ele riu – Não acredito.
- Kyra é uma figura mesmo. – Falei, carinhosamente.
- Kyra é maluca!
- Kyra ouviu isso. – Resmungou Kyra, sentando-se entre nós.
Cutuquei a barriga dela.
- só estava sendo irritante.
- Ele é sempre irritante. – Resmungou ela novamente, rolando os olhos.
Nos três rimos da performance e, sem notar, meu olhar encontrou o de , e ela nos olhava magoada. Nossa briga havia sido a apenas dezoito horas atrás, mas me senti mal por ela.
Provavelmente leu meus pensamentos.
- Hey, ! Senta aqui com a gente! – Chamou. Dei um sorriso, mostrando que estava tudo bem se ela viesse. Kyra não colaborou, perfurando com o olhar por causa da ousadia do convite. Mas se notou isso ignorou a irmã, porque veio em nossa direção assim mesmo. Ela nunca perdia a oportunidade de estar perto de .
Kyra não ia muito com a cara dela também. Na verdade, o problema era com e não conosco. foi mais má com Kyra do que comigo e como se não bastasse, tinha inveja da minha relação com ela, relação que ela mesma estragou. Como se ser geniosa já não fosse o suficiente, também era ciumenta, e quando Kyra nasceu ela fez tudo e mais um pouco para chamar atenção para si.
Quando Kyra tinha só dez meses de idade, se empoleirou no peitoral da janela do quarto dela de propósito e gritou para que meu pai fosse salvá-la. Ele a salvou, mas se não fosse por mim, hoje Kyra seria cega. O grito de que tirou meu pai da sala fez Kyra se interessar por um enfeite de porcelana e ao jogá-lo no chão e o partir em vários cacos, quase levou um deles ao olho.
Essa foi uma das muitas peripécias de na infância, a fim de desviar a atenção de Kyra para si própria, quando ela sabia que Kyra precisava dos meus pais mais do que ela.
- Ah, de repente me deu uma fome. – Exclamou Kyra quando apareceu. –Vou ver o que papai está aprontando.
Ela não estava com fome, foi só um pretexto para sair de perto de .
- E aí, , não nos falamos muito nesse verão. –Disse . –Como está?
Eu praticamente podia ouvir o pensamento dela: "Você é que esteve ocupado demais enfiando a língua na boca da minha irmã esse verão, ".
- É verdade. – Concordou, com um sorriso. – Estou bem, , e você?
Eu não pretendia fazer contato físico com para não se sentir mal, porém ele segurou minhas mãos nas suas antes de responder a pergunta dela. E depois olhou para mim.
- Estou ótimo. –Respondeu finalmente, piscando para .
Já parece bem óbvio, mas vale a pena esclarecer: não sabia da paixão platônica de por ele. Nunca soube, e se fosse para saber, não seria eu quem contaria.
- Hora da música! –Gritou meu pai.
e eu nos entreolhamos felizes e tarde demais percebi que ignoramos ao nos levantarmos sem chamá-la. Tarde demais percebi que ela não estava lá com a gente quando tocou o violão e Kyra e eu improvisamos uma dancinha country para combinar com o ritmo. Era tarde demais quando notei que não estava quando nos despedimos dos . Muito tarde percebi que não esteve na roda durante duas horas e meia e ninguém pensou em chamá-la para participar.
Talvez tenha sido tarde para ela mesma, mas era tarde demais para todos nós quando notei que ela havia sido esquecida pela própria família e essa era a pior parte de todas.
Na manhã seguinte a fogueira, nossa última manhã até o ano seguinte, nos despedimos de todas as famílias amigas. Os , os Stevens, os McHall e os Meyer. Nos despedimos dos cozinheiros, e dos monitores.
Havia sido um bom verão.
Agora que você está cem por cento atualizado sobre os recentes acontecimentos, posso te contar as estatísticas. Veja bem, há apenas duas situações possíveis para o que aconteceu. Situação 1: eu me lembraria de pegar o moletom.
Situação 2: eu não me lembraria de pegar o moletom.
E em cada uma dessas situações, há n probabilidades de coisas que poderiam ter acontecido.
Então vamos lá. O que aconteceria se eu tivesse me lembrado de pegar o moletom?
Situação 1- Probabilidade A
Dei uma olhada rápida no meu quarto do chalé para ter certeza de ter pegado tudo. Fui até a porta, mas dei meia volta. Meu pai não tinha mania de ligar o ar condicionado, ele preferia deixar os vidros abertos, mas tenho certeza que o avião estaria bem gelado e por isso resolvi pegar meu moletom da US, Universidade de Seattle, que havia dado para mim assim que entrou na faculdade. Eu amava aquele moletom. Procurei-o na bolsa, mas não o achei. Tínhamos apenas vinte minutos antes de partirmos e eu havia perdido minha peça de roupa preferida. Ótimo.
Convoquei Kyra para uma reunião de emergência e ela concordou em me ajudar a procurar. Queria ter chamado também, mas não funcionava celular dentro do acampamento e o chalé dele estava longe demais para o pouco tempo que eu tinha. Kyra procurava do lado de dentro enquanto eu olhava do lado de fora. Já haviam se passado dez minutos quando a cabeleira brilhante de entrou em meu campo de visão. Em seu braço vinha uma coisa azul e molhada que eu automaticamente reconheci como sendo meu moletom. Abri o maior sorriso para ele; sorriso esse que vacilou quando vi que ele estava bravo.
- O que é isso, ? – Perguntou.
Fiquei confusa.
- Do que você está falando? Kyra, o encontrou! Pode descer. – Gritei para dentro do chalé.
Quem parecia confuso agora era .
- Ah, ótimo, estava quase indo procurar nos estábulos. E porque sua blusa está toda nojenta? –Perguntou, apontando para a blusa pingando no colo de .
Suspirei.
- É o que estou querendo saber. Onde a encontrou?
- Onde? No rio perto do meu chalé. Com um bilhete escrito "Pior presente que já ganhei"
Franzi a face.
- Isso é ridículo. É minha peça de roupa preferida. E, mesmo se não fosse, você acha que eu seria burra de me desfazer dela no rio perto do seu chalé, se o mesmo rio corre atrás do meu chalé também!?
- Se você não gostou... – Ele pareceu chateado. Sorri.
- Eu amei. Você sabe disso. Com certeza foi obra de , jogar em algum lugar que você encontre.
- Por que está acusando sua irmã? – Não gostei do modo como ele a defendeu. E sinceramente me irritava que ela fosse má com todo mundo e boazinha com ele, fazia parecer que eu era a vilã.
- Porque ela sempre faz maldades quando está brava. – Falou Kyra antes de mim. – É verdade! Jogar a blusa da no rio é bem a cara dela.
não se convenceu de que havia sido quem jogou minha blusa no rio, mas pelo menos o convenci de que não tinha sido eu quem havia jogado e isso bastava, pelo menos por enquanto.
Ficamos abraçados até meu pai nos separar de brincadeira. Nós geralmente íamos juntos para o aeroporto, mas não naquele ano. O voo dele ia sair só mais tarde e por isso tivemos que adiar. As duas horas no carro eram muito boas e esse ano teríamos duas horas a menos. Nos despedimos dos irmãos Marcus e Angel com um abraço familiar. Mamãe deixou eu dar comida aos patos uma última vez. Troquei um olhar zangado com quando entrei no carro, para mostrar que sabia o que ela tinha feito.
Partimos, olhando uma última vez para o Acampamento de Howdolre, para o lago e para as árvores ao redor, dizendo mentalmente que no próximo verão nós voltaríamos.
Bem, isso poderia ter acontecido. Teria sido tipo, bem legal, confesso. Mas não foi assim que a família se despediu do Acampamento de Howdolre naquele ano.
Para contar de uma segunda maneira, teria que voltar um pouco no tempo. Mais precisamente, uma noite.
Ok, então. O que aconteceria se eu tivesse sido legal com na noite anterior?
Situação 1- Probabilidade B
- Hora da música! – Gritou meu pai.
e eu nos entreolhamos felizes, era nossa parte preferida.
- Você não vem, ? – Perguntei, quando notei que ela não nos seguia. Minha irmã olhou para mim um pouco hesitante, mas depois que lhe concedeu uma piscadinha, ela sorriu.
- Eu não perderia por nada!
Foi uma noite maravilhosa. Kyra e eu improvisamos uma dancinha country e, por mais que tenha revirado os olhos, se levantou do tronco para dançar com a gente. Isso pode ter deixado Kyra menos feliz, mas eu até que gostei de ver participando.
- Eu vou sentir falta desse lugar. -Murmurou quando nos sentamos. A música estava mais calma agora, como um ruído de fundo. Minha mãe já havia ido se deitar e meu pai conversava com Ben . Kyra brincava com Nate, o irmão de , e quando ela não fez o que ele queria, o pequeno jogou um graveto nela. Kyra riu.
- Eu também. Amo isso aqui.
Ela me concedeu um sorriso quase amistoso.
- É, tanto faz.
não era muito boa nesse negocio de sentimentos, mas eu senti o amor que ela tinha pelo lugar por causa desse simples "tanto faz".
- Eu não quero voltar para Seatle. , me leva com você, pelo amor de Deus. -Reclamou , chegando próximo a nós.
Quando chegou do meu lado, automaticamente enlaçou minha cintura, mas conseguiu disfarçar muito bem.
- Lógico que não. –Falou ela. –Preciso ter uma desculpa convincente para visitar Seatle.
sorriu.
- Bom, é. Excelente argumento.
Minha irmã não precisava ser desagradável o tempo todo e ali estava a prova. Ela estava leve, e rindo, e fazendo piadinhas. Essa é a que eu gostaria de ter como irmã.
Não que eu a odeie, realmente. Mas como parte da nossa família, acho que ela não deveria ser tão geniosa. Ela podia mudar.
Eu queria poder dizer que tinha duas irmãs maravilhosas. Não queria ter que explicar que era um pouco ciumenta e infantil.
- . -Disse meu namorado, com um suspiro. Ele nunca me chamava pelo nome completo. Fiquei imaginando o que ele ia dizer.
- .
- Estava pensando... – Começou ele, enquanto andávamos. Meu pai havia chamado alguns minutos antes e e eu estávamos andando de volta para os chalés. Ele sempre me acompanhava até o meu, que geralmente era o mais perto.
- No que, ? –Perguntei quando ele não disse nada.
Ele sorriu e soltou minha mão.
- Quem chegar por último é a mulher do sapo! – Gritou, antes de sair em disparada na minha frente.
Dei risada e comecei a correr atrás dele, depois que passou o choque inicial.
- Droga. – Murmurei quando encontrei sentado nos degraus.
- Ora, ora, ora... Parece que sempre ganho, não é mesmo?
Revirei os olhos.
-Querido, olha o tamanho das suas pernas. Elas dão cinco da minha.
-Desculpinhas. Aprenda a perder, . –Falou de brincadeira. Ficamos na frente do chalé por muito tempo depois, até minha mãe aparecer de robe e pedir encarecidamente que eu fosse dormir.
Me despedi de e subi.
Na manhã seguinte, dei uma olhada rápida no meu quarto do chalé para ter certeza de ter pegado tudo. Fui até a porta, mas dei meia volta. Meu pai não tinha mania de ligar o ar condicionado, ele preferia deixar os vidros abertos, mas tenho certeza que o avião estaria bem gelado e por isso resolvi pegar meu moletom da US, Universidade de Seattle, que havia dado para mim assim que entrou na faculdade. Eu amava aquele moletom. Procurei-o na bolsa, e o encontrei amassado no fundo. Dei uma alisada nele e o coloquei no braço, fechando a porta ao passar por ela.
- Onde está o ? – Perguntei à minha mãe.
- Ainda não apareceu.
Esperei o garoto por dez minutos, até que sua cabeleira grande entrasse em meu campo de visão.
Dei um sorriso triste quando o vi, sabendo que o veria apenas daqui a nove meses. Dava tempo de ter um filho! Era um tempo muito longo...
Ficamos abraçados até meu pai nos separar de brincadeira. Nós geralmente íamos juntos para o aeroporto, mas não naquele ano. O voo dele ia sair só mais tarde e por isso tivemos que adiar. As duas horas no carro eram muito boas e esse ano teríamos duas horas a menos. Nos despedimos dos irmãos Marcus e Angel com um abraço familiar. Mamãe deixou eu dar comida aos patos uma última vez. Troquei um olhar triste com quando entrei no carro, para mostrar que esperava que ela continuasse boazinha.
Partimos, olhando uma última vez para o Acampamento de Howdolre, dizendo mentalmente que no próximo verão nós voltaríamos.
É. Isso teria sido melhor ainda. Quer dizer, eu estava prestes a fazer as pazes com ! Na minha cabeça, esse foi o melhor final para o último dia em Howdolre naquele ano.
No nosso último ano.
Só que não foi isso que aconteceu.
Em parte, foi culpa dela, mas eu me culpo mais do que culpo a ela. Se eu não tivesse ignorado na noite da fogueira, nada teria acontecido.
O que realmente aconteceu foi que jogou meu moletom no rio, mas eu me esqueci completamente dele e nunca o encontrou.
Situação 2- O que realmente aconteceu
Dei uma olhada rápida no meu quarto do chalé para ter certeza de ter pegado tudo. Fui até a porta, sorri tristemente para o quarto vazio e sai, deixando as malas na pequena varanda do lado de fora do chalé. Ainda tinha vinte minutos antes de sair, então resolvi fazer uma surpresa para , porque ficaríamos separados por longos nove meses, afinal.
Fui caminhando devagar, me encharcando o máximo de vitamina D possível, sentindo o aroma das flores e tirando umas fotos pelo caminho.
- ! –Exclamou Nate, quando me viu. Ele estava sentadinho no degrau brincando com um pequeno montinho de areia, parecia uma miniatura de . Uma miniatura com meia dúzia de idade.
Sorri para ele.
- Oi, Nate! –Falei, passando as mãos pelos cabelos dele. Nate abriu um sorriso banguela para mim e continuou mexendo na areia.
- Olá, namorada. – Cumprimentou , da janela. Dei um sorriso pra ele.
- Oi, namorado.
Ele deu a volta e desceu as escadas, chegando até onde eu estava.
- Vou sentir saudades disso.
- É, eu também. Como sempre. –Suspirei.
- Hey, esse ano eu vou pra sua casa. –Tentou me animar.
- Por mais de três dias?
- Duas semanas está bom!?
Dei um muxoxo.
- Não.
gargalhou, me abraçando.
- Oh, maldita distância que me separa desta mulher, meu Deus. – Sussurrou, fazendo meu coraçãozinho palpitar rapidamente. Senti vontade de chorar.
- Eu te amo, . – Falei no ouvido dele. me apertou ainda mais forte.
- Eu te amo, .
Ficamos abraçados até meu pai nos separar de brincadeira. Nós geralmente íamos juntos para o aeroporto, mas não naquele ano. O voo dele ia sair só mais tarde e por isso tivemos que adiar. As duas horas no carro eram muito boas e esse ano teríamos duas horas a menos. Nos despedimos dos irmãos Marcus e Angel com um abraço familiar. Mamãe deixou eu dar comida aos patos uma última vez. Troquei um olhar triste com quando entrei no carro, ela estava muito estranha.
Partimos, olhando uma última vez para o Acampamento de Howdolre, dizendo mentalmente que no próximo verão nós voltaríamos.
Kyra inventou um jogo estranho no carro (a gente falava uma palavra e a outra pessoa tinha que falar uma palavra que começasse com a mesma letra que a outra terminou. É confuso), e foi isso que fizemos por pelo menos vinte minutos. Até meu pai fazer algo que nunca fizera: ligar o ar condicionado. Eu, como não sou frozen nem nada, sinto frio de tudo muito rápido, então me estiquei para pegar minha mochila onde havia guardado meu moletom da US, Universidade de Seattle, que tinha me dado, assim que entrara na faculdade. Eu amava aquele moletom. Procurei-o na bolsa, mas não o achei. Estávamos no carro há meia hora partindo para o aeroporto e eu havia perdido minha peça de roupa preferida. Ótimo.
- Pai? –Chamei, já me sentindo uma idiota.
- Sim?
- Fica muito ruim voltar para o acampamento!?
Ele riu.
- Ué, filha, já?
Dei um sorriso amarelo pelo retrovisor.
- Devo ter deixado meu moletom lá, não encontro ele na mala. Queria ir buscá-lo.
Meu pai suspirou.
- Tenho certeza que pode trazer outra pra você.
Resmunguei.
- Aquele moletom era único!
Meus pais trocaram um olhar, mas eu sabia que tinha vencido.
- , tem que ser muito rápido, ou então vamos perder o voo, entendeu?
Balancei a cabeça afirmativamente e rolou os olhos. Estávamos na estrada de terra ainda, não demoraríamos muito e dava para fazer um retorno. Meu pai começou a fazer a manobra perigosa de virar o carro.
- Não precisa voltar, pai. – Exclamou .
- É porque não é o seu moletom, né. – Disse Kyra, sem olhar pra ela.
Meu pai estava prestes a dar a volta agora. começou:
- Porque está com...
Mas jamais terminou essa frase.
Quando penso nesse momento, imagino que por segundos, nada teria acontecido. Meu último "e se":
Se meu pai tivesse esperado terminar a frase, ele não teria virado o carro no exato momento que um caminhão saiu da curva.
Mas ele não esperou e o carro bateu. Eu ainda podia ver o sorriso do meu pai pelo retrovisor e as mãos de minha mãe nas pernas dele. Podia ouvir o "bip" do joguinho de Kyra e a última vez que ela se virou para sorrir para mim. Podia ver revirando os olhos para o que Kyra tinha falado.
Em um momento, estava revivendo tudo aquilo várias vezes e, em outro, já estava acordada em uma cama de hospital.
Viva.
Foi um evento triste.
Meu pai recebeu todo o impacto, morreu na hora. De acordo com os médicos, minha mãe ainda estava viva quando o carro bateu, mas quando a ambulância chegou sua pulsação já tinha cessado. e Kyra estavam vivas e conscientes quando chegaram ao hospital, mas Kyra não resistiu. Morreu algumas horas depois de ter chegado.
permaneceu em coma por três dias, e eu fiquei esperando que ela acordasse. Lembro de ter ficado do lado do seu leito, perdoando todas as maldades dela, prometendo que iria aprender a gostar dela do jeito que ela era. Lembro desse momento de desespero, desejando com todo o meu ser que o membro da família que eu menos gostava vivesse. Ela era minha irmã, minha gêmea. Não importava. Eu só notei o quanto ela era importante para mim quando permaneci ao lado dela esperando que acordasse.
Mas nunca acordou.
Houve um problema no coração e ela também não resistiu.
Aí está. O acidente que matou uma família inteira por causa de um único fato. Um fato tão bobo.
Fiquei deprimida nos primeiros anos, mas depois foi passando. Me mudei para Seattle quando completei vinte e um, a fim de ficar mais perto de .
Nos casamos dois anos depois da minha mudança. E tive que fazer tudo sozinha.
Queria que minha mãe estivesse comigo quando fui provar vestidos. Queria que Kyra fosse minha dama de honra. Queria que fosse minha madrinha.
Não tinha mais meu pai. Entrei sozinha. No altar, eu não parava de olhar para as quatro cadeiras vazias, onde minha família deveria estar. Tive que reprimir minha vontade de chorar várias e várias vezes.
Nunca mais voltei ao acampamento de Howdolre. Era um acampamento para família, e eu não tinha mais uma família. Encontrei meu moletom depois, mas nunca mais o usei. Ele me trazia memórias ruins e eu não gostava delas.
Nós não podemos nos prender no que poderia ter acontecido, como eu fiz. Temos que encarar a realidade, apenas. Temos que amar quem quer que seja, no momento que temos para amar essa pessoa, porque não sabemos o que pode acontecer depois. Temos que amar uma pessoa como se fossemos perdê-la no dia seguinte. Assim como amei meus pais. Assim como eu amei Kyra. E assim como eu gostaria de ter amado , apesar de tudo.
Mas, e se?
Apertei a mão de ao meu lado e ambos encaramos a fachada. Respirei fundo.
- Pronta? –Perguntou.
Olhei para ele e em seguida para as duas crianças pequenas que me encaravam com expectativa do banco de trás. Sorri.
- Sim.
Entramos no acampamento de Howdolre. A tirolesa ainda estava ali e me lembrei de Kyra e da festa que ela nunca teve. Meu coração apertou, mas não falei nada.
Finalmente estava de volta no lugar que mais amava no mundo, com as pessoas que eu mais amava no mundo. A minha família.
E eu os amava desesperadamente, como se fosse perdê-los.
Relaxa, não te culpo. Eu também nunca pensei.
Por isso vou contar uma sucessão de eventos que desmoronou minha vida, de vários jeitos diferentes. Vou te contar todos os meus "e se". Talvez você sinta pena de mim no final, mas espero que não.
Veja bem, eu e minha família vivíamos super bem na cobertura de um prédio de luxo em Manhattan. Era de se esperar que nossas férias de verão fossem em Dubai, na Disney, em Paris, em uma praia desértica na Tailândia ou, sei lá, fazendo um tour pelas ilhas gregas.
Mas ninguém imaginaria que não, não passávamos as férias assim. Todos os três meses de verão eram gastos em um acampamento de verão para a família em Howdolre, uma cidade minúscula no interior do Texas. Era tão pequena que nem aparecia no mapa. Na verdade, os únicos moradores da cidade eram o pessoal que cuidava do acampamento durante o ano, além dos próprios donos.
O que interessa é que, apesar da viagem ser obrigatória, ninguém reclamava, nem mesmo . Todos nós gostávamos do verão que era passado naquele acampamento. Era sempre no mesmo lugar, mas todo ano tinha algo de diferente para nos receber.
Naquele ano, por exemplo, fomos recebidos com uma tirolesa que percorria todo o perímetro da cidade. Demorava horas para atravessá-la, mas mesmo assim eu e Kyra, minha irmã mais nova de doze anos, andávamos nela quase todos os dias. Ela amava o acampamento por causa da comida. Era muito boa e o cozinheiro era extremamente gentil, principalmente com ela. A verdade é que, se não fosse por Kyra, nós nunca teríamos descoberto aquele pedaço de paraíso. , minha gêmea má, não amava o acampamento exatamente, mas gostava de ir porque havia meninos bonitos.
Um dos melhores amigos de e meu eterno amor de verão, , era o principal motivo que levava a Howdolre todos os anos. era incrível. Três anos mais velho que nós duas, tinha o irmãozinho mais apertável do universo, tocava violão e era muito, muito bonito. Apesar de sermos gêmeas idênticas, aparentemente escolhera a mim, e a relação que eu tinha com , que já não era tão boa antes, piorou.
A bem da verdade, foi que o conheceu primeiro, seis anos antes, na primeira vez em que fomos ao Acampamento de Howdolre. Na época eu tinha a idade que Kyra tem agora e, assim como Kyra, ligava só para a comida e para os animais. O trabalho da paquera era por conta de .
não sabia que ela tinha uma irmã gêmea, na primeira vez em que nos encontramos, durante a madrugada do último dia, quando eu deliberadamente resolvi assaltar a cozinha.
-! –Repreendeu ele, quando me viu comendo as rosquinhas de açúcar do café da manhã que seriam servidas apenas no dia seguinte.
Lancei o sorriso mais meigo que uma garota de doze anos tem a oferecer. Um sorriso cheio de açúcar.
-Eu não sou . – Falei de boca cheia. Pelo modo como ele ficou confuso, estava óbvio que não havia falado de mim para ele, como esperei que ela tivesse feito. Isso me deixou triste. – Meu nome é . Irmã gêmea dela.
-Oh. –Ele exclamou. E depois cerrou os olhos. – Essas rosquinhas... Você não deveria estar comendo. Foi pra isso que você levantou no meio da noite!?
Cerrei os olhos também, o analisando.
-Foi pra isso que você levantou!?
corou. Foi meio que fofo.
-Ok, vou pegar duas, a gente se despede aqui e finge que não aconteceu.
Lancei um olhar superior. Eu sabia que ele era mais velho, e mesmo não sendo a expert em garotos e tudo mais, me senti feliz por um garoto bonito e mais velho estar falando comigo.
Nosso primeiro beijo aconteceu dois anos depois desse fatídico encontro às escuras na cozinha. Foi perfeito, mas foi horrível.
Foi perfeito porque o dia estava lindo. Foi perfeito porque estávamos na beira do lago, enquanto ele dedilhava no violão. Foi perfeito porque aquele foi o primeiro beijo da minha vida. Simplesmente foi perfeito.
Mas foi horrível porque viu. Ela viu tudo.
podia ser bem má quando queria, realmente podia. E não digo malvadinha. Ela era má de verdade. Uma vez ficou com inveja quando uma das amigas de nossa mãe elogiou meus cabelos grandes. Na manhã seguinte, quando acordei, descobri que havia cortado mais de um palmo do meu cabelo enquanto eu dormia, com uma tesoura que encontrou no armário do banheiro. Ela tinha nove anos, agiu por inveja e maldade.
Acho que foi a única vez que se arrependeu de algo que fez comigo, porque ela pagou bem caro por aquele prazer momentâneo de me ver quase careca.
Meus pais a deixaram de castigo. Não por uma semana ou duas. Ela estava de castigo até meu cabelo crescer exatamente onde estava antes de ela corta-lo. Sem presente de natal, ou aniversário, até todo o meu cabelo crescer.
Tive minha própria dose de maldade naquela época, quando jogava na cara dela as coisas que ela não havia ganhado. Ou quando fomos todos pra Disney e ela não. Kyra era pequena demais para se lembrar disso, mas nós duas rimos de até hoje por causa desse episódio.
Eu descobri que gostava de quando tentou repetir o beijo no lago no ano seguinte. Ela sabia que estávamos juntos e mesmo assim tentou beijar . Comentei com minha mãe na semana que voltamos a Nova York e ela ainda não ficou do meu lado nessa história.
- . Pelo amor de Deus, não seja tão infantil. –Falou minha mãe revirando os olhos, enquanto secava um copo e o guardava no armário, fechando a porta com uma força um pouco maior que a necessária. Era aparentemente uma indireta, para mim e ajuda-la com a louça, mas fingi que não notei. Martha estava sendo paga para fazer exatamente isso.
-Infantil? –Balbuciei, surpresa. Olhei para , que sorria diabolicamente. –Ela quase beijou o meu namorado!
- Quase. –Frisou , com uma pontada de desapontamento na voz. Ela o queria. Ela o queria desde o começo e não entendia porque eu era a única a ver isso.
Minha mãe estalou a língua.
- Foi sem querer, . Não seja tão insegura. Aposto que o não tem olhos para nenhuma outra a não ser você.
Grunhi.
- Eu seria muito menos insegura se por um acaso e eu não tivéssemos exatamente a mesma cara! – Falei brava, encarando minha irmã gêmea.
Ao invés de se zangarem comigo, ambas soltaram aquela risadinha que davam sempre que eu usava esse argumento.
- Você é um pouco mais gordinha. – Disse , me fazendo bufar.
- Acho que ele prefere as gordinhas, então.
Eu sabia que ela gostava dele. E quando brigávamos assim, era quase impossível não jogar na cara dela que eu o tinha e ela não. me olhou chateada, mas eu estava tão brava que saí da cozinha pisando duro, sem ter tempo de me sentir arrependida.
e eu nunca nos demos bem. Nunca trocamos roupas. Nunca saímos por ai de carro mexendo com o pessoal da rua. Nunca ficamos até tarde conversando sobre besteiras. A verdade é que nós nunca conversamos, fim. E não é como se eu estivesse me lamentando, , afinal, era a gêmea má.
Mas mesmo assim ela era minha irmã e às vezes eu sentia traindo meu próprio sangue quando beijava . Eu poderia parar de me relacionar com ele, mas ficava triste porque sabia que jamais faria o mesmo por mim se fosse o contrário.
Meu relacionamento com era complicado o bastante por causa da distância. Ele morava em Seattle e eu em Nova York. Era uma distância simplesmente muito grande. Às vezes vinha no Natal ou no Ano Novo, porém não bastava. Eu queria estar com ele por todos os dias da minha vida, não apenas no verão. Amá-lo por quatro verões seguidos e ainda querer mais... Todos os três meses do verão não compensava toda a falta que eu sentia dele pelo resto do ano, mas ele sempre iria ser meu amor de verão, e eu sempre iria amá-lo.
Na última noite no Howdolre daquele ano, fizemos uma fogueira. A família de e a nossa, os e os . Kyra estava bastante animada porque Marcus, o proprietário, prometeu que no ano seguinte a tirolesa ainda estaria ali. E papai prometeu que seu aniversário, apesar de ser em setembro, poderia ser comemorado no acampamento no próximo ano. Kyra e eu passamos quase à noite toda falando de seus treze anos. Finalmente iria se tornar uma adolescente!
- Mas vou ser igual a , não igual a . –Prometeu ela, nos fazendo rir. Até mesmo riu.
- Kyra está animada. – Começou , se sentando no espaço do tronco vazio ao meu lado. –Até eu mal posso esperar!
Dei risada.
- Sim, ela está cem por cento animada. Já escolheu o sabor do bolo e todo o resto.
Ele franziu a face.
- Ouvi um boato de que ela vai pedir a Marcus para enfeitar a tirolesa com pisca pisca.
Encarei .
- Não é um boato.
- O que? –Ele riu – Não acredito.
- Kyra é uma figura mesmo. – Falei, carinhosamente.
- Kyra é maluca!
- Kyra ouviu isso. – Resmungou Kyra, sentando-se entre nós.
Cutuquei a barriga dela.
- só estava sendo irritante.
- Ele é sempre irritante. – Resmungou ela novamente, rolando os olhos.
Nos três rimos da performance e, sem notar, meu olhar encontrou o de , e ela nos olhava magoada. Nossa briga havia sido a apenas dezoito horas atrás, mas me senti mal por ela.
Provavelmente leu meus pensamentos.
- Hey, ! Senta aqui com a gente! – Chamou. Dei um sorriso, mostrando que estava tudo bem se ela viesse. Kyra não colaborou, perfurando com o olhar por causa da ousadia do convite. Mas se notou isso ignorou a irmã, porque veio em nossa direção assim mesmo. Ela nunca perdia a oportunidade de estar perto de .
Kyra não ia muito com a cara dela também. Na verdade, o problema era com e não conosco. foi mais má com Kyra do que comigo e como se não bastasse, tinha inveja da minha relação com ela, relação que ela mesma estragou. Como se ser geniosa já não fosse o suficiente, também era ciumenta, e quando Kyra nasceu ela fez tudo e mais um pouco para chamar atenção para si.
Quando Kyra tinha só dez meses de idade, se empoleirou no peitoral da janela do quarto dela de propósito e gritou para que meu pai fosse salvá-la. Ele a salvou, mas se não fosse por mim, hoje Kyra seria cega. O grito de que tirou meu pai da sala fez Kyra se interessar por um enfeite de porcelana e ao jogá-lo no chão e o partir em vários cacos, quase levou um deles ao olho.
Essa foi uma das muitas peripécias de na infância, a fim de desviar a atenção de Kyra para si própria, quando ela sabia que Kyra precisava dos meus pais mais do que ela.
- Ah, de repente me deu uma fome. – Exclamou Kyra quando apareceu. –Vou ver o que papai está aprontando.
Ela não estava com fome, foi só um pretexto para sair de perto de .
- E aí, , não nos falamos muito nesse verão. –Disse . –Como está?
Eu praticamente podia ouvir o pensamento dela: "Você é que esteve ocupado demais enfiando a língua na boca da minha irmã esse verão, ".
- É verdade. – Concordou, com um sorriso. – Estou bem, , e você?
Eu não pretendia fazer contato físico com para não se sentir mal, porém ele segurou minhas mãos nas suas antes de responder a pergunta dela. E depois olhou para mim.
- Estou ótimo. –Respondeu finalmente, piscando para .
Já parece bem óbvio, mas vale a pena esclarecer: não sabia da paixão platônica de por ele. Nunca soube, e se fosse para saber, não seria eu quem contaria.
- Hora da música! –Gritou meu pai.
e eu nos entreolhamos felizes e tarde demais percebi que ignoramos ao nos levantarmos sem chamá-la. Tarde demais percebi que ela não estava lá com a gente quando tocou o violão e Kyra e eu improvisamos uma dancinha country para combinar com o ritmo. Era tarde demais quando notei que não estava quando nos despedimos dos . Muito tarde percebi que não esteve na roda durante duas horas e meia e ninguém pensou em chamá-la para participar.
Talvez tenha sido tarde para ela mesma, mas era tarde demais para todos nós quando notei que ela havia sido esquecida pela própria família e essa era a pior parte de todas.
Na manhã seguinte a fogueira, nossa última manhã até o ano seguinte, nos despedimos de todas as famílias amigas. Os , os Stevens, os McHall e os Meyer. Nos despedimos dos cozinheiros, e dos monitores.
Havia sido um bom verão.
Agora que você está cem por cento atualizado sobre os recentes acontecimentos, posso te contar as estatísticas. Veja bem, há apenas duas situações possíveis para o que aconteceu. Situação 1: eu me lembraria de pegar o moletom.
Situação 2: eu não me lembraria de pegar o moletom.
E em cada uma dessas situações, há n probabilidades de coisas que poderiam ter acontecido.
Então vamos lá. O que aconteceria se eu tivesse me lembrado de pegar o moletom?
Situação 1- Probabilidade A
Dei uma olhada rápida no meu quarto do chalé para ter certeza de ter pegado tudo. Fui até a porta, mas dei meia volta. Meu pai não tinha mania de ligar o ar condicionado, ele preferia deixar os vidros abertos, mas tenho certeza que o avião estaria bem gelado e por isso resolvi pegar meu moletom da US, Universidade de Seattle, que havia dado para mim assim que entrou na faculdade. Eu amava aquele moletom. Procurei-o na bolsa, mas não o achei. Tínhamos apenas vinte minutos antes de partirmos e eu havia perdido minha peça de roupa preferida. Ótimo.
Convoquei Kyra para uma reunião de emergência e ela concordou em me ajudar a procurar. Queria ter chamado também, mas não funcionava celular dentro do acampamento e o chalé dele estava longe demais para o pouco tempo que eu tinha. Kyra procurava do lado de dentro enquanto eu olhava do lado de fora. Já haviam se passado dez minutos quando a cabeleira brilhante de entrou em meu campo de visão. Em seu braço vinha uma coisa azul e molhada que eu automaticamente reconheci como sendo meu moletom. Abri o maior sorriso para ele; sorriso esse que vacilou quando vi que ele estava bravo.
- O que é isso, ? – Perguntou.
Fiquei confusa.
- Do que você está falando? Kyra, o encontrou! Pode descer. – Gritei para dentro do chalé.
Quem parecia confuso agora era .
- Ah, ótimo, estava quase indo procurar nos estábulos. E porque sua blusa está toda nojenta? –Perguntou, apontando para a blusa pingando no colo de .
Suspirei.
- É o que estou querendo saber. Onde a encontrou?
- Onde? No rio perto do meu chalé. Com um bilhete escrito "Pior presente que já ganhei"
Franzi a face.
- Isso é ridículo. É minha peça de roupa preferida. E, mesmo se não fosse, você acha que eu seria burra de me desfazer dela no rio perto do seu chalé, se o mesmo rio corre atrás do meu chalé também!?
- Se você não gostou... – Ele pareceu chateado. Sorri.
- Eu amei. Você sabe disso. Com certeza foi obra de , jogar em algum lugar que você encontre.
- Por que está acusando sua irmã? – Não gostei do modo como ele a defendeu. E sinceramente me irritava que ela fosse má com todo mundo e boazinha com ele, fazia parecer que eu era a vilã.
- Porque ela sempre faz maldades quando está brava. – Falou Kyra antes de mim. – É verdade! Jogar a blusa da no rio é bem a cara dela.
não se convenceu de que havia sido quem jogou minha blusa no rio, mas pelo menos o convenci de que não tinha sido eu quem havia jogado e isso bastava, pelo menos por enquanto.
Ficamos abraçados até meu pai nos separar de brincadeira. Nós geralmente íamos juntos para o aeroporto, mas não naquele ano. O voo dele ia sair só mais tarde e por isso tivemos que adiar. As duas horas no carro eram muito boas e esse ano teríamos duas horas a menos. Nos despedimos dos irmãos Marcus e Angel com um abraço familiar. Mamãe deixou eu dar comida aos patos uma última vez. Troquei um olhar zangado com quando entrei no carro, para mostrar que sabia o que ela tinha feito.
Partimos, olhando uma última vez para o Acampamento de Howdolre, para o lago e para as árvores ao redor, dizendo mentalmente que no próximo verão nós voltaríamos.
Bem, isso poderia ter acontecido. Teria sido tipo, bem legal, confesso. Mas não foi assim que a família se despediu do Acampamento de Howdolre naquele ano.
Para contar de uma segunda maneira, teria que voltar um pouco no tempo. Mais precisamente, uma noite.
Ok, então. O que aconteceria se eu tivesse sido legal com na noite anterior?
Situação 1- Probabilidade B
- Hora da música! – Gritou meu pai.
e eu nos entreolhamos felizes, era nossa parte preferida.
- Você não vem, ? – Perguntei, quando notei que ela não nos seguia. Minha irmã olhou para mim um pouco hesitante, mas depois que lhe concedeu uma piscadinha, ela sorriu.
- Eu não perderia por nada!
Foi uma noite maravilhosa. Kyra e eu improvisamos uma dancinha country e, por mais que tenha revirado os olhos, se levantou do tronco para dançar com a gente. Isso pode ter deixado Kyra menos feliz, mas eu até que gostei de ver participando.
- Eu vou sentir falta desse lugar. -Murmurou quando nos sentamos. A música estava mais calma agora, como um ruído de fundo. Minha mãe já havia ido se deitar e meu pai conversava com Ben . Kyra brincava com Nate, o irmão de , e quando ela não fez o que ele queria, o pequeno jogou um graveto nela. Kyra riu.
- Eu também. Amo isso aqui.
Ela me concedeu um sorriso quase amistoso.
- É, tanto faz.
não era muito boa nesse negocio de sentimentos, mas eu senti o amor que ela tinha pelo lugar por causa desse simples "tanto faz".
- Eu não quero voltar para Seatle. , me leva com você, pelo amor de Deus. -Reclamou , chegando próximo a nós.
Quando chegou do meu lado, automaticamente enlaçou minha cintura, mas conseguiu disfarçar muito bem.
- Lógico que não. –Falou ela. –Preciso ter uma desculpa convincente para visitar Seatle.
sorriu.
- Bom, é. Excelente argumento.
Minha irmã não precisava ser desagradável o tempo todo e ali estava a prova. Ela estava leve, e rindo, e fazendo piadinhas. Essa é a que eu gostaria de ter como irmã.
Não que eu a odeie, realmente. Mas como parte da nossa família, acho que ela não deveria ser tão geniosa. Ela podia mudar.
Eu queria poder dizer que tinha duas irmãs maravilhosas. Não queria ter que explicar que era um pouco ciumenta e infantil.
- . -Disse meu namorado, com um suspiro. Ele nunca me chamava pelo nome completo. Fiquei imaginando o que ele ia dizer.
- .
- Estava pensando... – Começou ele, enquanto andávamos. Meu pai havia chamado alguns minutos antes e e eu estávamos andando de volta para os chalés. Ele sempre me acompanhava até o meu, que geralmente era o mais perto.
- No que, ? –Perguntei quando ele não disse nada.
Ele sorriu e soltou minha mão.
- Quem chegar por último é a mulher do sapo! – Gritou, antes de sair em disparada na minha frente.
Dei risada e comecei a correr atrás dele, depois que passou o choque inicial.
- Droga. – Murmurei quando encontrei sentado nos degraus.
- Ora, ora, ora... Parece que sempre ganho, não é mesmo?
Revirei os olhos.
-Querido, olha o tamanho das suas pernas. Elas dão cinco da minha.
-Desculpinhas. Aprenda a perder, . –Falou de brincadeira. Ficamos na frente do chalé por muito tempo depois, até minha mãe aparecer de robe e pedir encarecidamente que eu fosse dormir.
Me despedi de e subi.
Na manhã seguinte, dei uma olhada rápida no meu quarto do chalé para ter certeza de ter pegado tudo. Fui até a porta, mas dei meia volta. Meu pai não tinha mania de ligar o ar condicionado, ele preferia deixar os vidros abertos, mas tenho certeza que o avião estaria bem gelado e por isso resolvi pegar meu moletom da US, Universidade de Seattle, que havia dado para mim assim que entrou na faculdade. Eu amava aquele moletom. Procurei-o na bolsa, e o encontrei amassado no fundo. Dei uma alisada nele e o coloquei no braço, fechando a porta ao passar por ela.
- Onde está o ? – Perguntei à minha mãe.
- Ainda não apareceu.
Esperei o garoto por dez minutos, até que sua cabeleira grande entrasse em meu campo de visão.
Dei um sorriso triste quando o vi, sabendo que o veria apenas daqui a nove meses. Dava tempo de ter um filho! Era um tempo muito longo...
Ficamos abraçados até meu pai nos separar de brincadeira. Nós geralmente íamos juntos para o aeroporto, mas não naquele ano. O voo dele ia sair só mais tarde e por isso tivemos que adiar. As duas horas no carro eram muito boas e esse ano teríamos duas horas a menos. Nos despedimos dos irmãos Marcus e Angel com um abraço familiar. Mamãe deixou eu dar comida aos patos uma última vez. Troquei um olhar triste com quando entrei no carro, para mostrar que esperava que ela continuasse boazinha.
Partimos, olhando uma última vez para o Acampamento de Howdolre, dizendo mentalmente que no próximo verão nós voltaríamos.
É. Isso teria sido melhor ainda. Quer dizer, eu estava prestes a fazer as pazes com ! Na minha cabeça, esse foi o melhor final para o último dia em Howdolre naquele ano.
No nosso último ano.
Só que não foi isso que aconteceu.
Em parte, foi culpa dela, mas eu me culpo mais do que culpo a ela. Se eu não tivesse ignorado na noite da fogueira, nada teria acontecido.
O que realmente aconteceu foi que jogou meu moletom no rio, mas eu me esqueci completamente dele e nunca o encontrou.
Situação 2- O que realmente aconteceu
Dei uma olhada rápida no meu quarto do chalé para ter certeza de ter pegado tudo. Fui até a porta, sorri tristemente para o quarto vazio e sai, deixando as malas na pequena varanda do lado de fora do chalé. Ainda tinha vinte minutos antes de sair, então resolvi fazer uma surpresa para , porque ficaríamos separados por longos nove meses, afinal.
Fui caminhando devagar, me encharcando o máximo de vitamina D possível, sentindo o aroma das flores e tirando umas fotos pelo caminho.
- ! –Exclamou Nate, quando me viu. Ele estava sentadinho no degrau brincando com um pequeno montinho de areia, parecia uma miniatura de . Uma miniatura com meia dúzia de idade.
Sorri para ele.
- Oi, Nate! –Falei, passando as mãos pelos cabelos dele. Nate abriu um sorriso banguela para mim e continuou mexendo na areia.
- Olá, namorada. – Cumprimentou , da janela. Dei um sorriso pra ele.
- Oi, namorado.
Ele deu a volta e desceu as escadas, chegando até onde eu estava.
- Vou sentir saudades disso.
- É, eu também. Como sempre. –Suspirei.
- Hey, esse ano eu vou pra sua casa. –Tentou me animar.
- Por mais de três dias?
- Duas semanas está bom!?
Dei um muxoxo.
- Não.
gargalhou, me abraçando.
- Oh, maldita distância que me separa desta mulher, meu Deus. – Sussurrou, fazendo meu coraçãozinho palpitar rapidamente. Senti vontade de chorar.
- Eu te amo, . – Falei no ouvido dele. me apertou ainda mais forte.
- Eu te amo, .
Ficamos abraçados até meu pai nos separar de brincadeira. Nós geralmente íamos juntos para o aeroporto, mas não naquele ano. O voo dele ia sair só mais tarde e por isso tivemos que adiar. As duas horas no carro eram muito boas e esse ano teríamos duas horas a menos. Nos despedimos dos irmãos Marcus e Angel com um abraço familiar. Mamãe deixou eu dar comida aos patos uma última vez. Troquei um olhar triste com quando entrei no carro, ela estava muito estranha.
Partimos, olhando uma última vez para o Acampamento de Howdolre, dizendo mentalmente que no próximo verão nós voltaríamos.
Kyra inventou um jogo estranho no carro (a gente falava uma palavra e a outra pessoa tinha que falar uma palavra que começasse com a mesma letra que a outra terminou. É confuso), e foi isso que fizemos por pelo menos vinte minutos. Até meu pai fazer algo que nunca fizera: ligar o ar condicionado. Eu, como não sou frozen nem nada, sinto frio de tudo muito rápido, então me estiquei para pegar minha mochila onde havia guardado meu moletom da US, Universidade de Seattle, que tinha me dado, assim que entrara na faculdade. Eu amava aquele moletom. Procurei-o na bolsa, mas não o achei. Estávamos no carro há meia hora partindo para o aeroporto e eu havia perdido minha peça de roupa preferida. Ótimo.
- Pai? –Chamei, já me sentindo uma idiota.
- Sim?
- Fica muito ruim voltar para o acampamento!?
Ele riu.
- Ué, filha, já?
Dei um sorriso amarelo pelo retrovisor.
- Devo ter deixado meu moletom lá, não encontro ele na mala. Queria ir buscá-lo.
Meu pai suspirou.
- Tenho certeza que pode trazer outra pra você.
Resmunguei.
- Aquele moletom era único!
Meus pais trocaram um olhar, mas eu sabia que tinha vencido.
- , tem que ser muito rápido, ou então vamos perder o voo, entendeu?
Balancei a cabeça afirmativamente e rolou os olhos. Estávamos na estrada de terra ainda, não demoraríamos muito e dava para fazer um retorno. Meu pai começou a fazer a manobra perigosa de virar o carro.
- Não precisa voltar, pai. – Exclamou .
- É porque não é o seu moletom, né. – Disse Kyra, sem olhar pra ela.
Meu pai estava prestes a dar a volta agora. começou:
- Porque está com...
Mas jamais terminou essa frase.
Quando penso nesse momento, imagino que por segundos, nada teria acontecido. Meu último "e se":
Se meu pai tivesse esperado terminar a frase, ele não teria virado o carro no exato momento que um caminhão saiu da curva.
Mas ele não esperou e o carro bateu. Eu ainda podia ver o sorriso do meu pai pelo retrovisor e as mãos de minha mãe nas pernas dele. Podia ouvir o "bip" do joguinho de Kyra e a última vez que ela se virou para sorrir para mim. Podia ver revirando os olhos para o que Kyra tinha falado.
Em um momento, estava revivendo tudo aquilo várias vezes e, em outro, já estava acordada em uma cama de hospital.
Viva.
Foi um evento triste.
Meu pai recebeu todo o impacto, morreu na hora. De acordo com os médicos, minha mãe ainda estava viva quando o carro bateu, mas quando a ambulância chegou sua pulsação já tinha cessado. e Kyra estavam vivas e conscientes quando chegaram ao hospital, mas Kyra não resistiu. Morreu algumas horas depois de ter chegado.
permaneceu em coma por três dias, e eu fiquei esperando que ela acordasse. Lembro de ter ficado do lado do seu leito, perdoando todas as maldades dela, prometendo que iria aprender a gostar dela do jeito que ela era. Lembro desse momento de desespero, desejando com todo o meu ser que o membro da família que eu menos gostava vivesse. Ela era minha irmã, minha gêmea. Não importava. Eu só notei o quanto ela era importante para mim quando permaneci ao lado dela esperando que acordasse.
Mas nunca acordou.
Houve um problema no coração e ela também não resistiu.
Aí está. O acidente que matou uma família inteira por causa de um único fato. Um fato tão bobo.
Fiquei deprimida nos primeiros anos, mas depois foi passando. Me mudei para Seattle quando completei vinte e um, a fim de ficar mais perto de .
Nos casamos dois anos depois da minha mudança. E tive que fazer tudo sozinha.
Queria que minha mãe estivesse comigo quando fui provar vestidos. Queria que Kyra fosse minha dama de honra. Queria que fosse minha madrinha.
Não tinha mais meu pai. Entrei sozinha. No altar, eu não parava de olhar para as quatro cadeiras vazias, onde minha família deveria estar. Tive que reprimir minha vontade de chorar várias e várias vezes.
Nunca mais voltei ao acampamento de Howdolre. Era um acampamento para família, e eu não tinha mais uma família. Encontrei meu moletom depois, mas nunca mais o usei. Ele me trazia memórias ruins e eu não gostava delas.
Nós não podemos nos prender no que poderia ter acontecido, como eu fiz. Temos que encarar a realidade, apenas. Temos que amar quem quer que seja, no momento que temos para amar essa pessoa, porque não sabemos o que pode acontecer depois. Temos que amar uma pessoa como se fossemos perdê-la no dia seguinte. Assim como amei meus pais. Assim como eu amei Kyra. E assim como eu gostaria de ter amado , apesar de tudo.
Mas, e se?
Apertei a mão de ao meu lado e ambos encaramos a fachada. Respirei fundo.
- Pronta? –Perguntou.
Olhei para ele e em seguida para as duas crianças pequenas que me encaravam com expectativa do banco de trás. Sorri.
- Sim.
Entramos no acampamento de Howdolre. A tirolesa ainda estava ali e me lembrei de Kyra e da festa que ela nunca teve. Meu coração apertou, mas não falei nada.
Finalmente estava de volta no lugar que mais amava no mundo, com as pessoas que eu mais amava no mundo. A minha família.
E eu os amava desesperadamente, como se fosse perdê-los.
Fim
Nota da autora: Eu e meu dom de matar personagens.
Ai, mim deixem JSIAJISJAIJSJA Espero que tenham gostado, amoras!
A inspiração demorou séculos para chegar, mas está aí. Na verdade, não foi nem inspiração,
fui movida pela pressão feat. desespero, mas ok. Eu escrevi com o fundinho do meu coração,
então é muito importante para mim saber o que vocês acharam <3 Deixem um recadinho para mim!
Beijos na bunda, meninas (e meninos se caso tiver).
Outras Fanfics:
Chemical Of Love (Outros/Em andamento)
Just A Girl (One Direction/Finalizada)
Burn With You (Outros/Finalizada)
01. Welcome To New York (Ficstape 1989, Taylor Swift/Finalizada)
02. Good Thing (Ficstape In The Lonely Hour, Sam Smith/Finalizada)
02. Gotta Be You (Ficstape Up All Night, One Direction/ Finalizada)
04. Show Me The Meaning Of Being Lonely (Ficstape Backstreat Boys/ Finalizada)
06. Unbroken (Ficstape Unbroken, Demi Lovato/Finalizada)
17. Still The One (Ficstape Take Me Home, One Direction/Finalizada)
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Beijos na bunda, meninas (e meninos se caso tiver).
Outras Fanfics:
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02. Good Thing (Ficstape In The Lonely Hour, Sam Smith/Finalizada)
02. Gotta Be You (Ficstape Up All Night, One Direction/ Finalizada)
04. Show Me The Meaning Of Being Lonely (Ficstape Backstreat Boys/ Finalizada)
06. Unbroken (Ficstape Unbroken, Demi Lovato/Finalizada)
17. Still The One (Ficstape Take Me Home, One Direction/Finalizada)
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