Acordei no sofá outra vez, sentindo minha cabeça latejar pelo som do despertador irritante do meu celular. Eu tinha treino dali a duas horas, ainda que estivesse com uma dor de cabeça insuportável e sem condições de ouvir mais sermões, mesmo que soubesse merecê-los. Não era a primeira vez desde o término que eu estava naquele estado, e precisava fazer algo antes que aquilo afetasse a minha carreira, afinal, não poderia parar a minha vida, não se quisesse de volta nela.
Motivado, comecei a limpar a bagunça de garrafas de cerveja e de outras bebidas alcoólicas que estavam espalhadas por ali, a maioria acumulada durante aqueles dois meses, desde que eu me dera conta de que havia perdido minha garota, sem grandes chances de retorno dessa vez. Nunca fui o melhor namorado do mundo, achava que nossa relação estava boa daquela forma, e que eu não precisava fazer o mínimo de esforço para fazê-la o mínimo feliz. Nos primeiros dias após o término, eu saíra com alguns amigos, ficara com o maior número possível de garotas, até perceber que isso não adiantava de porcaria nenhuma e que, ainda que só piorasse a minha situação, as bebidas me serviriam melhor. Ainda assim, mesmo sabendo que ela iria arranjar um outro alguém em algum momento, quando isso de fato acontecera foi como se eu tivesse me dado conta de que eu a havia perdido de vez.
Agora, a minha estava a milhas de distância de mim, estudando durante seis meses em Munique, na Alemanha, sem que eu tivesse a certeza de que ela iria voltar, afinal, não me surpreenderia se algum time alemão a contratasse como parte de sua equipe médica, dada a incrível profissional que ela era, ainda mais agora, com sua especialização e experiência em alguns tipos de lesões, como as de Gareth Bale e Cristiano Ronaldo. Também não me surpreenderia caso ela encontrasse algum alemão babaca pelo o qual valesse se envolver, o que aconteceu, é claro, exatos um mês e dois dias depois de sua chegada, lá estavam ela e Adrian Babaca Heinz, o namorado perfeito.
Por enquanto, eu devia focar na minha carreira e em bolar algum plano que me fizesse parecer melhor do que aquele engravatado, ao mesmo tempo em que ficaria atento a todas as chances referentes à minha garota que pudessem aparecer, por mais ridículas que fossem. Eu estava disposto a mostrar a ela que, ainda que tivesse sido um babaca durante os cinco últimos meses do nosso relacionamento, eu ainda a amava mais do que durante o primeiro mês, e realmente esperava que isso ainda valesse algo.
— Marco, me diz que você vai vir em um bom estado hoje. — Ouvi a voz de Isco do outro lado da linha assim que achei meu celular, que tocava insistentemente debaixo de algumas roupas sujas.
— Aconteceu alguma coisa? — Parei o que estava fazendo e me concentrei na voz do outro lado da linha, temendo pelo pior.
— Zidane não está muito alegre com o seu rendimento, o ouvi conversando com o assistente dele sobre te substituírem. — Sua voz transmitia quase o mesmo sentimento aterrorizante que eu, o que me fez desistir de organizar aquela bagunça por hora e me arrumar para ir ao CT.
— Eu chego em alguns minutos e dou um jeito de resolver isso. — Me limitei a murmurar, já tirando a roupa a caminho do banheiro.
Ainda tinha pouco mais de uma hora até o treino, mas fiz tudo o mais rápido que consegui, peguei uma maçã na cozinha antes de entrar no carro e ir até Valdebebas, onde coloquei o carro no estacionamento mais próximo à Ciudad Deportiva del Real Madrid. Entrei na mesma e encontrei Francisco no primeiro corredor que entrei.
— Cara, o que diabos tem acontecido com você? — Sem saudações amigáveis, Alarcón me recebeu, caminhando apressado ao meu lado até o campo, onde o técnico falava com Cristiano Ronaldo sobre algo que não me interessava.
— A gente pode conversar mais tarde? Prometo que te procuro assim que acabar aqui. — Murmurei enquanto caminhava decidido até o técnico, que não me esperava com uma feição muito feliz. — Posso conversar com o senhor? — Esperei que o técnico me seguisse e fomos até uns bancos que haviam por ali, sem dizer nada durante o curto caminho.
— Seu rendimento caiu muito durante esse últimos meses, e ninguém além de você parece saber o motivo. — Zinédine Zidane me encarava com uma sombra de preocupação nos olhos, e respirei fundo antes de dizer qualquer coisa.
— Eu fui um babaca com uma pessoa muito importante para mim e perceber que isso vai além de consertos me trouxe a esse estado, basicamente. — Optei por ser sincero. Sabia que Zizou entenderia, de uma forma ou outra.
— Não acha que devia resolver suas pendências antes que elas afetem ainda mais a sua vida profissional? — O técnico me disse, analisando a expressão cansada que eu carregava. — Durante todo o seu tempo comigo, nunca te vi tão pra baixo assim. era mesmo uma garota importante, não? — Olhei para a aliança que ainda estava em meu dedo, e Zizou pareceu satisfeito. — Vá atrás dela, Marco, antes que seja tarde demais. Aproveite a pausa entre algum jogo e vá! — Sua mão apertou meu ombro e não resisti ao instinto de abraçá-lo.
— Muito obrigada por entender. — Me levantei do banco e o segui de volta ao campo. — Prometo que vou consertar toda essa situação o mais rápido possível. — Disse, sentindo uma confiança maior do que antes.
— Traga-a de volta, Marco. — Com alguns tapas amigáveis em minhas costas, fomos para lados diferentes, eu na direção de Isco, e ele de volta ao círculo formado por Ronaldo, Marcelo e Morata.
— O que ficou decidido? — Passei o braço por seu ombro e sorri, deixando-o ainda mais curioso.
— Eu vou trazer a minha de volta. — Disse, sem conter o sorriso idiota que se formou em meus lábios.
— O que estamos esperando? Vamos bolar alguma coisa logo! — Ri de sua animação enquanto me aquecia junto a ele e Nacho.
— Vou esperar alguma pausa mais longa entre os jogos. — Disse, tentando me concentrar nos exercícios que eu deveria fazer.
— Três dias não te parece o suficiente? — Nacho perguntou, ao nosso lado.
— Nós mal estamos descansando entre um jogo e outro, como eu vou enfiar uma viagem para a Alemanha no meio de tantos jogos importantes? — Isco colocou as mãos nos meus ombros e respirou fundo antes de segurar meu rosto, surpreendentemente sério.
— Enquanto você fica em casa descansando, está em Munique com aquele alemão safado. — Falou, dando um tapa amigável em uma das minhas bochechas, me deixando pensativo. — Agora, nós vamos pensar em algum intervalo entre dois jogos que você possa se ausentar, mas, antes, tira essa expressão de idiota e foca nesse exercício. — Com mais um tapa, dessa vez não tão amigável, Alarcón voltou a treinar, me obrigando a fazer o mesmo.
Ainda assim, mesmo com todas as chances contra mim, eu conseguiria trazer minha garota de volta?

Olhei para a paisagem que a janela do avião que me levaria até a Alemanha mostrava, um amontoado de nuvens claras sob um céu azul, me parecendo um dia perfeito para reconquistar a confiança de , se tudo acontecesse como o planejado, é claro. Aos poucos chegávamos mais perto do Aeroporto de Munique-Franz Josef Strauss, e as aeromoças começaram a nos pedir para colocar os cintos e nos prepararmos para o pouso, o que só fez com que o frio em minha barriga aumentasse de intensidade. Não pude evitar me sentir como um moleque, o que eu era, afinal de contas.
Optei por alugar um carro para ir até o prédio de , que Alina — sua melhor amiga e, de acordo com a mesma, a “maior fã do casal” — havia me mandado. No entanto, aparecer do nada, em frente à sua porta, às dez horas da manhã de um sábado, era algo incerto, porque eu não tinha a menor ideia de qual seria a reação dela ao me ver ali. Ainda assim, desci do carro e, graças a Lina dividir o apartamento com a minha , não precisei ser anunciado, nem nada que a fizesse ter maiores chances de me expulsar dali antes da hora.
Decidido, apertei incessantemente o maldito botão que me levaria até o 5° andar, onde o apartamento da mulher da minha vida deveria ficar. Depois de três sufocantes e longos minutos dentro daquele maldito elevador, finalmente as portas se abriram, e, para a minha surpresa, me esperava, encostada na soleira da porta, com uma expressão neutra ao me ver ali com a maior cara de embasbacado que eu tinha ao vê-la depois de todos esses meses, usando um moletom meu, que há muito havia sumido das minhas coisas.
— Quanto tempo! — Não soube ao certo se ela estava feliz ao me ver ou não, mas me aproximei mesmo assim, segurando suas mãos entre as minhas.
— , eu sei que sou provavelmente o maior babaca que já habitou essa Terra, mas também sei que sou o babaca que mais te amou nessa vida e que a minha vida é totalmente sem sentido quando você não está nela, me fazendo madrugar maratonando GOT com você, mesmo que eu tenha que acordar cedo no outro dia e... — Eu falava sem parar, olhando em seus olhos, que me fitavam de volta com um quê de diversão. — Por que diabos você está rindo quando deveria me dar uns tapas? — Fiquei confuso ao ter suas mãos envolvendo meu rosto.
— Marco, como você sequer espera que eu lhe perdoe, se tudo o que eu soube sobre você nesses últimos meses foi que agiu como um moleque irresponsável? — Ao contrário de suas palavras num tom rude e irônico, seu olhar demonstrava o quão magoada estava. — Fotos suas bêbado durante a semana e com várias garotas ao mesmo tempo tiram qualquer crédito que suas palavras possam vir a ter. — Suas mãos desceram para meus ombros, e ela os apertou. — Eu tenho uma vida aqui, com um rapaz que demonstra que me ama.
— Eu mudei, ! Acredita em mim! — Desesperado, segurei suas mãos, que ainda estavam em meus ombros.
— Como eu posso acreditar nisso se você não me dá sinais dessa mudança? — Por alguns segundos, vi um lampejo de esperança em seus olhos, mas este havia sumido com mesma rapidez que surgira. — Vá para casa, Marco, não tem mais nada pra você aqui.
— Minha casa é onde você estiver, . — Me limitei a murmurar enquanto ela fechava a porta, sem saber se havia ouvido.
Antes que eu percebesse, eu já havia me escorado na porta, e grossas lágrimas desciam por meu rosto, fazendo companhia ao soluço que saía pela minha garganta. Enquanto eu me dava conta de que muito provavelmente a havia perdido de vez, uma dor se apossou do meu coração, juntamente ao sentimento de que faltava uma parte importante de mim. Não sei por quanto tempo eu me mantive daquela forma, mas, em algum momento, peguei o carro e voltei para o aeroporto, comprando uma passagem para o voo mais rápido com destino a Madrid, sem me importar com o quão estranho era um jogador de futebol de um dos maiores times da Europa chorando feito um bebê em um dos assentos da primeira classe, segurando uma foto amassada entre os dedos, com o olhar perdido.
Em algum momento, que eu não tinha a mínima ideia do qual, eu adormeci, sendo acordado por uma aeromoça, que me lançava um claro olhar de pena, e eu podia imaginar a situação na qual me encontrava. Agradeci, peguei a mochila que havia levado e coloquei um óculos de sol que eu havia achado jogado dentro dela, assim como um chapéu, que ajudariam a me camuflar um pouco entre as milhares de pessoas que transitavam pelo Aeroporto de Madrid-Barajas, enquanto mandava uma mensagem para Isco. Pedi que ele fosse me buscar, já que não havia levado meu carro até ali, além do mais precisava conversar e eu sentia que se guardasse tudo aquilo pra mim, seria pior. Logo, uma mensagem de Alarcón chegou no meu celular, me ameaçando caso eu demorasse para chegar até o carro dele e o fizesse ganhar uma multa.
Cabisbaixo, caminhei até a saída mais próxima ao lugar que Isco me disse estar, entrando no carro após ele buzinar mais vezes do que o necessário e arrancando dali em instantes, mas sempre me olhando com um olhar estranho. Ainda que me dando espaço, sabia que eu iria contar uma hora ou outra. Fomos naquele silêncio estranho até estacionarmos em frente à minha casa, e ele se virar para mim, curioso, após sentarmos no capô do carro.
— Ela não acreditou em mim. — Me limitei a dizer enquanto rodava a minha aliança no dedo, sentindo meus olhos marejarem outra vez.
— Marco, cara… Eu sinto muito. — Assenti em agradecimento e ele suspirou, me abraçando enquanto eu soluçava, totalmente perdido. — Nós vamos dar um jeito, temos que dar um jeito.
— Não, é melhor assim. — Disse, me afastando e secando o rosto com a camisa. — Se chegamos nesse ponto, a culpa é totalmente minha por ter uma mulher daquelas e não ter dado o devido valor. — Murmurei, tirando a aliança do meu dedo e a colocando no bolso, sem saber ao certo o que faria com ela.
— Asensio, você não vai desistir da assim, não sem tentar uma última vez! — Sua voz havia aumentado algumas oitavas, o que era totalmente “não Isco”.
— E o que diabos eu vou fazer? Ela não quer mais me ver! — Me exaltei, descendo do carro e apontando para o meu estado atual.
— Ela não quer mais ver o Marco moleque, que bebe e transa com várias para esquecer os problemas! — Ele disse, me segurando pelos ombros, numa tentativa de me fazer entender o seu ponto de vista.
— E qual é o plano, gênio?
— Primeiro, você vai ajeitar a sua situação lá no Real. Depois, vai dar um jeito de voltar a ser o cara decente de antes, parar de beber, de sair com três garotas numa mesma noite e até comprar a porcaria de um beagle se isso fizer ela voltar pra você! Estamos entendidos? — Me limitei a assentir, ainda processando tudo o que ele havia falado.
— É, acho que podemos fazer isso. — Sorri, ainda receoso de que aquilo tudo fosse dar certo, mas com uma fagulha de esperança nascendo em meu peito.
— E o que você está esperando? Vai tomar um banho e tirar essa expressão de perdedor enquanto eu cuido da outra parte do nosso plano! — Me permitir rir pela primeira vez naquelas últimas horas e dei um abraço apertado em Isco, agradecendo pelo apoio.
Eu faria as coisas direito daquela vez, e faria valer a pena.

Zagueiro corria ao meu lado pelo parque, que, devido ao horário, estava praticamente deserto. Não devia passar das cinco da manhã, mas nem todo mundo andava precisando desestressar como eu. Alina havia me ligado na noite anterior, me contando que havia terminado com o Alemão Safado — como Isco costumava se referir a ele —, e eu não consegui pensar em outra coisa durante a noite, chegando ao ponto de ficar acordado e contendo a vontade de mandar uma mensagem para , ou qualquer coisa do gênero. Eu não era mais um moleque, não iria ficar chorando pelos cantos por ter perdido uma garota tão incrível por burrice, não quando eu poderia reconquistá-la. Além de que chorar não me garantiria no time, e, com as finais de campeonatos chegando, eu precisava mostrar o meu melhor para conseguir me manter no time principal da próxima temporada. Isco tinha sido de extrema importância nessa nova fase da minha vida, e o plano que ele havia bolado para me “trazer de volta à ativa” estava dando ótimos resultados, uma vez que eu estava participando cada vez mais de jogos importantes, além de ter recuperado a confiança do Clube em mim. Tínhamos nos aproximado bastante nos últimos meses, ao ponto de ele me chamar para ser padrinho de seu casamento com Mia, uma garota tão louca e gente boa quanto ele..
Quando finalmente saímos das dependências do parque, eu quase pude ter a certeza de ver do outro lado da rua, e, ao virar-se na minha direção, eu tive a confirmação. Alguns meses haviam se passado desde a última vez que eu a vira, seus cabelos estavam maiores e sua pele definitivamente mais pálida, mas era ela, sem sombra de dúvidas! Pude ver vários sentimentos passarem por seu rosto antes de ela decidir atravessar a rua e vir até mim, que deveria estar com uma cara muito idiota de surpresa, afinal, quais eram as chances?
— ? É você mesmo? — Não consegui me conter, dando um passo em sua direção, ainda sem acreditar.
— Em carne e osso! — Foi o que ela disse, sem jeito. Agíamos como dois desconhecidos um com o outro.
— Quando você voltou? Alina veio com você? — Perguntei, sem pensar muito no que perguntar para ela.
— Eu cheguei de madrugada, na verdade. Lina decidiu ficar lá até o fim do semestre, pelo o que eu entendi ela acabou arrumando um polonês desavisado. — Acabei por rir junto ao ver seu sorriso largo, mas logo um silêncio constrangedor se instalou entre nós enquanto eu pensava no que dizer, mas, por sorte, Zagueiro me salvou. — E quem é este rapaz? — Perguntou, acariciando o meu filhote com um olhar animado.
— O nome dele é Zagueiro. — Murmurei, ciente de que ela iria rir, o que fez logo em seguida, é claro.
— Não estou surpresa! Assumo que imaginei que fosse algo do tipo. Você não consegue se desprender do trabalho mesmo, não é? — Dessa vez eu ri alto, e ela me acompanhou. Podemos sentir quando toda aquela tensão desnecessária se foi.
— Como foi Munique? — Me limitei a dizer, numa forma de sanar um pouco da minha curiosidade.
— Algo totalmente diferente do que eu tinha em mente, devo confessar. — Acompanhei seu sorriso e ri da careta que ela fez, que, a meu ver, não era nada além de adorável.
— Podia jurar que algum clube alemão iria te roubar da gente. — Desconversei enquanto me agachava e dava um pouco de água para Zagueiro.
— Mesmo tendo algumas veias alemãs, minha casa está atualmente em Madrid, então é aqui que eu devo ficar. — A piscadela que ela me deu fora suficiente para uma chama de esperança se reacender em meu peito, tão logo eu percebi o que ela estava dizendo.
Com um sorriso ainda mais largo no rosto — se possível —, e eu começamos a caminhar pela calçada, contando como nossa vida havia sido naqueles meses, os micos que havíamos pagado, sobre nossos amigos idiotas, e todo aquele clima me fez sentir como antes, quando costumávamos sair por aí sem rumo e contar sobre como nossa semana havia sido louca. Sem notarmos, passamos a agir como um casal outra vez, andando próximos e com as mãos lado a lado. Não pude evitar reparar em como ela havia ficado ainda mais linda do que antes, com aquele sorriso largo que alcançava seus olhos, o vestido solto e um batom claro nos lábios.
Quando finalmente paramos de andar, estávamos em frente ao apartamento que ela mantinha na cidade antes de decidirmos morar juntos. Eu imaginei que um silêncio estranho fosse se instalar e que depois daquele momento voltaríamos a agir como dois estranhos, indo cada um para um lado, mas, para a minha surpresa, ela me envolveu em um abraço apertado e ficamos ali durante algum tempo apenas curtindo a presença um do outro, até ela se afastar e beijar minha bochecha, se despedindo com um aceno e entrando no prédio logo em seguida.
Azar no amor e sorte no jogo, é o que eles dizem.

O estádio parecia mais vivo do que nunca, abrigando milhares de pessoas de todos os lugares do mundo, que estavam ali por seus times, cantando a plenos pulmões, numa competição não declarada sobre qual time tinha a melhor torcida. Na parte da arquibancada que eu estava — ainda que um pouco menos barulhenta do que as outras, por contar com os familiares e amigos mais próximos dos jogadores —, era impossível não se arrepiar com toda a energia que exalava das torcidas naquela final de Champions League. Ainda que estivesse acostumada com cenários como aquele, dessa vez tudo era diferente, afinal, eu não estava ali apenas para torcer por meu time, mas também por Marco, que sequer sonhava com a minha presença ali, mesmo que meus olhos o acompanhassem por todo o campo durante o aquecimento.
Mia, namorada de Isco, e uma torcedora muito esforçada do Real Madrid, vale ressaltar, estava ao meu lado, ajudando muito para que eu não enfartasse ali mesmo, antes sequer do início das apresentações, me lembrando a todo o momento que comemoraríamos como se não houvesse amanhã dali a poucas horas, quando Sergio Ramos levantasse a Orelhuda, e nós seriamos campeões pela 12ª vez. Mesmo confiante de que ganharíamos, não conseguia deixar de pensar em como seria minha conversa com Marco depois de todo um tempo sem nos falar, após aquela cena na porta do meu apartamento em Munique, que me assombrava todas as noites desde então.
Tentei me manter calma e distraída, sabendo que enlouqueceria se não o fizesse. Não era a minha primeira final de Champions League, mas a incerteza de qual caminho minha conversa com Marco seguiria era a verdadeira culpada de toda a minha ansiedade. Por sorte, Mia estava lá para me afastar desses pensamentos, me fazendo focar na energia que aquele cenário emanava, e eu conseguir me acalmar, até o jogo começar de fato, é claro.
Ver Marco fazendo uma de suas paixões era algo maravilhoso de se ver. Sua expressão ficava concentrada, o cenho franzido enquanto ele pondera sobre os melhores movimentos… Mas o melhor era o seu sorriso quando conseguia fazer algo importante ali dentro do campo, e a forma como seus olhos brilhavam. Em momento algum eu cheguei a duvidar do potencial que aquele garoto tinha, e vê-lo chegar tão perto de alcançá-lo era algo que me dava muito orgulho, porque eu estava ciente de que ele estava se esforçando a cada dia para ser uma pessoa melhor, mesmo que o motivo para tal decisão não fosse um dos melhores.
Sem realmente perceber, acabei mergulhando em lembranças de alguns meses atrás, antes de toda a bagunça envolvendo Marco e eu acontecer, quando ainda éramos um casal apaixonado pelas ruas de Madrid, passando pelos nossos momentos ruins até o término, minha temporada em Munique, e, finalmente, nosso encontro no parque há algumas semanas, quando eu voltei e resolvi dar uma nova chance ao que tínhamos, sem saber ao certo se era o que Marco ainda queria. Saí de meus devaneios quando senti Mia me abraçar e gritar assim como boa parte do estádio, tão logo Cristiano Ronaldo abrira o placar ao nosso favor. Depois dali, aos sessenta e um minutos, Casemiro marcou o segundo gol, e Cris aos sessenta e quatro marcou o terceiro. O Millennium Stadium era nosso, e a euforia tomava conta dos torcedores merengues, que cantarolavam "Campeones, campeones, olê, olê, olê..." a plenos pulmões.
O jogo estava próximo de seu fim, e a alegria já não cabia em mim, mas quando vi Marco marcando seu primeiro gol em uma final de Champions League usando a camisa do Real Madrid, foi como se eu não coubesse mais em mim mesma. Vi Igor perto de mim e o abracei enquanto gritávamos e pulávamos juntos, logo tendo o próprio Marco se juntando a comemoração, o que foi mais do que suficiente para me fazer congelar, e ele percebeu. Sorrindo, me deu um beijo rápido nos lábios.
— Te vejo depois? — Ele murmurou, enquanto as pessoas gritavam ao nosso redor.
— Mais tarde. — Foi o que eu respondi enquanto o via se afastar e comemorar com o time.
— O que foi isso que acabou de acontecer? — Mia perguntou, surgindo ao meu lado, com uma expressão muito engraçada de surpresa no rosto.
— Sinceramente? Eu não sei.
Depois daquele inesperado encontro, eu me mantive aérea durante os minutos finais do jogo, despertando vez ou outra com os gritos de Igor e Mia, que me balançavam pelos ombros por impulso ao menor sinal de um provável gol. Ao fim da partida, após a organização de entrega da taça e medalhas, os familiares e amigos próximos foram liberados para entrar em campo com os jogadores, e me vi sem saber o que fazer após Mia ir atrás de Isco e Igor do irmão. Vários jogadores estavam com suas famílias, e, ao longe, eu pude ver Mia, Isco e Junior posando para uma foto com a taça, e não pude evitar sorrir com a cena.
— Perdida? — Uma voz rouca soou próxima ao meu ouvido, e um perfume característico chegou ao meu nariz.
— Agora não mais. — Me limitei a dizer, virando para Marco e passando meus braços por seu pescoço, ao passo em que ele passou os seus pela minha cintura. — Parabéns pela conquista.
— Qual delas? — Perguntou, com um sorriso largo nos lábios. — Você não faz a menor ideia de como eu senti a sua falta! — Beijei seus lábios e ele me puxou ainda mais contra si, me prendendo em um abraço firme.
— Naquele dia em Munique, quando eu te vi na porta do meu apartamento, você nem imagina como eu queria que nossa conversa tivesse terminado! - Apoiei meu rosto em seu ombro, e ele beijou meu pescoço exposto, inalando meu perfume.
— Eu achei que tinha te perdido de vez, mas Isco me fez perceber que nunca te teria de volta sendo o mesmo moleque inconsequente dos últimos meses. — Seus braços me ergueram do chão e ele selou nossos lábios outra vez, nos envolvendo em nossa própria bolha.
— Vamos tentar ser menos idiotas dessa vez, tudo bem? — Murmurei, sentindo algumas lágrimas corriam por meu rosto. — Não quero me separar de você nunca mais.
— Quando você decidiu que valia a pena?
— Quando eu fechei a porta e ouvi você. Mas é claro que o beagle ajudou! — Disse, fazendo-o rir e rodar comigo nos braços.
— Eu te amo para caramba, sabia disso? — Seus lábios espalhavam pequenos beijos por meu rosto, me fazendo rir alto, feliz demais para ser verdade.
— Você pode me lembrar vez ou outra. — Sussurrei com o riso frouxo, sem a menor vontade de sair daquele abraço.
— Quer tirar uma foto com a Orelhuda? — Perguntou, me estendendo a mão quando tornou a me colocar no chão. Olhei para nossos dedos entrelaçados, e depois para seu olhar alegre e o sorriso largo, sem imaginar qualquer outro tipo de lugar em que eu preferisse estar, que não ao seu lado.
— Só se a estrela em ascensão estiver ao meu lado.
E eu esperava que estivesse.

Nota da autora: Olá! Como está? Mais uma estória minha aqui no site, mas dessa vez em um campo diferente dos que eu costumo me aventurar. Assumo que foi um desafio, e que meu plano inicial era fazer algo maior, porém como eu não tenho controle dos momentos em que vou conseguir escrever algo realmente bom, optei por fazer algo breve, mas com um final satisfatório para esse casal tão lindo. Os planos para uma continuação estão em andamento, mas tudo vai depender do futuro, e de vocês. E então? Esse casal merece mais algumas linhas?
Vejo vocês na próxima!
Xoxo, Hels.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.

CAIXINHA DE COMENTARIOS:
O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.