Capítulo Único
“, você tem um dom. E esse dom é a música. Por favor, não o desperdice. Daqui alguns anos, eu aposto uma boa grana que você estará em todas as televisões do nosso país…”
Ouvir em seus pensamentos aquela frase da pessoa que tinha descoberto seu talento oito anos atrás, fez o homem sorrir pelo menos um pouco. O que estava passando, ele não desejava a ninguém. Então as lembranças de uma boa época em que sua carreira ao menos existia, eram suas últimas válvulas de escape.
sentia-se impotente ao pensar que estava se esvaindo em pensamentos ruins, em como ele não queria pisar no estúdio naquela segunda-feira ensolarada de San Diego. Desde quando o sol tinha se tornado uma parte ruim da sua vida? Infelizmente, ele não sabia, mas tinha certeza que o que precisava fazer era subir as janelas de seu carro, ligar o rádio e também o ar-condicionado. O vento gelado, se fosse possível, iria congelar suas memórias e ele não precisaria pensar na tortura que tinha virado seu trabalho de produtor de conteúdo para sua própria música.
Mas, infelizmente, a música que ressoou no carro era uma que ele não gostava muito justamente pela mensagem dela ter dois sentidos. E por mais que ele quisesse ver o bom sentido, sua cabeça o fez ir para o outro sentido.
- Do the right thing, do the right thing… Do it all the time, do it all the time…
Ele sabia que não era uma música ruim. Inclusive respeitava bastante o coro de pessoas que a cantava. Ele esperava que a sua voz sozinha conseguisse chegar aos pés de, pelo menos, uma daquelas pessoas. Mas, naquele momento, aquela frase e a seguinte eram as que ele menos gostaria de escutar.
- Make yourself right, never mind them… Don’t you know you’re not the only one suffering?
Foi impossível ele não pensar em como estava sendo injusto com seus próprios sentimentos e surgiu mais um pensamento, outro e outro, todos ruins, para se autodepreciar. Ele estava cansado daquela auto sabotagem e até queria pôr um fim nela, mas a sua vontade era de apenas liberar a raiva que tinha na próxima pessoa que veria e sabia que o alvo seria seu chefe. E, naquele momento, ele nem ligava para isso.
Entretanto, ele estava enganado. Pois assim que ele chegou no estacionamento do local, depois de pegar um baita congestionamento causado também pelo clima de sol do dia, que fez as pessoas desocupadas irem à praia, topou com um jovem que aparentemente sabia que ele estaria lá naquele exato horário.
O menino devia ter por volta de no máximo 17 anos, era alto e tinha pele escura, assim como a sua. quase sorriu por causa daquilo, ao perceber que ele inspirava as pessoas, mas o sorriso nem chegou a aparecer no seu rosto, pois no instante seguinte ele avistou um celular e um bloco de notas com uma caneta pregada nele na mão do garoto.
- Ei, ! - o jovem andou rápido até o homem que tinha acabado de trancar seu carro.
- Ei! - ele se permitiu falar. O garoto pareceu sem graça pelo homem não ter puxado conversa, mas logo viu olhando pro céu e botando a mão em cima do olho para enxergá-lo melhor. O problema era o sol.
Então o garoto sorriu e falou:
- Você se importa de me dar um autógrafo? - falou guardando rapidamente o celular no bolso de trás de sua calça, abrindo o mini caderno e destampando a caneta. nem pôde dizer com palavras que estava atrasado para o trabalho, pois seu olhar foi mais rápido e o do menino mais ainda, notando que estava apressado. - Juro que não vai demorar!
até conseguiu sorrir depois daquilo, pela simpatia do garoto, e se rendeu. Não ia doer dar um autógrafo. Seu chefe entenderia, aliás, aquilo era consequência de seu trabalho.
- Tudo bem - falou já pegando o caderno da mão do menino e sorriu quando viu o sorriso dele. - Me diz o seu nome!
- Enrique - o jovem moreno respondeu.
- Ahn, vamos lá, então, Enrique… Algum recado especial? - resolveu ceder de vez sendo franco com o garoto que estava sendo genuinamente legal. Nada abusivo, além de ter esperado ele chegar no estúdio em pleno estacionamento.
- Não, tudo bem… Só um autógrafo mesmo! E quem sabe uma foto… - ele sorriu sem graça já com a mão por cima do bolso de trás da sua calça onde estava o eletrônico.
- Certo, então… - assinou seu nome no bloquinho do menino que parecia ter vários autógrafos, como uma espécie de coleção, e o devolveu para ele. - Aqui está! E...
- Obrigado - o menino agradeceu sorrindo e deixou o homem continuar.
- A foto? - completou.
- Ah, sim. Aqui - Enrique pegou seu celular e acionou a câmera. Botou no modo selfie e esticou seu braço na frente de seus rostos para tirar a foto.
O garoto bateu três fotos na mesma posição e riu por conta do pensamento que teve ao ver as fotos, que se transformou em palavras singelas para ele, mas controversas para .
- Quem olha a foto diz até que somos parentes! - fala a qual levantou uma sobrancelha e se afastou para o menino ver sua expressão de desentendido.
- Parentes? Só por que somos negros? - ele respondeu, tentando não ser grosseiro, mas era óbvio que eles não tinham nada a ver a não ser a cor da pele.
- É, né? - Enrique riu sem graça, pois já tinha guardado o celular no bolso. O clima, antes descontraído, se tornou pesado e coçou a cabeça antes de se despedir.
- Bom, Enrique, foi bom te conhecer, mas agora eu realmente preciso ir - sorriu sem graça e tentou se redimir, por mais que soubesse que estava no seu direito como artista. Ele infelizmente não tinha todo tempo do mundo para se dedicar aos seus fãs, nem se ele quisesse. - Desculpa qualquer coisa.
E então deu um tchauzinho de longe enquanto o garoto sorria e fazia o mesmo, vendo um de seus caras favoritos do mundo sair de seu campo de visão. A vida deles era tão diferente que Enrique não fazia ideia do que passava na cabeça de .
O homem abriu a pesada porta de vidro e entrou no ambiente gelado que era o prédio do estúdio. Se ele já estava de mal humor debaixo do sol, que ele tanto amava, agora no gelo glacial do novo lugar, ele só queria sumir.
Mas não deu tempo dele se enfiar no primeiro banheiro que encontrasse pois, infelizmente, acabou esbarrando com seu próprio manager, William O’Neil.
- Por Deus, ! Você por acaso já olhou o horário? - falou batendo no seu relógio de pulso. O homem à sua frente apenas rolou os olhos. Mas não era o suficiente para demonstrar o quão chateado ele estava, então também soltou um longo suspiro, que seu colega de trabalho não deixou de reparar. - Deixa de procrastinação e vamos ao trabalho! Já está atrasado demais pro meu gosto.
rolou os olhos mais uma vez enquanto Will ficava de costas para ele e repensou três vezes se devia se tacar da janela do último andar ou da cobertura mesmo. Não seria muita diferença, mas se fosse da cobertura ele, pelo menos, poderia escolher de que ângulo ele despencaria do ar.
Seus pensamentos mórbidos se dissiparam quando ele entrou no elevador do prédio com mais pessoas e percebeu que todos estavam sorrindo, como se fosse mil maravilhas passar dia e noite trancados num escritório, ou estúdio, ou até mesmo numa casa de shows.
Balançou a cabeça ao ouvir seus novos pensamentos não tão depressivos, que, na verdade, ele não aguentava mais eles o perturbando o tempo todo.
se pegou pensando se já não estava na hora de ouvir sua mulher, , pela primeira vez e realmente buscar acompanhamento psicológico. Ele tinha certeza que não estava nada bem. E se não desse o primeiro passo, ninguém mais daria por ele.
+2 semanas
Foi necessário apenas três sessões terapêuticas para ter o diagnóstico de que ele tinha tendências suicidas, ou, melhor falando, ele tinha indícios de ter uma das doenças do século: a depressão.
Ele realmente não ficou surpreso quando soube. Não era uma grande novidade, pois ele convivia com aqueles pensamentos e já tinha se tornado até um hábito. No caso, quem havia ficado mais abalada com aquela situação foi .
Por isso, assim que o homem acordou de um dos pesadelos mais estranhos de sua vida, ele não se assustou ao ver que sua esposa estava sentada na poltrona do quarto, à meia luz que o abajur proporcionava, lendo um livro de arquitetura que ela tinha comprado recentemente.
enrugou sua testa quando viu as gotículas de suor no rosto do marido - mesmo com pouca luz foi fácil de ver pelo brilho que emanava.
- Ei, amor… - ela largou o livro aberto de cabeça pra baixo em cima da poltrona e calmamente foi até a cama, sentando na beirada e botando a mão em cima do braço esquerdo dele, que parecia ainda estar tremendo de qualquer que fosse o sonho que tivera. - Tá tudo bem? - perguntou preocupada também levando a outra mão para a testa dele, secando o suor e notando que ele estava quente. Ele parecia confuso e não conseguia falar coisa com coisa. - Calma, querido - ela falou, carinhosa, fazendo carinho no braço que ela ainda repousava a mão. - Eu estou aqui, foi só um sonho ruim. Já passou… - falou como se ele fosse o próprio filho que eles queriam ter.
- O negócio é que… - agora se ajeitou na cama, ainda nervoso e com o braço fraco, tentando explicar o sonho. - O sonho foi com a gente.
sentiu o peito ficar pesado, sentindo medo de que tudo aquilo que estava se passando com seu marido, fosse atrapalhar seu casamento com ele. A mulher tentava pôr na própria cabeça que ela estava fazendo o possível para ver a pessoa que ela mais amava no mundo, bem, mas ela sempre pensava que podia estar fazendo mais, mesmo que dissesse que ela era perfeita o ajudando com o tratamento.
- Você quer que eu mande uma mensagem para terapeuta? Para ver se tem problema tomar uma dose a mais do remédio? - ela falou preocupada roendo o cantinho da unha de seu polegar. estragaria a unha que havia pintado no dia anterior, mas, naquele momento, aquilo era o de menos.
- Não, amor, eu comecei a tomar o remédio hoje, talvez não seja bom… - falou e um vinco apareceu entre suas sobrancelhas quando ele reparou em algo estranho. - Talvez seja até essa a causa do pesadelo. Relaxa - ele mesmo relaxou com sua última palavra e viu a mulher a sua frente sorrir, deixando a mão passar de seu braço para sua mão, a apertando.
mordeu o interior de sua bochecha pensando se devia fazer uma pergunta e quase levantou para voltar ao seu livro, mas, num impulso, perguntou.
- Posso saber do que se tratava o sonho?
arregalou os olhos com a pergunta e sorriu de lado, percebendo que o lado curiosa dela nunca iria embora mesmo.
- Mesmo se for erótico? - ele riu enquanto puxou ela para cama, deitando-a do lado dele, rindo próxima de sua respiração.
- Nesse caso você pode me mostrar como foi o sonho… - ela falou mordendo o lábio e riu da mulher, pensando que infelizmente teria que acabar com a ideia dela.
- Nah, não foi do jeito que você está pensando - o moreno levantou uma sobrancelha. - Até porque foi quase um pesadelo, ! - ele riu percebendo que ela tinha esquecido que foi por isso que ele acordou.
- É verdade! - a mulher riu botando a mão por cima da boca. Ele amava o jeito dela rir, era algo que sempre fazia seu coração esquentar de amor por ela. - Mas, então… Vai me contar ou não? - ela insistiu, se acomodando ao lado dele.
- Vou, sua teimosa! - ele riu, mas engoliu em seco lembrando do último segundo sonho, antes de olhar pro rosto ansioso dela, pedindo para que ele o fizesse logo. - Foi estranho… Nós estávamos literalmente dentro de uma onda. Em cima de uma única prancha. Parecia até que ocupávamos o mesmo lugar, como se fossemos a mesma pessoa - o encarava e ele tinha uma expressão engraçada, como se estivesse lembrando de algo que realmente aconteceu. - No horizonte, dava pra ver que era a praia do píer que eu te levei para te pedir em casamento. Só que nós não estávamos lá para revisitar o lugar. Aquela era nossa primeira vez lá - ele coçou o olho percebendo que o sono estava voltando. - As ondas passavam e teve uma hora que eu tirei do bolso do meu short de tactel a sacolinha vermelha de laço dourado que tinha nossas alianças. Eu fiz o pedido de casamento… - ele parou de contar para olhar para que o encarava atenta ao que ele contava, e tentou explicar melhor. - Era como se estivéssemos no passado, sabe? E então você respondeu sim à minha pergunta… Só que uma onda forte veio e na hora que a gente ia se beijar… Eu acordei.
viu a expressão triste de , mas não entendeu muito bem. Parecia que ele realmente achou ruim aquele sonho e ela simplesmente amou? Tudo bem que o final foi brusco, uma onda forte não é algo legal, muito menos se você está literalmente dentro dela. Mas lembrava um bom momento de suas vidas! O único medo dela era que…
- Será que isso quer dizer que nosso casamento está arruinado? - perguntou olhando nos olhos dela assim que ela completou o mesmo pensamento em sua cabeça. Ela riu fraco de uma maneira triste por eles terem pensado na mesma coisa, mas ela não tinha coragem de confirmar aquilo, pois ela nunca pensaria em se separar dele. Eles poderiam passar por mil coisas, mil problemas, mas seria juntos.
- Nunca, , nunca - falou pegando no rosto dele e olhando no fundo de seus olhos proferiu as palavras mais verdadeiras que tinha falado na vida. - Eu já disse a você que isso não interferiria nos meus sentimentos e você disse que isso também não tinha nada a ver com o nosso amor. Então confia em mim! Eu vou estar aqui em todos os momentos que você precisar. Assim como você já esteve aqui pra mim.
O homem que tinha aparência de quem nunca iria ceder, finalmente deixou as lágrimas caírem, emocionado com o discurso da mulher, e ela o abraçou forte, deixando ele apoiar a cabeça em seu peito e sentindo os braços dele em sua cintura. Ele precisava tirar aquele sentimento de frustração de dentro dele, então ela o deixou fazer isso.
Deu um beijo na cabeça dele e falou perto de seu ouvido.
- Eu te amo. Muito.
+1,5 semana
Depois de uma semana de pesquisas sobre qual era a melhor decisão que poderia tomar, mesmo sabendo exatamente o que queria, tinha uma ideia melhor do que podia fazer para ajudar seu marido.
Ela havia consultado a sua própria psicóloga para saber a opinião dela sobre a situação que estava passando e o conselho dela foi o mesmo que já internalizava: ela precisava tirar de casa, pelo menos para dar uma caminhada. Fazê-lo ver o sol, que ele tanto gostava, ou tomar um vento na cara, até uma chuva… Ela só queria que ele voltasse a sentir o verdadeiro sentido de estar vivo.
Sua real vontade era de fazer uma viagem com ele, mas o problema era a agenda deles que estava sempre lotada. E ela queria ser pelo menos um pouquinho imprevisível, como o marido, e fazer uma surpresa para ele, então não queria ter de comunicá-lo antes para abrir um espaço em sua agenda, nem queria pedir que ele desmarcasse compromissos. Ele precisava voltar a ter vontade de cumprir seus deveres, e não fugir deles.
Então a saída foi apenas uma: falar com o manager de para saber como estava a agenda do marido, que ela realmente confirmou que estava cheíssima. Então ela teria que dar seu próprio jeito para tirá-lo de casa.
planejou um pequeno horário para cumprir e botou em prática até metade da semana, percebendo que deu certo e que era hora de mostrar a como era bom fazer algo diferente. Seu objetivo não era fazer ele encarar a vida de uma forma diferente totalmente do nada, pois ela sabia como aquilo era difícil, então seria um longo processo. Com certeza teria dias que não iria querer sair da cama, mas ela seria a força que ele precisava e mostraria que estaria sempre lá para ele, não importando o momento.
Por isso, ela imaginou que o primeiro dia seria difícil. E quando viu se recusar a acordar as 7 da manhã, ela percebeu que teria que fazer umas trocas.
No segundo dia, conseguiu acordá-lo as 8 e o seu coração bateu um pouquinho mais feliz ao ver que ele estava mais disposto.
cantarolava na cozinha, enquanto fazia o café da manhã, e sorriu de orelha a orelha quando chegou por trás dele e plantou um beijo em seu ombro, tendo de ficar na ponta do pé por conta de sua altura.
- Tão bom te ver animado de manhã! Fazia quanto tempo que isso não acontecia? - ela riu enquanto sentava no banquinho da cozinha americana deles. a avistou por cima de seu ombro e também sorriu, a respondendo.
- Nem ideia! Mas hoje tive um bom pressentimento e assim que vi o sol nascer não consegui mais dormir - falou calmamente não percebendo que ele simplesmente estava com problemas de sono. Parecia que ele estava voltando a ver a beleza até nas coisas ruins, como ele sempre havia feito. - Então resolvi acordar. Ficar na cama num dia bonito desses chega a dar azar - riu sozinho depois escutando um leve grunhido da mulher que sorria também.
não queria se precipitar, mas já se sentia orgulhosa dele. Qualquer pequeno passo era motivo de vitória e ela não poderia negar isso.
- Isso quer dizer que você topa dar uma caminhada hoje pela praia? - ela mordia o lábio já com medo de uma resposta negativa dele, que não demorou muito para ponderar e responder.
- É, não é uma má ideia - falou, agora pegando as torradas prontas, a jarra de suco de melancia fresquinho e duas bananas. Depois pegou pratos e copos e dividiu com o café da manhã.
O casal conversou um pouco sobre como seria o dia para cada um deles e quando a realidade bateu pra , trazendo uma certa tristeza a sua expressão, percebeu que era hora do café da manhã acabar e também de trocar de roupa.
- Vamos, amor! Antes que alguma nuvem apareça e acabe com os nossos planos - falou apertando a mão de e assim que ele voltou a olhar para ela, a mulher deu uma piscadinha. Levantou rapidamente de onde estava sentada e foi rapidamente pro quarto mudar sua roupa.
fez o mesmo e logo eles estavam prontos, faltando só achar um prendedor de cabelo para e que estava procurando algo que a mulher não sabia o que era.
- Amor, você viu aquele trequinho de pôr no braço para pôr o celular? - perguntou fazendo gestos para entender o que era. Ela enrugou a testa percebendo que também não sabia onde estava e respondeu com outra pergunta.
- Mas pra que você quer levar o celular? A gente só vai dar uma caminhada, não precisa ficar conectado vinte e quatro por sete! - ela riu enquanto achava um laço de cabelo dentro de uma caixinha que ela guardava seus grampos de cabelo.
- Ah, mas é pra ouvir música… - respondeu ainda procurando.
- Deixa de bobeira! - falou depois de fazer seu rabo de cavalo. - Nada de eletrônicos, documentos e dinheiro. Vai ficar tudo em casa e acabou!
Depois disso ela o puxou do chão facilmente, pois ele acabou cedendo e com suas mãos ainda dadas foram até a porta de casa. Rapidamente estavam do lado de fora e ela guardava a chave dentro de seu tênis.
Eles resolveram começar correndo pra depois descansar andando, o que deu em muitas risadas. parecia genuinamente feliz e aquilo aquecia o coração de sua mulher. Ele mesmo se sentia mais leve e já conseguia aos poucos sentir que fez uma coisa boa quando saiu para sentir o sol bater em sua pele.
Depois que correram e andaram pelo menos um quilômetro e meio, já estando na praia, deu a ideia deles sentarem um pouco na areia para admirarem o dia que estava fazendo. Ela tinha até botado biquíni por baixo da roupa para caso quisesse tomar sol.
Após alguns minutos quietos olhando pro horizonte e sentindo o calor tomar conta de todos seus corpos, tirou a blusa dando lugar ao biquíni, enquanto a admirava, dando o sorriso mais sincero dele durante dias. Foi impossível não notá-lo por parte da mulher, então ela o olhou e sorriu junto, não se segurando e dando um selinho nele.
- Você devia sorrir mais - ela falou rápido ainda com o sorriso dele na cabeça e até se questionou se devia ter o feito, principalmente quando ouviu a resposta.
- Às vezes é difícil, … - falou enquanto pegava um pouco da areia quente e a deixava escorrer pelos seus dedos. - Eu nem sei quando tudo começou a ficar difícil, mas eu espero que volte a ser fácil - ele suspirou antes de falar a próxima frase. - Porque com você ao meu lado tudo parece fácil até demais. Parece que tudo ao meu redor desaparece e existe só nós dois. Assim como anos atrás, quando a gente descobriu que o nosso refúgio era o nosso amor. Eu não sei se você sabe, mas eu sinto a necessidade de te dizer agora que você foi e sempre vai ser a melhor coisa que me aconteceu.
se sentiu no dia que ele a pediu em casamento, pois sentia seus olhos se encherem de água apenas com as palavras fortes que dizia. Ela queria tanto falar pra ele o quanto ele já tinha a ajudado e aquilo era o mínimo que ela podia fazer. Ela queria gritar pro mundo todo que ele sempre seria o único homem possível em sua vida. Mas tudo que ela conseguiu fazer foi apertar a mão dele forte e segurar o choro para falar o que estava entalado em sua garganta.
- Isso não se trata de mim, . É sobre você. Sobre o quanto você mudou a minha vida e o quanto eu quero mudar a sua para melhor. Sempre. Você é o amor da minha vida e nada vai mudar isso. A gente que vai sair por aí mudando as coisas com o nosso amor. E, sinceramente, a gente devia vir mais a praia. Porque a energia que esse lugar emana, faz você sempre falar coisas lindas que me fazem ter vontade de chorar.
, ao contrário de que tinha a voz embargada, sorria tão forte que não aguentou mais só escutá-la. Ele a abraçou, pegou-a em seu colo e a levantou no ar em seus braços, fazendo ela dar um leve gritinho de susto e gargalhar.
- Garota, você não tem ideia do quanto eu te amo - falou enquanto ela se ajeitava em seu colo e emaranhava as duas pernas em seu tronco.
- Pois eu te amo muito mais, meu refúgio.
Ouvir em seus pensamentos aquela frase da pessoa que tinha descoberto seu talento oito anos atrás, fez o homem sorrir pelo menos um pouco. O que estava passando, ele não desejava a ninguém. Então as lembranças de uma boa época em que sua carreira ao menos existia, eram suas últimas válvulas de escape.
sentia-se impotente ao pensar que estava se esvaindo em pensamentos ruins, em como ele não queria pisar no estúdio naquela segunda-feira ensolarada de San Diego. Desde quando o sol tinha se tornado uma parte ruim da sua vida? Infelizmente, ele não sabia, mas tinha certeza que o que precisava fazer era subir as janelas de seu carro, ligar o rádio e também o ar-condicionado. O vento gelado, se fosse possível, iria congelar suas memórias e ele não precisaria pensar na tortura que tinha virado seu trabalho de produtor de conteúdo para sua própria música.
Mas, infelizmente, a música que ressoou no carro era uma que ele não gostava muito justamente pela mensagem dela ter dois sentidos. E por mais que ele quisesse ver o bom sentido, sua cabeça o fez ir para o outro sentido.
- Do the right thing, do the right thing… Do it all the time, do it all the time…
Ele sabia que não era uma música ruim. Inclusive respeitava bastante o coro de pessoas que a cantava. Ele esperava que a sua voz sozinha conseguisse chegar aos pés de, pelo menos, uma daquelas pessoas. Mas, naquele momento, aquela frase e a seguinte eram as que ele menos gostaria de escutar.
- Make yourself right, never mind them… Don’t you know you’re not the only one suffering?
Foi impossível ele não pensar em como estava sendo injusto com seus próprios sentimentos e surgiu mais um pensamento, outro e outro, todos ruins, para se autodepreciar. Ele estava cansado daquela auto sabotagem e até queria pôr um fim nela, mas a sua vontade era de apenas liberar a raiva que tinha na próxima pessoa que veria e sabia que o alvo seria seu chefe. E, naquele momento, ele nem ligava para isso.
Entretanto, ele estava enganado. Pois assim que ele chegou no estacionamento do local, depois de pegar um baita congestionamento causado também pelo clima de sol do dia, que fez as pessoas desocupadas irem à praia, topou com um jovem que aparentemente sabia que ele estaria lá naquele exato horário.
O menino devia ter por volta de no máximo 17 anos, era alto e tinha pele escura, assim como a sua. quase sorriu por causa daquilo, ao perceber que ele inspirava as pessoas, mas o sorriso nem chegou a aparecer no seu rosto, pois no instante seguinte ele avistou um celular e um bloco de notas com uma caneta pregada nele na mão do garoto.
- Ei, ! - o jovem andou rápido até o homem que tinha acabado de trancar seu carro.
- Ei! - ele se permitiu falar. O garoto pareceu sem graça pelo homem não ter puxado conversa, mas logo viu olhando pro céu e botando a mão em cima do olho para enxergá-lo melhor. O problema era o sol.
Então o garoto sorriu e falou:
- Você se importa de me dar um autógrafo? - falou guardando rapidamente o celular no bolso de trás de sua calça, abrindo o mini caderno e destampando a caneta. nem pôde dizer com palavras que estava atrasado para o trabalho, pois seu olhar foi mais rápido e o do menino mais ainda, notando que estava apressado. - Juro que não vai demorar!
até conseguiu sorrir depois daquilo, pela simpatia do garoto, e se rendeu. Não ia doer dar um autógrafo. Seu chefe entenderia, aliás, aquilo era consequência de seu trabalho.
- Tudo bem - falou já pegando o caderno da mão do menino e sorriu quando viu o sorriso dele. - Me diz o seu nome!
- Enrique - o jovem moreno respondeu.
- Ahn, vamos lá, então, Enrique… Algum recado especial? - resolveu ceder de vez sendo franco com o garoto que estava sendo genuinamente legal. Nada abusivo, além de ter esperado ele chegar no estúdio em pleno estacionamento.
- Não, tudo bem… Só um autógrafo mesmo! E quem sabe uma foto… - ele sorriu sem graça já com a mão por cima do bolso de trás da sua calça onde estava o eletrônico.
- Certo, então… - assinou seu nome no bloquinho do menino que parecia ter vários autógrafos, como uma espécie de coleção, e o devolveu para ele. - Aqui está! E...
- Obrigado - o menino agradeceu sorrindo e deixou o homem continuar.
- A foto? - completou.
- Ah, sim. Aqui - Enrique pegou seu celular e acionou a câmera. Botou no modo selfie e esticou seu braço na frente de seus rostos para tirar a foto.
O garoto bateu três fotos na mesma posição e riu por conta do pensamento que teve ao ver as fotos, que se transformou em palavras singelas para ele, mas controversas para .
- Quem olha a foto diz até que somos parentes! - fala a qual levantou uma sobrancelha e se afastou para o menino ver sua expressão de desentendido.
- Parentes? Só por que somos negros? - ele respondeu, tentando não ser grosseiro, mas era óbvio que eles não tinham nada a ver a não ser a cor da pele.
- É, né? - Enrique riu sem graça, pois já tinha guardado o celular no bolso. O clima, antes descontraído, se tornou pesado e coçou a cabeça antes de se despedir.
- Bom, Enrique, foi bom te conhecer, mas agora eu realmente preciso ir - sorriu sem graça e tentou se redimir, por mais que soubesse que estava no seu direito como artista. Ele infelizmente não tinha todo tempo do mundo para se dedicar aos seus fãs, nem se ele quisesse. - Desculpa qualquer coisa.
E então deu um tchauzinho de longe enquanto o garoto sorria e fazia o mesmo, vendo um de seus caras favoritos do mundo sair de seu campo de visão. A vida deles era tão diferente que Enrique não fazia ideia do que passava na cabeça de .
O homem abriu a pesada porta de vidro e entrou no ambiente gelado que era o prédio do estúdio. Se ele já estava de mal humor debaixo do sol, que ele tanto amava, agora no gelo glacial do novo lugar, ele só queria sumir.
Mas não deu tempo dele se enfiar no primeiro banheiro que encontrasse pois, infelizmente, acabou esbarrando com seu próprio manager, William O’Neil.
- Por Deus, ! Você por acaso já olhou o horário? - falou batendo no seu relógio de pulso. O homem à sua frente apenas rolou os olhos. Mas não era o suficiente para demonstrar o quão chateado ele estava, então também soltou um longo suspiro, que seu colega de trabalho não deixou de reparar. - Deixa de procrastinação e vamos ao trabalho! Já está atrasado demais pro meu gosto.
rolou os olhos mais uma vez enquanto Will ficava de costas para ele e repensou três vezes se devia se tacar da janela do último andar ou da cobertura mesmo. Não seria muita diferença, mas se fosse da cobertura ele, pelo menos, poderia escolher de que ângulo ele despencaria do ar.
Seus pensamentos mórbidos se dissiparam quando ele entrou no elevador do prédio com mais pessoas e percebeu que todos estavam sorrindo, como se fosse mil maravilhas passar dia e noite trancados num escritório, ou estúdio, ou até mesmo numa casa de shows.
Balançou a cabeça ao ouvir seus novos pensamentos não tão depressivos, que, na verdade, ele não aguentava mais eles o perturbando o tempo todo.
se pegou pensando se já não estava na hora de ouvir sua mulher, , pela primeira vez e realmente buscar acompanhamento psicológico. Ele tinha certeza que não estava nada bem. E se não desse o primeiro passo, ninguém mais daria por ele.
Ele realmente não ficou surpreso quando soube. Não era uma grande novidade, pois ele convivia com aqueles pensamentos e já tinha se tornado até um hábito. No caso, quem havia ficado mais abalada com aquela situação foi .
Por isso, assim que o homem acordou de um dos pesadelos mais estranhos de sua vida, ele não se assustou ao ver que sua esposa estava sentada na poltrona do quarto, à meia luz que o abajur proporcionava, lendo um livro de arquitetura que ela tinha comprado recentemente.
enrugou sua testa quando viu as gotículas de suor no rosto do marido - mesmo com pouca luz foi fácil de ver pelo brilho que emanava.
- Ei, amor… - ela largou o livro aberto de cabeça pra baixo em cima da poltrona e calmamente foi até a cama, sentando na beirada e botando a mão em cima do braço esquerdo dele, que parecia ainda estar tremendo de qualquer que fosse o sonho que tivera. - Tá tudo bem? - perguntou preocupada também levando a outra mão para a testa dele, secando o suor e notando que ele estava quente. Ele parecia confuso e não conseguia falar coisa com coisa. - Calma, querido - ela falou, carinhosa, fazendo carinho no braço que ela ainda repousava a mão. - Eu estou aqui, foi só um sonho ruim. Já passou… - falou como se ele fosse o próprio filho que eles queriam ter.
- O negócio é que… - agora se ajeitou na cama, ainda nervoso e com o braço fraco, tentando explicar o sonho. - O sonho foi com a gente.
sentiu o peito ficar pesado, sentindo medo de que tudo aquilo que estava se passando com seu marido, fosse atrapalhar seu casamento com ele. A mulher tentava pôr na própria cabeça que ela estava fazendo o possível para ver a pessoa que ela mais amava no mundo, bem, mas ela sempre pensava que podia estar fazendo mais, mesmo que dissesse que ela era perfeita o ajudando com o tratamento.
- Você quer que eu mande uma mensagem para terapeuta? Para ver se tem problema tomar uma dose a mais do remédio? - ela falou preocupada roendo o cantinho da unha de seu polegar. estragaria a unha que havia pintado no dia anterior, mas, naquele momento, aquilo era o de menos.
- Não, amor, eu comecei a tomar o remédio hoje, talvez não seja bom… - falou e um vinco apareceu entre suas sobrancelhas quando ele reparou em algo estranho. - Talvez seja até essa a causa do pesadelo. Relaxa - ele mesmo relaxou com sua última palavra e viu a mulher a sua frente sorrir, deixando a mão passar de seu braço para sua mão, a apertando.
mordeu o interior de sua bochecha pensando se devia fazer uma pergunta e quase levantou para voltar ao seu livro, mas, num impulso, perguntou.
- Posso saber do que se tratava o sonho?
arregalou os olhos com a pergunta e sorriu de lado, percebendo que o lado curiosa dela nunca iria embora mesmo.
- Mesmo se for erótico? - ele riu enquanto puxou ela para cama, deitando-a do lado dele, rindo próxima de sua respiração.
- Nesse caso você pode me mostrar como foi o sonho… - ela falou mordendo o lábio e riu da mulher, pensando que infelizmente teria que acabar com a ideia dela.
- Nah, não foi do jeito que você está pensando - o moreno levantou uma sobrancelha. - Até porque foi quase um pesadelo, ! - ele riu percebendo que ela tinha esquecido que foi por isso que ele acordou.
- É verdade! - a mulher riu botando a mão por cima da boca. Ele amava o jeito dela rir, era algo que sempre fazia seu coração esquentar de amor por ela. - Mas, então… Vai me contar ou não? - ela insistiu, se acomodando ao lado dele.
- Vou, sua teimosa! - ele riu, mas engoliu em seco lembrando do último segundo sonho, antes de olhar pro rosto ansioso dela, pedindo para que ele o fizesse logo. - Foi estranho… Nós estávamos literalmente dentro de uma onda. Em cima de uma única prancha. Parecia até que ocupávamos o mesmo lugar, como se fossemos a mesma pessoa - o encarava e ele tinha uma expressão engraçada, como se estivesse lembrando de algo que realmente aconteceu. - No horizonte, dava pra ver que era a praia do píer que eu te levei para te pedir em casamento. Só que nós não estávamos lá para revisitar o lugar. Aquela era nossa primeira vez lá - ele coçou o olho percebendo que o sono estava voltando. - As ondas passavam e teve uma hora que eu tirei do bolso do meu short de tactel a sacolinha vermelha de laço dourado que tinha nossas alianças. Eu fiz o pedido de casamento… - ele parou de contar para olhar para que o encarava atenta ao que ele contava, e tentou explicar melhor. - Era como se estivéssemos no passado, sabe? E então você respondeu sim à minha pergunta… Só que uma onda forte veio e na hora que a gente ia se beijar… Eu acordei.
viu a expressão triste de , mas não entendeu muito bem. Parecia que ele realmente achou ruim aquele sonho e ela simplesmente amou? Tudo bem que o final foi brusco, uma onda forte não é algo legal, muito menos se você está literalmente dentro dela. Mas lembrava um bom momento de suas vidas! O único medo dela era que…
- Será que isso quer dizer que nosso casamento está arruinado? - perguntou olhando nos olhos dela assim que ela completou o mesmo pensamento em sua cabeça. Ela riu fraco de uma maneira triste por eles terem pensado na mesma coisa, mas ela não tinha coragem de confirmar aquilo, pois ela nunca pensaria em se separar dele. Eles poderiam passar por mil coisas, mil problemas, mas seria juntos.
- Nunca, , nunca - falou pegando no rosto dele e olhando no fundo de seus olhos proferiu as palavras mais verdadeiras que tinha falado na vida. - Eu já disse a você que isso não interferiria nos meus sentimentos e você disse que isso também não tinha nada a ver com o nosso amor. Então confia em mim! Eu vou estar aqui em todos os momentos que você precisar. Assim como você já esteve aqui pra mim.
O homem que tinha aparência de quem nunca iria ceder, finalmente deixou as lágrimas caírem, emocionado com o discurso da mulher, e ela o abraçou forte, deixando ele apoiar a cabeça em seu peito e sentindo os braços dele em sua cintura. Ele precisava tirar aquele sentimento de frustração de dentro dele, então ela o deixou fazer isso.
Deu um beijo na cabeça dele e falou perto de seu ouvido.
- Eu te amo. Muito.
Ela havia consultado a sua própria psicóloga para saber a opinião dela sobre a situação que estava passando e o conselho dela foi o mesmo que já internalizava: ela precisava tirar de casa, pelo menos para dar uma caminhada. Fazê-lo ver o sol, que ele tanto gostava, ou tomar um vento na cara, até uma chuva… Ela só queria que ele voltasse a sentir o verdadeiro sentido de estar vivo.
Sua real vontade era de fazer uma viagem com ele, mas o problema era a agenda deles que estava sempre lotada. E ela queria ser pelo menos um pouquinho imprevisível, como o marido, e fazer uma surpresa para ele, então não queria ter de comunicá-lo antes para abrir um espaço em sua agenda, nem queria pedir que ele desmarcasse compromissos. Ele precisava voltar a ter vontade de cumprir seus deveres, e não fugir deles.
Então a saída foi apenas uma: falar com o manager de para saber como estava a agenda do marido, que ela realmente confirmou que estava cheíssima. Então ela teria que dar seu próprio jeito para tirá-lo de casa.
planejou um pequeno horário para cumprir e botou em prática até metade da semana, percebendo que deu certo e que era hora de mostrar a como era bom fazer algo diferente. Seu objetivo não era fazer ele encarar a vida de uma forma diferente totalmente do nada, pois ela sabia como aquilo era difícil, então seria um longo processo. Com certeza teria dias que não iria querer sair da cama, mas ela seria a força que ele precisava e mostraria que estaria sempre lá para ele, não importando o momento.
Por isso, ela imaginou que o primeiro dia seria difícil. E quando viu se recusar a acordar as 7 da manhã, ela percebeu que teria que fazer umas trocas.
No segundo dia, conseguiu acordá-lo as 8 e o seu coração bateu um pouquinho mais feliz ao ver que ele estava mais disposto.
cantarolava na cozinha, enquanto fazia o café da manhã, e sorriu de orelha a orelha quando chegou por trás dele e plantou um beijo em seu ombro, tendo de ficar na ponta do pé por conta de sua altura.
- Tão bom te ver animado de manhã! Fazia quanto tempo que isso não acontecia? - ela riu enquanto sentava no banquinho da cozinha americana deles. a avistou por cima de seu ombro e também sorriu, a respondendo.
- Nem ideia! Mas hoje tive um bom pressentimento e assim que vi o sol nascer não consegui mais dormir - falou calmamente não percebendo que ele simplesmente estava com problemas de sono. Parecia que ele estava voltando a ver a beleza até nas coisas ruins, como ele sempre havia feito. - Então resolvi acordar. Ficar na cama num dia bonito desses chega a dar azar - riu sozinho depois escutando um leve grunhido da mulher que sorria também.
não queria se precipitar, mas já se sentia orgulhosa dele. Qualquer pequeno passo era motivo de vitória e ela não poderia negar isso.
- Isso quer dizer que você topa dar uma caminhada hoje pela praia? - ela mordia o lábio já com medo de uma resposta negativa dele, que não demorou muito para ponderar e responder.
- É, não é uma má ideia - falou, agora pegando as torradas prontas, a jarra de suco de melancia fresquinho e duas bananas. Depois pegou pratos e copos e dividiu com o café da manhã.
O casal conversou um pouco sobre como seria o dia para cada um deles e quando a realidade bateu pra , trazendo uma certa tristeza a sua expressão, percebeu que era hora do café da manhã acabar e também de trocar de roupa.
- Vamos, amor! Antes que alguma nuvem apareça e acabe com os nossos planos - falou apertando a mão de e assim que ele voltou a olhar para ela, a mulher deu uma piscadinha. Levantou rapidamente de onde estava sentada e foi rapidamente pro quarto mudar sua roupa.
fez o mesmo e logo eles estavam prontos, faltando só achar um prendedor de cabelo para e que estava procurando algo que a mulher não sabia o que era.
- Amor, você viu aquele trequinho de pôr no braço para pôr o celular? - perguntou fazendo gestos para entender o que era. Ela enrugou a testa percebendo que também não sabia onde estava e respondeu com outra pergunta.
- Mas pra que você quer levar o celular? A gente só vai dar uma caminhada, não precisa ficar conectado vinte e quatro por sete! - ela riu enquanto achava um laço de cabelo dentro de uma caixinha que ela guardava seus grampos de cabelo.
- Ah, mas é pra ouvir música… - respondeu ainda procurando.
- Deixa de bobeira! - falou depois de fazer seu rabo de cavalo. - Nada de eletrônicos, documentos e dinheiro. Vai ficar tudo em casa e acabou!
Depois disso ela o puxou do chão facilmente, pois ele acabou cedendo e com suas mãos ainda dadas foram até a porta de casa. Rapidamente estavam do lado de fora e ela guardava a chave dentro de seu tênis.
Eles resolveram começar correndo pra depois descansar andando, o que deu em muitas risadas. parecia genuinamente feliz e aquilo aquecia o coração de sua mulher. Ele mesmo se sentia mais leve e já conseguia aos poucos sentir que fez uma coisa boa quando saiu para sentir o sol bater em sua pele.
Depois que correram e andaram pelo menos um quilômetro e meio, já estando na praia, deu a ideia deles sentarem um pouco na areia para admirarem o dia que estava fazendo. Ela tinha até botado biquíni por baixo da roupa para caso quisesse tomar sol.
Após alguns minutos quietos olhando pro horizonte e sentindo o calor tomar conta de todos seus corpos, tirou a blusa dando lugar ao biquíni, enquanto a admirava, dando o sorriso mais sincero dele durante dias. Foi impossível não notá-lo por parte da mulher, então ela o olhou e sorriu junto, não se segurando e dando um selinho nele.
- Você devia sorrir mais - ela falou rápido ainda com o sorriso dele na cabeça e até se questionou se devia ter o feito, principalmente quando ouviu a resposta.
- Às vezes é difícil, … - falou enquanto pegava um pouco da areia quente e a deixava escorrer pelos seus dedos. - Eu nem sei quando tudo começou a ficar difícil, mas eu espero que volte a ser fácil - ele suspirou antes de falar a próxima frase. - Porque com você ao meu lado tudo parece fácil até demais. Parece que tudo ao meu redor desaparece e existe só nós dois. Assim como anos atrás, quando a gente descobriu que o nosso refúgio era o nosso amor. Eu não sei se você sabe, mas eu sinto a necessidade de te dizer agora que você foi e sempre vai ser a melhor coisa que me aconteceu.
se sentiu no dia que ele a pediu em casamento, pois sentia seus olhos se encherem de água apenas com as palavras fortes que dizia. Ela queria tanto falar pra ele o quanto ele já tinha a ajudado e aquilo era o mínimo que ela podia fazer. Ela queria gritar pro mundo todo que ele sempre seria o único homem possível em sua vida. Mas tudo que ela conseguiu fazer foi apertar a mão dele forte e segurar o choro para falar o que estava entalado em sua garganta.
- Isso não se trata de mim, . É sobre você. Sobre o quanto você mudou a minha vida e o quanto eu quero mudar a sua para melhor. Sempre. Você é o amor da minha vida e nada vai mudar isso. A gente que vai sair por aí mudando as coisas com o nosso amor. E, sinceramente, a gente devia vir mais a praia. Porque a energia que esse lugar emana, faz você sempre falar coisas lindas que me fazem ter vontade de chorar.
, ao contrário de que tinha a voz embargada, sorria tão forte que não aguentou mais só escutá-la. Ele a abraçou, pegou-a em seu colo e a levantou no ar em seus braços, fazendo ela dar um leve gritinho de susto e gargalhar.
- Garota, você não tem ideia do quanto eu te amo - falou enquanto ela se ajeitava em seu colo e emaranhava as duas pernas em seu tronco.
- Pois eu te amo muito mais, meu refúgio.
FIM!
Nota da autora: Pensei que eu nunca ia conseguir acabar essa fic, mas consegui! Não podia deixar de fazer uma notinha porque tenho algumas coisas a dizer: a primeira é que é tão bom voltar a escrever com esse casal! Na realidade, eu dei vida a eles alguns anos atrás e quando peguei essa música no ficstape percebi que podia dar uma continuidade a história deles e até modificar algumas coisas na história original que eu acho que podia ter feito melhor, já que foi um pouco corrida. Então se você leu até aqui e gostou desse casal, vai ter mais aventuras deles de quando eles se conheceram e outras coisinhas… Se quiserem ler a versão original (os dois pp’s eram brancos, agora o pp é negro <3), é só ir até 30. Disconnected. Logo mais vou começar a reescrever, mas já tudo planejado e terá mudanças que tô doida pra escrever! E se você já leu Disconnected e tá aqui lendo a continuação, espero que tenha gostado e acompanhe o que tenho pra compartilhar com a história reescrita. Fiz algumas referências, pois como é kinda um spin off, mereceu isso! E, claro, caso queiram mimar uma autora ou só deixar um comentáriozinho de “odiei, nota zero”, pode ficar à vontade! Estamos aqui pra ouvir críticas também.
Um beijinho e até a próxima!
Nota da beta:
Lembrando que qualquer erro nessa atualização e reclamações somente no e-mail.
Um beijinho e até a próxima!