Capítulo Único
segurava um caixa que poderia explodir um ambiente inteiro, havia fogos de artifício, bombas e tudo mais que ele achou que poderia retumbar pela festa de quatro de julho. Ele e mais um amigo caminhavam para uma saída mais afastada do parque, onde todas as pessoas da cidade comemoravam o dia da independência.
– Cara, nós temos fogos o suficiente para botar fogo nesse parque inteiro! – Michael sorria de orelha a orelha. – Como diabos você conseguiu isso tudo, ?
– Joguei meu charme na loja, você sabe como mulheres mais velhas reagem ao meu olhar... – Ele piscou e fez cara de fofo para o amigo.
– Você é um filho da puta!
– Não me xinga, olha o tanto de fogos. – Apontou com a cabeça ao que segurava com ambas as mãos, como se precisasse enfatizar e já não fosse óbvia a quantidade só pelo tamanho da composição de papelão.
– Você transou com a velha, pelo amor de Deus, ! – Exclamou, indignado.
rolou os olhos e jogou um estalinho no pé de Michael, quase derrubando os explosivos pelo mau jeito, fazendo o garoto pular.
– É, transei sim! – Respondeu de forma irônica, soltando um leve riso com o susto do amigo. – Vamos logo, eu quero colocar tudo isso pra botar terror perto da barraca do Waterson. Ele me paga por me manter naquela escola de merda a porra do verão inteiro!
Os meninos começaram a andar pela rua. Os olhos de estreitos e distantes em vingança, e Michael chutando pedrinhas, sem nem argumentar. Sabia que a fama de esquentado do amigo era verdadeira e também estava ali só pela diversão.
Deram a volta completa por fora do parque, entrando pela fresta quebrada em uma das cercas, bem atrás da barraca do professor de história, senhor Waterson, que estava sentado, tranquilo, lendo um livro enquanto esperava por clientes na barraca nada atrativa dele. Vendia bandeiras e livros velhos sobre a independência, usando uma fantasia de Tio Sam, que tinha certeza de que devia ser mais velha do que ele já que, em fotos de todos os anuários, o educador aparecia usando aquela mesma roupa em eventos cívicos.
Os garotos encheram a parte de trás da barraca de bombas e fogos e, quando se deram por satisfeitos com a quantidade, acenderam um fósforo e jogaram no meio de tudo, correndo logo em seguida, apenas ouvindo aos estouros e apitos dos fogos que acendiam. O grito do professor veio logo depois, mas os dois já estavam longe o suficiente para apenas rirem da cena.
A noite passou sem outras intercorrências. Michael logo achou seu objeto de desejo e acabou ficando sozinho, estourando fogos e bebendo cerveja escondido. Quando se deu por satisfeito, começou a caminhar para casa de forma despreocupada, segurando uma latinha na mão.
As ruas estavam vazias, afinal, a cidade inteira estava no parque, aproveitando a festa. Com isso, facilmente notou uma movimentação esquisita próximo a um container de lixo. Tomou um gole da cerveja e se aproximou devagar para não ser visto.
Estava bastante escuro, só conseguia vislumbrar um vulto mexendo no lixo, então esbarrou em uma lata que estava no chão, fazendo a mesma rolar em direção à sombra, que se assustou e o encarou por um segundo, correndo logo em seguida de forma desesperada.
O rapaz deixou o esconderijo ao perceber que era uma mulher, esbarrando de forma desengonçada no container, e teve sua atenção voltada para um choro alto, pertencente a um bebê muito novo que se encontrava lá dentro.
No mesmo instante, ele começou a correr e gritar alto em direção à mulher, que estava cada vez mais distante.
– Volta aqui, você esqueceu o seu bebê!
Quanto mais se esforçava para chamar sua atenção, mais a mulher corria. Não tardou muito, entretanto, para dar-se conta de que ela estava abandonando a criança. Cessou seus passos, ofegante, e apoiou as mãos sobre os joelhos para se recuperar. Ao se sentir um pouco mais calmo, voltou-se para trás, onde o bebê continuava gritando.
– Que diabos eu vou fazer? – Passou a mão pelos cabelos e então resolveu que deveria ligar para a polícia ou qualquer coisa assim.
– 911, qual a sua emergência? – Ouviu a voz rápida de uma mulher saindo do seu celular.
– Eu achei um bebê numa lixeira! O que devo fazer?
A criança continuava a chorar, como se pedisse por ajuda, e se via em um impasse. Não sabia se deveria pegá-la no colo, deixá-la ali, ir embora e apenas passar informações à emergência ou fazer tudo ao mesmo tempo. Ele parecia tão perdido que o pedido de calma da atendente o fez respirar pelo menos cinco vezes até se localizar e conseguir passar informações úteis.
Estava concentrado na ligação. Já segurava o bebê no colo, a pedido da moça, e conseguia saber exatamente onde estava. E em uma olhada ao redor, notou uma menina, mais ou menos da sua idade, sentada no meio fio. Ela não parecia estar bem, chorava copiosamente.
– A ambulância está a caminho, ! Logo alguém estará aí para te ajudar. Você precisa ficar comigo no telefone, ok? – Instruía pausadamente.
– Ok. – Ele respondeu de forma automática, sua atenção voltada à garota.
Ela parecia ter a sua idade, mas ele não conseguia lembrar de seu rosto, provavelmente não estudava na sua escola. adorava se gabar acerca de sua memória para nomes e faces, ele tinha certeza de que ela não era dali.
– Você está bem? – se aproximou, esquecendo-se de que segurava um bebê incrivelmente quieto em seu colo.
A menina se assustou com a aproximação e limpou rapidamente as lágrimas, ainda respirando de forma espaçada, segurando o choro. Ela estava machucada, mas ficou preocupada ao ver o pequeno no colo de um garoto que definitivamente não sabia o que estava fazendo.
– Esse bebê é seu? – Indagou, tentando levantar mas caindo logo em seguida, sem sucesso.
se deu conta de que ainda segurava o bebê e ouviu a moça do 911 chamando sua atenção no telefone. Ignorou a pergunta da menina, olhando para sua perna machucada.
– Sim, ainda estou aqui! – Respondeu rapidamente. – Estou no aguardo da ambulância, encontrei uma menina com a perna machucada. Será que eles podem atendê-la também?
– Ela é a mãe do bebê? – A atendente perguntou rapidamente.
– Acho que não, a mãe dele saiu correndo em outra direção. Acho que estou com algum tipo de ímã para problemas hoje... – Suspirou, fazendo a atendente soltar uma risada contida.
– Qual é o nome da moça?
se voltou novamente para a menina, que olhava toda a conversa desenrolar.
– Qual é o seu nome?
Ela o encarou em silêncio.
– Qual é o seu nome? – Repetiu.
– . – Respondeu baixo.
– O que aconteceu com você, ?
– Eu machuquei a perna.
– O nome dela é , ela machucou a perna. – Repetiu automaticamente para a atendente, que pediu para falar com a menina, já que ela estava consciente.
passou o seu celular para a menina, que estava sentada no meio fio, e se afastou para dar uma sensação de privacidade, mas se manteve perto para tentar descobrir mais um pouco sobre o que teria acontecido. Aparentemente, ela estava com algum cara que a jogou do carro durante uma briga.
Ele sentiu raiva. Não a conhecia, mas surgiu uma confusa e estranha necessidade de protegê-la... talvez por toda a situação em que se encontrava.
Ele não era um dos melhores exemplos da cidade e andava com alguns caras que sabia que seriam capazes de coisas assim, mas ele se escondia atrás de algumas máscaras. Jamais faria aquilo com alguém, ainda mais com uma menina que era visivelmente mais fraca do que ele.
– Obrigada pelo celular. Você não precisa me ajudar, posso ficar aqui sozinha esperando a ambulância. – Ela esticou o celular, chamando a atenção do garoto que a encarava de longe.
– Eu não posso sair daqui. – Falou, colocando o celular no ouvido, pois ainda precisava ficar na linha até a chegada da ambulância.
Ajeitou o bebê, que dormia nos braços dele.
– Preciso entregar o bebê.
– Esse bebê é seu? – o fitou com um olhar sério.
– Não, a mãe dele o colocou na lixeira. Eu estava passando na hora, então ela fugiu.
A menina continuou encarando de forma duvidosa.
– Você não é daqui. – Fitou a menina que olhava para a rua.
– Como você pode ter tanta certeza? – Arqueou a sobrancelha.
– Eu não te conheço. – Deu de ombros.
– E você, por acaso, é alguma espécie de ser onipresente que conhece todos os habitantes dessa cidade?
– Não, mas eu acho que você deve ter quase a minha idade então, se você fosse daqui, provavelmente estudaria na minha escola, que é a única desse buraco.
suspirou. Naquele momento, ela percebeu que não passava de um garoto popular, o bonitão que tinha o cérebro do tamanho de uma ervilha e se achava importante por ser alguém na escola. A garota não falou mais nada. também se manteve calado, apenas olhando para o bebê que continuava dormindo em seu colo de forma tranquila.
Quando ele finalmente pensou em falar alguma coisa, a ambulância apareceu na esquina.
xxx
As férias de verão haviam acabado e, como esperado, e todos os seus amigos estavam sentados na entrada da escola, jogando conversa fora. O assunto do último mês era a menina nova. Apesar de saber o que realmente aconteceu na noite de 4 de julho e ter ajudado a garota, omitiu essas informações e também tentava evitar a menina a todo custo – talvez por sentir vergonha de espalhar falsos rumores –, mas não com muito sucesso, visto que faziam quase todas as mesmas matérias.
já estava de saco cheio dos rumores, resolveu que, se não podia fazer nada, não deixaria aquilo a atingir. Só queria se formar e sair daquela cidade.
No primeiro dia de aula, ficou bastante aliviada ao ver o rosto de , a única pessoa que tinha a ajudado até então, mas não demorou muito para descobrir que o garoto era exatamente como ela imaginava: um babaca do grupo popular. Ela costumava cumprimentá-lo mas, depois de ser ignorada por algumas semanas, deixou para lá. Seu foco era somente tirar boas notas e conseguir entrar numa boa universidade, de preferência, do outro lado do país.
Seu desejo, felizmente, estava se realizando perfeitamente bem. Tornou-se a melhor aluna da classe. Mas os rumores, por outro lado, tinham piorado de alguma forma. Além de ser a menina que foi parar no hospital depois de transar com um idiota que não conhecia, era a nerd beata convertida.
xxx
estava sentada no refeitório da escola, almoçando sozinha numa mesa ao canto que parecia tão solitária quanto ela e, como sempre, lendo. Daquela vez, era um livro de ciências.
se aproximou e sentou ao lado dela. não olhou para cima, ela sabia quem era, mas não parecia se importar em ter o menino mais popular da escola sentando próximo a si. Ele parecia determinado a conversar com ela, mesmo que aquilo significasse humilhação total perante seus amigos. Precisava de ajuda em... Bem, quase tudo, e ele sabia que seus amigos não iriam ajudá-lo.
Depois que sua "brincadeira" com os fogos de artifício tinha sido descoberta por ter ido longe demais, fazendo o professor de história perder a tão estimada fantasia de Tio Sam por conta do fogo, o diretor deu um ultimato: ele melhoraria suas notas ou seria convidado a se retirar da escola.
– Oi... – Falou, limpando a garganta.
Realmente não queria pedir ajuda para , ainda mais depois de ignorar a garota por mais de um mês mas, se não o fizesse, não se formaria.
– , preciso da sua ajuda. – Ele quase engasgou com a própria saliva, embora preferisse ter realmente engasgado de forma severa do que ter que pedir ajuda.
A garota olhou para cima, suspirando, mas em vez de um rosto com desdém que esperava, ela deu um sorriso e começou a gargalhar. Por um segundo, ele pensou que ela jamais iria parar de rir, mas se recompôs e apenas sorriu para o menino.
– Hughes quer minha ajuda. Isso é algum tipo de piada?
– Não, não é. – respondeu enquanto olhava para outro lugar, não queria saber se ela estava sorrindo ou não.
– Com o quê? – Foi tudo o que perguntou.
– Tudo: matemática, inglês, ciências e história... – Coçou a nuca. – Ou eu não vou me formar. – ainda não conseguia encará-la, era como se ele quisesse conversar com uma parede ou com outra pessoa.
Ele finalmente voltou o rosto para o dela e, para sua surpresa, não estava mais sorrindo, ela estava com uma cara pensativa. era conhecido por fazer amigos e, em seguida, convencê-los a fazer algo completamente imaturo para depois largá-los com as consequências. Era o jeito dele de se divertir e, aparentemente, aquela era a primeira vez em que o rapaz era pego.
– Tudo bem, vamos começar! – Sorriu fraco, respirando um pouco mais fundo. – O que você deseja aprender primeiro?
Apesar do pouco tempo, ela já tinha conseguido conhecer bem o menino, observando seu comportamento. sabia que não queria aprender nenhum dos assuntos mencionados, ele só queria que ela fizesse o trabalho para ele, para que pudesse entregá-lo e conseguisse a nota que ele realmente não merecia. Então, antes que pudesse sequer mencionar isso, o interrompeu.
– Só para você saber, quando você estiver do mundo real, ninguém vai fazer seu trabalho por você, você afunda ou nada... E se afundar, será demitido. Você quer mesmo ser esse tipo de fracassado? – A garota encarava profundamente os olhos verdes do rapaz, que foi pego de surpresa com a fala e o olhar dela.
se recuperou do momento.
– Eu não quero que você faça o meu trabalho. Vamos apenas começar com isso logo!
Ele nunca deixava o orgulho de lado mas, pelo menos, ele estudaria, o que já pouparia metade do trabalho de .
– Tudo bem, então me encontre na minha casa hoje à noite e nós começaremos. Até mais!
deu a um post it com o seu endereço e ele se levantou cautelosamente, certificando-se de que ninguém o tinha visto com ela, o que fez a menina soltar uma risada leve pelo nariz e balançar a cabeça negativamente enquanto pensava no porquê de ter aceitado ajudar aquele idiota.
estava muito inseguro sobre o que realmente poderia acontecer se ele fosse à casa de . Ele lembrava da noite de 4 de julho e sabia que estava sendo um idiota nos últimos tempos. Era difícil de admitir, não queria ignorar a menina mas, como o babaca que era, sua imagem importava mais e não queria perder seu status. No fim, foi de qualquer maneira, ninguém ia saber que ele estava lá.
Quando finalmente chegou à casa dela, falou para que ele esperasse em seu quarto, ela tinha que pegar alguma coisa na cozinha. Quando ela finalmente foi para o seu quarto, encontrou sentado em sua cama, sem fazer nada, como se tivesse medo de que o livro de ciências o mordesse ou o atacasse se fosse aberto pela pessoa errada.
sentou-se ao lado do livro, em frente a e, por um momento, nada aconteceu, ninguém disse ou fez nada.
– Então, por onde começamos? – Questionou, quebrando o silêncio, fazendo a menina suspirar enquanto balançava a cabeça negativamente.
abriu o livro no capítulo um e começou a explicar. Ignorando as caretas que o menino fazia ao anotar algumas coisas, seguiu para o capítulo dois quando ela teve certeza de que tinha entendido tudo o que ela estava dizendo.
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Por semanas, continuou indo para a casa de , cada vez aprendendo algo diferente. Depois de todo estudo, ele mostrou os resultados para a menina: tinha sido aprovado em todas as matérias. estava realmente orgulhosa dele e não havia mais motivos para continuarem as aulas.
Um dia, a encontrou no refeitório mais uma vez, sozinha, lendo um livro em francês. Sentou-se ao seu lado, desta vez não se importando se os seus amigos iriam notar. Eles não tinham certeza do que estava acontecendo e por que ele ainda estava saindo com ela, mas o menino já estava habituado a conviver com e sabia que reputação nenhuma valia perder a amizade que estavam construindo.
Continuou sentando com a garota no almoço ao longo da semana. Seus amigos não viam isso com bons olhos e, durante um dos intervalos, puxaram , antes que pudesse se aproximar dela.
– Por que você ainda está saindo com ela, ? Você fez o que o diretor queria que você fizesse, você vai se formar... Qual é o problema?
– Ela me faz querer ser diferente. – Deu de ombros.
– Então, o que isso significa? Você vai sair com a senhorita aberração só porque ela faz você querer ser uma pessoa melhor? Que porra é essa cara? Você não é assim!
– Sim, vou continuar andando com ela. E não, ela não é uma aberração, e nós somos amigos.
– Faça o que quiser então, só não tente voltar a andar com a gente. Não andamos com aberrações. – Finalizou com desdém e todos eles começaram a rir.
não se importava. o fazia se sentir diferente, melhor, e não seria um bando de adolescentes idiotas, que sequer conseguiam tirar suas notas por conta própria, que mudaria isso.
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Com o passar das semanas, o rapaz começou a acompanhar a menina em todos alguns lugares onde ela se encontrava, e começou a mostrar cada vez mais coisas para , aquelas que ele nunca nem tinha considerado fazer por estar preso demais em sua bolha de menino popular e desejado por todos. Até faziam trabalhos voluntários e, com isso, descobriu que ela era muito mais do que uma menina inteligente. Era, também, muito bondosa. Estava cada vez mais certo de que tudo que queria era ser cada vez mais como ela.
Aos poucos, percebeu que o caminho que estava seguindo não o levaria a lugar nenhum. O total de sua contribuição ao mundo era zero, até o momento, mas o destino para o qual o estava levando sem esperar nada em troca adicionava muito amor a si, aos outros e satisfação pessoal.
– Como você consegue ser assim? – caminhava ao lado da garota após saírem de um restaurante comunitário onde serviam comida.
– Assim como? – encarou o menino, que fitava o céu, ainda bastante pensativo.
– As pessoas passaram o tempo inteiro inventando rumores para o que aconteceu com você naquela noite… – Ele suspirou e olhou para ela. – Por que você nunca confrontou ninguém e falou que não era verdade?
– Bem, eu não me importo com o que pensam de mim. – Ela levantou os ombros e começou a andar levemente mais rápido. – Eu só me preocupo com o que pessoas que importam para mim pensam.
– Eu queria saber ser assim.
– Bem, você precisa crescer, . – Ela parou de andar e se voltou ao menino. – Precisa deixar de ser influenciado. Não dá para ser feliz o tempo todo. Às vezes, temos que encarar a realidade, como você fez quando escolheu encarar suas dificuldades ao invés de pagar alguém para fazer o seu trabalho.
deu um sorriso contido, ainda encarando a menina com seus olhos verdes. Ela sustentou o olhar, apesar de uma coloração rosada começar a tomar conta de suas bochechas e um calorão habitar seu rosto.
– Me desculpe por não ter te defendido quando contaram sobre aquela noite. – olhou para o chão. – Eu sou um babaca insensível.
– Você não é um babaca, só é muito influenciável. Assuma suas responsabilidades e não tente manipular as coisas ao seu redor que já vai ser um bom começo! – Ela se virou e começou a andar novamente.
O rapaz ficou parado por alguns segundos antes de correr e segurar a menina pelo pulso.
– Eu prometo que nunca mais vou ser esse babaca que eu fui. Estou tentando melhorar e sei que, se você continuar ao meu lado, eu vou conseguir. – Soltou a mão dela e a encarou mais profundamente. – Eu mudei por sua causa. Eu não sei o porquê, mas você mudou minha vida e sequer estava tentando fazer isso. Não sei se sou capaz de explicar o tanto que sou grato por tudo que você fez por mim e me sinto um merda porque nunca vou ser capaz de retribuir isso.
– Eu acho que você continua o mesmo, acho que você só é diferente na escola.
– Talvez eu tenha me expressado mal. Eu não me transformei em outra pessoa, mas você me mostrou um novo caminho, um ao qual eu nunca tinha prestado atenção ou notado a existência. E depois de te conhecer, eu finalmente fui capaz de ver e escolher seguir por esse caminho.
– “Nós podemos saber quem somos, mas nunca saberemos o que podemos ser.” – Recitou, sorrindo.
– Olha só! Sem você, eu jamais saberia que isso é Shakespeare! – Observou, derrotado.
gargalhou, chamando-o de bobo em algum momento por ali.
– Só não sei muito bem porque está me dizendo tudo isso agora... – Deu de ombros, incerta, continuando os passos que insistia em interromper a cada dois segundos.
E sendo acompanhada, daquela vez sem interrupções, ele decidiu partilhar mais um pouco de si, como havia aprendido com ela, dia após dia.
– É que acho que eu gosto de você...
– Cara, nós temos fogos o suficiente para botar fogo nesse parque inteiro! – Michael sorria de orelha a orelha. – Como diabos você conseguiu isso tudo, ?
– Joguei meu charme na loja, você sabe como mulheres mais velhas reagem ao meu olhar... – Ele piscou e fez cara de fofo para o amigo.
– Você é um filho da puta!
– Não me xinga, olha o tanto de fogos. – Apontou com a cabeça ao que segurava com ambas as mãos, como se precisasse enfatizar e já não fosse óbvia a quantidade só pelo tamanho da composição de papelão.
– Você transou com a velha, pelo amor de Deus, ! – Exclamou, indignado.
rolou os olhos e jogou um estalinho no pé de Michael, quase derrubando os explosivos pelo mau jeito, fazendo o garoto pular.
– É, transei sim! – Respondeu de forma irônica, soltando um leve riso com o susto do amigo. – Vamos logo, eu quero colocar tudo isso pra botar terror perto da barraca do Waterson. Ele me paga por me manter naquela escola de merda a porra do verão inteiro!
Os meninos começaram a andar pela rua. Os olhos de estreitos e distantes em vingança, e Michael chutando pedrinhas, sem nem argumentar. Sabia que a fama de esquentado do amigo era verdadeira e também estava ali só pela diversão.
Deram a volta completa por fora do parque, entrando pela fresta quebrada em uma das cercas, bem atrás da barraca do professor de história, senhor Waterson, que estava sentado, tranquilo, lendo um livro enquanto esperava por clientes na barraca nada atrativa dele. Vendia bandeiras e livros velhos sobre a independência, usando uma fantasia de Tio Sam, que tinha certeza de que devia ser mais velha do que ele já que, em fotos de todos os anuários, o educador aparecia usando aquela mesma roupa em eventos cívicos.
Os garotos encheram a parte de trás da barraca de bombas e fogos e, quando se deram por satisfeitos com a quantidade, acenderam um fósforo e jogaram no meio de tudo, correndo logo em seguida, apenas ouvindo aos estouros e apitos dos fogos que acendiam. O grito do professor veio logo depois, mas os dois já estavam longe o suficiente para apenas rirem da cena.
A noite passou sem outras intercorrências. Michael logo achou seu objeto de desejo e acabou ficando sozinho, estourando fogos e bebendo cerveja escondido. Quando se deu por satisfeito, começou a caminhar para casa de forma despreocupada, segurando uma latinha na mão.
As ruas estavam vazias, afinal, a cidade inteira estava no parque, aproveitando a festa. Com isso, facilmente notou uma movimentação esquisita próximo a um container de lixo. Tomou um gole da cerveja e se aproximou devagar para não ser visto.
Estava bastante escuro, só conseguia vislumbrar um vulto mexendo no lixo, então esbarrou em uma lata que estava no chão, fazendo a mesma rolar em direção à sombra, que se assustou e o encarou por um segundo, correndo logo em seguida de forma desesperada.
O rapaz deixou o esconderijo ao perceber que era uma mulher, esbarrando de forma desengonçada no container, e teve sua atenção voltada para um choro alto, pertencente a um bebê muito novo que se encontrava lá dentro.
No mesmo instante, ele começou a correr e gritar alto em direção à mulher, que estava cada vez mais distante.
– Volta aqui, você esqueceu o seu bebê!
Quanto mais se esforçava para chamar sua atenção, mais a mulher corria. Não tardou muito, entretanto, para dar-se conta de que ela estava abandonando a criança. Cessou seus passos, ofegante, e apoiou as mãos sobre os joelhos para se recuperar. Ao se sentir um pouco mais calmo, voltou-se para trás, onde o bebê continuava gritando.
– Que diabos eu vou fazer? – Passou a mão pelos cabelos e então resolveu que deveria ligar para a polícia ou qualquer coisa assim.
– 911, qual a sua emergência? – Ouviu a voz rápida de uma mulher saindo do seu celular.
– Eu achei um bebê numa lixeira! O que devo fazer?
A criança continuava a chorar, como se pedisse por ajuda, e se via em um impasse. Não sabia se deveria pegá-la no colo, deixá-la ali, ir embora e apenas passar informações à emergência ou fazer tudo ao mesmo tempo. Ele parecia tão perdido que o pedido de calma da atendente o fez respirar pelo menos cinco vezes até se localizar e conseguir passar informações úteis.
Estava concentrado na ligação. Já segurava o bebê no colo, a pedido da moça, e conseguia saber exatamente onde estava. E em uma olhada ao redor, notou uma menina, mais ou menos da sua idade, sentada no meio fio. Ela não parecia estar bem, chorava copiosamente.
– A ambulância está a caminho, ! Logo alguém estará aí para te ajudar. Você precisa ficar comigo no telefone, ok? – Instruía pausadamente.
– Ok. – Ele respondeu de forma automática, sua atenção voltada à garota.
Ela parecia ter a sua idade, mas ele não conseguia lembrar de seu rosto, provavelmente não estudava na sua escola. adorava se gabar acerca de sua memória para nomes e faces, ele tinha certeza de que ela não era dali.
– Você está bem? – se aproximou, esquecendo-se de que segurava um bebê incrivelmente quieto em seu colo.
A menina se assustou com a aproximação e limpou rapidamente as lágrimas, ainda respirando de forma espaçada, segurando o choro. Ela estava machucada, mas ficou preocupada ao ver o pequeno no colo de um garoto que definitivamente não sabia o que estava fazendo.
– Esse bebê é seu? – Indagou, tentando levantar mas caindo logo em seguida, sem sucesso.
se deu conta de que ainda segurava o bebê e ouviu a moça do 911 chamando sua atenção no telefone. Ignorou a pergunta da menina, olhando para sua perna machucada.
– Sim, ainda estou aqui! – Respondeu rapidamente. – Estou no aguardo da ambulância, encontrei uma menina com a perna machucada. Será que eles podem atendê-la também?
– Ela é a mãe do bebê? – A atendente perguntou rapidamente.
– Acho que não, a mãe dele saiu correndo em outra direção. Acho que estou com algum tipo de ímã para problemas hoje... – Suspirou, fazendo a atendente soltar uma risada contida.
– Qual é o nome da moça?
se voltou novamente para a menina, que olhava toda a conversa desenrolar.
– Qual é o seu nome?
Ela o encarou em silêncio.
– Qual é o seu nome? – Repetiu.
– . – Respondeu baixo.
– O que aconteceu com você, ?
– Eu machuquei a perna.
– O nome dela é , ela machucou a perna. – Repetiu automaticamente para a atendente, que pediu para falar com a menina, já que ela estava consciente.
passou o seu celular para a menina, que estava sentada no meio fio, e se afastou para dar uma sensação de privacidade, mas se manteve perto para tentar descobrir mais um pouco sobre o que teria acontecido. Aparentemente, ela estava com algum cara que a jogou do carro durante uma briga.
Ele sentiu raiva. Não a conhecia, mas surgiu uma confusa e estranha necessidade de protegê-la... talvez por toda a situação em que se encontrava.
Ele não era um dos melhores exemplos da cidade e andava com alguns caras que sabia que seriam capazes de coisas assim, mas ele se escondia atrás de algumas máscaras. Jamais faria aquilo com alguém, ainda mais com uma menina que era visivelmente mais fraca do que ele.
– Obrigada pelo celular. Você não precisa me ajudar, posso ficar aqui sozinha esperando a ambulância. – Ela esticou o celular, chamando a atenção do garoto que a encarava de longe.
– Eu não posso sair daqui. – Falou, colocando o celular no ouvido, pois ainda precisava ficar na linha até a chegada da ambulância.
Ajeitou o bebê, que dormia nos braços dele.
– Preciso entregar o bebê.
– Esse bebê é seu? – o fitou com um olhar sério.
– Não, a mãe dele o colocou na lixeira. Eu estava passando na hora, então ela fugiu.
A menina continuou encarando de forma duvidosa.
– Você não é daqui. – Fitou a menina que olhava para a rua.
– Como você pode ter tanta certeza? – Arqueou a sobrancelha.
– Eu não te conheço. – Deu de ombros.
– E você, por acaso, é alguma espécie de ser onipresente que conhece todos os habitantes dessa cidade?
– Não, mas eu acho que você deve ter quase a minha idade então, se você fosse daqui, provavelmente estudaria na minha escola, que é a única desse buraco.
suspirou. Naquele momento, ela percebeu que não passava de um garoto popular, o bonitão que tinha o cérebro do tamanho de uma ervilha e se achava importante por ser alguém na escola. A garota não falou mais nada. também se manteve calado, apenas olhando para o bebê que continuava dormindo em seu colo de forma tranquila.
Quando ele finalmente pensou em falar alguma coisa, a ambulância apareceu na esquina.
As férias de verão haviam acabado e, como esperado, e todos os seus amigos estavam sentados na entrada da escola, jogando conversa fora. O assunto do último mês era a menina nova. Apesar de saber o que realmente aconteceu na noite de 4 de julho e ter ajudado a garota, omitiu essas informações e também tentava evitar a menina a todo custo – talvez por sentir vergonha de espalhar falsos rumores –, mas não com muito sucesso, visto que faziam quase todas as mesmas matérias.
já estava de saco cheio dos rumores, resolveu que, se não podia fazer nada, não deixaria aquilo a atingir. Só queria se formar e sair daquela cidade.
No primeiro dia de aula, ficou bastante aliviada ao ver o rosto de , a única pessoa que tinha a ajudado até então, mas não demorou muito para descobrir que o garoto era exatamente como ela imaginava: um babaca do grupo popular. Ela costumava cumprimentá-lo mas, depois de ser ignorada por algumas semanas, deixou para lá. Seu foco era somente tirar boas notas e conseguir entrar numa boa universidade, de preferência, do outro lado do país.
Seu desejo, felizmente, estava se realizando perfeitamente bem. Tornou-se a melhor aluna da classe. Mas os rumores, por outro lado, tinham piorado de alguma forma. Além de ser a menina que foi parar no hospital depois de transar com um idiota que não conhecia, era a nerd beata convertida.
estava sentada no refeitório da escola, almoçando sozinha numa mesa ao canto que parecia tão solitária quanto ela e, como sempre, lendo. Daquela vez, era um livro de ciências.
se aproximou e sentou ao lado dela. não olhou para cima, ela sabia quem era, mas não parecia se importar em ter o menino mais popular da escola sentando próximo a si. Ele parecia determinado a conversar com ela, mesmo que aquilo significasse humilhação total perante seus amigos. Precisava de ajuda em... Bem, quase tudo, e ele sabia que seus amigos não iriam ajudá-lo.
Depois que sua "brincadeira" com os fogos de artifício tinha sido descoberta por ter ido longe demais, fazendo o professor de história perder a tão estimada fantasia de Tio Sam por conta do fogo, o diretor deu um ultimato: ele melhoraria suas notas ou seria convidado a se retirar da escola.
– Oi... – Falou, limpando a garganta.
Realmente não queria pedir ajuda para , ainda mais depois de ignorar a garota por mais de um mês mas, se não o fizesse, não se formaria.
– , preciso da sua ajuda. – Ele quase engasgou com a própria saliva, embora preferisse ter realmente engasgado de forma severa do que ter que pedir ajuda.
A garota olhou para cima, suspirando, mas em vez de um rosto com desdém que esperava, ela deu um sorriso e começou a gargalhar. Por um segundo, ele pensou que ela jamais iria parar de rir, mas se recompôs e apenas sorriu para o menino.
– Hughes quer minha ajuda. Isso é algum tipo de piada?
– Não, não é. – respondeu enquanto olhava para outro lugar, não queria saber se ela estava sorrindo ou não.
– Com o quê? – Foi tudo o que perguntou.
– Tudo: matemática, inglês, ciências e história... – Coçou a nuca. – Ou eu não vou me formar. – ainda não conseguia encará-la, era como se ele quisesse conversar com uma parede ou com outra pessoa.
Ele finalmente voltou o rosto para o dela e, para sua surpresa, não estava mais sorrindo, ela estava com uma cara pensativa. era conhecido por fazer amigos e, em seguida, convencê-los a fazer algo completamente imaturo para depois largá-los com as consequências. Era o jeito dele de se divertir e, aparentemente, aquela era a primeira vez em que o rapaz era pego.
– Tudo bem, vamos começar! – Sorriu fraco, respirando um pouco mais fundo. – O que você deseja aprender primeiro?
Apesar do pouco tempo, ela já tinha conseguido conhecer bem o menino, observando seu comportamento. sabia que não queria aprender nenhum dos assuntos mencionados, ele só queria que ela fizesse o trabalho para ele, para que pudesse entregá-lo e conseguisse a nota que ele realmente não merecia. Então, antes que pudesse sequer mencionar isso, o interrompeu.
– Só para você saber, quando você estiver do mundo real, ninguém vai fazer seu trabalho por você, você afunda ou nada... E se afundar, será demitido. Você quer mesmo ser esse tipo de fracassado? – A garota encarava profundamente os olhos verdes do rapaz, que foi pego de surpresa com a fala e o olhar dela.
se recuperou do momento.
– Eu não quero que você faça o meu trabalho. Vamos apenas começar com isso logo!
Ele nunca deixava o orgulho de lado mas, pelo menos, ele estudaria, o que já pouparia metade do trabalho de .
– Tudo bem, então me encontre na minha casa hoje à noite e nós começaremos. Até mais!
deu a um post it com o seu endereço e ele se levantou cautelosamente, certificando-se de que ninguém o tinha visto com ela, o que fez a menina soltar uma risada leve pelo nariz e balançar a cabeça negativamente enquanto pensava no porquê de ter aceitado ajudar aquele idiota.
estava muito inseguro sobre o que realmente poderia acontecer se ele fosse à casa de . Ele lembrava da noite de 4 de julho e sabia que estava sendo um idiota nos últimos tempos. Era difícil de admitir, não queria ignorar a menina mas, como o babaca que era, sua imagem importava mais e não queria perder seu status. No fim, foi de qualquer maneira, ninguém ia saber que ele estava lá.
Quando finalmente chegou à casa dela, falou para que ele esperasse em seu quarto, ela tinha que pegar alguma coisa na cozinha. Quando ela finalmente foi para o seu quarto, encontrou sentado em sua cama, sem fazer nada, como se tivesse medo de que o livro de ciências o mordesse ou o atacasse se fosse aberto pela pessoa errada.
sentou-se ao lado do livro, em frente a e, por um momento, nada aconteceu, ninguém disse ou fez nada.
– Então, por onde começamos? – Questionou, quebrando o silêncio, fazendo a menina suspirar enquanto balançava a cabeça negativamente.
abriu o livro no capítulo um e começou a explicar. Ignorando as caretas que o menino fazia ao anotar algumas coisas, seguiu para o capítulo dois quando ela teve certeza de que tinha entendido tudo o que ela estava dizendo.
Por semanas, continuou indo para a casa de , cada vez aprendendo algo diferente. Depois de todo estudo, ele mostrou os resultados para a menina: tinha sido aprovado em todas as matérias. estava realmente orgulhosa dele e não havia mais motivos para continuarem as aulas.
Um dia, a encontrou no refeitório mais uma vez, sozinha, lendo um livro em francês. Sentou-se ao seu lado, desta vez não se importando se os seus amigos iriam notar. Eles não tinham certeza do que estava acontecendo e por que ele ainda estava saindo com ela, mas o menino já estava habituado a conviver com e sabia que reputação nenhuma valia perder a amizade que estavam construindo.
Continuou sentando com a garota no almoço ao longo da semana. Seus amigos não viam isso com bons olhos e, durante um dos intervalos, puxaram , antes que pudesse se aproximar dela.
– Por que você ainda está saindo com ela, ? Você fez o que o diretor queria que você fizesse, você vai se formar... Qual é o problema?
– Ela me faz querer ser diferente. – Deu de ombros.
– Então, o que isso significa? Você vai sair com a senhorita aberração só porque ela faz você querer ser uma pessoa melhor? Que porra é essa cara? Você não é assim!
– Sim, vou continuar andando com ela. E não, ela não é uma aberração, e nós somos amigos.
– Faça o que quiser então, só não tente voltar a andar com a gente. Não andamos com aberrações. – Finalizou com desdém e todos eles começaram a rir.
não se importava. o fazia se sentir diferente, melhor, e não seria um bando de adolescentes idiotas, que sequer conseguiam tirar suas notas por conta própria, que mudaria isso.
Com o passar das semanas, o rapaz começou a acompanhar a menina em todos alguns lugares onde ela se encontrava, e começou a mostrar cada vez mais coisas para , aquelas que ele nunca nem tinha considerado fazer por estar preso demais em sua bolha de menino popular e desejado por todos. Até faziam trabalhos voluntários e, com isso, descobriu que ela era muito mais do que uma menina inteligente. Era, também, muito bondosa. Estava cada vez mais certo de que tudo que queria era ser cada vez mais como ela.
Aos poucos, percebeu que o caminho que estava seguindo não o levaria a lugar nenhum. O total de sua contribuição ao mundo era zero, até o momento, mas o destino para o qual o estava levando sem esperar nada em troca adicionava muito amor a si, aos outros e satisfação pessoal.
– Como você consegue ser assim? – caminhava ao lado da garota após saírem de um restaurante comunitário onde serviam comida.
– Assim como? – encarou o menino, que fitava o céu, ainda bastante pensativo.
– As pessoas passaram o tempo inteiro inventando rumores para o que aconteceu com você naquela noite… – Ele suspirou e olhou para ela. – Por que você nunca confrontou ninguém e falou que não era verdade?
– Bem, eu não me importo com o que pensam de mim. – Ela levantou os ombros e começou a andar levemente mais rápido. – Eu só me preocupo com o que pessoas que importam para mim pensam.
– Eu queria saber ser assim.
– Bem, você precisa crescer, . – Ela parou de andar e se voltou ao menino. – Precisa deixar de ser influenciado. Não dá para ser feliz o tempo todo. Às vezes, temos que encarar a realidade, como você fez quando escolheu encarar suas dificuldades ao invés de pagar alguém para fazer o seu trabalho.
deu um sorriso contido, ainda encarando a menina com seus olhos verdes. Ela sustentou o olhar, apesar de uma coloração rosada começar a tomar conta de suas bochechas e um calorão habitar seu rosto.
– Me desculpe por não ter te defendido quando contaram sobre aquela noite. – olhou para o chão. – Eu sou um babaca insensível.
– Você não é um babaca, só é muito influenciável. Assuma suas responsabilidades e não tente manipular as coisas ao seu redor que já vai ser um bom começo! – Ela se virou e começou a andar novamente.
O rapaz ficou parado por alguns segundos antes de correr e segurar a menina pelo pulso.
– Eu prometo que nunca mais vou ser esse babaca que eu fui. Estou tentando melhorar e sei que, se você continuar ao meu lado, eu vou conseguir. – Soltou a mão dela e a encarou mais profundamente. – Eu mudei por sua causa. Eu não sei o porquê, mas você mudou minha vida e sequer estava tentando fazer isso. Não sei se sou capaz de explicar o tanto que sou grato por tudo que você fez por mim e me sinto um merda porque nunca vou ser capaz de retribuir isso.
– Eu acho que você continua o mesmo, acho que você só é diferente na escola.
– Talvez eu tenha me expressado mal. Eu não me transformei em outra pessoa, mas você me mostrou um novo caminho, um ao qual eu nunca tinha prestado atenção ou notado a existência. E depois de te conhecer, eu finalmente fui capaz de ver e escolher seguir por esse caminho.
– “Nós podemos saber quem somos, mas nunca saberemos o que podemos ser.” – Recitou, sorrindo.
– Olha só! Sem você, eu jamais saberia que isso é Shakespeare! – Observou, derrotado.
gargalhou, chamando-o de bobo em algum momento por ali.
– Só não sei muito bem porque está me dizendo tudo isso agora... – Deu de ombros, incerta, continuando os passos que insistia em interromper a cada dois segundos.
E sendo acompanhada, daquela vez sem interrupções, ele decidiu partilhar mais um pouco de si, como havia aprendido com ela, dia após dia.
– É que acho que eu gosto de você...
Fim.
Nota da autora: "Gente, somente Tayná e Gabrielle sabem o drama que foi para esse ficstape sair. Gabi, obrigada pela paciência, e Tayná, meu Deus do céu, sem você não estaria nada pronto, basicamente co-autora, obrigada mesmo!
Eu estava planejando uma coisa um pouco diferente, mas estou feliz com o resultado! Espero que vocês gostem! Até a próxima! :D"
OUTRAS AS FANFICS DA AUTORA:
Beyond [Harry Styles - Shortfic]
Keep Me [McFLY - Shortfic]
Sinais do Tempo [Harry Styles - Em Andamento]
Tarefa Final [Originais - Shortfic]
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Eu estava planejando uma coisa um pouco diferente, mas estou feliz com o resultado! Espero que vocês gostem! Até a próxima! :D"
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Keep Me [McFLY - Shortfic]
Sinais do Tempo [Harry Styles - Em Andamento]
Tarefa Final [Originais - Shortfic]