Capítulo Único
Eu me acostumei com a rotina consumindo todo o meu tempo e com as nuvens escondendo o sol no céu as onze da manhã. Já acordava pensando na hora de voltar a dormir e possuía três playlist para começar o dia, uma com músicas tristes, outra com músicas nacionais e a última eu apenas colocava aquelas que eu poderia usar para sair um pouco do mundo sério e complicado que a gente vive.
Todo mundo segue uma linha do destino, sabe? E mesmo assim, às vezes nos dá a impressão de que está tudo fora do controle, que certas coisas não deveriam estar no nosso caminho. Isso foi o que eu pensei quando a vi pela primeira vez. Veja bem, a rotina e a linha do destino me fazem bem. E mesmo que seja inevitável algo acontecer fora da nossa zona de conforto, não saber como agir é imensuravelmente desconfortável para mim. Não é uma aventura, é terror.
Até aí você pode concluir que eu sou ser humano chato, rotineiro, que acha a vida é traiçoeira. Se você concluiu isso, você está completamente certo. Talvez eu seja o molde que a sociedade tentar fazer todos os dias. Ou talvez eu seja o contrário disso. Mas a história que eu quero contar não é sobre mim. É sobre ela. É sobre alguém que me tirou da zona de conforto, que me fez sentir como se eu fosse tudo e como se eu fosse nada. Como se eu pudesse sair da linha do destino dela, mas eu não posso.
Nos conhecemos em meados de setembro de alguns anos atrás, exatamente no mês que o horóscopo do ano dizia que eu iria conhecer alguém que iria mudar minha vida. Ela estava com as bochechas rosadas e os olhos fixos no nada. Com a postura correta, se mantinha com as mãos nos joelhos sentada na parada de ônibus. Eu era uma pessoa com cara de idiota, que ficava naquele mesmo banco todos os dias, com a postura correta, mas diferente dela, sempre procurando ver tudo, analisar tudo, imaginar o mundo.
Durante três dias, sentei ao lado dela sem dizer uma palavra. Eu não sou muito de conversar. No quarto dia, ela olhou para mim, me disse olá. Eu que já não sabia com qual comprimento responder, sorri de canto, imaginando o quão idiota eu iria aparecer. Com os dias, consegui transformar meus sorrisos em palavras e ela também. Eram coisas como, será que ônibus demora? Será que hoje chove? Será que vai dar tempo de eu te comprar um salgado antes de você ir embora? Eu nunca me aproximei de alguém assim, desse modo, tão rapidamente e intensamente.
Ei, me desculpa, mas eu não posso te contar o nome dela. Mas podemos chamá-la de Ramona, porque afinal ela é fã da Avril Lavigne.
Em final de dezembro daquele mesmo ano, ela me convidou para sair para conversar. Uma conversa maior no que às quais já havíamos nos encontrado. Ramona tem os olhos e o cabelo castanhos, o rosto fino e sempre estava com a jaqueta xadrez, azul e preta. Quando ela falava, era como se nada mais importasse, como se o mundo parasse de girar e só o som da sua risada era o que mantinha nosso planeta em órbita. Naquela conversa de dezembro, ela me contou que adorava Star Wars. Eu fiquei feliz. Depois novamente falando rapidamente sobre tudo como se não tivéssemos tempo o suficiente ela soltou que assistia uma série na qual eu gostava muito. Já sobre meu amado futebol, ela era indiferente.
Ela já fazia faculdade, assim como eu. Enquanto ela cursava um curso da área de comunicação, eu cursava gestão de tecnologia da informação. Com o passar do tempo, as paradas de ônibus não foram mais só nos pontos de encontros, como também a cantina, o escritório do meu pai, a casa dela, o meu quarto, a cafeteria da esquina e o meu porão.
E então, ela passou a ser a minha rotina preferida. A risada dela, o perfume, as conversas, os filmes, as músicas pop que ela ouvia, tudo junto para mim era uma sinfonia perfeita, o cenário de um filme de romance. Eu fotografava e armazenava em minhas memórias, cada sorriso dado.
Ah, meu querido amigo, eu falei para você que a vida é traiçoeira né?
Nosso primeiro desencontro foi no meu porão.
Foi em uma quarta-feira. Ela estava sentada sobre as almofadas no chão, como se estivesse esperando por um bom tempo. Os olhos dela não estavam fixos em um ponto específico ou em algum livro, apenas passeavam pelo cômodo a fim de encontrar alguma conclusão. Ela então, me viu ao lado do corrimão, se pôs de pé com um sorriso largo no rosto, me deu um beijo no pescoço e saiu como se fosse um adeus.
No nosso segundo encontro ela não apareceu.
Eu não a via mais na fila do pão.
Ela já não trocava mais olhares e nem abraços.
Ela havia me deixado sem nenhuma explicação.
Na sexta-feira de abril, quase dois meses de nosso desencontro, eu a vi. Meus olhos estavam inchados de chorar. Chovia como se o céu chorasse junto. Ela me viu através de toda a dor que sentia. Eu corri para alcançá-la, mas não consegui. Então nessa mesma sexta-feira, comprei dois maços de cigarros e um buquê de lírios roxos. Eram 18h quando cheguei na sua casa. Bati na porta uma, duas e quatro vezes. Sentei na ponta da calçada, de vestido, com dois maços, um buquê e um vidro de cachaça.
Ela não apareceu.
Foi quando uma mulher, de cabelo azul e curto sentou ao meu lado e pegou meu cigarro. Colocou a cabeça no meu ombro e disse que morava no prédio ao lado e saiu pois precisava de espaço, e eu disse que precisava de abraços.
Eu passei dias, senão meses, me perguntando qual teria sido meu terrível erro para ter perdido ela. Achei que seria minha timidez ou meu gosto musical. Talvez meu amor por flores ou o café matinal. Eu pensei que iria enlouquecer, que ia ficar maluca de tantas perguntas e no final, eu percebi que não precisava de resposta. Que amar a mim mesma deveria ser meu plano principal.
Hoje, num domingo de agosto, eu termino essa história leitor, pra te dizer que amadurecer faz parte da vida e lidar com a rejeição deve estar incluído nesse pacote. Por isso, estou devolvendo seus bens materiais e guardando apenas a lembrança do seu sorriso.
Todo mundo segue uma linha do destino, sabe? E mesmo assim, às vezes nos dá a impressão de que está tudo fora do controle, que certas coisas não deveriam estar no nosso caminho. Isso foi o que eu pensei quando a vi pela primeira vez. Veja bem, a rotina e a linha do destino me fazem bem. E mesmo que seja inevitável algo acontecer fora da nossa zona de conforto, não saber como agir é imensuravelmente desconfortável para mim. Não é uma aventura, é terror.
Até aí você pode concluir que eu sou ser humano chato, rotineiro, que acha a vida é traiçoeira. Se você concluiu isso, você está completamente certo. Talvez eu seja o molde que a sociedade tentar fazer todos os dias. Ou talvez eu seja o contrário disso. Mas a história que eu quero contar não é sobre mim. É sobre ela. É sobre alguém que me tirou da zona de conforto, que me fez sentir como se eu fosse tudo e como se eu fosse nada. Como se eu pudesse sair da linha do destino dela, mas eu não posso.
Nos conhecemos em meados de setembro de alguns anos atrás, exatamente no mês que o horóscopo do ano dizia que eu iria conhecer alguém que iria mudar minha vida. Ela estava com as bochechas rosadas e os olhos fixos no nada. Com a postura correta, se mantinha com as mãos nos joelhos sentada na parada de ônibus. Eu era uma pessoa com cara de idiota, que ficava naquele mesmo banco todos os dias, com a postura correta, mas diferente dela, sempre procurando ver tudo, analisar tudo, imaginar o mundo.
Durante três dias, sentei ao lado dela sem dizer uma palavra. Eu não sou muito de conversar. No quarto dia, ela olhou para mim, me disse olá. Eu que já não sabia com qual comprimento responder, sorri de canto, imaginando o quão idiota eu iria aparecer. Com os dias, consegui transformar meus sorrisos em palavras e ela também. Eram coisas como, será que ônibus demora? Será que hoje chove? Será que vai dar tempo de eu te comprar um salgado antes de você ir embora? Eu nunca me aproximei de alguém assim, desse modo, tão rapidamente e intensamente.
Ei, me desculpa, mas eu não posso te contar o nome dela. Mas podemos chamá-la de Ramona, porque afinal ela é fã da Avril Lavigne.
Em final de dezembro daquele mesmo ano, ela me convidou para sair para conversar. Uma conversa maior no que às quais já havíamos nos encontrado. Ramona tem os olhos e o cabelo castanhos, o rosto fino e sempre estava com a jaqueta xadrez, azul e preta. Quando ela falava, era como se nada mais importasse, como se o mundo parasse de girar e só o som da sua risada era o que mantinha nosso planeta em órbita. Naquela conversa de dezembro, ela me contou que adorava Star Wars. Eu fiquei feliz. Depois novamente falando rapidamente sobre tudo como se não tivéssemos tempo o suficiente ela soltou que assistia uma série na qual eu gostava muito. Já sobre meu amado futebol, ela era indiferente.
Ela já fazia faculdade, assim como eu. Enquanto ela cursava um curso da área de comunicação, eu cursava gestão de tecnologia da informação. Com o passar do tempo, as paradas de ônibus não foram mais só nos pontos de encontros, como também a cantina, o escritório do meu pai, a casa dela, o meu quarto, a cafeteria da esquina e o meu porão.
E então, ela passou a ser a minha rotina preferida. A risada dela, o perfume, as conversas, os filmes, as músicas pop que ela ouvia, tudo junto para mim era uma sinfonia perfeita, o cenário de um filme de romance. Eu fotografava e armazenava em minhas memórias, cada sorriso dado.
Ah, meu querido amigo, eu falei para você que a vida é traiçoeira né?
Nosso primeiro desencontro foi no meu porão.
Foi em uma quarta-feira. Ela estava sentada sobre as almofadas no chão, como se estivesse esperando por um bom tempo. Os olhos dela não estavam fixos em um ponto específico ou em algum livro, apenas passeavam pelo cômodo a fim de encontrar alguma conclusão. Ela então, me viu ao lado do corrimão, se pôs de pé com um sorriso largo no rosto, me deu um beijo no pescoço e saiu como se fosse um adeus.
No nosso segundo encontro ela não apareceu.
Eu não a via mais na fila do pão.
Ela já não trocava mais olhares e nem abraços.
Ela havia me deixado sem nenhuma explicação.
Na sexta-feira de abril, quase dois meses de nosso desencontro, eu a vi. Meus olhos estavam inchados de chorar. Chovia como se o céu chorasse junto. Ela me viu através de toda a dor que sentia. Eu corri para alcançá-la, mas não consegui. Então nessa mesma sexta-feira, comprei dois maços de cigarros e um buquê de lírios roxos. Eram 18h quando cheguei na sua casa. Bati na porta uma, duas e quatro vezes. Sentei na ponta da calçada, de vestido, com dois maços, um buquê e um vidro de cachaça.
Ela não apareceu.
Foi quando uma mulher, de cabelo azul e curto sentou ao meu lado e pegou meu cigarro. Colocou a cabeça no meu ombro e disse que morava no prédio ao lado e saiu pois precisava de espaço, e eu disse que precisava de abraços.
Eu passei dias, senão meses, me perguntando qual teria sido meu terrível erro para ter perdido ela. Achei que seria minha timidez ou meu gosto musical. Talvez meu amor por flores ou o café matinal. Eu pensei que iria enlouquecer, que ia ficar maluca de tantas perguntas e no final, eu percebi que não precisava de resposta. Que amar a mim mesma deveria ser meu plano principal.
Hoje, num domingo de agosto, eu termino essa história leitor, pra te dizer que amadurecer faz parte da vida e lidar com a rejeição deve estar incluído nesse pacote. Por isso, estou devolvendo seus bens materiais e guardando apenas a lembrança do seu sorriso.
Fim.
Nota da autora: Sem nota.
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