06.Exclusividade

Capítulo Único

Natal sempre é uma data que traz de volta boas lembranças. Aquele sentimento de paz e de que tudo é mil flores, sabe? Que tudo vai dar certo. Você se lembra de tudo que aconteceu durante o ano e então agradece, distribui amor por ai. Mas não estava sendo assim, não esse ano. Eu pensei em várias possibilidades de fazer esse ano ser melhor do que o do ano passado, mas não conseguia. Pelo menos o ano estava acabando, diga-se de passagem que eu não estava gostando tanto desse ano.
A playlist do Spotify no aleatório não colaborava muito, já que era um misto de sertanejo, internacional e MPB. Mas naquele momento tocava alguma coisa do Little Mix e eu estava jogada na minha cama pensando se descia ou não. Se enfrentava a monotonia de um natal sem o , ou não.
Quem me vê falando assim pensa que eu o perdi pra sempre, bem, talvez sim. Mas não, ele não morreu. Mesmo que essas idas dele sejam constantes, as vezes ele voltava. Mas não era o suficiente e ele não entendia isso.

26 de dezembro, 2016. Toronto – Canadá .

Neve caia sobre a cidade e isso só lembrava o quanto era época de natal. Ou pós-natal na verdade. colocava as últimas malas no carro da mãe e eu observava da janela do quarto. Não podia acreditar que ele iria embora. Mas sabia que não podia deixar de se despedir. Então reunindo toda força que tinha saiu do quarto indo em direção a porta de casa. E encostou-se lá vendo ele a encarar com o riso murcho. Ambos sabiam que aquilo era o inicio de outra era. Eles haviam acabado o Ensino médio e estavam indo embora para outra cidade em outra faculdade. Ela havia passado em uma universidade perto de casa e ele em Yale. Ele caminhou até ela e parou na frente dela esticando os braços, em pedido de um abraço. Ela encostou o rosto do pescoço dele suspirando ali e viu que ele se arrepiou minimamente e sorriu com isso.
- Droga. – Ela reclamou de má vontade e ele respondeu baixo.
- O que foi?
- Você indo embora, não é o que eu imaginava.
- Eu também não, . Mas eu vou estar aqui todo mês e não deixarei nenhuma data passar em branco.
- Você promete?
- Prometo, mocinha. Eu já quebrei o que eu disse por acaso? – Ele perguntou se afastando e a encarando.
- Não, . – Ela observou a forma do sorriso, como se memorizasse tudo que havia ali. Sentiria falta daquilo, seria mais fácil acabar com todo aquele sentimento de longe. Deixando sobrar somente a amizade. O mais importante. Mas ali, no entanto, parecia que o certo no momento era outra coisa. Não somente pra ela, já que ele a analisava detalhadamente
- Eu preciso ir, mas antes...
- Antes?
O silêncio pairou novamente e os olhares se encontraram.
- Eu vou sentir sua falta, morena.
- Eu também meu gordinho.
- Eu não sou gordo.
- Mas é meu.
- E você vai ser sempre minha, . – E ele não tinha duvida do que fazer naquele momento, sabia que aquilo poderia desencadear milhões de confusões, mas ele precisava fazer isso. – Eu vou fazer uma coisa, mas eu vou fazer e ir pro carro. Porque se eu ficar adeus carro e eu perco a viagem.
- Tudo bem.
- Não me mata depois, ok?
- Anda logo, .
E ele a beijou, sem ter o selinho de início. Simplesmente a beijou sem cerimônias e sem medo. Precisava tê-la ali e agora e foi o que fez. Incontáveis segundos ficaram ali. Ele se afastou, depositou um beijo em sua testa e sussurrou.
- Até mais, pequena.
E a deixou ali com um leve sorriso em meio as lágrimas de saudade que já sentia.
- Até mais, gordinho.

// Flashback

Já haviam sido passados pelo menos nove feriados e em nenhum deles apareceu aqui. Nas férias tampouco. Segundo a mãe dele, ele estava viajando com a “galera” da faculdade. Galera essa, que eu consequentemente também tinha. Mas de qualquer forma não esqueci dele por isso. Encarei o reflexo do espelho e contei até dez. Pensando no que fazer. Puxei o vestido novamente o ajeitando e enfim sai do quarto. Eu não podia deixar a falta que eu sentia do meu melhor amigo estragar meu feriado preferido.
Encontrei minha família e todos os outros convidados na minha sala de estar. Minha casa sempre ficava cheia, era natural. Casa cheia, conversa, cheio de pratos e das tias que viviam perguntando como andava a vida. Já beirava onze e meia da noite e minha fome não aguentava mais esperar. Fui até a cozinha em busca de algo para beliscar ou qualquer coisa do gênero.
- Mãe, eu preciso comer.
- Você diz isso todo ano.
- É porque todo ano você demora a colocar a comida. – Eu ri baixo ao ver a cara dela.
- É tradição, .
- Tá bom, vou te esperar aqui. – Ouvi a campainha tocar, mas como o meu irmão podia atender não vi o porquê sair dali. Enquanto isso observei minha mãe terminar os últimos detalhes da ceia, incluindo a sobremesa. A famosa torta de morango que ela fazia todos os anos. E como o de costume tudo me lembrava o .

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24 de dezembro, 2016.

- , sobrou um pedaço e é meu.
- Não é não. Por qual motivo não seria?
- Eu sou sua melhor amiga. – Ela disse com a voz arrastada.
- E eu sou visita. – Ele usou a melhor cara de ironia.
- Você é mais filho da minha mãe do que eu!
- O pedaço é de nós dois. Vamos dividir.
- Tem pelo menos vinte pessoas na sala, como pretende dividir isso entre nós dois? – Ele a encarou com os olhos brilhando e pegou duas colheres apontando pra escada. Sem entender muito ela apenas o seguiu até onde ele foi. No quarto dela ele sentou-se na cama e apontou pra TV.
- Ligue um filme qualquer de natal na Netflix e vamos aproveitar o resto da noite aqui – Ela não conseguiu não sorrir.
- E toda nossa família? É natal, devíamos estar com eles, não?
- Natal nós passamos com alguém que tem uma grande importância pra nós. E eu estou com você, não preciso de mais do que isso.
E passaram a noite ali.

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- ! – Ouvi minha mãe dizer feliz e olhar para trás. Mas provavelmente era mais alguma brincadeira sem graça.
- Que saudades, tia!
- Saudades é o que mais sentimos de você. – Eu queria girar a cadeira e observar. Eu queria abraça-lo e ter certeza que ele estava ali. Mas eu preferia manter um pouco do meu autocontrole. Ele não podia simplesmente aparecer e derrubar todas as torres que montei em relação á me acostumar com a falta que ele me fazia. A falta que ele quis fazer. Por simplesmente achar a vida atual mais interessante.
- E você, ? Sentiu minha falta? – Ouvir a voz dele ali. Bem atrás de mim não era algo que meu juízo poderia ficar no controle. Meu coração ainda tomava a frente quando o assunto era .
Respirei uma, duas e até três vezes. Não queria usar a ironia, mas era impossível não demonstrar toda minha mágoa. Que mesmo em meio a toda alegria, estava ali.
- Acho que a única pessoa que sentiu falta de algo fui eu, não é, ? – Todo o tom de ironia e magoa que eu guardei no último ano apareceu ali.
- Eu senti sua falta também, morena.
- Não pareceu, .
- Nós podemos falar sobre isso depois?
- Claro, eu esperei um ano, porque ligaria de mais algumas horas. – Olhar de pra mim naquele momento beirava remorso. Mas eu não queria cair de novo, não ali. Então eu simplesmente virei as costas e desci do banco saindo da cozinha. Sem abraço, sem sorrisos e com minha mãe encarando nós dois totalmente sem graça. Eu não tinha o que fazer ali.

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A noite parecia não ter fim. Eu queria fugir para meu quarto e ignorar a existência de . Mesmo que a cada vez que ele sorrisse eu sentia o coração bater miseramente mais forte e a boca secava. Quando ele ficava me olhando descaradamente eu queria soca-lo, no entanto, eu queria abraça-lo e mostrar a falta que ele tinha me feito. Queria relembrar o maldito beijo que ele me deu no último dia que nos vimos. No último dia que eu achei que tivesse uma importância pra . Mas eu estava ali. Parada na beirada da escada e quando a meia noite chegou começaram a troca de presentes. Não foi uma coisa bagunçada. Todos tinham nomes. Eu ganhei dois livros dos quais amava de minha mãe. E um anel.
Troca de presentes finalizada. Tínhamos ceiado, eu não precisava mais ficar ali. Eu precisava do meu silencio. Precisava da distância de . E com a desculpa de que estava com dor de cabeça eu subi para o quarto e analisei a neve caindo pela canela. Eu amava natais e estava ali à meia noite e meia sentada na cama olhando pra fora e com a alguns metros de mim. Eu detestava o fato de querer ele tão perto de mim.
- Tá pensando em que? – Ouvi a maldita voz conhecida atrás de mim.
- Em como as pessoas mentem. – Retruquei
- Eu não menti.
- Você prometeu que ia ligar, você prometeu que se importava.
- E eu nunca deixei de me importar.
- Mas sua vida ficou importante demais pra ligar pra uma amiga?
- Não pensa dessa forma, .
- Não tem outra forma de pensar, .
- Me deixa explicar.
- Explicar o que? Que sua vida adulta. – Frisei o “adulta” de forma debochada. – Ficou importante demais pra você ligar ou mandar uma mensagem pra alguém que você beijou no último dia que me viu? Eu achei que você se importasse. Eu achei que você gostasse de mim. – Respondi sentida e me virei de frente. – Mas é engano meu, . Eu sempre me engano.
- Não faz desse jeito, .
- Sai do meu quarto.
- Não vou sair daqui.
- Sai do meu quarto, . – Fechei os olhos e me forcei a não derrubar nenhuma lagrima. – Agora.
- Eu posso sair daqui, mas eu não vou mais embora.
- Você já disse isso uma vez.
- Eu vou ficar na cidade, .
- Faça bom proveito das suas antigas amizades, se é que se lembra delas. – Eu disse e bati a porta.
Minha noite de natal tinha sido arruinada.

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Uma semana desde o natal tinham passado e eu estava fazendo o máximo pra sair de casa e encontrar . Olhei pela janela e vi a janela do seu antigo quarto aberta e a luz acesa. Se tudo fosse como antes seria tão mais fácil. Ele já tinha voltado até aqui. Mas eu inventei a famigerada desculpa de que não estava em casa. Minha mãe estava ciente do que estava acontecendo. Ela sabia que eu não queria falar com ele. Então sempre me ajudava, mas me dava uma lição de moral depois. Dizendo que precisávamos conversar. Era dia trinta e um e estávamos preparando a casa pra “Party of White”. O nome que minha mãe quis dar pra parecer mais “chique”.
- É aqui que precisam de ajuda?
- Claro que não. – Respondi com prontidão.
- Claro que sim e pare com essa pirraça. – Minha mãe disse e fez cara feia. Me senti uma criança birrenta.
- Se o senhor adulto não estiver ocupado ele te ajuda mãe. Talvez ele se lembre disso. – Eu zombei e sai andando em busca de outros balões dourados. E senti uma aproximação .
- Pra você eu tenho tempo. – Ele sussurrou e eu tentei não me arrepiar. Mas falhei
- Não tem fila?
- Você tem exclusividade. – Ele me deu um beijo na bochecha e eu quis rir. Mas girei os olhos e bufei fazendo com que ele sorrisse.
- Eu vou me arrumar, mãe. – Disse e não esperei resposta.

>>>>>>> 23:50<<<<<<<

- Você tá linda. – Ele disse parado em um canto reservado onde eu estava. E eu não respondi. – Eu fiquei semanas querendo te ver. Coração sentiu uma falta absurda de você. Mas eu vi uma foto que você foi marcada com Samuel em que vocês riam e estavam abraçados. Pareciam estar juntos. Naquele dia eu fiz um mau negócio. Sai beijando de boca em boca por aí. Eu sei que você deve ter aproveitado.
- Aproveitado? Você deixou de me ligar pela porra de uma foto?
- ...
- Não adianta dizer meu apelido com essa voz suave, não cola comigo. E eu aproveitei, sabe? Depois de perceber que aquele beijo era a porra de um beijo atoa.
- , é melhor pararmos com essa briga.
- , faltam três minutos pra virada do ano e você em menos de uma semana já me fez chorar de raiva, mais vezes do que durante o ano que não esteve aqui.
- Eu peço desculpas se te fiz chorar, mas longe de você eu quase pedi socorro, .
- E só de pensar que você me perdeu. A culpa foi sua. – Eu apontei o dedo em seu rosto. E vi seu sorriso murchar. – Você fodeu com meu ano passado. Você fodeu com meu psicológico. E você fodeu com meu natal. Não vai foder com minha virada. – Eu me virei pra sair dali.
10 – Tinham pessoas caminhando ali em busca da pessoa na qual beijariam.
9 – Meus pais se abraçaram.
8 – Vi minha irmã beijar o namorado.
7 – Olhei ao redor e via algumas pessoas de olhos fechados mentalizando suas promessas.
6 – Eu estava sozinha, no meio daquele fuzuê.
5. – Minha mãe olhou ao redor me procurando.
4. – Meus primos procuraram bocas desconhecidas para beijarem.
3. – Vi minha avó segurar a mão do meu avô.
2. – Fechei os olhos desejando que esse ano fosse melhor do que o outro.
1. – Eu fui puxada rápido demais.
E quando todos gritaram feliz ano novo. Me senti ser pressionada na parede e logo uma mão apossar-se da minha cintura. Era a boca que eu tinha sentido saudade durante o ano. Eu queria poder afasta-lo. Eu queria poder fazer qualquer coisa. Mas eu apenas correspondi o maldito beijo. Regado de saudades. Foram incontáveis minutos ali. Até que ele se afastou sorrindo. – Feliz ano novo, morena. – Maldito.
- Tem duas últimas coisas que esqueci de dizer. Você está extremamente gostosa nesse vestido. E peço perdão por ter fodido seu ano, seu natal. Mas hoje eu quero foder você.
- Não se fala foder.
- , eu quero você.
- E não tem fila?
- Já disse que você tem exclusividade.




Fim.



Nota da autora: Sem nota.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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