Postada em: 11/10/2020

Capítulo Único

null acordou com o sol brilhando do lado de fora.
Adentrando gentilmente pela janela, o astro repousava seus raios gentilmente nos corpos de null e null. Ele respirou fundo, abrindo levemente os olhos e encontrando a forma silenciosa de null dormindo ao seu lado.
Com um pequeno sorriso nos lábios, null se movimentou cuidadosamente para ficar de frente a ela, imediatamente tirando do caminho algumas mechas de cabelo que ameaçavam entrar na boca da moça – cuidadosamente acariciando a cabeça de null no processo. Um imperceptível sorriso surgiu nos lábios avermelhados dela, enchendo o coração dele de carinho.
Ouvir a respiração dela durante a manhã era certamente calmante. Tudo na vida de null podia ser uma espiral de acontecimentos sem direção em um mundo caótico de informações e pessoas – pessoas essas que iam e vinham, como navios que sempre estavam de passagem.
O mundo sempre estava de passagem, mas null sempre permanecia.
Solidão se tornou a única constante a qual ele podia ter uma certeza arrebatadora de que sempre estaria presente. Essa era a ironia da figura dele: sempre sorridente, sempre constante na vida dos outros, enquanto o mundo não passava de uma estrela cadente na vida dele.
null tinha certeza de que estava fadado a viver aquele tipo de existência vazia até o dia em que conhecera null. A maneira como ela sorrira para ele, a maneira como conversara, o fizera ter certeza de que ela não seria somente uma presença passageira.
E, se fosse, ele se esforçaria de maneira descomunal para que ela permanecesse.
Que surpresa maravilhosa null teve ao descobrir que null, de fato, permaneceria. Estar junto dela era algo que o impressionava a cada dia que passava – e acordar ao lado dela daquela maneira sempre fazia com que null quisesse apreciar cada segundo que tinham.
Um raio de sol naquele amanhecer era, de fato, o que ela era. Acariciando levemente o rosto de null para que não acordasse, null observava como a expressão dela permanecia calma e até um tanto sorridente conforme a mão dele brincava com a pele macia do seu rosto.
Descendo a mão pelo pescoço da moça, sentiu quando ela teve um rápido calafrio pelo corpo, e uma breve risada escapou dos lábios de null assim que a mão dele atingiu o braço de null. A pele dela era como a seda, brilhando levemente em dourado naquele nascer de sol. Não parecia justo que ele tivesse um raio do astro somente para si – mas sentia-se completamente orgulhoso de tê-la ali.
— Que braço gelado... — null murmurou com a voz ainda rouca pela manhã.
Movendo-se lentamente para não atrapalhar null, null a puxou mais para perto de si, até tê-la envolvida nos próprios braços. Ao olhar para baixo, encontrou-a sorrindo e ainda adormecida placidamente, como se nada no mundo pudesse atrapalhá-la.
A pele dela realmente estava mais gelada que o corpo dele, mas null iria aquecê-la. E permaneceria naquela cama as horas que fossem até que null decidisse que era hora de acordar. Não tinha pressa, não tinha compromisso. Tinha somente que estar naquele momento com ela – e aquilo era mais que suficiente para ele.
Fechando os olhos, null sorriu enquanto brincava lentamente com os cabelos de null. Não tinha pressa. Aquela frase era tão preciosa em sua vida. null estava sempre correndo contra o tempo com uma rotina insana, tentando arranjar horas e mais horas para os seus diversos compromissos. Ela sempre dizia que ele precisava de um dia com muito mais que vinte e quatro horas para cumprir tudo que se obrigava e voluntariava.
null tinha razão, quase como sempre. null não tinha tempo – então qualquer momento com ela, por mais que fosse somente duas horas deitado na cama em uma manhã, era uma preciosidade desmedida no dicionário dele.
Que vontade ele tinha que aquilo durasse para sempre.
Ela que ensinara a null a preciosidade de cada momento vivido com uma pessoa que se amava – e ele estava aos poucos aprendendo a criar mais tempo na própria agenda para viver com essas pessoas, não somente estar com elas.
Como naquele momento. null estava adormecida e provavelmente não teria memória – nada além do sentimento no inconsciente de que estava sendo abraçada e mantida quentinha por ele –, mas ele teria. null guardaria a memória de uma manhã dourada com seu pequeno raio de sol nos braços, e aquilo o fazia sorrir.
— Minha linda... — Ele murmurou silenciosamente, ainda com a voz matinal. — O que eu faço com você...?
A pergunta era carinhosa e com um pequeno riso no fim da frase. null sorriu de volta, como se conseguisse entender o que ele estava falando.
null não se impressionaria se ela estivesse acordada e fingindo estar dormindo somente para se aproveitar daquele momento. E ele não se incomodaria nem um pouco com aquilo, para ser sincero – conseguia entender.
— Alguém está acordada, hmmm...? — null começou a pintar o formato das sobrancelhas dela com a ponta do dedo, descendo pelo formato do nariz e fazendo-a dar uma breve e sonolenta risada.
— Mais ou menos... — A moça respondeu de maneira meio grogue e rouca, sem abrir os olhos direito. — Ainda estou com sono...
— Então, pode dormir mais... — Ele comentou da mesma maneira preguiçosa, apertando um pouco o abraço e aninhando-a ainda mais em si. — Não é como se a gente tivesse um horário hoje.
— Um milagre, não é mesmo...? — null tinha um tom esperto na voz, apesar de ainda soar sonolenta. Achou um lugar perfeito para descansar a cabeça no peito de null e apertou um dos braços em volta da cintura dele, sentindo-o correr a mão para cima e para baixo dos braços dela a fim de esquentá-la. — Nada além de ficar aqui, dormindo juntos...
— E, se fosse por mim, passaria o resto do dia assim. — null murmurou de volta, já quase embalado novamente no próprio sono.
null respondeu com um beijo quente no peito levemente gélido de null, fazendo-o abrir um enorme sorriso, apesar dos olhos fechados. Ele retribuiu com um beijo no topo dos cabelos dela, respirando fundo em seguida.
O mundo podia ter todos os compromissos possíveis. A sociedade podia cobrar o que quisesse. A agenda de null podia estar lotada com os mais diversos mil afazeres que não podia cancelar. Mas, naquele momento, não havia nada mais importante do que dormir.
Naquele momento, o sol estava nascendo.


Fim



Nota da autora: Olha que milagre uma fic EXTREMAMENTE curta da minha parte para esse ficstape xD
Mas a música é bem chill, eu queria uma vibe bem assim pra esses dois e nada melhor do que um ser workaholic aproveitando a descoberta da maravilha que é dormir com a pessoa amada nos braços, não é mesmo?
Só um momento curtinho para aproveitar o nascer do sol mesmo. Espero que tenham gostado e muito obrigada pela leitura!
XX

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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