Capítulo I
Respirei fundo antes de abrir a porta do escritório. Coloquei a cabeça para dentro, vendo minha mãe levantar a cabeça.
- O que foi dessa vez, ? – Ela perguntou, tirando os óculos e colocando-os em cima da mesa.
Entrei no escritório, fechando a porta atrás de mim.
- Você sabe que Kate e Jane vão para o aniversário do Steve, certo? – Falei, andando em direção à mesa.
- Sim.
- Então, já que minhas irmãs vão, eu acho mais do que justo eu também ir.
- ... – Ela começou, mas eu a interrompi.
- Mãe, Steve é meu amigo também e minhas irmãs estarão lá, então eu não vejo problema algum em ir à festa dele. Por favor, mãe. – Falei, juntando as mãos. – Eu já tenho dezoito anos.
- Isso é só daqui a dois meses. – Meu pai entrou no escritório e parou ao meu lado. – E eu estava na sala de parto quando você nasceu e tenho certeza de que não foi na véspera de Natal. – Ele passou o braço por meu ombro. – Deixa-a ir, Sônia. Ela é tão amiga de Steve quanto as outras meninas, e eu sei que ela gosta muito dele.
Olhei para o meu pai, que sorria. Não pude controlar o sangue borbulhar em minhas bochechas. Papai sabia que Steve era bem mais que um amigo para mim, mesmo ele sendo três anos mais velho que eu. Fazia um tempo que eu já o enxergava com outros olhos.
- Tudo bem. Vá logo antes que eu mude de ideia. – Abracei meu pai e tirei o roupão que vestia. – Ah, não, , você vai usar esse vestido?
- Vou sim. Por quê? – Falei, passando a mão no vestido que eu tinha ganhado de Natal. Não era exatamente o preferido da minha mãe, já que ela odiou tanto o modelo que pediu que a vendedora escondesse antes que eu tivesse a chance de pedi-lo no meu tamanho.
- Deixe a menina ir com a roupa que ela quiser, Sônia. Vai logo, , antes que eu não te deixe ir.
Dei um beijo na bochecha do meu pai e saí do escritório correndo. Saí pela porta de casa e vi John, motorista da família, me esperando. Não era nenhuma surpresa o que eu iria fazer. A maioria das pessoas que trabalhavam na minha casa sabia que essa festa era muito mais importante do que parecia; aliás, o que acontecesse nessa festa definiria meu futuro para sempre. E eu esperava que Steve fizesse parte dessa mudança.
Fazia um tempo que eu sentia borboletas no estômago em todas as vezes que ele me abraçava de lado, ou pedia para que eu fizesse alguma coisa para ele. Eu não sabia o que isso era até ter uma longa conversa com Mary sobre o que borboletas no estômago significavam.
- Eu não acho que é isso que está acontecendo, Mary. – Disse, dando mais uma garfada no meu bolo de chocolate.
- Isso é exatamente o que está acontecendo, minha querida . Você está gostando de Steve e, bem, isso não é nenhuma surpresa para nenhum de nós. – Ela se virou para Julie e Samantha, que apenas assentiram.
Mordi o lábio, antes de largar o garfo e olhar para ela.
- E como eu faço para isso acabar? Digo, eu não quero sentir isso.
- Por que não?
- Porque Steve nunca olharia para mim dessa maneira.
- E por que não? – Julie perguntou, parando ao lado de Mary.
- Porque eu não sou bonita como as minhas irmãs.
- Isso é bobagem, . – Ela disse, segurando em minhas mãos. – Óbvio que você não é bonita como as suas irmãs. – Abaixei a cabeça. – E isso se dá pelo simples fato de que você é muito mais bonita que elas juntas.
- Mas todas elas são loiras de cabelos lisos e têm olhos azuis, como minha mãe, e eu sou como meu pai, cabelos castanhos, cacheados e olhos da mesma cor.
- Só porque você não é fotocópia das suas irmãs não quer dizer que você não seja bonita, . A beleza das pessoas vem de dentro. Eu sei que você já deve ter escutado isso e ter dito: mas que bobagem! Porém, do que adianta ser uma pessoa bonita por fora e podre por dentro? – Ela soltou minhas mãos. – E se Steve for mesmo um cara legal como você sempre diz, ele não se importará com sua aparência, e sim com o seu interior. – Mary deu um beijo no topo da minha cabeça.
- ! – Escutei um grito vindo da porta pela qual eu tinha acabado de sair. – Não faça isso, por favor. – chegou mais perto.
- . – Comecei, mas, antes que eu pudesse continuar, ele me interrompeu.
- Eu sei que você gosta do meu irmão, mas, por favor, não faça isso.
- Eu preciso, . Se eu não fizer, minha cabeça vai explodir.
- Ele vai quebrar seu coração, . – Ele me segurou pelos ombros. – É isso que ele faz, . Ele quebra os corações de garotas como você. Você acha que é a primeira vez que ele faz isso? Não é, . Ele faz isso todo o tempo, ele as chama de “patinho feio”.
- Você está alucinando, . – Abri a porta do carro. – Hoje, minha vida vai mudar para sempre e Steve vai ser o fator principal dessa mudança. – Respondi, entrando no carro – Vamos, John.
era o irmão mais velho de Steve. Ele era dois anos mais velho que Steve e quatro anos mais velho que eu. A minha família e a família de sempre foram amigas desde os tempos de colégio e, por isso, não era nada estranho o fato de passarmos quase todas as datas comemorativas juntos.
Obviamente, ser a mais nova entre todos eles fazia com que Steve e minhas irmãs me deixassem de fora da maioria das brincadeiras. Porém, com , era diferente. Ele sempre brincava comigo e cuidava de mim como se eu fosse mais irmã dele do que o próprio Steve. e Steve nunca tiveram uma relação muito boa, não sei se algo tinha acontecido para eles se estranharem todo o tempo, ou se era apenas birra de irmão. detestava falar sobre isso e, toda vez que eu tentava puxar assunto, ele desconversava.
Não foi nenhuma surpresa quando eu apareci no baile de formatura com ao meu lado, causando inveja em todas as garotas da minha turma por ter um “acompanhante” bem mais velho que eu. Mas o que elas não sabiam era que minha relação com nunca passaria de amizade, não apenas pelo simples fato de sermos amigos desde infância, mas também pelo fato de eu estar perdidamente apaixonada pelo seu irmão. Foi logo depois que Steve saiu do colégio e passou um ano fora viajando pelo mundo – eu não sei bem ao certo –, mas alguma coisa nele estava mudada quando ele apareceu na porta da minha casa dois anos atrás, nessa mesma data distribuindo presentes para todo mundo. Eu sabia que Steve não era o único que tinha mudado, pois eu também sentia algo mudando dentro de mim e, depois da minha conversa com Mary, percebi que esse sentimento sempre esteve aqui. Eu apenas fazia questão de deixá-lo adormecido, pois eu sabia que Steve nunca olharia para mim com esses olhos.
Porém, dois anos depois, aqui estava eu, dentro de um carro, esperando que todos os elogios que Steve vinha me dando nos últimos meses fossem mais do que coisa da minha cabeça. Steve sabia o efeito que fazia em mim e, às vezes, parecia que ele se aproveitava disso. Tudo isso, entretanto, tinha mudado quando o próprio Steve sussurrou em meu ouvido antes de ir embora que esperava me ver em sua festa de aniversário.
- Chegamos! – John falou, estacionando o carro em frente à boate.
Respirei fundo e vi John virar-se para me desejar boa sorte antes de eu sair.
- Jane! Kate! – Gritei, vendo-as na fila da entrada.
- O que você está fazendo aqui, sua pirralha? – Jane falou logo quando me aproximei da fila. – E ainda mais com esse vestido horroroso. Tenha piedade, !
- Mamãe deixou eu vir. – Respondi, vendo Jane rolar os olhos. – Posso entrar com vocês?
- Mas é claro que não. – Jane respondeu de imediato.
- Por que não?
- Porque essa festa não é para pirralhas como você.
- Mas é o aniversário do Steve. Ele é meu amigo.
- Oh, , não seja tão patética. Essa sua paixãozinha por Steve está ficando ridícula.
- Jane! – Repreendi-a.
- Jane. – Kate começou. – Deixe-a entrar conosco. Aposto que o Steve não se importa.
- Mas eu me importo. – Ela olhou para Kate e depois para mim. – Volte para casa, . Vá assistir a aqueles filmes de nerd ou usar aquela polaroid velha para tirar fotos daqueles bichos nojentos.
- Olá para as garotas mais lindas da festa. – Steve chegou, abraçando Jane de lado. Ele olhou para mim e seu sorriso desapareceu. – ? O que você está fazendo aqui?
- Eu vim para o seu aniversário. Você me chamou, não lembra?
- Você chamou, Steve? – Kate perguntou.
- Mas é claro que não. , volte para casa, aqui não é lugar de criança.
A fila andou, e eu fui seguindo-os.
- Mas eu já tenho dezoito anos.
- Não, não tem. – Steve disse. – Volte para casa, .
- Steve! – Gritei, vendo-o andar em direção à porta da boate com Jane debaixo de seu braço.
- Ela está com você, Steve? – Um segurança perguntou.
- Mas é claro que não. – Ele riu. – Ela é só mais um patinho feio.
- Steve! – Falei, vendo-o virar-se para mim outra vez.
Ele andou em minha direção e segurou em meus ombros.
- Feche os olhos.
- Mas...
- Feche os olhos, por favor. – Ele disse.
Eu o obedeci. Senti uma movimentação em cima da minha cabeça e, logo quando eu abri os olhos, um turbilhão de flashes me impediram de perceber o que estava acontecendo. Andei para trás até tropeçar e cair no chão. As lágrimas vieram pouco tempo depois. Escutei alguns gritos, mas eu não conseguia saber do que se tratavam. O som do meu coração quebrando dentro do meu peito estava alto demais.
Senti duas mãos me levantarem, mas não tive coragem nenhuma de abrir os olhos até porque depois tudo ficou preto.
Patinho feio. Acordei ofegante, quase pulando da cama. Passei a mão pela minha testa, sentindo-a molhada. Foi só um sonho, pensei, apoiando-me na cabeceira atrás da minha cama. Na verdade, na cabeceira que deveria existir, já que, em vez de me encostar na mesma, acabei batendo minha cabeça com tudo em uma janela. Afastei-me finalmente e dei uma olhada em volta. Essa, definitivamente, não era minha cabeceira, e esse, muito menos, meu quarto.
Andei até a porta e, logo que eu a abri, escutei a voz do vir do andar de baixo. Em um impulso, me vi correndo escada abaixo. Ofegante, parei na porta da cozinha e vi todos os que estavam presente ali me olharem assustados. O único que eu conhecia era , o qual, sarcasticamente, foi o último a olhar para mim. Quando ele o fez, eu corri até seus braços, abraçando-o tão forte que eu pude jurar que ele iria morrer asfixiado.
- Não foi um sonho, né? – Perguntei entre soluços.
- Não. – Ele respondeu, empurrando-me devagar e fazendo com que eu sentasse no banco à sua frente. – Eu tentei te avisar.
- E eu não escutei. – Sorri sem humor. – Eu sou muito burra mesmo! – Disse, colocando minhas mãos em meu rosto.
- Não, não é. – Tirei as mãos do rosto, tentando descobrir o dono da voz, a qual era desconhecida para mim. – Steve acha que o mundo está aos seus pés e, por isso, tem o direito de maltratar as pessoas. O que ele não sabe é que ele é só mais um idiota que vai morrer sozinho. – Ele disse, andando até mim e limpando minhas lágrimas. – Você não deveria chorar, Steve não merece suas lágrimas. Do mesmo jeito que ele não mereceu as minhas. – Deixei meu queixo cair, fazendo com que ele soltasse um riso. – O quê? Você acha que foi a primeira? – Assenti. – Steve vem fazendo isso por anos e, se eu não me engano, aquela megera loira sempre está com ele.
- Aquela megera loira é minha irmã.
- Uma bela de uma vadia ela é.
- Nisso, eu tenho que concordar. – Respondi, apoiando os cotovelos na mesa. – Dá até uma dor no estômago só de imaginar as piadas que Jane irá fazer. Provavelmente, estarei velha e ela ainda me enviará cartões de Natal me chamando de patinho feio.
olhou para o desconhecido e, depois, os dois olharam para mim.
- O quê?
- Eu acho que eu não me apresentei formalmente. Eu sou James Derni. – Ele estendeu a mão.
- Não brinca! James Derni? – Apertei sua mão. – Eu simplesmente amo as suas fotos, eu sou fã de carteirinha. Eu quase botei a casa abaixo quando minha mãe disse que eu não poderia ir à sua exposição.
- me disse. – Ele soltou a minha mão. – E, por isso, eu espero que você aceite o que irei lhe propor. – Ele se sentou ao meu lado. – Como você deve saber, eu viajo todo o mundo trabalhando e sempre preciso de uma ajuda extra. Como acabei de demitir meu assistente porque ele estava me traindo com outro e tenho um livro para lançar, eu estou à procura de alguém novo. me disse que você é apaixonada por fotografia. Ele até me mostrou umas fotos que você tirou com sua polaroid e, bem, dadas as circunstâncias, acho que a mudança faria bem para você. Então, você topa?
- Espere um segundo. Você quer que eu viaje com você? Você nem me conhece! Você vai ajudar uma estranha apenas da bondade do seu coração?
- Bem, tem me falado sobre você já faz um tempo. Eu só não botei fé porque meu time já estava completo.
- Mas eu não tenho nenhuma experiência em fotografia.
- Por isso mesmo. Eu quero te ensinar tudo que eu sei, principalmente se isso for calar a boca daquela megera da sua irmã.
- Jane, lá no fundo, é uma boa pessoa.
- Bem lá no fundo mesmo, então. – Sorri para ele. – , eu sei que você está com medo. Um estranho vem do nada te chamar para acompanhá-lo numa viagem para trabalhar por todo o mundo? Até eu, que adoro um desafio e um estranho, ficaria assustado. Mas eu também sei que é disso que você precisa, e você também sabe que sim.
Olhei para ele e, depois, para . Querendo ou não, eles tinham razão. A ideia de voltar para casa fazia meu estômago revirar. Apenas a ideia de ter que aguentar Jane fazendo piadas pelo resto da minha vida já fazia uma dor vir na parte de trás da minha cabeça e algo me dizia que não iria passar tão cedo.
A ideia de mudar me assustava, mas algo me dizia era exatamente o que eu precisava.
- Eu aceito.
Capítulo II
Steve realmente mudou minha vida. Eu não sabia na época, mas o que Steve e minhas irmãs fizeram comigo – dois anos atrás – foi uma das melhores coisas que me aconteceram. Obviamente, eu não era nenhum tipo de masoquista que apreciava dor ou algo do tipo, muito longe disso; eu apenas apreciava o fato de Steve e minhas irmãs terem feito algo tão brutal comigo a ponto de me mandar para longe por quase dois anos. Às vezes, eu acho que eles me fizeram um favor, não exatamente da melhor maneira possível, mas, ainda sim, um favor. Se não fosse pelo que eles haviam feito, eu não seria a pessoa que sou agora e, bem, eu estava mais do que orgulhosa de dizer que estava adorando ser a melhor versão de mim que eu poderia ser.
A viagem que James me propôs deveria durar no máximo seis meses, porém, depois de seis meses, a última coisa que eu queria fazer era voltar para casa. Viajar com James fotografando tudo e todos apenas parecia certo, até mais certo do que morar no mesmo teto que minha família. Às vezes, parecia que eu pertencia a essa vida nômade, sem eira nem beira, e que a coisa mais perto de uma casa seria um quarto de hotel por dois dias. James odiava a ideia, já eu amava.
Não foi nenhuma surpresa quando James se tornou oficialmente meu melhor amigo depois de três meses de viagem. Parecia que éramos irmãos separados no nascimento. Não só tínhamos o bom gosto para fotografia, mas também o mesmo gosto por homens e a vontade de raspar as sobrancelhas de Jane e desenhar um pênis em sua cara com caneta permanente, porque aí sim ela iria provar do próprio veneno. Ambos esperávamos que ela não se engasgasse, pois isso não era nem o começo da nossa pequena vingança.
Minha mãe não aceitou muito bem a minha viagem surpresa com um total desconhecido. Na verdade, ela não aceitou de jeito nenhum, mas, como papai já tinha assinado a autorização, não havia nada que ela pudesse fazer. Com papai, foi diferente. Ele sabia que eu precisava disso – não que eu tivesse contado o principal motivo da minha viagem –, ele apenas sentia que deveria me deixar ir. Eu sempre tive uma conexão inexplicável com meu pai e acho que isso se dava ao fato de eu ser a filha mais parecida com ele, não só fisicamente como mentalmente. É claro que ele não esperava que eu passasse quase dois anos fora, até eu não esperava ficar tanto tempo fora. Porém, o tempo foi passando e, quando eu vi, estava comemorando o Natal fora de casa.
- Você já ligou para o seu pai? – James perguntou, sentando-se ao meu lado.
Fazia duas semanas que tínhamos voltado para Londres e eu não tinha ligado para o meu pai, muito menos avisado de que eu estava de volta. Não sei bem ao certo porque não o fiz, já que eles dois foram as únicas pessoas que pareciam sentir mesmo a minha falta nesses quase dois anos. Porém, a única coisa que eu sabia era que até o simples ato de pensar em voltar para casa já me dava calafrios e vontade de voltar para a China.
- Não. – Falei, encostando a cabeça no sofá e olhando para ele.
- ...
- Eu sei, eu sei. – Fechei os olhos. – Eu acho que preciso de um tempo antes de voltar para casa.
- Você teve dois anos. Não sei você, mas acho que isso é bastante tempo. – Olhei para ele. – Pelo amor de Deus! O que aconteceu com aquela sua vontade de meter a mão na cara do Steve e desenhar um pênis na cara da sua irmã?
- Pensando bem, eles não valem o esforço.
- Ah, não! – Ele se levantou. – Levante-se. – Ele me puxou pelo braço, fazendo com que eu me levantasse também. – Vamos! – James me puxou pelo braço, levando-me em direção à porta.
- Aonde nós vamos? – Perguntei, vendo-o jogar um casaco para mim e logo depois minhas botas. – Ei! Isso doeu.
- Nós vamos visitar seu pai.
- Mas...
- Mas nada, . – Ele se virou para mim. – Se você não tomar cuidado, essa saudade vai te comer de dentro para fora; tudo isso por causa daquele merda do Steve e daquela vadia insuportável da sua irmã. Eles dois juntos não são nem metade do que você é. Não são nem metade da metade, para falar a verdade.
Calcei minhas botas enquanto ele abria a porta.
- Você já fugiu demais, não acha, ? Eu realmente adorei você ter virado uma versão feminina de mim, menos depravada e mais bonita, é claro. Só Deus sabe o quanto eu adorei, mas já está mais do que na hora de você enfrentar os seus demônios. De preferência, usando a força bruta. – Sorri, vendo-o se aproximar. – Você é , a garota que juntou suas trouxas e partiu numa aventura com um estranho. Acho que você pode lidar com um ou dois seres desprovidos de cérebro.
Era por esse e outros motivos que eu considerava James como se fosse minha família.
- Você tem razão. Na verdade, você sempre tem razão.
- Eu sei disso. Agora vamos, estou louco para ver a cara de inveja da Jane quando ver que as meninas saíram para respirar.
Ele me puxou porta afora. James chamava o táxi enquanto eu fechava a porta. Fechei o casaco na esperança do frio não entrar em contato com meu corpo, o que foi uma perda de tempo, já que eu senti o mesmo quase congelar minhas pernas. James me puxou para dentro do táxi, e eu indiquei qual o nome da rua.
- Nervosa? – Ele perguntou, segurando minha mão.
- Não sei.
- O que você vai dizer quando vê-los?
- Não sei.
- O que você espera que eles digam?
- Não sei.
- Será que o Steve vai se arrepender quando ver que você desabrochou?
- Eu realmente espero que ele não o faça, porque aí não seria só um tapa, e sim uma sequência de movimentos de MMA.
Eu não era nenhuma garota ingênua para não saber diferenciar se alguém gostava de mim apenas pelo jeito que eu era ou só pela minha aparência. Trabalhar como fotógrafa não se tratava apenas de captar aquele momento perfeito, mas também os comportamentos das pessoas. Uma imagem valia mais do que mil palavras, certo? Então acho que eu saberia se alguém, principalmente se esse alguém fosse o Steve, um mauricinho egoísta, só se interessasse por mim porque eu ficava muito gostosa em um vestido colado.
Demorou um pouco, mas logo eu percebi que Steve foi sim o meu primeiro amor. Uma péssima escolha, devo ressaltar, porém quem nunca se interessou por alguém que nunca valeu a pena, que jogue a primeira pedra. Eu tinha dezessete anos, pelo amor de Deus, e não sabia nada da vida ou sobre garotos, então Steve não me parecia uma péssima escolha como primeiro amor. Ele era bonito, charmoso e já era como se fosse da família... Não tinha nada que atrapalhasse. A não ser pelo fato de que não era recíproco.
- Eu iria gostar de ver você dando uma lição em Steve. – Abaixei a cabeça. – O quê? Não vai me dizer que você ainda gosta daquele encosto?
- Não sei.
- Será que você pode me responder alguma coisa além de “não sei”?
- O que você quer que eu diga? Eu realmente não sei, mas algo me diz que eu saberei assim que encontrá-lo.
- Você já sabe o que acho, né?
- Sim. – Respondi, tentando evitar mais um discurso, o que foi em vão, já que ele respirou fundo e começou:
- Steve não foi e nunca será seu primeiro amor, , e sim uma paixãozinha. E você sabe o que as pessoas dizem sobre paixão? Ela acaba. A sua acabou no dia em que você decidiu viajar comigo, em vez de ficar e escutar o que Steve tinha para dizer.
- Um primeiro amor não é necessário acontecer para ser um primeiro amor.
- Mas também não precisava humilhar se não era recíproco.
O taxista parou o carro e avisou que tínhamos chegado. Olhei pela janela e vi a mansão dos à frente.
- Você morava aqui? – James estendeu a mão para me ajudar a descer do carro. – Essa é a casa que você colocou no livro, certo?
James não viajou o mundo apenas fotografando tudo e todos da bondade de seu coração. Ele tinha recebido uma proposta de uma editora para viajar o mundo fotografando tudo que o olho humano perdia por estar sempre apressado e nunca prestar atenção onde estava pisando. Demorou mais do que o esperado, mas James conseguiu e, por isso, tínhamos voltado para Londres, para que ele lançasse o livro.
- É sim.
James fez com que eu mostrasse todas as fotos que eu tirei desde os meus doze anos, quando meu pai me deu a minha polaroid e até usou umas que ele tinha gostado.
- Mas não diz mansão no livro.
- Eu quis homenagear minha avó por parte de pai, então coloquei o sobrenome dela, Revolli, em vez de . – Falei, apertando a campainha.
- Sua mãe não vai gostar nada disso.
- Eu deixei de me importar com o que minha mãe fala faz um tempo, e aposto que ela já fez o mesmo. – Respondi.
Pouco tempo depois, uma silhueta masculina veio em direção à porta, uma silhueta masculina e de cabelos grisalhos.
- Olá. Em que posso ajudá-los?
- John! – Falei, vendo-o me olhar estranho.
- Por acaso, eu te conheço? – Ele abriu o portão.
- Mas é claro que sim. A não ser que você tenha se esquecido todas aquelas vezes que você me ensinou a dirigir sem o consentimento dos meus pais.
- ? – Ele perguntou, surpreso. – Oh, meu Deus, ! – Ele me abraçou pela cintura, fazendo com que eu levantasse do chão. – Como você cresceu, menina. – Ele disse, colocando-me no chão. – Olhe para você, eu quase não te reconheci.
- Estou tão feia assim?
- Claro que não. Olhe para o seu cabelo, você deu um jeito naquela juba de leão.
- Não era juba de leão.
- Era sim. – James falou. – Eu sou James.
- Foi você que levou embora, não foi?
- Ele não me levou embora, John, eu quis ir com ele.
- E fico feliz que você tenha ido. Pelo o que estou vendo, você está melhor do que esperava. Vamos entrar, Mary com certeza vai ter um ataque do coração. – Ele passou o braço por meus ombros. – Seus pais sabem que você está de volta? – Balancei a cabeça em forma de negação. – E ? Ele sabe? – Balancei a cabeça de novo. – Oh, eu vou gostar de ver isso.
James empurrou a porta da cozinha e a primeira coisa que eu escutei foi Mary gritando com uma das suas assistentes, e ela ainda estava falando em francês, o que significava que ela estava muito brava.
Ela olhou para nós e rolou os olhos.
- Quem são esses? – John me empurrou, fazendo com que eu fosse um pouco para frente. – Quem é essa?
- Mary, você não está prestando atenção.
- Prestando atenção em quê? John, eu não tenho tempo para suas brincadeiras. Eu tenho uma penca de convidados apenas para essa noite.
- Você está fazendo aquele bolo com cobertura de chocolate branco e preto? Eu posso lamber a panela do chocolate e passar o dedo na vasilha da massa do bolo? – Coloquei a mão na boca.
- Você é nojenta, . – James disse, atrás de mim.
- ? – Mary ajeitou os óculos. – Oh, pela graça do Senhor, é você mesmo. – Mary quase me esmagou em um abraço e, se eu não estivesse tão assustada, a esmagaria de volta. – Eu pensei que você nunca mais ia voltar. Quando seu pai disse que era para você só ficar seis meses e você não voltou, nem deu notícias, eu pensei que... Ai, meu Deus! Eu vou cair. – Mary começou a se abanar, e eu a segurei pelos braços até uma das suas assistentes pegar uma cadeira.
- Oh, Mary, me desculpe. – Falei, ajudando-a se sentar. – Se eu soubesse que você ia ter um ataque, eu tinha falado logo que era eu.
- Está tudo bem, minha filha.
- Mary, será que eu posso comer um daquele croquetes agora?
Virei-me para o lado e vi meu pai entrar na cozinha. Meu coração comprimiu dentro de peito, e eu senti lágrimas formarem nos meus olhos logo quando seus olhos pousaram sobre mim. Eu não precisei falar nada, nem ao menos um sou eu, pai, a , pois ele já estava me abraçando e me rodopiando pela cozinha. Eu senti aquelas lágrimas – que eu estava lutando para que não caíssem desde que eu vi a fachada da minha casa – descerem por meu rosto, mas elas estavam longe de serem de tristeza.
- Você veio! – Ele falou, colocando-me no chão. – Jane disse que você não vinha. – Ele se separou de mim. – Oh, ! – Ele me abraçou outra vez. – Eu estou tão feliz que você esteja aqui. Sem você, essa casa fica tão vazia.
- Desculpe por não voltar antes. Eu fiquei tão ocupada com o trabalho que, quando eu fui perceber, já era Natal. – Falei, afastando-me dele e limpando minhas lágrimas.
- Eu sei, você precisava de um tempo e eu respeito isso. Mas não significa que eu não tenha sentido sua falta.
- Eu também senti sua falta, pai. – Falei, abraçando-o de novo.
- Jane vai gostar de saber que você veio para o casamento.
- Casamento? Que casamento?
- O casamento de Jane. Você não recebeu o convite?
Eu deveria, pelo menos, estar surpresa por Jane nem ao menos ter tido a decência de me enviar o convite de seu casamento, mas, muito pelo contrário, eu até esperava esse tipo de ação vindo dela. Eu não deveria, porque, afinal de contas, era o casamento dela e, normalmente, em casamentos, a noiva convidava até aquela parte da família que ela não suportava apenas para manter as aparências ou para esfregar na cara deles que estava feliz. Nem isso Jane fez. E isso me fazia pensar que ela me odiava tanto a ponto de colocar a culpa em cima de mim por não estar em seu casamento. O que tornava o que estava prestes a fazer ainda mais divertido.
- Acho que eu devo ter esquecido de checar a correspondência em algum hotel que eu fiquei durante esses meses, mas não se preocupe. Eu, com certeza, virei para o casamento da minha irmãzinha. Eu estou com tantas saudades delas e de mamãe.
- Ela e suas irmãs não estão aqui. Estão se preparando para o jantar de ensaio hoje à noite. Você vem para o jantar de ensaio, certo? John pode ir te buscar, se você quiser.
- Claro. Eu não perderia esse jantar por nada nesse mundo.
Capítulo III
- Chegamos! – Coloquei as pernas para fora do carro com a ajuda de John. Ele tinha feito questão de ir me buscar na casa de James para ter certeza de que eu não iria fugir outra vez. – Nervosa?
- Um pouco.
- Não fique. Todos que te amam estão aqui. está aqui, aposto que ele quer muito te ver.
- E eu a ele. – Respondi, olhando para a entrada – Você pode entrar comigo?
- Você tem que fazer isso sozinha. – Ele deu um beijo no tipo da minha cabeça. – Vai lá e cause um ataque do coração no resto da família.
Sorri e comecei a andar em direção à porta de entrada.
Adentrei o salão na esperança de que ninguém reparasse que eu tinha chegado, mas, quando eu estava na ponta da escada, pude ver minha avó deixar o microfone cair no chão. Ela olhou diretamente, deixando um “” fugir de seus lábios e fazendo com que todos olhassem para mim. Dei o primeiro passo para descer a escadas, mas logo desejei que não o fizesse, pois minhas pernas estavam em um estágio gelatinoso que eu desconhecia. Eu achei que meu rosto ia de cara com chão, mas, antes mesmo que eu pudesse pensar em me equilibrar, eu já estava sendo segurada pela cintura.
- Sempre precisando de alguém para te salvar, hein, ?
Olhei para o estranho, vendo-o sorrir de lado, fazendo com que seus olhos verdes brilhassem. Ele me colocou de pé e saiu andando sem nem ao menos olhar para trás. Por um momento, eu queria que ele fizesse, porque aí eu poderia dar uma boa olhada em seu rosto e me lembrar de onde eu conhecia aquele sorriso de lado carregado de sarcasmo.
- Eu sabia que você viria! – Acordei do transe, sentindo Kate me abraçar pelo pescoço. – Oh, ! Eu sinto tanto por você ter ido embora. – Ela se afastou de mim com lágrimas nos olhos. – A culpa foi minha. Eu deveria ter parado Jane e Steve.
- Está tudo bem, Kate. – Interrompi-a. – Era algo que eu deveria ter feito há muito tempo, mas não sabia que precisava.
- Mas...
- Mas nada, Kate. Eu não estou com raiva. Na verdade, eu estou com sede e com fome.
Ela sorriu.
- Oh, , eu tenho tanta coisa para te falar. e eu...
- E quem é essa? – Jane chegou atrás de Kate, interrompendo-a no meio da frase.
- Oh, Jane! É , não está vendo? – Jane não parecia nada contente em saber que a estranha que tinha atraído a atenção de todos quando a atenção deveria ser toda para ela era sua irmã, a “patinha feia”.
- ? – Ela perguntou, assustada. – Mas o que... Mas o que você está fazendo aqui?
- Eu vim para o seu casamento.
- O quê? – Ela gritou, chamando a atenção de algumas pessoas. – Vem aqui! – Ela me pegou pelo braço e arrastou pelo salão até o escritório de papai. – O que diabos você pensa que está fazendo? – Ela perguntou logo depois de me empurrar e fechar a porta atrás de si.
- Estou muito feliz em te ver também, Jane. Parabéns pelo seu casamento, a propósito. Estou mais do que feliz saber que você não me mandou convite de casamento nenhum, mas mentiu para o papai dizendo que sim.
- Como você...
- Eu não sou estúpida, Jane. Mas eu realmente estou agradecida que você tenha poupado papai de saber que você não me queria aqui. E não se preocupe, eu não vou contar para ele o que você fez. Vai ser nosso segredinho. Sempre é assim, certo?
- Não é que eu não queria, eu apenas queria te poupar.
- Poupar de quê?
- Jane, querida, está tudo bem?
Eu não esperava por isso. Não sei bem ao certo pelo quê: vê-lo depois de tanto tempo e não sentir aquelas malditas borboletas, ou por escutar sua voz escoando pela sala chamando Jane de querida.
Steve tinha mudado, não o bastante para se tornar irreconhecível, mas o bastante para não parecer nada com aquele mauricinho escroto que era.
- Está tudo bem sim, eu já estou indo. – Ela respondeu com a voz mais calma possível.
- Quem é essa? – Ele perguntou, entrando no escritório. – É aquela sua amiga da França? – Ele estendeu a mão para mim. – Eu sou Steve.
- Às vezes, eu acho que fiquei com toda a inteligência da família. – entrou no escritório, o que fez com que um sorriso aparecesse em meus lábios. Acho que meu pai estava certo quando dizia que você só sabe quanta falta alguém faz quando a vê pela primeira vez depois de um tempo.
- ! – Eu disse, sentindo-o me abraçar pela cintura e me rodopiar no ar.
- Eu senti sua falta. – Ele me colocou no chão.
- Oh, , eu também. Desculpe-me se eu não liguei ou avisei que estava de volta, eu apenas...
- Tudo bem, .
- ? – Ele gritou, interrompendo de continuar. – ? , é você? Nossa!
- Cala a boca, Steve! Mamãe está te chamando. Alguma coisa sobre os noivos. – Ele se virou novamente para mim. – Você veio para o casamento?
- Bem, eu adoraria dizer que sim, se eu tivesse sido convidada.
- Jane não te chamou?
- Oh, não. – Olhei para Jane. – Ela queria me poupar de vê-la casando com o culpado da minha ida porque ela sabe que ela é tão culpada quanto ele. Não se preocupe, irmãzinha, eu acho que vocês foram feitos um para o outro.
- Cuidado para não se engasgar no seu próprio veneno, .
- Não se preocupe, Jane, se você não se engasgou até hoje, não tem perigo de acontecer comigo. Vamos, !
Arrastei pelo salão, pegando duas taças de champanhe em alguma bandeja no meio do caminho. Chequei se vinha atrás de mim e me direcionei até a varanda da casa, aquela que dava para ver a velha casa da árvore.
- Isso foi sensacional. – Virei-me para , bebendo uma taça atrás da outra. – Uau! , o que aconteceu com você? Desde quando você bebe desse jeito?
- Oh, , tem tanto que eu preciso lhe contar. – Falei, colocando as duas taças em cima da mesa. – Mas, antes, preciso de mais duas taças. Ou melhor, uma garrafa inteira ou duas. – Falei, começando a andar em direção ao salão.
me segurou pelo braço porque ele sabia que algo estava errado. Antigamente, eu atacaria a geladeira, mas, nos dias de hoje, eu preferia o bar.
- .
- Eu não deveria ter vindo, . – Falei, afastando-me dele. – Isso foi um erro.
- Não seja patética, .
- Patética? – Olhei para trás e vi um estranho sentado na escuridão. – Quem diabos é você para falar que eu sou patética?
O estranho saiu da escuridão bebendo o último gole de seu uísque. Quando ele abaixou o copo, colocando-o em cima da mesa, eu percebi que era o mesmo cara que tinha me salvado de quase cair. Quando seu olhar pairou sobre mim, eu finalmente lembrei de onde eu conhecia aqueles olhos verdes.
- ? Oh, meu Deus! – Falei, deixando um sorriso escapar de meus lábios.
era o melhor amigo de infância de , aquele idiota que vivia puxando minhas tranças e me chamando de pirralha mimada, mas me salvou quando eu tive a estúpida ideia de subir na casa da árvore de minha casa, mesmo sabendo que estava lotada de cupins. Eu poderia ter morrido naquele dia, ou até mesmo quebrado um braço, porém fez isso no meu lugar. Não morrer, claro, senão ele não estaria aqui em minha frente, mas quebrar o braço no lugar da pirralha irritante e mimada.
Um ato mais do que estranho, principalmente para alguém como .
E como no mundo eu começaria a explicar ? Perdeu os pais em um acidente de carro quando tinha onze anos, época em que seu tio virou seu guardião legal. Herdou um patrimônio milionário e era um rebelde sem causa. Uma coisa bem James Dean Style que deixava as garotas loucas por onde passava.
não falava muito sobre comigo, só quando eu metia meu nariz e perguntava alguma coisa. Mesmo assim, não tinha muito o que falar. era uma das pessoas mais reservadas que eu conhecia. Ele era como uma cebola: tinha várias camadas e, normalmente, fazia as pessoas chorarem com facilidade, principalmente pirralhas de tranças. Entretanto, todo mundo sabia que, debaixo daquelas camadas, havia um cara incrível. Pelo menos, era o que dizia. Eu nunca pude comprovar essa teoria já que esse “cara incrível” nunca deu as caras quando estava perto de mim.
A última vez que eu o vi foi no meu aniversário de catorze anos, quando ele trouxe como acompanhante uma stripper apenas para irritar o velho do seu tio. Depois disso, senhor o mandou para um internato em algum lugar no interior da Inglaterra para que ele terminasse os estudos. Todos ficaram horrorizados com o que ele fez, mas eu tinha achado mais do que hilário.
- É o que todas elas dizem. – Ele disse, andando em nossa direção.
- Mesmo idiota. – Disse, parando em sua frente. Não sei bem ao certo como aconteceu, mas, quando eu vi, já estava com os braços ao redor do seu pescoço, sentindo sua mão tocar em minhas costas. – É bom ver você. – Falei, separando-me dele.
- Bom ver você também, . Queria dizer o mesmo, mas você mudou completamente. Até seus peitos cresceram, o que eu achava que nunca ia acontecer.
- Obrigada... Eu acho.
- , vamos embora daqui logo? Ainda tenho que resolver a droga dessa despedida de solteiro do seu irmão.
- Você é o padrinho de Steve?
- Para a minha infelicidade.
- Steve não é má pessoa.
- Ah, não, . – Ele rolou os olhos. – Pelo amor de Deus, não vá me dizer que você ainda sente alguma coisa pelo Steve?
- Claro que não. Ele vai se casar com minha irmã.
- Resposta errada. – Ele começou a andar em direção ao salão. – Me procure quando a resposta for: eu posso fazer melhor. Vamos, ! – Ele desapareceu pela multidão sem nem ao menos me dar o direito de resposta.
apenas abaixou a cabeça, rindo.
- Do que você está rindo?
- Ah, , você pode mudar por fora, mas parece aquela mesma pirralha de tranças que não entendia as piadas de gente grande. – Ele deu um beijo no topo da minha cabeça e também desapareceu pelo salão.
Capítulo IV
A noite não tinha sido completamente um saco. Papai fez questão de me fazer companhia a noite inteira. Quando ele tinha que fazer alguma coisa, vovó tomava seu lugar escutando as histórias que eu tinha para contar. Minha mãe veio falar comigo em algum ponto da noite, apenas me deu um abraço e disse:
- Oh, , por que você não avisou antes que ia voltar? Eu já dei seu quarto para sua tia Anne.
- Não se preocupe. Eu vou ficar na casa do James, de qualquer maneira.
- Não acha que deveria ficar mais tempo com sua família do que com um desconhecido?
- James não é um desconhecido, é meu melhor amigo. E não se preocupe mais com o meu quarto, eu não vou mais usá-lo de qualquer maneira. Quando eu tiver o tempo, vou sair da casa de James para o meu próprio apartamento.
- Com que dinheiro?
- O que eu ganhei nesse tempo que eu trabalhei para James, é claro. – Ela arregalou os olhos. – O quê? A senhora pensou que foi de graça? Não seja boba, mamãe, aprendi com a senhora que negócios vêm primeiro do que qualquer coisa.
Ela nada falou, apenas deu de ombros e saiu.
Viajar com James tinha começado com uma experiência, mas, logo quando nós aterrissamos em Londres, ele fez questão de mover uma quantia de dinheiro para minha conta, mesmo que eu tivesse feito questão de não receber. Ele apenas disse que eu merecia por todo o trabalho duro e ainda prometeu uma parte da venda dos livros.
Mesmo que eu não quisesse admitir, James sabia que eu precisaria de dinheiro para quando chegasse em Londres. Sair da casa dos meus pais estava em meus planos, antes mesmo de eu embarcar nessa aventura com James. Tudo que faltava era só a coragem e o dinheiro. Agora eu tinha os dois.
Fechei a porta atrás de mim e vi que a luz da sala estava acesa. Olhei no relógio de parede, que marcava quase três da manhã.
- James? – Chamei, pegando um guarda-chuva, caso não fosse James quem estivesse na sala.
- Graças a Deus! Você chegou. – James falou logo quando apareci na sala, mas ele não estava sozinho. e estavam com ele e um a ponto de morrer engasgado de tanto rir.
Não sei porquê, mas aquilo fez com que uma vontade de jogar esse guarda-chuva nele.
- Do que você está rindo? – Perguntei, largando o guarda-chuva no chão. – ! – Eu o chamei.
Ele parou de rir, limpando as lágrimas.
- Oh, , se você quisesse matar alguém, eu sugeriria que pegasse uma faca na cozinha, não um guarda-chuva.
- Foi a primeira coisa que eu pensei em pegar.
- Ficou bonitinha e burra também?
- Olha aqui, seu brutamontes maldito... – Eu comecei a andar até ele, pronta para socá-lo até que ele sangrasse, mas segurou meu braço.
- Nós precisamos da sua ajuda. – Ele disse, fazendo com que eu olhasse para ele. – Steve desapareceu.
- Como assim Steve desapareceu?
- Desaparecendo, oras. – respondeu. – deveria estar cuidando dele, mas se perdeu...
- Em algum rabo de saia. – Completei, olhando para ele, que apenas deu de ombros.
- Ele começou a falar sobre arrependimento e a querer voltar no tempo, um parque e depois sumiu. E ainda esqueceu o celular.
- E por que você veio logo atrás de mim?
- Porque você é a única que pode achá-lo.
- E por que isso?
- Por que você sabe tudo sobre o Steve. – disse, levantando-se. – Você ficava correndo atrás dele e fazendo tudo que ele pedia. Aposto que você deve saber até onde a localização exata da marca de nascença dele.
- Mas é claro que ela não sabe. Às vezes, até mamãe esquece que ele tem aquela coisa horrível na perna. – olhou para mim. – Sabe?
- Dentro da coxa esquerda, perto do joelho.
- Está vendo? – riu. – Chamar a polícia para quê, quando se tem e sua paixãozinha de infância?
- , por que você não enfia esse sarcasmo no meio do...
- Ei! Ei! – James falou, colocando-se no meio de nós dois. – Vamos nos concentrar em achar o noivo, porque, pelos meus cálculos, nós temos menos de oito horas para o casamento.
- Espere um segundo! – Falei, interrompendo James. – Você disse parque?
- Aham.
- Mas é claro!
- O que é claro?
Virei-me para .
- Quando Steve costumava fazer alguma coisa errada e se arrependia, ele sempre dizia que queria ter o poder de voltar no tempo para consertar as coisas. Você se lembra daquela vez que ele quebrou aquele vaso da sua mãe, ela brigou com ele e ele simplesmente desapareceu?
- Eu me lembro que você o trouxe para casa junto com seu pai.
- Ele estava no parque do Clown Atlas. Ele sempre dizia que sentia como se pudesse voltar no tempo quando estava lá e era o único lugar que ninguém iria incomodá-lo enquanto ele pensava.
- Existem dois Clown Atlas, um na rua aqui de trás e outro a dois quarteirões daqui. – James disse. – Eu posso pegar o carro e ir com um de vocês até o mais longe.
- Eu vou com você. – disse. – vai com no outro.
- Eu só tenho um carro.
- Eu posso ir a pé e não preciso que vá comigo. – Respondi, andando até a mala, que estava na sala. Peguei o primeiro par de calças que vi e fui logo colocando-o. – Ajuda aqui, James.
Levantei o cabelo, esperando que James viesse e abrisse o vestido. Logo depois que ele o fez, puxei o vestido para cima, jogando-o em cima da mala. Abri a outra mala e peguei a primeira blusa que avistei.
- Desde quando você tem tatuagens, ? – perguntou, fazendo com que eu voltasse meu olhar para ele.
- Desde quando beber e parar em um estúdio de tatuagem virou rotina. – Respondi, colocando a blusa. Calcei o par de botas que tinha deixado na sala e olhei para ele. – Vocês estão esperando o quê? Vão logo antes que a noiva fique sem noivo porque vocês resolveram ficar me secando. – Falei, começando a andar até a porta com e James à minha frente.
James apontou para a garagem, enquanto eu já abria o portão em direção à calçada.
O parque não ficava tão longe. Eu só teria que andar algumas casas até a rua de trás e, depois, carregar Steve no caminho de volta. Era fácil. E tudo isso teria sido um plano perfeito se logo, quando eu estava virando a esquina, uma mão não tivesse segurasse meu braço, impedindo-me de continuar.
- O que você está fazendo? – Falei, olhando para .
- Estou me certificando que você fique bem. – Ele respondeu calmamente.
- Eu estou bem. Você já pode ir.
- Eu gostaria, mas eu prefiro não arriscar. Você acabou de voltar, seu pai ficaria muito triste se algo acontecesse com você. E sem falar que você iria tirar toda a atenção do casamento de Jane.
- Eu lhe garanto que nada irá acontecer. – Puxei meu braço, recomeçando a fazer o caminho em direção à rua de trás.
- Eu me pergunto se toda essa sua marra é mesmo marra ou é só para esconder que você está realmente morrendo por dentro porque não é você quem vai casar com Steve. – Rolei os olhos. – Porque, afinal de contas, você sempre foi louca por ele mesmo e, pelo que parece, ainda é. Diga-me, , como é ver a sua paixãozinha se casando com a megera da sua irmã?
- O que foi que eu te fiz para você me odiar tanto? – Perguntei, virando-me para ele.
- Quem foi que disse que eu te odeio? – Ele disse, aproximando-se de mim. – A vida é tão sarcástica, . E você, como sempre, foi a única que nunca entendeu a piada.
- Que porcaria de piada é essa? disse, agora você... O que foi que eu perdi, hein? Alguém pode me explicar?
- Eu posso te mostrar melhor do que falar.
Eu não esperava que ele fizesse isso, mas, quando ele colocou o braço ao redor da minha cintura e me puxou, fazendo com que nossos corpos ficassem colados, eu senti que não existia outro lugar no mundo que eu queria estar agora. Ele segurou meu rosto com a outra mão, e eu desviei meu olhar para seus olhos, que pareciam mais puxados para o azul por causa da luz da lua. Eu fechei os olhos esperando que seus lábios tocassem os meus, porém algo o interrompeu – ou melhor, alguém. Um alguém que gritava meu nome.
- ! – Escutei a voz de Steve de longe, e eu tive certeza de que gostaria que nunca a ouvisse outra vez.
- Eu não acredito. – Ele falou baixinho. – Será que esse imbecil não cansa de sempre ficar no meu caminho?
- Esqueça-o, então.
Ele sorriu, olhando em meus olhos.
- Bem que eu gostaria, mas ele continua gritando seu nome. – Ele se separou de mim.
Steve vinha cambaleando em nossa direção segurando uma garrafa de uísque na mão.
- Dá para você falar baixo, Steve? – Falei, vendo-o se aproximar. – As outras pessoas estão dormindo.
Eu me afastei um pouco, mas logo percebi que tinha sido em vão, porque, no segundo seguinte, os braços de Steve estavam ao redor do meu pescoço e seus lábios sobre os meus. E foi aí que eu soube que tudo o que James falou nesse tempo que viajamos juntos era a mais pura verdade. Eu nunca fui apaixonada por Steve, e não só pelo simples fato de ele estar bêbado e prestes a se casar com minha irmã, mas também porque a única coisa que eu conseguia pensar era como eu queria que fosse em seu lugar. Era como se o beijo de Steve não fizesse nem a metade da metade do que o toque de fez com meu estômago.
Senti Steve ser puxado com força para longe de mim e, logo quando eu abri os olhos, ele já estava no chão.
- Seu desgraçado! Outra vez? – Steve gritou, segurando um lado do seu rosto e desmaiando logo depois.
- O que você fez? – Perguntei, olhando para Steve no chão.
- Nada. – Ele se abaixou, segurando Steve pelos braços e, em um movimento rápido, o colocou em seu ombro. – Vamos. – Ele disse, começando a fazer o caminho de volta.
- , você não pode sair batendo nas pessoas assim. – Falei, seguindo-o. – Brigar nunca foi a solução para nada. Nós somos pessoas civilizadas. , você está me escutando? – Ele apenas continuou andando. – !
- , dá para você calar a boca um segundo? – Ele se virou para mim. – Que droga! Eu estou tentando ajudar.
- Não sei você, mas bater nas pessoas não é bem uma ajuda.
- Eu disse que estou aqui para ajudar, não que sou santo. Steve é muito mais útil quando calado.
- Então por que você não pediu para ele ficar calado?
- Porque bêbados falam demais e Steve não é uma exceção. Eu não quero ter que explicar para a noiva porque diabos ele passou a noite na cadeia quando ele deveria estar em minha casa descansando para o casamento.
- Ei, vocês dois. – Viramos para o lado e vimos e James parados ao nosso lado. – Vocês estão bem? O que aconteceu com Steve?
- Estamos sim. – respondeu. – Ele acabou desmaiando.
- Oh, claro! – falou, soltando uma gargalhada. – Coloque-o aqui dentro. Estamos indo para o hospital.
- Hospital? Fazer o quê no hospital? – perguntou, abrindo a porta do carro.
- Minha namorada ligou e disse que precisa da ajuda de . Parece que Jane fez alguma coisa. – jogou Steve no banco de trás do carro e fechou a porta em seguida. – Nós vamos levar Steve para o hospital para ver se você não quebrou nada dele. Você pega seu carro e vai até lá também?
- Tudo bem. – ligou o carro e arrancou com o mesmo, desaparecendo ao dobrar na primeira rua.
Quando me virei para falar com , ele já não estava mais lá. Provavelmente, estava muito chateado a ponto de, ao menos, se incomodar de me dizer que eu poderia andar até o hospital porque a suposta carona que ele iria me dar estava fora de questão.
- Por que você não me disse que tinha um carro? – Perguntei, vendo-o fechar o portão.
- E você, por acaso, me deixou falar? – Ele disse, virando-se para mim. – Você foi logo dizendo que ia a pé e que não precisava de mim. É claro que eu não ia oferecer uma carona. Você simplesmente não merecia. – Eu estava prestes a responder, mas ele continuou. – E nem pense em dar mais uma palavra. – Ele me pegou pelo braço e abriu a porta do carro. – Entra logo nesse carro que suas irmãs precisam de você. – me empurrou para dentro sem nem a menor cerimônia.
- ! – Eu me virei para ele. – Você é um bruto e um filho... Ai! – arrancou com o carro, fazendo com que eu encostasse no banco de uma vez. – Qual é a necessidade dessa velocidade?
- disse que Kate precisa da sua ajuda com Jane.
- Kate? – Perguntei, olhando para ele. – não disse ‘Kate’. Ele disse ‘minha namorada’. – Arregalei os olhos. – Não me diga...
- Kate é a namorada de há quase dois anos.
- O quê? – Gritei. – Mas como? Eles nunca nem ao menos conversaram. Digo, passava a maior do tempo comigo e Kate vivia com Jane e Steve.
- Quando você foi embora, Kate se sentiu muito mal e chorou por quase uma semana dizendo que era tudo culpa dela. Seu pai, vendo que Kate estava sofrendo demais, chamou para tentar consolá-la. recusou, mas eu o convenci a conversar com ela até que, não só ela, mas ele também entendesse que você não nasceu para ficar trancafiada naquela mansão. E, bem, se sentiu um pouco culpado pelo jeito que Kate se sentia.
- Por quê?
- Quando James e eu te levamos para o apartamento dele, foi direto para lá e foi aí que nós contamos o que aconteceu. Eu me lembro que ele não achou Steve, mas achou suas irmãs e eu me lembro que ele fez as duas chorarem.
- Você estava lá?
- Estava, eu vi tudo. – Abaixei a cabeça. – Eu te carreguei até o apartamento de James e liguei para pedindo para que ele estivesse lá quando você acordasse.
- Por que você não estava lá quando eu acordei?
- Eu estava na cadeia.
- Cadeia? Por quê?
- Chegamos. – O carro parou de uma vez e saiu do mesmo. Demorou um pouco, mas eu consegui processar tudo e, então, foi que eu consegui sair do carro.
Entrei no hospital e logo dei de cara com , e Kate. Kate olhou para mim e, quando eu menos esperei, seus braços estavam ao redor do meu pescoço, esmagando-me em um abraço.
- nos disse que contou para você. – Ela se separou de mim. – Desculpe-me por não ter falado antes... Nós íamos te contar.
- Eu sei que sim, só faltou a oportunidade. Eu não estou com raiva, só surpresa. – Eu me virei para . – , seu imbecil, arrumou um jeito de ficar na família, hein?
- Pois é, agora só falta aqui.
arregalou os olhos e deu um tapa na cabeça de .
- Cala a boca, seu imbecil! Onde está a Jane? Eu tenho mais o que fazer do que ficar esperando a noiva Godzilla na droga desse hospital no meio da madrugada.
- , dá para você ser um pouco menos ranzinza?
- Não, esse é o único jeito que eu sei ser.
Rolei os olhos.
- Então está mais do que na hora de melhorar, você não acha?
- Dá para vocês dois não brigarem? – disse. – Isso daqui é um hospital, e vocês dois não são mais crianças.
- Foi o que começou. – Falei, virando-me para Kate. – O que foi que a Jane fez? Bebeu demais na despedida de solteira?
- Não só bebeu demais, como bateu na outra madrinha.
- O quê? – Nós perguntamos. – Por quê? – Continuei.
- Não sei ao certo, mas parece que ela estava dando em cima do Steve. Olha lá! Elas estão vindo. – Jane estava com uma cara emburrada em uma cadeira de rodas, aposto que se dava ao fato dela ter passado da conta e ter batido na madrinha de casamento.
- Jane, você está bem? – Perguntei, vendo-a se aproximar.
- Eu já disse que não preciso dessa droga de cadeira de rodas. – Ela se levantou.
- Jane, por que você bateu na sua madrinha? – Perguntei. – Por que você não apenas deixou para lá?
- Porque ela é louca. – A outra respondeu, fazendo com que Jane olhasse para trás.
- Eu posso até ser louca. – Ela se virou para a madrinha. – Pelo menos, tem tratamento para isso. Agora, com você, são outros quinhentos porque não tem nada nesse mundo que cure o mal de ser uma vadia.
- Eu vou te matar! – O enfermeiro segurou a madrinha antes que ela pudesse atacar Jane.
- , você e a levam a Jane para casa. – disse.
- Não, não! – Kate interrompeu. – Mamãe não pode ver a Jane desse jeito.
- Então vamos levá-la para a casa de James.
Capítulo V
- Boa noite, Jane. – Disse, colocando o lençol em cima dela. Tinha sido uma briga para conseguir subir a escada com Jane tropeçando em todos os degraus, mas, quando conseguimos levá-la até o quarto, ela caiu com tudo em cima da cama.
- , você me odeia?
Eu me virei para ela.
- Na verdade, não. – Andei até a cama, sentando-me na ponta. – No começo, sim. Depois, eu fui vendo que esse sentimento não ia me levar a nada, então decidi te perdoar.
- Então por que você não voltou logo?
- Porque eu tinha que partir. Você não entende, Jane? Eu iria partir de qualquer maneira, porque sair daquela casa onde mamãe me maltratava, só porque eu não era perfeita como vocês, sempre foi meu maior desejo.
- O que te torna perfeita não é sua aparência, e sim aquela pessoa, que, mesmo você não merecendo, consegue enxergar o bom em você. Eu encontrei essa pessoa, e você também, pelo visto.
- Encontrei?
- Oh, , você sempre foi péssima com piadas, mas essa está na sua cara há tanto tempo que acho que você apenas esqueceu que ela estava lá.
- Até você, Jane? Droga! Eu volto e a única coisa que vocês falam é dessa piada?
- É porque, , você sempre foi tão inteligente, a mais inteligente da família, e não vê que era apaixonado por você, mesmo tendo o gênio de um leão e a aparência de um. Era apenas engraçado. – Arregalei os olhos. – Ainda é, na verdade.
- Você não sabe do que está falando, Jane.
- Não só sei, como posso lhe garantir que a piada é contínua.
- nunca se interessaria por mim. Ele é bem mais velho que eu.
- Deixe de se fazer de burra, , não combina com você. E vá logo atrás de e pare de fingir que não sente o mesmo porque eu sei que você sente.
- Jane, você bebeu demais.
- Pode até ser. Porém, eu sei do que eu estou falando. – Ela me empurrou. – Agora saia daqui porque eu quero dormir. Não esqueça que você vai ser uma das minhas madrinhas, já que a outra decidiu fazer doce. – Ela virou para o lado e abraçou o travesseiro ao seu lado.
Levantei-me da cama e fui em direção à porta, porém Jane me chamou outra vez.
- Antes que eu me esqueça, você vai entrar com na cerimônia.
Abri a porta e a fechei com cuidado em seguida. Caminhei até o quarto que Kate ia ficar e bati na porta. Ninguém respondeu, então eu entrei. Vi uma silhueta masculina na varanda; provavelmente, era , mas onde estava Kate?
- , tem uma coisa que eu quero te perguntar. – Talvez fosse até melhor que Kate não estivesse no quarto. Tornaria a conversa menos vergonhosa para o meu lado. – É sobre .
- Já veio falar mal de mim, ?
Levantei a cabeça e vi sorrindo sem os dentes.
- O que diabos você está fazendo no quarto da Kate?
- Na verdade, esse é meu quarto. Kate e o estão no quarto aqui do lado.
- Mas o quarto aqui do lado é o meu quarto.
- Acho que o sofá está vago. Você pode ir para lá.
Ele sorriu e a minha vontade foi de jogá-lo escada abaixo.
- Argh! – Bati o pé no chão e comecei a andar em direção ao quarto outra vez, mas se colocou na minha frente. – Saia da minha frente, seu imbecil.
- , por que você sempre tem que se comportar como se quisesse matar todo mundo?
- Eu não quero matar todo mundo, só você.
- O que foi que eu te fiz para merecer tanto ódio?
- Eu não te odeio, . Eu só não quero você por perto.
- Por que não?
- Porque você é um imbecil! Agora saia da minha frente. – Abaixei-me, passando pelo lado.
- , espera. – Parei de andar e me virei para ele. – Eu apenas estava brincando. – Ele se aproximou. – Você pode dormir aqui.
- Sério?
- Sério. – Ele sorriu. – A não ser que você queira atrapalhar e Kate, ou queira dormir com Steve.
- Steve está aqui?
- No quarto de James, se não me engano.
- E onde está James?
- Não sei. Então, o que vai ser?
- Espero que você se comporte. – Falei, tirando as botas e o casaco. – Se não eu quebro sua cara. – Andei até a cama e me joguei logo em seguida. Senti como se tivesse trabalhado o dia inteiro em pé sem nenhuma pausa. Meu corpo estava tão cansado que a cama parecia até mais macia do que o normal.
A cama afundou ao meu lado, o que fez com que eu abrisse os olhos e olhasse para o teto.
- Por quê? – Perguntei, virando a cabeça para o lado.
- Por que o quê?
- Por que você estava na cadeia na noite em que eu dormi na casa do James?
Ele olhou para mim.
- não conseguiu achar Steve, mas eu sim. – Ele se sentou na cama. – Eu sei que nada se resolve com briga, mas Steve mereceu cada soco que eu dei na cara dele naquela noite. – Eu me sentei, cruzando as pernas. – O que custava ele dizer que não sentia o mesmo? Seria até mais fácil. Mas, não, Steve tinha que te humilhar daquela maneira. Você não merecia aquilo. Eu posso até ter me comportado como um homem das cavernas, mas eu não me arrependo nem um pouco. – Ele olhou para mim. – Você já pode começar o sermão.
- Que sermão? – Perguntei, colocando o queixo em seu ombro. – Não tem sermão nenhum.
- E por que não?
- Porque eu gostei.
Talvez Jane tivesse razão. Talvez , no fundo daquele buraco negro que ele chamava de coração, pudesse sim ter sentimentos por mim. E, talvez, eu também tivesse sentimentos por ele. Só não tinha enxergado ainda.
- Gostou? , você odeia violência! Eu me lembro que uma vez...
Eu realmente não esperava fazer algo desse tipo. Principalmente, se a pessoa era , o pirralho que aterrorizou minha infância. Mas, quando menos esperei, meus lábios já estavam sobre os seus e parecia que não existia nenhum lugar no mundo que eu quisesse estar, a não ser ali.
Senti a mão de rodear minha cintura enquanto a minha ia para detrás da sua nuca. Senti sua língua pedir passagem e, quando eu dei, senti que o beijo francês perfeito que eu procurei por todo o mundo estava na boca do britânico mais imperfeito. Eu esperava que seu beijo fosse de tirar o fôlego, porém eu não sabia que ele faria com que todos os meus sentidos ficassem aguçados e que a falta de ar em meus pulmões pareceria algo como se fosse rotina. Uma rotina que eu esperava ser obrigada a fazer todos os dias.
Nossas bocas estavam sincronizadas, como se tivessem sido feitas uma para a outra. Era como, mesmo sem conhecer o ritmo, sabiam perfeitamente cada passo da dança.
se inclinou para frente, fazendo com que eu deitasse na cama e ele ficasse no meio das minhas pernas. Puxei seus cabelos e logo depois senti seus dentes cravarem no meu lábio inferior, sem partir o beijo. Minhas mãos desceram pelas suas costas e, logo depois, sua camisa estava no chão, e eu senti sua mão apertar minha coxa.
Eu podia sentir cada parte do meu corpo queimando e meus pensamentos implorando para que cada peça de roupa que separava meu corpo do dele fossem embora. Porém, nem tudo que desejamos se tornava realidade.
Escutei meu nome ser chamado de longe, mas ignorei. , por outro lado, interrompeu o beijo.
- O quê? – Perguntei, ofegante.
- Steve está te chamando.
- Quê? Steve? Não é não.
- É sim.
- Ah, , eu quero mais é que ele vá para o inferno. – Falei, segurando seu rosto e lhe dando um selinho.
- Acho que você deveria ir ver o que ele quer.
- Mas...
- É melhor você ir. – Ele se sentou na cama. – Se eu for, pode ter certeza de que quebro a cara dele dessa vez.
- Tudo bem. – Respondi, levantando-me da cama. Andei até a porta, tentando recuperar o ar, mas, antes que eu pudesse abrir a mesma, ele disse:
- Eu vou estar esperando aqui.
Assenti, antes de sair do quarto. Steve estava no corredor, e não estava sozinho. Jane estava com ele.
- O quê? Vocês estão bem?
- Estamos. – Jane respondeu. – Na verdade, não.
- Vocês querem que eu leve-os para o hospital? Ou peça para Kate ou para o ?
- Não, . – Steve falou. – Nós só vamos ficar bem quando nos desculparmos com você.
- Ah, desculpas aceitas. Era só isso?
- Você não vai ouvir o que a gente tem para falar?
- Eu sei que vocês sentem muito e não me chamaram para o casamento porque vocês ainda achavam que eu era apaixonada por Steve. Até eu achava, porém tenho certeza que não sou.
- Não?
- Não. Acho que nunca fui, na verdade. Posso ir?
- , por que você está ofegante? – Jane perguntou. – O que você estava fazendo?
- Oi?
- , eu não acredito! Você e o ...
- Não, graças a vocês. Era só isso, Jane? Eu realmente acho que já os perdoei há muito tempo. Na verdade, eu tenho mais é que agradecê-los.
- Por quê?
- Porque, sem vocês, eu não teria ido embora e descoberto tanto sobre eu mesma. Gostaria que vocês tivessem sido um pouco mais amigáveis e falado na minha cara que estavam apaixonados? Gostaria, porém, tudo acontece por uma razão. Até as coisas ruins.
- Eu realmente sinto muito, . – Steve falou, abraçando-me.
- Está tudo bem. me disse que já te deu uma lição por causa disso. Agora vocês não acham que deveriam ir dormir? Está tarde e vocês têm um casamento amanhã.
- Você tem razão. – Jane me abraçou. – Boa noite, .
- Boa noite. – Respondi, vendo-os entrar no quarto de Jane. Entrei no quarto e encontrei deitado e com os olhos fechados. – Estarei esperando você aqui. – Imitei a voz de . – No modo soneca, só pode.
- Eu posso te ouvir, sabia?
Dei um pulo e coloquei a mão no coração.
- Você me assustou, sabia? – Falei, deitando-me na cama ao seu lado.
- E você falando sozinha não é assustador?
- Eu apenas... Eu estou com preguiça de pensar em uma resposta.
- Acho que você deveria ir dormir. – Ele se sentou na cama. – Eu vou lá para baixo.
- Fazer o que lá embaixo?
- Dormir. No sofá.
Segurei em sua mão antes que ele pudesse se levantar, o que fez com que ele olhasse para mim.
- Ah, não, . – Puxe-oi para que ele deitasse ao meu lado outra vez. – Não se faça de cavalheiro agora. – Afastei seu braço, deitando-me em seu peito.
- Eu sou um cavalheiro. Você só nunca me deu a chance de mostrar.
- Eu gostaria que você fizesse, então. – Passei o braço por sua cintura. – Boa noite, .
- Boa noite, .
Epílogo
Jane acordou com a maior ressaca do mundo, mas Steve não ficou muito atrás. não estava ao meu lado quando acordei, mas logo o encontrei na cozinha, sem camisa, conversando animadamente com e Kate. Devo admitir que meu coração quase pulou do peito quando ele me entregou um prato com panquecas e deu um beijo no topo da minha cabeça. Nosso quase momento perfeito foi interrompido por uma Jane histérica que acabara de lembrar que seu casamento aconteceria em menos de duas horas. Então, como uma boa noiva Godzilla, Jane pegou Kate e eu pelos braços, obrigando-nos a levá-la até o Plaza Hotel, onde a cerimônia iria acontecer.
O vestido da madrinha ficou um pouco apertado para o meu gosto, mas Jane fez questão de dizer que ninguém iria olhar para as madrinhas mesmo, já que ela era a noiva. Devo ressaltar que Jane era a noiva mais linda que eu já tinha visto em minha vida, até mais bonita que Kate Middleton. Quando Jane andou até o altar, parecia que o mundo tinha parado para prestar atenção nela, e eu também teria, se não tivesse encarando o padrinho do outro lado do altar.
Oh, parecia que fazia de propósito usando um terno perfeitamente proporcional ao corpo e uma rosa branca no bolso. Segundo ele, era desnecessária, mas, para mim, o deixava menos carrasco. Eu tentei, juro que tentei prestar atenção na cerimônia, mas estava mais do que concentrada nos momentos em que Jane se mexia e eu podia ver o rosto de por inteiro, não só uma parte distorcida pelo véu da noiva. E parecia que ele também estava fazendo o mesmo, já que deu dois passos para o lado fazendo nossos olhares se encontrarem.
A cerimônia tinha acabado, e eu só percebi quando Jane olhou para mim, esperando que eu entregasse o buquê para ela. riu e ainda fez alguma piada de como meu vestido estava muito apertado e estava convencido de que teria que me levar nos braços em algum momento porque eu não estava conseguido respirar.
E lá estava ele, dançando com uma senhora de quase oitenta anos, que pisava em seu pé a cada dois passos para o lado. A cada careta que ele fazia, meu coração derretia mais um pouco dentro do peito. Eu tentei ao máximo, mas a vontade de conhecer de uma maneira como nunca antes só crescia dentro do meu peito. Eu estava mais do que pronta para passar um dia inteiro apenas aprendendo sobre essa parte incrível que ele tinha, mas que eu nunca tive a chance de ver. Agora que eu estava vendo que, Deus me ajudasse, talvez eu estivesse me apaixonando.
- Cuidado, .
Olhei para o lado e vi Jane na cadeira ao meu lado.
- O quê?
- Você está quase babando.
- Que horror! – Respondi, empurrando-a. – Eu não estou babando.
- Oh, claro que não. – Ela empurrou a cadeira para ficar mais perto de mim. – Sabe, eu já gostei de uma vez. – Olhei para ela, com os olhos arregalados. – O quê? Eu sei, ele não faz nada o meu tipo, mas Steve também não fazia o seu e você era louca por ele.
- Touché!
Ela riu.
- Foi nessa paixãozinha pelo que eu percebi que ele estava apaixonado por você. Eu sabia que você também estava apaixonada por ele, só não sabia ainda.
- Seria muito sarcástico se eu dissesse que o mesmo aconteceu com Steve? Acredite ou não, mas, quando descobri que o seu noivo era o Steve, eu não fiquei surpresa. Acho que eu sempre soube que vocês sempre foram apaixonados um pelo outro.
- Mas eu só me aproximei de Steve para te irritar.
- Até ontem eu não cogitava a ideia de me deixar levar pelo charme de porque eu o “odiava”. Olhe para mim agora, estou quase babando no chão e esperando que ele venha me tirar para dançar.
- Então se prepare, porque ele está vindo para cá. – Olhei para frente e vi andar até mim. – Oi, .
- Oi, Jane. – Ele sorriu e olhou para mim. – Me concede essa dança, senhorita? – estendeu a mão para mim.
- Dando uma de cavalheiro agora?
- Você pediu.
Segurei em sua mão, deixando-o me conduzir até a pista de dança.
- Você dança até bem para um brutamontes.
- Uma das coisas que aprendemos no internato.
- Você tem certeza de que não era uma escola preparatória para princesas? Porque, pelo o que Kate me contou, você foi obrigado a fazer coisas bem femininas para garotos. Cozinhar, passar, francês, etc.
- Eu vou matar o .
- Não, eu que perguntei.
- Andou perguntando por mim, senhorita ?
- Tentando descobrir o que esconde detrás desses olhos verdes. Vai dizer que não andou perguntando por mim por aí?
- Eu não preciso, eu já sei de tudo. – Ele sorriu.
- Isso é tão clichê.
- O quê?
- O padrinho e a madrinha, ambos solteiros, dançando e flertando.
- Você está flertando? É disso que isso se trata? – Dei um soco em seu ombro. – Ai! Isso doeu, sabia? – Assenti. – Sabe o que a gente deveria fazer?
- Roubar os docinhos?
- Não. Quantos anos você acha que nós temos? Doze?
- Foi apenas uma sugestão.
- Eu tenho uma bem melhor. – Ele sussurrou meu ouvido. – Eu acho deveríamos terminar o que começamos ontem. O que você acha? Eu tenho a chave de uma suíte.
- Acho mais do que justo. – Respondi, colocando os braços ao redor do seu pescoço. Aproximei meu rosto do dele, encostando nossos narizes.
- . – Kate me puxou pelo ombro. – Jane vai jogar o buquê, você não vem?
- Kate, eu não estou nem aí para essa porcaria de buquê. Pode ficar.
- Mas, , é o buquê.
- Você escutou a dama, Kate. – se abaixou e me pegou no colo. – Ela não liga para o buquê e, se você nos der licença, nós temos coisa melhor para fazer.
- , me coloca no chão! – Falei, depois de atravessamos a pista de dança. – As pessoas estão olhando e estão comentando. Tenho quase certeza de que estão dizendo que eu estou bêbada.
- Do mesmo jeito que você não liga para o buquê, eu não ligo para os comentários.
- Mas eu sim! A última vez que você me carregou foi quando eu caí da casa da árvore. Você está me fazendo passar por donzela indefesa.
- Bêbada, você quer dizer. – Ele sorriu. – Acho que o herói fica com a donzela indefesa no final, não o vilão.
E, quase em um timing perfeito, o buquê caiu sobre meu colo.
- E quem foi que disse que você não é um herói?
Fim
Nota da autora:
Olá gente linda do meu Brasil, queria agradecer por terem lido essa short fic, ela foi um desafio pra mim do começo ao fim, mas eu fiquei extremamente feliz com o resultado.
Espero que vocês gostem tanto quanto eu gostei de escrevê-la. Eu tenho outras fics no site se vocês quiserem dar uma conferida, e também um grupo.
Outras Fanfics:
Flawless Curse [Mcfly/Finalizadas]
Come Away With Me [Mcfly/Em Andamento]
Time Heals Wounds [Restritas/Em Andamento]
14. Easy Way Out [Ficstape Mcfly]
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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Time Heals Wounds [Restritas/Em Andamento]
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