Fanfic finalizada.

Capítulo Único

Meus olhos encaravam fixamente o horizonte à minha frente. O céu estava em um tom azul brilhante o qual eu não me lembrava de ter visto antes e aquele talvez fosse um dos dias mais quentes que eu havia experimentado na cidade de Bristol. Ou pelo menos era o mais quente que eu lembrava.
O calor do clima parecia se infiltrar em meu peito aos poucos, me trazendo uma sensação de tranquilidade que eu não tinha desde aquele fatídico dia em que tudo desmoronou bem diante de meus olhos.

Não era fácil perder sua base de tudo, ainda mais quando seus sonhos estão todos atrelados a ela e são os fundamentos para que a escalada até o topo seja segura.
Há exatos quatro meses, um terrível acidente tirou meu pai de mim. O meu grande mentor, aquele que havia me apresentado aos treinos incansáveis, à persistência e à resiliência. Com ele também eu descobri tantas coisas sobre a vida. Descobri como chutar uma bola, como enfrentar os bullies da escola e como chegar às garotas na adolescência.
Meu grande herói havia me deixado há quatro meses.
Mas estava tudo bem enquanto eu ainda tivesse ela ao mesmo lado. A minha âncora, a fortaleza que me mantinha em pé e me aconchegava em seu peito com ternura nos momentos mais difíceis da minha vida. Ela que cantarolava no ritmo de Mozart para que eu adormecesse sem pesadelo, aquela que havia me dado meu primeiro violino.
O destino às vezes podia ser um inimigo bastante cruel.
Não lhe bastou permitir que a morte carregasse meu pai consigo. Meses depois, cerca de duas semanas atrás, ele deixou que minha mãe fosse abraçada por ela.
E com a morte de meus pais eu já não via mais sentido algum em seguir adiante com o meu sonho de ser um grande violinista. Não quando era algo compartilhado tão fervorosamente com eles, não quando eu não teria sua presença física na plateia para me aplaudir em meu primeiro concerto.

A princípio, eu sempre acreditei que quando um sonho se vai, parte de nossa alma parte com ele. O vazio em meu peito provava isso.
Eu ainda estava completamente perdido. Decidi continuar lutando por mim mesmo, mas acontece que a tarefa de me encontrar era um tanto árdua.

Pisquei lentamente meus olhos, contendo as lágrimas teimosas que sempre surgiam quando eu pensava em meus pais, então voltei a focar minha atenção no horizonte à minha frente.
Aquela era uma paisagem incrível, eu não podia negar.
Abaixo de meus pés, havia o nada por longos metros e então o rio Avon harmonizava com as árvores verdejantes ao seu redor. Quem permanecesse encarando o céu atentamente, lá no fundo conseguiria avistar o ponto de encontro entre ele e o mar.
Talvez, se eu olhasse bem lá no fundo de meu ser, também acabaria me encontrando.
— Aí, mané. Vai continuar olhando para o penhasco feito um tonto ou vai pular de uma vez? — a voz da garota me fez estreitar os olhos, virando meu rosto em sua direção e encontrando sua expressão travessa.
— Quem foi que você chamou de mané? — questionei, com uma voz indignada.
— Além de mané e tonto também é burro? Falei com você, é claro! — gargalhou da minha cara, me fazendo abrir a boca, depois fechá-la e abri-la mais uma vez antes de me render e começar a rir junto a ela.
— Espere só até eu me desfazer dessa parafernalha que colocaram em mim. Você vai pagar cada palavrinha que saiu dessa sua língua afiada, — apontei um dedo para ela, como se fosse uma criancinha em pleno jardim de infância.
— Língua afiada? É tudo o que você tem? — zombou de mim e me deu língua em seguida. — Minha língua não é fina, não. Tá vendo?
Neguei com a cabeça, rindo ainda mais.
Ela tinha aquele dom.
Desde o dia em que nos conhecemos, na ponte suspensa da cidade, não havia conseguido se livrar de mim e muito menos eu dela. Sendo sincero, eu nem queria.
Nunca imaginei que alguém me faria tão bem novamente. Não depois de me ver absolutamente quebrado.
— Você falou que eu estava enrolando aqui, mas cadê que você pulou do penhasco também, senhorita? Estou vendo você amarelar? Porque vou fazer questão de jogar isso na sua cara todos os dias — brinquei, vendo-a estreitar os olhos para mim, da mesma forma que eu havia feito com ela momentos antes.
— Vai sonhando, .
No entanto, assim que virou seu rosto para o penhasco, encarando a imensidão que separava o topo do rio lá embaixo, percebi em suas feições o medo lhe fazer começar a vacilar.
Eu entendia porque sentia exatamente o mesmo. Só de pensar que eu poderia virar uma panqueca assim que alcançasse o fundo, minhas carnes tremiam, meu coração acelerava feito um doido e minha garganta até queria se fechar.
Engoli em seco, tentando reunir a coragem e segurá-la firmemente, mesmo que essa desejasse escapar a todo o custo.
Podia até ouvi-la apontar para mim, rindo, e dizer: malucos, vocês dois são completamente malucos.
Como se estivéssemos sincronizados, meu olhar foi de encontro ao de exatamente no mesmo momento em que ela também me encarou. Trocamos uma conversa cúmplice que não precisava ser verbalizada.
Daquele penhasco, todos diziam mesmo que aquele seria o pulo dos amantes.
Não que eu e fôssemos amantes ou sequer estivéssemos…
— Juntos? — ela questionou, me estendendo as duas mãos ao se virar de frente para mim. Sorri para ela.
— Juntos — então assenti, segurando-as, mas a puxando para meus braços, de forma que pudesse abraçá-la.
— No três — sussurrou e sentindo sua respiração bater contra meu pescoço eu apenas assenti porque uma onda engraçada de arrepios se espalhou pelo meu corpo. — Um…
— Dois… — ajudei na contagem.
— Três! — dissemos, juntos.
Tomamos o impulso.
Então pulamos.

A sensação era indescritível. Como se tudo dentro de mim gritasse em protesto pelo perigo, mas ao mesmo tempo se energizasse pela adrenalina que percorria minhas veias.
me apertou contra si com força, soltando um grito que definitivamente me deixaria surdo e eu até reclamaria com ela depois se eu não estivesse fazendo exatamente a mesma coisa. Aquele grito era deliciosamente libertador.
Mesmo que eu explicasse com milhões de palavras, essas não seriam o suficiente. Era como se eu abraçasse a morte e a vida ao mesmo tempo. Como se o calor em meu peito triplicasse e o tomasse por completo. E no meio de toda aquela emoção e quentura eu soube que por mais louco que aquilo soasse, eu não queria mais me soltar de . Eu a queria na minha vida no restante dela, não importava mais quantos dias nós dois tivéssemos.
Depois daquele dia, eu não a deixaria ir tão fácil.
Uma sensação de frescor fez com que eu percebesse que estávamos próximos ao rio, então ficamos ali, balançando em cima dele até diminuirmos o ritmo.
Arrisquei encarar e os olhos dela brilhavam em minha direção, fascinados da mesma forma que os meus.
— Nós conseguimos — murmurei, me sentindo rouco do tanto que tinha gritado.
— É — ela concordou, oscilando seu olhar entre meus olhos e a paisagem incrível ao nosso redor.
— Nós conseguimos! — gritei, mesmo que minha voz protestasse.
— Seu maluco! — gritou de volta, se assustando comigo e me fazendo gargalhar.
— Obrigado — não consegui me conter e soltei, de forma sincera.
— Pelo quê? Por eu ter te chamado de maluco? — me questionou, em confusão. Era engraçado conversarmos daquele jeito, de ponta cabeça, mas não ligávamos mesmo.
— Por ser aquele ponto de luz que eu andei precisando e não conseguia enxergar — a expressão dela se tornou indecifrável por alguns segundos, enquanto ela parecia digerir minhas palavras. Então, de repente, se abriu em um sorriso encantador.
— Se é assim, então eu te agradeço por ser o meu — aquela era a forma dela de dizer que o que quer que eu estivesse sentindo com relação a ela, sentia o mesmo.
Eu poderia beijá-la ali naquele momento e estava prestes a fazer isso mesmo, quando fomos interrompidos pelo som do barco que nos buscaria.
Não consegui disfarçar muito bem a careta que se formou e eu e permanecemos em silêncio até estarmos em segurança, navegando pela extensão do rio Avon até chegarmos ao deque.
Me perdi em pensamentos, divagando em meio a todas as palavras não ditas e ações interrompidas. Às vezes eu odiava me martirizar daquela forma, por mais que não conseguisse evitar.
Senti que os olhos de estavam em mim, então me virei em sua direção, retribuindo-a e sentindo meus lábios se curvarem em um sorriso.
— O que foi? — perguntei, curioso com a forma que ela me analisava.
— Você fez careta, — me acusou.
— Não sei do que está falando — disfarcei, mas a minha cara novamente me denunciava, porque eu queria muito rir.
— Claro que sabe. Você fez ela porque não queria que o barco tivesse chegado naquela hora, não é? — era incrível como ela me entendia tão bem, por mais que não nos conhecêssemos há tanto tempo assim.
Fiquei em silêncio, porque eu não sabia o que dizer.
— Quando é que você vai deixar de ser tonto, garoto? Eu jamais saltaria de bungee jump com alguém que não fosse para mim um milésimo do que você é. — Ali senti meu peito acelerar com as palavras dela.
… — comecei a falar, mas ela me interrompeu.
— Parece louco demais que duas semanas tenham feito tudo isso surgir entre a gente, eu sei. Mas nós dois nunca fomos muito normais, não é? Nós nos conhecemos literalmente nos piores dias de nossas vidas e agora estamos aqui juntos, vivendo os melhores. Sei que você pensa no destino como algo cruel, mas talvez ele tenha mesmo um propósito para tudo.
Como ela sempre tinha as palavras certas para dizer? Eu nunca saberia.
Mas eu continuaria ouvindo-a, não importava o que saísse de seus lábios.
— Se o propósito era ter você na minha vida, então talvez eu comece a simpatizar com ele e acredite em você — deixei que a resposta viesse, então mais uma vez ela sorriu, daquele jeito único e encantador que era só dela.
Segurei nas duas mãos de , exatamente como havia feito antes do salto, então me aproximei dela e uni nossos lábios em um beijo.
Naquele momento, eu senti que não eram apenas nossas línguas que se entrelaçavam, espalhando o calor por todos os poros de meu corpo, mas também nossas almas que selavam um pacto.
Eu sabia que não podia controlar quanto tempo ficaria em minha vida, assim como não pude controlar a passagem de meus pais por ela. Porém eu a queria e não me importei com isso.
A perda havia nos aproximado para que juntos estivéssemos completos novamente. Ela era tão quebrada quanto eu, mas enquanto eu a tivesse ali comigo, garantiria que aquilo que acontecia entre nós fosse algo extraordinário.


FIM



Nota da autora: Espero de coração que vocês tenham gostado dessa história. Ela é curtinha, mas eu amei tanto a forma como esses dois se envolveram que nossa.
Se quiserem saber mais sobre minhas outras histórias, me sigam no instagram e entrem no meu grupo do face. Eu também tenho um grupo no whatsapp para interação e vocês são super bem vindas por lá.
Beijos e até a próxima.
Ste.



Outras Fanfics:
Acorrentados no Inferno [Restritas - Originais - Em Andamento]
Extermínio [Restritas - Originais - Em Andamento] - Parceria com Sereia Laranja
Histeria [Restritas - Originais - Em Andamento]
Hold me Tight or Don't [Restritas - Livros/Harry Potter - Em Andamento]
Lover of Mine [Restritas - Originais - Em Andamento] - Parceria com Dany Valença
Mindhunters [Restritas - Originais - Em Andamento] - Parceria com Vanessa Vasconcellos
Reckless Serenade [Restritas - Livros/Harry Potter - Em Andamento]
Unholy Darkness [Restritas - Livros/Harry Potter - Em Andamento] - Parceria com G.K Hawk
Acesse minha página de autora para encontrar todas as minhas histórias


comments powered by Disqus