06. Taking Back Tonight

Finalizada em: 18/09/2023

Capítulo Único


Ô ariá aio oba oba oba. Ô ariá aio oba oba oba.
Mas que nada, sai da minha frente que eu quero passar, pois o samba está animado, o que eu quero é sambar.


Calma aí. Acho que essa não é a música certa para eu começar essa história.


Sabe uma coisa que sempre achei engraçada? Quando você está assistindo um filme internacional e aparece o Brasil, ele sempre vem com a imagem do Cristo Redentor seguido da música “ô ariá aio oba oba oba” que qualquer brasileiro não faz ideia do nome dela, mas essa parte tem de cor na cabeça.

E eu sinto decepcionar vocês, mas era assim que eu estava me sentindo enquanto subia o Corcovado no bondinho daquela manhã de sexta-feira, enquanto um moço loiro ouvia justamente essa música alta no celular e conversava com outros caras ao meu lado. Engraçado que quando se tratava de gringo incomodando os outros, ninguém falava nada, mas vai um brasileiro ouvir música no transporte público para você ver… Em São Paulo era o caos, eu sabia muito bem disso porque frequentava o transporte público sardinha todos os dias.

Depois de longos minutos dentro daquele lugar, olhando a paisagem da Lagoa Rodrigo de Freitas e da praia de Ipanema com o mar azul no horizonte, chegamos no ponto final e fomos direcionados a escadaria para o monumento.

Smash it up again, I'll bounce off the wall
Shouting: Enough's enough, this place has to fall
Breaking out again not coming anymore
At the speed of sound I run from it al


Agora sim, essa é a música certa!


— Daf, você precisa se animar, poxa! — Fran me barrou com a mão antes de subir outro lance de escada.
— Como me animar, Fran? — comecei a subir os degraus já cansada. Não é possível que um dia nessa vida eu não vá ter sorte. — Que saco, não tinha como fazer um elevador aqui? Pela misericórdia de Cristo!

Do que estávamos falando? Bom, talvez há uns dez anos atrás eu seria considerada uma groupie, hoje eu não tenho tanta certeza, mas já tinha vinte e cinco e eu só queria conseguir ver o McFly de perto. Eu era fã desde os meus 12 anos, e depois de tantos shows fracassados por ser uma adolescente proibida pelos pais e sem dinheiro, em 2022 eu venci! Finalmente eles voltaram ao Brasil depois de dez anos e consegui ir em alguns shows, conheci gente nova, vivi tantas experiências — inclusive minha primeira viagem de avião — e ainda briguei com uma folgada querendo roubar lugar no show.

Lembro até hoje do dia em que consegui comprar os ingressos para um dos shows: estava em meu emprego bosta de telemarketing, não podia usar o celular, mas minhas amigas estavam no site para adquirir os ingressos no máximo de parcelas possíveis. Quando elas me avisaram que tinham conseguido, eu comemorei e comecei a chorar, era um sonho realizado. Meus colegas de trabalho não entendiam minha emoção naquele momento, MAS QUEM SE IMPORTA? EU IA VER A MINHA BANDA PREFERIDA!

Mas voltando a atualidade, a grande questão, é que o Brasil todo conseguiu tirar foto com esses caras, menos eu. Conseguiram conversar com eles, trocar abraços, COMERAM PIZZA! Mas e eu?

Saí do devaneio, deixei esses pensamentos para trás e quando senti uma brisa gelada em meus braços. Estava no ponto mais alto do Rio, a vista era muito linda que eu já tinha presenciado e de lá eu conseguia ver muitos pontos turísticos como o Parque Lage e o Maracanã.

Virei-me para o monumento e senti um arrepio leve. Aquele lugar parecia tão mágico, tão maravilhoso que não pensei duas vezes antes de mentalizar algumas coisinhas…

Primeiro que eu precisava de um emprego melhor, sem dúvidas. Segundo que eu precisava concluir a faculdade. Tinha várias outras coisas, mas meu foco atual era meu sonho conhecer os meninos do McFLY pessoalmente e bater um papo. Eles tinham feito isso com vários fãs nas cidades que passaram; São Paulo, Belo Horizonte, Ribeirão Preto, Porto Alegre e na noite anterior no Rio, só que eu não tinha condições financeiras para manter uma diária de quase R$700 no hotel que eles ficaram e fizeram uma “festinha”. Puts, eu tinha ido em outros shows deles, gastei maior grana viajando para cá e olha só no que deu?!

Então por favor, senhor Cristo, já que perdi a chance de falar com o Harry e o Tom que foram embora mais cedo, me dê uma única oportunidade de falar com o Dougie e o Danny?

Bateu um ventinho.
Uma brisa tranquila.
É…

Abri os olhos. Nada. É, pelo menos valeu a tentativa.

Depois de tirar algumas fotos, resolvemos descer a escadaria principal, que ainda estava presa na magia daquele lugar. Queria tirar mais algumas fotos para minha mãe ver, mas acabei esbarrando em um rapaz de cabelos curtos levemente bagunçados e olhos castanhos. O formato dos seus olhos me pegou para Cristo — perdoe o trocadilho —, a pálpebra era levemente caída no canto dos olhos castanhos e os cílios eram longos. Tinha o nariz grande também, o que eu julgava ser um charme para poucos além da pele parda. Ele era bem mais alto que eu, braços fortes, parecia ativo na academia, mas nem tanto. Algumas pulseiras de miçangas pretas no pulso, um colar de prata no pescoço. Lindo. Essa era a palavra que eu poderia usar.

Juro que teria prestado um pouco mais de atenção se não tivesse tropeçado logo em seguida. A minha sorte foi a Fran segurando meu braço para eu não me estabacar no plaino. Ele me encarou ao ouvir o barulho do meu tênis no chão e tenho certeza que quis rir, mas apenas virou o rosto. Pelo menos isso.

— Nossa, que gatinho — falei para Fran.

Olhei para trás novamente para ver se conseguia vê-lo, mas minha visão foi preenchida por simplesmente Danny e Dougie. Danny usava uma bermuda preta e camiseta cinza escuro, diferente do Dougie que usava a camiseta em um tom mais claro. Ambos estavam de boné e óculos, e conversavam enquanto olhavam o Cristo e já procuravam o celular para tirar fotos.

— Caceta, amiga! — Fran segurou minha mão com força, com certeza ela estava tão nervosa quanto eu. — Nossa senhora da bicicletinha, me ajuda!

Eu continuei ali parada, não queria dar pinta de surtada — por mais que eu estivesse com o coração na minha goela naquele momento —, e também não queria forçar absolutamente nada. O tanto de fã que eu vi seguir eles nos últimos dias, prender o Harry em árvores, tentar invadir hotel… Não, eu tenho vergonha na cara.

Eles começaram gravar com a equipe, tiraram fotos com algumas meninas que estavam por ali e assim que terminaram, decidi que ia lá. Mesmo com vergonha, eu tinha que ir, porque eu tinha pedido ao Cristo, ele realizou!!! Então eu ia falar com eles no meu inglês mais barato possível, mas eles tinham que entender sim, porque eu quem estava me esforçando para me comunicar.

— Oi, licença — falei em inglês.

Quando Dougie virou-se para me dar atenção, ele esticou os braços para trás, batendo em minha mão. Meu celular parecia estar tão seguro, mas voou como se tivesse asas, batendo na grade de proteção e descendo vegetação abaixo. Pude ver meu simples iPhone 6s rosa ganhando o mundo, ou melhor, ganhando o Rio de Janeiro. Eu fiquei parada olhando meu filho, sem acreditar.

— Me desculpa! — Dougie falou imediatamente. — O que eu fiz?

Eu não sabia nem o que responder, então falei em português para mim mesma:

— Caralho, o meu celular! Eu tô fodida! — falei em potuguês. Ainda estava olhando para baixo, mas não via mais o coitado.
— De verdade, me desculpe. Eu vou dar um jeito e arrumar outro para você — Dougie respondeu colocando a mão nas minhas costas.

Danny estava vermelho atrás de nós, com certeza estava segurando a risada. Realmente, acho que se não fosse o meu celular descendo Corcovado abaixo, eu também iria rir, mas eu só queria chorar. Não estava em condição de comprar outro celular, estava pagando essa viagem!

— Vou pedir para a nossa assessora conseguir um outro — ele começou a digitar alguma coisa em seu aparelho.
— Esse é o tipo de coisa que facilmente aconteceria comigo e não com você — Danny pontuou querendo rir. — Olha, a gente quer dar outros passeios hoje, como um pedido de desculpas. Vocês querem nos acompanhar?
— Seria ótimo! — Fran respondeu por nós duas. Estava animada.

Observei Dougie guardar o próprio celular no bolso da bermuda. Safado, com o dele tinha cuidado, né?

— Tudo bem — bufei ainda sentindo pena do meu celular. — Fran, avisa minha mãe que estou sem celular? — pedi e minha amiga concordou.
— Licença meninas, o bate papo acabou, preciso levar os caras — o gatinho de antes falou em português já nos afastando deles com cuidado.
— Eles chamaram a gente para o passeio — Fran interviu em inglês, pronta para brigar com certeza.
— É! Por que você não fala em inglês? — perguntei recebendo um olhar desafiador do guia. — O Dougie acabou de derrubar meu celular, disse que vai me dar outro e Danny nos chamou para ir com vocês.
— Sim, elas vão conosco! — Danny manifestou-se, já começando a subir as escadas para irmos embora. — Como vocês se chamam?
— Eu sou a Dafne, essa é minha amiga Fran.
— Dafne e Fran — Dougie repetiu.

E seguimos eles, entramos numa van preta e fomos levadas para algum lugar. Confesso que não conseguia parar de olhar para Dougie, como podia ser tão lindo?! Os olhos claros fechadinhos enquanto ria de alguma piada ruim do Danny, os cabelos loiros e medianos presos dentro do boné preto e a camisa cinza mostrando o braço tatuado… é, aquele cara era a minha perdição.

Enquanto eu observava aquele homem, o guia turístico não parecia nada contente em estar ali, porque bufava vez ou outra, e na boa, se era para ele tratar o McFly assim, era melhor nem ter aceitado o trabalho. Então mesmo sem saber o que estava acontecendo, expliquei para eles um pouco do que eu li sobre o Corcovado e o Cristo.

Paramos em frente ao AquaRio e fomos recebidos por uma equipe muito legal, as meninas cumprimentavam animadas, acho que eram fãs. Dougie ficou encantado com tudo, aquele lugar era realmente a cara dele. Sempre conhecedor de biologia, sobre animais e a natureza.

— Os plânctons são um grupo de organismos que ficam suspensos na água e têm vários seres fotossintetizantes e pequenos animais nele, sabe? É como se fosse uma casinha cheia de outros seres em cima — Dougie falava livremente enquanto eu o acompanhava pelos vidros do aquário. — Eles não têm forças suficientes para contrariar as correntes de águas, então eles são levados como movimento.
— Caraca, andar com você é ter conhecimento de muitas coisas — admirei o tanto de conhecimento que ele não deveria ter sobre biologia, já que ele era apaixonado. — Eu nem sabia o que eram plânctons!
— Sabe aquele personagem do Bob Esponja, o Sheldon? Ele é um plâncton — falou orgulhoso.
— Mentira? — e agora eu fiquei realmente surpresa, porque eu assisti muito o desenho em minha infância.
— Eu juro! — ele riu, parando perto de um aquário que tinha alguns peixinhos escondidos. — Você já deve ter lido, não sei, o meu livro?
— Não cheguei a ler inteiro, apenas uma amostra grátis, mas eu aprendi muito com o pouco que li.
— Então, lá eu falo sobre os projetos que já participei referente à reciclagem, ao meio-ambiente, sobre como podemos cuidar do planeta e eu sempre friso que acredito que nós podemos fazer a diferença — continuou enquanto andava em minha frente —, principalmente os mais jovens, sabe? É mais fácil convencer uma criança de que devemos preservar a Terra para termos qualidade de vida.
— Nossa, você é bom em tudo? — perguntei quando ele finalmente parou e olhou para mim. Sorridente. Meu deus, ele estava realmente sorrindo para mim como um deus grego!!!
— Eu sou péssimo cozinhando, juro — revelou. — Espero que você não conte isso a outros fãs, preciso manter a classe de que sou sim, ótimo em tudo — gargalhei.

Ele não existia! Então tiramos algumas fotos por ali, com Danny fazendo várias gracinhas. Aquele cara era demais e eu estava encantada com a sua gargalhada, era muito contagiante.

— Nossa, eu fico chocada quando lembro que as crianças estão fazendo quase dez anos, já. No caso, o Buzz — comentei sobre o filho do Tom. — O Cooper está com quantos anos?
— Quatro, logo mais ele faz cinco! — Danny respondeu. — Mas acredite, também fiquei surpreso quando vários fãs passaram a levar as crianças para tirar fotos com a gente, até porque a última vez todo mundo era adolescente! — ele gargalhou. — O tempo passa muito rápido.
— Eu quero saber quando vocês vão voltar, hein? — cruzei os braços. — Espero que não demore mais dez anos, viu?
— Não, acho que dessa vez não será tanto tempo — ele respondeu parando ao lado de Dougie. — O que você acha, cara?
— Eu amo o Brasil — ele respondeu em português. — Eu amo o aquário.
— Aliás, como foi o show do Fresno ontem?
— Uau! Foi incrível — Dougie respondeu, voltando a sorrir abertamente. Confesso que ver ele assim me deixava tão feliz… — O lugar era bem grande, a fachada era assim… Antiga, sabe? Eu achei um lugar muito legal.

Depois que batemos papo sobre como foi o show do dia anterior e o que eles mais gostaram do Brasil, me afastei um pouco deles e da equipe enquanto faziam filmagens para algum documentário, e acabei ao lado do guia turístico mau humorado, que agora digitava irritado no celular. Olhei-o desconfiada, até porque ele parecia nervoso e na verdade, eu queria falar poucas e boas para aquele metidinho narigudo.

— Desculpa, mas… Você poderia ser um pouco mais gentil com os caras e explicar melhor sobre a cidade? — continuei de braços cruzados enquanto ele tirava os olhos do celular e me encarava. — Eles não são daqui. Até eu que não sou daqui e não tenho formação de turismo, estou me saindo melhor do que você como guia turística deles.
— Você nem me conhece — ele atacou, me deixando surpresa com a resposta curta e grossa.
— E nem você a mim e ainda assim está sendo um brucutu — levantei a sobrancelha desafiando-o. — Eles estão sendo muito legais, você está sendo um cuzão.

Depois dessa breve discussão, senti que ele tinha acordado para vida e momentos depois explicou algumas coisas sobre a cidade, opções de mais passeios, até mesmo convidou para irem ao clássico FlaFlu que teria domingo no Maracanã.

— Vocês estão hospedadas em qual hotel? — o metidinho questionou.
— Estamos em um que fica por trás do Copacabana Palace — Fran respondeu antes que eu pisasse em seu pé para que não passasse nenhuma informação a ele.
— Legal, vou deixar os caras no Sheraton e depois levo vocês até lá, tudo bem? — ele me encarou e apenas concordei sem falar uma palavra se quer.

Depois de alguns minutos dentro da van, olhando cada rua que passamos e conversando com os caras sobre a turnê, chegamos à porta do hotel onde estávamos hospedadas. Fran desceu primeiro se despedindo e logo em seguida era eu, mas o cara me chamou para falar comigo.

— Fala logo, meu filho — me irritei com a enrolação.
— Obrigado pelo puxão de orelha — falou finalmente, agora olhando para a rua movimentada, tudo para não me encarar. — Não estou em um dia bom, sei que não é justificativa para o meu comportamento, mas… é um pouco difícil ter que lidar com tantos fãs e tanto assédio em relação a eles — ele riu, voltando os olhos para mim. — Sei que te tratei mal, me desculpa por isso, achei que você seria outra a tentar arrancar a camisa deles, mas no final de tudo foi você quem se prejudicou, né?
— Pois é — comentei me apoiando na janela da van. — Enfim, acho que já vou subir. Tenho um pouco de medo de ficar na rua tão tarde.
— Oh, sim. Certo, me desculpe — ele ligou o veículo. — Até mais!
— Até!

Boiling up on the edge, losing grip
What was up is done, where would you go now?
So where'd you go when there's no tomorrow?
Gotta get back to something better
Gotta get back to something better


***


— Amiga de Deus, recebi uma mensagem agora do guia.
— O que? — perguntei passando protetor térmico no cabelo antes de usar o secador do hotel. Eles precisavam investir em itens melhores, porque esse demorava muito a secar meu cabelo e nem era longo.
— Ele disse: “Oi, tudo bem? Aqui é o Apolo” DAFNE ELE CHAMA APOLO! — corri para o quarto para acompanhar a leitura. — “Eu queria saber se você e sua amiga estão disponíveis hoje à tarde para um café da tarde no Sheraton, acho que conseguiram o celular. Se quiser, eu busco vocês. Só me confirmar.” Confirmado.
— Meu Deus? Vamos ver o Danny e o Dougie de novo e tomar café da tarde com eles? — quase tive um treco novamente.
— Jesus apaga a luz, é um sonho que eu pedi muito ao Cristo — ela correu até a janela onde conseguimos ver o Cristo de longe e abriu para gritar: — Obrigada Cristo, você é o cara!!!
— Menina! — fechei a janela rápido, junto com as cortinas. — Tá maluca? Enfim, que horas isso?
— Ele disse que às 16h passa aqui — respondeu se jogando na cama. — Temos exatamente 30 minutos para terminarmos de nos arrumar e ir.
— Acho que damos conta.
— E qual é, o cara tem nome de Deus grego, você viu? — ela olhou algumas blusinhas da mala, descartando as que não gostava tanto. — Apolo, o Deus do sol…
— Para mim tá mais para Atlas, o Deus que segurava o céu. Chato e insuportável igual nos livros de Percy Jackson.
— Você leu muita fanfic, sabe que para essa relação de enemies logo vira lovers, tá? — entrou no banheiro para finalizar o cabelo, enquanto eu olhava o Cristo através da janela e pensando que sim, minha amiga estava definitivamente doida.

Em tempo recorde nos arrumamos e descemos para a recepção do hotel. Apolo mandou mensagem dizendo que tinha chego e entramos na parte da frente da van em direção ao Leblon, onde fica o hotel que eles estavam hospedados.

Era enorme, luxuoso e ainda tinha uma praia privativa logo em frente. Senti a pele formigar de vontade de entrar no mar, mas fui interrompida pela risada escandalosa do Danny atrás de mim com Dougie. Eles estavam de bermuda preta, Dougie de camisa branca e Danny com uma azul de botões. Logo atrás deles, estava Rachel, a assessora da banda e outros caras que acredito serem da equipe.

Parecia até mentira, e talvez ninguém acreditasse se eu contasse como conheci Dougie e o Danny, às vezes acho que nem eu queria acreditar, mas só de vê-los, minhas mãos começavam a suar e o coração palpitar. E se eu falasse asneiras? Ou errasse tudo na hora de falar, ou não conseguisse entendê-los? Não sei se meu inglês com diploma de séries legendadas e músicas da Taylor Swift, One Direction e McFly seriam suficientes para me comunicar. Eram tantas opções, tamanha insegurança que me deixava totalmente à mercê da minha mente sabotadora.

— Oláaaaa, meninas! — Danny nos cumprimentou e Dougie veio em seguida.
— Como vocês estão? — o loiro perguntou nos dando abraços. — Essa é a Rachel, nossa assessora.
— Muito prazer — falei encarando a loira ao lado. Ela parecia ter em torno de quarenta e cinco anos, no máximo.
— Então você é a azarada de cruzar o caminho do Dougie desastrado? — perguntou a mulher, fazendo com que todos rissem.
— Bom, me sinto sortuda por um lado, azarada por outro — expliquei.
— Aqui está! — ela pegou uma caixinha de iPhone da bolsa e me entregou.

Era simplesmente um iPhone 13 Pro Max, a última geração da Apple que acho que nunca tinha visto pessoalmente. Mas também não queria parecer pobre demais e me surpreender, então agradeci o celular e coloquei dentro da minha bolsa, porque ia abrir mais tarde na segurança do meu quarto de hotel.

Por fim, todos nós fomos até a mesa de café da tarde reservada na parte externa do hotel. Apolo sentou ao meu lado direito e Fran do lado esquerdo. Todos falavam sobre a turnê e como estavam felizes em finalizar tão bem a passagem pelo Brasil, sobre o documentário que estavam gravando ali, também sobre o show que tinha sido gravado no RJ e a loucura dos fãs ainda ser tão presente como era há 10 anos atrás.

E bom, percebi que eu poderia passar dias olhando Dougie falar e sorrir, assim como eu sempre desejei na minha adolescência inteira. Seus olhos fechando enquanto sorria, os dentes perfeitos à mostra, o cabelo médio bagunçado que com certeza ele cuidava igual o nariz dele e ainda assim era lindo. Comentaram no Twitter que ele estava em um relacionamento secreto com uma garota com ascendência árabe e eu esperava do fundo do coração que eles fossem felizes, porque ele merecia mais do que ninguém.

Comecei relembrar de tudo que ele tinha sofrido relacionado à álcool e drogas, o quanto não deve ter sido difícil para ele e também para todos os que estavam mais próximos a ele, o quão doloroso… e mesmo assim com toda força de vontade e apoio, ter conseguido se reerguer. Sim, o Dougie merece muito a felicidade e espero que essa garota faça parte disso.

— Pensando em que? — Apolo me perguntou baixinho, me fazendo piscar rapidamente para voltar ao mundo real.
— Em como isso não parece real — menti, mas também não queria comentar sobre o passado de Dougie ali na mesa. — Eu jamais poderia imaginar algo do tipo, eu sou fã deles há tantos anos, e isso aqui acontecer…
— É, eu imagino o quão feliz você não esteja — ele riu, mexendo o açúcar no café que tinha acabado de ser servido. — Por acaso… Você não tem interesse em ir no jogo?
— Qual? FlaFlu? — peguei uma torradinha e comecei a passar uma geleia de frutas vermelhas. — Ah não.
— Poxa, é uma ótima oportunidade de conhecer o Maracanã! — insistiu.
— Não entendo nada de futebol — comecei a rir, mas ele revirou os olhos.
— Não precisa saber sobre futebol, só aproveitar o passeio, que tal?
— Talvez — virei para Fran, que engolia uma colher de iogurte de morango. — Quer ir ao jogo amanhã?
— Definitivamente não — respondeu de boca cheia, engolindo em seguida. — E não adianta insistir, não gosto de futebol.
— Chata — comentei fazendo-a dar de ombros. — Enfim, acho que pode ser uma boa experiência.

O restante do café foi divertido, porque Danny e Dougie começaram contar as histórias de quando eles moraram juntos na Inglaterra, bem no começo do McFly. Foi um momento único, talvez um dos mais felizes da minha vida. Tiramos algumas fotos e nos despedimos. Avisei que iríamos nos ver pela última vez no dia seguinte, e com muito carinho, Danny me abraçou e disse que eu entraria para uma das histórias engraçadas do McFly por culpa de Dougie.

***


Era quase quatro da tarde quando Apolo me mandou mensagem no número novo informando que estava em frente ao hotel e eu teria que ser rápida, mas ele não esperava que eu estivesse no lobby aguardando. Então entrei no banco da frente e coloquei o cinto, porque no Rio, todos motoristas eram extremamente malucos no volante. Ele se provou totalmente fora da curva, porque dirigia com muita paciência e muito bem, graças à Deus.

— Você é de São Paulo, certo? — concordei. — Vai ficar aqui no Rio até quando?
— Até terça-feira. Volto trabalhar na quarta dos dias de banco de horas que eu implorei para minha chefe — expliquei. — Confesso que já estou com saudades daqui.
— É, o Rio é simplesmente maravilhoso — disse quando parou em um semáforo. — Eu sou de São Paulo também, mas a agência que eu trabalho foi contratada para acompanhar eles, ou seja, estou fazendo turnê junto porque São Paulo foi a primeira parada.
— Sério?
— Sim, fui para Inhotim com eles — acelerou assim que o semáforo abriu. — Os caras são muito bacanas.
— E por quê você não estava em um dia bom ontem? — perguntei enquanto olhava para ele, realmente gostando da conversa que estávamos tendo, e por incrível que pareça, eu não queria ficar falando do McFly o tempo todo. — Brigou com a namorada?

Ele sorriu e deixou de olhar para frente, prestando atenção em mim. Não entendi muito bem o que se passava na cabeça dele, mas estava prestes a perguntar o que ele tanto me olhava. Quando ele voltou os olhos para frente, freou bruscamente porque o carro da frente tinha fechado um motoqueiro que fechou um outro carro. Sorte que eu estava de cinto e agora queria retirar o elogio de direção segura.

— É a forma mais segura que você achou de perguntar se eu namoro? — ele ria de orelha a orelha e então entendi seu apontamento.
— O que? Não! — meu Deus, como eu iria sair dessa sinuca de bico agora? — Foi apenas uma pergunta simples. Só não sabia que você entenderia de outra forma.
— Não, eu não briguei com a minha namorada, porque ela não existe — disse de uma vez e tentei não encará-lo e sim olhar para a rua. — E você, namora?
— Por quê a pergunta?
— Hmmm — ele resmungou. — Interessante.
— Espera aí — encarei-o com uma das sobrancelhas arqueadas —, você está flertando comigo?
— Você namora? — repetiu a pergunta enquanto estacionava o carro e sorriu. Puxou o freio de mão, desligou o veículo e tirou o cinto. Ele me olhou, parecia que eu estava hipnotizada por aqueles olhos caidinhos na lateral, cílios grandes.
— Não.
— Então, sim.

Em seguida saiu do carro, me deixando ali com a maior cara de bolacha. Parecia que eu estava hipnotizada por aqueles olhos caidinhos nas laterais e cílios grandes. Fiquei perdida por uns segundos até entender que estávamos estacionados em frente ao Sheraton e com certeza ele tinha descido para buscar Dougie e Danny. Dougie seguia all black com o costumeiro bonézinho com a aba para trás, enquanto Danny usava camisa branca e um boné da vans.

Quando eles estavam próximos do carro, desci e liberei o banco da frente para Danny conversar sobre futebol com Apolo no caminho até o estádio, uma vez que estava completamente animado, e resolvi ir atrás com Dougie, que não sabíamos nada de futebol.

— Eu nunca entendi como funciona um jogo completamente, é muito complexo — falou depois de falarmos que estávamos indo para acompanhar Danny.
— Eu também nunca me interessei — respondi sinceramente para ele. — Tenho uma amiga que é louca por futebol, vive no estádio do time dela.
— Aqui no Rio?
— Não, em São Paulo.
— Oh, São Paulo — ele balançou a cabeça. — Você é de lá, certo?
— Sim, vim para cá assistir o show daqui também — pisquei convencida. Será que agora eu merecia minha medalha de fã número 1?
— Que legal! Ficamos sabendo de vários fãs que viajaram para ver nossos shows, foram em todos — confidenciou, tirando rapidamente minha medalha.
— Confesso que se eu tivesse dinheiro, também faria o mesmo. Só conseguimos essa viagem para o Rio com hotel por conta das milhas infinitas da Fran — expliquei. — Próxima vez que vierem, por favor, que não demorem, mas que também não seja tão já, porque gastei tudo que eu não tinha agora.
— Desistiu do Come to Brazil? — zombou. Aquele era o Dougie engraçadinho e eu confesso que amava esse lado dele.

Olhei para frente e percebi que em meio a tantas palavras trocadas com Danny, Apolo me olhava pelo retrovisor. Tentou desviar o olhar, disfarçar que estava de olho em mim, mas era impossível, eu já o tinha pego no flagra.

Continuei conversando com Dougie o caminho todo e falamos até sobre as galinhas que ele resolveu criar e tirar fotos durante a pandemia. Era engraçado saber das histórias que vi por fotos, histórias mostradas pelas metades e finalmente saber tudo por trás da foto.

Chegamos ao Maracanã por volta de 17h30, já estava muito trânsito, tinha muita gente pelas ruas e vendedores ambulantes para todos os lados. Apolo entrou por um dos portões VIP’s e entregou um cartão ao segurança. Assim que foi validado, ele nos entregou pulseirinhas laranjas e logo estávamos entrando por uma porta muito chique onde havia um brunch logo de cara, muitas comidas e bebidas por cima das mesas e muita gente chique. Confesso que me senti meio mulambenta assim que olhei novamente para meu shorts jeans, uma regatinha preta com uma camisa de onça por cima. Pelo menos eu estava me sentindo como se fosse realmente carioca, porque estava usando Havaianas branca e não era a única por ali.

Danny e Dougie foram na frente e escolheram um lugar para sentar, enquanto eu fiquei para trás com Apolo. O estádio era maravilhoso, não vou negar. Muito colorido, só tinha a torcida do Flamengo presente, pelo que entendi. Era uma forma que encontraram de não ocorrer brigas das torcidas organizadas. Todos os lugares pareciam preenchidos e o local já estava cheio, por isso acabamos nos sentando atrás dos meninos nas últimas duas cadeiras.

— Quer comer alguma coisa? — perguntou Apolo ao meu lado.

Devo dizer que estava ainda um pouco sem graça com sua cara de pau de dizer que estava flertando comigo, assim como fiquei sem graça quando o peguei me olhando através do retrovisor enquanto eu estava distraída conversando com Dougie. De toda forma, ficaríamos ali durante algumas horas e tínhamos que agir naturalmente, certo?

— Hmmm, não. Não estou com fome ainda, mas obrigada — agradeci.
— Você não está tentando me evitar depois que falei que estava flertando com você, está? — perguntou direto. Pisquei algumas vezes sentindo as minhas bochechas esquentarem de vergonha. — E não precisa ficar com vergonha.
— Você me deixa sem graça! — reclamei rindo. — Eu não estou acostumada com essas investidas tão diretas assim, sabe?
— Desculpa se eu estiver sendo desagradável, de verdade — ele ajeitou a camiseta que usava e desviou o olhar, parecia ser sincero.
— Não, você não está! — adiantei para que ele não ficasse sem graça. — É só que… Não esperava conhecer alguém assim no Rio de Janeiro, sabe?
— Assim?
— Bonito.

Ele levantou as sobrancelhas um tanto surpreso e depois sorriu. Caralho, ele era simplesmente mais lindo enquanto sorria e isso começou a atiçar algo dentro de mim que eu não sentia há muito tempo. Porém eu precisava me controlar e entender tudo à minha volta. Não precisava perguntar duas vezes se valia mesmo a pena aquele jogo de sedução.

O jogo começou em poucos minutos e logo o Fluminense estava abrindo placar, mas logo em seguida o Flamengo empatou o jogo e assim ficaram até finalizar o primeiro tempo. Estava um jogo bem acirrado segundo alguns torcedores a nossa volta, e acabei tomando um susto quando o Flamengo virou o jogo e vários torcedores explodiram em gritos.

Conseguimos sair do Maracanã por volta de 20h e deixamos os meninos no hotel quase 21h. Desci e dei um abraço apertado em ambos, talvez aquela seria uma das poucas vezes que eu teria tanta sorte assim em minha vida.

— Mandem um beijo para Harry e o Tom, por favor — pedi ainda nos braços de Dougie que parecia me ninar com carinho. Eu realmente ia sentir falta daquilo. — E por favor, voltem antes de dez anos, mas também não voltem tão cedo porque precisamos nos recuperar de todo o gasto que tivemos com vocês!
— Come to Brazil! — Dougie gritou abrindo os braços. — E você se cuida, hein? Boa viagem de volta para casa.
— O mesmo para vocês! — abracei-o novamente, foda-se. — Mande um beijo para Cooper, eu adoro ele!
— Pode deixar, vou mandar — Danny aproveitou para me abraçar também.
— Eu amo vocês!
— Ahhh, a gente te ama também, eu juro — Dougie respondeu.

We're taking back tonight all the dreams we left behind
We're taking back the dawn before the light

Here we go again, we'd heard it before
Like a shotgun knocks you down to the floor
Whine me up again, I'm ready to roll
I'm a wrecking ball that's out of control


E depois de todo esse sentimentalismo, minhas lágrimas por ter tido essa maravilhosa oportunidade de dar rolês com 2/4 do Mcfly, entramos no carro novamente. Acreditando que Apolo me deixaria no hotel, relaxei no banco, mas parecia que eu estava errada quando ele parou em frente à uma loja da The Bakers, em Copacabana.

— Espero que você esteja com fome, porque eu estou morrendo — ele disse enquanto já saia do carro e corria em direção a minha porta para abrir para mim.
— Obrigada!

Fomos atendidos gentilmente por um dos garçons. Ele perguntou se já tínhamos em mente nossos pedidos, mas eu não fazia ideia do que poderia comer naquele lugar e olhando o cardápio parecia tudo tão caro, que quase desisti de comer, mas a fome estava falando mais alto. Por fim, sem saber o que iríamos pedir, falei que Apolo poderia escolher, até porque ele deveria entender mais do que eu.

— Então vamos pedir uma pizza de brócolis, certo? — perguntou para saber se eu gostava e concordei. — E quatro queijos, tudo bem?
— Sim, claro.
— Anotado, meninos — o garçom falou. — Alguma bebida?
— Uma coca-cola, e você? — Apolo apontou para mim.
— O mesmo.

Olhei toda a decoração, afinal, tudo parecia mais importante do que encarar o cara à minha frente. Eu tenho certeza que ficaria hipnotizada mais uma vez com sua beleza, então o tanto de tempo que eu pudesse manter meus olhos longe dele, eu o faria.

— Mas então — e ele parecia não querer colaborar com isso, porque com sua fala, tive que encará-lo —, você trabalha com o quê? Estuda?
— Eu trabalhava de telemarketing, atendimento ao cliente, mas fui promovida recentemente e trabalho na parte de marketing da empresa — falei mexendo os dedos na minha frente. — E claro, estudo letras, completamente diferente, mas enfim.
— Sério? — juntou as sobrancelhas e sorriu em seguida. — Quantos períodos você já fez?
— Até o momento cursei 2 anos, faltam mais 2 — parei de mexer os dedos, porque isso estava chamando muita atenção de Apolo. — E você? Me conta de você.
— Bom, sou o Apolo, tenho vinte e oito anos, sou formado em turismo e já viajei para sete países. Confesso que tenho medo de sair do sete e muitas coisas darem errado em minha vida, então vou ficar com o benefício da dúvida — fez uma pausa para pensar e logo levantou as sobrancelhas grossas lembrando de algo mais. — Tenho uma tatuagem na perna do meu desenho animado preferido na infância/adolescência, vulgo Super Choque, já beijei meninos e tenho medo de avião.
— Medo de avião quando é turismólogo? — quase bati na mesa de indignação. — Conta outra, Super Choque.
— Gostei do apelido — pontuou, organizando a mesa quando o garçom colocou a pizza à nossa frente e pratos para que pudéssemos comer. Estava muito cheirosa, aparentemente muito saborosa. — Você não teve nenhuma curiosidade quando disse que já tinha beijado meninos?
— Hmm, na realidade não — dei de ombros enquanto passava meu prato para ele colocar uma fatia de pizza.
— Sério?
— Eu não me surpreenderia se você falasse que é heterossexual, então… — cortei um pedaço de pizza e coloquei na boca, sentindo o sabor de todos os ingredientes maravilhosamente combinados.
— Você tem um ponto — disse também experimentando a pizza. — Meu Deus, isso aqui está divino!
— SIM!

Comemos a pizza quase inteira enquanto conversávamos, mas resolvemos dividir um waffle com morangos e chocolate antes de irmos embora. Não sei dizer qual eu gostei mais.

Já dentro do carro percebi que Apolo pegou uma avenida que eu ainda não tinha conhecido de Copacabana e automaticamente fiquei um tanto receosa, já que o conhecia a apenas dois dias. É uma merda ser mulher, ficamos com medo a todo momento. Por isso, peguei o celular rapidamente e enviei minha localização para Fran, que logo perguntou onde eu estava indo e digitei o óbvio “não sei”.

— Tenho duas opções para você — tirei os olhos do celular depois de ler a mensagem de Fran em letras garrafais falando que eu deveria perguntar a ele —, você pode voltar ao hotel agora, te deixo lá na frente, você toma um banho quentinho e se ajeita para viajar amanhã, ou… — ele andava bem devagar pela rua, comecei conhecer que estávamos perto do meu hotel — Te levo para conhecer a praia vermelha na Urca. O que acha?
— Hmmm, pode ser — concordei já escrevendo uma mensagem para Fran avisando que eu ia demorar mais um pouco e mandei nosso emoji de segurança, uma borboleta para sabermos que estávamos seguras e bem.

O percurso foi de mais ou menos vinte minutos quando estacionamos na Praça General Tibúrcio, que no centro tem o famoso Monumento aos Heróis de Laguna e Dourado. Demos sorte, porque bem na hora que estávamos passando, um carro estava saindo. Tinha uma feirinha e uma grande tenda com música ao vivo, mesmo que se tratasse de um domingo às 22h.

— O Pão de Açúcar funciona até as 21h, então acho que essa galera que está aqui desceu de lá e está aproveitando os últimos minutos — Apolo explicou assim que saímos do carro.
— A próxima vez que eu vier para o Rio, vou fazer questão de conhecer todos os pontos turísticos possíveis — comentei e senti sua mão segurar a minha.
— Se quiser, posso ser seu guia — abraçou-me pelos ombros, dando um beijo em minha bochecha.

Atravessamos a rua e logo de cara estava o mar. Tinha algumas pessoas molhando os pés, outras sentadas na mureta antes da areia, algumas sentadas em cima de lenços temáticos do Rio enquanto olhavam para o mar e o horizonte escuro à frente. Confesso que não queria ir embora daquele lugar, parece que aquela cidade era feita para mim. Uma perfeita mistura de centro de São Paulo com uma praia no final da rua, era assim que eu me sentia.
Ficamos sentados na mureta por alguns minutos apenas ouvindo o som do mar e sentindo o cheiro de maconh@ que alguns adolescentes estavam fumando no canto da praia. Ainda tinha bondinhos descendo dos morros, acredito que com os funcionários das lojas que estavam lá em cima; também podia ver um navio no fundo da paisagem e observar as luzes de um restaurante que tinha adjacente ao pão de açúcar.

— Eu estou amando esse lugar, você não tem noção — confidenciei ainda sem olhar Apolo.
— Não tem como vir a cidade maravilhosa e não se apaixonar — ele respondeu.
— Você já esteve aqui quantas vezes? — virei para observá-lo, mas ele estava me olhando e pelo jeito já fazia algum tempo.
— Perdi as contas de quantas vezes vim ao Rio, minha madrinha mora em Niterói, então desde criança venho para cá. Conheço essa cidade como a palma da minha mão — disse.
— Você é de São Paulo mesmo?
— Sim, mas sou criado 50% aqui, 50% lá — riu. — Todas as férias escolares eu passava aqui, teve uma época que decidi que queria estudar aqui e vim morar com minha madrinha, mas durou apenas um ano.
— Sério?
— Sim. Minha mãe é muito família e não aguentou de saudades — comecei a rir junto com ele com a explicação. — Minha abuela também não gostava da ideia de eu viver aqui no Rio por conta da violência.
— Abuela? — perguntei confusa.
— Ah sim, ascendência mexicana — ele apontou para o próprio rosto. — Minha abuela nasceu em Monterey, trabalhava em um hotel como arrumadeira e conheceu meu avô por acaso quando ele invadiu o banheiro feminino com dor de barriga — gargalhei, assim como ele já fazia. — Até hoje não sei como eles se casaram, porque ela é brava. E aí que ela veio embora com ele aqui para o Rio, se casaram e minha mãe nasceu em Duque de Caxias, no ano seguinte do casamento. Então a abuelita sabe como é a zona norte do Rio, por isso comenta bastante sobre e não gosta quando sou mandado para cá, mas de qualquer forma, aqui estou eu e CARALH######, de todas as vezes que eu vim ao Rio, essa é a melhor.
— Por quê?
— Porque estou aqui, agora. Contando a história da minha vida para uma mulher que eu conheci há dois dias, mas que também roubou meus sonhos sem a minha permissão — disse em apenas um fôlego e quem quase teve um treco fui eu, porque senti as mãos suarem.

So where would you go now?
So where'd you go when there's no tomorrow?
Gotta get back to something better
Gotta get back to something better


Encarei-o sem acreditar em suas palavras. Seus olhos eram lindos e parecia que ao olhar para mim eles estavam ganhando um brilho diferente, ou eu que estava me iludindo mesmo, sei lá. Os cílios longos junto com os olhos caidinhos nas laterais me deixaram fraca. Levantei minha mão em direção ao seu rosto e toquei o final dos olhos, sentindo sua pele quente contra meus dedos gelados de ansiedade. Ele aconchegou o rosto em meu toque, aparentemente estava tão em transe quanto eu. E sem pensar duas vezes, ali com o barulho do mar, algumas pessoas gritando e uma música tocando ao fundo, que eu juntei nossos lábios.
Foi um beijo simples, até porque estávamos apenas experimentando a nossa nova proximidade, um toque que não tínhamos dado antes.

—Você me surpreende — ele sussurrou em meus lábios.
— Fico feliz em servir.

Com essa frase, ele avançou novamente, dessa vez tomando meus lábios com mais vontade e pedindo passagem com sua língua. Iniciamos um beijo lento e carinhoso, que não demorou a deixar-nos sem ar. Eu poderia viver para sempre naquele momento, naquela noite, mas precisávamos realmente respirar, então ele parou. Ele sorria, lindo lindo lindo! Era só isso que eu conseguia pensar naquele momento, no quão lindo ele era, no quão sortuda eu tinha sido esse final de semana.

We're taking back tonight all the dreams we left behind
We're taking back the dawn before the light
We're taking back tonight all the dreams we left behind
We're taking back the dawn before the light


— Confesso que quando vi você, não achei que seria uma pessoa tão bravinha e legal — falou quando nos afastamos um pouco. — Mas eu juro por Deus, que eu quero te conhecer cada dia mais.
— Então você está basicamente dizendo que esse não somos um amor de verão? — perguntei, lembrando rapidamente de me corrigir. — Quero dizer, inverno. Nós estamos no inverno.
— Tem três dias que eu te conheci e estou parecendo um boneco de posto apaixonado — ele passou as mãos no rosto com um pouco de vergonha, mas gargalhava enquanto falava. — E não, não somos um amor de inverno se você não quiser.

Gotta get back to something better
Gotta get back to something better


— Não quero — passei a mão pelo seu braço musculoso, subindo até seu pescoço. — Você faz academia?
— Sim, algumas vezes na semana, sempre que dá — estranhou a pergunta e olhou confuso. — Por quê?
— Quer ir embora daqui? Fazer essa última noite carioca memorável? — perguntei em apenas uma lufada de coragem, ignorando sua pergunta.
— O que você tem em mente? — perguntou começando a ficar em pé e realmente interessado no que eu estava disposta a propor.
— Que tal se… começarmos a nos conhecer melhor no quarto do seu hotel? — alisei seu peitoral quando já estávamos em pé. Ele nem era tão mais alto que eu, só um pouco.
— Que proposta indecente, amei — respondeu segurando minha mão para atravessarmos a rua em direção ao carro. — E aí a gente continua isso até que horas?
— Hmmm, que tal recuperar o amanhecer antes da luz? — paramos na porta do passageiro, sua mão foi para minha cintura, a qual ele apertou em seguida.
— Não sei de onde você tirou essa frase, mas estou amando mesmo te conhecer! — ele estalou um selinho em meus lábios já abrindo a porta para que eu pudesse entrar. — Vamos, que eu quero que você me surpreenda.

We're taking back tonight all the dreams we left behind
We're taking back the dawn before the light
We're taking back tonight all the dreams we left behind
We're taking back the dawn before the light

You know it's gonna be
You know it's


FIM



Nota da autora: Oi, GD’s. Como vocês estão? Talvez essa seja a “fanfic” de McFly mais diferenciada que vocês vão ler, acho que não sei mais escrever com eles, porque os caras tudo em relacionamentos (e nenhum é comigo, kkkkkrying). Coloquei um boy magia gatíssimo aí, para todos ficarem felizes com o nome de um deus grego. Em relação aos meninos, a passagem deles pelo Brasil mexeu muito comigo, acho que com vocês também, né? Ainda mais depois deles deixarem bem claro que o Brasil foi uma grande influência de acordo com o PTP, até porque a frase “recuperar o amanhecer antes da luz” me lembra muito certa noitada no RJ — que eu infelizmente não estava, mas algumas amigas minhas estavam. Sem dúvidas foi a melhor semana da minha vida, também a mais louca. E eu só queria voltar aquelas noites de shows e todos os sonhos que deixei para trás!!! HAHAHA Obviamente que queria viver essa fanfic, mas não foi possível, quem sabe na próxima turnê? Hahaha. Espero que tenham gostado da história.



Nota da scripter: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


comments powered by Disqus