Fanfic Finalizada

Capítulo Único

"My town was a wasteland. Full of cages, full of fences, pageant queens and big pretenders… But for some, it was paradise"


Acordei com a cortina balançando, fazendo com que os primeiros raios de sol entrassem no quarto e batessem nos meus olhos. Tentei virar para o lado contrário para dormir mais um pouco, só que um braço forte e tatuado me segurava pela cintura, me impedindo de virar na cama. Tateei o criado-mudo afim de ver as horas no celular e constatei que devia ser cedo já que não tinha notificações na tela.
— Bom dia, linda — disse.
— Bom dia. — Sorri simpática. — Dormiu bem?
— Dormi e você? — Disse, me puxando para perto e roçando a boca no meu pescoço.
— Eu também — respondi tentando não me deixar levar por outra cantada. — Mas eu preciso ir.
— Não quer uma rodada de sexo matinal? — Disse me girando para cima dele.
— É uma proposta deliciosa e eu ia amar ficar aqui com você, mas não posso mesmo. Sinto muito. A gente se vê — disse o beijando rapidamente e saltando da cama.
Dirigi até meu apartamento em Chicago e fiz um café reforçado. Depois do Oscar, minha vida virou uma bagunça completa, mas eu gostava dela assim, eu finalmente tinha minha vida dos sonhos. Eu sempre quis ser atriz. Tudo que veio com a fama eu aceitei de braços abertos, decepções inclusas. Meu último namoro e o primeiro sendo visto por milhões de pessoas me ensinou algumas coisas que eu levo comigo até hoje. era uma pessoa incrível e tenho certeza que nós nos amamos muito, mas ele nunca vir a público sobre o que acontecia comigo foi minando nosso namoro e acabamos nos separando. E cá estou eu, dois meses depois de tudo, ainda pensando nele. Suspirei e fui colocar os pratos na pia. Hoje minha agenda estava tranquila e eu tinha grande parte do dia livre, então eu peguei meu tapete de yoga, o estendi na varanda do meu quarto e comecei a me exercitar. Yoga tinha se transformado em um dos meus esportes favoritos, juntamente com o boxe, influência dele, claro.
Depois de fazer meia hora de yoga, desci até a academia da rua e fui treinar. Essa hora sempre era mais vazia e eu podia fazer meus exercícios em paz, ledo engano. Quando olhei pra televisão, vi a chamada do Jimmy Fallon dizendo que ia ser a atração principal da noite, o que quase fez eu cair da esteira pelo susto.

My boy was montage, a slow motion, love potion…

Fiz minha série e me enfiei no banheiro privado da academia. A última vez que tinha tido qualquer contato com foi a sua mensagem de quando eu ganhei o Oscar e nunca mais. Ver ele na televisão mexeu mais comigo do que eu realmente desejava. Suspirei e entrei no banho, tentando espairecer e focar nos meus próprios pensamentos. Me enrolei na toalha e vi meu celular piscar.

Gravação do SNL. Rockefeller Center. Seu avião parte em duas horas, querida. Suas malas já estão comigo. Nos vemos no aeroporto, então, não se atrase! Sua roupa está na sua cama, pode trazer ela para se vestir aqui.
Beijos! .

Por sorte, eu sempre carrego uma roupa confortável na mala da academia, então vesti meu conjunto de moletom e fiz meu caminho de volta para casa. Enchi o estômago mais uma vez e fui ver o vestido que separou. Um vestido preto que com certeza levantaria minha autoestima assim que eu o vestisse. O guardei na capa e segui para o aeroporto.
— Oi , cheguei! — Disse sorrindo assim que encontrei ela sentada na área vip.
— Oi amiga! — Sorriu largo. — Veio bem? — Assenti. — Ótimo. O avião só estava te esperando. Já disse que amo que seja famosa? Eu só falei que era para você e eles arrumaram um avião particular!
era incrível, uma amiga e tanto, de verdade. Ela me divertia no caos que era a fama. Ela viu tudo desde o início, era minha rocha quando minha mãe não estava por perto.
[...]

— Você não existe, . — Ri.
— Meu trabalho é esse! Preciso estar atualizada das fofocas para você! — Se defendeu. — Mas vai me contar da noite passada? Deu um trabalhão esconder esse chupão no teu pescoço. — Caçoou.
— Para! Não tinha nada de chupão, palhaça. — Dei um belisquinho nela.
Continuamos andando juntas até que eu fui surpreendida pela figura parada na minha frente. . Senti meu estômago queimar e minha mão ficar suada. Ele ainda tinha o mesmo cheiro que eu amava. quase trombou em mim por eu ter parado de andar do nada. Antes que ela soltasse um palavrão, ela viu o que estava acontecendo e se adiantou.
... — falou om a voz fraca. — Eu vou te esperar no camarim, . — Ela cruzou o olhar por nós dois e saiu devagar.
— Esperarei no carro, senhor Bursin. — O motorista dele alertou e nos deixou sozinhos.
— Não precisa esperar, eu já estou indo.
Acho que ficamos parados uns cinco minutos nos olhando sem dizer nada. Ele estava lindo de morrer, como sempre. Estava com as mãos nos bolsos da calça sem dizer uma palavra.
— Senhor Bursin? O senhor ainda vem? — O motorista interrompeu nossa visão, o chamando.
— Claro, Kevin! — Assentiu e começou a acompanhá-lo.
! — Chamei. — Você estava gravando com o Jimmy, certo?
— Sim! — Disse se virando para mim.
— Já faz um tempo! — Sorri sem graça.
— É!
— Como você...
, eu preciso ir. — Ele disse, me interrompendo seco.
? — Chamei outra vez. — Por que está agindo como se estivesse com raiva de mim?
— Talvez eu esteja.
— Eu achei que estávamos bem. — Apertei os lábios.
— E agora o quê? Vamos tomar uma bebida e fingir que somos amigos? — Disse grosseiramente.
— Eu...
— Sim, você sempre esteve melhor do que eu. — Sorriu sarcástico. — Pelo menos é o que dizem as notícias. — Levantou as mãos em defesa.
— O que quer dizer? — Disse me aproximando.
— Sua cama está quente o suficiente desde que eu não estive mais nela? — Proferiu as palavras com um certo nojo.
— Alguém está ressentindo por aqui. — Cruzei os braços e travei o maxilar.
— Não mais que os homens que são trocados por você toda sexta-feira.
— Não me diga que está triste porque não é você quem está nela? — Retruquei de forma irônica. — Parece até uma piada você falar isso, quando todo mundo sabia quem você era antes de me conhecer. — Percebi ele revirando os olhos com desdém.
— Eu mudei e você foi embora, mas que merda!
— Sim, eu fui. — Balancei a cabeça positivamente.
— Quando não precisou mais de mim. — Falou de uma vez só.
— Você é inacreditável. — Soltei uma risada com olhos marejados, eu não ia chorar na frente dele. Não de novo.
— Não precisa mais chorar, agora você tem a fama que tanto queria. — Foi cruel o suficiente, como se quisesse me punir.
— E a porra de um Oscar. — Debochei com um sorriso no rosto.
— Eu deveria ter me certificado de que você seria... — Percebi que ele buscava a palavra certa para me atingir novamente.
— Um erro? — Questionei, me aproximando até ficar perigosamente perto da sua boca.
— Talvez você tenha sido mesmo, Brixton. — Assentiu com a cabeça.
— Você só diz isso porque já tinha uma carreira antes de me conhecer.
— Não, eu digo isso porque faz dois meses da porra do nosso término e eu ainda não consegui tirar você da minha cabeça…
— Como se você fosse uma grande vítima disso tudo, não é mesmo, Bursin? — Gesticulei enérgica. — Até parece que não me abandonaria se não tivesse uma…
, eu não sei por qual motivo estamos brigando, você fez sua escolha e está feliz com isso, mas eu não estou. — Anunciou me cortando novamente. — Eu ainda amo você e isso dói para caralho, mas acabou e eu estou tentando seguir com a porra da minha vida e você... Você não está mais nela. — Seus olhos passaram pelos meus olhos e minha boca, parando ali e, por um segundo, achei que ele fosse me beijar. Mas não. Ele continuou me encarando e eu decidi que não cabia mais ali. Virei de costas e caminhei até o elevador, o chamando depressa sem olhar para trás.
Entrei no elevador, apertei o andar do SNL e corri até o camarim, encontrando limpando um dos pincéis.
, que cara é essa? — Disse preocupada. — O que aconteceu?
— Ele foi horrível comigo — respondi num sussurro, desabando. — Me disse coisas tão cruéis, tão dolorosas, . — Ela rapidamente trancou a porta e me abraçou.
— Ah, amiga... — disse me aninhando como se eu fosse um bebê. — Quer ir embora? A gente inventa uma desculpa.
— Não. Eu estou bem. Só preciso descansar. É ao vivo, né? Até lá eu estou melhor. E com a cara menos inchada.
— Mesmo? — Perguntou.
— Mesmo. — Garanti.
suspirou e voltou a arrumar a mesa dela enquanto eu fiquei repassando a conversa com na cabeça. Eu não acreditava que ele pensava aquelas coisas de mim. Ele só podia estar mentindo, eu tinha certeza de que era mentira dele para me atingir.
— Com licença? — Ouvi baterem na porta. — Está na hora de gravar a chamada do programa.
— Obrigada! Já vou! — Respondi. — Cinco minutos. — Pedi.
— Ok!

“Jumping off things in the ocean, I broke his heart 'cause he was nice...”


— Até quando vai ficar fazendo isso com as pessoas? — Mark gritava no meio da praia.
— Você pode se controlar? — Pedi educadamente.
— Claro que não, ! — Retrucou. — Eu estou cansado dessa merda! — Arregalou os olhos azuis para mim e eu bufei. — Por que não volta para ele? — Me questionou.
— De que merda você está falando? — Arqueei uma das sobrancelhas.
— Quando vai perceber que sente falta dele? — Cruzou os braços. — Eu posso te dar a melhor transa da sua vida, mas, a porra desse vazio que faz você dar para qualquer um é apenas uma mentira para você mesma, só ele pode curar. — Me encarou bem sério.
— Vai se foder, Jones! — Estirei o dedo para ele e o chamei pelo segundo nome, o qual eu sabia que ele não gostava muito.
— Eu sou um cara legal, Brixton, e perdi a porra do meu tempo achando que em algum momento ficaríamos juntos de verdade. Enquanto isso, vejo suas fotos saindo com um tatuado qualquer ao mesmo tempo que estava dormindo comigo, e ainda quer que eu acredite que não tem nada a ver com ele? — Riu fraco.
— Você pode parar de falar dele? — Franzi o cenho, irritada. — Sinto muito se eu quebrei seu coração, mas não é minha culpa se você despejou suas expectativas em mim. — Apontei o dedo indicador para o meu peito.
— Nunca foi sobre expectativas, mas honestidade, e enquanto continuar mentindo para si mesma, nunca vai ser sincera com as pessoas. — Respirou fundo. — Fica bem!
Mark ao menos me deu direito de resposta, apenas deu as costas e seguiu para fora da praia. Era nítido que havíamos chamado a atenção de algumas pessoas que estavam ao nosso redor, não demoraria muito para que eu estivesse envolvida em outra polêmica. Eu definitivamente receberia mais uma reclamação da Sarah, minha assessora, e precisava me preparar psicologicamente para isso.
Olhei o mar à minha frente e fiquei pensando no que o rapaz acabara de me dizer. Odiava quando alguém envolvia Bursin na minha vida, o nosso relacionamento não existia há um tempo e parecia que ninguém entendia isso, nem a mídia, nem os homens que eu me envolvia, nem meus amigos e principalmente nem eu.
Realmente, havíamos construído um legado.
Em relação a Mark Jones, era tudo muito superficial, ele era músico e intenso, e no início, de certa forma, aquilo me fazia bem, era legal ter com quem conversar sem precisar transar, então tecnicamente apenas fui descartando-o e o jogando para a friendzone. E o pior é que eu não me sentia culpada por isso.
— Ótimo, ! — Levantei a cabeça para os céus, sentindo a brisa bagunçar meus cabelos.
Peguei o colar que havia ganhado há umas semanas do próprio músico de dentro da bolsa e, sem prolongar muito, o atirei no mar, exatamente como eu estava fazendo com a maioria das coisas ao redor. A única diferença é que, de certa forma, elas ainda voltavam para me assombrar. Pelo visto, nunca me livraria de , nem mesmo se eu quisesse.
Fui em direção ao meu carro estacionado e, após entrar no mesmo, respirei fundo, buscando entender como tudo havia saído do eixo tão rápido. Segurei o choro em uma tentativa frustrada de não parecer uma criança mimada, mas era inevitável, pois a mídia já tinha me colocado nessa posição. Talvez Bursin estivesse certo em me falar todas aquelas coisas, pensei.
“Sua cama está quente o suficiente desde que eu não estive mais nela?”
Lembrei do momento que ele me atingiu da pior forma no estacionamento, o meu coração estava cheio de vontade de dizer que minha cama nunca esteve quente desde que ele se fora, por isso procurava me aquecer na cama dos outros. Mesmo que não fizesse sentido para ele, na minha cabeça era o único jeito, pois voltar para significava tentar consertar algo que estava completamente quebrado e, quando algo se quebra, mesmo que cole, a chance de se machucar é muito maior.
Me endireitei no banco do motorista, olhei para o retrovisor interno tentando encontrar a antiga , aquela que entrou em um estúdio para fazer um teste, cheia de esperança e definitivamente com um único objetivo: ser uma atriz famosa; e, agora que eu tinha tudo isso, parecia que eu não tinha nada. Coloquei as mãos no volante e dispersei meus pensamentos intrusos, me direcionando para casa.
Após chegar em casa, tomei um longo banho, daqueles que limpam até sua alma, enrolei uma toalha nos cabelos, que ainda estavam molhados, e coloquei um roupão, mesmo com uma enorme vontade de ficar pelada. Segui para a cozinha, peguei uma das caixas de chocolates no armário e uma garrafa de vodka na geladeira e me adiantei em encher um copo com gelo e o líquido puro.
Precisava de doce, álcool e música.
Fui para sala e liguei a caixa de som, playlist triste era a única escolha que eu poderia fazer no momento. Sentei no sofá com cuidado para não derrubar nada e me aconcheguei no mesmo, mas por pouco tempo. A minha campainha disparou, o que me fez tomar um pequeno susto e quase derrubar a bebida em minhas mãos, além do fato de não estar esperando ninguém. Coloquei todas as coisas em cima da mesa de centro à minha frente e me encaminhei para abrir a porta. — Quem é? — Perguntei antes de girar a maçaneta.
— Entrega para Brixton. — Um rapaz respondeu.
— Mas eu não pedi nada! — Retruquei.
— É um buquê, senhora! — Justificou. — Então acredito que não tenha sido realmente a senhora quem pediu.
Fiquei nervosa, pois poucas pessoas sabiam o endereço desse meu apartamento. Mesmo assim, decidi abrir a porta e acabei me deparando com o maior buquê que eu tinha visto em toda a minha vida, abri minha boca involuntariamente ao ver aquele tanto de flores e rosas.
— De fato, ele queria fazer uma surpresa. — O atendente sorriu. — Pediu o melhor da nossa loja. — Me entregou o buquê.
— Ele? — Indaguei confusa.
— Sim, pelo que me falaram. De qualquer forma, há um cartão, então acho que descobrirá logo. — Acenou com a cabeça e se retirou do meu campo de visão.

“He wanted a bride, I was making my own name, chasing that fame, he stayed the same...”

Voltei para o sofá na intenção de descobrir quem poderia ter me mandado aquele presente, a ansiedade tomou conta de mim por alguns segundos. Peguei o cartão que se escondia no meio daquelas cores. Pelo tamanho dele, alguém parecia ter escrito uma carta, sorri sem propósito, retirei o papel de dentro do envelope e abri o mesmo com carinho.
“Querida ,
Se eu ainda posso te chamar assim, acho que não tenho mais direito disso. Queria te pedir perdão pelo modo como te tratei no estacionamento naquele dia, pelas coisas que eu disse e que eu sei que te magoaram, não podia ter falado daquele jeito. Me lembro de quando chegou no teste, como o brilho nos seus olhos e o jeito que me abraçou quando conseguiu o papel me mudaram completamente, eu nunca tinha visto ninguém como você.
Eu amei você desde o primeiro até o último dia — ainda amo. Perder você foi um soco no estômago e sei que isso é consequência das minhas próprias ações, mas naquela época senti que poderia estar traindo a mim mesmo se eu o fizesse, e no final, acabei traindo você. Fui fraco por não proteger você.
Espero que algum dia você me perdoe por isso tudo e possamos ter uma lembrança feliz um do outro. E, se quiser conversar sobre qualquer coisa, sabe onde me achar.
Com carinho,
The B.”

Meu coração acelerou e as lágrimas rolaram pelo meu rosto automaticamente, não lembrava de ter tido tempo para chorar meu término com de alguma maneira, estava tão focada em fazer meu nome dentro de Hollywood que não dei espaço algum para sentir dor. Nós poderíamos ter sido muito mais, ele estava tão preparado para me ter de todas as maneiras.
“Eu vou me casar com essa garota, Paul!”
Uma simples lembrança de quando ainda éramos nós veio até mim da forma mais brutal possível, no momento mais frágil. Deixei Bursin ir com uma desculpa fodida de que eu não aguentaria a mídia em cima da gente, mas, quando olho para mim agora, estou em um lugar tão pior com essas merdas e ainda estou aqui, mas não tenho mais quem realmente me queira por inteira.
— Por que eu te cobrei tanto, ? — Me perguntei em meio aos soluços.
Não aguentei e acabei bebendo boa parte da vodka, pois era o único jeito de disfarçar a porcaria do vazio dentro de mim, chorei tanto que não lembro de quando adormeci em cima do enorme buquê que ele me mandou. Álcool e tristeza pareciam ter sido a combinação perfeita para me deixar completamente derrotada.
Acordei com olhos tão inchados que minha visão estava comprometida, funguei umas duas vezes para controlar a ansiedade e não desabar novamente. merecia tantas explicações sobre várias coisas, mas o pior era saber que seria péssimo para ele ser visto comigo por diversos motivos, pois ele desapareceu da mídia por minha causa.
Peguei meu celular na mesa de centro à minha frente e abri a galeria buscando por algo que pudesse me machucar mais ainda, como se essa carta dele não fosse o suficiente. Logo, achei um vídeo que eu gravei em um restaurante que fomos, Bursin estava com uma camisa social na cor azul claro, eu amava como o azul realçava todos os traços dele. Não demorou muito para meus olhos encharcarem.
“Você pode parar de filmar?”
O som da pergunta sendo seguida por gargalhadas ecoou na minha sala.
— Eu nunca vi um sorriso tão lindo na minha vida, Bursin. — Falei enquanto secava as lágrimas pela milésima vez.
Segurei o celular e abri a agenda telefônica disposta a ligar para o dito cujo, mesmo com medo de como ele atenderia aquela ligação. Achei que era o mínimo que eu poderia, visto as flores e a carta que eu recebi, ele merecia algo. Esse tempo todo se culpou tanto pelo fim do nosso relacionamento, mas eu fui injusta em tantos níveis.
Bursin falando! — Senti calafrios ao escutá-lo.
Não vou conseguir, pensei.
— Alô? Alguém aí? — Ele perguntou do outro lado da linha.
Respirei fundo.
? — A voz dele saiu embargada.
Ele ainda tinha meu número. Sabia exatamente quem era, por isso em momento algum encerrou a ligação, estava me encorajando a falar com ele. Mais do que ninguém, Bursin sabia o quanto tudo terminou de um jeito desconexo entre nós, tantas coisas que foram ditas, tantas que não, e um pedido desculpas que ficou perdido no tempo.
... — Não aguentei ao menos iniciar a frase e cai em prantos.
— O que está acontecendo, ? — Perguntou preocupado. — Você está em perigo? — Eu não conseguia dizer nada. — Diga alguma coisa! — Falou nervoso. — ...
— Eu preciso de você! — O interrompi de uma vez e o silêncio se fez presente no meio da ligação. — ...
— Como posso ajudar? — Perguntou.
— Você não entendeu! — Apertei os lábios antes de falar na tentativa de controlar o choro. — Eu preciso de você aqui comigo! — Deitei em cima do buquê novamente, desliguei a ligação e caí em prantos.
Não aguentava a ideia de que ele não viria me ver, isso me despedaçava por inteira, por isso encerrei a chamada. A ideia de tentar explicar algo por telefone me pareceu tão inalcançável que eu ao menos cogitei falar mais alguma coisa, ouvir a voz dele daquela forma no momento só iria me desestruturar e, por mais que sempre mantivesse a postura, eu não estava preparada.
Nunca estive. Nem para tê-lo ou perdê-lo. Mas, ele... Ele continuava o mesmo.
não retornaria a ligação, isso era um fato, ele nunca fora do tipo que conversava por telefone, dizia que era importante olhar nos olhos de alguém quando quisesse mostrar interesse. Levei um tempo até me acostumar a não receber tantas mensagens, apesar de tudo, ele tentava porque sabia que era importante para mim. E eu simplesmente deixei com que ele aceitasse minhas justificativas estúpidas para ir embora.
Olhei ao meu redor e bufei. O dia realmente estava péssimo, horas haviam passado após a caótica ligação onde eu fiquei extremamente vulnerável a ponto de apenas chorar para e pedir ao mesmo para me socorrer. Pensando nisso agora, era inevitável que me sentisse um pouco envergonhada, era tão injusto colocá-lo nessa posição.
Fui tirada à força dos meus devaneios quando a minha campainha tocou pela segunda vez naquela noite, provavelmente Sarah havia tentado me alcançar ou falar comigo de alguma forma, mas não foi respondida, então era possível ter mandando no seu lugar. Fui em direção à porta, preparando o psicológico para explicar os olhos inchados e o odor alcóolico para minha amiga, mas, quando a abri, me deparei com um outro alguém.
?
Um misto de emoções inundou todo meu corpo, não sei por quanto tempo fiquei o encarando boquiaberta e com um sorriso terno nos olhos. Ele realmente continuava o mesmo, independentemente de qualquer coisa, não media esforços para ficar ao meu lado, mesmo que não fosse fisicamente, ele sempre estava lá.
— O que está fazendo aqui? — Quebrei o silêncio.
— Disse que precisava de mim. — Me encarou de forma doce.
— Eu não achei que viria. — Baixei a cabeça.
— Mentira! — Ele me retrucou e eu o encarei atentamente. — Sabe que eu poderia ir de encontro a você não importa onde eu estivesse, desde que você me pedisse. — Sorriu de lado.
Ouvir isso foi o suficiente para que eu me jogasse nos braços dele. me agarrou com tanta força que por um momento eu esqueci como respirar, mas isso não importava porque eu tinha tudo o que eu precisava ali. Entrelacei os dedos pelos fios macios do cabelo dele, exatamente como nas noites em que ele me fazia sua, enquanto ele encaixou a cabeça no meu pescoço. — Não sabe o quanto senti saudades do seu cheiro. — Ele disse apertando minha cintura.
— Me desculpa! — Falei manhosa.
— Sobre o que está se desculpando? — Senti o toque das mãos aveludadas dele segurar meu rosto.
— Sobre tudo. — Fui incisiva. — Sobre ter te dado justificativas idiotas para ir embora, por ter cobrado mais do que eu…
— Eu que tenho que te pedir desculpas, ! — Me interrompeu me puxando para outro abraço. — Eu poderia ter insistido mais, tenho certeza de que se eu tivesse te mostrado, teríamos superado tudo juntos! — Pousou a mão sobre minha cabeça e fez um carinho.
— Me dói escutar você falar isso quando eu sei que nunca foi sua intenção me deixar ir embora. — Engoli o choro.
... — Ele desfez o abraço e respirou fundo. — Eu estou aqui agora, vamos cuidar de você, está bem? — Alisou minha bochecha com o polegar e eu assenti.
Limpei o rosto com a manga do meu roupão felpudo e me guiou para dentro, me segurando pela cintura. O mundo podia cair na minha cabeça que eu não iria me importar. Eu senti tanta falta de sentir o corpo dele perto do meu, a voz dele ecoando nos meus ouvidos, que, se eu morresse agora, iria morrer feliz.
— Você gostou das flores? — Sorriu.
— São lindas. Devem ter custado uma fortuna trazer para cá. — Comentei.
— Se eu soubesse que ia me querer, tinha vindo com elas. — Piscou. — Vamos organizar essa bagunça, hm? Onde posso colocar elas?
— Ganhei um jarro de flores de um fã, pode colocar lá. Está vazio decorando a sala. — Ele assentiu e foi até a sala pegar o vaso.
— E essa garrafa de vodka aqui?
— Ressaca moral. — Comentei.
Ele riu baixo e depois de algum tempo estava tudo organizado. Me mandou ficar na sala enquanto fazia uma comida para nós. Mandei uma foto dele escondida para e pedi segredo entre nós. veio com uma bandeja com duas tigelas que cheiravam deliciosamente bem. Era uma sopa de tomates quentinha acompanhada de pães e queijo.
— Obrigada. — Sorri.
— Come. Vai te fazer bem. — Ele disse afagando meu cabelo.
Comemos em silêncio e pela primeira vez não era o silêncio que tinha sempre na minha casa. Era um silêncio gostoso, daqueles que você sente quando tá lendo seu livro favorito acompanhado de uma xícara de chá bem quente, quando o tempo está frio e o calor da lareira te aquece.
... Eu…
— Não vamos falar disso hoje. Vamos aproveitar o momento, está bem? Podemos falar sobre o que quiser amanhã. Hoje não.
Concordei devagar e voltei a tomar minha sopa em silêncio. parecia muito confortável em estar na minha casa e eu gostei dessa sensação. Ele lavou toda a louça e deixou tudo na secadora, além de secar a pia e guardar o que sobrou da sopa na geladeira.
— Não pode deixar muitos dias ali ou vai mofar. — Comentou.
— Você pode me ajudar a comer amanhã no almoço. — Sugeri.
— Sopa de almoço? — Torceu o nariz.
— Na janta, então. — Sorri.
caminhou até a mim, me puxou para perto dele, afundando o nariz na curva do meu pescoço, e me apertou de leve. Enlacei meus braços em volta dele e o beijei. Eu sentia tanta falta dele, quem eu queria enganar? Fiquei tão absorta no momento que não percebi quando ele me levou para o quarto e deitou por cima de mim, distribuindo beijos pelo meu rosto, pescoço e o colo, me fazendo soltar um suspiro longo.
— Senti falta da sua pele — disse contra minha boca.
— Eu também.
Ele me ajudou a me livrar do roupão enquanto eu o livrava da camisa. Senti sua intimidade aparecer quando ele encontrou meu corpo nu por baixo do roupão.
— Porra .... — bufou.
— Em minha defesa, não estava esperando por isso. — Ri.
Não saímos mais da cama naquela noite, ficamos apenas matando a saudade um do outro por várias vezes seguidas, até estarmos completamente cansados e suados. Adormeci no seu peito nu e esperei pelo dia seguinte.
Acordei e senti a cama do meu lado vazio. Levantei-me em um pulo e desci as escadas depressa, mas o encontrei preparando panquecas e suco de laranja para nós enquanto cantava o tema dos nossos personagens, gold do Tolan Shaw, que acabou virando nossa. Ri baixo e desci as escadas, o abraçando por trás.
— Bom dia! — Sorri.
— Bom dia, . — Sorriu de volta. — Fiz café pra gente. Tem ovos, panquecas, torrada, bacon e suco.
— Parece tudo uma delícia — disse, roubando uma uva.
— Parece mesmo — respondeu, me olhando e comendo a uva da minha mão.
— Modos, senhor . É de manhã. — Brinquei.
— Não sabia que sexo matinal faz bem para começar o dia? — Provocou.
Ri dele e o ajudei a colocar a mesa para comermos juntos. Conversamos sobre nossa vida e projetos novos e foi como se estivéssemos nos conhecendo tudo de novo.
Os dias passaram e eu e continuamos nos vendo às escondidas, eu viajava nos dias de folga e ele também. Sem mídia para atrapalhar, fofocas para envenenar, as coisas estavam correndo muito bem e parecia que a gente nunca tinha ficado longe um do outro.

[...]


— Mas eu não quero acampar! — Disse fazendo bico.
— Poxa! Você nunca acampou comigo, é diferente! — Riu. — Vai ser legal, vai.
— Por que você tinha que ser tão amante da natureza? — Bufei.
— Bom, na natureza ninguém vai ouvir nós dois. — Sorriu safado.
— Gostei do argumento. Me venceu. — Ri.
tirou uma mochila enorme do bagageiro e começou a enchê-la com roupas largas enquanto eu enchia um cooler com alguns sanduíches que eu fiz, biscoitos, frutas e garrafas de água, todas arrumadas separadamente. Ele desceu com a mochila e eu fui me trocar. Observei ele arrumando o carro da janela e sorri boba por finalmente conseguir viver sem ser perseguida pela mídia. Me arrumei e fiz uma mochila pequena com protetor solar e repelente extra para nós dois. Desci saltitante e tranquei toda a casa, subindo no jeep e dando uma última olhada ao redor.
— Pode ir — disse dando um selinho nele.
deu a partida e saiu pela estrada. Eu tirava várias fotos para guardar de lembrança e filmei ele dirigindo calmamente enquanto cantava com as músicas do rádio. O lago era a coisa mais linda que eu já tinha visto na minha vida. A água era tão cristalina que dava para ver o fundo. Ajudei a montar a barraca e ele achou alguns troncos, que a gente guardou para acender mais tarde. Estendi uma toalha bem grande na areia e me sentei lá.
— Quer dar um mergulho? — Perguntei.
— Com você? Sempre. — Ele disse tirando a roupa e correndo até o lago.
Ri atrás dele, tirei a roupa, ficando só com meu conjunto de lingerie, e fui até a água. me colocou na sua cintura e me beijou com vontade. Suspirei em sua boca e ele mordiscou meu pescoço de leve.
... — Suspirei.
— Nossa, como eu senti falta de você me chamando assim…
— Toalha. — Sugeri.
me segurou pelo tronco, saiu comigo enlaçada em sua cintura e jogou nosso corpo contra a toalha. Aproveitamos que não tinha ninguém ali para fazer todo o barulho que a gente podia fazer. Ficamos acampando durante a semana inteira, voltando no começo da tarde de domingo, e ficou na minha casa até segunda de manhã, já que tinha compromissos que não podia perder.

“It came like a postcard, picture perfect, shiny family, holiday peppermint candy, but for him it’s every day”


Alguns meses depois de voltar com , nosso relacionamento estava incrivelmente em segurança e isso aliviava meu coração de muitas formas. Não sentia necessidade de trazer isso para o público novamente. Eu continuava me colocando em projetos e ele também, o que mantinha nossa vida pessoal longe das mãos deles. Estava a caminho de Nova York quando meu celular acendeu, me notificando uma mensagem de :
“Queria que conhecesse minha mãe. Podemos marcar um jantar aqui em casa, se quiser. Avise-me quando chegar. Quero te ver. Te amo. .”
Ri do jeito que ele assinou no final e bloqueei a tela. Conhecer a mãe dele seria um grande passo, quando namoramos a primeira vez não conhecemos a mãe um do outro. Suspirei sozinha e encostei a cabeça no vidro do carro. Se estivesse aqui saberia o que dizer, mas infelizmente ela teve um problema pessoal e não pode me acompanhar. Fui deixada no camarim e a equipe de cabelo e maquiagem chegaram um tempo depois. Iria fazer um ensaio fotográfico pra Vogue e eles estavam me arrumando. Mandei foto para assim que tive certeza de que ninguém estava espiando por cima de mim e ele respondeu com uma foto no ringue onde treinava. Sorri sozinha e voltei minha atenção às pessoas.
Depois de horas no estúdio, finalmente pude relaxar no quarto do hotel e mandei uma mensagem para .
“Tem certeza? Eu não sei se tô pronta pra isso ainda. Aliás, já estou no Roosevelt da 45.”
“Não precisa se preocupar, , minha mãe é confiável.
Estou indo praí.”
“Não é isso. É que eu tenho medo de descobrirem, sabe? E eles estragarem tudo de novo entre nós dois.”
“Confia em mim. Sei o que fazer, hm?”
“Tudo bem. Te espero.”
Escrevi me dando por vencida, mesmo não querendo expor nosso relacionamento para mais ninguém. chegou meia hora depois com uma sacola de papel de um restaurante e vinho na outra mão. Ele me deu um beijo rápido e entrou no quarto, dispondo a comida na mesa do canto. Eu amava aquele homem.
— Eu conheço sua mãe, se quiser — falei.
— Oi? — Perguntou distraído.
— Janto com sua mãe, com você, cachorro, papagaio, todo mundo. — Ri.
— Mesmo? — Sorriu largo.
— Mesmo! — Disse o apertando em um abraço e o beijando.
— Isso é ótimo, já estava na hora. — Brincou.
— Eu amo como você continua o mesmo desde que nos conhecemos, até as partes mais difíceis. — Me referi ao comportamento que ele tinha quando não conseguia o que queria.
— O que quer dizer? — Questionou confuso, enquanto segurava minha cintura.
— É tipo escolher o cartão postal mais bonito da cidade para tirar uma foto ou pegar a última balinha de hortelã de uma loja aleatória. — O encarei, sorrindo sem mostrar os dentes. — Algumas vezes é difícil, mas você ainda quer muito isso. — Mordi o interior da bochecha, ansiosa.
— Que comparações são essas? — Ele riu envergonhado.
— Você entendeu exatamente o que eu quis dizer, Bursin. — Passei meus braços ao redor dele.
— Acho que só um pouco. — Fechou um dos olhos, mostrando dúvida.
— Eu acho que tudo em mim mudou depois de todas as coisas que me aconteceram, sabe? — Soltei os meus braços e me afastei um pouco dele.
— Onde está tentando chegar? — Questionou, franzindo o cenho.
— Que não importa o que aconteça, você nunca perde sua essência, e para mim isso te torna lindo e raro como o cartão postal mais bonito da cidade e a última balinha de hortelã de uma loja aleatória. — Balancei a cabeça positivamente.
— Ok! — Aproximou-se. — Conversa esquisita! — Apontou o indicador para mim. — Eu vou agradecer porque isso me pareceu um elogio. — Soltou uma risada fraca. — Então, obrigado. — Pousou as mãos no meus ombros e depositou um beijo na minha testa.
A verdade é que não havia um jeito certo de dizer para que eu estava com aquele mesmo sentimento de quando terminamos pela primeira vez, mesmo com todo amor que inundava meu peito, era como se aquilo estivesse fora do eixo para mim, porque ele parecia ser bom demais e eu ainda não me sentia o suficiente como profissional para estar ao seu lado.
Talvez o problema fosse eu.
E parecia que eu estava adivinhando que a sensação daquela noite me traria coisas das quais eu poderia me arrepender depois. Uma semana mais tarde estava tudo certo para que eu encontrasse os pais de , apesar de todo o preparo psicológico, era loucura demais para mim e, por mais que não estivesse pronta completamente para aquilo, não era como se tivesse alguma escapatória, até o maldito toque do meu celular aparecer de forma desesperada.
— Oi Sarah, eu estou em uma ótima conduta, eu prometo! — Atendi ansiosa, visto que ela não sabia sobre mim e Bursin.
— Eu tenho visto, , e é sobre exatamente isso que quero falar com você. — Falou animada. — A embaixadora da Chanel me ligou, querem fechar contrato para você representar a marca. — Deu um gritinho do outro lado da linha.
— O quê? — Gritei surpresa.
— A Chanel quer que você seja a cara da nova coleção. — Repetiu.
— E o que eu preciso fazer? — Questionei entusiasmada.
— Eles te querem na festa deles em Chicago hoje à noite. — Respondeu.
— Meu Deus! Isso é... Espera, hoje à noite? — Lembrei do meu compromisso com .
— Sim! — Confirmou. — Por quê? Por acaso tinha algo marcado? — Foi irônica.
— Talvez? Não existiria possibilidade de reagendar? — Dei um tiro no escuro.
— Brixton, está maluca? — Soou irritada. — Acha que eles vão parar tudo para que você resolva sua vida? — Bufei. — É a Chanel, você não vai ter outra oportunidade dessas. — Persuadiu e eu respirei fundo antes de respondê-la.
— Certo, me passa os detalhes.
Era isso. Eu estava totalmente ferrada.
O medo me consumiu por um instante, eu não fazia a mínima ideia de como contaria para Bursin que eu não poderia jantar aquela noite com seus pais que vieram da Turquia, isso com certeza geraria uma briga entre nós dois. Em contrapartida, era minha carreira, ele entenderia isso, tentei pensar positivo. A quem eu queria enganar? Novamente entre a cruz e a espada, minha carreira e o amor da minha vida, isso nunca teria um fim.
Engraçado como eu não estava preparada para ter um jantar formal com os pais dele, mas estava preparada para uma possível discussão se eu tivesse que defender meus propósitos como atriz, e saber disso me doía pelo motivo de que ficava muito óbvio o que era mais importante quando eu tinha que escolher entre ambos e não recuava.
Será que existia algum universo onde eu e seríamos felizes de verdade?
Meu coração se partia em uns mil pedaços, mas era muito claro para mim que eu estaria naquela festa e nem foi uma decisão tão difícil assim, sendo sincera. Mas eu não conseguiria ao menos passar no apartamento dele para contá-lo e não tinha coragem para ligar, era ridículo.
O mesmo parece ter adivinhado, pois meu celular tocou novamente.
— Oi…
? — Estremeci ao ouvir a voz dele. — Que horas vai chegar?
— Eu... Bem…
— Aconteceu algo? — Questionou preocupado.
... A Chanel me ofereceu um contrato para ser a cara da nova coleção deles. — Respirei fundo.
— Que notícia maravilhosa, meu bem!
, eles me querem hoje na festa deles em Chicago. — Falei o mais rápido que consegui.
— Ah! — Disse sem graça e ficou em silêncio por um tempo. — Mas você não vai, né? Quero dizer, meus pais chegaram da Turquia, estão loucos para te conhecer, já havíamos combinado isso e…
— Eu já estou no aeroporto, . — Disse engolindo a vontade de chorar.
, por favor me diga que é mentira, não vai me abandonar de novo, não é? — Senti o desespero no seu tom de voz.
— Eles só fecham o contrato se eu estiver lá hoje. — Tentei justificar.
— Meus pais vieram de outro país, Brixton. — Falou indignado do outro lado da linha.
— Espero que entenda que eu preciso disso. — Apertei os lábios, apreensiva.
— E eu preciso da minha namorada aqui. — Era possível notar a decepção no seu tom de voz.
, é a Chanel. — Esperei que ele fosse compreensivo.
— E quanto a mim? E quanto a nós? — Me questionou.
— Eu prometo recompensar quando eu voltar. — Mordi o lábio.
Bursin não respondeu mais nada, apenas desligou a ligação e, como eu não estava em posição de reclamar sobre atitudes grosseiras, lidaria com aquilo quando voltasse. Meu foco agora era fazer uma aparição que tirasse o fôlego daquelas pessoas durante toda a semana.
E logo quando eu cheguei, foi perceptível que todos ali estavam se preparando para que meu nome rodasse todas as manchetes possíveis pelo tempo necessário para me lançarem como a embaixadora da grife. Uma mulher baixinha de cabelo curto com uma roupa formal chamada Adelaide andava de um lado para outro pensando em algo.
— Seria ótimo se conseguíssemos deixar o nome dela em evidência antes de anunciarmos as novidades. — Disse encostando-se no birô atrás dela.
— Não acha que a festa de hoje seja suficiente? — Sarah indagou.
— Precisamos de uma polêmica! — Estalou os dedos.
— Tipo o quê? — Perguntei confusa.
— Tipo um novo relacionamento ou uma novidade sobre algum filme. — Respondeu com os olhos brilhando.
Gelei. Estava fora de cogitação comentar sobre meu novo filme, eu havia assinado um contrato, e como mentiria sobre um novo relacionamento com ao meu lado? Simplesmente não fazia sentido algum e ele definitivamente não concordaria com isso.
— E se a gente vazasse que eu e Bursin voltamos? — Lancei a ideia e me arrependi no mesmo instante.
O que eu estava fazendo? Bursin me mataria.
— O quê? Há quanto tempo isso, Brixton? — Sarah começou o interrogatório.
— Seria perfeito! — Adelaide disse com os olhos brilhando. — Vocês costumavam ser os queridinhos da América. — Sorri sem graça.
— Mas, , foi exatamente isso que prejudicou sua vida pessoal no início da sua carreira. — Minha assessora tentou argumentar.
— Eu acho que ele não vai se importar, eu quero isso. — A encarei séria.
...
— Apenas faça seu trabalho. — Suspirei. — Vaze para o TMZ, eles vão amar ter isso em mãos de primeira. — Dei de ombros.
— Mas foram eles que arruinaram tudo da primeira vez. — Me olhou preocupada.
— Só faça! — Disse impaciente. — Vou encaminhar as coisas para o seu e-mail, agora se me permitem preciso me arrumar para festa. — Me retirei da sala.
Quando fechei a porta, pude respirar. Eu não conseguia raciocinar, só fiz coisas sem pensar para conseguir algo que iria me beneficiar de alguma forma. As consequências bateriam na minha porta cedo ou tarde, e eu sabia que o preço seria alto e caro.

[...]

“So I peered through a window, a deep portal, time travel, all the love we unravel and the life I gave away...”

7 meses depois


Continuava a repetir para mim mesma o quanto eu havia feito aquela escolha, não sei se foi de maneira inconsequente, mas ainda assim eu fiz. Parecia que eu e Bursin nunca funcionaríamos pelo visto, porém, após ver aquelas fotos com aquela loira azeda, qualquer tipo de feminismo tinha me descido goela abaixo.
— Merda! — Joguei o celular na penteadeira à minha frente.
— Então você já viu! — falou apreensiva.
— Quem ele pensa que é? — Revirei os olhos.
, com licença…
— O que foi agora? — Gritei com um dos funcionários do estúdio que, imediatamente, abaixou a cabeça.
— Brixton! — Minha amiga me repreendeu.
— É só que me pediram para te perguntar as cores que gostaria de estar usando para o photoshoot. — O rapaz disse sem graça.
— Tudo preto! — Fui direta e ele assentiu, retirando-se do local. — Inclusive a minha maquiagem. — Encarei através do espelho.
— Até quando vai ficar usando preto? — Ela me questionou de braços cruzados.
— Até o dia que eu morrer. — Virei o rosto e sorri cínica.
— Eu não sou o Bursin, ok? — Levantou as mãos em rendição.
Brixton! — Alice acenou para que eu fosse ao vestuário.
— Você poderia não mencionar esse indivíduo? — Levantei-me da cadeira, peguei o meu celular novamente e segui em direção ao local para me vestir.
— Eu não sei porque está tão brava com o fato dele seguir em frente, não faz sentido algum para mim. — Falou indignada, o que me fez parar e respirar fundo antes de respondê-la.
— Achei que você fosse minha amiga e…
— Isso não significa passar pano para as suas merdas! — Hasteou o indicador para mim.
— Como se você... — ao menos me deixou falar.
— Olha como está tratando as pessoas e…
— Acha certo ele estar com outra? — Foi a minha vez de cortá-la.
— Para de ser tão hipócrita! — Retrucou.
— Como é? — Engoli seco.
, você vazou um monte de notícias sobre a reconciliação na expectativa disso chamar os holofotes, deixou os pais dele esperando horas apenas para aparecer na festa da Chanel…
— Eu tinha a possibilidade de conseguir um contrato com eles, era importante para mim…
— Era um jantar com a família dele, ! Ele estava esperando por isso há tempos, eles vieram do outro lado do mundo para isso. — Me fitou tristonha.
— Por que está defendendo ele? — Mordi o interior da minha bochecha.
— Como não consegue enxergar seus próprios erros? — Me questionou incrédula. — Você desistiu dessa vida porque escolheu a fama, e não existe nenhum problema em relação a isso, mas pelo menos seja honesta e pare de culpar as pessoas ao seu redor. — Expirou como se tivesse tirado um peso das costas.
Brixton! — Alice me chamou novamente, dispersando minha atenção para a ruiva.
— Podemos conversar sobre isso depois? — Pedi. — Poderia apenas preparar minha maquiagem assim que eu voltar? — Tentei me desvencilhar do assunto.
— Quer saber, ? Eu meio que concordo com ele. — Disse com os olhos marejados. — Olha para você, eu mal te reconheço! — Gesticulou com as mãos.
, por favor... — Arqueei a sobrancelha.
— Boa sorte para encontrar uma nova maquiadora. — Sorriu sem mostrar os dentes e moveu-se em direção à saída do estúdio. — A propósito, você também esqueceu meu aniversário. — Falou virando o rosto para olhar para mim enquanto secava uma lágrima que escorreu do olho.

“I guess sometimes we all get just what we wanted, just what we wanted, and he never thinks of me, except when I'm on TV.”


Ver minha melhor amiga daquele jeito simplesmente acabou comigo, não conseguia enxergar quando foi o momento que tudo simplesmente mudou, talvez pelo fato de eu ter conseguido exatamente tudo o que eu queria, me deixei levar por coisas que não fariam diferença para mim no final e acabei me perdendo de todos aqueles que eu amava.
A semana havia sido péssima, mas mesmo assim eu precisava seguir todo o cronograma, foram tantos eventos e tantas entrevistas, eu estava rodeada de pessoas, porém ao mesmo tempo tão sozinha. não atendia minhas ligações e ela estava certa, era compreensível, mas eu queria dizer o quanto sentia sua falta. A minha nova maquiadora tentava me tirar do suposto transe.
, eu preciso que feche o olho. — Riu, sem graça.
— Me desculpa! — Assenti fazendo o que ela pediu.
Horas depois, eu já estava pronta para comparecer a mais um local e prestigiar mais pessoas em uma festa qualquer, e ainda assim ficar em evidência por tanto tempo mesmo, que não dissesse um “a” nesses locais.
Aliás, acho que em toda minha carreira eu nunca estive tão em alta, sendo cogitada para tanta coisa que ao menos tinha um segundo para respirar. Desta vez, após receber tantos flashes no tapete vermelho, eu ainda pude curtir um pouco a música que estava tocando no local. Amava Taylor Swift. Me direcionei ao bar, cantarolando a mesma e fiquei nervosa quando vi aquele corpo parado na minha frente, à espera de uma bebida.
— Oi ! — Disse no automático, acenando para o mesmo.
! — Ele acenou de volta.
— Como você está? — Me aproximei, sinalizando outra taça de espumante para o garçom.
— Ótimo. — Sorriu de forma amigável. — E você? — Era notável que ele só estava tentando ser educado.
— Ótima também. — Menti.
Logo depois, o silêncio tomou conta do espaço entre nós e, em seguida, o quebrou, o que aqueceu meu coração de certa forma.
— Te vi ontem na TV. — Comentou e eu não pude deixar de virar meu rosto para que ele não visse o meu sorriso.
— Só ontem? — Questionei com uma ponta de esperança que ele não estivesse falando por acaso.
— Impossível. — Falou rapidamente, o que me levou a pensar que ele fazia isso com frequência. — Quer dizer é impossível, você está em quase todos os canais ultimamente. — Desconversou, apenas me confirmando o que eu pensava.
— Isso significa que pensa em mim? — Indaguei.
De todas as pessoas que haviam passado pela minha vida, nenhuma era tão fácil de ler como ele.
— Para ser sincero, nunca penso. — Foi direto e conseguiu me machucar, mesmo sem intenção. — Na verdade... Só quando você aparece na TV, acaba sendo inevitável. — Me encarou como uma confissão e eu apenas consegui assentir.

“I guess sometimes we all get some kind of haunted, some kind of haunted...”


Não consegui respondê-lo, pois meu coração estava cheio de covardia e ele merecia um pedido de desculpas. Dessa vez eu havia errado com ele e demorei muito tempo para ir atrás dele. Voltei ao meu eixo quando o garçom chegou para entregar nossas bebidas.
— Com licença, eu só vim pegar um cosmopolitan para Hailey. — Cravou uma faca no meu peito e eu pude apenas fingir que aquilo não doeu. — Foi legal te ver, eu acho. — Franziu o cenho, em dúvida. — Aproveita a festa. — Disse pegando a taça e saindo do meu campo de visão.
Peguei minha taça de espumante e virei-me para tentar encontrá-lo na multidão, segui para o meio do salão e, quando eu achei que era impossível me sentir pior, vejo entregando o drink para loira à sua frente com um grande sorriso no rosto e fazendo carinho nos cabelos dela.
Esperei que o mesmo encontrasse o meu olhar, pois sabia que eventualmente aquilo aconteceria e não errei. O sorriso dele se desfez assim que me notou, nos encaramos por um momento, eu senti meus olhos se encherem e as lágrimas rolaram automaticamente pelo rosto, então eu apenas suspirei, me recompus e segui em direção ao banheiro.
Quando abri a porta do toalete, dei de cara com , que ficou estagnada ao me ver, e aquilo foi a gota d’água para que eu não me segurasse mais e caísse no choro. Desesperada, ela veio até a mim, tentando me segurar antes que eu me debruçasse no chão, o que acabou acontecendo, então ela ajoelhou-se ao meu lado.
— O que aconteceu, ? — Encostou minha cabeça em seu peito.
— Eu sinto muito, , eu sinto mesmo. — Chorava que nem uma criança segurando o braço dela.
— Eu sei, eu sei. — Me abraçou mais forte.
O medo de que alguém entrasse naquele lugar e me visse tão vulnerável me consumia, mas eu, pela primeira vez, não estava conseguindo controlar meus sentimentos e odiava a maneira como fiquei fragilizada por vê-lo feliz com outra, pois a culpa de que não era eu veio com uma gigante balde de água fria.
— Você viu os viu, não foi? — Ela me perguntou na inocência.
— Ele parece tão feliz, me sinto como um peso. — Tentei respirar.
— Você sabe que não é. — Tentou me consolar.
— Tenho certeza que é como ele se sente. — Solucei. — Desta vez é sério, , está tudo acabado e eu vi tudo com meus próprios olhos. — Disse aflita.
— Meu amor…
— Viu que ela conheceu os pais dele? Era para ser eu, . — Fechei os olhos com força. — Estraguei tudo, com ele, com você. — Me ajeitei no chão para conseguir olhar para ela. — Com todo mundo. — Umedeci os lábios. — Como alguém pode ser tão certo e ao mesmo tempo tão errado para você? — Questionei confusa. — Acho que sempre vou ser assombrada por isso. — Voltei a chorar desesperadamente.
— Eu não sei quanto ao e muito menos em relação ao futuro, mas eu sei que sempre vou estar por aqui, certo? — Me olhou com doçura e enxugou minhas lágrimas.
— Feliz aniversário atrasado! — Abracei ela forte.
— Obrigada. — Disse em meio a uma risada fraca. — Agora vamos para casa, não é bom que as pessoas te vejam assim, a mídia pode fazer uma enorme confusão com a presença de aqui. — Eu não consegui fazer outra coisa a não ser concordar com a cabeça.

“I never think of him, except on midnights like this.”


Após sairmos de fininho do salão, me deixou em casa. Me sentia feliz de ter resolvido as coisas com ela, mesmo que não fosse nas circunstâncias que eu esperava. Adentrei ao meu apartamento, odiava como cada detalhe ainda o lembrava, seria necessário redecorar todo aquele lugar ou simplesmente vender o imóvel. Esse era o jeito mais fácil.
Me aproximei da janela e percebi o quanto minha melhor amiga estava certa sobre a chuva que iria cair e eu discordei dela dentro do carro. Observei as gotas atingirem insaciavelmente o vidro e de alguma maneira senti como estivesse sendo atingida também.
Olhei para o lado de relance quando percebi meu celular acender e vi que o relógio marcava meia noite, olhei novamente para rua e vi algumas pessoas tentando fugir daquele temporal. Abracei meu corpo e lembrei-me do dia que eu e tomamos banho de chuva após gravar a última cena do nosso primeiro filme. Sorri.
Então, um som de notificação chamou minha atenção para o celular de novo e, logo após várias menções chegarem de forma desastrosa no meu Twitter, abri o aplicativo sem entender direito o que poderia ter acontecido e dei de cara com a pior notícia que eu poderia ler.

“All of me changed like midnight rain.”


“AGORA: BURSIN PEDE HAILEY YOUNG EM CASAMENTO NO BAILE DA VOGUE!”
Abri o tweet desesperada, esperando que aquilo fosse uma pegadinha de mal gosto para as pessoas estarem me marcando, mas, logo quando eu vi o vídeo, meu coração se despedaçou em pedacinhos. Não pude evitar as lágrimas novamente. Eu, de verdade, o havia perdido de uma vez por todas.
Respirei fundo e continuei lendo.
“Nossa @b deve estar arrasada não faz ao menos um ano que eles terminaram!”
“Ele me parece muito mais feliz com a Hailey do que quando estava com a @b”
“@b ainda bem que ele se cansou da sua incerteza, sempre mereceu coisa melhor!”
“Não acredito como ele pode ser tão sem coração assim, @b deveria desaparecer da mídia por um momento e descansar a mente, esse relacionamento só trouxe coisas ruins para ela.”
“Disseram que ouviram a @b chorando no banheiro da festa pouco tempo antes disso acontecer.”
Os comentários eram diversos e estavam divididos entre me defender ou defender Bursin, mas o pior já havia acontecido, ele iria se casar e nenhum comentário que eu pudesse ler naquela porcaria de aplicativo faria alguma diferença dentro de mim.
Tentei segurar o choro, mas foi inevitável. Mais notificações enchiam a tela e eu simplesmente joguei o aparelho para longe, extremamente irritada. Eu consegui superar muitas coisas na minha vida, mas não ele. Eu nunca mais seria a mesma, não depois dele. Olhei para o céu através da janela procurando uma resposta e foi quando percebi algo.
Tudo em mim havia mudado como uma chuva da meia noite.




FIM



Nota da autora: Oi meninas! Esperamos que vocês estejam gostando da nossa trilogia assim como nós estamos gostamos de escrevê-las. Nos vemos em 20. Dear Reader. Mas nos contem o que acharam na caixinha dos comentários! Um beijo e até a próxima!
Nota da beta: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Para saber se a história tem atualização pendente, clique aqui


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