06. Catch Me

Fanfic finalizada.

Capítulo Único

Dallas, Texas - 25 de Junho de 2017. — Centro de Valorização da Vida, no que posso ajudar? — Eu quero me matar. — a voz feminina soou trêmula do outro lado da linha. — Não aguento mais, eu não sou forte o bastante para suportar isso. suspirou. Aquela era uma das mais difíceis. Quando as ligações se iniciavam daquela forma, ele sabia que tinha de manter a calma e deixar a pessoa do outro lado da linha falar e só dizer algo se a pessoa pedisse. Ás vezes tudo que a pessoa precisava era de um lugar para desabafar sem ouvir algo em troca. E foi isso o que ele fez. — Eu não suporto mais essa vida, a pressão que minha mãe coloca em cima de mim, eu não consigo. - a garota fungou. — Qual é, vocês só ficam em silêncio aí? - soou desesperada. — Eu li que vocês poderiam ajudar, mas você fica calado aí. — Calma, moça. — se pronunciou. — Estou aqui para te ajudar. Como quer que eu lhe chame? — perguntou. - O serviço não é anônimo? - perguntou. - Por favor, eu sinto que ainda posso ser salva. Vocês são minha última esperança. — Sim senhorita, se é de sua vontade o anonimato, eu entendo. Talvez você queira se identificar com outro nome, como um pseudônimo, sabe? Mas caso não queira se identificar de forma nenhuma, sem problema. — Elizabeth. — a garota respondeu. — Certo, . — respondeu. — Gostaria de contar o que a levou a tomar essa decisão? - Eu só não aguento mais, sabe? É tudo muito difícil, muito confuso e complicado. Minha mãe quer uma coisa, mas eu quero outras. Minha mãe exige muitas coisas. já havia escutado histórias parecidas. Os pais queriam uma coisa para o filho, mas ele não desejava aquilo. — Você já disse isso para ela? — perguntou e murmurou um “uhum”. — E o que ela disse? — Que não importa. Que o que importa é o que ela quer, que é o melhor para mim. — respondeu. - Ela é implacável. E ainda tem as pessoas da faculdade. Eu não consigo mais viver, quero a morte. Não tenho mais motivos. A voz da garota era desesperada. esperava conseguir ajudá-la. O que será que havia acontecido para que ela chegasse a uma decisão tão desesperadora? — Sei que é difícil, não vou dizer que entendo porque não estou em seu lugar e não passo por algo diferente, mas eu estou aqui com você, além dos outros atendentes aqui. Estamos dispostos a te ajudar a superar isso, porque uma hora passa. Tarde, talvez? Mas é aquele ditado, depois da chuva vem o sol. — dizia e aos poucos foi ouvindo a respiração de se acalmar do outro lado da linha. — Sei que nesses momentos difíceis é complicado para confiarmos nesses conselhos, mas sempre ajuda desabafarmos e ouvirmos a opinião de alguém de fora. ficou em silêncio, mas logo soltou um suspiro e contou para que a mãe a obrigou a cursar a faculdade de Engenharia Civil, para que continuasse com o legado da família. Era frustrante porque por mais que tentasse, não conseguia ir bem e sua mão pegava no seu pé por causa daquilo. Os colegas da faculdade também não facilitavam, viviam enchendo o seu saco falando que ela só continuava estudando porque a mãe pagava. Além de que era obrigada a participar de diversos concursos de beleza, e a mãe pegava em seu pé para que ele emagrecesse cada vez mais. E tinha as amigas que viviam falando de garotos e diziam que ela devia melhorar a aparência para que os caras demonstrassem interesse por ela. No final, perguntou se ela queria ouvir uma opinião, mas ela acabou respondendo que já se sentia um pouco melhor após desabafar. Então antes de desligarem, disse que com certeza voltaria a ligar, porque às vezes se sentia sozinha e que esperava que ele a atendesse na próxima vez, já que por serem vários atendentes não era muito provável que acontecesse. desligou o telefone com um sorriso pequeno no rosto. Sentia-se totalmente realizado quando conseguia ajudar alguém a ver que o suicídio não era a melhor saída de todas. Dallas, Texas - 09 de Julho de 2017 - Hoje começou os preparativos para mais um concurso. - disse triste. Haviam se passado algumas semanas desde que ela ligara e fora que a atendera. Como eram vários atendentes foi muita sorte ser atendida pelo rapaz, apesar de ao longo desse tempo, ela ter ligados 3 vezes e foi atendida por outros dois atendentes. Ela não sabia porque, mas não conseguira manter muito a conversa com eles, embora as ligações tenham surtido o efeito que queria; afastar a solidão que sentia. A diferença era que com ela lhe dizia seus problemas, e com os outros mantinha uma conversa com o objetivo de esquecer o que tanto lhe atormentava. — , você precisa criar coragem e dizer para sua mãe que não quer mais participar desses concursos. — disse sério. — Sei que não quer decepcionar sua mãe, mas você está fazendo coisas contra sua mãe. E isso pode lhe fazer muito mal. — Eu sei, - bufou. - mas é muito difícil. A linha ficou em silêncio. pensava se devia seguir aquele conselho, mas se lembrava das coisas que a mãe lhe dizia e perdia a coragem. A mãe dizia que se ela não se esforçasse iria ser uma fracassada e que ela tinha que fazer aquilo porque ela que lhe sustentava. sabia exatamente o que ela estava pensando e pensou que era melhor mudar de assunto, já que era óbvio que ela não queria mais conversar sobre aquilo. — Conversamos sobre coisas que você não gosta, mas nunca me contou do que realmente gosta. provavelmente notou a intenção do atendente e suspirou ponderando se deveria dizer o que lhe atraía. não fazia de como era, mas podia imaginar que ela estava mordendo o lábio. - Na verdade, eu gosto de cantar. — sua voz saiu baixa. ficou um pouco surpreso. Apesar da sua voz ser realmente leve como se fosse de um anjo, ele nunca imaginara que ela realmente cantava. — E você gostaria de seguir isso para o resto de sua vida ou é só um hobbie? — ele perguntou. — Não sei se seguiria, mas eu gosto muito. — A voz dela soava feliz, como se só falando daquilo lhe deixasse extremamente alegre. — Eu não tenho muito tempo para cantar. sentiu o seu coração se partir diante daquela informação. A vida de era toda baseada nas vontades da mãe, ela não tinha tempo nem de fazer o menor dos hobbies. Era triste porque não era só ela que vivia daquele jeito, ele já havia atendido inúmeras ligações de adolescentes e jovens que viviam a mercê dos pais e saber que os próprios progenitores os submetiam a isso, era revoltante. Os pais devem amar os filhos independente de seus gostos e paixões. Não devia haver relacionamentos abusivos dos pais com os filhos, nem de qualquer pessoa com outra. — Okay, vamos mudar novamente de assunto. — disse tentando fazer graça. — Por favor, me diga que pelo menos você tem tempo de assistir série, filme ou novela, ou de ler um livro! gargalhou. Sua risada era engraçada, como se há tempos ela não a usava. — Eu leio bastante. — concordou. — Mas também assisto séries. Nesse momento estou maratonando a 6ª temporada de Friends pela quinta vez. — contou empolgada. Uma discussão sobre qual episódio era mais engraçado se instalou, achava o da disputa pelo apartamento da Mônica o melhor, enquanto dizia que era o que Phoebe dizia o famoso “Oh, my eyes, my eyes”. No final, ambos concordaram que não conseguiam estipular qual era mais engraçado, porque todos episódios eram engraçados demais para apenas se escolher um. Quando a ligação se finalizou, sentia-se bem. Ele sentia um afeto por , não era nada preocupante, já que muitos dos que ligavam para o CVV, ele se sentia igual. Dallas, Texas - 5 de agosto de 2017 , vai fazer o que depois que sair daqui? — Chloe, uma das voluntárias do CVV, perguntou para o moreno. — Nada, por que? — perguntou enquanto tomava um copo d'água. Eles estavam num dos intervalos do atendimento. Chloe era uma garota de pele negra, cabelos cacheados e olhos castanhos. Já fazia mais tempo que ela trabalhava no CVV, não conhecia muito da história dela, além do que eles conversaram uma vez. Ela havia escolhido se voluntariar porque a mãe se suicidou, então ela queria ajudar pessoas que passam pela mesma situação que a mãe passou e ela não pôde ajudar. — Os meninos e eu vamos naquele barzinho que abriu há duas quadras daqui. — ela disse. Os meninos era Simon e Sean, eles eram muito próximos e se voluntariaram na mesma época. — Pode ser. — concordou. Fazia um tempo desde a última vez que ele saiu e ele sentiu precisava de um tempo para se divertir.
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adentrou o barzinho logo atrás dos amigos. O local não era tão grande, mas tinha um ar aconchegante, a luz era baixa e uma banda tocava no palco ao fundo. Foram até o balcão e pediram bebidas. Ainda era um pouco cedo, então o barzinho não estava tão cheio. O barman garantiu que mais tarde haveria uma boate com música eletrônica. Não era o estilo de música preferido de , mas ele gostava quando podia dançar com as batidas. O pequeno grupo ficou conversando enquanto a boate não começava e descobriu que Simon e Sean eram namorados. Não pôde deixar de sentir-se um pouco desconfortável, afinal se os garotos eram um casal e sobraram apenas ele e Chloe, ficou parecendo um encontro duplo. — Não se preocupe. — Chloe riu quando viu a expressão desconfortável de . — Eu tenho namorado, não tenho a intenção alguma de ficar com você e mesmo que fosse solteira por que nós sairmos deveria significar que somos um casal? — deu de ombros. — Homens e mulheres podem ser amigos. arregalou os olhos ao ver a impressão que havia dado. Ele não queria ter feito parecer que amizade entre homens e mulheres não existissem. — Não é nada disso. — O moreno negou com a cabeça. — Quer dizer, passou pela minha cabeça que parecíamos estar em um encontro, mas não é como se eu discordasse do que você disse. Chloe assentiu e sorriu, tomando um gole de sua bebida. O local já estava ficando um pouco cheio e sentiu-se um pouco sufocado. Suspirou chegando novamente a conclusão de que devia voltar a se socializar mais para não passar por situações como essa. — Vou tomar um ar. — avisou aos colegas e eles assentiram. O moreno foi passando pelas pessoas, tomando cuidado para não tropeçar em ninguém. Abriu a porta e saiu, agradecendo aos céus pelo ar puro entrando em seus pulmões. Avistou um banco mais a frente e sentou-se. Sentiu-se sendo observado e tentou controlar a respiração com a aproximação iminente. Sim, ele tinha medo de pessoas estranhas se aproximando. Uma vez fora assaltado a caminho de casa e esse evento lhe foi traumático. — Você também tem fobia de pessoas? — assustou-se ao ver uma garota sentando-se ao seu lado. — Desculpe, não quis assustar. O garoto levantou o olhar para observar a garota ao seu lado. Ela tinha um cabelo loiro escuro e olhos verdes. Usava um piercing no nariz e tinha algumas sardas em volta do mesmo. — Sem problemas. — disse lembrando-se de responder a garota. — Não é fobia, é falta de costume. Tempos sem socializar. A garota soltou uma risadinha. sentiu-se um pouco estranho escutando aquele som. Era como se ele o conhecesse de algum lugar, mas não se lembrava de onde. — Acho que sou o contrário então. — A loira disse mordendo o lábio. — Minhas amigas resolvem vir pra esses lugares tantas vezes que já estou enjoada de tanta gente. A garota tinha um olhar longe. Era como se ela estivesse ali fisicamente, mas não no pensamento. — Que tal se irmos para um lugar mais calmo? Já que você disse que precisa socializar.— ela perguntou e ergueu uma sobrancelha, mas logo soltou uma risadinha. — Uma cafeteria ou algo assim. Não vou deixar você me levar para qualquer lugar. — Acho que você está precipitada demais. — disse. — Nem mesmo sei seu nome. — Não seja por isso. — ela riu tímida. — Prazer, . Ela estendeu a mão e ele a apertou. não pôde deixar de estranhar o fato da garota estar usando uma blusa de manga longa, quando estava fazendo calor na cidade. — , prazer. Que tal só ficarmos aqui? Não que eu ache que você irá me matar ou algo assim, mas como tenho amigos lá dentro, não quero deixar eles sozinhos. ficou em silêncio por um momento, mas depois abriu um sorriso — que para não pareceu tão sincero — e assentiu. — Vou lá dentro buscar uma água, você quer ir também? — perguntou e a garota negou com a cabeça. sentia suas mãos tremerem. Não sabia o porquê havia se aproximado daquele cara. Ela estava de fora do barzinho porque não aguentava mais as amigas lhe apresentando caras que ela não tinha a menor vontade de conhecer. Quando estava procurando um local para sentar-se, viu o moreno sentando e não soube porque, mas quis se aproximar. Ele não parecia perigoso. A pele era negra e os cabelos castanhos estavam penteados. Os olhos eram castanhos e transmitiam uma tranquilidade esquisita, era como a tranquilidade que o cara do telefone lhe transmitia, só que pela voz. Não que ela já confiasse no cara, aprendeu desde cedo que não devia confiar em ninguém, que quando se confiava, era uma porta que se abria para a decepção. — Pensando na morte da bezerra? — aquela foi a vez dela se assustar com a aproximação do moreno. — Poderia estar. — ela riu baixo. — Mas vamos dizer que eu já penso demais na morte dos pobres animais. Lá estava ela novamente citando coisas que não deveria. — Não me diga que você é vegana? — comentou empolgado e ela sentiu o coração acelerado. Como podia aquilo acontecer? Não fazia nem meia hora que conhecera o cara e já sentia o coração palpitando por saber que os dois tinham coisas em comum. Era o que parecia. Aquela empolgação era porque ele também não comia carne, não? — Vegetariana. — respondeu. — Por que tamanha empolgação? — Você é a primeira pessoa no meu círculo de pessoas que também não come carne. — respondeu como se aquele pequeno detalhe fosse de extrema importância. — Desculpe, é porque eu sou muito julgado por não comer carne, então… assentiu. Ela era vegetariana, pois não concordava com as coisas que humanos faziam com os animais. Mas não era muito julgada, porque estava sempre fazendo dietas para os concursos que participava. Então as pessoas achavam que ela não comia carne por causa do padrão. — Pretende um dia migrar pro veganismo? — perguntou interessado enquanto bebia alguns goles de água. — Não sei sabe? — disse a verdade. Como ela tinha de participar daqueles concursos geralmente tinha muitas roupas de couro e maquiagens que eram testadas em animais. Não era como se pudesse escolher. Era hipócrita, sabia, mas a mudança para o vegetarianismo já fora difícil. — Pretendo, mas essas coisas não podem ser de uma hora pra outra. assentiu. Ficaram em silêncio apenas absorvendo a companhia um do outro. Como ninguém falara nada e sentia uma vontade incontrolável de conversar com ele, resolveu que era sua vez de puxar assunto. — Você faz faculdade de alguma coisa? — não era o assunto mais interessante, mas aquele silêncio era perturbador. — Me formei em assistência social há um ano. — contou. — Faço parte da equipe de assistência do Medical City Dallas Hospital. E você? O que faz? mordeu o lábio pensando se contava ou não. Tinha medo de parecer insatisfeita contando aquilo. — Curso engenharia. — suspirou. — Mas ainda não estou nem perto de me formar. — tentou dizer aquilo como se não fosse algo extremamente bom, porque no fundo ela ainda tinha esperança de abandonar aquilo. ficou em silêncio por um momento. Ela franziu a testa estranhando aquela reação. Ele levantou o olhar para ela e abriu um sorriso pequeno, para depois abaixar o olhar para o pulso e ver as horas no relógio. — Tenho que ir. — ele disse levantando-se. — Como ainda moro com meus pais ainda tenho algumas regras a seguir. — ele riu fazendo com que ela abrisse um sorriso também. Um lindo sorriso. — Que tal agora darmos a chance para a cafeteria? — perguntou. — Acho mais que justo. — respondeu. — Que tal na quarta? Lá pelas 6:30 p.m? Naquela cafeteria do centro? — Fechado. — respondeu. Buscou algo em seu bolso e lhe entregou o telefone. — Salva seu número aí que depois lhe mando uma mensagem para você salvar o meu. fez o que ele pediu. Tentava evitar demonstrar que as mãos tremiam. Quando terminou de salvar o número lhe entregou o telefone e ele se despediu dela com um beijo na bochecha. Quando ele já se encontrava do outro lado da rua, ela colocou as mãos no rosto. Por que tinha de se apegar tão rápido às pessoas, se no final era sempre abandonada? Ela não aguentava mais ver as pessoas lhe darem adeus. Mas não conseguiu negar aquele convite. Ele era tão encantador. Tão hipnotizante. — , você está ferrada! — sussurrou para si mesma. Levantou-se e caminhou até o barzinho preparada para ouvir as amigas, se é que podia chamá-las assim, reclamarem do quão sem graça ela era. Dallas, Texas - 9 de agosto de 2017 olhava ao redor da cafeteria torcendo para que chegasse logo. Era óbvio, ela estava morrendo de medo de levar um bolo, mas resolveu seguir seu coração e ir, parecia legal e suas mensagens eram engraçadas e gentis. Ela não estava em seu melhor dia. Sua mãe brigou com ela dizendo que ela não devia sair porque iria acabar comendo mais do que deveria e estaria péssima para o concurso que ocorreria dali há quinze dias. então prometeu que não iria comer nada, apenas tomar um café. A mãe nem sempre era agressiva, porém da última vez em que elas discutiam, ela agarrou seu braço com tanta força que um hematoma surgiu, a obrigando a usar blusa de frio em época de calor. — Terra para . — levantou o olhar para que balançava a mão com frequência em frente aos seus olhos. — Acho que agora você que estava viajando por outras galáxias. revirou os olhos com aquela frase clichê. sentou-se na cadeira em frente a sua e a olhou ansioso. Naquele momento reparou em como ele estava bonito, usava uma blusa azul que realçava seus olhos castanhos. Ele era absolutamente encantador. — Realmente eu estava viajando um pouco. — disse sentindo suas bochechas corarem. — Foi um dia díficil, mas prefiro esquecer. assentiu como se entendesse. Ele também havia tido um dia bem complicado no hospital, ser assistente social não era a coisa mais fácil do mundo, principalmente quando há pessoas que não valorizam tanto seu trabalho. Porém ele também preferia deixar aquilo de lado, estava em uma espécie de encontro com uma garota linda e ele não sabia porquê, mas os olhos dela não demonstrava a alegria que ela fingia sentir. Fizeram seus pedidos, e ele estranhou o fato de ter pedido apenas um café sem muito açúcar. Ela vestia uma blusa manga ¾ e em seu braço direito havia algumas pulseiras. sentiu-se um pouco desconfortável, geralmente as meninas que ele conhecia que cobria tanto os pulsos assim se cortavam, e ele não queria pensar que fazia isso. iniciou um assunto sobre o filme que estava em cartaz e ambos começaram a discutir sobre. Logo estavam conversando sobre outras coisas, como música e séries. aparentava conhecer muito sobre música, ela sabia nomes de inúmeros cantores e suas canções. O moreno não deixou de reparar em como parecia à vontade. Parecia que há tempos que ela não sentia-se assim, e não sabia porquê, mas se lembrou de , ela também aparentava estar à vontade em suas ligações, principalmente quando falava de música. olhou a hora em seu telefone e falou que tinha de ir, a mãe estava a esperando. Ela não queria ir embora. E ele também parecia querer que ela ficasse, mas ela não poderia correr o risco de comprar mais uma briga com a progenitora. Despediram-se e ela saiu chamando um táxi. suspirou quando entrou no carro, pensando em como ela já estava absolutamente encantada com aquele cara. Ela não queria sentir aquilo, mas não conseguia evitar. Ao mesmo tempo sentia que ele era uma pessoa confiável e também sentia que ele poderia decepcioná-la. Ela tinha medo. Muito medo. Mas não poderia deixar esse medo a abalar, então decidiu que ia fazer as coisas acontecerem rápido antes que ela se apaixonasse totalmente. Dallas, Texas - 12 de agosto de 2017 Era mais um dia de atendimento no CVV. havia acabado de conversar com um adolescente que sofria gordofobia na escola e estava sentindo-se muito mal por isso. O moreno fez questão de frisar a importância de o garoto contar para os pais e para os diretores da escola que aquilo estava acontecendo para que uma atitude fosse tomada. Até quando as pessoas iriam ficar cobrando que as mulheres fossem magras e os homens fossem sarados para que enquadrem em um padrão de beleza que era impossível de ser alcançado? tomava um copo da água e esperava a próxima ligação. Fazia alguns dias que não ligava, e isso o deixava preocupado e um pouco otimista afinal ela poderia não estar mais ligando porque havia resolvido as coisas com sua mãe e começado a superar as coisas negativas de sua vida. O telefone tocou e colocou o copo na mesa. — Centro de Valorização da Vida, no que posso ajudar? — perguntou. — Oi, é a . — não soube porquê, mas suspirou ao ouvir aquela voz. Aquela voz que lhe parecia conhecida. Era engraçado, que por mais que já tivessem conversados algumas vezes, nunca perguntara seu nome. — Como sabe que sou eu? — perguntou bem humorado. — Ah, eu reconheci a voz. — A voz da garota soou tímida do outro lado da ligação. — Como você está hoje? — O moreno perguntou interessado. Ele gostava de mostrar que estava ali para as pessoas que ligavam. — Bem, na medida do possível. — soou desanimada. — Estou perdida, sabe? Aconteceu várias coisas e estou assustada. franziu a testa. O que mais poderia ter acontecido para que ela se sentisse daquele jeito? — E você quer me contar? — perguntou. Ele não forçaria ela a contar se não fosse o que quisesse. — Vamos dizer que novas brigas com minha mãe surgiram, tem vez que ela se descontrola e acaba me machucando, mas nada sério. — disse e franziu a testa, preocupado, se houvesse uma agressão ele teria de mandar denunciá-la. — E agora tem um garoto. Um garoto que estou perdidamente encantada. E eu estou com medo de quebrar meu coração novamente. De ser decepcionada. ficou em silêncio ouvindo o que ela dizia. E por mais estranho que parecesse, ele se identificou com ela. Ele também estava começando a ficar encantado por . Eles conversavam por mensagens, e ela gostava de mandar memes, o que fazia com que ele passasse horas rindo. Ele não tinha medo de ser decepcionado. Aprendeu com seus relacionamentos anteriores que se não seguisse o que seu coração dizia, iria se decepcionar mais ainda. E foi isso que ele disse para , que se ela gostasse mesmo do cara, que ela deixasse a razão de lado e fizesse algo que realmente queria. Depois que seus conselhos foram dados, falou que iria pensar naquilo e agradeceu novamente por aquilo. Ela dizia que sempre se sentia um pouco melhor depois das ligações e aquilo deixava satisfeito. Era bom saber que suas palavras melhoraram seu dia, mesmo que pouco. Dallas, Texas - 20 de agosto de 2017 se olhou no espelho. Era isso estava pronta para um encontro com . E era realmente um encontro. Oficialmente. Ela usava um vestido soltinho com estampa em preto e branco, os cabelos estavam ondulados, o salto não era muito alto e maquiagem leve. Pegou a bolsa em cima da cama, colocando tudo que ia precisar dentro dela e saiu do quarto. Esperava não encontrar a mãe antes de ir, mas é claro que isso não aconteceria. Ela esperava no vestíbulo da casa. Sua feição era desgostosa. — Esse vestido te deixou gorda. — criticou assim que a garota passou pelo vestíbulo andando até a porta. respirou fundo e fingiu não escutar a mãe. Ela gostava de seus vestidinhos soltos, não iria usar algo que a deixasse desconfortável. — Já que finge não me escutar, pelo menos não coma tanto, você tem um concurso semana que vez e não queremos te ver parecendo uma baleia. — a mãe segurou seu pulso e aproximou seu rosto do da loira. engoliu em seco e assentiu. Abriu a porta e saiu, suas mãos tremiam e seus olhos estavam marejados. Por sorte, havia acabado de estacionar em frente à sua casa. Ele saiu do carro e correu até ela. — O que aconteceu? — perguntou preocupado. — Você está bem? — Não é nada. — ela negou com a cabeça e abriu um sorriso fraco. — Só uma discussão com minha mãe, mas nada demais. franziu a testa. O que ela havia discutido com a mãe que a deixara daquele jeito? Ele não imaginava o que seria, e parecia que não gostaria de contar, então preferiu deixar aquele assunto de lado. Porém enquanto pegava a mão de e caminhavam até o carro, ele lembrou-se mais uma vez da garota que ele conversava no CVV. Era estranho, elas terem tantas coisas parecidas entre si, mas talvez fosse só coincidência. Entraram no carro e dirigiu até o restaurante em que havia feito reservas. Não era algo muito chique, mas também nada muito simples.
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O jantar ocorreu bem. Eles conversaram sobre diversas coisas e comeram bem. parecia à vontade. Ela não comeu muito, disse que depois da briga com a mãe, perdeu um pouco do apetite. Porém ela não demonstrou estar abalada com aquilo. Na verdade, parecia estar determinada a algo. Quando pagaram a conta, os dois pagaram o que comeram, disse que o encontro não havia terminado. Ele dirigiu até um local calmo e fez subir um pequeno morro. Ela se assustou com a vista daquele local. Era maravilhoso. — Você pesquisou esse lugar no Google? — perguntou bem humorada. — Não, — riu. — eu vinha aqui quando mais novo com meus amigos. — disse enquanto colocava um cobertor no chão. — Me deixa chutar. — colocou o dedo na boca fingindo pensar. — Vocês fumavam aqui? Ela estava parada em pé e sorria para . Eram raras as vezes em que sorria daquele jeito. Ele aproximou-se dela e colocou as mãos em seus ombros. — Acertou em cheio. — piscou. sentiu suas mãos tremerem. Era aquilo. Iria acontecer. Ela colocou as mãos na nuca dos rapaz, queria que aquilo acontecesse logo. Se fosse calmo não iria resistir, iria se apaixonar e quando menos notasse, ele não lhe mandaria mais mensagens e nem iria querer encontrá-la mais. — Em que você tanto pensa? — ele perguntou passando uma mão pelas maçãs do rosto dela. — Apenas em quanto eu quero fazer isso. — ela disse e grudou seus lábios no dele. O beijo começou lento. As bocas e línguas se conheciam, mas logo subiu a mão pelos cabelos de e intensificou o beijo. sentia que as borboletas em seu estômago estavam enlouquecidas. O beijo, as mãos de eram suaves e tranquilas, como se ali, eles tivessem todo o tempo do mundo. E era isso que ela sentia. Ela sentia que poderia morar naquele beijo, que podia morar naquele abraço.
Before I fall too fast Kiss me quick But make it last So I can see how badly this will hurt me When you say goodbye
Era oficial. Ela havia se apaixonado por aquele garoto que conhecera numa situação não muito comum. Porém, ela decidiu que não iria dar importância para aquilo no momento. Iria aproveitar, seguir seu coração e deixar a ideia de que ele iria decepcioná-la de lado. O resto da noite se passou em borrões. Eles trocaram mais beijos e abraços, conversaram, riram e trocaram mais beijos, mas nada mais que isso. No final, levava de volta para casa, o som do carro estava em um volume alto e tocava “Havana” da Camila Cabello. sentia-se tão a vontade que começou a cantar baixinho, como se estivesse sozinha. Ela nunca cantava perto dos outros. observando que ela cantava abaixou o som, a fim de ouvir a voz dela. voltou o olhar para e sorriu enquanto cantava o refrão. Ela pensou na maneira como gostava dele, ao ponto do moreno fazê-la sorrir enquanto canta.
But you're so hypnotizing You've got me laughing while I sing You've got me smiling in my sleep
estacionou em frente a casa de e ela se despediu com um selinho, ele lhe prometeu que lhe mandaria mensagem logo para marcarem o próximo encontro. entrou dentro de casa e agradeceu aos céus pela mãe não estar a esperando. Ela queria deixar aquela noite intocada, sem brigas. Dallas, Texas - 26 de agosto de 2017 Era mais um sábado, e estava no CVV e sentia-se no mundo da lua. Fazia uma semana desde o último encontro com e eles haviam conseguido conversar apenas por mensagens. Ela tinha faculdade e outros compromissos, enquanto ele tinha seu trabalho no hospital. — Está todo distraído por causa daquela garota que conheceu? — Chloe perguntou de maneira maliciosa arqueando as sobrancelhas. — E se eu estiver? Algum problema? — perguntou fingindo estar com raiva. — Claro que não, criança. — Chloe se levantou e deu algumas batidinhas no ombro dele. — Isso é ótimo. — piscou e saiu indo buscar água. assentiu para si mesmo. Chloe tinha razão, aquilo era ótimo. era uma pessoa maravilhosa, mesmo tendo alguns mistérios que ele não fazia ideia de quais eram, mas esperava que algum dia ela pudesse compartilhar eles com ele. O telefone tocou e atendeu. Balançou a cabeça tentando não pensar na garota naquele momento, pois era hora de pensar nas pessoas que ligavam para lá. — Centro de Valorização da Vida, no que posso ajudar? — atendeu com sua voz calma. — Eu segui seu conselho. — Ele franziu o cenho, não reconheceu a voz de cara. — Aliás, é a . — riu da pompa na voz da moça. — Bom saber. — O moreno disse com sinceridade. — E foi bom? — Foi maravilhoso! — comentou animada. Como as vozes não saíam tão nítidas, por conta do anonimato, ele não havia identificado tão rápido, mas ele sentia que já havia visto aquela animação em alguém. não detalhou muito sobre o encontro, apenas disse que foi uma das melhores experiências de sua vida. Também contou que a mãe estava pegando em seu pé mais do que nunca, pois ela havia ido mal em algumas matérias da faculdade, então eles não conseguiram conversar mais do que aquilo. agradeceu mais uma vez pelo conselho e quando desligou o telefone com um sorriso no rosto. Era bom ver que a garota que havia ligado desesperada falando que ia se matar já não sentia mais tanta vontade de fazer aquilo. pegou o celular e mandou uma mensagem para , marcando o próximo encontro. havia inspirado nele aquela vontade de encontrar a garota pelo qual ele estava se apaixonando. Dallas, Texas - 8 de setembro de 2017 e andavam lado a lado pelo Klyde Warren Park. lambia uma casquinha de sorvete, enquanto preferia afastar o calor com um picolé. O dia em Dallas estava quente e por isso o encontro daquela tarde era num dos parques mais famosos da cidade. sentia-se feliz. O verde das árvores ao redor deles era romântico e o fato de que quase estarem andando de mãos dadas era maravilhoso. — Cansei. — parou de repente. — Vamos sentar, vem! A loira puxou o garoto pelo braço até um banco próximo e ambos se sentaram. — Como anda a faculdade? — perguntou. engoliu em seco. Aquele era um assunto que ela não gostava. — Tudo normal. — respondeu. estranhou o fato dela nunca se demonstrar animada com a faculdade, mas resolveu deixar de lado, iniciando um assunto sobre seu trabalho. Estavam tão entretidos na conversa que quase não repararam no telefone de tocando dentro da bolsa que ela carregava. suspirou ao ver o nome da mãe estampado no display do celular. Engoliu em seco, não sabia o que esperar daquela ligação. Ela atendeu e a mãe com sua voz irritada de sempre, perguntou onde a filha estava, logo exigindo que ela fosse embora, pois tinham que ir fazer a prova das roupas do concurso. — Tenho que ir. — disse ao desligar o telefone e se levantou do banco. — Minha mãe exigiu minha presença para alguma coisa. Mas que tal nos encontrarmos amanhã às 5 p.m? — perguntou. — Que tal mais tarde? — perguntou se levantando também. — Nesse horário, amanhã eu faço o trabalho voluntário no Centro de Valorização da Vida. arregalou os olhos. Não seria possível, seria? Aquilo era apenas uma coincidência, tinha de ser. — Tá bom, conversamos por mensagem. — ela respondeu e aproximou-se dando um selinho no moreno. — Tenho que ir, tchau! — e saiu correndo. franziu o cenho estranhando aquela reação. Ela do nada havia ficado estranha e desconfortável. Seria o fato dele fazer esse trabalho voluntário? Deu de ombros e resolveu voltar para casa e arrumar as coisas que tinha que fazer. Dallas, Texas - 9 de setembro de 2017 estava deitada em sua cama em um dilema. Estava em dúvida se ligava para o CVV e torcia para dar sorte e poder conversar com o cara que a atendia na maioria das vezes. Desde que lhe contou que ele era voluntário, ela não parou de pensar de que era ele que atendia a . Como era um serviço anônimo ela se sentiu confortável para usar seu primeiro nome, pois ninguém sabia que seu nome era . Pegou o celular e resolveu tirar aquela dúvida logo. Discou o número que já lhe era conhecido. Mentiria se não dissesse que o serviço realmente lhe ajudaram durante a vontade súbita que lhe havia dado de se matar. Quando ligou pela primeira vez ela estava se sentindo extremamente mal. - Centro de Valorização da Vida, no que posso ajudar? - A voz conhecida lhe atendeu e naquela hora ela a associou com a de . — Oi, não sei o seu nome ainda, mesmo fazendo semanas que conversamos. — ela tentou soar bem humorada e parece que havia funcionado, pois ouviu a risada dele. — Aliás, é a . — completou sabendo que sua voz não saía tão nítida. — Bom, já que você quer saber meu nome é Jeremy. começou a sentir as mãos tremendo. — Fico feliz que você já me considere tanto que quis saber meu nome, mas espero que você já tenha criado um pouco de coragem para se desprender das vontades de sua mãe, Elizabeth. Ela esperava que ele não reconhecesse a voz dela. Se ele o fizesse, tinha certeza de que se ele não a abandonou até aquele momento, ele o faria agora. — Não me sinto preparada pra isso ainda. — suspirou. Ela sabia que ele tinha razão. Ela já tinha 22 anos e tudo que ela fazia se baseava nas vontades da mãe. Mas ela não sabia como se desprender daquilo. A mãe dizia que ela tinha que cursar engenharia para continuar com o reinado da família. E os concursos, bom eram algo que sua progenitora dizia que ela devia se orgulhar de participar, pois ela era bonita e sua beleza era para ser mostrada e invejada pelas outras garotas. No fundo, não pensava dessa forma. Pensava que a beleza das mulheres nunca devia ser comparada, pois cada uma tinha uma beleza diferente e as pessoas deviam parar de colocar as mulheres uma contra as outras. A loira suspirou, era agora a hora de passar a apoiar em si própria. Não podia depender do CVV sempre, principalmente agora que descobrira que o cara que ela conversava era o seu ficante. — Tenho que desligar, . — ela disse sentindo os olhos ficarem encharcados de água. — Okay, mas pense no meu conselho. disse. — Pode deixar. — ela sorriu fraco. — Tchau! — e desligou. virou o rosto no travesseiro e soltou um grito abafado. Agora pensava constantemente no que faria. Seria a hora de ela passar a fazer as coisas da qual realmente gostava? Dallas, Texas - 14 de setembro de 2017 Já fazia alguns dias que e não se encontravam. Eles continuavam trocando mensagens, mas sempre que ele chamava a garota para sair ela tinha alguma coisa para fazer. Ele não sabia se era verdade. Não sentia que a garota estava o evitando, já que ela continuava a responder suas mensagens, porém era estranho. Justamente por ser estranho, ele resolveu ir ver o que estava acontecendo. Tocou a campainha da casa garota sentindo-se ansioso. Ele levava nas mãos uma cesta com chocolates. — Quem é você? — uma mulher loira, que ele imaginou ser a mãe de , perguntou ao abrir a porta. — Oi senhora , sou um amigo de sua filha, ela está? — perguntou tentando soar simpático, apesar dela mesmo não parecer. — Engraçado, ela nunca falou de você. — respondeu com ironia. — Ela está ocupada. Estudando. Então estava dizendo a verdade. não sabia porquê, mas a loira não parecia satisfeita contando que estava estudando. — Ah sim. — assentiu. — Pode dizer a ela que estive aqui? Ah, e trouxe isso pra ela, pode entregá-la? — perguntou indicando a cesta de chocolates. — Você é maluco? — perguntou exaltada. — Ela não pode comer essas bobagens! Então é você que está a atrapalhando. — apontou o dedo em sua direção. — Vá embora, leve essas bobagens para outra pessoa e nunca mais volte aqui! Você está tirando o foco da minha filha de suas tarefas importantes. — completou o enxotando e fechando a porta em sua cara. arregalou os olhos. Aquela mulher era louca! Totalmente insana! Como assim ele estava atrapalhando ? Ele não iria embora para sempre. Iria voltar e esperava que quando voltasse, a mãe dela não o atendesse.
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— Mãe, que gritaria é essa? — perguntou descendo as escadas. Ela havia escutado a mãe gritando do seu quarto. — Era aquele garoto que você saiu. — a mãe respondeu andando em sua direção irritada. — Trouxe uma cesta de chocolate pra você! Você está maluca? Por isso que engordou durante essas últimas semanas, aquele cara está te fazendo engordar e perder o foco nos estudos. Por um momento ficou em silêncio digerindo tudo que a mãe havia dito. Depois fechou os olhos morrendo de vergonha. Como a mãe havia feito aquele vexame na frente do garoto que estava saindo? — Não é para você sair mais com ele, ok? — a mulher agarrou seu pulso, fazendo com que ela olhasse em seus olhos. — Lembre que quem paga sua mesada, roupas e todas as outras coisas que você precisa para viver sou eu. Então não me decepcione filha. engoliu em seco. Odiava sentir medo da mãe, mas não podia evitar, às vezes ela era muito agressiva. — Escutou, querida? — perguntou apertando mais forte seu pulso. assentiu. — Que bom! — a mãe soltou seu pulso e passou a mão pelo seu rosto. — Lembre que eu amo você, ok? Agora suba lá e continue estudando, porque eu não pago sua faculdade atoa. — mandou e assentiu virando-se e subindo as escadas. chegou em seu quarto sentindo as lágrimas queimarem em seus olhos. Baixou o olhar para seu pulso e viu uma marca vermelha em seu pulso. Sabia que devia abandonar a mãe, mas não conseguia, pois querendo ou não, ela ainda era sua progenitora. Dallas, Texas - 18 de setembro de 2018 Havia se passado uma semana desde que havia ido à casa de . Ele pediu para a garota lhe falar quando a mãe não estivesse lá para que eles pudessem conversar. Então lá estava ele tocando novamente a campainha da casa da garota. — Oi. — a garota abriu a porta e o puxou para dentro logo. — Ninguém pode ver você aqui. — ela explicou. franziu o cenho. Não entendia o desespero da garota. Mas ao abaixar o olhar pelo corpo dela e ver uma marca arroxeada em seu pulso, entendeu. — Sua mãe fez isso? — perguntou alerta. — Isso deve ser denunciado! — Não foi ela. — negou automaticamente. — Eu bati na quina da mesa, só isso. — a mentira saiu direta. aproximou-se dele com o objetivo de fazê-lo esquecer daquele hematoma. Juntou seus lábios e suspirou com a saudade que sentia daquilo. — Só te chamei pra você ver que estou bem. — disse explicando. — Sei que minha mãe foi um pouco indelicada com você, mas não ligue pra isso, ela é maluca daquele jeito mesmo. assentiu não acreditando muito. Passou o olhar pela sala em que estavam e viu vários quadros da em passarelas. — Você também é modelo? — perguntou andando até alguns e observando de mais perto. — Ah, foi só algumas vezes. — ela disse torcendo para que não se lembrasse de . — Por isso sua mãe surtou com o chocolate. — afirmou. — Isso mesmo. — assentiu olhando para o relógio. Sua mãe estava para chegar. — Sinto te informar, mas você tem que ir. Preciso estudar. — suspirou cansada. Ela estava cansada de estudar. Nada de engenharia entrava em sua cabeça. — Okay, eu já vou. — disse insatisfeito. — Mas espero voltar a te ver. — Você vai. — ela sorriu e lhe deu um sorriso o levando até a porta. Despediram-se com um selinho e foi embora. Dallas, Texas - 23 de setembro de 2017 — Espero que a senhora continue ligando, aqui sempre haverá pessoas com quem poderá conversar. — dizia para uma senhora que ligava porque se sentia sozinha. O marido dela havia falecido há alguns anos e os filhos e netos moram longe, então ela ligava para o CVV porque sentia que lá teria companhias, mesmo que não sofresse de depressão e nem tivesse vontade de se matar. Ela era apenas sozinha. desligou o telefone e começou a juntar suas coisas. Seu horário estava chegando ao final. Pegou o telefone e não viu nenhuma mensagem de . Ele estava preocupado. Sabia que aquele hematoma não era uma batida. Pensou em que também sofria nas mãos da mãe e também se preocupou, ela não ligou mais. Franziu a testa pensando no quanto e eram parecidas. As duas tinham problemas com a mãe. Participavam de desfiles. E parecia não gostar de sua faculdade. Seria possível elas serem a mesma pessoa? A pergunta passou pela cabeça e ele negou com a cabeça. lhe contaria certo? Seu celular apitou e ele sorriu ao ver uma mensagem de perguntando se eles podiam sair. Digitou dizendo que já iria lhe buscar.Dirigiu até a casa de e sorriu ao vê-la esperar na porta. Ela havia acabado de discutir com a mãe. Havia lhe dito que não queria continuar a faculdade e que ambas teriam de visitar um terapeuta se não iria à polícia contar sobre suas agressões. estava radiante. Finalmente sentiu-se corajosa para enfrentar a mãe. Como não queria também se afastar dela, achou que um teraeuta lhe faria bem. — Diz que avisou sua mãe. — disse assim que entrou no carro, — Sim, ela sabe. — respondeu. — Hoje ela estava tranquila. dirigiu até o café do primeiro encontro deles e ambos entraram sentando e fazendo seus pedidos. Eles conversaram sobre algumas coisas e pediu para que ela pagasse, já que em outras vezes que saíram, ele pagou. assentiu e pegou a carteira tirando o dinheiro. Ela se embaraçou durante a soma das notas e sem querer deixou seus documentos caírem. — Você é bem desastrada. — afirmou rindo e abaixou-se para pegar os documentos. — Foto de identidade é uma polêmica, não é? — perguntou rindo. arregalou os olhos e tentou pegar ela de volta. Porém ria da foto, mas ao ver a assinatura ficou sério. De repente tudo se encaixou, não poderia ser coincidência, poderia? — . — disse e viu a garota engolir em seco. Aquilo confirmava o que ele tanto pensou ser apenas coincidência. — Quando você pretendia me contar? — perguntou desapontado. — . — murmurou. — Não achei que fosse necessário. Quer dizer eu pretendia contar algum dia. — Como assim? — perguntou tentando não se exaltar. — Eu te atendi por quantas vezes? E de repente você para de ligar, eu fiquei preocupado, sabia? Sem falar em como você pretendia iniciar um relacionamento escondendo essas coisas? o olhou com os olhos marejados. Ela não imaginava que ele iria descobrir desse jeito. — Eu achei que se você soubesse que era eu a garota das ligações, você iria me abandonar. — explicou. — Estou cansada das pessoas me abandonarem. Primeiro, meu pai. Depois, meus amigos. Minha mãe só se importa com carreira e vida social. entendia ela. Depois de tantas decepções, estava óbvio que ela não confiava mais nem em si própria. Mas ele também não poderia continuar com aquilo, sabendo que fora ele que a atendeu. Ele tinha um código de ética a seguir. — E olha, eu estou começando a seguir seus conselhos. — comentou empolgada. — Falei com minha mãe que não ia voltar pra faculdade e que nós duas devíamos consultar um psicólogo. — Que bom, . — disse sincero. — Mas entenda, nós não podemos continuar com isso. assentiu. Sabia que não podia depender dele, que ele tinha que ir para longe, que por mais que ele não a sufocasse, ela merecia respirar sozinha. Aprender a viver sozinha. Não podia viver dependendo das pessoas. — Então é o fim? — ela perguntou. — Gosto muito de você, . — ele disse sincero. — Não acho que deva ser o fim. Mas até você superar tudo isso e descobrir qual é o seu caminho, acho que não devemos nos encontrar muito. — Também gosto muito de você, . — colocou sua mão por cima da dele. — E concordo, eu preciso aprender a me amar. Era aquilo. Pelo menos por enquanto. Era o melhor a ser feito. tinha em mente tudo que faria. Começaria as terapias, abandonaria os concursos e poderia finalmente migrar para o veganismo. Faria um acompanhamento vocacional para descobrir o que realmente queria fazer. Tinha certeza que com as terapias a mãe passaria a entender que a vida que ela queria para ela, não era a melhor opção. Aquele era um novo começo. Uma nova vida.




Fim.



Nota da autora: Não acredito que terminei a história!!! Tinha esse enredo em mente faz tempos e finalmente consegui encaixar em uma história. Eu amo essa música, pensei muitas vezes que a música não tinha nada a ver, mas consegui encaixar alguns versos hahahah Espero que você que leu aqui tenha gostado, então não deixem de comentar. Obrigada a você que gastou um tempinho lendo. Para o caso de querer conhecer minha outra história, irei deixar o link aqui. Além do grupo do facebook. Beijos!





Outras Fanfics:
Biko: http://fanficobsession.com.br/fobs/b/biko.html

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