Capítulo Único
O quarto de hotel era belo, com suas paredes em um tom claro de azul e suas cortinas brancas que roçavam o chão. A cama de dossel era enorme, e todos os travesseiros e edredons praticamente me engoliam no paraíso mais confortável de todos. A mesinha de cabeceira continha meu celular e algumas joias que retirei antes de dormir; o banheiro estava a apenas alguns passos e ainda exalava um leve aroma de sais de banho que eu havia usado para tentar relaxar um pouco. A TV pendurada na parede diretamente em frente à minha cama era a maior que já havia visto, mas no momento se encontrava desligada.
Eu estava em um sono profundo, caminhando pelas ruas de uma cidade desconhecida e sentindo uma leve brisa roçar meu rosto, trazendo consigo um cheirinho de mar. Percebi a presença de um homem a meu lado, mas não conseguia ver seu rosto direito; e até iria perguntar quem era ele, se não fosse o que aconteceu a seguir.
- Você tem noção de que são quase sete da manhã?! - uma voz feminina alta demais para o horário que anunciava me despertou com um susto, fazendo meu coração acelerar.
- Não, e você nunca deveria acordar alguém assim! - resmunguei em uma voz rouca, sentando na cama e esfregando meus olhos.
Foi só naquele momento que me dei conta de quem havia invadido meu quarto pra acabar com meu sono. Catherine Perkins, minha querida e única agente. A única pessoa, exceto minha mãe, que conseguia lidar com a árdua tarefa de cuidar de mim e que conseguia me fazer ouvir (alguns) conselhos (de vez em quando).
Ela era uma mulher alta de 35 anos, solteira e dedicada ao trabalho em período integral. Seus cabelos eram agora de um tom loiro bonito, e eu amava seu estilo. Cat usava jeans escuros, uma blusa branca e um blazer pink. Nós éramos muito parecidas, e por isso eu ousava chamá-la de "mãe adotiva", mesmo que ela fosse apenas 13 anos mais velha.
- Me desculpe, querida, é que você tem o This Morning às dez e alguma coisa, e precisam de você logo pra cabelo e maquiagem. - ela falou tudo em velocidade impressionante para alguém que estava acordada às sete da manhã. Ao terminar seu discurso, puxou as cortinas para o lado e permitiu que a luz do dia entrasse no quarto.
- Tudo bem, Cat. Tenho tempo para um mini-café-da-manhã? - perguntei, meus olhos brilhando cheios de esperança. Essa "refeição" era muito importante; aparições em TV eram enervantes, e me faziam uma bagunça de ansiedade mesmo agora que já devia estar acostumada. A última coisa que precisava era estar com fome.
Minha carreira de cantora começou no YouTube, assim como a maioria hoje em dia nessa indústria. Eu era sortuda o suficiente por ainda estar sob os holofotes após 4 anos, o que significava que eu tinha de trabalhar ainda mais para me manter nesse lugar.
- É claro, se você prometer tomar banho rápido, sua comida estará esperando quando sair. - Cat me lançou um sorriso, antes de olhar para seu telefone e digitar alguma coisa nele.
- Obrigada, você é a melhor mãe adotiva de todas! - pulei da cama e dei um beijo em sua bochecha antes de ir para o banheiro.
- A propósito, preciso conversar com você sobre algo muito sério. - ela anunciou no momento em que fechei a porta. Tentei ignorar o arrepio que correu por minha espinha por conta do seu tom de voz, e, após tirar meu pijama, entrei num banho quente.
***
Era um pouco como uma revolta. Ou talvez muito como uma revolta. Não havíamos pensado muito em como os fãs tinham a incrível habilidade de nos achar. O resultado disso era uma multidão do lado de fora do hotel na hora em que saíamos.
Havia seguranças, muitos deles, tentando segurar a multidão e manter um caminho aberto para que os dois carros que estavam estacionados em frente ao hotel pudessem pegar minha equipe e eu.
Mesmo após todo esse tempo, meus olhos ainda lacrimejavam ao ver tantas pessoas dedicando seu tempo para me ver. Andei até eles e assinei alguns pôsteres e cadernos; havia muitas adolescentes, algumas com suas mães, e todos tentavam tocar em mim. Até tentei dar uma atenção a mais para elas, mas seguranças pegaram em meu braço e me disseram que eu tinha de ir.
- Entra logo no carro, ! - meu stylist e maquiador, Jack, me empurrou levemente, seu tom brincalhão e irritado ao mesmo tempo.
Fiz o que ele pediu e segurei sua mão para que ele entrasse também. Mas quando ele estava quase sentando, Catherine o puxou de volta e o mandou ir para o outro carro. Parecia que iríamos ter a tal conversa agora. E eu não podia sentir mais medo da expressão de Cat.
Nunca havia a visto tão séria. Nem mesmo quando temos horários malucos e prazos para novas músicas e artes de álbuns, ou quando temos dez minutos até que o show comece e eu ainda estou usando calça de pijama e moletom.
- Você está bem? - ela perguntou, sentando a meu lado e me analisando. Quase dei uma risada sarcástica.
- Estou fabulosa. Você, do contrário, não parece estar tendo o melhor dia de todos. - disse, pegando sua mão na minha. - O que está acontecendo? - É a gravadora. - ela suspirou tão pesadamente que eu podia sentir o peso começando a sair de seus ombros.
- O que fizeram?
Cat balançou a cabeça, tentando achar as palavras. - Eles querem fazer um... acordo, por assim dizer, com você. - ela começou, e seu rosto demonstrava que estava tendo uma batalha mental.
- Um acordo? Sobre dinheiro? - franzi as sobrancelhas, completamente confusa. O que estavam pensando?
- Não, não. - Cat suspirou novamente, o que me fez ainda mais nervosa. - É algo mais pessoal. Eles... - ela pausou, respirando fundo. - Eles querem que você namore.
Meus olhos arregalaram, uma risada fria e sarcástica deixando meus lábios.
- Não é como se namorar fosse tão fácil assim.
- Eu sei, é exatamente por isso. Eles querem que você namore alguém de sua escolha. Alguém famoso. Alguém que é recente e está deixando todos doidos. Seria muito benéfico para eles que você namorasse com alguém assim.
- Tem noção da merda que acabou de falar?! - passei meus dedos por meu cabelo, balançando a cabeça e tentando processar tamanha idiotice.
- Você precisa conquistar o público adulto, . Entende isso? Adolescentes podem até achar que você é incrível mesmo com todas as coisas ruins que a mídia fala - os artigos sobre o seu amor por baladas e seus casinhos de uma noite só que eles tanto adoram inventar... - ela parou de falar por um segundo, soando mais brava a cada palavra que dizia.
A mídia realmente adorava transformar uma saída minha para um clube com amigos em eu ficando com cada um dos caras daquele círculo de amizade. Eu já havia me acostumado, mesmo que aquelas palavras que eu era obrigada a ler machucassem.
Ela continuou, -... mas adultos não. E você é uma adulta agora. Precisa "sossegar". Ao menos até que seu novo álbum se estabilize e as vendas para a nova tour estejam a toda. - Catherine falava devagar, provavelmente esperando que eu surtasse e destruísse o interior do carro.
Balancei a cabeça novamente, devagar, totalmente descrente do que minha querida agente estava dizendo. - Isso é ridículo. Simplesmente ridículo. Não há a mínima chance de eu fazer isso. Não é minha culpa que a mídia pinte minha imagem como a de alguém ruim.
Após falar isso, cruzei meus braços e olhei para fora da janela ao meu lado, esperando que a discussão acabasse ali e que Catherine esquecesse o assunto.
Alguns segundos passaram, e o que ela anunciou me fez congelar.
- Se não fizer isso, a gravadora vai te deixar.
- O quê?! - senti como se meu coração houvesse descido para meu estômago, seus batimentos rápidos me fazendo mais enjoada a cada minuto. - Eles podem fazer isso?!
- Sim, podem. - ela confessou, apertando minha perna. - Seu contrato está quase acabando. Precisa renová-lo antes mesmo de seu novo álbum sair.
- Não tem nenhum jeito de sair dessa? - minhas mãos tremiam e eu tentava disfarçar apertando a saia de meu vestido. Isso era loucura. Por que diabos a gravadora cismava em me ter em um relacionamento?
- Tentei pensar em alguma coisa, mas eles não estão cedendo. E, se nos colocarmos em seus lugares, veremos que essa ideia é sinal de mais dinheiro. Você namorando com outra celebridade seria outra faísca na sua carreira. - Cat segurou minha mão e a apertou. - Pense nisso, . Tudo que você tem de fazer é sair algumas vezes, sorrir para os paparazzi, andar de mãos dadas, e vai conseguir o que quer. É só por um tempinho.
- Mas o fato de ser "só por um tempinho" significa que vai acabar. E a mídia vai me classificar novamente como a doce menina que não consegue manter suas pernas fechadas ou um relacionamento funcionando. Não preciso dessa confirmação porque já a tenho.
Suspirei profundamente enquanto tentava me conformar com a ideia de fingir estar apaixonada em frente a, literalmente, todo mundo. Era horrível e eu me sentia nojenta por enganar meus fãs tão abertamente.
Olhei para meu colo e depois para minha agente, mordendo meu lábio inferior.
- Talvez esse cara seja bom para você. - ela continuou, tentando achar maneiras de me fazer sentir melhor. - Talvez ele te faça sorrir. E nós duas sabemos que você precisa disso. Suas últimas semanas não têm sido exatamente boas.
A parte burra de mim provavelmente sorriria e se agarraria a essa possibilidade, esperançosa de que fosse verdadeira. Mas a parte inteligente, a parte que colecionava experiências (fracassadas) no amor, sabia que a (falsa) doce verdade era cruel. Achar felicidade num acaso? Impossível. Estamos no século XXI. Mas eu não via outra saída.
- Você tem certeza de que tenho de fazer isso?
Catherine simplesmente assentiu, ansiosa por ouvir o que eu tinha a dizer. Minha cabeça estava girando, a imagem de dar as mãos, beijar um cara que mal conhecia fazendo com que eu desejasse não ter comido. Não queria fazer isso. Mas também não queria desistir dessa gravadora. Era onde minha carreira inteira estava, onde todas as memórias estavam e onde todo meu trabalho havia valido alguma coisa. Não podia simplesmente desistir.
Com um coração pesado, murmurei, - Diga a eles que eu aceito.
***
- Não acredito que realmente vou fazer isso. - forcei um suspiro, esfregando minha têmpora numa tentativa falha de acalmar a dor de cabeça.
Minha agente, Cat, que estava sentada a meu lado no carro, apertou meu ombro em um gesto de apoio. - Tenho certeza que você vai passar por isso tudo sem maiores problemas. É só por um tempinho.
Bufei, dando uma risada irônica, - Você só diz isso porque não é quem deve fingir estar apaixonada.
Cat não tinha nada a dizer sobre minha declaração, aparentemente, pois o silêncio que se seguiu chegou a ser quase ensurdecedor até o final do caminho.
Nós havíamos acabado de sair do estúdio do This Morning, após uma rápida e divertida entrevista. Perguntaram sobre meu novo álbum, e falaram que as pessoas estavam ansiosas para ouvir o que eu estava preparando. Menos de uma semana atrás eu havia revelado qual seria o primeiro single e a data em que seu vídeo seria lançado. Daqui a três semanas, e ainda havia muito o que fazer.
Minha equipe e eu estávamos agora nos dirigindo ao set onde seriam filmadas as últimas cenas do vídeo de meu single, Sugar. Era no estilo burlesque, num famoso clube na cidade, e eu estava ansiosa pra ver como estava arrumado, se era como eu havia pensado e descrito para o produtor.
- Quando vou descobrir quem é o Príncipe Encantado, já que estamos falando disso? - a pergunta saiu antes que eu pudesse me conter; foi por pura curiosidade, embora sentisse um aperto no peito ao pensar nisso. Será que eu iria ao menos me dar bem com o cara?
No momento em que o carro parou, Cat disse, - A gravadora arranjou um encontro para vocês dois hoje à noite.
A porta foi aberta pelo motorista, uma rajada de vento frio nos pegando de surpresa. Ela roubou o ar que eu tentava recuperar após ouvir aquilo. Cat saiu do carro fácil e rapidamente, começando a andar em direção ao set. Eu, pelo contrário, não conseguia me mover.
Hoje à noite? Como eles iriam fazer isso tão rápido? Eu mal tive tempo para processar a ideia sem sentir meu estômago se contrair e ameaçar desperdiçar o pouco que eu havia comido!
- Senhorita? - uma voz masculina, que após olhar pra cima descobri pertencer ao motorista, me retirou de meus pensamentos.
- S-sim? - respondi, voltando aos meus sentidos.
- Não vai sair? Tem algumas pessoas chamando por você.
- Ah sim, claro. - consegui fingir um sorriso, saindo do carro para o apoio crítico de minhas trêmulas pernas.
Hoje à noite. Eu saberia quem supostamente ocuparia um lugar especial em meu coração hoje à noite.
Que maravilha.
***
A tarde foi ocupada, pra dizer o mínimo. Filmamos as últimas cenas do vídeo, em que eu dançava com algumas de minhas dançarinas favoritas enquanto fingia cantar.
Fui um absoluto desastre durante a coisa toda. Minha cabeça estava tomada por pensamentos de como a noite de hoje seria, e isso significava ter uma dificuldade enorme de lembrar a coreografia. A direção estava ficando irritada comigo e eu tinha certeza que as dançarinas também, embora não demonstrassem.
Era quase inacreditável o quão aliviador foi quando finalmente acertei e o diretor decidiu encerrar as gravações. Tivemos uma pequena celebração pelo final dos trabalhos, abrindo uma garrafa de champagne. Após trocar de roupa, Cat praticamente me arrastou de lá.
Jack veio junto no carro, falando sem parar sobre como eu estava linda e o quão orgulhoso ele se sentia por ter encontrado o look perfeito para a situação. Simplesmente acenei com a cabeça conforme a excitação em sua voz aumentava, não conseguindo me concentrar mesmo que quisesse lhe dar atenção de verdade. Um beliscão em meu braço direito me fez ouvir o final de seu discurso.
-...e eu estou simplesmente radiante por seu encontro hoje à noite. Assim que chegarmos ao hotel, você vai tomar um banho e vamos ao trabalho imediatamente, ok? - ele sorriu, apertando minha bochecha antes de pegar seu celular e se desligar do mundo.
Com suas palavras, senti o peso do trabalho de hoje em meus ombros. Estava cansada, pela maneira abrupta com que fui acordada de manhã, pela entrevista e toda a correria da gravação. Tudo que queria era tomar aquele banho sagrado e cair na cama, para um sono muito merecido.
Mas todos sabíamos que isso não se tornaria verdade. Suspirando, me permiti fechar os olhos e descansar um pouco antes que chegássemos ao hotel e tudo voltasse a ser uma loucura.
***
Baby liss, grampos, esmaltes, cremes hidratantes, quantidades ridículas de maquiagem de todas as marcas de todos os tipos e tantas, tantas roupas diferentes penduradas em uma arara em um canto distante do quarto; parecia que todas aquelas roupas estavam tirando uma com a minha cara. Elas podiam ficar em paz. Eu não.
Eu era o objeto de interesse. Eu era a barbie que precisava ficar perfeita para o público assistir, para que acreditassem que meu pequeno conto de fadas era tão belo e aparentemente intocável quanto pudesse ser. Jack havia transformado minha suíte em um quartel-general. Eu estava sentada em uma cadeira de madeira vintage que originalmente ficava perto da mesa de jantar, minha bunda já amortecida pelo que eu acreditava ser uma quantidade de tempo perigosa.
Nós estávamos nessa tal sessão make-over há pelo menos 3 ou 4 horas, e o peso de minhas pálpebras estava ficando difícil de aguentar. Eu quase adormeci enquanto eles aplicavam sombra nelas.
Sim. Eles. Havia tantas pessoas entrando e saindo, compartilhando tarefas que eu certamente era capaz de fazer sozinha; por Deus, Jack poderia fazer tudo sozinho - e muito melhor que todos juntos. Ele cuidava de mim em tours por estádios praticamente sem ajuda.
- Quando você acha que vai acabar? - minha voz soava baixa enquanto eu tentava fazer com que apenas Jack me ouvisse. A última coisa que eu queria era alguém reclamando do meu "mau comportamento". Já tinha acontecido antes. E mesmo que eu odiasse a demora disso tudo e toda a ideia por trás disso, não conseguia parar de pensar em como eu estava ficando. Não me deixaram ficar de frente para o espelho. Jack falou sem parar sobre como isso estragaria a surpresa e me encontrei simplesmente concordando com a cabeça quando ele pediu para virar a cadeira. Não sem rolar os olhos fazendo questão que ele visse, é claro.
- Está quase pronta. - Jack respondeu, passando um pouco mais de pó no meu rosto antes de dar um passo para trás e checar seu trabalho. O fato de ele não esboçar reação alguma me fazia ficar ansiosa. Ele conseguia ser um idiota quando queria.
- Ah, Jackie, eu quero me ver! - grunhi, fazendo um bico exagerado.
Ele deu uma risada, pegando minha mão esquerda e me ajudando a levantar.
- Nós só precisamos te vestir e prometo que vai se ver no espelho. - ele beliscou minha bochecha, sorrindo antes de amassar meu cabelo e delicadamente rearrumar os cachos.
Mais pessoas se enturmaram ao meu redor e, sem pudor algum, removeram o macio robe de minha pele, me deixando em nada além de minhas roupas íntimas. Eu estava acostumada com esse tipo de "intimidade" com pessoas que nunca vi antes, mas no começo da carreira sempre me encolhia e tentava me cobrir.
Os rostos, os belos rostos de stylists e maquiadores mostravam concentração conforme seguravam roupas à minha frente, debatendo se eu devia usar isso ou aquilo. Durante o processo, meus olhos analisaram as inúmeras opções e um vestido em particular chamou minha atenção. Se eu iria conhecer meu futuro ex-namorado hoje à noite, poderia pelo menos ficar bonita. Só pelo prazer de provocar.
O quarto caiu em silêncio enquanto ponderavam sobre minha escolha, e após um segundo todos concordaram e começaram a me ajudar a vesti-lo.
Coube perfeitamente. E quando eles finalmente ficaram satisfeitos, e eu já havia subido nos scarpins Louboutin, fui guiada até o espelho de corpo inteiro que ficava na parede ao lado da cama. Minha respiração ficou presa na garganta enquanto tentava absorver a imagem refletida. Eu tinha ido a inúmeros eventos e premiações usando lindos vestidos mas hoje... eu me sentia muito bonita. Mesmo que estivesse arrumada pelos motivos errados e para impressionar a pessoa errada.
O vestido era curto de renda preta e fundo de mesma cor, abraçando meu corpo e acentuando qualquer curva que havia. Tinha pequenas mangas que eram apenas de renda, e batia na metade da minha coxa. Exatamente o comprimento perfeito para andar sem ter que ficar abaixando a barra a cada dois segundos. Também não tinha decote, o que me deixava grata.
Meu cabelo caía por minhas costas, em ondas soltas, como se eu houvesse deixado que secasse naturalmente. Minha maquiagem era simples - delineador preto de gatinho, um blush rosa claro trazendo cor às minhas bochechas e batom vermelho tornando meus lábios convidativos.
- Você está parecendo com alguém que está pronta para partir um milhão de corações. - Jack declarou orgulhosamente, pegando minha mão e me fazendo girar.
Eu ri do que ele disse, grata por sua companhia e pelos elogios de todos no quarto. E exatamente quando terminei de colocar os acessórios, um segurança entrou no quarto e anunciou que meu carro estava esperando lá fora.
Peguei as mãos de Jack nas minhas, de repente sentindo pânico. Meus olhos arregalados procuravam os seus desesperadamente, e quando nossos olhares se encontraram, os seus castanhos brilhavam com uma sensação de calma que tinha a intenção de me tranquilizar.
- Você está de tirar o fôlego. - ele disse, pressionando seus lábios nas costas de minhas mãos. - Não se preocupe, querida. Tudo vai ficar bem.
Era tudo que eu queria.
***
Minhas pernas pareciam gelatina e nada confiáveis para andar de salto, então fiquei extremamente agradecida pelo braço que meu próprio segurança, Will, estava oferecendo. Nós estávamos saindo do hotel por trás, como se eu desse a mínima pela "discrição" do meu "relacionamento". Quase fiz aspas no ar para combinar com meus pensamentos, mas não confiava em mim mesma o suficiente para soltar o braço de Will.
- Você não parece muito feliz com a situação, senhorita. - ele disse. Não era uma pergunta. Não havia sequer um pouquinho de incerteza em sua voz.
Forcei um sorriso, tentando o máximo que alcançasse meus olhos. - Está tudo bem, Will. Só estou um pouco nervosa. - pausei, andando para o lado para que ele abrisse a porta do carro para mim. - E por favor, para de me chamar de senhorita. - Falei a ele pela milésima vez, sorrindo verdadeiramente agora.
- Como quiser, .
A porta mal havia fechado quando uma mão tocou a minha. Não havia prestado atenção no interior do carro quando entrei, me concentrando na batida da porta e no som do motor acelerando.
Era Cat.
- Essa é provavelmente a primeira vez que não estou feliz em te ver. É um sentimento estranho. - apontei, contornando o padrão do desenho em minha clutch com as pontas dos dedos.
- Temos muito a discutir antes que você chegue ao restaurante. - ela anunciou, ignorando completamente o que eu disse. Ela olhou para seu colo e foi então que notei a presença de algumas folhas ali. Cat folheou por elas silenciosamente, e puxou uma caneta da bolsa a seu lado antes de me dar tudo.
- O que é isso? - perguntei, franzindo as sobrancelhas.
Mas Cat não me respondeu. Ou ao menos eu não ouvi se ela falou alguma coisa. Meus olhos analisaram a primeira página, tentando entender aquelas palavras, processá-las. Como isso era possível?
Era um contrato. De minha gravadora. Sobre meu falso relacionamento.
Não continha muitas páginas - três ou quatro; consegui ler tudo enquanto o carro continuava em seu caminho e Cat continuava em silêncio ao meu lado. Era loucura. Eu não havia pensado que fosse algo tão sério assim. Sair com outro cara famoso por alguns meses pela mídia e então "tragicamente" terminar tudo.
Mas aqui estava eu, olhando para a última página de um contrato que me dizia que eu seria multada em milhões e perderia todo o direito sobre meu próximo álbum e todo seu conteúdo se não ficasse nesse relacionamento por quanto tempo eles precisassem. Eu perderia dois anos de trabalho árduo se não agisse como se estivesse nas nuvens.
Minhas mãos tremiam, a caneta que segurava produzindo um barulhinho irritante por causa disso. Eu queria chorar. Meus olhos estavam ardendo pelas lágrimas, minha visão embaçando. Mas eu o fiz. Rabisquei minha assinatura, percebendo que aquilo era algo muito mais sério do que eu julgava.
Mas minha carreira... Eu precisava que ela sobrevivesse. Não pelo dinheiro - eu tinha dinheiro. O suficiente. Mas ela era tudo para mim, minha vida inteira. Então devolvi os papéis assinados para Cat e tentei ao máximo não destruir minha maquiagem.
- Sinto muito. - Cat começou, sua voz baixa e carinhosa. - Eles julgaram isso tudo necessário. Juro que assim que o álbum for lançado, vou te tirar disso. Você me entende, ? Olhei para ela, sorrindo um pouco. Eu não queria que ela se sentisse mal por isso, nem um pouco. - Tudo bem, Cat, sério. Eu estou bem.
Ela estendeu a mão e apertou a minha. - O que você tem que fazer hoje, é fácil-
- Espera. - levantei um dedo, interrompendo-a. - Quem é esse cara misterioso, afinal? Não sei nem seu nome.
- Não posso te contar. Mas tenho certeza que você não vai se sentir tão mal assim quando vê-lo. - ela me cutucou e piscou como se para confirmar o que dizia, e com a risada que dei, a tensão pareceu diminuir. - Mas sério, tenho algumas coisas pra te falar. E acho que já estamos quase lá.
***
Era simples. Tudo que eu tinha de fazer era andar até a mesa. Cumprimentá-lo com um beijo na bochecha ou talvez muito próximo aos lábios. Ele iria puxar a cadeira e me ajudar a ficar confortável. Sorriríamos e pediríamos vinho - o mais caro. Haveria conversa fácil, mais sorrisos, pediríamos comida e durante o jantar, talvez, nossas mãos se tocariam sobre a mesa - e Cat deu ênfase a SOBRE a mesa.
Era simples, repeti a mim mesma de novo e de novo como um mantra, a partir do momento que o motorista me ajudou a sair do carro e eu comecei a curta caminhada para dentro do chique restaurante. Havia alguns paparazzi, o que, para ser sincera, eu já esperava, e eles não hesitaram em tirar algumas fotos de mim. Estava certa de que essas fotos estariam em todo lugar ao amanhecer do dia.
Uma anfitriã sorridente me deu as boas vindas, e me dei conta de que não sabia em que nome estava a reserva. Por sorte, ela simplesmente pediu que eu a seguisse - meu acompanhante já estava esperando.
Eu podia sentir meu coração batendo forte contra minhas costelas, como se estivesse tentando sair, e o barulho em meus ouvidos era praticamente insuportável.
O lugar para onde estávamos indo parecia mais privado, mais exclusivo, embora fosse próximo às janelas. Havia apenas algumas mesas ocupadas e todas elas com mais de uma pessoa. Exceto uma. Perto da parede mais distante. E naquela mesa estava sentado um homem que eu conhecia muito, muito bem. Ele batucava seus dedos sobre a toalha de mesa, olhando para seu relógio e parecendo extremamente ansioso, ou irritado. Não conseguia identificar.
Eu o conhecia de seu filme mais atual, e era apaixonada por sua voz. Ele estava ficando cada vez mais famoso, fazendo milhões de adolescentes surtarem. O problema era, ele não era famoso apenas por sua voz linda e sorriso charmoso. Ah não, no nosso mundo, fofoca espalhava como fogo.
Ele dormia por aí. Como eu, era o oposto do que a mídia o pintava. Ele era um conquistador, de ponta a ponta. E eu estava bem ciente do quanto sua equipe batalhava para que seus fãs não soubessem de suas aventuras.
Tudo fazia sentido agora, nós devíamos consertar um ao outro. Ele devia consertar minha imagem de vagabunda, e eu devia consertar o seu eu conquistador.
Todo mundo vence.
Ele levantou assim que entrei em seu campo de visão. Mostrei um sorriso largo, uma tentativa sincera. Aquele cara era atraente, afinal. E não era sua culpa; nós estávamos nessa juntos. Cat estava certa quando disse que não me sentiria tão mal assim ao vê-lo. Mesmo assim, eu odiava isso.
A anfitriã nos deixou após dizer que um garçom logo traria os menus. Ela nos deixou lá, e eu não tinha certeza do que fazer. Mas ele se inclinou, tocando seus lábios levemente em minha bochecha, dizendo "Oi". Puxou minha cadeira, me ajudando a sentar e depois indo de volta ao seu lugar.
Era, de fato, muito romântico ali, com candelabros luxuosos pendurados com suas luzes baixas. A prataria em nossa mesa era da melhor qualidade; o ambiente fazendo quase parecer um encontro de verdade.
- . - o menino dos cabelos levemente cacheados respirou fundo, um sorriso brincando em seus lábios.
- Jamie Blackley. - juntei-me à brincadeira, erguendo uma de minhas sobrancelhas. Ele riu, uma risada rouca, quase alta. Seus olhos castanhos brilhavam na luz suave.
- Quando meu agente disse que eu teria de fazer isso, não fazia ideia de que seria com você. - ele começou, brincando com seu guardanapo. - Talvez se eu soubesse, não teria feito com que sua vida fosse um inferno nos últimos dias.
Últimos dias? Ele sabia de tudo antes de mim?
Ignorei a pergunta em minha cabeça, rindo também. - Não sabia que seria com você, também. Talvez se eu soubesse não teria sido tão legal. Talvez eu teria lutado mais pelo meu direito de não ser vendida. - pisquei, assistindo sua expressão mudar para uma que deveria mostrar ofensa, mas ele falhou miseravelmente.
- Com licença?! Eu sou um excelente partido! E se não me engano, os rumores dizem o contrário sobre você. - ele tocou em seu copo de água, passando a ponta de seu dedo indicador ao longo de seu topo.
- A mídia tende a errar às vezes. Você sabe como funciona. - desviei do assunto, dando de ombros. - Além disso, você não é tão bom assim em atuar. Ao menos longe das câmeras cinematográficas.
- Bem, então isso ferra com nós dois. - Jamie apontou nossa situação, e eu escondi meu rosto, murmurando um "Puta merda" exagerado.
E dessa forma, nós estávamos realmente rindo. Fazendo piadas. E pra ser honesta, todo o problema do relacionamento que estava em um contrato foi empurrado para o fundo de minha mente. O garçom nos trouxe menus, e Jamie pediu o melhor dos vinhos. Exatamente como no script. Nós tivemos uma conversa fácil, sobre música e o louco universo em que estávamos presos, e nossas mãos até se tocaram sobre a mesa. Exatamente como no script. Exceto que, quando ríamos, não era forçado.
Eu estava extremamente ciente das pessoas tirando fotos lá fora. Estava ciente de que todos estavam ali porque sabiam que algo especial estaria acontecendo. O primeiro encontro oficial de e Jamie. Não podiam perder isso. Era notícia merecedora de manchete. Um grande evento.
Após comermos, Jamie pagou a conta, e me guiou pelos fundos. Eu podia sentir que sua mão não saiu da base de minhas costas mesmo após ter me deixado andar um pouco à sua frente.
Deixamos o calor do restaurante para uma noite fria - era mais ou menos onze horas agora. Tremi sob a mudança repentina de temperatura, e isso não foi ignorado. Um segundo depois, o menino dos cabelos levemente cacheados colocou sua jaqueta sobre meus ombros.
Puxei-o para perto de mim, sentindo o calorzinho, e percebendo que cheirava a perfume caro, e aquele cheiro característico de homem. Aquele cheiro que nunca conseguimos realmente identificar.
- Aonde está sua carona? - perguntei após agradecê-lo, notando que havia apenas um carro esperando.
- Temos que ir embora juntos. Provavelmente tem algum paparazzi escondido por aqui. - ele murmurou próximo à minha orelha; não queria que ninguém além de mim ouvisse.
Suspirei, entrando no carro e, após ele se juntar a mim e fechar a porta, disse, - Vão tentar nos fazer dormir juntos?
Jamie riu, sentando-se mais perto de mim. - Acho que não. Embora ache que não seria um problema tomar uma decisão sobre isso. - ele deixou seu braço envolver meu ombro de brincadeira e eu o empurrei, rindo.
- Não fique muito esperançoso, sr. Blackley. Pode ser que consiga um coração partido. - ameacei, olhando para ele.
Seus olhos castanhos brilhavam com um tom de desafio, e o que ele disse a seguir fez um calor subir para minhas bochechas. - Nunca aconteceu comigo antes. Um coração partido. Acho que não seria tão ruim assim ter minha primeira vez com você.
***
A primeira coisa que fiz ao chegar no quarto de hotel foi entrar no banho. Sim, de novo. Sentia-me suja, carregada de tanta maquiagem e tão exausta dos recentes eventos. Como era possível uma pessoa passar por tanta coisa em um único dia?
O "encontro" havia sido tão diferente de minhas expectativas; pra ser bem honesta, nem sabia quais eram minhas expectativas. Tudo que sabia era que não havia sido tão ruim assim. Talvez Jamie e eu poderíamos nos tornar amigos e fingir toda essa história sem perder a cabeça.
Jamie havia dado em cima de mim durante todo o caminho de carro até aqui, roubando risadas de mim a cada dois segundos; ele havia se assegurado de me deixar em frente aos elevadores, na recepção do hotel, e deu um leve beijo em minha bochecha. A pele que seus lábios encostaram ficou formigando. Balancei minha cabeça para tentar me livrar do sentimento assim que as portas se fecharam e ele estava fora de vista.
Minha cabeça estava incansável, lutando contra o peso de minhas pálpebras. Tudo que eu queria era minha cama. Saí do banho e terminei de tirar toda minha maquiagem, colocando um de meus pijamas mais fresquinhos e me aprontando para dormir.
Foi então que ouvi uma batida bem de leve na porta do quarto. Difícil de ouvir. Quase a ignorei, mas então aconteceu novamente.
- Ai, Jack, você simplesmente não consegue se segurar, né? - dei uma risada, imaginando que ele estivesse ali para saber como foi o encontro.
Mas quando girei a maçaneta e abri a porta, era a pessoa que eu menos esperava ver que estava do outro lado.
- O que diabos você está fazendo aqui? - minha voz demonstrava os meus exatos sentimentos, saindo totalmente desafinada de choque e confusão.
Jamie passou por mim e entrou no quarto sem ao menos se incomodar em pedir permissão, encostando seu ombro no meu no caminho.
- Olá novamente, . - ele murmurou, olhando ao seu redor. - Até que seu quarto é bem legal, hein?
- Sabe, eu poderia facilmente fazer um escarcéu aqui e chamar o segurança, e levaria um segundo para que ele viesse e chutasse a sua bunda pra fora daqui. - ergui minhas sobrancelhas, recebendo de volta nada além de um sorriso convencido.
- Bem, você vai fazer isso? - ele provocou, tão irritantemente seguro de si mesmo.
Um suspiro pesado passou por meus lábios enquanto eu fechava a porta. A última coisa de que precisava agora era uma comoção.
- Sério mesmo, o que está fazendo aqui? Por que não foi embora? - indaguei, andando até ele e notando que havia algo em suas mãos. Uma garrafa de vodca.
- Não te contei? Meu agente disse que eu tinha que passar a noite aqui. - ele explicou, dando de ombros. O que ele estava pensando, trazendo uma garrafa de vodca pro meu quarto?
- E você, por acaso, não tem seu próprio quarto?
Jamie riu, apontando para mim conforme dizia, - Tenho, mas qual diversão eu teria lá sabendo que poderia estar aqui com você?
Eu sabia que estava com a cara vermelha nesse momento. Senti o calor subindo às minhas bochechas, e, de repente, esse quarto parecia mais quente do que o normal. Por que ele tinha que ficar fazendo isso?
- E a vodca? Acho que tomamos álcool o suficiente pela noite no restaurante. - tentei desesperadamente mudar de assunto.
- Foi só uma garrafa de vinho que não teve efeito nenhum pois estávamos comendo. Você é tão entediante, .
- Você é tão idiota, Jamie.
- Aposto que você não quer beber porque não aguenta nem um pouquinho de álcool. - ele começou, andando até mim e ficando muito, muito perto. Eu podia sentir o cheiro de seu perfume, e aquilo estava me deixando tonta. - E está com medo que o famoso conquistador Jamie se aproveite de você. - sua mão subiu até que encostou em meu rosto, seu polegar passando levemente sobre meu lábio inferior. Empurrei sua mão, pegando a garrafa dele e tirando a tampa.
Não consegue aguentar um pouco de álcool. Ele era tão cheio de si. Tomei um grande gole da vodca, limpando minha boca com as costas da mão assim que terminei, e oferecei a garrafa de volta. A bebida desceu queimando, mas não demonstrei nenhum sinal disso.
- Então a mídia não mente sobre tudo. - ele riu e eu rolei os olhos. Jamie estava prestes a tomar um gole também mas pausou com a garrafa no meio do caminho. - Sabe o quê? Não tem graça nenhuma beber simplesmente por beber.
- O que você quer dizer? - franzi as sobrancelhas, inclinando minha cabeça para o lado.
- Precisamos de um jogo.
- Um jogo? - repeti, um pouquinho perplexa. O calor da vodca já estava se espalhando por mim, e eu só tinha tomado um gole. A verdade era que eu era fraca para álcool; o único motivo por que não fiquei bêbada no jantar era o fato de ter tomado apenas um copo de vinho. Jogar algo que envolvesse bebida, ainda mais uma garrafa inteira dela, definitivamente não era uma boa ideia. Definitivamente.
- Claro. - seu sorriso aumentou, aquele olhar convencido ao qual eu já estava me acostumando dominando suas feições. - O quê? Você está com medo? - ele balançou a cabeça, mostrando decepção.
- Que jogo você tem em mente?
- Você já... - ele sugeriu, seus olhos brilhando.
Bufei, deixando-o ver como eu achava a ideia ridícula. - Você já? Ta falando sério?
- Por quê? Você tem alguma sugestão melhor do que fazer?
Dormir. Assistir TV. Tentar escrever novas canções. Dormir!!! Todas essas opções faziam cócegas na minhas língua e garganta, mas, por alguma razão, o único som que saiu de minha boca foi o de um suspiro, e sentei-me na cama. Jamie imediatamente tomou o espaço à minha frente, chutando seus sapatos e cruzando os pés abaixo de suas coxas.
Facilmente confortável. O que havia de errado com esse cara?
- Já que você está obviamente tão animada com isso, vou começar. - ele segurou seu queixo, parecendo pensativo. E então seu rosto se iluminou, e eu sabia que estava ferrada. - Você já ficou com mais de um cara em uma noite?
Dei uma risada, batendo em minha testa. - Que tipo de pergunta é essa?
- Só responde, .
- Tá, eu já fiz isso. - ele sorriu travessamente, me entregando a garrafa e assistindo enquanto eu dava um gole. - Ok, minha vez. Você já beijou um cara?
Senti meus olhos se arregalarem quando ele pegou a garrafa, minha boca formando um "O" chocado. - Tá de brincadeira? Aposto que foi com um daqueles caras com quem você anda, né?
- Isso é um jogo de Sim ou Não, portanto, não vou responder isso. - ele afirmou, erguendo uma única sobrancelha.
- Aposto que foi com aquele... Qual é o nome dele? T-alguma coisa... Tristan! Por alguma razão, esse nome me faz lembrar d'A Pequena Sereia-
- Liv! - Jamie interrompeu meu discurso, apontando para a garrafa. - Você já dormiu com alguém bêbada e se arrependeu na manhã seguinte?
- Oh-oh! Está ficando profundo, pessoal. - balancei as sobrancelhas, bebendo um gole. Não era uma memória agradável, mas eu tinha que jogar honestamente, se quisesse que ele fizesse o mesmo. - Você já usou um sutiã? - a pergunta veio seguida de um barulho indefinido que saiu de nossas bocas. Acho que foi o início de uma risada.
Deus, o álcool já estava começando a me atingir. Isso era tão idiota.
Mas para minha surpresa, Jamie bebeu da garrafa. Meu queixo caiu em surpresa, mais uma vez, mas ele simplesmente encolheu os ombros.
- Foi uma aposta idiota, você sabe como Verdade ou Desafio funciona.
- Provavelmente um pouco melhor do que esse jogo...- eu ri, cutucando seu estômago.
- Vamos continuar para a parte interessante do jogo. - ele semicerrou os olhos, inclinando-se em minha direção. - Você já mentiu para seus pais?
Ele perguntou isso de forma tão séria que não pude evitar cair na gargalhada.
- Essa foi uma pergunta tão brutal que vou beber um gole bem maior.
E então o fiz. E era minha vez de segurar meu queixo, tentando pensar em uma pergunta melhor do que as últimas. Lembrei-me de muitos rumores que ouvi sobre Jamie.
- Você já se envolveu fisicamente com aquela loira com quem foi fotografado em um momento comprometedor? - lembrei da foto; ela estava praticamente sugando sua cara num clube, acho, e eu não conseguia lembrar seu nome por nada.
- Lizzie? Ah, não, mas ela tinha ótimas habilidades labiais, se é que você me entende.
Levou um momento para eu processar a informação, e então franzi o nariz e dei um empurrão em seu ombro.
- Eca! Nojento!
- Ah sim, claro. - ele riu, se aproximando de mim. Seus olhos castanhos queimavam nos meus, e eu culpei o álcool pelo calorzinho que surgiu na boca de meu estômago.
- Seu pijama é adorável. - Jamie sussurrou após um segundo, sorrindo um pouco. - Minha vez agora. Você já beijou um cara de cabelo cacheado?
Ele me pegou de surpresa. Balancei minha cabeça devagar, indicando que não, assistindo seus lábios conforme ele se aproximava, até que eles tocaram os meus. Meu coração parecia prestes a sair do meu peito; Jamie começou a mover seus lábios contra os meus, e permiti que sua língua tocasse a minha e o beijo se tornasse mais profundo. Suas mãos se moveram para meu pescoço, polegares tocando minha mandíbula, e tive a vontade de correr meus dedos pelos seus cachos.
O que diabos estava acontecendo?
Parei o beijo, empurrando-o e saindo da cama. Meus olhos estavam queimando com lágrimas, e eu nem sabia por quê. Talvez porque eu estava realmente me permitindo ser vendida ao invés de fingir. Talvez porque lembrei-me de meu último fracasso amoroso, gritando comigo e me fazendo sentir o pior ser humano da Terra. Eu não podia arriscar me envolver com esse cara. Ele era um conquistador, acima de tudo. Nós tínhamos que nos tolerar, nada mais.
- , eu...- ele começou, levantando também e tentando me alcançar.
- Saia do meu quarto, Jamie. - pedi em uma voz baixa, mordendo meu lábio inferior.
Eu ainda podia sentir seu gosto, seu gosto misturado com a vodca que bebemos.
- Desculpe, eu pensei-
- Só sai daqui, por favor.
O menino dos cabelos levemente cacheados à minha frente suspirou, virando-se e fazendo o que pedi.
O que havíamos acabado de fazer?
***
Na manhã seguinte, pela primeira vez em algum tempo, fui acordada por um despertador, e não por berros. Quase senti-me estranha ao sentar na cama, cumprindo a rotina de esfregar os olhos, bocejar e desejar dormir por mais alguns anos. Meu sono não foi tranquilo, preenchido por situações envolvendo Jamie e o gosto que ele deixou em minha boca; a maioria delas eu jamais contaria a alguém. Não consegui descansar, acordando de pouco em pouco com o coração acelerado e uma vontade enorme de achá-lo e bater nele até não querer mais.
Aproximadamente um minuto após o despertador, Cat invadiu o quarto, parecendo pronta pra tocar o terror e me tirar da cama. Mas, ao me ver sentada, parou e sorriu.
- Bom dia, querida! Como foi sua noite? - ela perguntou, parecendo animada. Notei que segurava seu tablet além do celular, e estranhei aquilo. Ele era exclusivo para trabalho que eu nunca chegava a ver.
- Foi horrível, obrigada. Queria poder dormir o dia inteiro. - resmunguei, saindo da cama e me espreguiçando. Senti minha cabeça latejar, mais um lembrete da besteira que fiz há algumas horas. Se ela soubesse, não tenho certeza se adoraria a notícia ou ficaria chocada.
- Sinto muito, . Tem a ver com o Jamie? - ela perguntou cuidadosamente, se aproximando e passando uma mão por meu cabelo embaraçado.
Não falei nada, apenas assenti com a cabeça e dei um meio sorriso.
- Espero que não tenha sido nada muito sério, pois daqui a quinze minutos ele estará na porta pra vocês descerem para o café juntos.
Praticamente guinchei ao ouvir isso, - Não acredito, Cat! - gemi, passando a mão em minha testa. - Não sei se vou conseguir fazer isso.
- Claro que vai, . - ela apertou meu ombro. - Precisa de alguma coisa?
- Um remédio pra dor de cabeça, por favor. - parecia que minha cabeça iria explodir a qualquer segundo. Eu iria ter que olhar pra cara de Jamie em menos de quinze minutos. Que sortuda.
- Pode deixar. Mas antes, quero te mostrar uma coisa. - Cat sorriu fracamente, desbloqueando a tela do tablet.
Ah. Ele tinha um propósito.
A tela que apareceu a seguir foi a de um dos sites de fofoca mais famosos de todos, mostrando uma manchete enorme com uma foto de Jamie e eu sentados frente a frente, sorrindo e com as mãos se tocando sobre a mesa. Dizia: "Novas canções de amor a caminho?"
Quase dei uma risada com aquilo, se não fosse tão deprimente. Pelo pouco que li da matéria enquanto Cat segurava o tablet, percebi que os jornalistas comemoravam o início de um novo romance, mas já declaravam sua sentença de morte. Tão previsível.
- Espero que a gravadora esteja feliz. - murmurei secamente, deixando minha agente e entrando no banheiro para me arrumar.
Fiquei lá por dentro pelo que restava dos quinze minutos que tinha, saindo apenas para pegar um vestido e maquiagem. Cat me avisou pela porta que seria um dia mais tranquilo, com apenas uma entrevista para uma revista e daríamos uma passada no estúdio para checar o andamento do CD.
Senti-me aliviada. Pelo menos por um segundo antes de ter que encarar Jamie.
Ao final dos quinze minutos, ouvi uma batida na porta do quarto. Com certeza era ele. Meu coração falhou uma batida e depois acelerou, e quase acertei o pincel de blush em meu olho. Quase.
Controle-se, . Foi só um beijo e você o expulsou do quarto. Só isso. Nada de mais.
Saí do banheiro após respirar fundo algumas vezes, e me deparei com seus olhos castanhos logo de cara. Jamie sorriu, descaradamente me analisando da cabeça aos pés, e depois acenando com a cabeça em aprovação.
- Bom dia, . - ele finalmente disse, e pude perceber pela visão periférica que Cat tentava disfarçar um sorriso.
Lancei um olhar assassino em sua direção, mas aparentemente minha agente não captou a mensagem.
Eu o respondi e pegamos o elevador para o térreo, onde ficava a área de refeições do hotel. Cat nos lembrou de dar as mãos antes que as portas se abrissem; ela desceria em outro.
Não conseguia acreditar que isso estava realmente acontecendo. Parecia ainda mais ridículo do que eu tinha imaginado.
- Vamos falar sobre o que aconteceu ou não? - Jamie quebrou o silêncio que havia se instalado no momento em que as portas do elevador fecharam.
Respirei fundo, cutucando o esmalte da minha unha. - Eu preferiria não falar.
- . - sua voz era baixinha, parecia tentar me convencer. A mão dele tocou a minha e foi como se um choque houvesse passado por meu braço. - Nós não estávamos nem bêbados. Você demorou a me afastar. Vai dizer que não sentiu nada?
Deixei-o na expectativa, relembrando aquele breve momento. Relembrando as risadas no restaurante, e no caminho de volta. As idiotices na brincadeira da bebida.
Nós tínhamos nos conectado, de alguma forma, mas foi apenas uma noite. Apenas um beijo. Eu não podia entregar o ouro dessa forma. Já tive experiências ruins demais com um começo igual a esse.
- Foi apenas um beijo, Jamie. Não crie expectativas. - murmurei, séria, evitando seus olhos.
Ouvi uma riisada leve brincando em seus lábios, logo antes dele dizer, - Você verá.
Nesse momento, o elevador indicou que chegamos ao térreo. Um segundo antes das portas se abrirem, Jamie segurou minha mão, entrelaçando nossos dedos, e senti minha respiração falhar por um segundo. Mas eu não deixaria transpareccer. Então forcei um sorriso, e começamos a nos dirigir ao local do café.
***
Um mês depois
As coisas andaram malucas; entre os últimos detalhes do CD para seu lançamento, a estreia do meu novo clipe, e fingir o namoro com Jamie, eu mal tinha tempo para respirar. Mas, ao ver meu novo single no topo das principais paradas, sentia-me maravilhosa. Tudo estava perfeito.
Ou quase tudo.
Jamie ainda não havia desistido. Ele tentava me conquistar de todas as formas: flores, chocolates, encontros. É claro que tínhamos de fazer tudo isso de qualquer forma, mas sentia seu esforço por trás de cada gesto.
Tinha de admitir: eu gostava dele. Muito. Acabei conhecendo cada um de seus detalhes. A maneira como ficava tão concentrado ao tocar e cantar que se perdia em seu próprio mundo - passamos vários momentos no quarto, com nossos violões, fazendo covers ou fazendo música. Sua risada extremamente... linda. Ele era um doce. Não conseguia acreditar que a mídia o havia transformado em um babaca. Ele era um pouco convencido e sarcástico, mas isso não o fazia uma má pessoa.
Só que eu ainda tinha medo. Ainda lembrava do pesadelo que foram os últimos momentos de meu último relacionamento, apenas alguns meses antes. Não queria arriscar passar por aquilo novamente.
Então deixei que Jamie me cortejasse, permiti que ele fosse próximo de mim. Mas nunca mais que um amigo. A amizade fazia a situação muito mais suportável.
Nessa noite, tínhamos uma premiação de música à qual comparecer. Seria uma noite extremamente importante para "nós", como "casal". Ao menos, foi o que Cat disse. E ela muito frequentemente estava certa.
Jamie e eu nos arrumamos em quartos lado a lado, e, quando estávamos prestes a sair, ele apareceu desesperado.
- , eu não consigo ajeitar a grav- - ele começou, invadindo meu quarto, mas parou no meio da frase ao me ver. - Uau.
Seus olhos mostravam, sem pudor, o que ele devia estar imaginando. Senti minhas bochechas corarem, e não consegui evitar um sorriso envergonhado.
Eu estava usando um vestido longo tomara-que-caia vermelho escuro, agarrado ao meu corpo, com pontos de luz que refletiam suavemente. Usava saltos Louboutin, acessórios bem discretos, batom vermelho e delineador gatinho, e meu cabelo estava preso em apenas um lado, levemente ondulado. Precisava admitir, sentia-me linda. E a reação de Jamie reforçava esse sentimento.
Sorri, dando uma voltinha para que ele tivesse uma melhor visão, mas senti suas mãos em minha cintura antes que pudesse completá-la. A respiração de Jamie e seu hálito quente batiam na pele nua de meus ombros e pescoço, e um arrepio percorreu minha espinha.
Girei, ficando de frente para ele e passando meus braços ao redor de seu pescoço.
Nossos rostos estavam a centímetros de distância; nossas respirações se misturando e se confundindo.
- Gostou? - sussurrei, encostando meus lábios nos seus muito levemente. Ele assentiu, e afastei-me antes que pudesse ficar ousado, segurando as duas pontas de sua gravata desfeita. - A sua sorte é que sou expert em gravatas.
- ... - James gemeu conforme eu fazia o nó. Olhei em seus olhos e pude ver a agonia nadando em seus castanhos. - Você vai me matar.
- Não vou, não. - sorri, apertando o nó até que a gravata estivesse no lugar. - Gosto demais de você para te matar.
***
A premiação foi incrível. Os flashes eram quase cegantes ao chegarmos ao tapete vermelho - o casal mais esperado da noite, anunciavam os fotógrafos. A mão de Jamie em minha cintura me mantinha segura em meio a todo o assédio, e seu sorriso me passava calma.
Ele sabia que era uma noite difícil para mim; havíamos conversado sobre o assunto antes.
Meu ex. Seria a primeira vez que o veria pessoalmente desde o fim, e ele estava com alguém também. Uma supermodelo com o corpo perfeito; capa de revistas constante.
E quando os vi, foi realmente difícil, mas apertei James com tanta força que ele logo se tocou e me levou para longe dali, dizendo coisas que me tranquilizaram. Eu me tornava mais grata por sua companhia a cada segundo.
Odiava o fato de tudo isso ter começado por conta de um contrato assinado.
Após a cerimônia, o motorista nos levou à after-party; um dos maiores clubes de Los Angeles havia sido fechado para esse evento. Famosos, música, e álcool. Muito álcool.
Não conseguia nem imaginar como isso tudo ia terminar.
Assim que chegamos ao lugar, Jamie pediu que eu esperasse pois iria buscar uma bebida para nós. Assenti e ele me deu um beijo na testa, sumindo na multidão de corpos que começava a se amontoar na pista de dança.
Ele mal havia saído quando senti uma mão envolvendo a minha, e fui puxada, às cegas, até a parte traseira do clube. Tentei chamar a atenção no caminho, mas a música alta tornava meus esforços inúteis. Eu sabia que era um homem, e tinha medo de quem fosse.
Ele nos trancou em uma sala de produtos de limpeza, e então pude ver seu rosto.
- O que você acha que está fazendo? - Harry parecia completamente lúcido, chegando a ser um pouco assustador. O verde de seus olhos estava agora escuro, suas narinas inflando por conta de sua respiração pesada. Eu quase sorri orgulhosa ao testemunhar essa cena. 1 x 0 Harry.
- Acho que eu deveria lhe perguntar isso. - franzi o cenho, permitindo que meu olhar transparecesse a raiva que estava sentindo. E, ao mesmo tempo, sentia meu coração acelerado por estar tão perto dele. - Eu estava indo dançar com o Jamie, e você simplesmente me arrasta de lá?!
Harry soltou uma risada irônica, dando alguns passos em minha direção. Andei para trás, tentando manter a distância entre nós, mas acabei encostando na parede. Ele agora estava perigosamente próximo a mim. Tão próximo que eu podia sentir o calor de seu corpo e o cheiro de seu perfume.
- Você acha que está enganando a quem com essa encenação toda? - seu hálito de menta atingiu meu rosto, e lutei contra todas as minhas forças para não fechar os olhos. Não podia demonstrar fraqueza.
- Encenação?
- Com seu namoradinho de merda. - Harry foi direto, seu olhar queimando no meu. Ele apoiou suas duas mãos na parede, uma a cada lado de meu rosto, aproximando sua boca de meu ouvido. - Me diga, , ele consegue te fazer sentir o mesmo que eu?
Mordi meu lábio inferior, prendendo um suspiro. Fechei os olhos por um segundo, lembrando de todas as brigas, de tudo o que aconteceu. Eu tinha algumas coisas a dizer.
- Você me deixou. - murmurei, sentindo seu corpo enrijecer. - Você me deixou sozinha, sabendo que eu precisava de você. Eu te amava, Harry.
Parei por um segundo. Tentava segurar as lágrimas que faziam meus olhos arderem, tentava engolir o nó que se formou em minha garganta. Só que dessa vez, não eram lágrimas de tristeza. Eram de decepção.
O menino dos olhos verdes lentamente se afastou de minha orelha, encostando sua testa na minha. Tentei não olhar em seus olhos, mas meus esforços foram em vão. Eu tinha que aproveitar aquele momento para tirar a dúvida que havia me feito chorar até dormir por tanto tempo. E ele iria me responder de qualquer forma.
- Por que você fez isso comigo? - minha voz saiu embargada, quase um sussurro.
- Você nunca entenderia. - ele sussurrou, também; seus próprios olhos pareciam refletir o que eu sentia.
Xinguei-me mentalmente. Era óbvio que ele não havia sofrido metade do que sofri.
- Faça-me entender.
- Foi uma ordem, . E você sabe que não podemos nos dar ao luxo de dizer não a ordens.
Ele se afastou de mim, passando a mão pelos cabelos.
- Uma ordem? - indaguei, confusa.
- Sim. Minha agente, num belo domingo, me disse que eu tinha que terminar nosso namoro. Que aquilo, nós, já havia cumprido seu papel na mídia. - ele pausou, voltando para perto de mim e pegando minha mão. Tentei me desvencilhar, mas ele a apertou forte contra seu peito.
- Tentei convencê-la. Falei que te amava, mas não adiantou. Me arrependo todos os dias de ter feito aquilo, .
Eu podia sentir seu coração batendo acelerando, e seus olhos brilhando com lágrimas.
- Por favor, me perdoa. Vamos tentar de novo. - Harry implorou, uma lágrima solitária escorrendo de seu mar esverdeado.
Mas eu já tinha superado isso. Inconscientemente, eu havia superado essa situação. Achava que não, estava com medo de encontrá-lo. Mas, percebia agora, era a melhor coisa a fazer.
E eu sabia quem era o responsável por minha "recuperação".
Então, juntei minhas forças e consegui me desvencilhar de seu aperto.
- Desculpe. Não poderíamos fazer isso com sua nova namorada. - foi tudo que disse, desviando-me dele e saindo daquele quartindo o mais rápido que pude.
Eu me senti livre, ao dar de cara com aquele amontoado de corpos dançando, ao sentir o leve aroma de álcool no ar. E me senti esperançosa, ao ver Jamie vindo em minha direção, seus olhos e sorriso demonstrando alívio.
Ele me entregou uma taça de champagne, e pousou uma mão em minha cintura.
- Ainda bem que você apareceu, . Te procurei por toda parte! - sua mão me apertou levemente, trazendo-me para perto de si. - Você está bem?
- É claro que sim, sorri, passando meus braços em volta de seu pescoço e o beijando com tudo de mim. Sua mão livre contornava minha cintura, apertando-a e me puxando mais e mais até que não houvesse mais espaço entre nossos corpos. O calor dele fazia meu coração acelerar, mas ao mesmo tempo me sentia leve.
Quando nos separamos, corados e sem fôlego, sorri para ele ao pegar sua mão. - Venha, vamos dançar.
Eu estava em um sono profundo, caminhando pelas ruas de uma cidade desconhecida e sentindo uma leve brisa roçar meu rosto, trazendo consigo um cheirinho de mar. Percebi a presença de um homem a meu lado, mas não conseguia ver seu rosto direito; e até iria perguntar quem era ele, se não fosse o que aconteceu a seguir.
- Você tem noção de que são quase sete da manhã?! - uma voz feminina alta demais para o horário que anunciava me despertou com um susto, fazendo meu coração acelerar.
- Não, e você nunca deveria acordar alguém assim! - resmunguei em uma voz rouca, sentando na cama e esfregando meus olhos.
Foi só naquele momento que me dei conta de quem havia invadido meu quarto pra acabar com meu sono. Catherine Perkins, minha querida e única agente. A única pessoa, exceto minha mãe, que conseguia lidar com a árdua tarefa de cuidar de mim e que conseguia me fazer ouvir (alguns) conselhos (de vez em quando).
Ela era uma mulher alta de 35 anos, solteira e dedicada ao trabalho em período integral. Seus cabelos eram agora de um tom loiro bonito, e eu amava seu estilo. Cat usava jeans escuros, uma blusa branca e um blazer pink. Nós éramos muito parecidas, e por isso eu ousava chamá-la de "mãe adotiva", mesmo que ela fosse apenas 13 anos mais velha.
- Me desculpe, querida, é que você tem o This Morning às dez e alguma coisa, e precisam de você logo pra cabelo e maquiagem. - ela falou tudo em velocidade impressionante para alguém que estava acordada às sete da manhã. Ao terminar seu discurso, puxou as cortinas para o lado e permitiu que a luz do dia entrasse no quarto.
- Tudo bem, Cat. Tenho tempo para um mini-café-da-manhã? - perguntei, meus olhos brilhando cheios de esperança. Essa "refeição" era muito importante; aparições em TV eram enervantes, e me faziam uma bagunça de ansiedade mesmo agora que já devia estar acostumada. A última coisa que precisava era estar com fome.
Minha carreira de cantora começou no YouTube, assim como a maioria hoje em dia nessa indústria. Eu era sortuda o suficiente por ainda estar sob os holofotes após 4 anos, o que significava que eu tinha de trabalhar ainda mais para me manter nesse lugar.
- É claro, se você prometer tomar banho rápido, sua comida estará esperando quando sair. - Cat me lançou um sorriso, antes de olhar para seu telefone e digitar alguma coisa nele.
- Obrigada, você é a melhor mãe adotiva de todas! - pulei da cama e dei um beijo em sua bochecha antes de ir para o banheiro.
- A propósito, preciso conversar com você sobre algo muito sério. - ela anunciou no momento em que fechei a porta. Tentei ignorar o arrepio que correu por minha espinha por conta do seu tom de voz, e, após tirar meu pijama, entrei num banho quente.
***
Era um pouco como uma revolta. Ou talvez muito como uma revolta. Não havíamos pensado muito em como os fãs tinham a incrível habilidade de nos achar. O resultado disso era uma multidão do lado de fora do hotel na hora em que saíamos.
Havia seguranças, muitos deles, tentando segurar a multidão e manter um caminho aberto para que os dois carros que estavam estacionados em frente ao hotel pudessem pegar minha equipe e eu.
Mesmo após todo esse tempo, meus olhos ainda lacrimejavam ao ver tantas pessoas dedicando seu tempo para me ver. Andei até eles e assinei alguns pôsteres e cadernos; havia muitas adolescentes, algumas com suas mães, e todos tentavam tocar em mim. Até tentei dar uma atenção a mais para elas, mas seguranças pegaram em meu braço e me disseram que eu tinha de ir.
- Entra logo no carro, ! - meu stylist e maquiador, Jack, me empurrou levemente, seu tom brincalhão e irritado ao mesmo tempo.
Fiz o que ele pediu e segurei sua mão para que ele entrasse também. Mas quando ele estava quase sentando, Catherine o puxou de volta e o mandou ir para o outro carro. Parecia que iríamos ter a tal conversa agora. E eu não podia sentir mais medo da expressão de Cat.
Nunca havia a visto tão séria. Nem mesmo quando temos horários malucos e prazos para novas músicas e artes de álbuns, ou quando temos dez minutos até que o show comece e eu ainda estou usando calça de pijama e moletom.
- Você está bem? - ela perguntou, sentando a meu lado e me analisando. Quase dei uma risada sarcástica.
- Estou fabulosa. Você, do contrário, não parece estar tendo o melhor dia de todos. - disse, pegando sua mão na minha. - O que está acontecendo? - É a gravadora. - ela suspirou tão pesadamente que eu podia sentir o peso começando a sair de seus ombros.
- O que fizeram?
Cat balançou a cabeça, tentando achar as palavras. - Eles querem fazer um... acordo, por assim dizer, com você. - ela começou, e seu rosto demonstrava que estava tendo uma batalha mental.
- Um acordo? Sobre dinheiro? - franzi as sobrancelhas, completamente confusa. O que estavam pensando?
- Não, não. - Cat suspirou novamente, o que me fez ainda mais nervosa. - É algo mais pessoal. Eles... - ela pausou, respirando fundo. - Eles querem que você namore.
Meus olhos arregalaram, uma risada fria e sarcástica deixando meus lábios.
- Não é como se namorar fosse tão fácil assim.
- Eu sei, é exatamente por isso. Eles querem que você namore alguém de sua escolha. Alguém famoso. Alguém que é recente e está deixando todos doidos. Seria muito benéfico para eles que você namorasse com alguém assim.
- Tem noção da merda que acabou de falar?! - passei meus dedos por meu cabelo, balançando a cabeça e tentando processar tamanha idiotice.
- Você precisa conquistar o público adulto, . Entende isso? Adolescentes podem até achar que você é incrível mesmo com todas as coisas ruins que a mídia fala - os artigos sobre o seu amor por baladas e seus casinhos de uma noite só que eles tanto adoram inventar... - ela parou de falar por um segundo, soando mais brava a cada palavra que dizia.
A mídia realmente adorava transformar uma saída minha para um clube com amigos em eu ficando com cada um dos caras daquele círculo de amizade. Eu já havia me acostumado, mesmo que aquelas palavras que eu era obrigada a ler machucassem.
Ela continuou, -... mas adultos não. E você é uma adulta agora. Precisa "sossegar". Ao menos até que seu novo álbum se estabilize e as vendas para a nova tour estejam a toda. - Catherine falava devagar, provavelmente esperando que eu surtasse e destruísse o interior do carro.
Balancei a cabeça novamente, devagar, totalmente descrente do que minha querida agente estava dizendo. - Isso é ridículo. Simplesmente ridículo. Não há a mínima chance de eu fazer isso. Não é minha culpa que a mídia pinte minha imagem como a de alguém ruim.
Após falar isso, cruzei meus braços e olhei para fora da janela ao meu lado, esperando que a discussão acabasse ali e que Catherine esquecesse o assunto.
Alguns segundos passaram, e o que ela anunciou me fez congelar.
- Se não fizer isso, a gravadora vai te deixar.
- O quê?! - senti como se meu coração houvesse descido para meu estômago, seus batimentos rápidos me fazendo mais enjoada a cada minuto. - Eles podem fazer isso?!
- Sim, podem. - ela confessou, apertando minha perna. - Seu contrato está quase acabando. Precisa renová-lo antes mesmo de seu novo álbum sair.
- Não tem nenhum jeito de sair dessa? - minhas mãos tremiam e eu tentava disfarçar apertando a saia de meu vestido. Isso era loucura. Por que diabos a gravadora cismava em me ter em um relacionamento?
- Tentei pensar em alguma coisa, mas eles não estão cedendo. E, se nos colocarmos em seus lugares, veremos que essa ideia é sinal de mais dinheiro. Você namorando com outra celebridade seria outra faísca na sua carreira. - Cat segurou minha mão e a apertou. - Pense nisso, . Tudo que você tem de fazer é sair algumas vezes, sorrir para os paparazzi, andar de mãos dadas, e vai conseguir o que quer. É só por um tempinho.
- Mas o fato de ser "só por um tempinho" significa que vai acabar. E a mídia vai me classificar novamente como a doce menina que não consegue manter suas pernas fechadas ou um relacionamento funcionando. Não preciso dessa confirmação porque já a tenho.
Suspirei profundamente enquanto tentava me conformar com a ideia de fingir estar apaixonada em frente a, literalmente, todo mundo. Era horrível e eu me sentia nojenta por enganar meus fãs tão abertamente.
Olhei para meu colo e depois para minha agente, mordendo meu lábio inferior.
- Talvez esse cara seja bom para você. - ela continuou, tentando achar maneiras de me fazer sentir melhor. - Talvez ele te faça sorrir. E nós duas sabemos que você precisa disso. Suas últimas semanas não têm sido exatamente boas.
A parte burra de mim provavelmente sorriria e se agarraria a essa possibilidade, esperançosa de que fosse verdadeira. Mas a parte inteligente, a parte que colecionava experiências (fracassadas) no amor, sabia que a (falsa) doce verdade era cruel. Achar felicidade num acaso? Impossível. Estamos no século XXI. Mas eu não via outra saída.
- Você tem certeza de que tenho de fazer isso?
Catherine simplesmente assentiu, ansiosa por ouvir o que eu tinha a dizer. Minha cabeça estava girando, a imagem de dar as mãos, beijar um cara que mal conhecia fazendo com que eu desejasse não ter comido. Não queria fazer isso. Mas também não queria desistir dessa gravadora. Era onde minha carreira inteira estava, onde todas as memórias estavam e onde todo meu trabalho havia valido alguma coisa. Não podia simplesmente desistir.
Com um coração pesado, murmurei, - Diga a eles que eu aceito.
***
- Não acredito que realmente vou fazer isso. - forcei um suspiro, esfregando minha têmpora numa tentativa falha de acalmar a dor de cabeça.
Minha agente, Cat, que estava sentada a meu lado no carro, apertou meu ombro em um gesto de apoio. - Tenho certeza que você vai passar por isso tudo sem maiores problemas. É só por um tempinho.
Bufei, dando uma risada irônica, - Você só diz isso porque não é quem deve fingir estar apaixonada.
Cat não tinha nada a dizer sobre minha declaração, aparentemente, pois o silêncio que se seguiu chegou a ser quase ensurdecedor até o final do caminho.
Nós havíamos acabado de sair do estúdio do This Morning, após uma rápida e divertida entrevista. Perguntaram sobre meu novo álbum, e falaram que as pessoas estavam ansiosas para ouvir o que eu estava preparando. Menos de uma semana atrás eu havia revelado qual seria o primeiro single e a data em que seu vídeo seria lançado. Daqui a três semanas, e ainda havia muito o que fazer.
Minha equipe e eu estávamos agora nos dirigindo ao set onde seriam filmadas as últimas cenas do vídeo de meu single, Sugar. Era no estilo burlesque, num famoso clube na cidade, e eu estava ansiosa pra ver como estava arrumado, se era como eu havia pensado e descrito para o produtor.
- Quando vou descobrir quem é o Príncipe Encantado, já que estamos falando disso? - a pergunta saiu antes que eu pudesse me conter; foi por pura curiosidade, embora sentisse um aperto no peito ao pensar nisso. Será que eu iria ao menos me dar bem com o cara?
No momento em que o carro parou, Cat disse, - A gravadora arranjou um encontro para vocês dois hoje à noite.
A porta foi aberta pelo motorista, uma rajada de vento frio nos pegando de surpresa. Ela roubou o ar que eu tentava recuperar após ouvir aquilo. Cat saiu do carro fácil e rapidamente, começando a andar em direção ao set. Eu, pelo contrário, não conseguia me mover.
Hoje à noite? Como eles iriam fazer isso tão rápido? Eu mal tive tempo para processar a ideia sem sentir meu estômago se contrair e ameaçar desperdiçar o pouco que eu havia comido!
- Senhorita? - uma voz masculina, que após olhar pra cima descobri pertencer ao motorista, me retirou de meus pensamentos.
- S-sim? - respondi, voltando aos meus sentidos.
- Não vai sair? Tem algumas pessoas chamando por você.
- Ah sim, claro. - consegui fingir um sorriso, saindo do carro para o apoio crítico de minhas trêmulas pernas.
Hoje à noite. Eu saberia quem supostamente ocuparia um lugar especial em meu coração hoje à noite.
Que maravilha.
***
A tarde foi ocupada, pra dizer o mínimo. Filmamos as últimas cenas do vídeo, em que eu dançava com algumas de minhas dançarinas favoritas enquanto fingia cantar.
Fui um absoluto desastre durante a coisa toda. Minha cabeça estava tomada por pensamentos de como a noite de hoje seria, e isso significava ter uma dificuldade enorme de lembrar a coreografia. A direção estava ficando irritada comigo e eu tinha certeza que as dançarinas também, embora não demonstrassem.
Era quase inacreditável o quão aliviador foi quando finalmente acertei e o diretor decidiu encerrar as gravações. Tivemos uma pequena celebração pelo final dos trabalhos, abrindo uma garrafa de champagne. Após trocar de roupa, Cat praticamente me arrastou de lá.
Jack veio junto no carro, falando sem parar sobre como eu estava linda e o quão orgulhoso ele se sentia por ter encontrado o look perfeito para a situação. Simplesmente acenei com a cabeça conforme a excitação em sua voz aumentava, não conseguindo me concentrar mesmo que quisesse lhe dar atenção de verdade. Um beliscão em meu braço direito me fez ouvir o final de seu discurso.
-...e eu estou simplesmente radiante por seu encontro hoje à noite. Assim que chegarmos ao hotel, você vai tomar um banho e vamos ao trabalho imediatamente, ok? - ele sorriu, apertando minha bochecha antes de pegar seu celular e se desligar do mundo.
Com suas palavras, senti o peso do trabalho de hoje em meus ombros. Estava cansada, pela maneira abrupta com que fui acordada de manhã, pela entrevista e toda a correria da gravação. Tudo que queria era tomar aquele banho sagrado e cair na cama, para um sono muito merecido.
Mas todos sabíamos que isso não se tornaria verdade. Suspirando, me permiti fechar os olhos e descansar um pouco antes que chegássemos ao hotel e tudo voltasse a ser uma loucura.
***
Baby liss, grampos, esmaltes, cremes hidratantes, quantidades ridículas de maquiagem de todas as marcas de todos os tipos e tantas, tantas roupas diferentes penduradas em uma arara em um canto distante do quarto; parecia que todas aquelas roupas estavam tirando uma com a minha cara. Elas podiam ficar em paz. Eu não.
Eu era o objeto de interesse. Eu era a barbie que precisava ficar perfeita para o público assistir, para que acreditassem que meu pequeno conto de fadas era tão belo e aparentemente intocável quanto pudesse ser. Jack havia transformado minha suíte em um quartel-general. Eu estava sentada em uma cadeira de madeira vintage que originalmente ficava perto da mesa de jantar, minha bunda já amortecida pelo que eu acreditava ser uma quantidade de tempo perigosa.
Nós estávamos nessa tal sessão make-over há pelo menos 3 ou 4 horas, e o peso de minhas pálpebras estava ficando difícil de aguentar. Eu quase adormeci enquanto eles aplicavam sombra nelas.
Sim. Eles. Havia tantas pessoas entrando e saindo, compartilhando tarefas que eu certamente era capaz de fazer sozinha; por Deus, Jack poderia fazer tudo sozinho - e muito melhor que todos juntos. Ele cuidava de mim em tours por estádios praticamente sem ajuda.
- Quando você acha que vai acabar? - minha voz soava baixa enquanto eu tentava fazer com que apenas Jack me ouvisse. A última coisa que eu queria era alguém reclamando do meu "mau comportamento". Já tinha acontecido antes. E mesmo que eu odiasse a demora disso tudo e toda a ideia por trás disso, não conseguia parar de pensar em como eu estava ficando. Não me deixaram ficar de frente para o espelho. Jack falou sem parar sobre como isso estragaria a surpresa e me encontrei simplesmente concordando com a cabeça quando ele pediu para virar a cadeira. Não sem rolar os olhos fazendo questão que ele visse, é claro.
- Está quase pronta. - Jack respondeu, passando um pouco mais de pó no meu rosto antes de dar um passo para trás e checar seu trabalho. O fato de ele não esboçar reação alguma me fazia ficar ansiosa. Ele conseguia ser um idiota quando queria.
- Ah, Jackie, eu quero me ver! - grunhi, fazendo um bico exagerado.
Ele deu uma risada, pegando minha mão esquerda e me ajudando a levantar.
- Nós só precisamos te vestir e prometo que vai se ver no espelho. - ele beliscou minha bochecha, sorrindo antes de amassar meu cabelo e delicadamente rearrumar os cachos.
Mais pessoas se enturmaram ao meu redor e, sem pudor algum, removeram o macio robe de minha pele, me deixando em nada além de minhas roupas íntimas. Eu estava acostumada com esse tipo de "intimidade" com pessoas que nunca vi antes, mas no começo da carreira sempre me encolhia e tentava me cobrir.
Os rostos, os belos rostos de stylists e maquiadores mostravam concentração conforme seguravam roupas à minha frente, debatendo se eu devia usar isso ou aquilo. Durante o processo, meus olhos analisaram as inúmeras opções e um vestido em particular chamou minha atenção. Se eu iria conhecer meu futuro ex-namorado hoje à noite, poderia pelo menos ficar bonita. Só pelo prazer de provocar.
O quarto caiu em silêncio enquanto ponderavam sobre minha escolha, e após um segundo todos concordaram e começaram a me ajudar a vesti-lo.
Coube perfeitamente. E quando eles finalmente ficaram satisfeitos, e eu já havia subido nos scarpins Louboutin, fui guiada até o espelho de corpo inteiro que ficava na parede ao lado da cama. Minha respiração ficou presa na garganta enquanto tentava absorver a imagem refletida. Eu tinha ido a inúmeros eventos e premiações usando lindos vestidos mas hoje... eu me sentia muito bonita. Mesmo que estivesse arrumada pelos motivos errados e para impressionar a pessoa errada.
O vestido era curto de renda preta e fundo de mesma cor, abraçando meu corpo e acentuando qualquer curva que havia. Tinha pequenas mangas que eram apenas de renda, e batia na metade da minha coxa. Exatamente o comprimento perfeito para andar sem ter que ficar abaixando a barra a cada dois segundos. Também não tinha decote, o que me deixava grata.
Meu cabelo caía por minhas costas, em ondas soltas, como se eu houvesse deixado que secasse naturalmente. Minha maquiagem era simples - delineador preto de gatinho, um blush rosa claro trazendo cor às minhas bochechas e batom vermelho tornando meus lábios convidativos.
- Você está parecendo com alguém que está pronta para partir um milhão de corações. - Jack declarou orgulhosamente, pegando minha mão e me fazendo girar.
Eu ri do que ele disse, grata por sua companhia e pelos elogios de todos no quarto. E exatamente quando terminei de colocar os acessórios, um segurança entrou no quarto e anunciou que meu carro estava esperando lá fora.
Peguei as mãos de Jack nas minhas, de repente sentindo pânico. Meus olhos arregalados procuravam os seus desesperadamente, e quando nossos olhares se encontraram, os seus castanhos brilhavam com uma sensação de calma que tinha a intenção de me tranquilizar.
- Você está de tirar o fôlego. - ele disse, pressionando seus lábios nas costas de minhas mãos. - Não se preocupe, querida. Tudo vai ficar bem.
Era tudo que eu queria.
***
Minhas pernas pareciam gelatina e nada confiáveis para andar de salto, então fiquei extremamente agradecida pelo braço que meu próprio segurança, Will, estava oferecendo. Nós estávamos saindo do hotel por trás, como se eu desse a mínima pela "discrição" do meu "relacionamento". Quase fiz aspas no ar para combinar com meus pensamentos, mas não confiava em mim mesma o suficiente para soltar o braço de Will.
- Você não parece muito feliz com a situação, senhorita. - ele disse. Não era uma pergunta. Não havia sequer um pouquinho de incerteza em sua voz.
Forcei um sorriso, tentando o máximo que alcançasse meus olhos. - Está tudo bem, Will. Só estou um pouco nervosa. - pausei, andando para o lado para que ele abrisse a porta do carro para mim. - E por favor, para de me chamar de senhorita. - Falei a ele pela milésima vez, sorrindo verdadeiramente agora.
- Como quiser, .
A porta mal havia fechado quando uma mão tocou a minha. Não havia prestado atenção no interior do carro quando entrei, me concentrando na batida da porta e no som do motor acelerando.
Era Cat.
- Essa é provavelmente a primeira vez que não estou feliz em te ver. É um sentimento estranho. - apontei, contornando o padrão do desenho em minha clutch com as pontas dos dedos.
- Temos muito a discutir antes que você chegue ao restaurante. - ela anunciou, ignorando completamente o que eu disse. Ela olhou para seu colo e foi então que notei a presença de algumas folhas ali. Cat folheou por elas silenciosamente, e puxou uma caneta da bolsa a seu lado antes de me dar tudo.
- O que é isso? - perguntei, franzindo as sobrancelhas.
Mas Cat não me respondeu. Ou ao menos eu não ouvi se ela falou alguma coisa. Meus olhos analisaram a primeira página, tentando entender aquelas palavras, processá-las. Como isso era possível?
Era um contrato. De minha gravadora. Sobre meu falso relacionamento.
Não continha muitas páginas - três ou quatro; consegui ler tudo enquanto o carro continuava em seu caminho e Cat continuava em silêncio ao meu lado. Era loucura. Eu não havia pensado que fosse algo tão sério assim. Sair com outro cara famoso por alguns meses pela mídia e então "tragicamente" terminar tudo.
Mas aqui estava eu, olhando para a última página de um contrato que me dizia que eu seria multada em milhões e perderia todo o direito sobre meu próximo álbum e todo seu conteúdo se não ficasse nesse relacionamento por quanto tempo eles precisassem. Eu perderia dois anos de trabalho árduo se não agisse como se estivesse nas nuvens.
Minhas mãos tremiam, a caneta que segurava produzindo um barulhinho irritante por causa disso. Eu queria chorar. Meus olhos estavam ardendo pelas lágrimas, minha visão embaçando. Mas eu o fiz. Rabisquei minha assinatura, percebendo que aquilo era algo muito mais sério do que eu julgava.
Mas minha carreira... Eu precisava que ela sobrevivesse. Não pelo dinheiro - eu tinha dinheiro. O suficiente. Mas ela era tudo para mim, minha vida inteira. Então devolvi os papéis assinados para Cat e tentei ao máximo não destruir minha maquiagem.
- Sinto muito. - Cat começou, sua voz baixa e carinhosa. - Eles julgaram isso tudo necessário. Juro que assim que o álbum for lançado, vou te tirar disso. Você me entende, ? Olhei para ela, sorrindo um pouco. Eu não queria que ela se sentisse mal por isso, nem um pouco. - Tudo bem, Cat, sério. Eu estou bem.
Ela estendeu a mão e apertou a minha. - O que você tem que fazer hoje, é fácil-
- Espera. - levantei um dedo, interrompendo-a. - Quem é esse cara misterioso, afinal? Não sei nem seu nome.
- Não posso te contar. Mas tenho certeza que você não vai se sentir tão mal assim quando vê-lo. - ela me cutucou e piscou como se para confirmar o que dizia, e com a risada que dei, a tensão pareceu diminuir. - Mas sério, tenho algumas coisas pra te falar. E acho que já estamos quase lá.
***
Era simples. Tudo que eu tinha de fazer era andar até a mesa. Cumprimentá-lo com um beijo na bochecha ou talvez muito próximo aos lábios. Ele iria puxar a cadeira e me ajudar a ficar confortável. Sorriríamos e pediríamos vinho - o mais caro. Haveria conversa fácil, mais sorrisos, pediríamos comida e durante o jantar, talvez, nossas mãos se tocariam sobre a mesa - e Cat deu ênfase a SOBRE a mesa.
Era simples, repeti a mim mesma de novo e de novo como um mantra, a partir do momento que o motorista me ajudou a sair do carro e eu comecei a curta caminhada para dentro do chique restaurante. Havia alguns paparazzi, o que, para ser sincera, eu já esperava, e eles não hesitaram em tirar algumas fotos de mim. Estava certa de que essas fotos estariam em todo lugar ao amanhecer do dia.
Uma anfitriã sorridente me deu as boas vindas, e me dei conta de que não sabia em que nome estava a reserva. Por sorte, ela simplesmente pediu que eu a seguisse - meu acompanhante já estava esperando.
Eu podia sentir meu coração batendo forte contra minhas costelas, como se estivesse tentando sair, e o barulho em meus ouvidos era praticamente insuportável.
O lugar para onde estávamos indo parecia mais privado, mais exclusivo, embora fosse próximo às janelas. Havia apenas algumas mesas ocupadas e todas elas com mais de uma pessoa. Exceto uma. Perto da parede mais distante. E naquela mesa estava sentado um homem que eu conhecia muito, muito bem. Ele batucava seus dedos sobre a toalha de mesa, olhando para seu relógio e parecendo extremamente ansioso, ou irritado. Não conseguia identificar.
Eu o conhecia de seu filme mais atual, e era apaixonada por sua voz. Ele estava ficando cada vez mais famoso, fazendo milhões de adolescentes surtarem. O problema era, ele não era famoso apenas por sua voz linda e sorriso charmoso. Ah não, no nosso mundo, fofoca espalhava como fogo.
Ele dormia por aí. Como eu, era o oposto do que a mídia o pintava. Ele era um conquistador, de ponta a ponta. E eu estava bem ciente do quanto sua equipe batalhava para que seus fãs não soubessem de suas aventuras.
Tudo fazia sentido agora, nós devíamos consertar um ao outro. Ele devia consertar minha imagem de vagabunda, e eu devia consertar o seu eu conquistador.
Todo mundo vence.
Ele levantou assim que entrei em seu campo de visão. Mostrei um sorriso largo, uma tentativa sincera. Aquele cara era atraente, afinal. E não era sua culpa; nós estávamos nessa juntos. Cat estava certa quando disse que não me sentiria tão mal assim ao vê-lo. Mesmo assim, eu odiava isso.
A anfitriã nos deixou após dizer que um garçom logo traria os menus. Ela nos deixou lá, e eu não tinha certeza do que fazer. Mas ele se inclinou, tocando seus lábios levemente em minha bochecha, dizendo "Oi". Puxou minha cadeira, me ajudando a sentar e depois indo de volta ao seu lugar.
Era, de fato, muito romântico ali, com candelabros luxuosos pendurados com suas luzes baixas. A prataria em nossa mesa era da melhor qualidade; o ambiente fazendo quase parecer um encontro de verdade.
- . - o menino dos cabelos levemente cacheados respirou fundo, um sorriso brincando em seus lábios.
- Jamie Blackley. - juntei-me à brincadeira, erguendo uma de minhas sobrancelhas. Ele riu, uma risada rouca, quase alta. Seus olhos castanhos brilhavam na luz suave.
- Quando meu agente disse que eu teria de fazer isso, não fazia ideia de que seria com você. - ele começou, brincando com seu guardanapo. - Talvez se eu soubesse, não teria feito com que sua vida fosse um inferno nos últimos dias.
Últimos dias? Ele sabia de tudo antes de mim?
Ignorei a pergunta em minha cabeça, rindo também. - Não sabia que seria com você, também. Talvez se eu soubesse não teria sido tão legal. Talvez eu teria lutado mais pelo meu direito de não ser vendida. - pisquei, assistindo sua expressão mudar para uma que deveria mostrar ofensa, mas ele falhou miseravelmente.
- Com licença?! Eu sou um excelente partido! E se não me engano, os rumores dizem o contrário sobre você. - ele tocou em seu copo de água, passando a ponta de seu dedo indicador ao longo de seu topo.
- A mídia tende a errar às vezes. Você sabe como funciona. - desviei do assunto, dando de ombros. - Além disso, você não é tão bom assim em atuar. Ao menos longe das câmeras cinematográficas.
- Bem, então isso ferra com nós dois. - Jamie apontou nossa situação, e eu escondi meu rosto, murmurando um "Puta merda" exagerado.
E dessa forma, nós estávamos realmente rindo. Fazendo piadas. E pra ser honesta, todo o problema do relacionamento que estava em um contrato foi empurrado para o fundo de minha mente. O garçom nos trouxe menus, e Jamie pediu o melhor dos vinhos. Exatamente como no script. Nós tivemos uma conversa fácil, sobre música e o louco universo em que estávamos presos, e nossas mãos até se tocaram sobre a mesa. Exatamente como no script. Exceto que, quando ríamos, não era forçado.
Eu estava extremamente ciente das pessoas tirando fotos lá fora. Estava ciente de que todos estavam ali porque sabiam que algo especial estaria acontecendo. O primeiro encontro oficial de e Jamie. Não podiam perder isso. Era notícia merecedora de manchete. Um grande evento.
Após comermos, Jamie pagou a conta, e me guiou pelos fundos. Eu podia sentir que sua mão não saiu da base de minhas costas mesmo após ter me deixado andar um pouco à sua frente.
Deixamos o calor do restaurante para uma noite fria - era mais ou menos onze horas agora. Tremi sob a mudança repentina de temperatura, e isso não foi ignorado. Um segundo depois, o menino dos cabelos levemente cacheados colocou sua jaqueta sobre meus ombros.
Puxei-o para perto de mim, sentindo o calorzinho, e percebendo que cheirava a perfume caro, e aquele cheiro característico de homem. Aquele cheiro que nunca conseguimos realmente identificar.
- Aonde está sua carona? - perguntei após agradecê-lo, notando que havia apenas um carro esperando.
- Temos que ir embora juntos. Provavelmente tem algum paparazzi escondido por aqui. - ele murmurou próximo à minha orelha; não queria que ninguém além de mim ouvisse.
Suspirei, entrando no carro e, após ele se juntar a mim e fechar a porta, disse, - Vão tentar nos fazer dormir juntos?
Jamie riu, sentando-se mais perto de mim. - Acho que não. Embora ache que não seria um problema tomar uma decisão sobre isso. - ele deixou seu braço envolver meu ombro de brincadeira e eu o empurrei, rindo.
- Não fique muito esperançoso, sr. Blackley. Pode ser que consiga um coração partido. - ameacei, olhando para ele.
Seus olhos castanhos brilhavam com um tom de desafio, e o que ele disse a seguir fez um calor subir para minhas bochechas. - Nunca aconteceu comigo antes. Um coração partido. Acho que não seria tão ruim assim ter minha primeira vez com você.
***
A primeira coisa que fiz ao chegar no quarto de hotel foi entrar no banho. Sim, de novo. Sentia-me suja, carregada de tanta maquiagem e tão exausta dos recentes eventos. Como era possível uma pessoa passar por tanta coisa em um único dia?
O "encontro" havia sido tão diferente de minhas expectativas; pra ser bem honesta, nem sabia quais eram minhas expectativas. Tudo que sabia era que não havia sido tão ruim assim. Talvez Jamie e eu poderíamos nos tornar amigos e fingir toda essa história sem perder a cabeça.
Jamie havia dado em cima de mim durante todo o caminho de carro até aqui, roubando risadas de mim a cada dois segundos; ele havia se assegurado de me deixar em frente aos elevadores, na recepção do hotel, e deu um leve beijo em minha bochecha. A pele que seus lábios encostaram ficou formigando. Balancei minha cabeça para tentar me livrar do sentimento assim que as portas se fecharam e ele estava fora de vista.
Minha cabeça estava incansável, lutando contra o peso de minhas pálpebras. Tudo que eu queria era minha cama. Saí do banho e terminei de tirar toda minha maquiagem, colocando um de meus pijamas mais fresquinhos e me aprontando para dormir.
Foi então que ouvi uma batida bem de leve na porta do quarto. Difícil de ouvir. Quase a ignorei, mas então aconteceu novamente.
- Ai, Jack, você simplesmente não consegue se segurar, né? - dei uma risada, imaginando que ele estivesse ali para saber como foi o encontro.
Mas quando girei a maçaneta e abri a porta, era a pessoa que eu menos esperava ver que estava do outro lado.
- O que diabos você está fazendo aqui? - minha voz demonstrava os meus exatos sentimentos, saindo totalmente desafinada de choque e confusão.
Jamie passou por mim e entrou no quarto sem ao menos se incomodar em pedir permissão, encostando seu ombro no meu no caminho.
- Olá novamente, . - ele murmurou, olhando ao seu redor. - Até que seu quarto é bem legal, hein?
- Sabe, eu poderia facilmente fazer um escarcéu aqui e chamar o segurança, e levaria um segundo para que ele viesse e chutasse a sua bunda pra fora daqui. - ergui minhas sobrancelhas, recebendo de volta nada além de um sorriso convencido.
- Bem, você vai fazer isso? - ele provocou, tão irritantemente seguro de si mesmo.
Um suspiro pesado passou por meus lábios enquanto eu fechava a porta. A última coisa de que precisava agora era uma comoção.
- Sério mesmo, o que está fazendo aqui? Por que não foi embora? - indaguei, andando até ele e notando que havia algo em suas mãos. Uma garrafa de vodca.
- Não te contei? Meu agente disse que eu tinha que passar a noite aqui. - ele explicou, dando de ombros. O que ele estava pensando, trazendo uma garrafa de vodca pro meu quarto?
- E você, por acaso, não tem seu próprio quarto?
Jamie riu, apontando para mim conforme dizia, - Tenho, mas qual diversão eu teria lá sabendo que poderia estar aqui com você?
Eu sabia que estava com a cara vermelha nesse momento. Senti o calor subindo às minhas bochechas, e, de repente, esse quarto parecia mais quente do que o normal. Por que ele tinha que ficar fazendo isso?
- E a vodca? Acho que tomamos álcool o suficiente pela noite no restaurante. - tentei desesperadamente mudar de assunto.
- Foi só uma garrafa de vinho que não teve efeito nenhum pois estávamos comendo. Você é tão entediante, .
- Você é tão idiota, Jamie.
- Aposto que você não quer beber porque não aguenta nem um pouquinho de álcool. - ele começou, andando até mim e ficando muito, muito perto. Eu podia sentir o cheiro de seu perfume, e aquilo estava me deixando tonta. - E está com medo que o famoso conquistador Jamie se aproveite de você. - sua mão subiu até que encostou em meu rosto, seu polegar passando levemente sobre meu lábio inferior. Empurrei sua mão, pegando a garrafa dele e tirando a tampa.
Não consegue aguentar um pouco de álcool. Ele era tão cheio de si. Tomei um grande gole da vodca, limpando minha boca com as costas da mão assim que terminei, e oferecei a garrafa de volta. A bebida desceu queimando, mas não demonstrei nenhum sinal disso.
- Então a mídia não mente sobre tudo. - ele riu e eu rolei os olhos. Jamie estava prestes a tomar um gole também mas pausou com a garrafa no meio do caminho. - Sabe o quê? Não tem graça nenhuma beber simplesmente por beber.
- O que você quer dizer? - franzi as sobrancelhas, inclinando minha cabeça para o lado.
- Precisamos de um jogo.
- Um jogo? - repeti, um pouquinho perplexa. O calor da vodca já estava se espalhando por mim, e eu só tinha tomado um gole. A verdade era que eu era fraca para álcool; o único motivo por que não fiquei bêbada no jantar era o fato de ter tomado apenas um copo de vinho. Jogar algo que envolvesse bebida, ainda mais uma garrafa inteira dela, definitivamente não era uma boa ideia. Definitivamente.
- Claro. - seu sorriso aumentou, aquele olhar convencido ao qual eu já estava me acostumando dominando suas feições. - O quê? Você está com medo? - ele balançou a cabeça, mostrando decepção.
- Que jogo você tem em mente?
- Você já... - ele sugeriu, seus olhos brilhando.
Bufei, deixando-o ver como eu achava a ideia ridícula. - Você já? Ta falando sério?
- Por quê? Você tem alguma sugestão melhor do que fazer?
Dormir. Assistir TV. Tentar escrever novas canções. Dormir!!! Todas essas opções faziam cócegas na minhas língua e garganta, mas, por alguma razão, o único som que saiu de minha boca foi o de um suspiro, e sentei-me na cama. Jamie imediatamente tomou o espaço à minha frente, chutando seus sapatos e cruzando os pés abaixo de suas coxas.
Facilmente confortável. O que havia de errado com esse cara?
- Já que você está obviamente tão animada com isso, vou começar. - ele segurou seu queixo, parecendo pensativo. E então seu rosto se iluminou, e eu sabia que estava ferrada. - Você já ficou com mais de um cara em uma noite?
Dei uma risada, batendo em minha testa. - Que tipo de pergunta é essa?
- Só responde, .
- Tá, eu já fiz isso. - ele sorriu travessamente, me entregando a garrafa e assistindo enquanto eu dava um gole. - Ok, minha vez. Você já beijou um cara?
Senti meus olhos se arregalarem quando ele pegou a garrafa, minha boca formando um "O" chocado. - Tá de brincadeira? Aposto que foi com um daqueles caras com quem você anda, né?
- Isso é um jogo de Sim ou Não, portanto, não vou responder isso. - ele afirmou, erguendo uma única sobrancelha.
- Aposto que foi com aquele... Qual é o nome dele? T-alguma coisa... Tristan! Por alguma razão, esse nome me faz lembrar d'A Pequena Sereia-
- Liv! - Jamie interrompeu meu discurso, apontando para a garrafa. - Você já dormiu com alguém bêbada e se arrependeu na manhã seguinte?
- Oh-oh! Está ficando profundo, pessoal. - balancei as sobrancelhas, bebendo um gole. Não era uma memória agradável, mas eu tinha que jogar honestamente, se quisesse que ele fizesse o mesmo. - Você já usou um sutiã? - a pergunta veio seguida de um barulho indefinido que saiu de nossas bocas. Acho que foi o início de uma risada.
Deus, o álcool já estava começando a me atingir. Isso era tão idiota.
Mas para minha surpresa, Jamie bebeu da garrafa. Meu queixo caiu em surpresa, mais uma vez, mas ele simplesmente encolheu os ombros.
- Foi uma aposta idiota, você sabe como Verdade ou Desafio funciona.
- Provavelmente um pouco melhor do que esse jogo...- eu ri, cutucando seu estômago.
- Vamos continuar para a parte interessante do jogo. - ele semicerrou os olhos, inclinando-se em minha direção. - Você já mentiu para seus pais?
Ele perguntou isso de forma tão séria que não pude evitar cair na gargalhada.
- Essa foi uma pergunta tão brutal que vou beber um gole bem maior.
E então o fiz. E era minha vez de segurar meu queixo, tentando pensar em uma pergunta melhor do que as últimas. Lembrei-me de muitos rumores que ouvi sobre Jamie.
- Você já se envolveu fisicamente com aquela loira com quem foi fotografado em um momento comprometedor? - lembrei da foto; ela estava praticamente sugando sua cara num clube, acho, e eu não conseguia lembrar seu nome por nada.
- Lizzie? Ah, não, mas ela tinha ótimas habilidades labiais, se é que você me entende.
Levou um momento para eu processar a informação, e então franzi o nariz e dei um empurrão em seu ombro.
- Eca! Nojento!
- Ah sim, claro. - ele riu, se aproximando de mim. Seus olhos castanhos queimavam nos meus, e eu culpei o álcool pelo calorzinho que surgiu na boca de meu estômago.
- Seu pijama é adorável. - Jamie sussurrou após um segundo, sorrindo um pouco. - Minha vez agora. Você já beijou um cara de cabelo cacheado?
Ele me pegou de surpresa. Balancei minha cabeça devagar, indicando que não, assistindo seus lábios conforme ele se aproximava, até que eles tocaram os meus. Meu coração parecia prestes a sair do meu peito; Jamie começou a mover seus lábios contra os meus, e permiti que sua língua tocasse a minha e o beijo se tornasse mais profundo. Suas mãos se moveram para meu pescoço, polegares tocando minha mandíbula, e tive a vontade de correr meus dedos pelos seus cachos.
O que diabos estava acontecendo?
Parei o beijo, empurrando-o e saindo da cama. Meus olhos estavam queimando com lágrimas, e eu nem sabia por quê. Talvez porque eu estava realmente me permitindo ser vendida ao invés de fingir. Talvez porque lembrei-me de meu último fracasso amoroso, gritando comigo e me fazendo sentir o pior ser humano da Terra. Eu não podia arriscar me envolver com esse cara. Ele era um conquistador, acima de tudo. Nós tínhamos que nos tolerar, nada mais.
- , eu...- ele começou, levantando também e tentando me alcançar.
- Saia do meu quarto, Jamie. - pedi em uma voz baixa, mordendo meu lábio inferior.
Eu ainda podia sentir seu gosto, seu gosto misturado com a vodca que bebemos.
- Desculpe, eu pensei-
- Só sai daqui, por favor.
O menino dos cabelos levemente cacheados à minha frente suspirou, virando-se e fazendo o que pedi.
O que havíamos acabado de fazer?
***
Na manhã seguinte, pela primeira vez em algum tempo, fui acordada por um despertador, e não por berros. Quase senti-me estranha ao sentar na cama, cumprindo a rotina de esfregar os olhos, bocejar e desejar dormir por mais alguns anos. Meu sono não foi tranquilo, preenchido por situações envolvendo Jamie e o gosto que ele deixou em minha boca; a maioria delas eu jamais contaria a alguém. Não consegui descansar, acordando de pouco em pouco com o coração acelerado e uma vontade enorme de achá-lo e bater nele até não querer mais.
Aproximadamente um minuto após o despertador, Cat invadiu o quarto, parecendo pronta pra tocar o terror e me tirar da cama. Mas, ao me ver sentada, parou e sorriu.
- Bom dia, querida! Como foi sua noite? - ela perguntou, parecendo animada. Notei que segurava seu tablet além do celular, e estranhei aquilo. Ele era exclusivo para trabalho que eu nunca chegava a ver.
- Foi horrível, obrigada. Queria poder dormir o dia inteiro. - resmunguei, saindo da cama e me espreguiçando. Senti minha cabeça latejar, mais um lembrete da besteira que fiz há algumas horas. Se ela soubesse, não tenho certeza se adoraria a notícia ou ficaria chocada.
- Sinto muito, . Tem a ver com o Jamie? - ela perguntou cuidadosamente, se aproximando e passando uma mão por meu cabelo embaraçado.
Não falei nada, apenas assenti com a cabeça e dei um meio sorriso.
- Espero que não tenha sido nada muito sério, pois daqui a quinze minutos ele estará na porta pra vocês descerem para o café juntos.
Praticamente guinchei ao ouvir isso, - Não acredito, Cat! - gemi, passando a mão em minha testa. - Não sei se vou conseguir fazer isso.
- Claro que vai, . - ela apertou meu ombro. - Precisa de alguma coisa?
- Um remédio pra dor de cabeça, por favor. - parecia que minha cabeça iria explodir a qualquer segundo. Eu iria ter que olhar pra cara de Jamie em menos de quinze minutos. Que sortuda.
- Pode deixar. Mas antes, quero te mostrar uma coisa. - Cat sorriu fracamente, desbloqueando a tela do tablet.
Ah. Ele tinha um propósito.
A tela que apareceu a seguir foi a de um dos sites de fofoca mais famosos de todos, mostrando uma manchete enorme com uma foto de Jamie e eu sentados frente a frente, sorrindo e com as mãos se tocando sobre a mesa. Dizia: "Novas canções de amor a caminho?"
Quase dei uma risada com aquilo, se não fosse tão deprimente. Pelo pouco que li da matéria enquanto Cat segurava o tablet, percebi que os jornalistas comemoravam o início de um novo romance, mas já declaravam sua sentença de morte. Tão previsível.
- Espero que a gravadora esteja feliz. - murmurei secamente, deixando minha agente e entrando no banheiro para me arrumar.
Fiquei lá por dentro pelo que restava dos quinze minutos que tinha, saindo apenas para pegar um vestido e maquiagem. Cat me avisou pela porta que seria um dia mais tranquilo, com apenas uma entrevista para uma revista e daríamos uma passada no estúdio para checar o andamento do CD.
Senti-me aliviada. Pelo menos por um segundo antes de ter que encarar Jamie.
Ao final dos quinze minutos, ouvi uma batida na porta do quarto. Com certeza era ele. Meu coração falhou uma batida e depois acelerou, e quase acertei o pincel de blush em meu olho. Quase.
Controle-se, . Foi só um beijo e você o expulsou do quarto. Só isso. Nada de mais.
Saí do banheiro após respirar fundo algumas vezes, e me deparei com seus olhos castanhos logo de cara. Jamie sorriu, descaradamente me analisando da cabeça aos pés, e depois acenando com a cabeça em aprovação.
- Bom dia, . - ele finalmente disse, e pude perceber pela visão periférica que Cat tentava disfarçar um sorriso.
Lancei um olhar assassino em sua direção, mas aparentemente minha agente não captou a mensagem.
Eu o respondi e pegamos o elevador para o térreo, onde ficava a área de refeições do hotel. Cat nos lembrou de dar as mãos antes que as portas se abrissem; ela desceria em outro.
Não conseguia acreditar que isso estava realmente acontecendo. Parecia ainda mais ridículo do que eu tinha imaginado.
- Vamos falar sobre o que aconteceu ou não? - Jamie quebrou o silêncio que havia se instalado no momento em que as portas do elevador fecharam.
Respirei fundo, cutucando o esmalte da minha unha. - Eu preferiria não falar.
- . - sua voz era baixinha, parecia tentar me convencer. A mão dele tocou a minha e foi como se um choque houvesse passado por meu braço. - Nós não estávamos nem bêbados. Você demorou a me afastar. Vai dizer que não sentiu nada?
Deixei-o na expectativa, relembrando aquele breve momento. Relembrando as risadas no restaurante, e no caminho de volta. As idiotices na brincadeira da bebida.
Nós tínhamos nos conectado, de alguma forma, mas foi apenas uma noite. Apenas um beijo. Eu não podia entregar o ouro dessa forma. Já tive experiências ruins demais com um começo igual a esse.
- Foi apenas um beijo, Jamie. Não crie expectativas. - murmurei, séria, evitando seus olhos.
Ouvi uma riisada leve brincando em seus lábios, logo antes dele dizer, - Você verá.
Nesse momento, o elevador indicou que chegamos ao térreo. Um segundo antes das portas se abrirem, Jamie segurou minha mão, entrelaçando nossos dedos, e senti minha respiração falhar por um segundo. Mas eu não deixaria transpareccer. Então forcei um sorriso, e começamos a nos dirigir ao local do café.
***
Um mês depois
As coisas andaram malucas; entre os últimos detalhes do CD para seu lançamento, a estreia do meu novo clipe, e fingir o namoro com Jamie, eu mal tinha tempo para respirar. Mas, ao ver meu novo single no topo das principais paradas, sentia-me maravilhosa. Tudo estava perfeito.
Ou quase tudo.
Jamie ainda não havia desistido. Ele tentava me conquistar de todas as formas: flores, chocolates, encontros. É claro que tínhamos de fazer tudo isso de qualquer forma, mas sentia seu esforço por trás de cada gesto.
Tinha de admitir: eu gostava dele. Muito. Acabei conhecendo cada um de seus detalhes. A maneira como ficava tão concentrado ao tocar e cantar que se perdia em seu próprio mundo - passamos vários momentos no quarto, com nossos violões, fazendo covers ou fazendo música. Sua risada extremamente... linda. Ele era um doce. Não conseguia acreditar que a mídia o havia transformado em um babaca. Ele era um pouco convencido e sarcástico, mas isso não o fazia uma má pessoa.
Só que eu ainda tinha medo. Ainda lembrava do pesadelo que foram os últimos momentos de meu último relacionamento, apenas alguns meses antes. Não queria arriscar passar por aquilo novamente.
Então deixei que Jamie me cortejasse, permiti que ele fosse próximo de mim. Mas nunca mais que um amigo. A amizade fazia a situação muito mais suportável.
Nessa noite, tínhamos uma premiação de música à qual comparecer. Seria uma noite extremamente importante para "nós", como "casal". Ao menos, foi o que Cat disse. E ela muito frequentemente estava certa.
Jamie e eu nos arrumamos em quartos lado a lado, e, quando estávamos prestes a sair, ele apareceu desesperado.
- , eu não consigo ajeitar a grav- - ele começou, invadindo meu quarto, mas parou no meio da frase ao me ver. - Uau.
Seus olhos mostravam, sem pudor, o que ele devia estar imaginando. Senti minhas bochechas corarem, e não consegui evitar um sorriso envergonhado.
Eu estava usando um vestido longo tomara-que-caia vermelho escuro, agarrado ao meu corpo, com pontos de luz que refletiam suavemente. Usava saltos Louboutin, acessórios bem discretos, batom vermelho e delineador gatinho, e meu cabelo estava preso em apenas um lado, levemente ondulado. Precisava admitir, sentia-me linda. E a reação de Jamie reforçava esse sentimento.
Sorri, dando uma voltinha para que ele tivesse uma melhor visão, mas senti suas mãos em minha cintura antes que pudesse completá-la. A respiração de Jamie e seu hálito quente batiam na pele nua de meus ombros e pescoço, e um arrepio percorreu minha espinha.
Girei, ficando de frente para ele e passando meus braços ao redor de seu pescoço.
Nossos rostos estavam a centímetros de distância; nossas respirações se misturando e se confundindo.
- Gostou? - sussurrei, encostando meus lábios nos seus muito levemente. Ele assentiu, e afastei-me antes que pudesse ficar ousado, segurando as duas pontas de sua gravata desfeita. - A sua sorte é que sou expert em gravatas.
- ... - James gemeu conforme eu fazia o nó. Olhei em seus olhos e pude ver a agonia nadando em seus castanhos. - Você vai me matar.
- Não vou, não. - sorri, apertando o nó até que a gravata estivesse no lugar. - Gosto demais de você para te matar.
***
A premiação foi incrível. Os flashes eram quase cegantes ao chegarmos ao tapete vermelho - o casal mais esperado da noite, anunciavam os fotógrafos. A mão de Jamie em minha cintura me mantinha segura em meio a todo o assédio, e seu sorriso me passava calma.
Ele sabia que era uma noite difícil para mim; havíamos conversado sobre o assunto antes.
Meu ex. Seria a primeira vez que o veria pessoalmente desde o fim, e ele estava com alguém também. Uma supermodelo com o corpo perfeito; capa de revistas constante.
E quando os vi, foi realmente difícil, mas apertei James com tanta força que ele logo se tocou e me levou para longe dali, dizendo coisas que me tranquilizaram. Eu me tornava mais grata por sua companhia a cada segundo.
Odiava o fato de tudo isso ter começado por conta de um contrato assinado.
Após a cerimônia, o motorista nos levou à after-party; um dos maiores clubes de Los Angeles havia sido fechado para esse evento. Famosos, música, e álcool. Muito álcool.
Não conseguia nem imaginar como isso tudo ia terminar.
Assim que chegamos ao lugar, Jamie pediu que eu esperasse pois iria buscar uma bebida para nós. Assenti e ele me deu um beijo na testa, sumindo na multidão de corpos que começava a se amontoar na pista de dança.
Ele mal havia saído quando senti uma mão envolvendo a minha, e fui puxada, às cegas, até a parte traseira do clube. Tentei chamar a atenção no caminho, mas a música alta tornava meus esforços inúteis. Eu sabia que era um homem, e tinha medo de quem fosse.
Ele nos trancou em uma sala de produtos de limpeza, e então pude ver seu rosto.
- O que você acha que está fazendo? - Harry parecia completamente lúcido, chegando a ser um pouco assustador. O verde de seus olhos estava agora escuro, suas narinas inflando por conta de sua respiração pesada. Eu quase sorri orgulhosa ao testemunhar essa cena. 1 x 0 Harry.
- Acho que eu deveria lhe perguntar isso. - franzi o cenho, permitindo que meu olhar transparecesse a raiva que estava sentindo. E, ao mesmo tempo, sentia meu coração acelerado por estar tão perto dele. - Eu estava indo dançar com o Jamie, e você simplesmente me arrasta de lá?!
Harry soltou uma risada irônica, dando alguns passos em minha direção. Andei para trás, tentando manter a distância entre nós, mas acabei encostando na parede. Ele agora estava perigosamente próximo a mim. Tão próximo que eu podia sentir o calor de seu corpo e o cheiro de seu perfume.
- Você acha que está enganando a quem com essa encenação toda? - seu hálito de menta atingiu meu rosto, e lutei contra todas as minhas forças para não fechar os olhos. Não podia demonstrar fraqueza.
- Encenação?
- Com seu namoradinho de merda. - Harry foi direto, seu olhar queimando no meu. Ele apoiou suas duas mãos na parede, uma a cada lado de meu rosto, aproximando sua boca de meu ouvido. - Me diga, , ele consegue te fazer sentir o mesmo que eu?
Mordi meu lábio inferior, prendendo um suspiro. Fechei os olhos por um segundo, lembrando de todas as brigas, de tudo o que aconteceu. Eu tinha algumas coisas a dizer.
- Você me deixou. - murmurei, sentindo seu corpo enrijecer. - Você me deixou sozinha, sabendo que eu precisava de você. Eu te amava, Harry.
Parei por um segundo. Tentava segurar as lágrimas que faziam meus olhos arderem, tentava engolir o nó que se formou em minha garganta. Só que dessa vez, não eram lágrimas de tristeza. Eram de decepção.
O menino dos olhos verdes lentamente se afastou de minha orelha, encostando sua testa na minha. Tentei não olhar em seus olhos, mas meus esforços foram em vão. Eu tinha que aproveitar aquele momento para tirar a dúvida que havia me feito chorar até dormir por tanto tempo. E ele iria me responder de qualquer forma.
- Por que você fez isso comigo? - minha voz saiu embargada, quase um sussurro.
- Você nunca entenderia. - ele sussurrou, também; seus próprios olhos pareciam refletir o que eu sentia.
Xinguei-me mentalmente. Era óbvio que ele não havia sofrido metade do que sofri.
- Faça-me entender.
- Foi uma ordem, . E você sabe que não podemos nos dar ao luxo de dizer não a ordens.
Ele se afastou de mim, passando a mão pelos cabelos.
- Uma ordem? - indaguei, confusa.
- Sim. Minha agente, num belo domingo, me disse que eu tinha que terminar nosso namoro. Que aquilo, nós, já havia cumprido seu papel na mídia. - ele pausou, voltando para perto de mim e pegando minha mão. Tentei me desvencilhar, mas ele a apertou forte contra seu peito.
- Tentei convencê-la. Falei que te amava, mas não adiantou. Me arrependo todos os dias de ter feito aquilo, .
Eu podia sentir seu coração batendo acelerando, e seus olhos brilhando com lágrimas.
- Por favor, me perdoa. Vamos tentar de novo. - Harry implorou, uma lágrima solitária escorrendo de seu mar esverdeado.
Mas eu já tinha superado isso. Inconscientemente, eu havia superado essa situação. Achava que não, estava com medo de encontrá-lo. Mas, percebia agora, era a melhor coisa a fazer.
E eu sabia quem era o responsável por minha "recuperação".
Então, juntei minhas forças e consegui me desvencilhar de seu aperto.
- Desculpe. Não poderíamos fazer isso com sua nova namorada. - foi tudo que disse, desviando-me dele e saindo daquele quartindo o mais rápido que pude.
Eu me senti livre, ao dar de cara com aquele amontoado de corpos dançando, ao sentir o leve aroma de álcool no ar. E me senti esperançosa, ao ver Jamie vindo em minha direção, seus olhos e sorriso demonstrando alívio.
Ele me entregou uma taça de champagne, e pousou uma mão em minha cintura.
- Ainda bem que você apareceu, . Te procurei por toda parte! - sua mão me apertou levemente, trazendo-me para perto de si. - Você está bem?
- É claro que sim, sorri, passando meus braços em volta de seu pescoço e o beijando com tudo de mim. Sua mão livre contornava minha cintura, apertando-a e me puxando mais e mais até que não houvesse mais espaço entre nossos corpos. O calor dele fazia meu coração acelerar, mas ao mesmo tempo me sentia leve.
Quando nos separamos, corados e sem fôlego, sorri para ele ao pegar sua mão. - Venha, vamos dançar.
FIM
Nota da autora: Primeira fic que posto no FFOBS (sonho de anos), e estou muito feliz! Obrigada a cada alma linda que ler,
espero que gostem da história tanto quanto gostei de escrever!
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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