Capítulo Único
Por ela
01 de Agosto de 2016.
— Pronta? – pergunto à Lena, pegando uma maçã em cima da mesa e me direcionando para a porta em seguida.
— Eu nasci pronta, – ela diz, pegando sua mochila e trancando a porta. — Tá com a chave reserva aí?
— Uhum – respondo.
— Então vamos. Próxima parada: Yale! – ela diz, animada.
—Não acredito que nós estamos mesmo aqui. Quer dizer, depois de tantos anos estudando, nós finalmente estamos indo para faculdade! – digo, sentindo o frio na barriga tomar conta de mim.
— Não deve ser tão difícil. Sobrevivemos ao colégio, acho que damos conta de sobreviver mais alguns anos na faculdade – diz Lena, pensativa, me abraçando em seguida. — Ainda bem que tenho você aqui, . Imagina ter que enfrentar tudo isso sozinha?
Em poucos minutos de caminhada, chegamos ao nosso destino. A casa não era tão longe, afinal. Observo o prédio a nossa frente. O campus era maior do que eu esperava. Cheio de alunos que, assim como eu, estão entusiasmados com o seu primeiro dia. Os veteranos, porém, parecem acostumados com a situação, não demonstrando qualquer reação, senão a de cansaço.
E então, as lembranças me atingiram.
Flashback on
02 de Setembro de 2002
A menininha de cabelos castanhos olhava, perdida, os corredores da escola. Era o seu primeiro dia na Lower Lab School e estava apavorada. Ela respirou fundo, despedindo-se da mãe com um beijo e um abraço. Estava dirigindo-se até a sua sala de aula quando alguém a interrompeu:
— Ei, você! Eu te conheço. Você mora no meu prédio – disse o menino. Ele tinha olhos castanhos claros e olhos igualmente castanhos. Não parecia ser uma ameaça. lembra-se vagamente das suas mães conversando no elevador do prédio, de fato, ela o conhecia.
sentiu o calor espalhar-se pelo seu rosto, corando. Nada disse, apenas concordou com a cabeça. Então o garotinho continuou:
— Meu nome é . – o menino estendeu a mão, pequena e gorducha, à garota — Qual o seu nome, vizinha?
— – murmurou, precisando repetir a palavra, já que ele não havia ouvido de primeira.
— É seu primeiro dia aqui, ? – ela estranhou o apelido, mas não disse nada.
— Uhum.
— Eu posso te mostrar a escola no recreio, se você quiser.
— Tudo bem.
— Você não é de falar muito, né? – disse ele.
Antes que pudesse responder, o sinal tocou, indicando que as aulas começariam. Ela avistou a sua professora esperando-a na porta, acenando para que a garotinha entrasse. acompanhou-a até a porta e, antes de se virar, disse:
— A minha sala é a próxima. Te vejo no recreio, . Amigos? – ele estendeu a mão.
Ela sorriu:
— Amigos.
E, pela primeira vez no dia, não sentia mais medo.
Flashback off
— Tá tudo bem, ? – Lena franziu o cenho— Você estava olhando pro nada.
— Hm, claro – sorrio — Tudo ótimo.
Lena deu de ombros, preferindo deixar pra lá. Nós olhamos para a multidão, tentando encontrar um caminho para a nossa sala, quando minha melhor amiga soltou um gritinho:
— Ei, aquele não é o Daniel?
— O Daniel da escola? – pergunto, rezando pra que ele não estivesse junto de Daniel. — Aquele que você tinha uma queda, mas nunca admitiu?
— Cala a boca! Vou chamar ele aqui, quem sabe ele não nos ajuda?
Logo em seguida, ela gritou o seu nome e acenou com as mãos, chamando-o. Daniel abriu um sorriso largo ao vê-la e correu em nossa direção:
— Lena! ! Oi, meninas – ele não abraçou — Quanto tempo! Três anos, huh? Como anda Nova Iorque?
— Ah, o de sempre. Muitos carros, muita poluição, você sabe – ele riu da frase de Lena.
Se eu deixasse, os dois passariam horas conversando, e nós não tínhamos todo tempo do mundo, a aula começava em dez minutos. Tratei logo de apressá-los:
— Hey, Daniel. Será que tem como você nos ajudar a achar o campus de psicologia? Nós estamos meio perdidas – digo, fazendo uma careta.
— Claro, . Vocês deram sorte, não é muito longe daqui.
Então ele nos guia até a porta da sala. Permaneço em silêncio durante todo o caminho, mas os dois parecem não ligar, já que tagarelam mais do que nunca. Ele se despede e, antes de partir, diz:
— , ainda sente a sua falta. – diz, com uma cara que beira a dó.
Sinto meu coração palpitar mais forte, mas me controlo. Apenas aceno com a cabeça, concordando. não fazia mais tarde da minha vida, eu tinha que esquecê-lo.
Flashback on
29 de Junho de 2011
— Fiquei em recuperação.
— Azar o seu, meu amor. Eu tô de férias! Obrigada, Deus! - erguia os braços, provocando o garoto.
— Você fala isso porque está no oitavo ano, . Quando você estiver no colegial, aí eu quero ver. Você ainda não conhece a maldita física. – reclamou .
Era o último dia de aula, pelo menos para . Boa aluna que era, a garota já havia passado de ano no terceiro bimestre. , por outro lado, estava quase reprovando em física e química. Foram interrompidos por uma garota:
— Até quando vocês vão continuar fingindo que não tem nada rolando entre vocês? – a melhor amiga de , Lena, disse com as sobrancelhas arqueadas.
— Não tem nada rolando entre a gente, Lena.
— Somos só amigos. – concordou .
— Me poupe, . Dá pra ver no olhar de vocês. – dessa vez, foi Daniel quem os interrompeu - E aquela conversa que a gente teve ontem, ?
— Você não ousaria...
— “Daniel, eu estou caidinho pela ” “Você já viu aqueles olhos? E aquele cabelo?” “ é tão divertida”.
Antes que Daniel pudesse continuar com a sua encenação, houve um baque e tudo o que se viu foi um caderno voando em sua direção, jogado por . Não se sabia quem estava mais vermelho: ou .
— Você me paga, Davis – disse .
— Ah, qual é. Nós só estamos querendo ajudar o casal. Quando você vai pedir ela em namoro, ? – intrometeu-se Lena.
— Ei, galera, eu ainda estou aqui. – pronunciou-se .
— Obrigada por estragar a surpresa, Lena. Eu iria fazer isso mais tarde. Em particular.
— Relaxa, dude. Nós sabemos que ela vai dizer sim – disse Daniel.
— Vocês não prestam – balançou a cabeça, curvando os lábios em um sorriso, como ela sempre fazia.
Flashback off
02 de Setembro de 2016.
Depois de um mês, eu já começava a me acostumar com a rotina. Assistia às aulas como sempre: caneta na mão, prestando atenção em tudo o que os professores falavam, anotando o essencial e perguntando tudo aquilo que tinha dúvidas. Naquela segunda não havia sido diferente. Assim que o período acabou, às 14 horas, dirigi-me para casa sem esperar Lena, que estava ocupada demais com o seu namorado. Ela e Daniel completavam duas semanas de namoro naquele dia. Apressados, eu diria.
Pelo menos terei a casa inteira para mim, pensei enquanto assistia um episódio de How I Met Your Mother. Olhei para o relógio, que marcava 18 horas, pensando em qual delivery eu ligaria para pedir o jantar. Barney e Robin estavam quase se beijando, quando Lena invadiu a sala:
— É bom que você tenha um vestido decente limpo, porque nós vamos sair hoje.
— O quê?!
— Digamos que Daniel vai sair com alguns amigos dele e ele nos chamou.
— Droga, Lena. Eu já tinha até planejado a minha maratona de séries e o sabor de pizza que eu ia pedir.
— Qual é, . Há quanto tempo você não sai de casa? Vai ser divertido, eu prometo que você vai gostar dos amigos do Danny. – ela insistia.
— Mas... – antes que eu pudesse argumentar, ela me interrompeu.
— Sem “mas”. Vamos, eu te ajudo com o cabelo e a maquiagem. Nós temos uma hora para nos arrumar, então levanta essa bunda daí e vai tomar banho.
— Tudo bem, mãe. – digo, revirando os olhos.
***
Chegamos ao local combinado, que nada mais era do que um barzinho no centro da cidade. Olho para a mesa e reparo que todo mundo já havia chegado. Incluindo ele, o garoto que tinha sido motivo dos meus pesadelos nos últimos tempos. conversava com os amigos distraído, com a sua pose de sempre e, é claro, com aquela maldita jaqueta que o deixava extremamente sexy. Tinha uma jaqueta de couro preta que deixaria James Dean com inveja. Então eu reparei na loira do seu lado:
— Ela não tinha passado em Dartmouth? – cochichei para Lena.
— É, mas parece que ela recebeu uma vaga em Yale também. – deu de ombros — Ela estuda moda aqui faz dois anos.
Lena reparou no meu olhar. Definitivamente, eu não queria estar ali. A minha mente implorava corra, corra pra longe daqui!, mas a minhas pernas não queriam colaborar, imóveis.
— Os ignore, . Eu estou aqui com você, não vou deixar que nada aconteça. Vem, vamos cumprimentar os outros. – disse Lena, pegando minha mão e me guiando até os outros.
Cumprimentei a todos com um “Oi, prazer em conhecê-lo!” mais caloroso que eu conseguia, os abraçando em seguida. Quando chegou a minha vez de cumprimentar , disse um oi quase inaudível e ele me deu um abraço aconchegante. Deuses, como eu sentia falta desse abraço.
Flashback on
27 de Junho de 2013
se dirigia furiosa até a casa de . A ideia inicial era ir lá parabeniza-lo por ter passado na Yale, mas mudou de ideia no meio do caminho assim que viu aquela foto. Não podia acreditar que havia feito aquilo com ela! Depois de você anos juntos e mais tantos outros de amizade, não podia acreditar que ele tinha traído-a com Samantha. Logo ela, a maior vadia do colégio.
Tocou a campainha com uma agressividade maior do que o normal. abriu a porta, com aquela carinha de cachorro que caiu da mudança. Droga, ela teria que ser forte ou acabaria cedendo àquela carinha.
— , eu posso explicar...
— Não ouse chamar-me assim, ! Nunca mais use esse apelido, aliás, nunca mais fale comigo novamente.
— Eu juro que posso explicar, . – ele frisou o nome da menina.
— Não gaste sua saliva, . Uma imagem vale mais do que mil palavras, não é o que eles dizem? Não tente negar, ela estava quase te engolindo na foto!
— Exatamente, ela estava me engolindo! – ele disse, logo se arrependendo das palavras. – Eu estava bêbado, . Não quis fazer isso, juro por Deus, ela que me beijou.
— Cacete, . Eu confiei em você! – as primeiras lágrimas começaram a cair dos olhos da garota. — Eu disse que te amava!
Os vizinhos olhavam a cena curiosos. Assustados com tanta gritaria. A vizinha olhava para a garota com um olhar de pena. Pelo menos eles não estavam tentando interromper a briga.
— , por favor! Entenda o meu lado.
— Que lado? Você está errado, e eu estou terminando contigo.
— Você vai mesmo jogar todos esses anos juntos fora por causa de uma foto?
— Você é mesmo um babaca! – ela negou com a cabeça, furiosa. —Divirta-se em New Haven, . Aliás, parabéns por ter passado em Yale. Você sempre quis estudar lá.
— A gente não precisa terminar assim, por favor... – suplicou.
A garota chutou uma pedra e respirou fundo para falar, tentando manter a voz firme:
— Até mais, . Talvez a gente se esbarre por aí novamente, com o coração mais maduro e decidido a lutar. Aprendendo a aceitar aquilo que não soubemos aceitar, amando o que não soubemos amar. Até lá, curta a sua vida, e esqueça que eu existo. Quando você decidir crescer, nós podemos nos apaixonar.
— , eu insisto, espera! – gritou. A garota virou-se novamente, segurando as lágrimas que insistiam em cair — Eu te amo tanto.
— Tivesse pensado isso antes de me trair. Passar bem, – as palavras saíram frias da boca da menina.
Flashback off
Era a primeira vez que eu o revia, depois de três anos. Por muito tempo, tentei evitá-lo e desviar-me de qualquer lugar que ele frequentasse. Logo ele mudou-se para New Haven e eu não corria mais o risco de revê-lo. Mas quando se tem amigos em comum, esquivar-me fica ainda mais complicado, especialmente quando todos estudam na mesma faculdade.
No início, era difícil tentar esquecê-lo, depois de tantos anos convivendo juntos. Era como se um pedaço de mim tivesse sido arrancado. , a pessoa que eu mais confiava, que eu compartilhava toda a minha vida, havia me traído. Mas a culpa era dele, não minha. Traição é traição, independente se foi apenas um beijo ou se foi sexo. E, de quebra, eu havia perdido o meu melhor amigo também.
Devagarzinho, eu ia me recuperando. Apareceram pessoas na minha vida e me apaixonei novamente, seja de maneira mais intensa ou mais calma, mas ele parecia não querer sair da minha mente, não importava o quanto eu tentasse. Se eu dissesse que não sinto a sua falta, seria mentira.
A verdade é que talvez não estivéssemos destinados a estar juntos e eu precisava me libertar. Às vezes, nós nos perdemos. Mas é assim que nós nos recuperamos, que nós crescemos.
Por ele
Flashback on
25 de Junho de 2013
apertou os olhos para enxergar melhor. Aquilo era mesmo um unicórnio? De qualquer forma, depois do quinto shot de vodca, era impressionante que o garoto ainda estivesse de pé. Se soubesse disso, ela o mataria, pensou . Era noite de sábado e o garoto comemorava com a sua turma de escola o último dia de aula, para sempre. Depois, eles estariam livres da escola, livres do Ensino Médio. Os nerds exibiam sua entrada nas universidades da Ivy League. Havia também aqueles que estavam ali só para beber e ele se encaixava nesse grupo.
Daniel, seu melhor amigo, também não ficava para trás. Ambos tinham passado na Yale, só que Danny havia passado em arquitetura, enquanto ele, música. Não podia estar mais feliz, sempre gostara de música, era profissão dos seus sonhos. O problema, porém, era . Não queria deixar a garota para trás, não suportaria morar longe dela, mas a menina ainda estava no 1º colegial.
tentou esquecer-se de tudo e apenas aproveitar a festa, bebendo mais um shot. Observou uma garota loira se aproximar. Savannah? Samara? Como era mesmo o nome da garota? Ele não conseguia mais lembrar-se, a tontura já o havia vencido.
— Oi, . Sou Samantha – ela estendeu a mão, mas ele recusou. — Nós estudamos juntos, acho que você se lembra.
vasculhou a mente, procurando saber quem era a garota. Lembrou-se da menina, que sentava na carteira atrás da sua e insistia em dar em cima dele.
— Ah, oi! –ele disse. Samantha sorriu.
— De qualquer forma, eu só vim parabeniza-lo. Yale é uma grande universidade.
— Pois é. Bem, parabéns para você também, Samantha. Dartmouth, huh? Qual era mesmo o curso?
— Moda – ela disse, tentando a todo custo se aproximar.
Ficaram em silêncio por um tempo, até que a garota pareceu se lembrar de alguma coisa:
— Quer saber? Foda-se! – e aproximou sua boca da do garoto. Como estava bêbado, o garoto demorou a reagir, empurrando a loira para longe.
— Você tá louca? Eu tenho namorada!
Houve um clique de celular e a garota saiu, deixando sozinho novamente. Olhou para os lados e encontrou Daniel, cuja cara não era das melhores.
— Dude, você está ferrado. A vai realmente te matar.
Flashback off
You say it's not supposed to be
Tell me not to waste my time
This was never up to me
But if it was I wouldn't mind
And I'm trying to ignore you
I try to go on with my day, hey
But I still pick up the phone, yeah
And get lost in what she say
(Você diz que não fomos destinados um para o outro
Me diz para não perder o meu tempo
Isso nunca esteve em minhas mãos
Mas se estivesse, eu não me importaria
E eu estou tentando te ignorar
Eu tento seguir com o meu dia, hey
Mas eu ainda pego o telefone, yeah
E me perco no que ela diz)
E lá estava ela novamente, mais bonita do que nunca, com seus cabelos castanhos e olhos azuis mais límpidos que o oceano. conversava com Lena, tentando evitar que o seu olhar caísse sobre mim. Mas era difícil para eu desviar o olhar dela, algo dentro de mim parecia suplicar pela sua atenção. Rio de algo que Samantha fala ao meu lado, mas não presto a mínima atenção no que ela diz. E assim vai indo a noite. Ela me ignorando e eu tentando desviar a atenção dela.
Então um de nossos amigos diz que está tarde e que ele deveria ir embora, porque teria aula no outro dia. Um por um, os lugares na mesa vão se esvaziando, até que só restam eu, Lena, Daniel e :
— , eu vou passar a noite na casa de Daniel. Você não se importa de ir sozinha para casa, né? – diz Lena, dirigindo uma cara de “me desculpe por isso” para .
— Tudo bem – concorda a menina, ainda relutante. — Vou a pé.
Um estalo se faz na minha cabeça e no impulso eu digo:
— Eu te levo – ela vira para mim surpresa. — Eu vim de carro. Não vou deixar que você volte sozinha nesse escuro, .
— O quê? Não, tudo bem, eu prefiro ir sozinha – ela diz e eu sinto uma pontada no peito. Não ia deixar essa chance escapar.
— Não seja boba, . Eu insisto – olho diretamente em seus olhos.
— Por favor, . Quebre este galho pra mim? – Lena faz a sua melhor cara de pidona, tentando convencer à amiga.
— Certo – ela bufa. — Mas só dessa vez.
Despeço-me de Daniel e Lena e então me direciono até o carro, com no meu encalço. Abro a porta pra que ela entre, coisa que ela aceita de mau gosto. Assim, dou partida no carro.
Por ela
— Você sabe que não pode me odiar para sempre, né? – diz ele e eu me remexo no banco. — Se você não quiser falar nada, tudo bem. Vou ligar o rádio.
E então a voz de Ed Sheeran invade o local.
Flashback on
guiou até o seu apartamento. Os pais estavam trabalhando, então não havia problema levar a garota lá. Assim que abriu a porta, reparou no chão, que estava coberto por rosas vermelhas, formando uma trilha, e velas iluminando o local:
— Achei que nós fossemos estudar química – ela arqueou a sobrancelha.
— Mas nós estamos estudando química – ele brincou, abrindo um sorriso largo.
— O que significa isso? Todas essas rosas e velas – perguntou.
sentiu um frio na barriga quando ele se aproximou, se ajoelhando em sua frente.
— , você aceita ser a minha namorada?
Então o seu corpo inteiro paralisou. Ela corou tímida, e logo em seguida riu.
— É claro que eu aceito! – disse ela, pulando no colo do rapaz.
Deram-se um beijo demorado e intenso, e ambos sentiram como se aquele fosse o melhor beijo de suas vidas. quebrou o beijo:
— Aí meu Deus, sério? Espere aqui um segundo, eu já volto – ele disse, beijando-a novamente e saindo correndo logo em seguida.
Minutos depois, ele surgiu na sala com um violão em mãos e com uma carinha mais fofa do que nunca.
— Achei que tivesse fugido de mim – ela brincou, agora reparando no violão que ele segurava — Não me diz que você vai fazer uma serenata? – ela riu e ele acompanhou-a, ignorando a pergunta da moça.
Logo, os primeiros acordes foram ouvidos e reconheceu como sendo uma música do Ed Sheeran.
— Isso não é justo! Você sabe que essa música é o meu ponto fraco – disse ela, cantando junto com o garoto.
não podia negar, a voz do rapaz era magnífica e as caretas que ele fazia enquanto cantava eram muito fofas. Ficaram ali por mais algumas horas, aproveitando o momento o máximo que podiam. A garota sentiu-se sortuda em ter como seu namorado. A partir daí, soube: ela não poderia escolher alguém melhor para se ter como namorado.
Flashback off
And I love it how she's honest
You don't find that nowadays
She's not even drop dead gorgeous
But she kills me anyway, oh
(E eu adoro a honestidade dela
Não se encontra mais isso hoje em dia
Ela nem é linda de morrer
Mas ela me mata do mesmo jeito)
— Lembro-me de como você costumava amar essa música – ele diz, ainda tentando puxar assunto.
— É, é a uma música realmente bonita – digo, tentando não estender o assunto.
Então o silêncio pairou novamente sobre nós. Buscando fugir do seu olhar, comecei a observar as ruas pela janela do carro. Espera, tinha algo errado. Aquele não era o caminho de casa:
— A minha casa é na outra direção, .
— Oh, me desculpe. A gasolina do carro está acabando – ele apontou para o visor do carro. — O posto é mais perto, preciso parar lá para abastecer. Você não se importaria né? É rápido, prometo.
— Certo, não demore.
— Delicada como uma rosa. – ele provocou.
— Toda rosa tem espinhos. – retruquei.
Houve uma freada brusca:
— TÁ MALUCO?!
— Será que dá pra você parar de ser rude por pelo menos um minuto? – gritou ele. — Eu estou tentando te ajudar, . Não quero o seu mal, para de fugir de mim.
— Você deve ter batido a cabeça em uma pedra durante esses três anos. – balancei a cabeça.
— Desculpa, eu... – ele puxou alguns fios do cabelo, visivelmente nervoso. — Eu não consigo me controlar quando você está perto, . Desculpa.
Abaixo a cabeça sem dizer nada. Então ele massageou as têmporas e continuou:
— Eu jurei para mim mesmo que não ia mais falar com você. Mas parece que tem algo dentro de mim que precisa falar... Mesmo depois de todo esse tempo, eu ainda me pergunto como eu deixei você passar. Não tem castigo pior do que viver sabendo que você deixou passar o verdadeiro amor da sua vida.
— E a Samantha? –pergunto baixinho.
— O que tem ela? – ele me olha confuso.
— O que ela estava fazendo hoje, lá no bar?
Ele ri:
— Eu não sabia que ela estaria lá. Depois daquilo, eu nunca mais falei com ela. Nós temos amigos em comum, só isso. Se você quiser saber, ela tem namorado.
Eu solto uma risada pelo nariz.
— Diz alguma coisa. – diz .
— O que você espera que eu diga?
— Me dá uma chance. – ele diz, com um tom de voz desesperado.
— Eu... eu não posso, – digo, praticamente chorando.
— Você não me ama mais – ele conclui.
— Não, . Eu aprendi a ME amar. Todos nós precisámos de amor próprio, às vezes.
Ficamos em silêncio por mais alguns segundos. O carro continua parado. Logo ele diz:
— Se você não sente o mesmo, por favor, se afaste de mim. Vai ser pior tentar esquecer com você por perto.
— Foi você quem foi atrás de mim quando ofereceu aquela carona, . – eu rio sem humor.
Ele bufa.
— Droga. – ri nervoso.
Noto ele se aproximar e o meu corpo congela. Nos próximos segundos que se seguem, eu fico imóvel. E então ele me beija. No início eu reluto, mas acabo cedendo. Deuses, como eu sentia falta daquele beijo. Rapidamente, os seus braços estavam em volta da minha cintura e os seus olhos na altura dos meus, narizes quase se tocando. Sinto o meu coração palpitar mais forte. Estendi uma das mãos, acariciando o seu rosto. Quando o ar começa a faltar, eu paro o beijo.
Nenhum de nós sabe o que dizer, então continuamos calados. dá partida no carro e dirige até o posto de gasolina. E assim continua até o resto do caminho. Chegamos em casa, ele me dá um abraço e um “até logo” e dá partida no carro.
Flashback on
31 de Dezembro de 2012.
O menino abraçava a garota pela cintura. Juntos, eles observavam os fogos de artifício. Como de costume, o casal passava o Ano Novo junto. Dessa vez, estavam na casa recém-comprada de , que antes morava no mesmo prédio que . Quando o relógio bateu meia-noite, ele depositou um beijo demorado na testa da garota e ela abraçou-o mais forte.
— Faça um pedido, . – disse o garoto. Ela fechou os olhos e sorriu.
— Pronto. – ela abriu os olhos.
— Não vai me dizer o que você pediu? – ele apertou as bochechas de .
— Se eu disser o pedido não se realiza, meu amor. – ela disse, provocando o garoto, segurando um sorriso que insistia em aparecer nos seus lábios.
Permaneceram ali, olhando os fogos abraçados, por mais algum tempo. Pelo canto dos olhos, eles puderam observar os amigos, Lena e Daniel, também se divertindo. Até que o garoto resolveu quebrar o silêncio:
— Eu pedi você aqui comigo, para sempre, se quer saber.
— Bem, então eu acho que o seu pedido se realizou. Não pretendo ir embora tão cedo. Temos todo o tempo do mundo, . – ela mordeu os lábios.
Ele observou cada traço dela. O modo como os cachos dos seus cabelos caiam naturalmente sobre os seus ombros, os olhos que lhe traziam conforto e os lábios. Tão, tão beijáveis. Nesse momento, teve certeza: ele era louco por ela. Ele estava fodidamente apaixonado por , sua melhor amiga e namorada.
— Eu te amo, , do jeitinho que você é. – ele procurou a mão dela.
— Eu também te amo, . Muito. – eles entrelaçaram as mãos.
Então eles se uniram em um beijo caloroso e cheio de amor.
Flashback off
05 de Setembro de 2016.
Fazia dois dias que eu não o via. Por mais que eu tentasse ignorar, às vezes me pegava olhando para a multidão, procurando-o pelo campus. Daniel havia me dito que tinha pegado um resfriado e, por mais que eu tentasse, não conseguia parar de me perguntar como ele estava.
Era quinta-feira e eu e Lena tomávamos o café-da-manhã. Cada uma de nós comia a sua fatia de bolo tranquilamente:
— Daniel me contou. – disse a minha amiga, de repente.
— Não te disseram que é errado falar de boca cheia, amiga? – digo, numa tentativa falha de desviar do assunto.
— Não aja como se você não soubesse do que eu estou falando, . Eu sei que você e o se beijaram na segunda, depois do bar.
— Tudo bem. – eu respiro fundo —Foi só um beijo. Só isso, nada mais. Não vai acontecer novamente.
Lena ponderou as palavras antes de falar:
— Não é isso que eu estou querendo dizer, . Vocês formam um casal muito bonito, pra falar a verdade.
— Você esqueceu o que ele fez comigo? – digo irônica.
— Não, . Eu não esqueci. Só acho que você devia dar uma segunda chance pra ele. Você sabe que a culpa não foi inteiramente dele, foi a Samantha quem o beijou, Daniel me disse. Assim que percebeu, me afastou da garota, ele sabia que aquilo era errado. A foto só foi tirada em um mau momento. Não estou dizendo que ele não tem culpa, mas ele parece estar realmente arrependido. Ele ainda te ama, . – ela pausou, recuperando o fôlego. — E eu sei que você ainda o ama. Eu conheço minha amiga, você não conseguiu me enganar, nem daquela vez que você estava com o Cameron, ou aquela outra que você estava com o Jack. É quem te completa, não eles.
Reflito por um momento. A fatia de bolo que eu comia agora a pouco parece mais difícil de engolir depois de suas palavras.
— Você está sugerindo que eu dê a ele uma segunda chance?
Ela concorda com a cabeça.
— Esqueça o que a sua mente diz e siga o seu coração, . Só dessa vez.
Eu abaixo a cabeça, concordando em silêncio. Terminamos o café-da-manhã e partimos para a escola. Eu sei exatamente o que fazer.
***
Dou um abraço em Lena assim que chegamos à porta da sala. Antes que eu possa me virar, ela diz:
— , espera! – ela dá alguns passos em minha direção. — Independente do que acontecer, eu vou estar até do seu lado para o que você precisar. Sempre.
Sorrio, concordando. As batidas do meu coração se acalmam um pouco depois do que ela diz. Então o procuro no meio da multidão. Porém, ele é mais rápido e me acha primeiro.
Por ele
— Será que eu posso falar com você por um instante? – digo, rezando para que ela não me ignore.
— Oi, . Vejo que você melhorou do resfriado. – diz, desviando do assunto. Pelo menos ela não me ignorou.
— Pois é. Estou firme e forte – rio sem jeito e ela me acompanha.
Respiro fundo:
— Preciso falar com você. – nós dizemos juntos.
— Certo, você primeiro. – ela diz pra mim.
I can try to stop it, all I like
Hands down I've lost this fight
Thought I was strong enough for you
But I just can't hide the truth
(Eu posso tentar parar com isso, o quanto eu quiser
Verdadeiramente perdi esta luta
Achei que fosse forte o bastante para você
Mas não consigo esconder a verdade)
Suspirei fundo. Certo, era agora ou nunca. Não tinha mais volta: ou me aceitaria ou ela me desprezaria pelo resto da sua vida. Encarei , que começava a ficar impaciente.
— Eu... eu vim me desculpar, por tudo. Eu deixei você escapar, não me dei conta do quanto você significava para mim. Não só o nosso namoro, mas também a nossa amizade. Você trazia luz para a minha vida, . Iluminou-me nas horas mais escuras e eu me sentia a pessoa mais sortuda do mundo por isso. Eu não desisti do nosso amor, por isso estou aqui, tentando lutar para reconquistá-la de novo. Por favor, me deixe provar, nós podemos recomeçar de novo. Eu não quero perder você agora...
— Era sobre isso mesmo que eu queria falar, – ela diz, interrompendo o meu discurso. Sinto o meu coração se quebrar, prevendo suas próximas palavras. — Eu estou aqui, indo contra todo o meu orgulho, para dizer que sinto sua falta. Mas eu preciso saber que posso confiar em você.
— O quê? Claro que pode! – eu estava em êxtase. — Eu faria qualquer coisa por você.
Ela ri.
— Eu ainda preciso me acostumar com a ideia. Nós podemos ir com calma.
— Certo, se é isso que você quer... Amigos? – eu estendo minha mão.
Ela sorri e me puxa para um abraço, então sussurra:
— Amigos.
Ergo-a em meus braços. O sinal já tocou faz tempo, só há nós dois no campus.
— Deus, você não sabe o medo que eu tive em te perder de novo, – sussurro, apertando a sua cintura para mais perto de mim.
Ficamos assim por um bom tempo. Abraçados, jogando conversa fora. Então eu tomo coragem de pergunta-la:
— Então... Você, , aceita sair comigo esse final de semana? – ela me encara. — Como amigos, claro.
Nós rimos. Aproximo e colo as nossas bocas em um beijo calmo e doce. Definitivamente, aquela era uma ótima maneira de recomeçar.
I guess I'm going down
I guess I'm going down
I guess I'm going down like this
(Acho que este é o meu fim
Acho que este é o meu fim
Acho que acabarei desta maneira)
01 de Agosto de 2016.
— Pronta? – pergunto à Lena, pegando uma maçã em cima da mesa e me direcionando para a porta em seguida.
— Eu nasci pronta, – ela diz, pegando sua mochila e trancando a porta. — Tá com a chave reserva aí?
— Uhum – respondo.
— Então vamos. Próxima parada: Yale! – ela diz, animada.
—Não acredito que nós estamos mesmo aqui. Quer dizer, depois de tantos anos estudando, nós finalmente estamos indo para faculdade! – digo, sentindo o frio na barriga tomar conta de mim.
— Não deve ser tão difícil. Sobrevivemos ao colégio, acho que damos conta de sobreviver mais alguns anos na faculdade – diz Lena, pensativa, me abraçando em seguida. — Ainda bem que tenho você aqui, . Imagina ter que enfrentar tudo isso sozinha?
Em poucos minutos de caminhada, chegamos ao nosso destino. A casa não era tão longe, afinal. Observo o prédio a nossa frente. O campus era maior do que eu esperava. Cheio de alunos que, assim como eu, estão entusiasmados com o seu primeiro dia. Os veteranos, porém, parecem acostumados com a situação, não demonstrando qualquer reação, senão a de cansaço.
E então, as lembranças me atingiram.
Flashback on
02 de Setembro de 2002
A menininha de cabelos castanhos olhava, perdida, os corredores da escola. Era o seu primeiro dia na Lower Lab School e estava apavorada. Ela respirou fundo, despedindo-se da mãe com um beijo e um abraço. Estava dirigindo-se até a sua sala de aula quando alguém a interrompeu:
— Ei, você! Eu te conheço. Você mora no meu prédio – disse o menino. Ele tinha olhos castanhos claros e olhos igualmente castanhos. Não parecia ser uma ameaça. lembra-se vagamente das suas mães conversando no elevador do prédio, de fato, ela o conhecia.
sentiu o calor espalhar-se pelo seu rosto, corando. Nada disse, apenas concordou com a cabeça. Então o garotinho continuou:
— Meu nome é . – o menino estendeu a mão, pequena e gorducha, à garota — Qual o seu nome, vizinha?
— – murmurou, precisando repetir a palavra, já que ele não havia ouvido de primeira.
— É seu primeiro dia aqui, ? – ela estranhou o apelido, mas não disse nada.
— Uhum.
— Eu posso te mostrar a escola no recreio, se você quiser.
— Tudo bem.
— Você não é de falar muito, né? – disse ele.
Antes que pudesse responder, o sinal tocou, indicando que as aulas começariam. Ela avistou a sua professora esperando-a na porta, acenando para que a garotinha entrasse. acompanhou-a até a porta e, antes de se virar, disse:
— A minha sala é a próxima. Te vejo no recreio, . Amigos? – ele estendeu a mão.
Ela sorriu:
— Amigos.
E, pela primeira vez no dia, não sentia mais medo.
Flashback off
— Tá tudo bem, ? – Lena franziu o cenho— Você estava olhando pro nada.
— Hm, claro – sorrio — Tudo ótimo.
Lena deu de ombros, preferindo deixar pra lá. Nós olhamos para a multidão, tentando encontrar um caminho para a nossa sala, quando minha melhor amiga soltou um gritinho:
— Ei, aquele não é o Daniel?
— O Daniel da escola? – pergunto, rezando pra que ele não estivesse junto de Daniel. — Aquele que você tinha uma queda, mas nunca admitiu?
— Cala a boca! Vou chamar ele aqui, quem sabe ele não nos ajuda?
Logo em seguida, ela gritou o seu nome e acenou com as mãos, chamando-o. Daniel abriu um sorriso largo ao vê-la e correu em nossa direção:
— Lena! ! Oi, meninas – ele não abraçou — Quanto tempo! Três anos, huh? Como anda Nova Iorque?
— Ah, o de sempre. Muitos carros, muita poluição, você sabe – ele riu da frase de Lena.
Se eu deixasse, os dois passariam horas conversando, e nós não tínhamos todo tempo do mundo, a aula começava em dez minutos. Tratei logo de apressá-los:
— Hey, Daniel. Será que tem como você nos ajudar a achar o campus de psicologia? Nós estamos meio perdidas – digo, fazendo uma careta.
— Claro, . Vocês deram sorte, não é muito longe daqui.
Então ele nos guia até a porta da sala. Permaneço em silêncio durante todo o caminho, mas os dois parecem não ligar, já que tagarelam mais do que nunca. Ele se despede e, antes de partir, diz:
— , ainda sente a sua falta. – diz, com uma cara que beira a dó.
Sinto meu coração palpitar mais forte, mas me controlo. Apenas aceno com a cabeça, concordando. não fazia mais tarde da minha vida, eu tinha que esquecê-lo.
Flashback on
29 de Junho de 2011
— Fiquei em recuperação.
— Azar o seu, meu amor. Eu tô de férias! Obrigada, Deus! - erguia os braços, provocando o garoto.
— Você fala isso porque está no oitavo ano, . Quando você estiver no colegial, aí eu quero ver. Você ainda não conhece a maldita física. – reclamou .
Era o último dia de aula, pelo menos para . Boa aluna que era, a garota já havia passado de ano no terceiro bimestre. , por outro lado, estava quase reprovando em física e química. Foram interrompidos por uma garota:
— Até quando vocês vão continuar fingindo que não tem nada rolando entre vocês? – a melhor amiga de , Lena, disse com as sobrancelhas arqueadas.
— Não tem nada rolando entre a gente, Lena.
— Somos só amigos. – concordou .
— Me poupe, . Dá pra ver no olhar de vocês. – dessa vez, foi Daniel quem os interrompeu - E aquela conversa que a gente teve ontem, ?
— Você não ousaria...
— “Daniel, eu estou caidinho pela ” “Você já viu aqueles olhos? E aquele cabelo?” “ é tão divertida”.
Antes que Daniel pudesse continuar com a sua encenação, houve um baque e tudo o que se viu foi um caderno voando em sua direção, jogado por . Não se sabia quem estava mais vermelho: ou .
— Você me paga, Davis – disse .
— Ah, qual é. Nós só estamos querendo ajudar o casal. Quando você vai pedir ela em namoro, ? – intrometeu-se Lena.
— Ei, galera, eu ainda estou aqui. – pronunciou-se .
— Obrigada por estragar a surpresa, Lena. Eu iria fazer isso mais tarde. Em particular.
— Relaxa, dude. Nós sabemos que ela vai dizer sim – disse Daniel.
— Vocês não prestam – balançou a cabeça, curvando os lábios em um sorriso, como ela sempre fazia.
Flashback off
02 de Setembro de 2016.
Depois de um mês, eu já começava a me acostumar com a rotina. Assistia às aulas como sempre: caneta na mão, prestando atenção em tudo o que os professores falavam, anotando o essencial e perguntando tudo aquilo que tinha dúvidas. Naquela segunda não havia sido diferente. Assim que o período acabou, às 14 horas, dirigi-me para casa sem esperar Lena, que estava ocupada demais com o seu namorado. Ela e Daniel completavam duas semanas de namoro naquele dia. Apressados, eu diria.
Pelo menos terei a casa inteira para mim, pensei enquanto assistia um episódio de How I Met Your Mother. Olhei para o relógio, que marcava 18 horas, pensando em qual delivery eu ligaria para pedir o jantar. Barney e Robin estavam quase se beijando, quando Lena invadiu a sala:
— É bom que você tenha um vestido decente limpo, porque nós vamos sair hoje.
— O quê?!
— Digamos que Daniel vai sair com alguns amigos dele e ele nos chamou.
— Droga, Lena. Eu já tinha até planejado a minha maratona de séries e o sabor de pizza que eu ia pedir.
— Qual é, . Há quanto tempo você não sai de casa? Vai ser divertido, eu prometo que você vai gostar dos amigos do Danny. – ela insistia.
— Mas... – antes que eu pudesse argumentar, ela me interrompeu.
— Sem “mas”. Vamos, eu te ajudo com o cabelo e a maquiagem. Nós temos uma hora para nos arrumar, então levanta essa bunda daí e vai tomar banho.
— Tudo bem, mãe. – digo, revirando os olhos.
Chegamos ao local combinado, que nada mais era do que um barzinho no centro da cidade. Olho para a mesa e reparo que todo mundo já havia chegado. Incluindo ele, o garoto que tinha sido motivo dos meus pesadelos nos últimos tempos. conversava com os amigos distraído, com a sua pose de sempre e, é claro, com aquela maldita jaqueta que o deixava extremamente sexy. Tinha uma jaqueta de couro preta que deixaria James Dean com inveja. Então eu reparei na loira do seu lado:
— Ela não tinha passado em Dartmouth? – cochichei para Lena.
— É, mas parece que ela recebeu uma vaga em Yale também. – deu de ombros — Ela estuda moda aqui faz dois anos.
Lena reparou no meu olhar. Definitivamente, eu não queria estar ali. A minha mente implorava corra, corra pra longe daqui!, mas a minhas pernas não queriam colaborar, imóveis.
— Os ignore, . Eu estou aqui com você, não vou deixar que nada aconteça. Vem, vamos cumprimentar os outros. – disse Lena, pegando minha mão e me guiando até os outros.
Cumprimentei a todos com um “Oi, prazer em conhecê-lo!” mais caloroso que eu conseguia, os abraçando em seguida. Quando chegou a minha vez de cumprimentar , disse um oi quase inaudível e ele me deu um abraço aconchegante. Deuses, como eu sentia falta desse abraço.
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27 de Junho de 2013
se dirigia furiosa até a casa de . A ideia inicial era ir lá parabeniza-lo por ter passado na Yale, mas mudou de ideia no meio do caminho assim que viu aquela foto. Não podia acreditar que havia feito aquilo com ela! Depois de você anos juntos e mais tantos outros de amizade, não podia acreditar que ele tinha traído-a com Samantha. Logo ela, a maior vadia do colégio.
Tocou a campainha com uma agressividade maior do que o normal. abriu a porta, com aquela carinha de cachorro que caiu da mudança. Droga, ela teria que ser forte ou acabaria cedendo àquela carinha.
— , eu posso explicar...
— Não ouse chamar-me assim, ! Nunca mais use esse apelido, aliás, nunca mais fale comigo novamente.
— Eu juro que posso explicar, . – ele frisou o nome da menina.
— Não gaste sua saliva, . Uma imagem vale mais do que mil palavras, não é o que eles dizem? Não tente negar, ela estava quase te engolindo na foto!
— Exatamente, ela estava me engolindo! – ele disse, logo se arrependendo das palavras. – Eu estava bêbado, . Não quis fazer isso, juro por Deus, ela que me beijou.
— Cacete, . Eu confiei em você! – as primeiras lágrimas começaram a cair dos olhos da garota. — Eu disse que te amava!
Os vizinhos olhavam a cena curiosos. Assustados com tanta gritaria. A vizinha olhava para a garota com um olhar de pena. Pelo menos eles não estavam tentando interromper a briga.
— , por favor! Entenda o meu lado.
— Que lado? Você está errado, e eu estou terminando contigo.
— Você vai mesmo jogar todos esses anos juntos fora por causa de uma foto?
— Você é mesmo um babaca! – ela negou com a cabeça, furiosa. —Divirta-se em New Haven, . Aliás, parabéns por ter passado em Yale. Você sempre quis estudar lá.
— A gente não precisa terminar assim, por favor... – suplicou.
A garota chutou uma pedra e respirou fundo para falar, tentando manter a voz firme:
— Até mais, . Talvez a gente se esbarre por aí novamente, com o coração mais maduro e decidido a lutar. Aprendendo a aceitar aquilo que não soubemos aceitar, amando o que não soubemos amar. Até lá, curta a sua vida, e esqueça que eu existo. Quando você decidir crescer, nós podemos nos apaixonar.
— , eu insisto, espera! – gritou. A garota virou-se novamente, segurando as lágrimas que insistiam em cair — Eu te amo tanto.
— Tivesse pensado isso antes de me trair. Passar bem, – as palavras saíram frias da boca da menina.
Flashback off
Era a primeira vez que eu o revia, depois de três anos. Por muito tempo, tentei evitá-lo e desviar-me de qualquer lugar que ele frequentasse. Logo ele mudou-se para New Haven e eu não corria mais o risco de revê-lo. Mas quando se tem amigos em comum, esquivar-me fica ainda mais complicado, especialmente quando todos estudam na mesma faculdade.
No início, era difícil tentar esquecê-lo, depois de tantos anos convivendo juntos. Era como se um pedaço de mim tivesse sido arrancado. , a pessoa que eu mais confiava, que eu compartilhava toda a minha vida, havia me traído. Mas a culpa era dele, não minha. Traição é traição, independente se foi apenas um beijo ou se foi sexo. E, de quebra, eu havia perdido o meu melhor amigo também.
Devagarzinho, eu ia me recuperando. Apareceram pessoas na minha vida e me apaixonei novamente, seja de maneira mais intensa ou mais calma, mas ele parecia não querer sair da minha mente, não importava o quanto eu tentasse. Se eu dissesse que não sinto a sua falta, seria mentira.
A verdade é que talvez não estivéssemos destinados a estar juntos e eu precisava me libertar. Às vezes, nós nos perdemos. Mas é assim que nós nos recuperamos, que nós crescemos.
Por ele
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25 de Junho de 2013
apertou os olhos para enxergar melhor. Aquilo era mesmo um unicórnio? De qualquer forma, depois do quinto shot de vodca, era impressionante que o garoto ainda estivesse de pé. Se soubesse disso, ela o mataria, pensou . Era noite de sábado e o garoto comemorava com a sua turma de escola o último dia de aula, para sempre. Depois, eles estariam livres da escola, livres do Ensino Médio. Os nerds exibiam sua entrada nas universidades da Ivy League. Havia também aqueles que estavam ali só para beber e ele se encaixava nesse grupo.
Daniel, seu melhor amigo, também não ficava para trás. Ambos tinham passado na Yale, só que Danny havia passado em arquitetura, enquanto ele, música. Não podia estar mais feliz, sempre gostara de música, era profissão dos seus sonhos. O problema, porém, era . Não queria deixar a garota para trás, não suportaria morar longe dela, mas a menina ainda estava no 1º colegial.
tentou esquecer-se de tudo e apenas aproveitar a festa, bebendo mais um shot. Observou uma garota loira se aproximar. Savannah? Samara? Como era mesmo o nome da garota? Ele não conseguia mais lembrar-se, a tontura já o havia vencido.
— Oi, . Sou Samantha – ela estendeu a mão, mas ele recusou. — Nós estudamos juntos, acho que você se lembra.
vasculhou a mente, procurando saber quem era a garota. Lembrou-se da menina, que sentava na carteira atrás da sua e insistia em dar em cima dele.
— Ah, oi! –ele disse. Samantha sorriu.
— De qualquer forma, eu só vim parabeniza-lo. Yale é uma grande universidade.
— Pois é. Bem, parabéns para você também, Samantha. Dartmouth, huh? Qual era mesmo o curso?
— Moda – ela disse, tentando a todo custo se aproximar.
Ficaram em silêncio por um tempo, até que a garota pareceu se lembrar de alguma coisa:
— Quer saber? Foda-se! – e aproximou sua boca da do garoto. Como estava bêbado, o garoto demorou a reagir, empurrando a loira para longe.
— Você tá louca? Eu tenho namorada!
Houve um clique de celular e a garota saiu, deixando sozinho novamente. Olhou para os lados e encontrou Daniel, cuja cara não era das melhores.
— Dude, você está ferrado. A vai realmente te matar.
Flashback off
Tell me not to waste my time
This was never up to me
But if it was I wouldn't mind
And I'm trying to ignore you
I try to go on with my day, hey
But I still pick up the phone, yeah
And get lost in what she say
(Você diz que não fomos destinados um para o outro
Me diz para não perder o meu tempo
Isso nunca esteve em minhas mãos
Mas se estivesse, eu não me importaria
E eu estou tentando te ignorar
Eu tento seguir com o meu dia, hey
Mas eu ainda pego o telefone, yeah
E me perco no que ela diz)
E lá estava ela novamente, mais bonita do que nunca, com seus cabelos castanhos e olhos azuis mais límpidos que o oceano. conversava com Lena, tentando evitar que o seu olhar caísse sobre mim. Mas era difícil para eu desviar o olhar dela, algo dentro de mim parecia suplicar pela sua atenção. Rio de algo que Samantha fala ao meu lado, mas não presto a mínima atenção no que ela diz. E assim vai indo a noite. Ela me ignorando e eu tentando desviar a atenção dela.
Então um de nossos amigos diz que está tarde e que ele deveria ir embora, porque teria aula no outro dia. Um por um, os lugares na mesa vão se esvaziando, até que só restam eu, Lena, Daniel e :
— , eu vou passar a noite na casa de Daniel. Você não se importa de ir sozinha para casa, né? – diz Lena, dirigindo uma cara de “me desculpe por isso” para .
— Tudo bem – concorda a menina, ainda relutante. — Vou a pé.
Um estalo se faz na minha cabeça e no impulso eu digo:
— Eu te levo – ela vira para mim surpresa. — Eu vim de carro. Não vou deixar que você volte sozinha nesse escuro, .
— O quê? Não, tudo bem, eu prefiro ir sozinha – ela diz e eu sinto uma pontada no peito. Não ia deixar essa chance escapar.
— Não seja boba, . Eu insisto – olho diretamente em seus olhos.
— Por favor, . Quebre este galho pra mim? – Lena faz a sua melhor cara de pidona, tentando convencer à amiga.
— Certo – ela bufa. — Mas só dessa vez.
Despeço-me de Daniel e Lena e então me direciono até o carro, com no meu encalço. Abro a porta pra que ela entre, coisa que ela aceita de mau gosto. Assim, dou partida no carro.
Por ela
— Você sabe que não pode me odiar para sempre, né? – diz ele e eu me remexo no banco. — Se você não quiser falar nada, tudo bem. Vou ligar o rádio.
E então a voz de Ed Sheeran invade o local.
Flashback on
guiou até o seu apartamento. Os pais estavam trabalhando, então não havia problema levar a garota lá. Assim que abriu a porta, reparou no chão, que estava coberto por rosas vermelhas, formando uma trilha, e velas iluminando o local:
— Achei que nós fossemos estudar química – ela arqueou a sobrancelha.
— Mas nós estamos estudando química – ele brincou, abrindo um sorriso largo.
— O que significa isso? Todas essas rosas e velas – perguntou.
sentiu um frio na barriga quando ele se aproximou, se ajoelhando em sua frente.
— , você aceita ser a minha namorada?
Então o seu corpo inteiro paralisou. Ela corou tímida, e logo em seguida riu.
— É claro que eu aceito! – disse ela, pulando no colo do rapaz.
Deram-se um beijo demorado e intenso, e ambos sentiram como se aquele fosse o melhor beijo de suas vidas. quebrou o beijo:
— Aí meu Deus, sério? Espere aqui um segundo, eu já volto – ele disse, beijando-a novamente e saindo correndo logo em seguida.
Minutos depois, ele surgiu na sala com um violão em mãos e com uma carinha mais fofa do que nunca.
— Achei que tivesse fugido de mim – ela brincou, agora reparando no violão que ele segurava — Não me diz que você vai fazer uma serenata? – ela riu e ele acompanhou-a, ignorando a pergunta da moça.
Logo, os primeiros acordes foram ouvidos e reconheceu como sendo uma música do Ed Sheeran.
— Isso não é justo! Você sabe que essa música é o meu ponto fraco – disse ela, cantando junto com o garoto.
não podia negar, a voz do rapaz era magnífica e as caretas que ele fazia enquanto cantava eram muito fofas. Ficaram ali por mais algumas horas, aproveitando o momento o máximo que podiam. A garota sentiu-se sortuda em ter como seu namorado. A partir daí, soube: ela não poderia escolher alguém melhor para se ter como namorado.
Flashback off
You don't find that nowadays
She's not even drop dead gorgeous
But she kills me anyway, oh
Não se encontra mais isso hoje em dia
Ela nem é linda de morrer
Mas ela me mata do mesmo jeito)
— Lembro-me de como você costumava amar essa música – ele diz, ainda tentando puxar assunto.
— É, é a uma música realmente bonita – digo, tentando não estender o assunto.
Então o silêncio pairou novamente sobre nós. Buscando fugir do seu olhar, comecei a observar as ruas pela janela do carro. Espera, tinha algo errado. Aquele não era o caminho de casa:
— A minha casa é na outra direção, .
— Oh, me desculpe. A gasolina do carro está acabando – ele apontou para o visor do carro. — O posto é mais perto, preciso parar lá para abastecer. Você não se importaria né? É rápido, prometo.
— Certo, não demore.
— Delicada como uma rosa. – ele provocou.
— Toda rosa tem espinhos. – retruquei.
Houve uma freada brusca:
— TÁ MALUCO?!
— Será que dá pra você parar de ser rude por pelo menos um minuto? – gritou ele. — Eu estou tentando te ajudar, . Não quero o seu mal, para de fugir de mim.
— Você deve ter batido a cabeça em uma pedra durante esses três anos. – balancei a cabeça.
— Desculpa, eu... – ele puxou alguns fios do cabelo, visivelmente nervoso. — Eu não consigo me controlar quando você está perto, . Desculpa.
Abaixo a cabeça sem dizer nada. Então ele massageou as têmporas e continuou:
— Eu jurei para mim mesmo que não ia mais falar com você. Mas parece que tem algo dentro de mim que precisa falar... Mesmo depois de todo esse tempo, eu ainda me pergunto como eu deixei você passar. Não tem castigo pior do que viver sabendo que você deixou passar o verdadeiro amor da sua vida.
— E a Samantha? –pergunto baixinho.
— O que tem ela? – ele me olha confuso.
— O que ela estava fazendo hoje, lá no bar?
Ele ri:
— Eu não sabia que ela estaria lá. Depois daquilo, eu nunca mais falei com ela. Nós temos amigos em comum, só isso. Se você quiser saber, ela tem namorado.
Eu solto uma risada pelo nariz.
— Diz alguma coisa. – diz .
— O que você espera que eu diga?
— Me dá uma chance. – ele diz, com um tom de voz desesperado.
— Eu... eu não posso, – digo, praticamente chorando.
— Você não me ama mais – ele conclui.
— Não, . Eu aprendi a ME amar. Todos nós precisámos de amor próprio, às vezes.
Ficamos em silêncio por mais alguns segundos. O carro continua parado. Logo ele diz:
— Se você não sente o mesmo, por favor, se afaste de mim. Vai ser pior tentar esquecer com você por perto.
— Foi você quem foi atrás de mim quando ofereceu aquela carona, . – eu rio sem humor.
Ele bufa.
— Droga. – ri nervoso.
Noto ele se aproximar e o meu corpo congela. Nos próximos segundos que se seguem, eu fico imóvel. E então ele me beija. No início eu reluto, mas acabo cedendo. Deuses, como eu sentia falta daquele beijo. Rapidamente, os seus braços estavam em volta da minha cintura e os seus olhos na altura dos meus, narizes quase se tocando. Sinto o meu coração palpitar mais forte. Estendi uma das mãos, acariciando o seu rosto. Quando o ar começa a faltar, eu paro o beijo.
Nenhum de nós sabe o que dizer, então continuamos calados. dá partida no carro e dirige até o posto de gasolina. E assim continua até o resto do caminho. Chegamos em casa, ele me dá um abraço e um “até logo” e dá partida no carro.
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31 de Dezembro de 2012.
O menino abraçava a garota pela cintura. Juntos, eles observavam os fogos de artifício. Como de costume, o casal passava o Ano Novo junto. Dessa vez, estavam na casa recém-comprada de , que antes morava no mesmo prédio que . Quando o relógio bateu meia-noite, ele depositou um beijo demorado na testa da garota e ela abraçou-o mais forte.
— Faça um pedido, . – disse o garoto. Ela fechou os olhos e sorriu.
— Pronto. – ela abriu os olhos.
— Não vai me dizer o que você pediu? – ele apertou as bochechas de .
— Se eu disser o pedido não se realiza, meu amor. – ela disse, provocando o garoto, segurando um sorriso que insistia em aparecer nos seus lábios.
Permaneceram ali, olhando os fogos abraçados, por mais algum tempo. Pelo canto dos olhos, eles puderam observar os amigos, Lena e Daniel, também se divertindo. Até que o garoto resolveu quebrar o silêncio:
— Eu pedi você aqui comigo, para sempre, se quer saber.
— Bem, então eu acho que o seu pedido se realizou. Não pretendo ir embora tão cedo. Temos todo o tempo do mundo, . – ela mordeu os lábios.
Ele observou cada traço dela. O modo como os cachos dos seus cabelos caiam naturalmente sobre os seus ombros, os olhos que lhe traziam conforto e os lábios. Tão, tão beijáveis. Nesse momento, teve certeza: ele era louco por ela. Ele estava fodidamente apaixonado por , sua melhor amiga e namorada.
— Eu te amo, , do jeitinho que você é. – ele procurou a mão dela.
— Eu também te amo, . Muito. – eles entrelaçaram as mãos.
Então eles se uniram em um beijo caloroso e cheio de amor.
Flashback off
05 de Setembro de 2016.
Fazia dois dias que eu não o via. Por mais que eu tentasse ignorar, às vezes me pegava olhando para a multidão, procurando-o pelo campus. Daniel havia me dito que tinha pegado um resfriado e, por mais que eu tentasse, não conseguia parar de me perguntar como ele estava.
Era quinta-feira e eu e Lena tomávamos o café-da-manhã. Cada uma de nós comia a sua fatia de bolo tranquilamente:
— Daniel me contou. – disse a minha amiga, de repente.
— Não te disseram que é errado falar de boca cheia, amiga? – digo, numa tentativa falha de desviar do assunto.
— Não aja como se você não soubesse do que eu estou falando, . Eu sei que você e o se beijaram na segunda, depois do bar.
— Tudo bem. – eu respiro fundo —Foi só um beijo. Só isso, nada mais. Não vai acontecer novamente.
Lena ponderou as palavras antes de falar:
— Não é isso que eu estou querendo dizer, . Vocês formam um casal muito bonito, pra falar a verdade.
— Você esqueceu o que ele fez comigo? – digo irônica.
— Não, . Eu não esqueci. Só acho que você devia dar uma segunda chance pra ele. Você sabe que a culpa não foi inteiramente dele, foi a Samantha quem o beijou, Daniel me disse. Assim que percebeu, me afastou da garota, ele sabia que aquilo era errado. A foto só foi tirada em um mau momento. Não estou dizendo que ele não tem culpa, mas ele parece estar realmente arrependido. Ele ainda te ama, . – ela pausou, recuperando o fôlego. — E eu sei que você ainda o ama. Eu conheço minha amiga, você não conseguiu me enganar, nem daquela vez que você estava com o Cameron, ou aquela outra que você estava com o Jack. É quem te completa, não eles.
Reflito por um momento. A fatia de bolo que eu comia agora a pouco parece mais difícil de engolir depois de suas palavras.
— Você está sugerindo que eu dê a ele uma segunda chance?
Ela concorda com a cabeça.
— Esqueça o que a sua mente diz e siga o seu coração, . Só dessa vez.
Eu abaixo a cabeça, concordando em silêncio. Terminamos o café-da-manhã e partimos para a escola. Eu sei exatamente o que fazer.
Dou um abraço em Lena assim que chegamos à porta da sala. Antes que eu possa me virar, ela diz:
— , espera! – ela dá alguns passos em minha direção. — Independente do que acontecer, eu vou estar até do seu lado para o que você precisar. Sempre.
Sorrio, concordando. As batidas do meu coração se acalmam um pouco depois do que ela diz. Então o procuro no meio da multidão. Porém, ele é mais rápido e me acha primeiro.
Por ele
— Será que eu posso falar com você por um instante? – digo, rezando para que ela não me ignore.
— Oi, . Vejo que você melhorou do resfriado. – diz, desviando do assunto. Pelo menos ela não me ignorou.
— Pois é. Estou firme e forte – rio sem jeito e ela me acompanha.
Respiro fundo:
— Preciso falar com você. – nós dizemos juntos.
— Certo, você primeiro. – ela diz pra mim.
Hands down I've lost this fight
Thought I was strong enough for you
But I just can't hide the truth
Verdadeiramente perdi esta luta
Achei que fosse forte o bastante para você
Mas não consigo esconder a verdade)
Suspirei fundo. Certo, era agora ou nunca. Não tinha mais volta: ou me aceitaria ou ela me desprezaria pelo resto da sua vida. Encarei , que começava a ficar impaciente.
— Eu... eu vim me desculpar, por tudo. Eu deixei você escapar, não me dei conta do quanto você significava para mim. Não só o nosso namoro, mas também a nossa amizade. Você trazia luz para a minha vida, . Iluminou-me nas horas mais escuras e eu me sentia a pessoa mais sortuda do mundo por isso. Eu não desisti do nosso amor, por isso estou aqui, tentando lutar para reconquistá-la de novo. Por favor, me deixe provar, nós podemos recomeçar de novo. Eu não quero perder você agora...
— Era sobre isso mesmo que eu queria falar, – ela diz, interrompendo o meu discurso. Sinto o meu coração se quebrar, prevendo suas próximas palavras. — Eu estou aqui, indo contra todo o meu orgulho, para dizer que sinto sua falta. Mas eu preciso saber que posso confiar em você.
— O quê? Claro que pode! – eu estava em êxtase. — Eu faria qualquer coisa por você.
Ela ri.
— Eu ainda preciso me acostumar com a ideia. Nós podemos ir com calma.
— Certo, se é isso que você quer... Amigos? – eu estendo minha mão.
Ela sorri e me puxa para um abraço, então sussurra:
— Amigos.
Ergo-a em meus braços. O sinal já tocou faz tempo, só há nós dois no campus.
— Deus, você não sabe o medo que eu tive em te perder de novo, – sussurro, apertando a sua cintura para mais perto de mim.
Ficamos assim por um bom tempo. Abraçados, jogando conversa fora. Então eu tomo coragem de pergunta-la:
— Então... Você, , aceita sair comigo esse final de semana? – ela me encara. — Como amigos, claro.
Nós rimos. Aproximo e colo as nossas bocas em um beijo calmo e doce. Definitivamente, aquela era uma ótima maneira de recomeçar.
I guess I'm going down
I guess I'm going down like this
(Acho que este é o meu fim
Acho que este é o meu fim
Acho que acabarei desta maneira)
Fim.
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