Última atualização: Fanfic Finalizada

Capítulo Único

Cidade do México, MX

Era a segunda vez naquela mesma semana que esperava impacientemente pelo marido. A refeição tinha levado cerca de três horas para ficar pronta e já estava fria por conta da espera. Vez ou outra ela beliscava algumas torradas na esperança de degustar a comida ao lado do homem que escolheu para passar o resto da vida.
Mas as coisas estavam tão difíceis. Rafael não era mais o mesmo de seis meses atrás. Suas atitudes mudaram drasticamente, e até chegou a ser violento na última discussão que tiveram onde cogitou a ideia de deixá-lo.
É apenas uma fase, pensou alto. Talvez fosse por conta do trabalho exaustivo onde Rafael trabalhava quatorze horas por dia, mas ganhava pouco em compensação. era formada em pedagogia, mas Rafael não aprovou a ideia de ela ensinar em uma escola pública do bairro, então a mesma aceitou apenas dar aulas de reforço em sua própria casa para não enfurecer o marido.
Aquela casa era tão triste e sem cores. A decoração da sala era mínima, composta apenas pelo sofá marrom, televisão e uma mesinha onde a foto do casamento deles chamava a atenção.
não era nenhuma adolescente, seus vinte e seis anos eram a prova disso. Quando conheceu Rafael, tinha apenas dezesseis anos. Eles eram vizinhos e apesar de ele ser quatro anos mais velho, sentia seu coração acelerar com a aproximação dele. O namoro foi a realização de um sonho, mas os pais da garota não gostavam de Rafael, eles sabiam da reputação de garoto-problema e das inúmeras brigas em que ele se metia. Porém , com seus vinte e três anos não se importava com a opinião alheia porque só o importava era o sentimento de ambos.
Rafael não era bom para .
Todos enxergavam isso, menos ela.
Abriu a porta do pequeno apartamento, procurando por qualquer sinal do homem que não reconhecia mais, porém o que encontrou foi outro homem.
era americano, mas morava no México porque seu treinador morava na cidade. Tudo o que sabia sobre o vizinho era que ele era lutador de MMA e que era gentil, pelo menos nas raras vezes que interagiram quando se encontravam nos corredores do prédio.
Naquela noite, ele estava péssimo. Seus passos eram lentos e arrastados, o moletom escuro cobria parte de sua cabeça, mas notou alguns machucados no rosto do rapaz. Uma de suas mãos estava sobre a costela esquerda enquanto que a outra segurava a alça da mochila que parecia exageradamente pesada.
— Meu Deus! — se prontificou, caminhando até o vizinho. Ela era mais de vinte centímetros mais baixa então precisou levantar a cabeça para observar o rosto dele pior do que ela realmente pensou. — Você está bem?
— Estou, só preciso encontrar as minhas chaves. — ele respondeu baixo, enfiando a mão que estava na alça da mochila, no bolso.
Com uma lentidão preocupante, ele conseguiu pegar as chaves e abrir a porta. — Se você quiser — limpou a garganta ao ter o olhar do homem preso no dela. — eu posso limpar isso.
A garota abraçou os braços, sentindo o frio tocar parte da pele descoberta. Foi uma péssima ideia, pensou envergonhada ao notar que o vizinho não tinha respondido sua gentileza.
— Eu quero. — respondeu, assustando que arregalou os olhos tentando lembrar do que tinha oferecido ao homem. Ele abriu espaço para que ela entrasse, e indicou o sofá branco na sala. — Vou pegar o kit.
colocou as mãos sobre os joelhos enquanto esperava pelo vizinho sentada no sofá. O apartamento dele não era muito diferente do seu, exceto pelas cores claras dos móveis e objetos. Seus olhos foram até o relógio grande pendurado na parede, onde notou ser quase meia-noite. Onde Rafael estava?
O lutador voltou para a sala com o kit de primeiros-socorros na mão e sem o moletom grande, a camiseta que ele usava era de um desenho animado e isso quase fez rir porque um homem grande como ele usando uma camiseta considerada "infantil" era no mínimo cômico. Os cabelos dele estavam arrepiados e levemente úmidos de suor. Assim que se acomodou no sofá, levantou, se preparando para limpar os ferimentos dele.
— Como isso aconteceu?
— Tive uma luta difícil. — respondeu, sorrindo enquanto a garota passava o álcool no algodão e logo pressionando no rosto dele, que surpreendentemente não exerceu nenhuma careta porque deveria estar ardendo como o inferno. — Sou acostumado com a dor. — ele respondeu como se lesse os pensamentos de , que assentiu silenciosamente.
— E você venceu? — a falta de resposta fez com que baixasse os olhos e percebesse o olhar intenso do homem sobre seus lábios.
não se preocupou em ser discreto, já que a garota de aparência angelical estava tão concentrada em ajudá-lo que não percebeu o quão ele queria beija-la. Existiam milhões de mulheres no México, muitas na cidade, no bairro, na academia, nos pubs que ele frequentava, mas está atraído justo por sua vizinha, que era casada.
— Terminei. — ela sorriu orgulhosamente, encarando o local limpo. Separou um pouco de gaze e colocou sobre o ferimento. — O bom é que não foi fundo, então não vai deixar cicatriz.
— O seu marido não vai ficar irritado?
O sorriso sumiu lentamente do rosto de , que cruzou os braços se afastando de . — Você não sabe nada do meu marido. — respondeu ácida.
— É, tem razão, mas sei sobre você.
— O quê?
— Sei sobre você, . — voltou a falar com a voz séria. — Você acorda cedo e enche a varanda com vasos de flores, você gosta de ler Shakespeare, mas também faz palavras-cruzadas quando está no ônibus. Todas as terças você ajuda o senhor Donald a descer as escadas para ir à fisioterapia.
— Você é o que, um stalker?
— Só acho que essa vida que você tem não chega nem perto da que você merece.
— Eu já acabei por aqui.
E sem esperar por uma resposta, apressou os passos saindo do apartamento de e entrando do seu, encontrado Rafael com uma expressão nada boa.
— Que merda você estava fazendo no apartamento do vizinho, ?
— Rafael.
— Responde logo! — gritou, assustando-a.
— Só fui prestar uma ajuda.
— Anda transando com ele?
— Não, não! É claro que não! Não me ofenda dessa maneira.
— Você que me ofendeu ao ficar enfurnada na casa de outro.
— Eu não fiz nada demais. Por favor, não beba.
Rafael ignorou o pedido da mulher, caminhando diretamente até o a geladeira e tirando uma garrafa de cerveja de lá. caminhou até o quarto, tentando evitar outra discussão desnecessária, mas era tarde porque Rafael também era observador e percebeu os olhares do vizinho para a sua .
Após tomar um longo banho e deixar que a água levasse suas lágrimas pelo ralo, escovou os dentes e se trocou dentro do cômodo, sem conseguir parar de pensar nas palavras de .
"Só acho que essa vida que você tem não chega nem perto da que você merece."
— E você, sabe por acaso, que tipo de vida eu mereço? — perguntou olhando para seu próprio reflexo no espelho.
Era o que deveria ter respondido de volta para , certo? A morena balançou o rosto, afastando os pensamentos porque nem deveria pensar sobre isso. Já tinha problemas o suficiente e não precisava de outro.
Os longos cabelos escuros foram presos em um rabo-de-cavalo alto, o que deixou as pontas encaracoladas bonitas. Se não fossem pelas olheiras abaixo dos olhos castanhos que adquiriu após noites sem dormir por conta do comportamento do marido, até se acharia bonita.
Seu corpo implorava por descanso, então ela respirou fundo algumas vezes antes de ter coragem para sair do banheiro. Por azar, Rafael estava sentado na beirada da cama e assim que levantou a cabeça e notou a presença da mulher, seus olhos se encheram de lágrimas.
— Transou com ele, não foi?
— Pelos Céus, não! — correu até o homem, se ajoelhando na frente dele. — Acredita em mim.
Ela era inocente, mas ele a fazia se sentir tão culpada. Era errado conversar com outro homem?
— O seu rosto é tão bonito... — Rafael sussurrou enquanto passava os dedos pela pele úmida de , que fechou os olhos sentindo saudades de uma época que não vou voltava mais. A época que gostava do toque do marido, quando não sentia cada célula do seu corpo tremer de medo. — Vou odiar fazer isso.
abriu os olhos, mas não teve tempo de perguntar o que ele quis dizer pois seu corpo caiu violentamente no chão, onde seu quadril ardeu de dor assim como o lado esquerdo do seu rosto. Com a vista turva, ela tentou reerguer seu corpo, mas não conseguiu, foi como tivesse tido parte de sua energia arrancada para longe de si. Tudo o que viu foi Rafael puxando os próprios cabelos com força, andando de um lado para o outro no quarto.
— Desculpa, desculpa! — Rafael repetia as palavras com desespero enquanto continuava no chão, sem conseguir parar de chorar pela dor física e emocional. — Eu não quis fazer isso. Você me obrigou. Isso foi culpa sua.
Com base em que aquilo era culpa dela? Sempre foi a mulher exemplar que ele lhe falou para ser, era amorosa, não falava demais, preparava os pratos favoritos dele, quase nunca reclamava... Como aquilo era sua culpa?
Ela tentou ser a mulher que Rafael queria. Mas durante esse procedimento, ela esqueceu de ser ela mesma. A de anos atrás cheia de sonhos, que queria alguém para lhe apoiar, encorajar e principalmente amar. Quando tudo mudou? Sem perceber, ela já estava presa e não sabia como sair.
Rafael deixou o quarto e se sentiu à vontade para chorar sem se preocupar em ser silenciosa.
Os dias passaram, e quase não falava mais. Rafael voltou a chegar pontualmente em casa, falando com animação sobre assuntos que ela não tinha interesse. Foi como se a fatídica noite da agressão tivesse sido apagada da mente do homem, coisa que dificilmente aconteceria com .
Quando Rafael pousou os lábios sobre o da mulher num beijo rápido antes de sair do apartamento, sentiu horror. Queria empurra-lo e xingá-lo de todos os nomes possíveis, mas algo dentro de si a impedia disso.
Era terça-feira, e igual às outras, ela ia ajudar Henry Donald — o seu vizinho de porta — a descer as escadas por causa do elevador que estava numa reforma interminável. Infelizmente, o senhor de idade perdeu a esposa no ano passado e por isso morava com a filha que trabalhava dia e noite, além da enfermeira que era uma mulher agradável.
— Oi minha querida! — o senhor falou com um sorriso ao ver a garota se aproximar. — Não está meio cedo para óculos de sol?
— Foi um tanto caro, acho que devo usá-lo o máximo que puder. — tentou soltar uma piada, que até deu certo já que o homem e a enfermeira riram. — Vamos lá?
— Você pode levar a cadeira? — a enfermeira Mira perguntou, e assentiu. — Hoje temos a ajuda de outro vizinho.
— Ele vai me carregar, como se eu precisasse disso... — Donald Henry resmungou.
— Mas o senhor precisa. — falou atrás de , que enrijeceu o corpo pela aproximação. — Oi .
Queria responder, mas apertou os lábios indo contra todos os instintos de seu corpo. Após ajudar o vizinho mais velho, tentou subir as escadas com rapidez, mas a alcançou.
— Por que está usando isso?
— Moda.
— Você não está nem aí para a moda.
Era verdade e ela até poderia sorrir, mas não queria dar outro motivo para Rafael se irritar.
— E ainda me chama de mal-vestida.
agarrou o braço da garota. Não houve força no toque, mas ela não conseguiu evitar se sentir constrangida e assustada. —, nós precisamos conversar.
— Não, nós não precisamos.
— Por que você está me evitando?
, não somos amigos. Você não precisa mostrar preocupação, ou perguntar como foi o meu dia. É melhor cada um ficar no seu canto. Eu não quero problemas e você parece ser o tipo de cara que gosta de atrair problemas.
— O único problema que eu quero atrair é uma bela mexicana que está tentando me afastar a todo custo.
fechou os olhos, sentindo dor. Isso, dor. Estar com era estranhamento bom, e isso trazia uma sensação nada agradável para a garota porque parecia errado. Ela e nunca poderiam ser amigos, ele estava descaradamente dando em cima dela, e uma parte pequena de si lembrou da adolescência quando se apaixonou pela primeira vez, do famoso frio na barriga — também conhecido como borboletas no estômago — e do nervosismo em estar apaixonada.
Mas como, se não estava apaixonada por ? — Não fala mais isso, por favor.
— Eu te assustei, não foi?
— Preciso ir.
— Espera. — era do tipo insistente. Não que do que incomodava a ponto dela se sentir desconfortável, mas a insistência do homem era perigosa porque toda vez que ele pedia que ela ficasse, era o que ela mais gostaria de fazer. Uma das mãos machucadas dele foi até o rosto dela, tirando os óculos e percebendo as colorações verde e roxa envolva do olho esquerdo. — Eu sabia. — ele murmurou visivelmente irritado. — Foi ele que fez isso?
— E-eu não posso...
— Não precisa responder. É óbvio que foi aquele desgraçado. Eu vou matá-lo. — Não, você não vai fazer nada! É o meu casamento, não se intrometa nisso, !
— Me deixa te ajudar.
— Não, me deixa em paz! — ela pediu com os olhos cheios de lágrimas, se afastando e rezando para que ele não a seguisse porque se ele o fizesse, ela não conseguiria ir contra seus desejos mais uma vez de tão forte que eles estavam.
Desde o dia em que abandonou no corredor do prédio, sentiu que uma parte de si ficou com o lutador. Ela mal vivia, apenas existia. Sua presença física fazia todas as coisas já programadas em sua rotina: acordar, fazer suas higienes, arrumar a casa, fazer a comida, esperar por Rafael e em algumas noites ter que ceder seu corpo para as "necessidades" do marido.
sentia-se como uma flor dente-de-Leão em que os dias eram como o vento e que suas pétalas que se desfaziam fossem como sua própria vida que passava diante de seus olhos sem que ela pudesse voltar atrás.
Era uma noite de quinta-feira quando algumas batidas fizeram com que a garota desviasse os olhos da televisão e caminhasse até a porta, estranhando porque quase não interagia com os vizinhos.
O coração só faltou sair pela boca ao encontrar um completamente curado dos últimos ferimentos que marcaram o rosto dele, nas mãos ele segurava uma caixa de sorvete.
— Vim pedir desculpas.
— Está desculpado. — tentou fechar a porta mas o braço dele foi mais rápido, impedindo-a. — , o que você quer?
— Se você me deixar do lado de fora, não vou acreditar que me perdoou de verdade. — ele tentou sorrir mas foi difícil ao notar o cansaço e sofrimento no rosto de . — E o sorvete vai derreter. — O Rafael não vai gostar.
— Ele só chega depois das duas hoje, certo?
mordeu o lábio. Queria a companhia de , mas temia que se aceitasse as coisas poderiam terminar da maneira errada porque ela não tinha controle de seus sentimentos em relação ao lutador.
— Por favor? — ele ergueu a caixa até a altura dos olhos dela que sorriu, dando passagem para que ele entrasse no apartamento.
observou milimetricamente cada centímetro do apartamento, sentindo o coração apertar ao chegar nas fotos, mais especificamente das do casamento de e Rafael.
— Vocês pareciam felizes. — comentou.
Nós éramos, pensou.
Quando tudo mudou? se questionou, mas desistiu de continuar com tais pensamentos porque nunca encontrava as respostas que procurava.
Os dois sentaram no mesmo sofá, cada um em um canto, o mais longe possível um do outro — assim era mais seguro — enquanto tomavam o sorvete que trouxe e assistiam a novela que gostava.
— Eles estão brigando por causa do bebê da Rosita?
gargalhou. não era o mais fluente em espanhol, mas estava se saindo muito bem.
— Sim. O Gastão não aceita que a Rosita esteja apaixonada pelo Fernando e está usando o bebê para fazer uma chantagem emocional para ela não se divorciar dele.
sorriu ao ver a animação de . Ele não era o maior fã de novelas mas assistir aquela com ela foi uma das melhores experiências de sua vida.
— Vou fazer pipoca.
— Eu te ajudo.
— Só vou te beijar quando você quiser. — retirou a mecha que caía pelo rosto de , fazendo-a fechar os olhos com o toque delicado da mão não tão delicada dele. Era o contraste perfeito. — Você não imagina o quão difícil está sendo me controlar tendo você tão perto.
— Não se controle. — soprou as palavras com tanta confiança que até ela mesma se assustou.
— Como?
Abriu os olhos, encontrando os azuis dos dele a encarando.
— Me beije, .
Nem se o exército entrasse naquele apartamento, seria capaz de afastar o lutador de quando seus lábios se tocaram pela primeira vez. levou a mão até as costas de trazendo-a para mais perto, como se isso fosse possível.
sentiu-se nas nuvens, e continuava flutuando. não foi nenhum pouco agressivo como ela pensava devido à ocupação dele como lutador, pelo o contrário, era com que ela estava tendo o beijo mais amoroso, gentil e apaixonado de sua vida.
Ao se separarem devido a falta de ar, não conseguiu desgrudar os olhos da boca de que implorava para ser novamente preenchida com a dela, mas o barulho de chaves do lado de fora fez com que levasse as mãos até a boca e olhasse rapidamente para o relógio constatando que era o horário que Rafael costumava chegar, até mesmo alguns minutos atrasado.
— Se esconde. — sussurrou para , que sem pressa, foi para a varanda.
não teve tempo de contestar a escolha de esconderijo pois um Rafael bêbado entrou no apartamento com um sorriso bobo estampado no rosto.
Pelo menos, ele vai dormir cedo e poderá ir embora sem ser pego.
Doce ilusão.
Rafael abraçou e beijou o topo de sua cabeça.
— Vamos dormir, querido?
— Estou sem sono. — beijou a bochecha de , e depois os lábios.
ficou imóvel. O beijo de Rafael não causava nem metade dos sentimentos que o de causou.
Tomando una atitude inesperada, ela colocou as mãos nos ombros de Rafael e se afastou dele, deixando-o com cara de tacho.
— Por que tem dois copos aqui?
parou o que estava fazendo para pensar numa desculpa convincente, mas tudo o que saiu foi um:
— Para você e para mim.
— Está sujo. — Rafael apontou para o copo, se aproximando de com os passos firmes e calculados. — Alguém esteve aqui? Foi aquele merdinha?
, apesar do silêncio, observava tudo atento. Qualquer mínimo movimento errado de Rafael sobre seria o suficiente para fazer o lutador pular no corpo dele e o fazê-lo pagar por todas as vezes que machucou a mulher por quem ele estava apaixonado.
Rafael, num ato impensado, jogou o copo no chão e por conta do movimento brusco ele se desequilibrou, caindo sentado.
— Por que você insiste nisso?
O homem encarou os olhos cheios de lágrimas da mulher e não aguentou, a puxou para perto, abraçando-a com força.
— Porque eu te amo e você me ama.
— Não existe mais amor entre nós. — afirmou.
— Se você me deixar, eu vou afundar de uma vez.
— Desculpa, mas não aguento carregar o peso desse casamento nas costas.
— É por causa dele, não é?
— Não, é por mim. O só me ajudou a enxergar a prisão que eu estava.
desviou o olhar do marido, catando os pedaços de vidro sentindo-se mais leve após despejar a verdade na cara de Rafael.
, cuidado!
O grito de foi o suficiente para virar com tudo para o lado esquerdo, desviando de um golpe de cadeira que Rafael segurava segundos atrás.
mal teve tempo para pensar pois estava sobre o corpo de Rafael, desferindo socos em seu rosto. Gritou, mas o lutador parecia não escutar enquanto Rafael reclamava de dor. Ela correu para fora do apartamento, gritando por ajuda.
Não demorou para que alguns vizinhos se amontoassem para assistir o quebra pau, até que a enfermeira Mira ligou para a polícia. Foi preciso dois homens para separar de um Rafael que estava desacordado no chão.
— O que aconteceu aqui? — Mira perguntou.
só conseguiu responder para os policiais que escutaram atentamente cada palavra que saía de sua boca. Eles garantiram que Rafael passaria um longo período na cadeia por tentativa de homicidio — palavra que ficou rondando a cabeça de por semanas já que ela não fazia ideia do quão perigoso Rafael era —, seus pais ligaram para ela oferecendo todo o apoio possível e sua advogada já tinha dado entrada no processo de divórcio.
Tudo estava indo melhor do que esperava, exceto por uma coisa: .
O lutador ia voltar para os Estados Unidos por causa de uma oferta irrecusável de emprego.
— É o primeiro grande passo que eu dou em direção ao UFC. — ele comentou animado.
Foi inevitável sorrir.
O que ela mais queria era estar do lado dele, mas não poderia pedir que ele desistisse de seu maior sonho por ela. Algumas coisas precisavam ser colocadas no lugar e esperava que quando isso acontecesse, eles estariam prontos um para o outro.
— Você vai voltar?
— É claro, não vou abandonar a minha garota. — eles sorriram antes dos lábios se encontrarem pela última vez naquele país.


Epílogo

8 MESES DEPOIS

respirou fundo. Era a sua primeira luta profissional, com um oponente forte e em um lugar repleto de pessoas.
Era a primeira vez em meses que voltava ao México. Durante os dias em que esteve hospedado no hotel, ele pensou em procurá-la já que ao colocar os pés naquele país, o rosto dela foi a primeira coisa que veio a sua cabeça, mas ele não fez.
A verdade era que eles tentaram conversar diariamente, mas voltou a estudar e precisava se dedicar à profissão de professora enquanto treinava, lutava, descansava e viajava para outros lugares.
Rafael estava preso — se certificou que o homem não sairia tão cedo —, finalmente tinha conseguido o divórcio, o que significava que ela estava livre e poderia viver como gostaria.
Será que ela estava feliz? Essa era a pergunta que rondava a cabeça do lutador nos últimos dias. Ele gostaria de vê-la sorrindo como não fazia muito quando a encontrava pelos corredores do prédio em que moravam. Era um dos sorrisos mais bonitos que ele já tinha presenciado, e todas as células do seu corpo desejavam que ele fosse o responsável por algum desses sorrisos.
O soco em sua costela o fez acordar de seus pensamentos. Aquele golpe doía como o inferno, e a voz de seu treinador atrás de seu corpo lhe tirou a concentração por alguns segundos onde recebeu outro golpe, agora na perna, derrubando-o no chão.
! — o careca que lhe treinava desde o início balançou os braços, gritando freneticamente. — Aplica uma chave de perna, !
Com dificuldade já que seu oponente era bom, puxou a perna direita do adversário por entre suas pernas, usando as mãos para segurar o pé enquanto com suas próprias pernas torcia a perna do outro lutador com força.
E não sobrou outra alternativa para o outro homem além de desistir, confirmando a vitória de .
Após as entrevistas, o lutador dispensou a festa porque estava cansado e com dor. Voltou para o hotel, sendo aclamado por um pequeno grupo de fãs que o esperavam na entrada. Ele tirou algumas fotos, conversando casualmente com as pessoas, sem acreditar em toda a fama que conquistou com rapidez.
No quarto, ele ouviu duas batidas na porta. Estranhou, pois não tinha pedido nada e muito menos para ser incomodado por seu treinador. Passava da meia-noite, e assim que colocou olhou pelo olho mágico, estranhou mais ainda. Era um buquê de flores.
suspirou, cansado. Só poderia ser de algum de seus fãs.
— Deixa ali na mesinha, por favor. — apontou para o meio do quarto.
— Achei que pudesse precisar de mim para limpar esses machucados igual naquela noite.
ficou paralisado, sem acreditar no que acabou de ouvir. De quem acabou de ouvir. Seu rosto se moveu lentamente para o lado direito onde ele finalmente a viu.
A primeira coisa que notou foram seus olhos, que mesmo quando estava triste, eram brilhantes. Um pequeno sorriso tomava conta do rosto dela e os cabelos antes tão longos agora batiam um pouco abaixo dos ombros. Diferente das muitas vezes em que ele esbarrou com ela nos corredores do antigo prédio, ela não estava triste e algo dentro dele gritava que ele era o responsável por parte daquela felicidade.
sorriu.
— Como me achou?
— Não foi difícil. — girou o dedo, apontando para o quarto. — Você está bem?
— Com você aqui, sim. — ele indicou o sofá onde logo ela se sentou. — E você?
— Eu estou bem, e graças a você.
— Não, eu só ajudei. Toda essa força já estava dentro de você, então você se libertou.
— Depois que você foi embora, eu percebi que estava inevitavelmente apaixonada por você.
— Repete, por favor.
— Continuo apaixonada por você. Sei que não é justo vir aqui agora quando você pode estar com outra pessoa, mas você precisava saber e me desculpa por todo o transtorno...
não terminou de falar pois as mãos grandes de agarraram seu rosto e os lábios machucados dele tomaram os seus em um beijo desesperado. As mãos delicadas e pequenas dela foram para os cabelos sedosos do homem, acariciando-os. E aquele beijo nunca pareceu tão certo.
— O que nós fazemos agora? — perguntou após o beijo.
— Agora é uma boa hora para você aceitar namorar comigo.
— Eu aceito, então.
Mesmo que não soubessem o que viria a seguir, tentar era o melhor jeito de desfrutar dos sentimentos que tinham um pelo outro.


Fim



Nota da autora: Sem nota.


Nota da Beta: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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