06. Marry You

Última atualização: 23/08/2015

01. Uma Noite Para Se Lembrar.

- Vai ser uma noite para se lembrar. – me disse, dias antes, e eu sorri. ‘Uma noite para se lembrar’, ela repetia e dizia que sempre esperou para dizer tal coisa. Desde quando sonhava com sua formatura, vendo filmes como High School Musical e eu ria de seus devaneios. Mas nenhuma das palavras que continham na frase poderiam me dizer o quão intensa aquela noite seria. E meu único pedido, era poder me lembrar de cada pequeno segundo.
Eu tentava conter o suor de minhas mãos, porém a cada tentativa, o problema parecia piorar. E lá estava eu, parado, vestido com minha beca preta e um chapéu quadrado na cabeça, esperando por um momento que custou a chegar. Ali, da parte de trás do salão, eu conseguia ouvir as vozes abafadas das famílias presentes, esperando para que nós aparecêssemos na frente das cortinas. Porém, ainda não havia chegado e eu temia que ela não estivesse ali, naquele momento. Na noite de formatura. Noite em que a escola seria passado e eu tentava, de muitas formas, ignorar os lados melancólicos daquele momento.
A cada segundo que passava, o medo dela não aparecer por ali parecia piorar. Ela tinha que ir embora no fim da noite, mas me prometeu que estaria comigo até o relógio bater meia-noite. “Ela prometeu”, eu lembrava a mim mesmo, enquanto tentava acreditar que cumpria as promessas que fazia. Mas eu sabia que não era bem assim. Ela era confiável, mas tinha um instinto sobre as coisas ao seu redor, fazendo quase sempre o que achava melhor, e não o que era o certo a se fazer. O certo a se fazer, naquela noite, era estar presente na formatura, comigo.
Havia duas fileiras, uma de cada sexo, organizadas por ordem alfabética e eu estava na frente. Meus olhos não descansavam, procurando descontroladamente por , tentando ver se ela acalmaria seus nervos. Mas não havia nenhum sinal dela. Suas amigas falavam histericamente, com sorrisos enormes nos rostos e então percebi que meus amigos também estavam ali e eu deveria estar ao lado deles, e não procurando por ela, porque ela apareceria alguma hora. E eu tentava acreditar nisso. “Uma noite para se lembrar”, recordei as palavras de . “Faça essa noite ser inesquecível”, murmurei a mim mesmo.
Virei para trás e ouvi fazer a maior histeria ao me ver. Ignorei a ordem da fila e me juntei a eles, no fim da mesma. E naqueles curtos passos, até chegar á eles, me lembrei do dia em que nossas vidas se cruzaram, no primeiro dia de aula. Deixei um sorriso aparecer e eles me abraçaram, de uma forma nada carinhosa e extremamente forte.
- Dá pra acreditar? Daqui algumas horas não teremos mais que ir pra escola. Nunca mais! – declarou, num tom alto demais e todos concordamos, em meio a risadas.
- Bom, se você não repetir... – entortei a boca, dizendo e tentando fazer uma cara de preocupado.
- , chega de rogar praga. – disse, balançando a cabeça de um lado para o outro. - Passei direto! – abri a boca, surpreso com sua resposta. passando direto? Isso era algo que poderia ser chamado de milagre.
- Parabéns. – estendi as mãos, chamando-o para um abraço, que ele correspondeu.
- Quer saber? Dane-se a escola agora, estamos livres. – berrou e eu gritei junto, igual a todos a nossa volta, ignorando as organizadores pedirem silêncio e organização. Entrelaçamos nossos braços, formamos uma rodinha e começamos a pular e urrar, feito animais. E eu apenas ria, descontroladamente, porque poderia dizer que meus anos escolares foram resumidos naquele momento, entre gritos e risadas.
Nossos deveres escolares tinham que se encaixar em meio a toda bagunça que causávamos nos corredores da escola. Os professores se dividiam entre nos odiar por nossas notas ou nos cumprimentar nos corredores, porque arrancávamos risadas deles, e da escola toda. E entre os garotos, sempre fui o mais certinho e com as notas mais altas, e com isso era explorado pelo grupo.
Na sala de aula, as piadas fora de hora eram nossas, assim como as apresentações de trabalhos que sempre tinham algo para se rir. Éramos adorados pela escola e odiados pelos nerds, que sempre eram assediados para que informasse alguma resposta de prova, quando eu não podia ajudar o resto do grupo.
- Sabe, deveríamos jogar pela janela. – eu disse com a voz elevada, livrando-me do abraço. - Se ele conseguiu passar direto, deve conseguir voar também. – os pulos pararam e todos se direcionaram a ele, querendo pegá-lo no colo, e eu ria, vendo afastar as mãos que insistiam em agarrá-lo.
Antes de eu me juntar a brincadeira, olhei novamente para a fileira do meu lado, procurando por , mas não a vi. Meu coração se contorceu dentro do peito. A questão se ela vinha ou não, ecoava em minha cabeça. Passei os olhos pela fila mais uma vez, e ela de fato, não estava ali.
Mas eu não tive tempo de pensar ou fazer muita coisa. Uma de minhas músicas favoritas começou a tocar, e eu senti meu peito inflar de emoção. Isso seria possível? Secrets, do One Republic, tocava alto, com os violinos do início fazendo meu coração acelerar, enquanto a diretora da escola fazia a abertura. A música parecia sincronizar com meu coração, fazendo toda aquela intensidade emocional ser quase insuportável. Olhei para o lado e senti falta de ver com cara de desespero, causada pelo seu excesso de ansiedade, enquanto eu procuraria alguma forma de acalmá-la. Aquilo tudo não seria completo sem ela.
A mulher no microfone fez uma pausa, e eu pude sentir a emoção em sua voz. Pude ouvi-la suspirar, e com uma voz que transbordava emoção anunciar: Que entre as turmas de Formandos de 2014.
Me aproximei de meus amigos, também conhecidos como “o pessoal do fundão”, e comecei a gritar. Começamos a andar, enquanto eu tentava ignorar minha angústia. “Viva o momento”, eu dizia mentalmente a mim mesmo, tentando esquecer o fato de que não estava comigo naquele momento. O sorriso era algo que eu não podia conter, transbordava a felicidade que sentia naquele momento, mas meu coração não sentia a mesma felicidade por completo.
Saímos de detrás do palco e fomos surpreendidos pela luz forte, que nos cegou num primeiro momento, mas depois nos acostumamos com a luz e todos os gritos chamando nossos nomes. Tínhamos que atravessar todo o salão, até chegar lá na frente e sentar nas cadeiras. A fila parou, e então começaram a chamar aluno por aluno, e a cada nome conhecido, muitos gritos.
Me lembrei que estava nervosa dias antes, já que ela tem um sério complexo, achando que irá cair sempre que for possível. Imaginei-a andando até o palco, tentando me encontrar na multidão, esperando que eu estivesse olhando para ele e dizendo “respira”, tentando ajudá-la a se acalmar. “ ”, o microfone anunciou, e aplausos pipocaram de todo o salão, mas ninguém se pronunciou. “ ”, a mulher ao microfone chamou novamente e nada. não apareceu de última hora, como costumava fazer, sempre atrasada.
Dei uma última olhada para a entrada do salão, mas não a vi chegando correndo, como eu imaginava segundos atrás. A mulher pigarreou e seguiu chamando os nomes que estavam na lista que segurava. Suspirei profundamente, sentindo meu coração se apertar cada vez mais. “Ela prometeu”, a frase ecoava em minha mente, me fazendo querer sair correndo e perguntar o porquê dela não estar ali. Logo, meu nome seria chamado.
- Hey. – ouvi Louise me chamar, enquanto me cutucava. Virei-me para trás e encontrei um mega sorridente. - Obrigado por tudo, cara. Depois disso a gente não vai se ver mais, sabe. Eu só queria agradecer. – ele disse e eu achei um tanto engraçado, ver , que tinha um porte atlético e uma face ameaçadora, estar agradecendo com uma voz tão serena e baixa.
- Não seja tão dramático e pare de viadagem. – murmurei, vendo-o dar risada. – Eu também quero dizer obrigado. – e então eu não tive tempo de fazer mais nada. “ ”, a voz chamou meu nome com uma certa empolgação e me empurrou, fazendo eu quase cair em minha caminhada, arrancando risadas de quem assistia. Ri junto, tomando de volta o equilíbrio.
Pessoas que eu não conseguia ver o rosto gritavam meu nome, junto a apelidos e brincadeiras das quais eu fazia em sala de aula. Tive que parar no meio do caminho para tirar uma foto, e o fiz. Segui andando, e flashs de várias câmeras não profissionais me acompanhavam, pipocando flashs de todos os lados na minha cara. Uma parte da minha memória foi tocada ao viver aquele momento. E assim eu soube que aquela noite ainda teria muitas lembranças.

Flashback On
“– , por favor, chega de me ensinar esse drinks! – eu pedia, com bom humor, na cozinha da casa de , onde uma pequena festa acontecia.
- Você precisa aprender. Como vai se embebedar sem a gente? Ou pior, sem mim? – ri das graças de , enquanto tomava um gole de algo que ele havia preparado.
- Cara, cala a boca e vai tomar toddynho. É melhor. – declarei, deixando para trás.
- Toddynho? Conheço um drink com toddynho e vodka. É muito bom! – ele gritava, enquanto eu tomava distância e ia até a sala de estar, onde estava uma mesa com alguns salgados. No caminho, passei pela sala de jantar, onde a música era alta e luzes coloridas e brancas piscavam de todos os lados, fazendo meus olhos demorarem a se acostumar. Continuei o caminho e uma garota que apenas trocava apenas algumas palavras comigo em horário de aula, fora bem de encontro a mim, tropeçando e pisando em meus pés.
- Desculpe. – a garota disse, arrotando, e logo em seguida estendeu a câmera pendurada em seu pescoço e tirou uma foto minha, disparando o flash bem minha cara. Ela seguiu andando e olhando para trás, rindo e desculpando-se comigo, que a observava atônito, e paralisado, esfregando os olhos por causa da irritação que a luz do flash me fez. Mas espera... Ela havia se desculpado arrotando? Arrotando? apareceu, logo atrás da garota, seguindo-a, me puxando para seguir o mesmo caminho.
- O que esta acontecendo aqui? – perguntei, vendo que todos estavam sentados em uma roda na sala de estar, com garrafas de bebida por todo o canto e risadas completando as lacunas que a música num volume razoável deixava.
- Campeonato de arroto, meu caro. Quer se juntar a nós? – me perguntou, jogando-se no colo de alguns de seus amigos no sofá maior.
- Claro. – respondi, sentando-me no chão, encostando-me a perna de alguém sentado em um dos sofás. A garota que arrotou desculpando-se, , estava no sofá a minha frente, virando uma garrafa de coca-cola, que ainda estava na metade e sua câmera em cima da estante no canto sala. – E como é isso? – perguntei.
- Não sei muito bem, só precisamos arrotar palavras e formar frases. – gritou para mim, e percebi que ele já não estava tão sóbrio.
- Quem começa? – perguntou, arrotando as duas palavras, de forma perfeita e desafiadora, fazendo todos rirem e eu me senti desafiado. Franzi o cenho no começo, me perguntando se aquela era a mesma que era tímida na sala de aula. Mas depois, tomei aquilo como um desafio pessoal, mesmo sabendo que ela poderia não querer jogar comigo. Peguei a garrafa de coca-cola mais próxima e a virei na boca, bebendo o máximo que pude num gole só.
- Nós começamos. – eu disse, em forma de arroto e todo gritaram, vendo que uma competição se iniciava ali. pousou seus olhos em mim, apertando-os, parecendo não acreditar que eu tinha a desafiado.
- Então isso é um desafio? – ela perguntou, sem arroto nenhum, indo até o chão, sentando na minha frente. – Vamos lá. – ela murmurou, erguendo a sobrancelha. Sorri, vendo-a se aproximar. Levantei uma sobrancelha, enquanto voltava a engolir o refrigerante, dizendo a mim mesmo para ganhar aquilo. Mas eu sabia que tinha algo mais do que apenas ganhar ali, que me atraía para aquele desafio nada decente. Ela me atraía, e eu, confesso, estava adorando toda essa atenção.
- Sabe, . é especialista em ser porco. Acho melhor tomar cuidado. – disse em voz alta, e eu olhei pra ele querendo jogar a televisão em sua cabeça. – Calma, calma . Ganha isso e depois a gente conversa.
- Vamos civilizar isso aqui, pessoal! Vai ser por desafio. – levantou-se, gritando, conseguindo a atenção de todos. – E o primeiro desafio é: arrotar os números, de 1 a 10. começa. – terminei de beber minha garrafa e estralei o pescoço, exageradamente, querendo dar efeito. Então eu abri a boca e recitei os números de 1 a 10, em forma de arrotos, olhando nos olhos de , sabendo que aquilo não era nada romântico.
- Sua vez. – eu disse por final, vendo-a pegar uma garrafa de refrigerante e virar seu conteúdo.
- Mesma coisa para você, . – disse a ela, que largou a garrafa e fez o mesmo que eu. Nem melhor nem pior, no mesmo nível que eu. Houve aplausos e gritos do pessoal ao redor de nós.
- Agora vamos mudar para frases. , você começa. A frase é “O padre pouca capa tem, porque pouca capa compra.” – disse, fazendo eu franzir o cenho em sua direção.
- Um trava-língua? – perguntei e concordou com a cabeça. – Nunca ouvi esse! – eu declarei, numa falsa revolta, fazendo o amigo dar de ombros. – Ok, então. – tomei mais um longo gole do refrigerante e recitei a frase, em forma de arroto, é claro, fazendo todos gritarem por mim. Fiz reverência, fingindo me achar por aquilo.
- , acho melhor desistir, hein? – disse, fazendo todos rirem, enquanto ela negava com o movimento de sua cabeça. – A sua frase é: “Os ratos roeram a roupa do rei de Roma”.
- Se você conseguir essa, eu caso contigo! – gritei a ela, sabendo que nem sem arroto eu conseguia falar aquilo. riu do que eu disse, balançando a cabeça, com cara de quem ia ganhar fácil. Aceitou o desafio e o cumpriu com perfeição, fazendo a galera vibrar.
E durante dez minutos, a competição se estendeu, até que eu falhei, quando não consegui nem chegar na metade da frase “Num ninho de mafagafos, cinco mafagafinhos há! Quem os desmafagafizá-los, um bom desmafagafizador será”. E perdi, vendo pular no pessoal e erguer a garrafa de coca-cola como se fosse um troféu. O jogo tinha terminado, tinha vencido e o pessoal que estava na sala começou a sair dali, procurando algo mais interessante para se fazer.
Continuei sentado onde estava, enquanto e me zoavam por ter perdido. Encostei-me ao sofá atrás de mim e terminei a garrafa de refrigerante que segurava. terminava de comemorar sua vitória, me viu sentado ali e veio em minha direção, sentar do meu lado.
- E então, como vai ser? – perguntou, deixando a garrafa que segurava de lado.
- Como vai ser o quê? – perguntei, franzindo o cenho, não a entendendo.
- Eu consegui arrotar aquele trava-língua, sem pausas, e você disse que se eu fizesse isso, você se casaria comigo. E então, como vai ser? – ri, me lembrando da promessa. Vendo que também fazia o mesmo, e resolvi me aproveitar da brincadeira. Senti-me como aqueles caras que dizem “A maioria das promessas que fiz pra você, foi quando você estava pelada. Isso não conta”. Disse aquilo com nós dois quase bêbados de gás e no calor de uma competição... Acho que isso também conta.
- Bom, nós vamos nos casar numa praia no Havaí e vamos gastar muito dinheiro com isso. – comecei a imaginar, curtindo a brincadeira. – Hm, nosso bolo de casamento terá raspas de ouro e as lembrancinhas serão Iphones 6, para todos os convidados. – eu disse, com um ar despreocupado, e fiquei quieto, esperando que ela me completasse.
- Em vez de arroz cru, os convidados irão jogar batata frita, pipoca, coxinhas ou algo assim em nós. – disse séria, e eu ri, imaginando a situação de coxinhas serem jogadas na gente.
- Será um mega desperdício! – ri, enquanto ela dava de ombros. – Continua.
- Ok então. – ela disse rindo, tirando seu olhar de mim e fitando algo a sua frente. – Bom, nossa Lua de Mel não será no Havaí, porque é muito clichê e já nos casamos lá, lembra? – ela perguntou, e eu concordei sério, com ela rindo. – Então, nossa Lua de Mel será em Paris... – interrompi , rindo. – O que foi?
- Você não quer Havaí porque é clichê, mas acaba escolhendo Paris? – eu disse, enrugando a testa, e rindo da cara que ela fazia, tentando manter a postura séria.
- Shiu! Quem manda na relação sou eu. – levantei as mãos no ar, como se deixasse tudo nas mãos dela. – Isso aí. – rimos, enquanto ficava em silêncio, como se pensasse no que dizer, para poder projetar alguma ideia naquela conversa de objetivos falsos, mas com uma certa intenção verdadeira.
- Nossa Lua de Mel será em Hollywood. – declarei e voltou-se para mim, surpresa pelo que disse.
- Perfeito! Eu nunca pensaria nisso. – ela riu, fazendo beiço, demonstrando estar impressionada. – E onde vamos morar? – lentamente, senti-a sentar-se mais perto de mim, encostando seu corpo no meu. Fingi que não havia percebido aquilo e continuei a falar, ignorando o fato da garota que eu sempre tive uma queda, estar a centímetros de distância de mim.
- Bom, vejamos. Não podemos morar no Havaí porque nos casamos lá e nem em Hollywood porque passamos a Lua de Mel lá. Poderíamos morar em Nova Iorque. – disse e ouvi emitir um som no tom de discordância.
- Nova Iorque é pra onde você vai quando ganhar uma promoção no seu emprego, e então você vai me deixar sozinha em casa. E aí nós vamos sofrer de amor e essas coisas. – franzi o cenho e virei para ela, e a fitava bem sério, achando o que ela tinha dito um tanto quanto precoce e estranho.
- Já pensou até nisso? – ela balançou a cabeça para e cima e para baixo, concordando. – Então, ta. Nessa época que eu ir pra Nova Iorque por causa do meu emprego, você vai entrar em depressão...
- Ei, ei! Estamos ainda na fase da Lua de Mel. Não apresse as coisas. – nos olhamos, e segundos de silêncio se passaram, porém não duraram muito, já que caímos na risada da nossa brincadeira nada normal.
- Você é estranha. – murmurei, entre risadas, tentando respirar, enquanto parava de rir.
- Nós somos estranhos. – ela disse, enquanto apoiava sua cabeça em meu ombro, e eu deixei ali, sem protesto algum. – Somos muito estranhos.
- Você é, eu não. – sussurrei, apoiando minha cabeça na dela, com certo receio de que poderia ou não fazer aquilo. Engoli seco, ignorando meu receio e encostei minha cabeça na dela, lentamente, temendo se ela protestaria contra ou não. Mas ela nada fez. Ficamos em silêncio ali, apoiados um no outro, e eu adorava, em segredo, a sua proximidade. E eu não conseguia entender o que sentia naquele momento.
Tempos depois, quando o grau de amizade entre nós foi aumentando, ela pode me contar o motivo dela estar tão histérica naquela festa, quando na verdade, sempre foi um pouco quieta. me contou que naquela noite, ela havia decidido extravasar, aproveitar o momento, e claro, fazer ciúmes a um ex-namorado que estava presente naquela noite. Meu coração bateu estranho naquele momento, porque me senti importante, por ela estar contando algo desse tipo para mim. Porém também foi como se eu me sentisse usado, porém isso passou rápido, porque ela sempre fez questão de repetir todas as vezes que pode, o tanto que eu significava para ela.
Eu tinha sim sentimentos por , e ela não era inalcançável, ou a garota mais gata do colégio. Era apenas distante e impenetrável. Mas eu sentia como se tivesse uma missão, de poder desvendar os mistérios que a cor escura de seus olhos escondia. me contou que naquele dia declarou estar cansada do amor, dele sempre enganá-las com seus jogos. E em certo momento, eu também pude lhe contar que eu não sabia jogar.”
Flashback Off

Eu já estava sentado, ouvindo professores e colegas recitarem homenagens e agradecimentos, enquanto meus olhos eram sempre atraídos para a porta, esperando que aparecesse atrasada, sorrindo e arrumando o cabelo na tela do celular. Mas nada. Em alguns minutos eu tinha que subir no palco, mas todas as vezes que imaginei aquilo, ela estava ali, sorrindo para mim e me ajudando a manter calma e não gaguejar.
“E agora, vamos ouvir algumas palavras de , ouvi a diretora dizer e aplausos pipocaram por todo o salão. Respirei fundo e senti meu coração acelerar. Levantei-me e sorri para todos, tornando a olhar o lugar inteiro, novamente. Umedeci os lábios, e caminhei até o palco. Olhei apenas mais uma vez para trás, e tive certeza: ela não viria.


02. Nunca é Tarde Demais.

Flashback On
“- Eu tenho que ir. – me disse, sem nenhum tipo de preparo antes. Estávamos em sua casa, em seu quarto, com sua mãe mexendo em panelas no andar de baixo.
- Como? – perguntei, sem entender o que ela queria dizer com aquilo.
- Meus pais querem se mudar, e tenho que ir junto. Sabe, não posso morar nas ruas. – ela riu, com a graça em falta. E eu fiquei paralisado, estático, fitando , que estava puxando as mangas de um moletom números maiores que o dela, enquanto respirava aceleradamente. – Fala alguma coisa.
- O que você quer que eu diga? – ela balançou a cabeça de um lado para o outro. – Obrigada por não ir embora e apenas mandar uma carta, meses depois. – disse, ironicamente, vendo-a se aproximar.
- Eu não tenho escolha, . Meu pai quer trabalhar por lá, e a faculdade que eu quero é valorizada lá. Eu vou me mudar na semana de formatura. Vai dar tempo de eu ir, e a gente pode se despedir com uma mega festa. Eu sei lá. – ela disse, enquanto eu caminhava de um lado para o outro no quarto, tentando encontrar alguma solução para isso. Meu coração batia forte e eu tinha vontade de socar a parede mais próxima, por conta daquilo.
- E a formatura? Você vai estar lá? - perguntei, lembrando-me da festa que ela planejava cada pequeno detalhe.
- Eu vou estar lá. Vai ser uma noite para se lembrar. Lembra? – ela disse, aproximando-se e eu concordei, em silêncio, sem saber o que dizer ou fazer.
- Você promete? – perguntei, vendo-a erguer o olhar para se encontrar com o meu.
- Sim. Eu prometo. Estarei lá. – sorriu e me abraçou, fazendo eu firmar meus braços sobre sua cintura. E então eu acreditei em sua promessa, sem ver a possível figa que ela fez com seus dedos.”
Flashback Off

- Experiências. É disso que a adolescência é feita. De experiências. Desde nosso primeiro dez em alguma matéria até o nosso primeiro amor. É o tempo de descobertas. – eu disse, no microfone, levantando os olhos do papel amassado em minha mão. Minha voz ecoou sobre todo o salão em silêncio, enquanto meus pais me observavam atentos, e minha mãe não conseguia conter as lágrimas. Sorri para eles, que me sorriram de volta. – É meio injusto tantos anos serem resumidos em apenas uma noite. Esta noite. Onde na verdade é o começo de algo grande. E não o fim, como a maioria acha. É o primeiro dia de nossas vidas... E eu não consegui fugir do clichê. Todo mundo diz isso. – murmurei, rindo nervoso, arrancando algumas risadas da plateia.
– Sabe, ás vezes tudo parece o fim do mundo para nós. Mas já pararam para pensar que ainda não estamos nem na metade da vida? E somos muito desesperados para realizar tudo o que queremos de uma vez só. Nunca é tarde demais. – continuei, respirando fundo, fechando os olhos, como se para saborear aquela frase em minha boca. – Nunca é tarde demais. Ainda temos a vida toda pela frente. Se não passamos numa faculdade ou se ainda não sabemos o que queremos fazer na nossa vida... Tudo bem. Ainda somos crianças na escola da vida.
- Na época da escola, sempre temos alguém especial que conhecemos em algum momento e essa pessoa torna todos esses anos os mais especiais possíveis. – e naquele momento, eu imaginava recitar aquelas palavras olhando para , vendo-a corar e fazer caretas para mim, enquanto eu tentava não rir, recitando meu discurso. era minha pessoa especial, e ela não estava ali naquela noite. De repente, as luzes que me iluminavam tornaram-se quentes demais, e minha respiração não queria normalizar. Aquilo tudo parecia tão errado sem ela, não parecia completo e eu nunca gostei de apenas metades incompletas. – Me desculpem... Eu não posso. – passei os olhos no salão e vi meus pais olhando confusos para mim. E foi aí que tive a possível resposta do que teria que fazer.
“Nunca é tarde demais”, era o que meu pai vivia dizendo, já que sentiu isso na pele. Na época do colégio, ele era apaixonado por uma garota e até chegou namorá-la, porém fez merda no meio desse namoro e ela foi embora, o deixou. E ele ficou onde estava, não correu atrás, não ligou e não fez nada, assustado pelo medo da rejeição e tempos depois, se afogou num mar de arrependimentos. Anos depois, ele reencontrou essa garota e viu que nunca é tarde demais, e conseguiu reconquistá-la. Casou-se com ela, e tiveram eu como filho. A garota é minha mãe. E naquele momento, eu me vi naquela situação e não queria ter arrependimentos, nem deixar pra depois.
- Me desculpem. Eu preciso ir. – houve burburinhos na plateia, enquanto eu jogava meu pequeno discurso pelos ares, junto com meu chapéu de quatro pontas, eu ia de encontro ao chão, enquanto eu descia as escadas do palco. Todos se levantaram, e ouvia perguntas de todos os lados, enquanto corria pelo salão. Eu estava quase do lado de fora do salão quando uma voz chamou minha atenção, e eu não iria parar, se não fosse meu pai chamando.
- Aonde você vai? – ele perguntou, enquanto eu retomava o fôlego, enquanto parava de correr aos poucos.
- não esta aqui. – murmurei, ainda ofegante, torcendo para ter sua compreensão. – Não quero fazer igual a você. Não quero deixar partir sem ao menos mostrar que eu me importo. Ela prometeu que vinha, então por que não está aqui? Eu preciso saber, não posso viver com essa questão na minha vida. – disse, enquanto meu pai me analisava, silencioso, apenas fitando-me com o semblante sério.
- Nunca é tarde demais. – ele murmurou. – Cuidado, filho. – suspirei aliviado e comecei a deixar um sorriso aparecer quando meu pai me repreendeu. – Mas vai e volta rápido, porque paguei caro nessa festa. – e eu ri voltando a correr. – Volta aqui! – o xinguei mentalmente, sabendo que ele gastava meu tempo.
- O que foi, pai? – perguntei, impaciente, até ver o que ele segurava em sua mão.
- Pretende chegar até a correndo? – ele lançou chave do carro para mim, e eu a peguei, sorrindo para ele.
- Muito obrigado. – agradeci, sorrindo, saindo correndo desesperado atrás de meu carro, com a esperança de ver pela última vez, antes que o oceano nos separasse.

Para eu encontrar o carro havia sido quase um parto, e justo naquela noite, as avenidas resolveram lotar de carros que não eram capazes de aumentar a velocidade. Meu coração acelerava mais a cada segundo, e eu sentia como se meu peito fosse explodir. Sentia que era como estar desarmando uma bomba, e cada segundo contava. Cada passo que eu dava contava. Cada minuto que eu perdia, contava. Eu podia perdê-la se não desse algum jeito na situação. Pensei até em abandonar o carro e sair correndo pelas avenidas, mas só tinha um problema nisso: o carro era do meu pai. Teria comigo, mas não teria casa, nem pai, pois ele me deserdaria por deixar seu carro largado no meio da avenida. Claramente, essa não era uma opção. Não estava a fim de viver nas ruas.
Minha mão estava trêmula e suava, enquanto batucava no volante, mesmo sem música alguma. Talvez aquilo nem fosse o batuque, mas apenas um jeito que eu tinha arranjado de disfarçar meu nervoso. Mas quem eu estava querendo enganar? Nunca fui do tipo que sentia emoções intensas frequentemente, mas quando acontecia, nunca sabia como lidar. Naquele momento, sentia meu coração batendo tão forte, que podia sentir sua vibração em meu corpo. Minha respiração não se acalmava de maneira alguma e uma angústia tímida me envolvia um pouco mais, a cada segundo, trazendo o medo das consequências se meu “plano” não desse certo. Aliás, poderia resumir tudo o que sentia por apenas uma palavra: viadagem. Ri curtamente, pensando que é o que diria.
- Merda. – murmurei, vendo que as buzinas dos carros a minha volta estavam começando a me dar dores de cabeça. “Preciso sair daqui”, era a frase que preenchia minha mente. Mas como? Olhei para a rua e vi um mar de carros, sem nem poder ver se o farol estava aberto ou não. Bem que eu poderia dar uma de Harry Potter agora, e sair voando, apenas ao clicar um simples botão no painel do carro. Mas eu não tinha uma cicatriz na testa e minha carta nunca havia chegado.
Fitei a avenida novamente e vi que uma placa, em cima dos carros e um pouco a minha frente, indicava um retorno, que poderia ser minha segunda opção de caminho para chegar á casa de . E percebi que aquele era o meu plano B.
Não pensei nos mínimos detalhes do que faria, só queria fazer e sair dali o mais rápido possível. O caminho era mais demorado, sem dúvida alguma, mas eu estaria me movimentando. Eu estava na fileira do meio e o retorno era a minha direita, e eu tinha de chegar ali. Sem pensar duas vezes, liguei o aviso de seta e tentei inclinar o carro para a direção que tinha que ir.
- Ficou louco? – escutei uma voz, com um tom nada educado, gritar para mim. Ignorei-a. Inclinei o carro para a direita, e fui fazendo gestos com a mão, pedindo passagem para sair dali. De uma forma milagrosa, as pessoas deram esse espaço para passar. Os carros da fileira do canto direito começaram a recuar perto de onde estava o retorno para que eu pudesse passar, e foi isso que fiz. Joguei o carro para a direita e quando estava quase entrando na rua que seria minha possível segunda rota, o trânsito que até então estava completamente parado, começou a andar.
- Sério? – não acreditei no que estava vendo. Justo quando tentei fazer algo pra ver se a situação melhorava, acabei piorando tudo. Bufei alto, vendo que tinha duas opções. Ou continuava, e pegava a segunda rota, que seria mais demorada. Ou eu dava ré, e voltava no mesmo caminho que estava indo, enfrentando motoristas furiosos querendo me matar pela minha indecisão. Decidi enfrentar os motoristas.
Dei ré e ouvi a chuva de buzinas contra minha decisão. Não me importei com os xingamentos e continuei indo para trás. Quando o carro já estava numa boa posição, acelerei o máximo que pude e arranquei para frente, voltando ao caminho inicial que havia pegado.

xxx


Estava de frente a porta de , perguntando-me se estava de fato no lugar certo, ou deveria ter ido direto para o aeroporto, mas não devia perder tempo. Respirei fundo e tentei abrir a porta da frente, logo vi que ela estava destrancada e lentamente a abri, vendo que o silêncio era total pela casa de . As luzes estavam todas apagadas no primeiro andar, assim como as janelas estavam fechadas. Decidi que não acenderia luz alguma, deixei tudo do mesmo jeito. Fui até a escada e subi cada degrau no maior silêncio possível. Eu conseguia ouvir meu coração bater graças a falta de som que a casa de mantinha.
Eu já estava no segundo andar da casa, e a única porta do corredor que estava aberta era a do quarto de . Caminhei até lá e vi que as luzes estavam apagadas e o quarto era apenas iluminado pela janela aberta, pela luz da rua. Fui até a porta e entrei, lentamente, vendo sentada em sua cama de costas para mim. Franzi o cenho vendo-a ali, não acreditando no que via.
- Acho que você se esqueceu de uma coisa. – murmurei, e ela virou-se rapidamente, assustada e surpresa.
- ? – perguntou, com sua respiração acelerada. Imaginei que ela estaria de calça jeans e moletom usado, all star sujo e uma touca, porque sentia frio mesmo quando estava calor, e pronta para embarcar, mas não. estava sentada em sua cama, olhando para mim com os olhos surpresos e com um vestido que ela poderia chamar de ‘rosa perolado’, e que para mim era quase branco. Seu vestido de formatura. Tinha o cabelo perfeitamente no lugar, com cachos caindo em suas costas e pronta para ir dançar valsa comigo. Mas se estava pronta para ir, por que não foi? Algo me dizia que atraso não seria resposta.


03. Ainda temos uma noite inteira pela frente.

- O que você ‘ta fazendo aqui? – perguntei, ainda parado onde estava, tentando entender o que via.
- Você não deveria estar aqui. – ela murmurou, ainda me fitando, surpresa. Seu peitoral subia e descia aceleradamente.
- E nem você. – declarei, vendo-a abaixar seu olhar para o colchão, como se não soubesse o que fizer. – Por que você esta aqui? Por que não foi na formatura ou para o aeroporto?
- Porque eu não consegui sair do lugar. Eu vi o vestido e a beca e percebi que não podia perder essa noite. Mas depois eu pensei na hora em que eu fosse embora, e nunca mais veria nem você, nem ninguém de novo. Porque eu não vou poder vir para cá todo mês. – ela respirou fundo, trêmula, olhando em meus olhos. - , estaremos a um oceano de distância. Nenhum trem ou ônibus pode diminuir isso. – olhei ao redor, sentindo a mesma coisa que senti quando ela disse que teria que ir embora. Mas agora, mil vezes pior.
Porque naquele dia, ela iria embora, “um dia”. E então aquele dia havia chegado, naquele momento e eu não tinha o que fazer. estava ali, na minha frente, com lágrimas nos olhos e eu tinha meu coração apertado, sabendo que ela não estaria aqui em algumas horas. Suspirei, querendo socar a parede, querendo quebrar a janela, querendo sair correndo, com ela e apenas com ela, para algum lugar que nem nós saberíamos qual é.
- Você sempre me disse para não deixar de aproveitar os momentos importantes. Sempre disse que se arriscar e quebrar a cara é melhor do que viver de arrependimento. E agora está aqui, sem fazer nada, olhando pra minha cara, esperando apenas o horário pra tirar esse vestido e entrar num avião, sem olhar para trás. – eu cuspia as palavras, chegando cada vez mais perto dela, que se encolhia, em silêncio, enquanto absorvia minhas palavras.
- Você realmente acha que ir embora sem se despedir vai amenizar sua dor? Porque não vai. E quanto aos seus amigos? E quanto a mim? Você ia embora sem dizer nada? Fazendo-me acreditar que você apenas não queria mais me ver? – dei uma pausa, retomando o fôlego, enquanto eu via sua respiração acelerar, com ela me fitando nos olhos. – Eu nunca iria te perdoar. – declarei, vendo-a suspirar trêmula, novamente, e então eu senti minha garganta fechar, não achando certo o que eu estava fazendo.
Havia passado cada etapa dessa mudança ao seu lado e cada abraço de consolo que ela recebeu, foram meus. Senti ao seu lado, o quão era difícil deixar tudo para trás e ir rumo a uma terra desconhecida. No fundo, no fundo, eu a compreendia por estar ali, em sua cama e quarto de sempre, com medo de qualquer caminho que ela iria seguir, sem conseguir dizer nada para mim, martirizando-se por dentro por toda aquela situação. E eu a conhecia, e sabia que por dentro, ela estava uma tremenda confusão. Uma tremenda bagunça. E eu só estava piorando tudo. Isso não estava certo.
O silêncio nos envolveu, enquanto ela fitava meu rosto e eu o dela, sem sabermos o que dizer um ao outro. Seria aquele o fim? Daquela forma? Passei os olhos pelo seu quarto, agora sem as suas coisas, apenas com sua cama e as paredes nuas. Sua janela estava aberta, deixando a luz de fora entrar e então eu vi a escuridão do céu. O azul escuro profundo que coloria o céu era altamente convidativo, como se fosse um pecado desperdiçá-lo fazendo qualquer outra coisa do que não celebrar a noite. Como se ficar dentro de um cômodo pequeno, não fazendo nada, fosse errado. Sentia como se a noite me chamasse. Como se a noite nos chamasse.
- Eu nunca iria ter perdoar se você fosse sem dizer nada. – voltei a dizer, com a voz serena, agora. Dei a volta em sua cama e parei a sua frente. – Mas estamos aqui, não estamos? – abaixei, ainda na frente de , que olhava em meus olhos, ainda sem dizer nada, deixando apenas uma lágrima acariciar sua bochecha. – “Uma noite para se lembrar”, lembra disso? É assim que quer se lembrar dela? – e então ela me sorriu, deixando outra lágrima descer, mexendo a cabeça de um lado para o outro.
- Não. – ela murmurou, com um sorriso em seus lábios e eu lhe sorri de volta. sempre era forte por mim, suportando-me para eu não desabar em meio as minhas complicações e ali eu vi que ela também precisava de mim. Da mesma forma que eu precisava dela.
- Então, o que estamos fazendo aqui? – perguntei, erguendo uma sobrancelha, fazendo-a rir curtamente. Tirei meu celular do bolso e vi o horário. – A noite ainda não terminou, e talvez apenas termine amanhã de manhã. Tudo depende de você. Não importa se essa é a nossa última noite. Vamos fazer dessa a melhor. Ainda temos uma noite inteira pela frente, meu amor. E então, vem comigo? – me levantei e estendi minha mão para ela, que limpou as bochechas úmidas pelas suas lágrimas e balançou a cabeça de um lado para o outro, com um sorriso crescendo em seu rosto, de orelha a orelha.
- Você é impossível, . – ela comentou, aceitando minha mão estendida a ela. Levantou-se e deixou seu vestido abrir-se, revelando sua saia rodada, que a deixava parecida com alguma princesa que eu não iria lembrar o nome. E, extremamente perto de mim, ela me sorriu e eu fiz o mesmo. Em segundos, toda aquela tensão e possível mágoa que nos envolvia, havia se dissipado, restando apenas a vontade de aproveitar a noite que se alongava a cada segundo. – Temos que ir depressa. Temos uma formatura para ir.
Ela declarou e ergueu seu vestido, saindo apressada de seu quarto, comigo indo atrás dela. Fomos até o carro, apressados, correndo, com a brisa noturna fazendo tudo se tornar ainda mais gostoso de ser vivido. Meu coração já não estava apertado e eu respirava aliviado, vendo ao meu lado, sorrindo, querendo, assim como eu, que aquela noite fosse eterna. E ali eu tive esperanças que aquela seria sim, uma noite para se lembrar.

E então eu fazia todo o caminho inverso que tinha feito para encontrar em sua casa. O rádio do carro tocava alto alguma estação qualquer com músicas atuais, que não eram tão boas, mas eu e cantávamos todas a pleno pulmões, enquanto eu manipulava o volante. A melodia agitada e alta da música misturava-se com nossas risadas e eu me sentia completo tendo ela ao meu lado, perdendo o ar de tanto rir, queixando-se de dor no maxilar de tanto sorrir. E a noite continuava convidativa, me fazendo desejar que ela não acabasse nunca.
Chegamos ao salão, e desde a entrada podíamos escutar a música que tocava do lado de dentro. e eu nos entreolhamos, e entramos, escutando a música cada vez mais alta, as luzes apagadas e luzes coloridas passando por todo o salão. A festa já tinha começado.
- Pelo menos eu não vou ter o perigo de cair pra ir pegar o diploma. – ela disse, no meu ouvido, um tanto alto para ser escutada. Rimos, enquanto eu confirmava seu complexo.
- Qual o seu problema, ? Sério? – perguntava, aproximando-se de nós, com sua gravata desabotoada e um copo na mão, risonho. – Fez o menino sair correndo no meio do discurso dele. – ele completou, num tom de brincadeira, abraçando-a.
- Você fez isso? – ela perguntou, saindo do abraço de , com os olhos arregalados, e eu apenas acenei com a cabeça, confirmando. – Você ficou durante uma semana escrevendo ele, . – murmurou, olhando em meus olhos e eu dei de ombros.
- Nunca gostei muito de falar em público, mesmo. – disse a ela, que sorriu mesmo não se contentando com minha resposta. Havia mesmo me esforçado para escrever aquelas palavras, mas ela foi a essência delas e fiz o que eu achava o melhor a se fazer, não o certo.
Conforme adentrávamos o salão, mais rostos conhecidos apareciam e mais risadas eram ouvidas, em meio a danças estranhas, músicas típicas de festas e a sensação de que a felicidade que nos envolvia não teria fim. A eternidade seria útil numa hora dessas.
E num certo momento, houve uma pausa das músicas mais agitadas. E nessa hora, olhou para mim, piscando como se dissesse que aquela era a minha "deixa". A próxima música começou e eu entendi o que ele quis dizer. Uma música romântica, mas não parada, perfeita para uma valsa. 'Dance com ela', podia ouvir em minha cabeça, agora que havia entendido. Perdemos a valsa enquanto eu ia buscar e aquele era um momento que ela não podia deixar passar.
- Com licença. - disse a ela, que estava de costas, com uma falsa nobreza, enquanto ela de virava para mim. - A senhorita poderia, por favor, me conceder essa dança? - ela sorriu, e me fez uma reverência com a saia de seu vestido, abrindo o maior de seus sorrisos. Senti-me feliz por saber que aquele sorriso era meu.
- Claro. - disse, colocando sua mão sobre a minha, que estava estendida a ela. Levei-a até o centro do salão e a guiei no ritmo da música. Pisadas nos pés um do outro foram inevitáveis e eram sempre acompanhadas com risadas e pedidos de desculpa. Minha mão estava sobre a sua cintura e a outra, junto a dela, e a sua outra mão estava sobre meu ombro. Havia uma distância considerável entre nós dois, aonde eu podia ver o brilho de seus olhos e o seu sorriso crescendo cada vez mais, a cada passo, e a cada giro por aquele salão.
A música nos envolvia, fazendo-me esquecer de tudo ao meu redor e fazer que apenas aquele momento importasse. Como se nós e a música fosse a única coisa existente no universo. O que era uma pura ilusão, mas talvez a melhor de todas. Eu a girava e seu vestido fazia toda a cena toda parecer mais bela, enquanto ela esbanjava um charme tímido a cada passo que dava junto a mim.
Sentia-me num daqueles filmes que existe pessoas vestindo brilho pra todos os lados. Eu de terno, ela de vestido fino e nós dois girando pelo salão. Era como se a noite fosse apenas nossa, para brincarmos de conto de fadas, fingindo que tudo acabará bem no final, como se o depois do "felizes para sempre" não importasse tanto. Mas, afinal, qual seria nosso 'felizes para sempre' e o que viria depois disso?
A música chegava ao final, nosso ritmo ia diminuindo, e por consequência, minhas duas mãos desceram para a sua cintura, enquanto as dela firmaram-se em meu pescoço. Nossos rostos estavam próximos e eu podia sentir sua respiração próxima da minha. Aproximei ainda mais meu rosto do dela e fiquei ali, enquanto encostávamos um nos lábios do outro, numa provocação lenta que se tornou um beijo. E foram muitos ao longo da noite, assim como foram muitos ao longo de nosso ‘namoro’ que começou no segundo ano do ensino médio, e antes disso era apenas ‘amigos’ muito próximos um do outro. Foram poucos anos se for pensar, mas foram os melhores. Os amigos ao meu lado tornaram-se mais leais que nunca e eu realmente vi com quem eu poderia contar ou não. E saber isso, é muito bom.
Também havia dançado uma pequena valsa com a minha mãe, que não se aguentou e desabou em lágrimas, comentando coisas como ‘meu bebê cresceu’, e essa frase só fica pior quando ela tinha a pronúncia alterada pelo álcool. Anos resumidos em apenas uma noite. Uma injustiça. Deveria ser, pelo menos, uma semana de festa, para ser considerável. Olhava ao redor e sabia que não veria mais todas aquelas pessoas novamente. ‘Não vamos perder contato’, alguns me diziam, mas eu sabia que eram apenas palavras vazias. Iríamos perder o contato sim, porque a vida acontece e tudo muda. Alguns colegas de sala são legais apenas em sala, e não chamando para o cinema. Colegas é o que mais se tem no colégio, e eles não são para sempre. Amigos de verdade, sim.


04. Eu acho que quero casar com você.

- Eu não quero que essa noite acabe nunca. – sussurrou para mim, enquanto me abraçava, e eu a apertei forte, sentindo seu perfume e seu toque.
- Nem eu. – ela se afastou um pouco, e fitou meu rosto por longos segundos, enquanto a música tocava extremamente alta ao nosso redor. Fiquei ali, parado, com ela próxima a mim, como se gravasse meus traços, assim como eu, que tentava não me esquecer dos dela. Já sentia saudades desde aquele momento. Ela voltou a me abraçar, e a ouvi suspirar, engolir seco, antes de pronunciar as seguintes palavras.
- Eu te amo. – sussurrou, e permaneceu paralisada, comigo em seus braços, enquanto eu arregalava os olhos, sem saber o que fazer ou dizer. Durante todo nosso tempo juntos, nunca dissemos essas três palavras, porque queríamos ser sinceros um com outro. ‘Amor’, para nós, era algo a ser construído com o tempo, fortificado e aproveitado ao longo dos anos. Não algo que se diz como ‘boa noite’, no fim do dia. E ela havia dito.
E então eu percebi que nada mais importava naquela noite, desde que ela estivesse comigo. Seus olhos brilhavam toda vez que nos tocávamos e eu sentia meu coração bater aquecido a todo segundo. Uma ideia insana passou pela minha mente e era como se eu não me importasse com o amanhã, ou com o futuro e apenas o presente existisse. Eu me sentia eterno e ela fazia isso durar. A noite era extremamente convidativa e calorosa. Nossos risos se confundiam com nossas vozes e músicas altas, e eu conseguia sentir as fortes batidas do meu coração. As risadas e sorrisos de me faziam feliz, assim como eu me sentia assim ao estar ao seu lado. E foi ali que eu percebi.
Em meio aquela noite, com seu sorriso nada tímido, sua risada alta e seus olhos extremamente brilhantes, eu senti meu coração bater de uma forma que eu nunca havia sentido, e a felicidade parecia querer se juntar a mim. Senti meu estômago revirar e o arrepio presente se intensificar toda vez que me tocava. Porém, além de tudo isso, senti como se aquela noite nunca chegaria ao fim. Senti-me eterno ao seu lado. E tinha certeza de aquilo era amor.
- Eu também te amo. – murmurei, por fim e tive medo das consequências do que aquilo podia causar. – Eu te amo. – disse, novamente, um pouco mais alto e ri depois, afastando-a um pouco, para ver seu rosto. – Eu te amo! – gritei, enquanto ela ria, olhando-me nos olhos.
- Eu te amo, . – ela gritou, pulando em meu colo, enquanto eu a girava pelo salão. Esbarramos em algumas pessoas, mas rimos depois. Coloquei-a de volta no chão e ela ainda sorria.
- Vamos nos casar! – disse, sem pensar na frase primeiramente, e logo em seguida arregalei os olhos e ela fez o mesmo, me fitando assustada.
- Como? – ela perguntou, ainda com resquícios de seu sorriso no rosto. Fiquei segundos parado olhando para ela. O que eu tinha dito? Por que eu tinha dito? E eu não soube se foi a música alta trazendo danos ao meu cérebro, ou a bebida que nos deixava muito mais felizes, ou então a insanidade do momento. Mas naquela hora, a ideia não pareceu tão insana.
Poderíamos casar e ela não teria que se mudar. Poderíamos comer miojo todo dia e toda manhã e acordar cedo pra ir ver TV na sala, com cobertor. Poderíamos aprender a fazer arroz e assar carne, para fazer um mini churrasco. Poderíamos adotar um cachorro e colocar nome de alguma comida nele. Eu poderia cursar filosofia e ela música, e vivermos do que a natureza nos dá.
- Eu acho que quero casar com você. Agora! – disse, agora certo do que eu dizia e ela ria, sem acreditar. – Quer casar comigo, ? – gritei, por causa da música e ia me ajoelhando, imitando as cenas de cinema, porém me impediu, segurando meus braços.
- Você ficou louco? – ela perguntou ainda rindo, e eu apenas neguei com a cabeça, enquanto ela me fitava, pensativa, e então me respondeu.
- Eu aceito me casar com você, . – ela disse rindo e eu a peguei no colo, voltando a correr e girar pelo salão, gritando a todos que iríamos nos casar, mas poucos ouviram, já que as batidas musicais faziam meu coração tremer. – Vamos nos casar! – ela confirmava, enquanto segurava-se em mim, que girava descoordenado pelo salão.
- Mas não estamos no Havaí! – ela murmurou, enquanto eu a colocava de volta no chão, lembrando-se da primeira conversa que tivemos e eu ri.
- Você ainda se lembra disso? – perguntei, e ela, sorrindo, negou com a cabeça.
- Eu nunca esqueceria. – e eu sorri para ela e logo depois, , , e vieram até nós, visivelmente alterados também.
- Vocês vão casar? – perguntou, com as mãos na boca, surpresa.
- Vamos! – confirmou, recebendo um abraço e gritos histéricos da amiga, que eu apenas franzi o cenho vendo aquilo.
- Temos que fazer que cerimônia agora! – gritou para os outros meninos, que logo começaram a murmurar coisas que eu não consegui saber. – Esperem aí. – gritaram para nós e depois saíram apressados, como se tivessem algo urgente para fazer. Olhei para e ela tinha a mesma feição confusa que a minha. Momentos se passaram e então apareceu, pedindo para seguirmos ela.
nos levou para o terraço do salão, onde não havia teto e para uma noite na cidade, havia muitas estrelas para nos iluminar. me fitou com o olhar desconfiado e eu fiz o mesmo, apertando sua mão na minha, conforme nos conduzia.
- Espero que tenham uma ótima noite. – murmurou e quando fizemos a mesma curva que ela, eu olhei para , que aparentava estar confusa, igual a mim. Havia uma daquelas echarpes de vestidos penduradas em dois suportes de ferro que já eram dali do terraço, e nesse pano, tinha algumas flores dos arranjos das mesas o enfeitando. Na frente dele, sério, de terno e gravata com o nó perfeito, estava parado. Do lado dele, estava , com uma flor no seu terno, também perfeitamente arrumado e na frente deles, porém um pouco afastado, estava esperando nós nos aproximarmos.
- Bom, o noivo não pode ver a noiva até a hora do casamento. – disse, e foi até , puxando-a para longe de mim.

- O que esta acontecendo? – perguntei, com indo até mim e me pegando pelo braço.
- Isso, meu caro, é seu casamento. – franzi o cenho e olhei ao redor, percebendo o que eles estavam tentando fazer. em pé parado, era o padre, ao lado dele, o padrinho e eu, o noivo. – Vá para seu lugar. – e eu comecei a rir, percebendo que o pano com as flores era o nosso ‘altar’.
- Vocês não existem! – gritei, enquanto me colocava ao lado do padre. Digo, ao lado de . – Cadê a ? – perguntei, notando que faltava a ‘noiva’.
- Noivas se atrasam e você não pode vê-la até a hora do casamento. – disse, forçando uma voz séria, sem nem piscar e eu ri por dois motivos. Havia visto a noite toda e o palhaço da turma fingindo-se de padre era hilário. Resolvi ficar quieto, apenas rindo ás vezes, percebendo que o álcool também piorava a situação. voltou para seu lugar, na frente, um pouco afastado do ‘altar’ e percebi que ele é quem levaria a noiva. foi até mim e colocou uma flor laranja em meu terno.
- Desculpa não termos colares de flores para dar. – e voltou ao seu lugar, enquanto eu franzia o cenho.
- Colar de flores? – perguntei, e revirou os olhos.
- Havaí, colar de flores... – disse de um jeito para eu fazer uma ligação entre as duas coisas. “Bom, nós vamos nos casar numa praia no Havaí e vamos gastar muito dinheiro com isso.” Eles sabiam da história toda? Ri, novamente, vendo o que estavam tentando fazer. Estavam tentando fazer nossos planos, influenciados por muito refrigerante, virar realidade. Não estávamos no Havaí e nem tínhamos dinheiro para gastar, mas as flores laranjas em nossos ternos davam para o gasto.
- A noiva está chegando. – sussurrou, como se houvessem muitas pessoas com a gente. Endireitei-me e fingi estar sério, esperando chegar. veio na frente, arrumou o nó da minha gravata e ficou ao lado de . Ela seria uma das ‘madrinhas’. A única na verdade.
- Vocês realmente não existem! – eu exclamei, novamente, tendo mais um ataque de risos. me beliscou e eu voltei a me arrumar, esperando a noiva.
Sabia que era uma brincadeira, mas sentia meu coração bater forte, esperando por , que nunca aparecia. E então começou a cantar a marcha nupcial, com a boca mesmo, sem instrumento nenhum.
- Que bosta é essa? - perguntou e eu não me aguentei, não me aguentando em pé, de tanto rir, junto com , que ria e gritava ao mesmo tempo.
- Padres não falam ‘bosta’. – corrigi, olhando para ele, tentando ficar sério e percebendo que isso era impossível.
- Desculpa. Bosta. – murmurou, limpando a garganta, indicando com a cabeça para eu olhar para frente. A noiva havia chegado. Engoli seco e me endireitei. A marcha nupcial extremamente desafinada saindo da boca de , pareceu não fazer diferença naquele momento, porque havia se tornado o centro das atenções.
Seu cabelo, antes preso num coque elaborado, agora estava solto, com uma coroa de flores claras na cabeça, que eu havia visto com , no começo da festa. Seu vestido de cor clara imitava perfeitamente um de noiva. Ela segurava um mini buquê de três flores nas mãos e ia andando em direção de , tentando não rir dos sons que produzia, tentando imitar a marcha nupcial. Ela estava maravilhosa.
Chegou até e entrelaçou seu braço no dele, e ele a levou até mim, lentamente. tirou fotos, disparando o flash, e quando olhamos para ela, a garota apenas disse “Casamentos precisam ter recordações”. Ela chegava cada vez mais perto, e sorria cada vez mais, intensificando seu olhar no meu a cada passo. sorria junto e eu só conseguia focar em , que estava cada mais próxima. Os dois pararam na minha frente, e beijou a testa de , incorporando seu lado ator, e depois veio até mim, sussurrando ‘Cuida bem dela’.
- Deixa comigo. – sussurrei de volta. Fui até e beijei o topo de sua cabeça, e ela fechou os olhos. Entrelacei meu braço no dela e fomos até , que continuava sério. havia parado de cantar e então houve o silêncio.
- Irmãos, Irmãs e , que ninguém sabe ao certo o que é. Estamos aqui para celebrar a união de e . – disse, pausadamente, como se houvesse muitas pessoas com nós. – Eu não sei o resto, então vamos pular partes. Cadê as alianças? – eu e nos entreolhamos, e ela fez uma careta, sabendo que não tínhamos isso.
- Esperem. – ouvi dizer e ir até nós, com dois lacres de garrafa de refrigerante. – É um pouco grande, mas pode caber... Se algum dia vocês ficarem obesos. – rimos e cada um pegou um dos lacres.
- Façam os negócios dos votos. – disse, embaralhando toda a cerimônia. Respirei fundo, para começar a falar, porém foi mais rápida que eu.
- , eu sei que essa é uma situação completamente estranha, mas estou feliz de poder falar isso. Nós sabemos que essa noite tem que durar mais que todas as outras que passamos juntos. E até agora ignoramos o fato de o amanhã um dia chegar, e eu quero continuar fazendo isso. – ela dizia baixinho, olhando nos meus olhos, e eu a conhecia, sabia que em algum momento seu queixo tremeria e uma lágrima acariciaria seu rosto. – E nós sabemos que em algum momento o amanhã vai chegar, mas isso não importa agora. Porque é como se essa noite nos fizesse sentir eternos, infinitos e eu não podia desejar mais que isso. Eu te amo sim e essa será, com certeza, uma noite para se lembrar. Mais do que qualquer outra. – ela sorriu, uma lágrima desceu e eu a limpei.
– Eu não sei o que a manhã nos reserva, - ela continuou - mas sei que podemos ser você e eu contra o mundo. Você e eu contra qualquer coisa que nos impeça de ficar juntos. Porque eu quero minha lua-de-mel em Hollywood, eu quero dar Iphone 6 para nosso convidados... Não hoje, ta? – ela fez uma pausa e olhou para nossos amigos, que vaiaram de volta e ela riu, voltando-se para mim. – Eu quero ganhar de você em campeonatos de arroto, quero que um emprego em Nova Iorque faça um de nós sofrer de amor... – ela riu, junto a mim, relembrando a noite em que tudo começou. – Eu quero que sejamos eternos juntos. Eu te amo, . – ela finalizou, e eu sentia meu coração martelar meu peito, a felicidade me abraçar e um sentimento extremamente maravilhoso tomar conta de mim.
- , essa é uma situação completamente estranha e me desculpa pela performance do . Não deu pra contratar um melhor. – fiz uma pequena pausa e eu não soube o que falar, nada vinha até mim. Fiquei segundos fitando seu rosto, pensando no porque eu estava passando por tudo aquilo. Porque tinha um motivo e era exatamente esse motivo que me fazia lutar por ela.
- , eu também não sei o que a manhã nos reserva. Na verdade, não tenho ideia. Mas sei que o que importa, é o momento, é o agora. Se amanhã o mundo acabar, foda-se! Já vivemos isso, e nada pode alterar o agora. Porque amanhã, isso será passado e isso não pode ser mudado. – dizia, enquanto, ela só sabia rir e sorrir para mim. – E eu não me vejo com alguém diferente ao meu lado. Porque eu simplesmente amo o jeito que você faz caretas quando não sabe que cara fazer para tirar foto, amo o jeito como você sofre de ansiedade e tem que comer baldes de chocolate pra se sentir melhor, amo o jeito como você ama comer e então podemos ser obesos felizes, um dia. Amo também o jeito de você ser espontânea sem ter medo de bagunçar o cabelo, o jeito como prefere fazer algo e quebrar a cara, do que se arrepender pro resto da vida, amo como você é um desastre na cozinha e tem que me chamar pra ver se o miojo esta pronto. – dizia, lembrando todas as vezes que ela conseguia sujar a cozinha inteira para fritar um ovo, ou então como um passeio no mercado podia ser desastroso, se ela guiasse o carrinho de compras.
- Amo o jeito como somos o casal despreparado, desocupado, desastrado, sem noção e tudo isso, juntos. Somos duas metades iguais, não do tipo daquelas que se completam, mas do tipo que se entendem e se refletem. Agora chega, não sei mais o que falar. – declarei, vendo-a rir, balançando a cabeça e rindo também, mostrando que o álcool também a afetava. – Eu te amo, .
- Coloquem as alianças. – ordenou e franziu o cenho, olhando para ele.
- Não tem aquela parte de ‘até que a morte nos separe’? – ela perguntou e negou com a cabeça.
- Não. Estamos bêbados! Vai que alguém morre ainda hoje? – ele declarou, bem sério, rindo e ignorando as besteiras que ele dizia no decorrer da noite.
- Então ta. – riu, colocando o lacre gigante em meu dedo. E eu fiz o mesmo. Sorríamos um para outro, enquanto esperávamos a deixa de , que brisava olhando alguma coisa além de nós. o beliscou, e ele voltou á realidade.
- Ah, sim! E agora eu os declaro, marido e mulher. Que vocês sejam felizes para sempre. – olhamos para ele e rimos um pouco, enquanto o idiota continuava com sua postura séria. - Pode beijar o noivo. – ele disse, por fim, e eu voltei a fitar , que sorria de orelha a orelha e eu podia dizer que eu fazia o mesmo. Selei meus lábios nos dela, e senti como se pudesse ficar ali para sempre, e parecia que ela sentia o mesmo, já que não queria me largar.
- Agora podemos voltar a beber? – perguntou, jogando em cima de nós dois.
- Calma! Precisamos de uma foto. – correu até nós, tropeçando em seus próprios pés no caminho. Quando chegou, estendeu o celular e tirou milhares de selfies nossas, onde nenhuma ficou perfeita, por causa de nosso estado nada sóbrio. também pediu uma apenas nossa, onde eu segurei pela cintura e ela fazia caras e bocas. Fotos minha com os garotos, apenas minha, apenas da , da com nós, e ela sempre dizia “A recordação é a parte mais importante”, enquanto distribuía flashes.
- Agora a gente pode voltar pra festa? – perguntei, já com o maxilar doendo de tanto sorrir.
- Sim! Vamos. – todos nós agradecemos, e sentiu-se ofendida. Estendi meu braço para ela, que aceitou e fomos andando, voltando para a festa, com ela segurando seu mini buquê, quando sentimos coisas serem lançadas contra nós.
- Que isso? – perguntei, me virando. se agachou e pegou uma das coisas que nos atingiu, tendo, no mesmo momento, um ataque de risos.
- São coxinhas! – ela gritou, lançando de volta para que tacava a última na gente.
- É o arroz, gente! Agora saiam felizes do casamento de vocês. – e então eu lembrei, novamente, da conversa que eu e tivemos, planejando nosso casamento e ele se realizou.
- Nós nos casamos realmente! Quando vamos pra Hollywood? – perguntei e ela riu, jogando de volta as coxinhas que iam até ela. “Em vez de arroz cru, os convidados irão jogar batata frita, pipoca, coxinhas ou algo assim em nós.” Que desperdício!
- Não precisamos ir pra Hollywood, porque temos uma festa lá em baixo esperando por nós... – ela não tinha terminado de falar e havia jogado um sapato nela, e não iria deixar por aquilo mesmo. Pegou o sapato do chão e correu atrás dela, voltando para a festa e eu fui atrás, junto dos garotos.
Estávamos de volta a festa e a música continuava alta, meu coração sincronizava lentamente com a batida e eu sentia que aquela estava sendo sim uma noite para se lembrar. Voltávamos a dançar sem noção alguma do tempo ou mundo ao nosso redor, sem preocupação nenhuma, e sentindo como se aquilo não tivesse fim. Porque estávamos poucos nos fodendo para o que aconteceria quando o sol nascesse.
Todos aqueles rostos conhecidos ao meu redor se tornariam apenas conhecidos meus. ‘No meu tempo de escola’, será a frase que eu usarei para descrevê-los, mas naquela noite era como se isso nunca fosse acontecer. não saia do meu lado, enquanto a lucidez nos abandonava, gole após gole, piada após piada, beijo após beijo. Sabíamos como a noite acabaria. E acabou desse jeito mesmo. A noite foi avançando. As pessoas foram indo embora e eu me sentia completo, como se aquilo tudo sim valido a pena.
Lembro-me de dar horário de ir embora e e eu protestar contra e sairmos correndo dali, quando o céu já não estava tão escuro. As ruas vazias podiam nos amedrontar pelos perigos que podiam esconder, mas a minha falta de sobriedade fez esse sentimento passar longe. Corríamos sem um destino certo, apenas querendo chegar em algum lugar. Ela corria na frente, com seu cabelo e vestido dançando ao ritmo do vento, e eu ia atrás, com minha mão junto da dela.
E não sei como muito bem, e creio que nunca vou me lembrar, estávamos em sua casa novamente. Longe da música alta que fazia nosso corpo todo vibrar e apenas com as batidas fortes que nossos corações davam ao estarem perto um do outro. Apenas ela e eu. Apenas eu e ela.
Não podia mais chamar aquele momento como ‘noite’, já que a manhã já estava chegando. Continuávamos pouco nos importando com o que o futuro bem próximo nos reservava, afinal, gritávamos ‘foda-se’ para isso. E então, era o silêncio de sua casa vazia, a tímida despedida da noite e apenas nós dois. Contávamos com o sigilo das quatro paredes que nos cercavam, para que guardasse segredo do que seria feito ali.
Em poucos minutos, o vestido cintilante e de gala de , estava do outro lado do quarto. As peças do meu terno faziam uma trilha até a sua cama, e então lá, faltava roupa para contar história. Não havia tempo para pensar, apenas momentos para aproveitar. Nossos gemidos abafados se confundiam com nossas retomadas de ar na pausa de cada beijo. Ela se entregou para mim da mesma forma que eu me entreguei para ela, sem questionamentos, sem muito drama, apenas com o desejo que todo aquele calor nos promovia.
As estrelas haviam perdido seu brilho, o céu agora iluminava e a luz da manhã invadia, lentamente, o lugar onde estávamos. E eu podia enfim dizer: a noite chegava ao fim.


05. O que vem depois do ‘Felizes Para Sempre?’.

A ressaca seria inevitável, eu sabia. Porém não pensei que minha cabeça pudesse doer tanto. A luz que invadia o quarto parecia ter mil vezes sua intensidade real e fazia minha cabeça latejar. Tentei me erguer da cama, mas percebi que não estava sozinho. estava deitada sobre mim, com a respiração calma, e sua cabeça estava repousada sobre meu peito. Esforcei-me para ver se ela estava dormindo e ela estava acordada. Seus olhos estavam fixos em um ponto distante dali, seus dedos desenhavam formas abstratas na cama e me perguntava o que estava passando pela sua mente.
- Bom dia, . – murmurei, ela sorriu, sem tanta graça.
- Bom dia. – sussurrou de volta, aconchegando-se ainda mais em mim. Eu sabia o que ela poderia estar pensando, porque devia ser o mesmo que eu. A manhã havia chegado e nosso futuro estava prestes a acontecer. Não podíamos mais mandar tudo se ‘foder’, já que isso tudo agora nosso presente.
- Nós nos casamos... – murmurou, rindo, agarrando-se ainda mais a mim. – E essa dor de cabeça explica o porquê de termos feito aquilo. – balancei a cabeça concordando. O álcool foi o elemento essencial para metade das coisas que tinham acontecido na noite anterior, acontecessem. – O que estávamos pensando?
- Acho que em alguma forma de tornar algumas horas em eternidade. – não pude ver seu rosto perfeitamente, mas senti-a sorrir e eu fiz o mesmo.
- E deu certo? – ela perguntou e eu dei de ombros, procurando a resposta. Repassei tudo o que havíamos vivido durante a noite anterior, e minha resposta para sua pergunta poderia ser sim. O que se passou por minha mente, foram apenas lembranças de nós dois sorrindo, dançando e sentindo como se a eternidade fosse sim, real. Não era como se tudo acabasse alguma hora, era como se tudo continuasse para sempre.
- Sim. – respondi simplesmente, e ela se virou para mim, ainda com sua cabeça no meu peito e seus olhos nos meus.
- Como a eternidade pode ser tão curta? Tão rápida? – perguntou, e eu senti meu coração doer, sabendo que seu rosto nunca mais estaria tão próximo do meu, como estava.
- Para que possamos acreditar que outros tipos de eternidade existem, eu acho. – murmurei, colocando uma mecha de seu cabelo bagunçado atrás de sua orelha. – Eu não sei.
- Nem eu. – ela sussurrou, e ficou durante segundos dedilhando seus dedos sobre meu cabelo. – O que será da gente? – perguntou e eu senti meu coração se contorcer e minha cabeça receber uma pontada, piorando a dor que eu sentia. O que seria da gente? O que vem depois do Felizes para Sempre?
- Ah, meu Deus! Olha a hora! – gritou, levantando-se no mesmo instante, ao ver o horário num relógio velho na parede do seu quarto vazio. - Ontem eu já perdi o voo, se eu perder esse, meus pais me deserdam. Precisamos ir, . – ela dizia, enquanto recolocava as peças da sua roupa jogadas pelo quarto.
- Você vai com esse vestido para o aeroporto? – perguntei, vendo-a colocando o vestido brilhoso da noite anterior.
- Eu não tenho tempo para passar na casa da e pegar minhas coisas. Precisamos ir. Me ajude aqui... – levantei rapidamente e fui até ela, fechando a parte de trás de seu vestido. – , vista-se! – ela disse, vendo-me apenas de cueca na sua frente.
- Por quê? Acho que estou muito bem desse jeito. – me gabei, dando uma voltinha e fazendo pose.
- Coloque a sua roupa. – ela riu, jogando peças da minha roupa para mim. Reuniu todas as suas coisas, documentos, sua roupa e tentou coletar o máximo de lembranças que podia daquela casa.
Passou lentamente por cada cômodo, quase esquecendo que estava contra o relógio. E eu apenas a observava, enquanto, provavelmente, lembrava-se de tudo o que já havia vivido dentro daquelas paredes. Em certo momento, vi uma lágrima descer sua bochecha, mas não fiz nada, vendo que naquele momento, deveria dar privacidade aos seus sentimentos e as suas memórias. Minutos depois, estávamos a caminho do aeroporto.

Era como se e eu ela virássemos estranhos um ao outro, como já fomos um dia. Havia muita coisa a ser dita, mas as palavras pareciam faltar. Afinal, o que iríamos dizer? Dirigia o carro fingindo estar completamente focado na direção, e não pudesse falar com ninguém. Enquanto mantinha sua cabeça virada para a janela do seu lado, sem nem olhar em minha direção. Parecia que sabíamos que estávamos nos evitando.
Torci para que o caminho até o aeroporto fosse mais longo que o normal, mas meu pedido não foi atendido. De alguma forma, que eu não poderia explicar o porquê, as ruas estavam vazias e o caminho parecia ter diminuído pela metade. Havíamos chegado.
Estacionei na frente do aeroporto e desci, indo abrir a porta para ela. A ajudei a sair do carro, com seu vestido atrapalhando e fechei a porta. Andamos lado a lado, e fiquei com ela em todas as etapas da burocracia, antes de ir esperar seu voo. Apenas soltando um ou outro comentário vazio sobre o dia.
Estava tudo pronto e só faltava ela esperar pelo avião. Sentamos em uma das cadeiras vazias que tinham por ali, e eu soube que algo tinha que ser dito.
- O amanhã chegou. – murmurei, e ela se virou para mim, com seus olhos mareados.
- Eu sei. – disse, enterrando sua cabeça no meu pescoço. – O que vai acontecer com a gente? – perguntou, e um nó imenso formou-se na minha garganta. Porque eu não tinha ideia de como responder aquela pergunta.
- Acho que é esse o momento em que você vai trabalhar longe e eu sofro de amor. – sussurrei, e ela riu curtamente, voltando-se a sentar.
- Isso não deveria acontecer agora. Ainda nem fomos para Hollywood, para a nossa lua-de-mel. – ela disse baixinho, tentando bloquear seu choro.
- Finge que você esta indo para lá agora e eu vou depois. – ela sorriu, negando com a cabeça.
- Mas você não vai. E não dá pra ir pros Estados Unidos de metrô, . Por favor, não tenta amenizar as coisas. Dói mais do que enfrentar a realidade. – respirei fundo, percebendo que eu não tinha o que dizer, que eu não sabia o que fazer. Nunca pensei no que seria de nós depois da formatura. Afinal, quem é que pensa no que vem depois do ‘Felizes para Sempre’?
- Não dá mesmo. – disse, simplesmente.
- É esse o fim? – ela perguntou, enxugando algumas lágrimas que caiam sobre a sua bochecha.
- Não precisamos chamar assim. – ela revirou os olhos, e eu presumia que era pelo meu jeito natural de tentar melhoras as coisas. nunca gostou disso.
- Devemos chamar como, então? – ela me perguntou, enquanto eu desviava de seu olhar.
- Você esta indo para outro país, . Não vai ser bom para você, ficar presa aqui... Por mim. – de repente, ela me olhava surpresa, e com mágoa em sua expressão. – Acho que é tempo de você ir encontrar coisas novas por aí. – disse, baixinho.
- Eu não quero ninguém novo, . Por que você sempre tem que se rebaixar? Eu quero você. – ela declarou, colocando a sua mão na minha nuca. – Eu não quero isso.
- Então o que vamos fazer? , você quer que eu seja sincero? – perguntei, sentindo toda aquela angústia me queimar por dentro. Em resposta a minha pergunta, ela afirmou com a cabeça, prendendo seu cabelo em seguida. – Eu não vou poder te ver a cada um mês. Ou a cada dois. Eu nunca sai daqui porque nunca tive dinheiro pra isso. Como que eu vou ter dinheiro agora? – disse, tentando deixar minha voz no tom mais pacífico possível. – Eu tentei achar alguma coisa pra trabalhar durante esse tempo, mas esta difícil, além de que eu ainda vou ter que mudar por causa da faculdade. , eu não posso sair de e ir para os Estados Unidos, pra te ver.
- Eu sei, . – lágrimas tímidas e lentas acariciavam a sua bochecha, e eu sentia meu coração partir vendo cada uma delas. – Mas eu pensei que poderia ser mais fácil. – ela ergueu os ombros, e eu só consegui trazê-la para perto de mim, deixando-a encostar-se a mim, enquanto acariciava seu cabelo. – Eu não quero ir.
- Nem eu quero que você vá. – sussurrei, vendo a falta que ela faria a mim. – Eu te amo, . – abaixei um pouco e beijei sua cabeça, sentindo-a soluçar em meu colo.
- Eu te amo, . É isso que fode. – ela se ergueu e fitou meus olhos, bem de perto. – Não podemos fugir? Podemos viver do que a natureza nos dá. – ri curtamente e ela fez o mesmo, enquanto eu enxugava suas lágrimas.
- Se você não tiver medo de ser deserdada. – disse a ela, que voltou a ficar séria. – A única coisa que eu peço, , é que você não esqueça de mim. Pode esquecer na hora que a saudade apertar, ou quando lembrar o quanto eu sou gostoso de cueca. – ela riu. – Mas não se esqueça de mim.
- Não tem como. Você fez parte da melhor noite da minha vida. Você é meu primeiro marido. E eu acho que nossos contratos inexistentes serão quebrados quando eu entrar naquele avião. – ela disse, bem humorada, mas ainda assim machucada com tudo aquilo. – Eu não vou me esquecer de você, . – ela sussurrou, aproximando seu rosto do meu. – Eu nunca vou me esquecer. – juntou nossos lábios e eu senti meu corpo todo se envolver com aquele momento. Foi como se aquele beijo traduzisse todo o fluxo de sentimentos intensos que sentíamos naquele momento. – parti nosso beijo e respirei fundo, vendo-a franzir o cenho para o meu ato.
- Nem eu. – disse, arrotando e ela gritou, rindo e olhando ao redor.
- Porco! – gritou, e eu ri, vendo a reação das pessoas a nossa volta. – Por que você tem que estragar um momento romântico desses? – perguntou, me dando um tapa. – Você é muito besta! – disse, e eu sabia que aquela era a tradução perfeita para mostrar o que eu significava para ela. – Eu vou sentir muito a sua falta.
- Eu também. – disse, e uma voz feminina ecoou pelo lugar, anunciando o voo de , que apenas fechou os olhos, como se odiasse aquelas palavras. Levantei-me e ergui minha mão a ela, que aceitou. Entrelaçamos nossos dedos e fomos até o portão de embarque, com todos olhando e admirando o vestido que ela usava, comigo de terno ao seu lado. Éramos a atração do dia.
- Cuidado para não tropeçar. Todos os olhos estão em nós. Sorria. – sussurrei para , que ria baixinho, escondendo seu rosto em meu pescoço. – Seus súditos querem te ver. – disse e recebi um tapa como resposta, rindo também.
- Você foi um ótimo marido, . – ela disse, quando chegamos no máximo que eu podia ir. Fiz uma reverência e agradeci, sendo, sem seguida, esmagado por seu abraço.
Apertei meus braços sobre a sua cintura, enquanto ela fazia o mesmo, segurando-me em meu pescoço. Fechei os olhos, e senti cada nota do seu cheiro, tentando gravá-lo em minha mente. Assim como o jeito que nossos corpos encaixavam-se perfeitamente um no outro, em um abraço. Ou o jeito como ela respirava quando estava nos meus braços. E assim eu tentei moldá-la em minha mente, sabendo que não a veria mais tão cedo.
- Aquela foi uma noite para se lembrar. E você, será uma pessoa para eu me lembrar. Para o resto da minha vida. – ela disse, baixinho, com sua boca grudada no meu ouvido. E eu sorri, ouvindo suas palavras.
- Eu sempre vou te amar, . – sussurrei para ela, e ela soltou. Selei nossos lábios e fiz aquele momento se estender o máximo que eu pude. Tocar sua boca com a minha nunca pareceu tão bom, e eu senti o gosto de despedida ali. Seria nosso último beijo? Eu não saberia dizer, mas sabia que eu sentiria falta.
- Eu também. – ela murmurou, e me soltou. Enxuguei suas lágrimas e coloquei o fio teimoso de seu cabelo atrás de sua orelha, novamente. Lentamente, ela andava até o local do seu embarque, dando passos para trás, ainda olhando para mim. Ela estava indo, e eu estava ali, deixando-a ir. se virou, e continuou andando, e eu torcia mentalmente para algo acontecer e ela não precisar partir. Mas sabia que isso era impossível. olhou uma última vez para trás e sorriu, antes de desaparecer, rumo a seu futuro.
E então era isso que acontecia após os ‘Felizes para Sempre’? Não existe felicidade? E sim apenas uma frase de efeito? Se for, aquele nosso último momento ilustrava bem essa ideia. Ela foi embora e me deixou ali, sozinho, sem saber o que fazer sem sua companhia. Nos primeiros momentos, a saudade conseguia me sufocar de uma forma insuportável e eu só queria vender tudo o que eu tinha e ir até ela. Mas isso não seria possível.
Tentamos manter contato pela internet, mas nem sempre dava certo. Tornávamos-nos estranhos um para o outro, e todo aquele amor declarado perdia sua força a cada dia. Ficava fraco a cada foto que postávamos com outra pessoa desconhecida. E então eu percebi que nossa eternidade era mais curta que imaginávamos. Porque não era o amor da minha vida. E mesmo assim fez meu coração sofrer mais do que merecia.
Descobri que não era única quando percebi que seu perfume já não me deixava embriagado. Quando a sua falta nas noites frias podia ser esquecida. Quando seu sorriso tornou-se algo comum para mim. Quando a saudade que eu sentia não era mais dela, e sim do que vivemos juntos. não era o amor da minha vida. E demorei muito tempo para descobrir isso.
Ela apenas tinha sido um dos muitos amores que tive, e como todos os outros, eles se esgotam e somem. Tudo o que ela e eu vivemos ás vezes volta quando alguma música antiga toca. E todas aquelas fotos que tirou na noite da nossa formatura, estão muito bem guardadas. E eu, confesso, ás vezes vejo uma por uma, sentindo falta de toda a intensidade do que vivemos naquela época. Meus amigos continuam comigo, um pouco mais distantes, um pouco mais atarefados, mas mesmo assim continuam amigos, não conhecidos, amigos.
E assim seguimos a nossa vida. Onde para mim, e eu para ela, não passamos de fortes amores passageiros. Nossos corações pertenciam a outras pessoas, e toda vez que esbarramos, de alguma forma, por aí, abraços são trocados e nossos olhos dizem coisas que nossas bocas jamais diriam. Eles diziam o quanto tudo mudou desde aquela época, e sorriam um para o outro, ao relembrar tudo o que havíamos vivido juntos. Mas só pelo olhar, proferir essas palavras em voz alta era desnecessário.
E mesmo de anos depois, o lacre do refrigerante que usamos como aliança continuava guardado, junto a nossas fotos. Porque eu cumpri minha promessa de nunca esquecê-la, e eu espero que ela tenha mantido a dela. Consegui amar de novo, claro. Mas cada amor é único. Ela pode não ser mais a dona do meu coração, mas nunca será apagada da minha memória. Porque aquela noite foi, sim, uma noite para se lembrar. Ela tinha feito aquela noite tornar-se inesquecível. E eu iria me lembrar dela por toda a minha vida.


Fim.



Nota da autora: Quando eu entrei no ficstape, tava tranquila porque faltava ainda meses para enviar a fic. E quando vi, faltava apenas 10 dias. Ou seja, deixei pra ultima hora... Mas consegui terminar!! Pela letra da música Marry You, eu queria algo aonde mostrasse os personagens aproveitando o momento, sabe? Sem preocupações sobre o que viria depois. E acho que eu consegui. Tirei a historia de uma antiga fic abandonada minha e apenas moldei para o que o ficstape propôs. Eu gostei muito de como ficou e espero que vocês tenham achado o mesmo. Obrigada a Gabssss que organizou e deixou eu participar do projeto. Muito obrigada amr E também á Mari, Naomi e Jessie que leram pequenas partes e me ajudaram a continuar escrevendo. Vocês são as melhores <3.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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