Última atualização: Fanfic finalizada.

Capítulo Único

ANTHONY

Casa de repouso Seu conforto, Seu lar — 5:23 da madrugada

— Bom dia, Anthony — disse a segurança que tinha acabado de entrar no plantão. Violet, quando era nova no trabalho, anos atrás, fazia vista grossa e me revistava todos os dias. Era humilhante, mas algo preciso, já que na casa de repouso havia pacientes de classe alta, com pertences valiosos, que começaram a sumir.
— Bom dia, Violet — respondi, com minha voz baixa por conta do cansaço. Eu trabalhava ali há anos antes de Violet. Eu conhecia todos os funcionários, horários e principalmente os pacientes.
Quando eu tinha 8 anos, sonhava em ser bombeiro como qualquer garoto de minha idade, mas, por volta dos meus 16 anos, minha avó, que me criou desde que nasceu, teve um AVC e ficou debilitada. Ela não conseguia fazer mais nada sozinha e eu era o único que podia ajudá-la, assim como ela veio fazendo por anos. Minha avó sempre me levou à igreja, e foi com os irmãos da igreja que eu ouvi falar sobre o curso de cuidador. Eu fiz o curso para dar o melhor cuidado para minha vozinha. 3 anos depois, ela se foi e eu segui carreira na casa de repouso.
Eu passei pelo portão e caminhei até o ponto de ônibus ali perto. Poucos minutos depois, já estava em minha velha casa. Como de costume, tomei um banho e mandei uma mensagem para meu amigo. Preparei algo para comer e fui dormir.


Meu pai me abandonou quando eu ainda estava na barriga da minha mãe. Logo que eu nasci, ela quis me dar para adoção, mas minha avó não deixou, então ela fez as malas e foi embora mundo afora, minha avó que me criou. Eu nunca cheguei a conhecer nenhum dos dois, mas também não senti falta. Minha avó me levava para todo lado com ela, até mesmo para a igreja, onde eu aprendi a perdoar todos os dias as crianças que faziam Bullying comigo na escola. Eu adorava estar na igreja, as histórias sempre eram de superação e quando todos gritavam aleluia, alguém recebia uma benção divina. Depois que cresci, continuei frequentando a mesma igreja. Agora adulto, eu fazia minhas coisas erradas, mas todo domingo estava ali, cantando aleluia, pedindo perdão pelos meus pecados e pedindo por uma doce vitória.

Enquanto eu estava no ensino fundamental, conheci Michael, um garoto gordinho, que usava óculos na época e não levava desaforo sobre seu peso pra casa. Seus pais, apesar de toda semana estarem na diretoria da escola, acreditavam no potencial do filho e tinham dinheiro para sujar a mão da diretora, por isso, Michael cresceu sendo respeitado.
Já o Anthony de 10 anos, tinha a cabeça afundada na privada todos os dias, até o dia que Michael, o garoto recém chegado na escola, viu a cena e se intrometeu.
— Hey, seus babacas! É melhor saírem do banheiro, antes que eu acabe com vocês — ele disse. Ninguém nunca tinha feito aquilo antes. As pessoas apenas me ignoravam.
— E você acha que vai ganhar de nós 4 sozinho? — Eles riram. De repente, Michael estava em cima do valentão do grupo e os outros 3 estavam no chão, gemendo de dor.
— Se eu ver vocês mexendo com ele de novo, vocês vão se ver comigo.
Ele nem me conhecia e estava se envolvendo em confusão pra me defender.
Foi amor à primeira vista!
Dali em diante, nós sempre estávamos juntos, mesmo que eu não fosse tão corajoso quanto ele. Ele fez meus últimos anos da escola serem mais divertidos.

Eu vim conhecer os pais de Michael no final do ensino médio. Eu era a única criança sozinha na reunião, então a professora explicou meu caso e os pais de Michael já não foram com minha cara. Segundo eles, eu não tinha futuro promissor e influenciava o filho a se meter em brigas, além de ser amigo de Michael porque a família dele tem dinheiro. Michael ficou um pouco afastado de mim e depois foi para a faculdade de Engenharia, onde conheceu uma galera, chegou até a ficar noivo de uma garota, mas hoje, na frente de seus amigos, ele prefere uma puta qualquer pra ficar se achando o BamBamBam.
Desde que o conheci, ele é meu melhor amigo. E hoje ele é o orgulho dos pais porque se formou em Engenharia civil e trabalha todos os dias até tarde em uma empresa famosa. Hahahahaha. Mal os pais dele sabem que ele passa a noite na balada, vendendo drogas, bebendo e se divertindo. Kama Sutra é o nome da droga que ele mesmo criou. Por serem balinhas coloridas, algumas pessoas se referem a elas como arco-íris. Elas são separadas por cores, tem o tipo leve, que te deixa com uma sensação boa, faz você querer dançar e ter algumas alucinações; o nível médio é pra quem quer dançar a noite toda sem cansar, com ela as alucinações são um pouco mais fortes e te deixam eufórico; e a vermelha, que te deixa excitado só de sentir o perfume do crush, ela é mais censurada na hora de vender e não é entregue a qualquer um. A balinha KS, como é conhecida popularmente, é 10x pior que a bala lançada nos anos 80 e essa agora toma conta das festas da região. E Michael tá nadando em dinheiro, como se fosse um engenheiro de sucesso de verdade. Nós não somos do tipo que gostamos de fazer a coisa certa, mesmo que nossas redes sociais digam que somos os mocinhos.
O que temos em comum? Claramente nos permitimos aos nossos vícios de nos tornarmos ricos e independentes.

Hoje é mais um dia na minha rotina de gato noturno. Como de costume, vou me encontrar com Michael em uma balada onde ele trabalha todas as noites.
— AÊ, THONY! FINALMENTE VOCÊ CHEGOU, CARA — Michael disse, um pouco bêbado, ao me ver chegar à balada. Ele me abraçou e seu perfume amadeirado me invadiu, fazendo minha pele arrepiar e eu já ansiava pelo que vinha mais tarde. Ele me soltou e me olhou enquanto tomava um gole de sua bebida. Cumprimentei o resto da galera e peguei uma cerveja.
Naquela noite, mais uma vez, assisti Michael se sentindo um rei enquanto vendia KS e seu sócio de negócios vendia cocaína para todos na área VIP, ou trocava de cadela a cada vez que vendia um Kama Sutra. Elas sentavam em seu colo, se esfregando nele sem saber que aquilo tudo era estratégia para Michael se mostrar poderoso entre os colegas de trabalho. Fiquei o encarando enquanto meu corpo se mexia com a música. Então seus olhos cruzaram com os meus, eu sorri já um pouco bêbado e fui para o banheiro.
— Pensei que você ia ficar lá pra sempre — Michael disse, passando pela porta da cabine no banheiro. — Eu esperei a noite toda por esse momento. — Sua voz estava ofegante.
— Eu deveria te torturar um pouco mais hoje, mas estava com saudades e acho que batizaram minha bebida com uma vermelhinha. — Apertei suas bochechas com uma mão só, fazendo um bico com seus lábios. — Eu estou a ponto de estourar só de te olhar e esse perfume… — Dei uma fungada em seu pescoço. — Ah! Você sabe que eu adoro! — Lhe beijei com força, enquanto sentia sua mão na minha nuca. Depois ele se ajoelhou e abriu o zíper da minha calça para me agradar e me fazer esquecer todas as putas que se esfregaram nele hoje. Eu não me importava que aquelas piranhas se aproveitassem do meu homem, contando que no final da noite ele sempre estivesse ali, com aquela boquinha mágica! A brincadeira até que era excitante.
Quando estava quase chegando lá, puxei Michael pelos cabelos e ele logo baixou as calças e começou a tocar seu membro. Ele estava todo duro só de me chupar! Debrucei ele de quatro e me deitei em cima dele.
— Tomou algum ecstasy hoje? — perguntei, com a voz rouca, próximo de sua orelha.
— Você sabe que eu não uso drogas, só vendo — ele respondeu suave, mordendo os lábios enquanto ainda se tocava. Eu sabia que ele não tomava KS, mas sempre queria ter aquela resposta. Era como se ele dissesse: "Eu te amo, caralho, eu não preciso dessas merdas!". Mordisquei a ponta de sua orelha e o escutei gemer antes de finalmente entrar fundo nele.
— Ah! — soltei, sem perceber e escutei ele gemer mais. Dei algumas estocadas e, porra, aleluia!
Gozamos juntos.


Eu me divertia muito no meu trabalho, ouvindo as histórias dos velhinhos ou lendo para aqueles à beira da morte. Por mais que eu roubasse seus pertences de valores, quando eles davam sopa, eu os tratava bem e não por pena ou peso na consciência, mas por parte da diversão de me fazer de menino certinho da igreja.
Meu plantão acabava, quando também acontecia a troca de segurança. Violet sempre trabalhava no mesmo dia que eu e nós tínhamos o acordo de que ela me deixava passar com os pertences de valores, eu vendia e dava uma porcentagem para ela. Mas nossa parceria não passava disso.
Eu me escondia como muitas pessoas da igreja, atrás da bíblia. E usando as palavras do senhor, eu convencia muitas pessoas de que era uma boa pessoa, mas enquanto gritava aleluia na igreja, imaginava a grana no porão da minha casa.
Sempre que tinha um tempo em casa, gostava de jogar o dinheiro pra cima e me sentir poderoso a ponto de ninguém poder me oprimir de novo, mas essa sensação era só naquele momento, a vida real era diferente!

Aos domingos, eu acordava cedo e ia para a igreja a algumas quadras de casa. Me juntava a todos aqueles pecadores, alguns até que Michael já viu comprando cocaína. O chefe da igreja, que fingia ter uma pequena casa, mas usava o dinheiro dado na igreja para construir um sobrado de 2 andares. Tinha a irmã que se vestia como puta aos sábados, tinha a irmã que era puta, também tinha o irmão que traía a esposa com sua outra esposa… E mesmo que nunca chegássemos ao céu, cantávamos aleluia.
— ALELUIA!
Eu ignorava todos os podres deles, me fazendo de bobo. E nós temos cantado aleluia por aqueles que não descobriram nossas vidas secretas ou para aqueles que descobriram, mas não nos expôs para outros na sociedade.

Michael é a parte mais divertida da minha vida! Sem ele, minha vida não tem arco-íris, são apenas linhas brancas. Como os desenhos da senhora Jones, a minha paciente. Ela não fala uma única palavra, mas eu consigo ver em seu rosto o quanto ela é agradecida por eu cuidar bem dela. E eu sou agradecido por ela ter trazido seu lindo anel solitário, com 5,70mm do diamante VVS, para a casa de repouso. Aquele diamante custa cerca de 35 mil. O problema é que ela é muito apegada a ele, então meu conhecido, George, precisa fazer uma réplica idêntica para ela não desconfiar.
Hoje é quinta feira, e como mais um dia comum, dei banho na senhora Jones, a vesti, penteei seus cabelos. O dia tinha uma leve brisa gelada apesar do céu estar limpo, então a coloquei na cadeira de rodas e fomos dar uma volta no jardim. Seus cabelos grisalhos estavam soltos e balançavam com o vento. Paramos em cima de uma ponte e ela ficou observando o lago com um leve sorrisinho no rosto. Depois que voltamos, lhe dei o almoço, os remédios, assistimos um filme do Charlie Chaplin e ela tirou uma soneca. Depois a acordei para o jantar e ela estava feliz. Fizemos alguns exercícios, ela pareceu cansada, então a levei para o quarto. Ela sentou na cama, e com as mãos trêmulas, como de costume, tirou o anel do dedo, mas em vez de colocar na gaveta da cabeceira, ela me entregou, e com um sorrisinho, fechou minha mão e deu algumas batidinhas como se dissesse "é seu". Depois ela colocou o dedo indicador na boca, como se pedisse para manter segredo.
Eu sabia que estar na igreja toda semana me mantinha abençoado! Oh, glória! Aleluia!
Fiquei tão feliz que só o coloquei no bolso do jaleco e a ajudei a deitar. Dei um beijo em sua testa e a deixei descansar.

Corri para casa e mandei uma mensagem para Michael me encontrar.
— Consegui o que faltava para completar os milhões para comprar nossa casa — eu disse sorridente.
— Amor, você é incrível! — Ele me beijou. — Mas você sabe que eu não ligo para o que os outros dizem, né. Eu posso usar meu dinheiro com você se eu quiser.
— Michael, você sabe que quando todos descobrirem que somos um casal, eles vão dizer que até esse mini vvs brilha mais que nosso futuro. Isso, eu posso aceitar, desde que nos respeitem, é claro. Mas eu não posso suportar que falem que sou sustentado por você.
— Tudo bem, amor. Mas quero que você saiba que, se precisar, pode falar comigo.
— Okay! — concordei só pra colocar um fim no assunto. — Eu queria te mostrar antes de levar para o George vender. — Lhe mostrei o anel.



Mais tarde, fui à casa do George, um cara que sempre vende minhas joias e faz algumas réplicas.
— A réplica nem ficou pronta e você já me trouxe o original. — Seus olhos brilhavam, enquanto admirava o anel. — Ah, que joia linda! Olha como brilha!
— É linda, mas preciso da réplica para colocar no lugar e preciso da minha parte do dinheiro.
— Relaxa! O dinheiro vai ser entregue amanhã mesmo. Meu comprador estava procurando por algo assim — ele disse, ainda de olho na joia. Vesti meu casaco, enquanto caminhava para a porta. — Mas o que você vai fazer com tanto dinheiro? — Me aproximei dele.
— George, um órfão como eu só quer ter onde cair morto quando estiver velhinho.
— Ah... Ok! — Ele girou a cadeira para sua mesa de volta. — Pode deixar que vou terminar essa réplica o mais rápido possível.


MICHAEL

Hoje era folga do Anthy e ele ficou de pegar o dinheiro da joia, então fui pra sua casa no fim da tarde. Como eu tinha a chave, eu só abri a porta e entrei. A luz estava acesa, mas não tinha ninguém na sala. Fechei a porta atrás de mim e segui um rangido vindo do quarto no fim do corredor. A porta estava entreaberta e Anthy estava pulando na cama, com seus fones de ouvido tão altos que dava para ouvir de longe. O pé da cama rangia de um lado pro outro com os pulos dele. Antes que pudesse me ver, ele estava com sua arma de dinheiro, jogando dinheiro por todo o quarto. E eu fiquei vendo o dinheiro voando até cair. A cena mais linda! Era muito dinheiro!
Sou tão rápido para vender drogas, fazer um negócio, mas quando estou com ele, eu sou outra pessoa. Anthy gosta de dizer que temos vida dupla, mas a minha é muito mais múltipla. Eu sou o chefe do tráfico de drogas, viciado em mulheres que usam drogas a noite toda na balada, eu também sou o engenheiro de sucesso, que dou orgulho para meus pais com tanto talento, e eu também sou esse bobo apaixonado, que não cuida direito do meu amor.

— Amor! Você chegou! — ele disse, pulando do colchão no meu colo quando me aproximei da cama. — Você viu! — Ele mostrou a arma de dinheiro pra mim, com um sorrisão na boca. Ele é tão lindo! E eu sou sortudo por tê-lo comigo. Concordei com a cabeça. — Agora eu posso me mudar para uma casa maior e bem longe desse bairro abandonado.
Ele estava tão feliz que estava me contagiando. Meu membro cresceu com seu rebolado no meu quadril. Eu o joguei na cama em cima de todo aquele dinheiro e lhe dei um beijo quente e molhado.
— Eu te amo — eu disse, olhando em seus olhos.
E acabamos nos amando no colchão. Sempre saía faísca quando estávamos sozinhos.

Eu não me dou muito bem com meu pai, porque sou gay. Quando eu estava para entrar na faculdade, meu pai me apresentou aos filhos de seus amigos de quando ele estava na faculdade, e foi assim que conheci Lisa, uma garota mimada, filha de pais mais ricos que os meus. Meu pai queria que eu me casasse com ela assim que terminasse a faculdade e eu era muito influenciável na época, então cheguei a noivar com ela. Mas, quando me formei, Anthy veio me dar os parabéns. Ele ficou de longe na plateia, me olhando, e esperou eu ficar sozinho para poder vir falar comigo. Meus pais sempre odiaram nos ver juntos, porque Anthy vem de uma família humilde e hoje ele não tem família, e também por ele não ser mulher. Mas foi naquele dia, depois da formatura, quando Anthy me encontrou no banheiro com um sorriso tímido nos lábios e disse "meus parabéns!", meio sem jeito, eu soube o quanto eu precisei dele naqueles últimos 5 anos. Eu lhe dei um abraço tão forte e o cheiro da sua pele me trouxe uma sensação boa de nostalgia, que me trouxe um arrepio gostoso que percorreu meu corpo e fez meus olhos lacrimejarem de felicidade.
— Eu senti muito sua falta — sussurrei em seu ouvido, com o ar que me restava, sentindo seus braços ao meu redor. De repente, sem pensar em mais nada, eu o empurrei para dentro de uma cabine e simplesmente o beijei. Minhas mãos tremiam e meu coração batia tão forte que chegava a doer. Eu já sabia que Anthy era gay, ele tinha me contado no ensino médio, mas eu não sabia que eu também era gay. E na época eu não queria esconder de ninguém, só queria viver esse amor. Mas quando contei para meu pai, ele me bateu, fez eu transar com uma puta qualquer e disse que me mataria se me encontrasse com outro cara, principalmente Anthy. Como tive um ultimato para manter distância de Anthy, passamos a nos encontrar escondidos, mas, de qualquer forma, eu terminei meu noivado usando a desculpa de estar focando na minha carreira profissional, fingi ter entrado em uma boa empresa para meus pais se gabarem e com alguns amigos da faculdade aperfeiçoamos a KS para que ela fosse alucinante o suficiente, mas com menos efeitos colaterais, e voílà, deu tudo certo.

Agora que Anthy finalmente decidiu que podemos morar juntos, eu só preciso dar uma desculpa para meus pais antes de sumir…
Resumindo, a conversa foi:
"— Mãe, pai, eu sei que sempre morei com vocês, mas agora eu encontrei meu canto.
— Você vai se mudar? — minha mãe perguntou. — Isso é tão de repente!
— Sim. É que agora é a hora certa! Eu já tenho quase 30, não posso ficar aqui pra sempre."
Meu pai ficou desconfiado, mas concordou.
Não foi tão difícil como imaginei, acho que eles pensam que ainda podem controlar minha vida quando quiserem.

Me mudar com Anthy para a nossa própria casa foi o momento mais feliz que tive nos últimos anos. Nós continuamos trabalhando, como se nada tivesse acontecido, e a noite sempre estamos dormindo agarradinhos, como se estivéssemos casados de verdade.
Eu não poderia estar mais feliz!


TRÊS MESES DEPOIS…

Hoje eu decidi fazer o jantar, não que eu tenha alguma experiência com isso, mas eu vi um tutorial na internet e não pareceu tão difícil. Mas se o miojo não der certo, a gente pode pedir pizza. Rsrsrs. O som estava ligado tocando uma música qualquer, quando Anthy chegou da sua corrida de fim da tarde, com uma sacola de mercado.
— Amor, cheguei! — ele gritou da porta.
— Você chegou na hora certa. O jantar está quase pronto. — Ele se aproximou e me deu um selinho demorado.
— O cheiro está ótimo! — ele disse, tentando curiar a panela. Dei um tapa em seu ombro, tomando sua atenção.
— Você foi ao mercado sozinho só pras funcionárias ficarem de olho em você todo suado, né? — eu disse, desviando sua atenção. Ele gargalhou.
— Claro que não! Eu vi que você postou que teríamos macarrão para o jantar e fui comprar vinho pra acompanhar. — Ele o tirou da sacola de mercado.
— Meu vinho favorito! — Peguei duas taças e servi um pouco para cada. Brindamos e tomamos um gole. Depois Anthy me deu outro beijo, antes de ir tomar uma ducha.
O miojo ficou meio duro e meio mole demais, então pedimos pizza e ficamos bebendo vinho, sentados à mesa da cozinha. Foi quando a campainha tocou.
— Nossa, a pizza já chegou? — eu disse, entre risadas.
— Eu atendo.
Anthy abriu a porta e meu pai passou por ela como um furacão.
— O que você está fazendo aqui? — eu perguntei assustado, o vendo avançar em minha direção.
— Eu que te pergunto. Tá brincando de casinha com esse filho da puta que tá atrás do seu dinheiro? — Ele apontou para Anthy, com os olhos furiosos em mim, depois colocou Anthy contra a parede, segurando a gola de sua camiseta e apontou o dedo enquanto falava. — OLHA AQUI, SEU DESGRAÇADO, QUANTO VOCÊ QUER PARA DEIXAR MEU FILHO EM PAZ?
— Senhor, eu tenho dinheiro o suficiente para nós dois vivermos bem e eu trabalho. Michael não precisa gastar dinheiro nenhum aqui em casa — Anthy disse e meu pai gargalhou histérico. — O senhor precisa aceitar que estamos juntos agora e Michael não precisa mais de você. — Meu pai deu um soco em Anthy, que caiu no chão. Eu empurrei meu pai pra longe e vi se Anthy tinha se machucado.
— VOCÊ TEM QUE PARAR COM ESSA PALHAÇADA, AGORA! — Meu pai pegou meu braço como se eu fosse uma criança e começou a me puxar. Eu tentei me soltar, mas sou tão magro perto dele que um puxão que ele deu, eu voei lá na porta.
— Me solta! — eu disse. — Eu amo o Anthy. E ninguém pode mudar isso. — Quando ele ouviu aquilo, ele me soltou e tentou me bater também, mas eu desviei. — Chega você de tentar mudar minha vida, mudar quem eu sou. Ou você me aceita assim, ou me esquece.
— Eu nunca vou ter um filho gay. — Os olhos vermelhos do meu pai naquele momento… Ele parecia que realmente ia me matar!
— Sai da minha casa AGORA! E NÃO VOLTA NUNCA MAIS! — eu mandei.
— Você não é mais meu filho.
— Ótimo! — eu disse sarcástico e bati a porta quando ele passou. Anthy se aproximou de mim e me abraçou.
— Você está bem? — ele perguntou e eu comecei a chorar.
— Eu sabia que isso iria acontecer um dia — disse, com a voz embargada. — Mas, e você, como está? — disse, me referindo ao pequeno corte em seu lábio.
— Eu tô bem. — Ele respirou, um pouco trêmulo. — Obrigado por ter enfrentado ele por mim. — Eu só o abracei mais forte.

No dia seguinte, quando fui para meu escritório, meu sócio e nossos comparsas estavam em frente a uma carreirinha branca em cima da mesa. Eu nunca me importei com aquilo, eu sempre quis só o dinheiro de todas aquelas pessoas depressivas e desesperadas. Mas, naquele dia, eu me juntei a eles. Eu não conseguia entender a necessidade de usar aquilo, eu tinha Anthy só pra mim, nós tínhamos dinheiro e agora eu não precisava ter medo de dizer que era gay, porque meus pais já sabiam que eu escolhi ser assim, mas eu não me sentia tão bem quanto imaginei que deveria estar.
— Vai com calma, Michael — eles me zoaram, como se quisessem que eu usasse mais.
— Ele parece que gostou.
— O pó vai se tornar sua nova obsessão. — No começo foi ruim, mas logo veio uma sensação boa. Uma leveza…
Na balada aquela noite não tinha arco-íris, só linhas brancas. E, no final, eu lembro de ter passado mal e visto meus colegas longe e não consegui pedi ajuda. Uma voz na minha cabeça dizia: "Então seus amigos não vão ficar por perto pra te ajudar? Que perca de tempo!” Uma sensação de morte me invadiu e de repente tudo sumiu.

Acordei no hospital, depois de ficar 2 dias em coma. A primeira pessoa que vi foi Anthy, deitado com o pescoço todo torto, em uma cadeira próximo à maca. Passou um tempo, ele acordou. Quando me viu acordado, segurou minhas mãos e sua expressão era de alívio, mas eu conseguia ver o quanto ele estava decepcionado, apesar de estar ali cuidando bem de mim. Como eu queria morrer para não ver aquela expressão. Fui egoísta e não pensei em seus sentimentos.

— Eu sei que seus pais vão colocar a culpa em mim, como sempre foi, mas eu liguei para eles depois que você acordou. Eles estão a caminho. Quando eles chegarem, vou deixar vocês sozinhos.
— Tá bom — respondi.
— Depois do acontecido, eu estive pensando e quero saber se você vai continuar vendendo Kama Sutra.
— Amor, não quero te decepcionar de novo, então eu vou fazer tudo que você quiser. Eu vou parar de andar com os caras, vou arrumar um emprego certo e, se você quiser, podemos ir à igreja juntos. Eu só quero ser alguém bom pra você.
— Promete?
— Claro! — disse convicto. — Eu tô cansado de ter mais de uma vida. Eu quero ser eu mesmo. — Algumas lágrimas brotaram nos meus olhos e Anthy me abraçou. De repente, minha mãe entrou no quarto, interrompendo nosso momento. Anthy foi embora.

— Michael, meu filho, não acredito que você se meteu com drogas! — minha mãe disse piedosa, enquanto meu pai olhava de longe de cara fechada. Eu sinceramente não sabia o que dizer. Eu nunca imaginei estar nessa situação e o pior que eu me colocaria nessa situação sozinho.
— Eu avisei que aquele merda não era uma boa companhia. Como alguém pobre, abandonado por todos, pode ser uma boa pessoa? — meu pai disse. Ele tinha crescido em berço de ouro, não sabia o quanto os menos privilegiados tinham que lutar na vida. Eu também fui muito mimado, mas eu tenho empatia por meus amigos.
— Muito pelo contrário. Enquanto vocês me menosprezam, ele está do meu lado, ele me respeita e canta Aleluia na igreja toda semana para que possamos viver juntos sem sermos julgados. Ele é mil vezes melhor que você!
— DEIXA DE SER CEGO, MICHAEL. ELE SÓ QUER SEU DINHEIRO — meu pai disse.
Olhei minha mãe quieta ao meu lado. Pelo jeito, ela concordava com tudo que meu pai dizia.
— Tudo que eu tinha na vida, você comprou com seu dinheiro. Escola, faculdade, amigos, até minha ex-noiva. Por sua causa, eu só tenho um amigo de verdade e eu não vou abrir mão dele por seus caprichos. Agora que já viram que estou bem, podem ir embora, por favor. — Minha mãe levantou.
— Você tem que prometer que vai ficar bem e parar de se meter com essas coisas — ela disse, com a voz mole, como se falasse com uma criança.
— Tá bom, mãe. Eu já prometi para o Anthy que não vou mais fazer isso. Fica tranquila.
Ela beijou minha testa e foi embora. Naquele dia, eu aceitei que talvez não os veria tão cedo. Eu quis acabar com o orgulho de meus pais e contar que eu nunca trabalhei em construção nenhuma, mas eu não me sentia com vigor para aquela discussão. E acho que não tem um jeito fácil de dizer aos seus pais que você vende drogas.

Quando voltei pra casa, entrei na terapia pra falar sobre meus sentimentos, uma vez por semana. Como em um aviso prévio de demissão, eu passei alguns dias no escritório com os rapazes. Eles fizeram uma festa com bebidas, drogas e mulheres.
— Michael, sei que você parou com as drogas, mas as garotas você pode pegar quantas quiser.
— Ah, galera. Tenho que contar uma coisa — eu disse, com um sorrisinho tímido com o que ia dizer e com medo das reações deles. — Eu sou gay. Eu só fingia gostar de mulheres, mas eu tenho namorado. O Anthony.
Os caras riram sem acreditar, mas viram que eu estava falando a verdade, então ficaram mais sério.
— Ah, tudo bem cara! — meu sócio, e novo chefão do grupo, disse e os outros concordaram. — Você sabe que sempre vai ser meu parceiro. Se precisar de qualquer coisa, pode vir falar comigo. E muito obrigado por ter deixado a receita do arco-íris. Quando quiser voltar, é só avisar!
No final do discurso, fizemos um brinde, eu fiquei mais uns 15 minutos e fui pra casa. Quando estacionei em frente de casa, imaginei minha vida um mar de rosas. Tudo agora daria certo!
Anthy estava na sala, assistindo um filme de ação e comendo pipoca.
— Amor, tá na melhor parte, vem assistir!
Deitei a cabeça em seu colo e fiquei olhando pra TV. Ele era a melhor pessoa do mundo. Ele me fazia ser uma pessoa melhor e só de pensar que o decepcionei com aquelas linhas brancas… Puxa, eu quase morri! Como pude fazer isso com ele?
De repente, ele colocou uma pipoca na minha boca, me tirando da minha bolha de pensamentos.
— Eu te amo. Muito — eu disse. — Eu quero passar o resto da minha vida com você. — Abracei ele, ainda deitado.
— Aconteceu alguma coisa? — ele perguntou. — Por que está sendo tão fofo de repente?
— Eu não preciso mais fingir ser hétero. — Eu olhei pra ele e sorri. Acariciei seu rosto. — Eu vou ser uma pessoa melhor pra você. Eu prometo. — Ele me beijou. Depois, enquanto assistíamos o filme, ele fez carinho nos meus cabelos até cair no sono.
Domingo estávamos lá, na igreja que Anthy sempre foi. Eu reconheci muitas pessoas da minha antiga vida, era como se eu estivesse em casa.
Anthy estava super feliz por ter me trazido. O ar de esperança estava à sua volta. E mesmo que nunca cheguemos ao céu, cantamos aleluia.
Oh, aleluia!


FIM



Nota da autora: Sem nota.

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