Capítulo Único
- EU ME ARREPENDO DESSA DECISÃO!
- Se acalma, não dá pra voltar atrás agora...! - Apesar da frase, null ria enquanto tentava acalmar a amiga.
Mas null estava grudada ao avião como um coala e não soltaria por nada naquela vida.
- Ei, relaxa... - Nisso, null segurou a amiga pelos ombros, a fim de olhá-la nos olhos. Se visse que ela estava extremamente emocionalmente descontrolada a ponto de ter algum problema físico, falaria para ela sentar e ordenaria que pousassem. Mas encontrou somente medo: justamente o que ela queria se livrar naquele momento. - Se você quiser, a gente volta pro chão agora. Eu falo pra pousarmos e não precisamos fazer nada. A escolha é toda sua, null, não vou te forçar a nada.
E, nos olhos de null, null via somente segurança. Ela precisava daquilo: pular de paraquedas era para significar um ponto de virada em sua vida. Um novo começo, quase como se ela estivesse renascendo das cinzas como uma fênix.
E ela não podia voltar atrás naquele momento. Não depois de tudo.
- Ok! - null respirou fundo, soltando da parte do avião a qual se agarrava e apoiando as mãos nos braços de null. - Ok! Nós vamos fazer isso! Eu não vou dar pra trás!
- Assim que se fala! - O sorriso dele a fez dar uma pequena risada, por mais que estivessem a quilômetros do chão. - Pronta para pular?
- Nem um pouco! - E, dessa vez, null deu uma boa risada. - Mas estou pronta para tentar! Você vai comigo, não?
- Claro. Eu sempre estarei com você, cabeção. - null respondeu de brincadeira, porém checava a altitude no próprio relógio de maneira tão séria que null só podia sorrir.
Estava quase na hora. E ela precisava tomar coragem.
Noite Anterior
- Sério... O quê?
null estava de pijama. Tinha uma série pronta para assistir e latas de cerveja prontas para serem tomadas.
Mas lá estava null parado no tapete de entrada do apartamento dela, segurando uma pizza em uma mão, vinho na outra e um sorriso meio óbvio nos lábios.
- Você não atende minhas ligações. Não responde minhas mensagens. Não me responde no Discord, não joga mais comigo, não aparece mais online na Steam e em nenhum dos outros servidores, não me responde no Skype e não dá sinal de vida algum há um bom tempo. - Falando como se fosse óbvio, ele indicou as coisas que tinha em mãos. - Medidas drásticas tiveram que ser tomadas.
- Sério...? - Ela suspirou ainda com a cara de paisagem de antes.
Talvez um pouco mais incrédula.
- Sério. Eu tô preocupado com você, cabeção. - null respondeu de sobrancelhas franzidas, usando o apelido de brincadeira, porém genuinamente preocupado. - Você não é de sumir desse jeito comigo.
- Você sabe que eu tô passando por uma fase difícil... - null abaixou a cabeça, suspirando, enquanto deixava aquele ser inconveniente entrar. Discutir com ele não mudaria o fato de que null continuaria em pé naquele tapete a madrugada toda se fosse necessário. - Não tô muito na vibe de ficar conversando.
- Sei. E você sabe que eu vou te perseguir que nem o Mr. X indo atrás do Leon no Resident Evil. - Ele deu de ombros já extremamente à vontade dentro da casa da amiga, deixando a pizza e o vinho sobre a mesa, indo ao armário buscar pratos e copos. - Vou atrás de você até no bueiro se deixar.
Aquilo fez null dar algumas risadas enquanto fechava a porta. null não pôde deixar de sorrir enquanto deixava as coisas em cima da mesa e procurava talheres.
- Persistente até o fim, não...? - Ela suspirou, apoiando-se na bancada da cozinha.
- Sempre. - null piscou de volta, dando um sorrisinho sapeca. null rolou os olhos. - Olha, eu sei que ser demitida para uma workaholic que nem você que transformou o seu trabalho no seu propósito de vida é algo que deve ter destruído seu mundo. Mas você não pode ficar me evitando e parar completamente de viver por causa disso.
- É complicado, null... - null cruzou os braços, olhando para o chão enquanto ele servia as pizzas. null só se dera ao trabalho de pegar talheres para cortar, pois comeriam na mão. Na visão dele, comer pizza com talheres era algo próximo a uma heresia gravíssima. - É o que você falou, meu mundo inteiro ruiu. Eu tô sem rumo, sem direção e descobri que não tenho nenhum propósito nessa vida a não ser trabalhar. Deixei morrer tudo que gostava pra isso e agora que não tenho meu trabalho, o que eu faço?
- Por enquanto, comer pizza. - Ele estendeu um dos pratos para a amiga, fazendo-a suspirar sem esperança enquanto o pegava. - Apesar da minha resposta insensível, eu sei. É difícil decidir o que fazer. Você tem muita coisa pra pensar, muita coisa pra organizar, mas...
- null, você nunca foi demitido na vida. É totalmente diferente de sair do trabalho por vontade própria. Eu sei que meu trabalho tava me matando e tava me planejando pra sair de lá assim que arranjasse outra coisa, mas... - null suspirou de novo, cutucando a pizza no prato sem muita animação. - Meu problema... É que eu sinto que falhei. Que fiz algo errado.
null permaneceu de sobrancelhas franzidas enquanto a escutava. null não era tão direta daquela maneira e ele esperava ter que arrancar o assunto à força, mas lá estava ela falando. Provavelmente depois de tantos meses chorando sozinha, ela provavelmente queria um ombro amigo para desabafar.
E null sabia muito bem que ela não lidava muito bem com falhas. Simplesmente porque ele era exatamente igual naquele aspecto.
- Como assim? Você nunca me disse o que eles te falaram na sua dispensa.
- Um monte de coisa sem sentido. Foi isso que falaram. - E null deixou a pizza sobre a bancada, sem ao menos querer comê-la.
Aquilo foi um alerta vermelho para null. null nunca recusava pizza.
- O que foi, null? - A voz dele ficou mais afável e até null deixou a própria pizza sobre a mesa. Aproximando-se, segurou uma das mãos da amiga, fazendo-a olhar para ele. - Você sabe que pode me falar qualquer coisa, não?
null deu um sorriso sem graça para o amigo e voltou a abaixar a cabeça. null franziu novamente as sobrancelhas - estava começando a ficar exasperado com o fato de que ela não estava falando.
- Conversa comigo, vai... - Ele lançou um olhar pidão e uma voz manhosa, claramente brincando, mas realmente querendo derrubar aquele muro que ela construíra e nunca existira entre eles. Se null continuasse daquela maneira, null logo ia começar a chorar. - Poxa, você sabe que pode contar comigo pra tudo, raposinha.
- Nossa, pegou pesado jogando o “raposinha” na conversa. - null teve que responder com uma pequena risada, olhando novamente para null e encontrando o sorriso fofo que ele dava sempre que estava mais animado. Mesmo assim, via os olhos dele brilhando mais que o normal.
- Sei que você gosta do apelido. - Ele levantou a mão dela no ar, brincando com a amiga. - Vamos lá, conversa comigo. O que foi? Quero te ajudar.
- O problema é que foi exatamente isso: nada. - A moça se rendeu com um suspiro, balançando a cabeça. - Eu não fiz nada de errado, meu trabalho sempre foi ótimo, eles estão super agradecidos, mas não sou o que precisavam no momento. Depois de anos trabalhando que nem uma louca, parece que mesmo assim fui insuficiente, sabe? Parece que não fiz meu trabalho direito, que sempre fui negligente, que não atendi às expectativas. Que apesar de tudo e do esforço, eu não fiz o que devia. E... Sei lá... Acabei entrando nesse buraco de que não sou suficiente. Não me sinto mais capaz de fazer nada e acho que não sou suficiente pra nada, porque se depois de todo esse tempo me matando eu fui insuficiente, então talvez o problema seja eu.
- Espera! - E, nesse momento, null levou dois dedos aos lábios dela, fazendo-a se calar. - Espera, espera, espera. Se eles são estúpidos o suficiente pra te demitir por um motivo idiota desses, ok, problema deles. Mas nossa, null, nunca pense tão baixo de si mesma. Insuficiente, você? Definitivamente, o problema lá era qualquer outro, menos você. Não pense assim, de verdade. Você tem tantas qualidades e é uma mulher tão incrível...
- Se eu fosse tudo isso, não teria sido demitida. - null considerou, tirando os dedos de null dos lábios. Ele fechou a cara no mesmo momento, fazendo-a rir. - Você sabe que essa minha lógica não pode ser facilmente refutada.
- Não será facilmente refutada, mas você também sabe que eu sou o rei de fazer o impossível. - null respondeu analiticamente, pegando o próprio prato de pizza e seguindo null, que ia até a sala com seu prato a fim de sentar em frente à televisão. - Você não tá levando em conta que talvez seus ex-chefes eram uns idiotas que não sabem enxergar o talento quando o vêem pela frente.
- Sabe quem fala isso? - Ela ergueu uma sobrancelha antes de se sentar no sofá enquanto observava o amigo. - Perdedores que querem se consolar por mau desempenho.
- Nossa, senhora, null. - Ele teve que rolar os olhos, sentando ao lado da amiga com um barulho considerável. - Que frase horrível. Você tá ficando pior que eu na autocobrança e competitividade.
- É porque eu sou a rainha da autocobrança e competitividade. - E foi a vez dela de responder analiticamente, dando uma pequena mordida na pizza logo em seguida. - Você sabe que não gosto de perder, null. E não gosto de me sentir uma incapacitada insuficiente. Apesar de tudo, é exatamente o que tô sentindo durante todo esse tempo.
- E resolveu se afundar na sua própria autopiedade? - null ergueu uma sobrancelha de volta, recebendo um olhar extremamente ofendido de null. - Você sabe que é exatamente isso que tá fazendo durante todo esse tempo, né? A única que vai te tirar desse buraco que você se enfiou é você, null. O que eu posso fazer é te jogar uma corda pra te ajudar a puxar de volta pra superfície.
- Você tá todo contente com as suas metáforas, não...? - null estava extremamente incomodada, mas null sorria de maneira orgulhosa. Suspirando em seguida, a moça balançou a cabeça, pegando o controle da televisão. - Não vamos chegar em lugar algum com essa conversa. Você já tá entrando em território que tá machucando meu coraçãozinho frágil e não pretendo acabar essa noite chorando no seu colo, obrigada.
- Seu coração não é frágil, ele está frágil. - null analisou enquanto ela passava alguns filmes pela Netflix. - Se você tivesse me respondido antes, a gente podia ter conversado antes de você estar no estado de depressão “pijama, cerveja e Netflix”.
- Obrigada por apontar com tanta sinceridade. - Apesar da resposta esperta, a voz de null parecia efetivamente machucada. null franziu as sobrancelhas, sabendo que provavelmente havia ido longe demais, aproximando-se da amiga em seguida e apoiando a cabeça no ombro dela, ainda a observando.
- Desculpa, raposinha. Eu não quero te machucar. - A voz dele carregava um tom de desculpas genuíno que null sabia que não podia ser fingido. - Só não gosto de te ver assim. Quero te ver animada de novo, com aquela paixão de sempre nos olhos. Você parece tão... Apagada. Não quero te magoar mais do que você já está magoada.
- Eu sei, null, eu sei... - null suspirou, olhando de soslaio para ele durante alguns segundos. - E fico muito agradecida por isso. Mas, agora, o momento é de assistir Caçadores de Emoção e nos divertir um pouco.
- O do Keanu Reeves e Patrick Swayze? - null imediatamente se ajeitou no sofá, fazendo-a rir.
- Esse mesmo. - E null sempre poderia rir da animação de null ao assistir aquele filme.
Realmente, era um filme inspirador. Ela tinha se esquecido de como a vida podia ser animada daquela maneira. Ficara tanto tempo vivendo em preto e branco, que esquecera de todas as cores que poderia colorir seu dia a dia.
null era expert em todas aquelas cores. Do jeito que era, não conseguira procurar outra função que não fosse Agente Federal: precisava da adrenalina do dia a dia, precisava se mexer e, sinceramente, não tinha medo de nada. Pular de paraquedas, surfar ondas de metros e metros de altura, bungee jumping, esquiar, casas mal assombradas, jogos de tensão, paintball... Qualquer que fosse o desafio, se havia perigo e adrenalina envolvidos, null era o primeiro da fila e fazia tudo com um sorriso enorme estampado na cara somente para perguntar “quando vamos de novo?!” enquanto null morria ao lado dele.
Torcendo o nariz, os olhos de null se encheram de lágrimas próximo ao final do filme. Ela tinha um sonho desde sempre, junto com null, de virar Agente Federal. Mas largara aquilo por conta das notícias de corrupção e a desilusão com o mundo - afinal, que mudança ela poderia fazer efetivamente? Assistindo aquele filme naquele dia, null ficou com raiva de si mesma por ter se largado durante tanto tempo e ter se esquecido de como era bom viver.
Ela não podia deixar que um trabalho dominasse a sua vida inteira.
- Gente, eu amo esse filme...! - null exclamou animadamente no final, recostando-se ao sofá de maneira satisfeita. - É ótimo. A cena de paraquedas, nossa, perfeita!
Mas null não respondeu. Estranhando, null se virou para o lado somente para ver uma lágrima solitária escorrendo pelo rosto da amiga. Aquilo o fez se endireitar na velocidade da luz, aproximando-se de null para checar se estava tudo bem.
- null, o que houve?! Você tá bem, tá machucada...?!
- Não, não... - null suspirou, abaixando a cabeça e balançando um pouco, indignada consigo mesma. - Tô me perguntando desde quando achei que era ok não viver e deixar que uma coisa tão pequena comandasse minha vida.
null ficou em silêncio. Finalmente parecia que ela estava acordando de um longo sono. E precisaria dele naquela jornada de seguir em frente após uma desilusão tão grande.
- Eu nem sei por onde começar. De verdade. - A moça levou uma das mãos aos cabelos, tentando ajeitá-los em um esforço que somente os bagunçou mais. - Eu nem sei pra onde ir, nem o que fazer, mas tô irritada de ter ficado parada durante tanto tempo. Sério, null, tô tão brava comigo mesma que poderia pular de paraquedas agora só pra me sentir viva de novo. Eu preciso de algo assim.
- Sério?! - null estava com os olhos arregalados, mas a animação era audível. Afinal, ela sempre se recusara a fazer aquilo quando ele convidava. - Você pularia de paraquedas?
- Sim. - null respondeu de maneira decidida, respirando fundo logo em seguida. - Eu preciso recomeçar. Preciso acordar dessa porcaria de energia que me embrulhei. Ficar de luto por uma falha é o mais seguro, então preciso chutar toda essa segurança pra bem longe de mim.
- Pular de paraquedas faz com que você se sinta viva como nunca. - Ele analisou enquanto sorria. - Coloca muitas coisas em perspectiva. É um bom ponto para um recomeço.
A moça somente concordou com a cabeça enquanto pensava.
Ela não iria muito longe se continuasse naquela festa de autopiedade, conforme null mesmo havia dito. Precisava recomeçar, precisava pensar. Mas também sabia que aquela inspiração momentânea sumiria repentinamente e a energia confortável de sentir pena de si mesma voltaria pra embrulhá-la como um cobertor quentinho. null precisava se livrar daquilo.
Era quase como se fosse um monte de cinzas que precisasse pegar fogo novamente para se transformar numa fênix e alçar vôo.
E nada melhor do que um tiro de adrenalina como um pulo de paraquedas para inaugurar aquela nova fase de reerguimento da moça.
Não que fosse fazer mágica. Mas era uma maneira de null se comprometer consigo mesma que faria aquilo por ela e continuaria em frente, independente da situação. Que a vida valia a pena ser vivida.
- null. - Ela finalmente olhou para ele de maneira destemida, repousando uma das mãos no ombro do amigo. - Vamos pular de paraquedas?
- Vamos. Quando você quiser. - Ele nem pestanejou ao responder: a frase já estava pronta antes mesmo que ela perguntasse.
- Quando você acha um bom dia? Eu iria amanhã, até!
- Olha que eu consigo preparar isso! - null deu uma boa risada, tirando o celular do bolso. - Tenho um amigo, também Agente, que faz treinamentos de paraquedas. Eu posso ir como seu responsável e a gente dá um jeito. Não vou te largar de jeito nenhum e você vai presa em mim para nada acontecer, mas conseguimos amanhã mesmo. O que acha?
A cabeça de null girava a mil quilômetros por hora. Se ela tivesse mais tempo para pensar, sabia que desistiria daquela maluquice.
- Acho ótimo. Você pode dormir por aqui e vamos amanhã, fechado?
- Fechado, raposinha!
E ela não se daria tempo para pensar.
Dia Seguinte
Portanto, lá estava null, prestes a pular de paraquedas, em uma das decisões mais loucas de sua vida, questionando a própria sanidade e tendo a certeza que nunca se deve tomar grandes decisões enquanto comendo pizza e tomando vinho.
- Precisamos prender você em mim! Tudo ok, null?! - null falava alto por conta do barulho do avião. null respirou fundo.
- Tudo ok! Vamos lá!
- Ok! Você precisa ficar na minha frente! - Com isso, null obedeceu e null começou a prender o corpo dela no dele, até que não houvesse distância alguma entre ambos. Ela conseguia sentir a respiração dele na própria orelha e na pele do pescoço enquanto null ajustava o velcro na cintura de ambos com alguns puxões. null conseguia sentir o corpo inteiro dele grudado ao dela e aquilo era estranhamente reconfortante. - Ok! Estamos prontos para ir!
Dizendo isso, o amigo de null abriu a porta do avião.
A lufada violenta de vento fez null piscar algumas vezes enquanto ambos seguravam nas tiras de couro presas ao teto para se estabilizar o máximo que podiam. null usava a outra mão para segurá-la fortemente pela cintura, fazendo-a caminhar até a beirada. A cabeça dela girou violentamente ao ver a altura e os batimentos cardíacos da moça dispararam.
- null! null! Eu não sei se estou pronta pra isso! - null comentou de maneira desesperada, fazendo-o parar imediatamente.
- Qualquer coisa, podemos voltar! Como eu disse, não vou te forçar a nada! - Ele respondeu, inconscientemente afagando a cintura da amiga de maneira reconfortante. Aquilo a fez se prender um pouco mais na realidade e trazer a mente de volta à própria cabeça ao invés de perdê-la nas nuvens. null abaixou um pouco o tom de voz, de maneira que somente ela escutasse. - Fecha os olhos e respira fundo, raposinha. Pensa em tudo que você me disse ontem e de como quer recomeçar. Se isso aqui for a sua emancipação, nós vamos, sem pestanejar. Se você tiver dúvidas, não vamos. Mas se não formos, pensa no que você vai fazer para marcar esse dia, porque null, de verdade... Você é preciosa demais pra deixar a sua vida passar sem ser vivida. Não desiste de você.
Fechando os olhos, null respirou fundo. Pensando naquelas palavras, ao abrir os olhos novamente e enxergar as nuvens, era quase como se pudesse ver a si mesma, com a mesma paixão inabalável e desprovida de medo de null, encarando-a de volta com um pequeno sorriso no rosto enquanto dizia “eu nunca vou desistir de mim”.
- Eu nunca vou desistir de mim. - null repetiu com a pequena mudança, fazendo-a sorrir mais ainda. E aquela frase também fez com que null abrisse um sorriso orgulhoso. - Vamos, null! É hora de mergulhar nas nuvens!
- Ok! Então nós vamos em três...! - null começou a contar e o coração dela disparou, porém com um sentimento diferente se espalhando pelo corpo. - Dois...! - As pernas dela começaram a formigar. - Um!
null sorriu quando null tomou o impulso e se jogou do avião.
A moça fechou os olhos e começou a gritar imediatamente, sem acreditar no que estava acontecendo. null gritava de animação junto com ela e, logo, null sentiu como se seu corpo estivesse leve como uma pluma, flutuando no ar. Abrindo os olhos, não conseguia acreditar que estava nadando naquela imensidão azul, com a terra se aproximando aos poucos, enquanto as nuvens se desenrolavam como flocos de algodão doce ao lado deles.
- Isso é incrível! - Ela gritou, fazendo null rir em resposta.
- Estamos em queda livre já! - Ele respondeu, segurando uma das mãos dela em seguida. - Aqui... Abre os braços! Da maneira que eu te ensinei!
null estava de braços abertos, mas não totalmente. Ainda estava com medo, porém ter o corpo de null próximo ao dela dava uma sensação de segurança que null não esperava ter. A moça deixou que ele abrisse ainda mais os braços dela e começou a rir logo em seguida.
- Estamos voando, null!
- Estamos, null! - Ele riu de volta com a animação dela. - Voando juntos!
E no céu, null percebeu como seu coração estava mais leve. Sim, era possível se livrar de toda aquela dúvida que a prendera dentro de casa por tanto tempo. Ela não precisava se achar insuficiente ou incapaz - se fosse, não estaria fazendo aquilo naquele momento, não? Afinal, ela estava voando. Quem mais poderia falar que tinha feito algo como aquilo em toda a vida?
null começou, aos poucos, a brincar com os dedos de null, entrelaçando-os e fazendo pequenos desenhos com as mãos emaranhadas de ambos. Em toda sua vida, de todos os saltos que tinha dado, nenhum fizera com que o coração dele acelerasse daquela maneira. Ter null junto a si, tão pertinho, fazia com que o peito de null ficasse quente de uma maneira diferente. Ele se importava tanto com ela, queria tanto vê-la bem e sorrindo daquela maneira, que pularia de paraquedas quantas vezes ela quisesse.
Mas nenhuma seria como aquela. null amava null com todo o coração - e constatar aquilo para ele foi um choque de adrenalina mais forte do que qualquer esporte radical que pudesse praticar na vida. Repentinamente, era a cabeça dele que estava girando e o coração que batia forte, o corpo esquentando de uma maneira que nunca sentira antes.
De todos os momentos que null tinha na vida para sentir a maior flechada de paixão na vida, tinha que ser no meio de um salto enquanto responsável por null.
Ele tinha certeza que em algum canto havia algum cupido se dobrando de rir da ironia daquilo.
- null. - null sussurrou no ouvido da moça, fazendo-a redobrar a atenção nas palavras dele, sem parar de sorrir. - Promete que vai ficar comigo pra sempre?
- Você sabe que eu vou, null! - Ela respondeu como se fosse óbvio, sem entender as palavras do amigo. Porém, ao ouvir uma risada um tanto nervosa de null, sentiu o coração disparar novamente. - Por que você tá perguntando isso do nada...?
null estava convencida que teria um ataque cardíaco e a culpa seria estritamente de null.
- Meu coração tá batendo de uma maneira que eu nunca senti antes. - Apesar das palavras dele, null conseguia ouvi-lo sorrindo. null estava maravilhado com os sentimentos em seu peito, apesar do leve nervosismo que fazia com que as mãos dele tremessem levemente. - E acho que é porque eu notei de repente que nenhuma adrenalina que eu senti na minha vida é comparável a quando eu tô com você.
- null... - null suspirou seriamente, virando um pouco a cabeça para ele. - Você tá se declarando para mim no meio de um salto de paraquedas?
null teve um ataque de risos logo em seguida, causando a mesma reação em null. Ela segurou as mãos dele, começando a brincar com os dedos de null, fazendo aquela sensação de calor aumentar no peito dele.
- Não dava pra esperar a gente estar no chão, não?! Como qualquer pessoa normal?!
- E qual seria a graça disso?! - null perguntou entre risadas, assim como ela. - Eu percebi que te amo agora!
- Você é muito lento, null! - A resposta entre risadas dela o fez ficar em alerta.
- O quê?! Como assim?!
- Eu percebi que te amava faz algum tempo, já! E acho que tive certeza quando você apareceu ontem na minha casa com uma pizza e uma garrafa de vinho! - null quase podia ver a indignação estampada na cara de null.
Competitivo do jeito que ele era, a moça tinha certeza que ele estava surtando internamente por ter demorado mais que ela para notar os próprios sentimentos. Afinal, ambos tinham uma competição eterna de quem seria primeiro lugar em literalmente qualquer coisa.
- Ganhei de você nessa, bobão. - null brincou, virando-se como conseguiu para dar um beijo em null da maneira que conseguia.
As bochechas dele arderam em vermelho logo em seguida. Vendo o chão se aproximar, null mudou um pouco a postura e sabia que aquela conversa teria que esperar até o pouso.
- Ok, foco aqui, raposinha! - Ele disse de repente, preparando-se cada vez mais. - Vou abrir o paraquedas, se prepara!
Dizendo isso, a mochila se transformou em um lindo paraquedas amarelo, planando no céu enquanto null aproveitava a sensação de voar. Com as mãos de null a ajudando, ele a guiou para que pousassem em um lugar seguro, onde outras pessoas esperavam familiares e amigos que também tinham tirado o dia para fazer a mesma atividade.
Antes que seus pés alcançassem o chão, porém, null arriscou um beijo no topo da cabeça de null. Aquilo a fez sorrir e corar mais do que já estava corada, enquanto os pés tocavam o chão e ambos corriam em alta velocidade até conseguirem parar.
Soltando todos os aparelhos, logo null estava solta de null e ele checava o resto da aparelhagem a fim de ver se estava tudo em ordem. As mãos e pernas de null tremiam e ela ainda tinha que entender o que acabara de acontecer, mas não podia negar que a vida dela dera uma guinada inesperada somente com aquela decisão inocente de pular de paraquedas.
null começou a sorrir, apoiando as mãos na cintura e olhando para o céu. Sim, a vida valia a pena ser vivida. Ela nunca mais queria voltar naquele estado de estagnação que se encontrara nos últimos tempos. null ainda era muito jovem e tinha muito o que viver e pelo que viver. Havia tantas oportunidades na própria frente que ela deixara simplesmente dormentes exatamente por estar tão chateada e dando espaço à própria tristeza. Ela podia ser melhor e queria ser melhor.
- Mãe! Você viu?! - null ouviu uma menina gritando por perto, apontando para ela. - Aquela moça pulou junto com o namorado! Quero ser corajosa que nem ela um dia e fazer o mesmo!
O sorriso de null somente aumentou. Nunca pensara em si mesma como um exemplo, uma pessoa que as crianças olhariam e desejariam ser igual: mas lá estava ela. Aquela sensação era excelente e null não queria deixar que você embora.
- Ei. - null finalmente surgiu no campo de visão dela, chamando atenção casualmente. - Então. O que eu disse lá em cima é pra valer, viu? Eu gosto de você, null. Por mais que sempre tenhamos sido amigos, queria que...
- Para de enrolar, null. - null respondeu com um suspiro e nem deu chance para que null continuasse o discurso: logo em seguida, seus lábios estavam unidos no primeiro beijo de muitos que ainda iriam dar.
E, naquele momento, null soube: null era melhor do que pular de paraquedas.
EXTRA: Agente Federal
- Mas olha só que novata maravilhosa temos por aqui! - null ajeitava as luvas de treino nas mãos, literalmente rondando null.
Sim, ela resolvera mudar a vida. Queria ser um exemplo. E lá estava como Agente Federal novata, pronta para ser treinada por ninguém mais, ninguém menos que o próprio ilustríssimo namorado: null.
Ela insistira com os superiores que ambos tinham um relacionamento romântico e aquela era uma péssima idéia do ponto de vista de ambiente de trabalho, porém null era o melhor que tinham em combate e missões aéreas. Portanto, era algo que ela não poderia escapar.
- Eu posso ser novata, mas tenho certeza que consigo dar uma boa surra nesse seu traseiro metido. - null respondeu de braços cruzados, da mesma maneira presunçosa de null.
- Ah, é mesmo, novata? - Ele se aproximou dela, também cruzando os braços.
- É mesmo, cabeção. - Ela rebateu, ficando a centímetros de distância.
null sorriu - mas não por causa das provocações. Não. Ele sorriu, pois aquela paixão incomparável que sempre queimara na alma de null estava de volta aos olhos dela.
- Então vamos ver. - null semi cerrou os olhos levemente, indo até o tatame de combate. Em posição de luta, fez sinal para que ela se aproximasse. - Me mostra o que sabe, raposinha.
- Ah, você não perde por esperar, null... - null se colocou no lado oposto dele, também assumindo posição de luta. - Quem perder paga o jantar?
- Feito.
- Aposto dez que o null dá um pau nela. - E era óbvio que os amigos dele já haviam se reunido nas arquibancadas para assistir àquilo.
- Ok. Fica pronto pra me pagar. - O outro respondeu, com um sorriso esperto no rosto. - Ouvi falar que a novata aí fez anos de luta e treinou inclusive com ele.
Olhando sem esperanças, o que fez a aposta somente ouviu as risadas dos amigos enquanto null e null começavam o embate.
Em momento algum, porém, null parou de sorrir. Simplesmente porque seu coração batia da mesma maneira como na vez que pulou de paraquedas com null pela primeira vez.
- Se acalma, não dá pra voltar atrás agora...! - Apesar da frase, null ria enquanto tentava acalmar a amiga.
Mas null estava grudada ao avião como um coala e não soltaria por nada naquela vida.
- Ei, relaxa... - Nisso, null segurou a amiga pelos ombros, a fim de olhá-la nos olhos. Se visse que ela estava extremamente emocionalmente descontrolada a ponto de ter algum problema físico, falaria para ela sentar e ordenaria que pousassem. Mas encontrou somente medo: justamente o que ela queria se livrar naquele momento. - Se você quiser, a gente volta pro chão agora. Eu falo pra pousarmos e não precisamos fazer nada. A escolha é toda sua, null, não vou te forçar a nada.
E, nos olhos de null, null via somente segurança. Ela precisava daquilo: pular de paraquedas era para significar um ponto de virada em sua vida. Um novo começo, quase como se ela estivesse renascendo das cinzas como uma fênix.
E ela não podia voltar atrás naquele momento. Não depois de tudo.
- Ok! - null respirou fundo, soltando da parte do avião a qual se agarrava e apoiando as mãos nos braços de null. - Ok! Nós vamos fazer isso! Eu não vou dar pra trás!
- Assim que se fala! - O sorriso dele a fez dar uma pequena risada, por mais que estivessem a quilômetros do chão. - Pronta para pular?
- Nem um pouco! - E, dessa vez, null deu uma boa risada. - Mas estou pronta para tentar! Você vai comigo, não?
- Claro. Eu sempre estarei com você, cabeção. - null respondeu de brincadeira, porém checava a altitude no próprio relógio de maneira tão séria que null só podia sorrir.
Estava quase na hora. E ela precisava tomar coragem.
- Sério... O quê?
null estava de pijama. Tinha uma série pronta para assistir e latas de cerveja prontas para serem tomadas.
Mas lá estava null parado no tapete de entrada do apartamento dela, segurando uma pizza em uma mão, vinho na outra e um sorriso meio óbvio nos lábios.
- Você não atende minhas ligações. Não responde minhas mensagens. Não me responde no Discord, não joga mais comigo, não aparece mais online na Steam e em nenhum dos outros servidores, não me responde no Skype e não dá sinal de vida algum há um bom tempo. - Falando como se fosse óbvio, ele indicou as coisas que tinha em mãos. - Medidas drásticas tiveram que ser tomadas.
- Sério...? - Ela suspirou ainda com a cara de paisagem de antes.
Talvez um pouco mais incrédula.
- Sério. Eu tô preocupado com você, cabeção. - null respondeu de sobrancelhas franzidas, usando o apelido de brincadeira, porém genuinamente preocupado. - Você não é de sumir desse jeito comigo.
- Você sabe que eu tô passando por uma fase difícil... - null abaixou a cabeça, suspirando, enquanto deixava aquele ser inconveniente entrar. Discutir com ele não mudaria o fato de que null continuaria em pé naquele tapete a madrugada toda se fosse necessário. - Não tô muito na vibe de ficar conversando.
- Sei. E você sabe que eu vou te perseguir que nem o Mr. X indo atrás do Leon no Resident Evil. - Ele deu de ombros já extremamente à vontade dentro da casa da amiga, deixando a pizza e o vinho sobre a mesa, indo ao armário buscar pratos e copos. - Vou atrás de você até no bueiro se deixar.
Aquilo fez null dar algumas risadas enquanto fechava a porta. null não pôde deixar de sorrir enquanto deixava as coisas em cima da mesa e procurava talheres.
- Persistente até o fim, não...? - Ela suspirou, apoiando-se na bancada da cozinha.
- Sempre. - null piscou de volta, dando um sorrisinho sapeca. null rolou os olhos. - Olha, eu sei que ser demitida para uma workaholic que nem você que transformou o seu trabalho no seu propósito de vida é algo que deve ter destruído seu mundo. Mas você não pode ficar me evitando e parar completamente de viver por causa disso.
- É complicado, null... - null cruzou os braços, olhando para o chão enquanto ele servia as pizzas. null só se dera ao trabalho de pegar talheres para cortar, pois comeriam na mão. Na visão dele, comer pizza com talheres era algo próximo a uma heresia gravíssima. - É o que você falou, meu mundo inteiro ruiu. Eu tô sem rumo, sem direção e descobri que não tenho nenhum propósito nessa vida a não ser trabalhar. Deixei morrer tudo que gostava pra isso e agora que não tenho meu trabalho, o que eu faço?
- Por enquanto, comer pizza. - Ele estendeu um dos pratos para a amiga, fazendo-a suspirar sem esperança enquanto o pegava. - Apesar da minha resposta insensível, eu sei. É difícil decidir o que fazer. Você tem muita coisa pra pensar, muita coisa pra organizar, mas...
- null, você nunca foi demitido na vida. É totalmente diferente de sair do trabalho por vontade própria. Eu sei que meu trabalho tava me matando e tava me planejando pra sair de lá assim que arranjasse outra coisa, mas... - null suspirou de novo, cutucando a pizza no prato sem muita animação. - Meu problema... É que eu sinto que falhei. Que fiz algo errado.
null permaneceu de sobrancelhas franzidas enquanto a escutava. null não era tão direta daquela maneira e ele esperava ter que arrancar o assunto à força, mas lá estava ela falando. Provavelmente depois de tantos meses chorando sozinha, ela provavelmente queria um ombro amigo para desabafar.
E null sabia muito bem que ela não lidava muito bem com falhas. Simplesmente porque ele era exatamente igual naquele aspecto.
- Como assim? Você nunca me disse o que eles te falaram na sua dispensa.
- Um monte de coisa sem sentido. Foi isso que falaram. - E null deixou a pizza sobre a bancada, sem ao menos querer comê-la.
Aquilo foi um alerta vermelho para null. null nunca recusava pizza.
- O que foi, null? - A voz dele ficou mais afável e até null deixou a própria pizza sobre a mesa. Aproximando-se, segurou uma das mãos da amiga, fazendo-a olhar para ele. - Você sabe que pode me falar qualquer coisa, não?
null deu um sorriso sem graça para o amigo e voltou a abaixar a cabeça. null franziu novamente as sobrancelhas - estava começando a ficar exasperado com o fato de que ela não estava falando.
- Conversa comigo, vai... - Ele lançou um olhar pidão e uma voz manhosa, claramente brincando, mas realmente querendo derrubar aquele muro que ela construíra e nunca existira entre eles. Se null continuasse daquela maneira, null logo ia começar a chorar. - Poxa, você sabe que pode contar comigo pra tudo, raposinha.
- Nossa, pegou pesado jogando o “raposinha” na conversa. - null teve que responder com uma pequena risada, olhando novamente para null e encontrando o sorriso fofo que ele dava sempre que estava mais animado. Mesmo assim, via os olhos dele brilhando mais que o normal.
- Sei que você gosta do apelido. - Ele levantou a mão dela no ar, brincando com a amiga. - Vamos lá, conversa comigo. O que foi? Quero te ajudar.
- O problema é que foi exatamente isso: nada. - A moça se rendeu com um suspiro, balançando a cabeça. - Eu não fiz nada de errado, meu trabalho sempre foi ótimo, eles estão super agradecidos, mas não sou o que precisavam no momento. Depois de anos trabalhando que nem uma louca, parece que mesmo assim fui insuficiente, sabe? Parece que não fiz meu trabalho direito, que sempre fui negligente, que não atendi às expectativas. Que apesar de tudo e do esforço, eu não fiz o que devia. E... Sei lá... Acabei entrando nesse buraco de que não sou suficiente. Não me sinto mais capaz de fazer nada e acho que não sou suficiente pra nada, porque se depois de todo esse tempo me matando eu fui insuficiente, então talvez o problema seja eu.
- Espera! - E, nesse momento, null levou dois dedos aos lábios dela, fazendo-a se calar. - Espera, espera, espera. Se eles são estúpidos o suficiente pra te demitir por um motivo idiota desses, ok, problema deles. Mas nossa, null, nunca pense tão baixo de si mesma. Insuficiente, você? Definitivamente, o problema lá era qualquer outro, menos você. Não pense assim, de verdade. Você tem tantas qualidades e é uma mulher tão incrível...
- Se eu fosse tudo isso, não teria sido demitida. - null considerou, tirando os dedos de null dos lábios. Ele fechou a cara no mesmo momento, fazendo-a rir. - Você sabe que essa minha lógica não pode ser facilmente refutada.
- Não será facilmente refutada, mas você também sabe que eu sou o rei de fazer o impossível. - null respondeu analiticamente, pegando o próprio prato de pizza e seguindo null, que ia até a sala com seu prato a fim de sentar em frente à televisão. - Você não tá levando em conta que talvez seus ex-chefes eram uns idiotas que não sabem enxergar o talento quando o vêem pela frente.
- Sabe quem fala isso? - Ela ergueu uma sobrancelha antes de se sentar no sofá enquanto observava o amigo. - Perdedores que querem se consolar por mau desempenho.
- Nossa, senhora, null. - Ele teve que rolar os olhos, sentando ao lado da amiga com um barulho considerável. - Que frase horrível. Você tá ficando pior que eu na autocobrança e competitividade.
- É porque eu sou a rainha da autocobrança e competitividade. - E foi a vez dela de responder analiticamente, dando uma pequena mordida na pizza logo em seguida. - Você sabe que não gosto de perder, null. E não gosto de me sentir uma incapacitada insuficiente. Apesar de tudo, é exatamente o que tô sentindo durante todo esse tempo.
- E resolveu se afundar na sua própria autopiedade? - null ergueu uma sobrancelha de volta, recebendo um olhar extremamente ofendido de null. - Você sabe que é exatamente isso que tá fazendo durante todo esse tempo, né? A única que vai te tirar desse buraco que você se enfiou é você, null. O que eu posso fazer é te jogar uma corda pra te ajudar a puxar de volta pra superfície.
- Você tá todo contente com as suas metáforas, não...? - null estava extremamente incomodada, mas null sorria de maneira orgulhosa. Suspirando em seguida, a moça balançou a cabeça, pegando o controle da televisão. - Não vamos chegar em lugar algum com essa conversa. Você já tá entrando em território que tá machucando meu coraçãozinho frágil e não pretendo acabar essa noite chorando no seu colo, obrigada.
- Seu coração não é frágil, ele está frágil. - null analisou enquanto ela passava alguns filmes pela Netflix. - Se você tivesse me respondido antes, a gente podia ter conversado antes de você estar no estado de depressão “pijama, cerveja e Netflix”.
- Obrigada por apontar com tanta sinceridade. - Apesar da resposta esperta, a voz de null parecia efetivamente machucada. null franziu as sobrancelhas, sabendo que provavelmente havia ido longe demais, aproximando-se da amiga em seguida e apoiando a cabeça no ombro dela, ainda a observando.
- Desculpa, raposinha. Eu não quero te machucar. - A voz dele carregava um tom de desculpas genuíno que null sabia que não podia ser fingido. - Só não gosto de te ver assim. Quero te ver animada de novo, com aquela paixão de sempre nos olhos. Você parece tão... Apagada. Não quero te magoar mais do que você já está magoada.
- Eu sei, null, eu sei... - null suspirou, olhando de soslaio para ele durante alguns segundos. - E fico muito agradecida por isso. Mas, agora, o momento é de assistir Caçadores de Emoção e nos divertir um pouco.
- O do Keanu Reeves e Patrick Swayze? - null imediatamente se ajeitou no sofá, fazendo-a rir.
- Esse mesmo. - E null sempre poderia rir da animação de null ao assistir aquele filme.
Realmente, era um filme inspirador. Ela tinha se esquecido de como a vida podia ser animada daquela maneira. Ficara tanto tempo vivendo em preto e branco, que esquecera de todas as cores que poderia colorir seu dia a dia.
null era expert em todas aquelas cores. Do jeito que era, não conseguira procurar outra função que não fosse Agente Federal: precisava da adrenalina do dia a dia, precisava se mexer e, sinceramente, não tinha medo de nada. Pular de paraquedas, surfar ondas de metros e metros de altura, bungee jumping, esquiar, casas mal assombradas, jogos de tensão, paintball... Qualquer que fosse o desafio, se havia perigo e adrenalina envolvidos, null era o primeiro da fila e fazia tudo com um sorriso enorme estampado na cara somente para perguntar “quando vamos de novo?!” enquanto null morria ao lado dele.
Torcendo o nariz, os olhos de null se encheram de lágrimas próximo ao final do filme. Ela tinha um sonho desde sempre, junto com null, de virar Agente Federal. Mas largara aquilo por conta das notícias de corrupção e a desilusão com o mundo - afinal, que mudança ela poderia fazer efetivamente? Assistindo aquele filme naquele dia, null ficou com raiva de si mesma por ter se largado durante tanto tempo e ter se esquecido de como era bom viver.
Ela não podia deixar que um trabalho dominasse a sua vida inteira.
- Gente, eu amo esse filme...! - null exclamou animadamente no final, recostando-se ao sofá de maneira satisfeita. - É ótimo. A cena de paraquedas, nossa, perfeita!
Mas null não respondeu. Estranhando, null se virou para o lado somente para ver uma lágrima solitária escorrendo pelo rosto da amiga. Aquilo o fez se endireitar na velocidade da luz, aproximando-se de null para checar se estava tudo bem.
- null, o que houve?! Você tá bem, tá machucada...?!
- Não, não... - null suspirou, abaixando a cabeça e balançando um pouco, indignada consigo mesma. - Tô me perguntando desde quando achei que era ok não viver e deixar que uma coisa tão pequena comandasse minha vida.
null ficou em silêncio. Finalmente parecia que ela estava acordando de um longo sono. E precisaria dele naquela jornada de seguir em frente após uma desilusão tão grande.
- Eu nem sei por onde começar. De verdade. - A moça levou uma das mãos aos cabelos, tentando ajeitá-los em um esforço que somente os bagunçou mais. - Eu nem sei pra onde ir, nem o que fazer, mas tô irritada de ter ficado parada durante tanto tempo. Sério, null, tô tão brava comigo mesma que poderia pular de paraquedas agora só pra me sentir viva de novo. Eu preciso de algo assim.
- Sério?! - null estava com os olhos arregalados, mas a animação era audível. Afinal, ela sempre se recusara a fazer aquilo quando ele convidava. - Você pularia de paraquedas?
- Sim. - null respondeu de maneira decidida, respirando fundo logo em seguida. - Eu preciso recomeçar. Preciso acordar dessa porcaria de energia que me embrulhei. Ficar de luto por uma falha é o mais seguro, então preciso chutar toda essa segurança pra bem longe de mim.
- Pular de paraquedas faz com que você se sinta viva como nunca. - Ele analisou enquanto sorria. - Coloca muitas coisas em perspectiva. É um bom ponto para um recomeço.
A moça somente concordou com a cabeça enquanto pensava.
Ela não iria muito longe se continuasse naquela festa de autopiedade, conforme null mesmo havia dito. Precisava recomeçar, precisava pensar. Mas também sabia que aquela inspiração momentânea sumiria repentinamente e a energia confortável de sentir pena de si mesma voltaria pra embrulhá-la como um cobertor quentinho. null precisava se livrar daquilo.
Era quase como se fosse um monte de cinzas que precisasse pegar fogo novamente para se transformar numa fênix e alçar vôo.
E nada melhor do que um tiro de adrenalina como um pulo de paraquedas para inaugurar aquela nova fase de reerguimento da moça.
Não que fosse fazer mágica. Mas era uma maneira de null se comprometer consigo mesma que faria aquilo por ela e continuaria em frente, independente da situação. Que a vida valia a pena ser vivida.
- null. - Ela finalmente olhou para ele de maneira destemida, repousando uma das mãos no ombro do amigo. - Vamos pular de paraquedas?
- Vamos. Quando você quiser. - Ele nem pestanejou ao responder: a frase já estava pronta antes mesmo que ela perguntasse.
- Quando você acha um bom dia? Eu iria amanhã, até!
- Olha que eu consigo preparar isso! - null deu uma boa risada, tirando o celular do bolso. - Tenho um amigo, também Agente, que faz treinamentos de paraquedas. Eu posso ir como seu responsável e a gente dá um jeito. Não vou te largar de jeito nenhum e você vai presa em mim para nada acontecer, mas conseguimos amanhã mesmo. O que acha?
A cabeça de null girava a mil quilômetros por hora. Se ela tivesse mais tempo para pensar, sabia que desistiria daquela maluquice.
- Acho ótimo. Você pode dormir por aqui e vamos amanhã, fechado?
- Fechado, raposinha!
E ela não se daria tempo para pensar.
Portanto, lá estava null, prestes a pular de paraquedas, em uma das decisões mais loucas de sua vida, questionando a própria sanidade e tendo a certeza que nunca se deve tomar grandes decisões enquanto comendo pizza e tomando vinho.
- Precisamos prender você em mim! Tudo ok, null?! - null falava alto por conta do barulho do avião. null respirou fundo.
- Tudo ok! Vamos lá!
- Ok! Você precisa ficar na minha frente! - Com isso, null obedeceu e null começou a prender o corpo dela no dele, até que não houvesse distância alguma entre ambos. Ela conseguia sentir a respiração dele na própria orelha e na pele do pescoço enquanto null ajustava o velcro na cintura de ambos com alguns puxões. null conseguia sentir o corpo inteiro dele grudado ao dela e aquilo era estranhamente reconfortante. - Ok! Estamos prontos para ir!
Dizendo isso, o amigo de null abriu a porta do avião.
A lufada violenta de vento fez null piscar algumas vezes enquanto ambos seguravam nas tiras de couro presas ao teto para se estabilizar o máximo que podiam. null usava a outra mão para segurá-la fortemente pela cintura, fazendo-a caminhar até a beirada. A cabeça dela girou violentamente ao ver a altura e os batimentos cardíacos da moça dispararam.
- null! null! Eu não sei se estou pronta pra isso! - null comentou de maneira desesperada, fazendo-o parar imediatamente.
- Qualquer coisa, podemos voltar! Como eu disse, não vou te forçar a nada! - Ele respondeu, inconscientemente afagando a cintura da amiga de maneira reconfortante. Aquilo a fez se prender um pouco mais na realidade e trazer a mente de volta à própria cabeça ao invés de perdê-la nas nuvens. null abaixou um pouco o tom de voz, de maneira que somente ela escutasse. - Fecha os olhos e respira fundo, raposinha. Pensa em tudo que você me disse ontem e de como quer recomeçar. Se isso aqui for a sua emancipação, nós vamos, sem pestanejar. Se você tiver dúvidas, não vamos. Mas se não formos, pensa no que você vai fazer para marcar esse dia, porque null, de verdade... Você é preciosa demais pra deixar a sua vida passar sem ser vivida. Não desiste de você.
Fechando os olhos, null respirou fundo. Pensando naquelas palavras, ao abrir os olhos novamente e enxergar as nuvens, era quase como se pudesse ver a si mesma, com a mesma paixão inabalável e desprovida de medo de null, encarando-a de volta com um pequeno sorriso no rosto enquanto dizia “eu nunca vou desistir de mim”.
- Eu nunca vou desistir de mim. - null repetiu com a pequena mudança, fazendo-a sorrir mais ainda. E aquela frase também fez com que null abrisse um sorriso orgulhoso. - Vamos, null! É hora de mergulhar nas nuvens!
- Ok! Então nós vamos em três...! - null começou a contar e o coração dela disparou, porém com um sentimento diferente se espalhando pelo corpo. - Dois...! - As pernas dela começaram a formigar. - Um!
null sorriu quando null tomou o impulso e se jogou do avião.
A moça fechou os olhos e começou a gritar imediatamente, sem acreditar no que estava acontecendo. null gritava de animação junto com ela e, logo, null sentiu como se seu corpo estivesse leve como uma pluma, flutuando no ar. Abrindo os olhos, não conseguia acreditar que estava nadando naquela imensidão azul, com a terra se aproximando aos poucos, enquanto as nuvens se desenrolavam como flocos de algodão doce ao lado deles.
- Isso é incrível! - Ela gritou, fazendo null rir em resposta.
- Estamos em queda livre já! - Ele respondeu, segurando uma das mãos dela em seguida. - Aqui... Abre os braços! Da maneira que eu te ensinei!
null estava de braços abertos, mas não totalmente. Ainda estava com medo, porém ter o corpo de null próximo ao dela dava uma sensação de segurança que null não esperava ter. A moça deixou que ele abrisse ainda mais os braços dela e começou a rir logo em seguida.
- Estamos voando, null!
- Estamos, null! - Ele riu de volta com a animação dela. - Voando juntos!
E no céu, null percebeu como seu coração estava mais leve. Sim, era possível se livrar de toda aquela dúvida que a prendera dentro de casa por tanto tempo. Ela não precisava se achar insuficiente ou incapaz - se fosse, não estaria fazendo aquilo naquele momento, não? Afinal, ela estava voando. Quem mais poderia falar que tinha feito algo como aquilo em toda a vida?
null começou, aos poucos, a brincar com os dedos de null, entrelaçando-os e fazendo pequenos desenhos com as mãos emaranhadas de ambos. Em toda sua vida, de todos os saltos que tinha dado, nenhum fizera com que o coração dele acelerasse daquela maneira. Ter null junto a si, tão pertinho, fazia com que o peito de null ficasse quente de uma maneira diferente. Ele se importava tanto com ela, queria tanto vê-la bem e sorrindo daquela maneira, que pularia de paraquedas quantas vezes ela quisesse.
Mas nenhuma seria como aquela. null amava null com todo o coração - e constatar aquilo para ele foi um choque de adrenalina mais forte do que qualquer esporte radical que pudesse praticar na vida. Repentinamente, era a cabeça dele que estava girando e o coração que batia forte, o corpo esquentando de uma maneira que nunca sentira antes.
De todos os momentos que null tinha na vida para sentir a maior flechada de paixão na vida, tinha que ser no meio de um salto enquanto responsável por null.
Ele tinha certeza que em algum canto havia algum cupido se dobrando de rir da ironia daquilo.
- null. - null sussurrou no ouvido da moça, fazendo-a redobrar a atenção nas palavras dele, sem parar de sorrir. - Promete que vai ficar comigo pra sempre?
- Você sabe que eu vou, null! - Ela respondeu como se fosse óbvio, sem entender as palavras do amigo. Porém, ao ouvir uma risada um tanto nervosa de null, sentiu o coração disparar novamente. - Por que você tá perguntando isso do nada...?
null estava convencida que teria um ataque cardíaco e a culpa seria estritamente de null.
- Meu coração tá batendo de uma maneira que eu nunca senti antes. - Apesar das palavras dele, null conseguia ouvi-lo sorrindo. null estava maravilhado com os sentimentos em seu peito, apesar do leve nervosismo que fazia com que as mãos dele tremessem levemente. - E acho que é porque eu notei de repente que nenhuma adrenalina que eu senti na minha vida é comparável a quando eu tô com você.
- null... - null suspirou seriamente, virando um pouco a cabeça para ele. - Você tá se declarando para mim no meio de um salto de paraquedas?
null teve um ataque de risos logo em seguida, causando a mesma reação em null. Ela segurou as mãos dele, começando a brincar com os dedos de null, fazendo aquela sensação de calor aumentar no peito dele.
- Não dava pra esperar a gente estar no chão, não?! Como qualquer pessoa normal?!
- E qual seria a graça disso?! - null perguntou entre risadas, assim como ela. - Eu percebi que te amo agora!
- Você é muito lento, null! - A resposta entre risadas dela o fez ficar em alerta.
- O quê?! Como assim?!
- Eu percebi que te amava faz algum tempo, já! E acho que tive certeza quando você apareceu ontem na minha casa com uma pizza e uma garrafa de vinho! - null quase podia ver a indignação estampada na cara de null.
Competitivo do jeito que ele era, a moça tinha certeza que ele estava surtando internamente por ter demorado mais que ela para notar os próprios sentimentos. Afinal, ambos tinham uma competição eterna de quem seria primeiro lugar em literalmente qualquer coisa.
- Ganhei de você nessa, bobão. - null brincou, virando-se como conseguiu para dar um beijo em null da maneira que conseguia.
As bochechas dele arderam em vermelho logo em seguida. Vendo o chão se aproximar, null mudou um pouco a postura e sabia que aquela conversa teria que esperar até o pouso.
- Ok, foco aqui, raposinha! - Ele disse de repente, preparando-se cada vez mais. - Vou abrir o paraquedas, se prepara!
Dizendo isso, a mochila se transformou em um lindo paraquedas amarelo, planando no céu enquanto null aproveitava a sensação de voar. Com as mãos de null a ajudando, ele a guiou para que pousassem em um lugar seguro, onde outras pessoas esperavam familiares e amigos que também tinham tirado o dia para fazer a mesma atividade.
Antes que seus pés alcançassem o chão, porém, null arriscou um beijo no topo da cabeça de null. Aquilo a fez sorrir e corar mais do que já estava corada, enquanto os pés tocavam o chão e ambos corriam em alta velocidade até conseguirem parar.
Soltando todos os aparelhos, logo null estava solta de null e ele checava o resto da aparelhagem a fim de ver se estava tudo em ordem. As mãos e pernas de null tremiam e ela ainda tinha que entender o que acabara de acontecer, mas não podia negar que a vida dela dera uma guinada inesperada somente com aquela decisão inocente de pular de paraquedas.
null começou a sorrir, apoiando as mãos na cintura e olhando para o céu. Sim, a vida valia a pena ser vivida. Ela nunca mais queria voltar naquele estado de estagnação que se encontrara nos últimos tempos. null ainda era muito jovem e tinha muito o que viver e pelo que viver. Havia tantas oportunidades na própria frente que ela deixara simplesmente dormentes exatamente por estar tão chateada e dando espaço à própria tristeza. Ela podia ser melhor e queria ser melhor.
- Mãe! Você viu?! - null ouviu uma menina gritando por perto, apontando para ela. - Aquela moça pulou junto com o namorado! Quero ser corajosa que nem ela um dia e fazer o mesmo!
O sorriso de null somente aumentou. Nunca pensara em si mesma como um exemplo, uma pessoa que as crianças olhariam e desejariam ser igual: mas lá estava ela. Aquela sensação era excelente e null não queria deixar que você embora.
- Ei. - null finalmente surgiu no campo de visão dela, chamando atenção casualmente. - Então. O que eu disse lá em cima é pra valer, viu? Eu gosto de você, null. Por mais que sempre tenhamos sido amigos, queria que...
- Para de enrolar, null. - null respondeu com um suspiro e nem deu chance para que null continuasse o discurso: logo em seguida, seus lábios estavam unidos no primeiro beijo de muitos que ainda iriam dar.
E, naquele momento, null soube: null era melhor do que pular de paraquedas.
- Mas olha só que novata maravilhosa temos por aqui! - null ajeitava as luvas de treino nas mãos, literalmente rondando null.
Sim, ela resolvera mudar a vida. Queria ser um exemplo. E lá estava como Agente Federal novata, pronta para ser treinada por ninguém mais, ninguém menos que o próprio ilustríssimo namorado: null.
Ela insistira com os superiores que ambos tinham um relacionamento romântico e aquela era uma péssima idéia do ponto de vista de ambiente de trabalho, porém null era o melhor que tinham em combate e missões aéreas. Portanto, era algo que ela não poderia escapar.
- Eu posso ser novata, mas tenho certeza que consigo dar uma boa surra nesse seu traseiro metido. - null respondeu de braços cruzados, da mesma maneira presunçosa de null.
- Ah, é mesmo, novata? - Ele se aproximou dela, também cruzando os braços.
- É mesmo, cabeção. - Ela rebateu, ficando a centímetros de distância.
null sorriu - mas não por causa das provocações. Não. Ele sorriu, pois aquela paixão incomparável que sempre queimara na alma de null estava de volta aos olhos dela.
- Então vamos ver. - null semi cerrou os olhos levemente, indo até o tatame de combate. Em posição de luta, fez sinal para que ela se aproximasse. - Me mostra o que sabe, raposinha.
- Ah, você não perde por esperar, null... - null se colocou no lado oposto dele, também assumindo posição de luta. - Quem perder paga o jantar?
- Feito.
- Aposto dez que o null dá um pau nela. - E era óbvio que os amigos dele já haviam se reunido nas arquibancadas para assistir àquilo.
- Ok. Fica pronto pra me pagar. - O outro respondeu, com um sorriso esperto no rosto. - Ouvi falar que a novata aí fez anos de luta e treinou inclusive com ele.
Olhando sem esperanças, o que fez a aposta somente ouviu as risadas dos amigos enquanto null e null começavam o embate.
Em momento algum, porém, null parou de sorrir. Simplesmente porque seu coração batia da mesma maneira como na vez que pulou de paraquedas com null pela primeira vez.
Fim
Nota da autora: Espero que tenham gostado dessa fic rápida e inusitada sobre pular de paraquedas, descobrir caminhos da sua vida e se declarar pro seu bff xD
Como eu disse, uma fic rápida mesmo, com poucas páginas, mas falando algumas coisas que eu queria desenvolver há tempos. Sempre que nos desiludimos com algo, é importante nos colocarmos de pé de novo, não?
Muito obrigada pela leitura e até a próxima!
XX
Que história gostosa de se ler, Kah. Sim, sempre que nos desiludimos, é realmente muito importante nos colocarmos em pé, respirar fundo, e seguir em frente. Parabéns pela história! ♥
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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